TFG Clara Troia Homem de Melo

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quatro hipóteses de habitação coletiva como a concepção arquitetônica se materializa em espaços para habitar


clara troia homem de melo


quatro hipóteses de habitação coletiva como a concepção arquitetônica se materializa em espaços para habitar

clara troia homem de melo orientada pela Profa Dra. Marina Grinover e Profa. Dra. Karina Leitão (orientação metodológica) Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo FAU USP Dezembro 2018




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“Há uma sugestão de ação inerente às imagens da arquitetura (...) É essa possibilidade de ação que separa a arquitetura das outras formas de arte. Como consequência dessa ação sugerida, a reação corporal é um aspecto inseparável da experiência da arquitetura.” Juhani Pallasmaa

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Agradeço primeiramente - e imensamente - à Marina Grinover que aceitou me acompanhar no processo de realização deste trabalho. Por todas as orientações e pelas palavras de conforto nos momentos de auto-questionamento. Agradeço também à Karina Leitão, exemplo de pessoa, professora, pesquisadora e muito mais. Agradeço ao Artur Rozestraten e à Lizete Rubano por aceitarem fazer parte da banca. Aos que estiveram extremamente à disposição para me ajudar no recolhimento de material para a realização do trabalho: Alvaro Puntoni, que disponibilizou todo o material sobre o CECAP, desenvolvido por ele, Nabil Bonduki pelas bases do edifício Anchieta, publicadas em seu livro “Os pioneiros da Habitação Social”, Ao escritório Hector Vigliecca & Associados que também esteve à disposição para o envio do material necessário.

agradeço

À todos os amigos que estiveram por perto nesses anos de FAU, devo muito à todos os aprendizados. Alina, Luisa, Fabi, Natália, Midori, Juca, Otavio, Bia, Deborah, Barbara, Eric, Lorena, Mel, Bianca, Chedid, Matheus, Felipe e Clara Maria, alguns dos muitos que me deram o prazer do convívio. Agradecimento especial à Julia, pelas ótimas ideias sempre, além de companhia imprescindível nos momentos mais necessários. Ao Guilherme, que me acompanhou, opinou e esteve presente (mesmo longe) durante o processo. Aos meus pais, os grandes culpados por eu ter tido a ideia de estudar arquitetura. 9



índice introdução

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método de abordagem

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parte II • objetos de estudo

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parte III • contexto da política pública

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parte IV • projetar o habitar

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parte V • a representação na arquitetura

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parte VI • pesquisa de linguagem

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as hipotéses

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hipotése i • edificio anchieta

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hipotése ii • parque cecap

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hipotése iii • conjunto copromo

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hipótése iv • gleba a heliópolis

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conclusões

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formas genéricas e formas específicas

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comparações possíveis

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lista de figuras

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bibliografia

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introdução

O presente trabalho reúne algumas inquietações que foram elaboradas no decorrer da minha formação em arquitetura e urbanismo dentro da FAU. Perceber o espaço é algo que construímos como habitantes dele, no entanto passar a interpretá-lo, analisá-lo e produzi-lo traz diversos questionamentos sobre como a disciplina conforma esse espaço para o outro. A aproximação desses questionamentos poderia ser feita de diversas formas, a partir da própria prática da arquitetura, do debruçamento acadêmico, das análises das soluções espaciais já existentes, dentre outros. Escolher um desses caminhos como investigação foi uma opção, e dessa forma o presente trabalho se presta a, a partir de quatro estudos de caso, descrever, analisar e reconstruir essas soluções existentes. O conceito de hipótese1 aparece aqui como um entendimento que precede a conformação do espaço em si, é a antecipação das formas que satisfazem uma necessidade futura, transformando solicitações funcionais, sociais e subjetivas em um projeto materializado (MONTANER, 2017). Não existe apenas uma solução frente à uma determinada demanda, e sim diversas hipóteses de como esta pode ser suprida. Contextos e períodos históricos diferentes conformam hipóteses diferentes, de maneira que os projetos traduzem em si quais ideias eram correntes em determinado contexto, desde social até tecnicamente. É por isso, que cada um dos projetos aqui estudados foram também nomeados de hipóteses, no sentido que, pra além de serem um projeto de fato – todos construídos e em uso – refletem também algumas antecipações de ideias, e é a partir de cada um deles que busco pesquisar e explorar como uma certa concepção materializa um espaço, um projeto em si, implantado, abrangendo um certo programa. Para tal discussão foi escolhido um tema, e dentro dele alguns estudos de caso. Parte-se de uma inquietação trazida por uma colocação de Bernard Tchumi a respeito das três etapas envolvidas no entendimento de um projeto: a concepção, a percepção e a experiência.

“Perceber o espaço arquitetônico de um edifício é perceber algo-que-foi concebido (…) O espaço não é simplesmente a projeção tridimensional de uma representação mental, mas é algo que se ouve e que se age.” (TSCHUMI, 1980, p.176)


Ou seja, de que forma a concepção arquitetônica, que tem como ferramenta primordial o desenho, expressa uma intenção de percepção e experiência de um espaço? Para arquitetos que tem os códigos da representação mapeados é possível observar um projeto e identificar nele a lógica que concebeu os espaços. Para um leigo, o espaço é percebido em si, e a transição entre a concepção e a percepção só é completa se tanto os aspectos funcionais quanto os sensitivos estiverem bem expressados naquela arquitetura (TSCHUMI, 1977) É possível olhar para um projeto e perceber, nos espaços criados, quais as hipóteses arquitetônicas que estavam ali sugeridas? Qual a materialização das ideias funcionais, de uso e experiência que se concretizam? Em que contexto e dentro de quais referências arquitetônicas o projeto está inserido? Como ele reflete um ideário e mesmo as contradições de um certo contexto arquitetônico? Estas foram algumas das inquietações iniciais feitas para os projetos a serem estudados. É esse olhar para a arquitetura que se propõe no presente trabalho: a partir de um levantamento de projetos exemplares extrair deles suas hipóteses e formas de materialização das ideias. Ideias essas que correspondem tanto a coisas, referente à concretude e à existência material dos mesmo, quanto às não-coisas, ligadas primeiramente às apreensões subjetivas do espaço, mas também a como o contexto histórico e político influenciam nos resultados espaciais.

1. Hipótese é definida, segundo o dicionario houaiss: “Suposição, conjectura, pela qual a imaginação antecipa o conhecimento, com o fim de explicar ou prever a possível realização de um fato e deduzir-lhe as consequencias; pressuposição.

A arquitetura se manifesta de muitas formas na cidade, mais ou menos tradicionais, mais ou menos adequadas a uma certa concepção de projeto que a disciplina tem, e portanto diversos programas ou tipologias poderiam ser selecionados para que se discutisse a conformação de uma ideia arquitetônica. No entanto, é inegável a importância da discussão habitacional, tanto na construção da morfologia do território, como programa, uma vez que é o espaço mais comum a todos – comum no sentido de reconhecimento de lugar, e não somente de vivência conjunta, como no espaço público - quanto como reconhecimento da importância de discutir como se dá o acesso à moradia, e como arquitetos e poder público lidam com tal demanda. Se a produção do espaço é reflexo da sociedade (LEFEBVRE, 2001), é de suma importância entender como se produz a habitação no território – que corresponde à 80% das construções de uma cidade. O recorte se faz ainda mais restrito, uma vez que os projetos tratam de habitações coletivas, com financiamento público no Brasil, entendendo a importancia de reconhecer as particularidades da realidade brasileira na produção pública da habitação, do território e da cidade em geral. 13



método de abordagem

parte II • objetos de estudo parte III • contexto da política pública parte IV • projetar o habitar parte V • a representação na arquitetura parte VI • pesquisa de linguagem


objetos de estudo

A seleção dos projetos exemplares poderia se dar tanto por aproximação de tipologia, época e contexto urbano, quanto pelo afastamento de tais aspectos. Uma vez que a intenção não é reafirmar ou comprovar uma determinada hipótese - e sim perceber dentro do fazer da arquitetura suas diversas manifestações - tomou-se como exemplo quatro projetos de períodos diferentes no arco de ações do Estado para Habitação popular no Brasil e também seu contexto urbano, traçando um panorama de estratégias que foram implantadas no país. As propostas não estão sendo consideradas ideais e mesmo já foram revisadas dentro da própria disciplina. Não devemos dizer que são somente verdades de como devemos tratar o problema da demanda habitacional, inclusive por estarem inseridas em diferentes contextos históricos e arquitetônicos. A intensão é exatamente poder identificar dentro de um programa específico – no caso a habitação popular – como a arquitetura lidou em diferentes contextos. Mesmo que se configurem como arquiteturas exemplares de suas hipóteses espaciais, todos os projetos selecionados são também arquiteturas do cotidiano, não da exceção, ou seja, buscam cumprir para com uma certa ideia de domesticidade habitual, do dia a dia. Tal ideia de domesticidade, no entanto, está diretamente ligada à hipótese de sociedade que buscam responder. Por mais que algumas delas acabem por se tornar morfologias e territórios de exceção, não são arquiteturas monumentais. Em ordem cronológica a primeira hipótese que se apresenta é o edifício Anchieta, do escritório de arquitetura MMM Roberto, que integra a paisagem da Avenida Paulista e compõe o imaginário paulistano de um dos principais cartões postais da cidade. Edifício isolado, vertical, data dos anos 1940 e por mais que esteja hoje em dia em plena sintonia com o adensamento da Paulista, foi o primeiro edifício vertical dela, acompanhando o desenvolvimento da região em centralidade, além de inaugurar em São Paulo ideias tanto de habitabilidade moderna quanto da linguagem arquitetônica modernista carioca, de referência europeia. Se configura como a hipótese do edifício lamina em área central consolidada. Em seguida examino o Parque CECAP2, dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado. Um dos últimos grandes exemplos dos anos 1960, antes que o modelo de financiamento de habitação popular do BNH3 se instaurasse durante a ditadura. Se o edifício Anchieta expressa a estética carioca, o Conjunto Zezinho Magalhães Prado4 traz o racionalismo paulista próprio dos arquitetos autores do projeto, tanto na concepção do edifício, quanto em sua implantação - tratados na descrição e análise do projeto. Inserido em um contexto de consolidação da região metropo-


litana de São Paulo, o Conjunto Zezinho Magalhães está localizado em Guarulhos, junto a Rodovia Presidente Dutra e tenta suprir, em sua hipótese projetual, uma demanda crescente em relação ao déficit habitacional, valendo-se de uma implantação racional e funcionalista dos espaços, a partir do sequenciamento de laminas idênticas e integradas a um conjunto de equipamentos públicos. Após o longo período dominado pelo BNH, ao fim dos anos 1980, mas principalmente nos anos 1990, a partir da luta por moradia das populações em situação precária, da revisão das formas de construção de habitação e dentro de um contexto ímpar de politica pública em São Paulo, ocorreram uma série de experiências participativas da construção dos espaços, dentre elas o Conjunto COPROMO5, realizado pela assessoria técnica de arquitetura Usina CTAH em conjunto com a comunidade Associação a Terra é Nossa, de Osasco, sendo o terceiro estudo de caso. Além de projeto participativo, o COPROMO é resultado de um mutirão autogerido – com mão de obra assalariada de apoio – pela própria comunidade. O projeto, por mais que não renove algumas ideias de urbanidade, traz diversas questões ao relacionar tão diretamente o projeto ao canteiro, além de questões estéticas que se afastam da linguagem modernista. Se configura, assim como o CECAP, na hipótese do conjunto, no entanto cria as relações espaciais de vizinhança muito diferentes, tanto em questão de arquitetura como da própria construção do território. Por fim, como exemplo contemporâneo, de 2004, encabeçado pelo escritório do arquiteto uruguaio Hector Vigliecca, apresenta-se um dos projetos realizados dentro do plano de urbanização da Favela de Heliópolis, em São Paulo, mais precisamente a Gleba A. O projeto traz duas hipóteses de grande valia para a discussão mais contemporânea em relação a demanda habitacional, a primeira é a relação com a cidade informal, e como lidar com esses grandes territórios auto construídos, consolidados e ao mesmo tempo carentes dentro das cidades, e a segunda é como a construção de habitação pode colaborar para a conformação de uma urbanidade, desde seu uso até a seu desenho. Os exemplos selecionados se afastam entre si quanto a tipologia e contexto, porém se aproximam por outro motivo: são projetos que materializam suas hipóteses de forma singela, sem buscar a arquitetura espetacular, cada um tem um objetivo e uma estratégia e usam de boa técnica para realizá-la. O interesse, por fim, é olhar para a arquitetura do cotidiano do morar, que é estruturadora da cidade, seja a cidade formal em que se encontra o edifício Anchieta, ou a informal, da Gleba A, ou como propositora de outras formas de vida coletiva, focando em outras demandas, que, apesar de seus problemas, também trazem consigo uma coerência interna.

2. A Caixa Estadual de Casas para o Povo (CECAP) foi criada em 1949 e atuava na promoção e construção de casas, após sua regulamentação com a criação do BNH (PUNTONI, 1997). 3. O Banco Nacional de Habitação (BNH) foi uma empresa pública brasileira, criada em 1964 e extinta em 1986. Foi a principal instituição de financiamento e gestão de desenvolvimento urbano e de habitação da história do Brasil no que diz respeito ao número de unidades construídas. O BNH se configurava como agente do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), provedor de recursos para as ações do Plano Nacional de Habitação. 4. Os projetos realizados levavam o nome de CECAP, fazendo referência ao seus sistema de desenvolvimento, mas o projeto do Parque CECAP de Guarulhos é nomeado Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães. Zezinho Magalhães de Almeida Prado era o Superintendente da CECAP na formação e início dos trabalhos do Escritório Técnico. (PUNTONI, 1997) 5. Cooperativa Pró Moradia de Osasco

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01. EDIFÍCIO ANCHIETA EDIFÍCIO ISOLADO ÁREA CENTRAL MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

02. PARQUE CECAP CONJUNTO HABITACIONAL REGIÃO METROPOLITANA MUNICÍPIO DE GUARULHOS

03. COPROMO CONJUNTO HABITACIONAL REGIÃO METROPOLINA MUNICÍPIO DE OSASCO

04. GLABE A, HELIÓPOLIS EDIFÍCIO EM ÁREA INFORMAL MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

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contexto da política pública

Abordar o tema da habitação social no Brasil ultrapassa as discussões internas da disciplina da arquitetura, no que abrange a estética, a linguagem, os materiais ou mesmo a organização dos espaços, pois há um nível da discussão diretamente ligado às políticas públicas e à ação do Estado na produção de habitação. Por serem de financiamento público, cada um desses projetos esteve ligado a uma política ou programa relativo à ação do Estado na produção de habitação e sujeito à diversas restrições, seja verba, metragem e programa. Não somente a arquitetura conforma uma hipótese da maneira de habitar e morar, mas também há um nível associado à que o Estado acredita como suprir tal demanda. Tal nível acaba por influenciar diretamente esses projetos, pois tem impactos sobre as diretrizes frente à demanda habitacional. Ao mesmo tempo, tais questões são, e já foram, o maior volume de pesquisa relacionado à habitação coletiva de financiamento público, e muitas vezes seus projetos são vistos unicamente por esse viés, algo que inclusive contribui para uma ideia de que a moradia popular está atrelada a um certo modelo a ser replicado, e não um projeto que demande a mesma qualidade ou investimento discursivo do que habitações coletivas de financiamento privado. Para se traçar um panorama de projetos, como o presente trabalho se propõe, seria válido incluir propostas que focaram seus objetivos unicamente na demanda quantitativa, porém, ao fim, decidiu-se que os projetos selecionados seriam aqueles que olharam também para as demandas qualitativas da habitação, e dão margem para a discussão dos valores arquitetônicos intrínsecos a esses projetos, ultrapassando uma discussão unicamente político-econômica. Os projetos tradicionais do BNH ou mesmo diversos conjuntos realizados pela Cohab6 entre 1964 – ao início da ditadura – até o final dos anos 1980, não tem em si uma hipótese de arquitetura. Sua hipótese é outra, é a da lógica da produtividade. Além disso, publicações sobre o assunto tem crescido e foram referencia tanto para o levantamento dos projetos como para o entendimento do contexto da política pública em que estão inseridos. O livro “Os pioneiros da habitação social”7 organizado por Nabil Bonduki e Ana Paula Koury, levantou o panorama da política pública de habitação, que vai desde 1930 até 1964, período iniciado pelo governo de Getúlio Vargas, em que diversos institutos de financiamento de habitação popular são criados, até o início do período da ditadura militar. Neste panorama inclui-se o Edifício Anchieta, que faz parte da iniciativa do IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários), órgão responsável por grande parte da produção de habitação popular do período, que incluiu


desde grandes conjuntos habitacionais até edifícios isolados como no caso do edifício Anchieta. As diretrizes dos projetos do IAPI se mostraram percursoras e compreenderam diversas questões do urbanismo moderno em seus projetos, contando muitas vezes com equipamentos e obras de infraestrutura em seus conjuntos. O Conjunto Zezinho Magalhães é um empreendimento da antiga autarquia8 da Caixa Estadual de Casas para o Povo, CECAP, e foi um dos primeiros geridos pelo orgão, a partir da mudança da política de habitação com o início da ditadura militar no Brasil. A CECAP incrementou seus projetos a partir da implementação do Banco Nacional da Habitação e do Sistema Financeiro da Habitação em 1964, passando ai a de fato construir conjuntos habitacionais (PUNTONI, 1997). Os arquitetos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da rocha, Fábio Penteado - entre outros - que constituíram o Escritório Técnico da CECAP para desenvolver o projeto, foram nomes mais tarde perseguidos na ditadura, mesmo tendo realizado tal projeto no início do período. No entanto, representam a vanguarda moderna da escola paulista, e o projeto do CECAP Guarulhos foi desenvolvido - em parte - e permaneceu referência nas obras modernistas dos anos 1960. Entre o Parque CECAP e o Conjunto COPROMO, em Osasco, ocorreu um grande período dominado pelos projetos generalistas do BNH, que criavam exatamente um modelo de habitação a ser replicado - e que se distanciava de uma pesquisa de indústria e produção de habitação em massa, como no caso do CECAP – e buscava unicamente atingir números frente à demanda, além de iniciar uma lógica de crescimento das construtoras que produziam esses conjuntos. Por um lado, esses conjuntos tiveram um impacto urbano e marcam até hoje presença no mercado de habitação popular no Brasil. Como mencionado anteriormente, seria válido discuti-lo e analisar qual o projeto de arquitetura está por trás de tal modelo, porém seguiu-se buscando hipóteses e estratégias de projeto que agregassem outras discussões de projeto e de construção de urbanidade. Por todo esse período – que vai do início da ditadura até 1986, quando foi extinto, sendo incorporado pela Caixa Econômica Federal - a legislação que operava na construção dessas obras dissociou a produção de habitação da construção de cidade. O COPROMO se insere em uma proposta de financiamento diferente de todas as demais, e é resultado de uma iniciativa implementada pela gestão municipal de Luiza Erundina (1989-1992) através do Programa Funaps Comunitário. O projeto em Osasco resulta do rateio entre as famílias, até parte de financiamento pelo CDHU9, além da construção por mutirão autogerido pela comunidade. Na época o USINA e alguns outros escritórios puderam par-

6. A Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo – COHABSP, criada em 1965, é o orgão que opera conforme os programas e ações estabelecidos pelo Programa Habitacional do Município. 7. BONDUKI, N. G. Os Pioneiros da Habitação Social - Inventário da Produção Pública no Brasil entre 1930 e 1964. São Paulo: Editora UNESP, 2014. 8. Autarquia é definido pelo dicionário Houaiss como “Entidade autônoma, auxiliar e descentralizada da administração pública, sujeita à fiscalização e à tutela do Estado, com patrimônio constituído de recursos próprios, e cujo fim é executar serviços de caráter estatal ou interessantes à coletividade 9. A CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - empresa do Governo Estadual, vinculada à Secretaria da Habitação (descrição institucional).

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10. Informação retirada do site institucional da CDHU: http:// www.cdhu.sp.gov.br/web/guest/ institucional/quem-somos 11. O Programa Minha Casa Minha Vida é uma iniciativa do Governo Federal fundado em 2009 e visa a promoção de habitação popular em áreas urbanas e rurais. E atende famílias das faixas de renda de abaixo de 5 mil reais mensais bruto (faixas 1, 2 e 3)

ticipar de algumas iniciativas como esta, que demonstram até hoje bons resultados em questões econômicas e de fixação da comunidade no local. Ela se configura como uma experiência muito menos vertical de construção de habitação – no sentido de hierarquia de decisão, e imposição de uma forma hegemônica e universal. Não se sente uma imposição do desenho do arquiteto tão grande nesse projeto quanto por exemplo no CECAP, tornando-se um exemplo da associação entre processo produtivo, financiamento e projeto. Por fim, dentro de um contexto contemporâneo de financiamento, o projeto da Gleba A, em Heliópolis, é financiado pela CDHU. “Herdeira” da autarquia do CECAP, a CDHU assumiu o papel de principal promotora de habitação no estado de São Paulo e a maior empresa habitacional do Brasil, movimentando cerca de 1 bilhão de reais por ano10. O entendimento da atuação da empresa passa pela compreensão do desenvolvimento da política habitacional brasileira nos últimos 50 anos (ROYER, 2002), deixando marcas em sua estrutura institucional. Atualmente, a CDHU atua como agente financiador de novas habitações, principalmente em áreas de precariedade, mas acabam por inserir essas unidades na especulação do mercado imobiliário, sem agir realmente a partir de uma política de desenvolvimento. Sem dúvida, nos últimos anos, surgiram exemplos de boa arquitetura nesse campo. Sem uma diretriz consolidada para a habitação - no sentido político - se estará unicamente “correndo atrás” de um déficit, e não estruturando o acesso à moradia. Ao mesmo tempo, a principal ação atual do Estado frente à demanda da habitação é o Programa Minha Casa Minha Vida11, que retoma a solução da reprodutibilidade e do lucro para a produção de moradia popular (imagem 01). Vivemos concomitantemente uma discussão dentro da disciplina da arquitetura a respeito da necessidade de, a partir da promoção da habitação, provover também cidades (FERREIRA, 2012) e um desinteresse político pelo debate aliado ao interesse das construtoras. A linha temporal dos quatro projetos permite um entendimento da própria ação do Estado para com a habitação ao longo do tempo. Iniciando-se em uma política muito controlada pelo Estado – marcado pela gestão de Getúlio Vargas – passando para o foco na produtividade, pragmatismo e a lógica do lucro (PETRELLA, 2011) e resultando nas condutas atuais da CDHU. As soluções de projeto acompanham e acompanharam ao longo do tempo uma vontade política atrelada também à um interesse econômico vigente. Cada um dos projetos pode ser revisto e reentendido frente às demandas atuais, mas permanecem marcando e estabelecendo um tipo de território e uma forma de morar

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das pessoas que lá habitam. As “solicitações de projeto” contemporâneas demandam uma aproximação para com os desafios sociais próprios de agora, seja a de reintegração com território existente ou mesmo de lidar com a vacância dos centros urbanos (RUBANO, 2014). Associando o discurso da disciplina da arquitetura e do urbanismo em relação à habitar cidades - e também um entendimento de como essa cidade apresenta-se - e à produção e o acesso à essas moradias.

IMAGEM 01 Conjunto promovido pelo Programa Minha Casa Minha Vida em Marabá, PA, que revela a monotonia e repetitividade da solução da habitação própria de tal ação do Estado. A foto faz parte do ensaio fotográfico realizado por Tuca Vieira e apresentado na X Bienal de Arquitetura de São Paulo

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projetar o habitar

A solução de projeto parte de um problema, de uma certa demanda programática, a qual o arquiteto usará de um determinado método objetivo para conceber a melhor resposta para tal (MUNARI, 1998). Nesse sentido surge a hipótese de projeto, que antevê, para aquela demanda, qual a ideia espacial que responde melhor àquelas necessidades colocadas. A hipótese surge não como a solução em si, pois essa será o projeto, mas ela corresponde a uma série de valores sociais, urbanos, técnicos e de linguagem que se buscará materializar em um edifício. No caso do problema habitacional tem-se um método ou modelo bem claro. As necessidades programáticas de uma casa são algo bem definidos na sociedade ocidental que desde a revolução industrial vem projetando a casa operária ou popular urbana – isso sem questionar essas necessidades no mundo contemporâneo ou se a organização espacial tradicional não reproduz algumas relações sociais já ultrapassadas. No entanto o programa relacionado à morar é algo bem consolidado em nossa sociedade. Confirmamos isso uma vez que todas as demandas colocadas pelo poder público para as unidades reproduzem as mesmas necessidades programáticas: uma área social, de convivência conjunta, as partes privadas dos quartos e um núcleo de área molhada com um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço. O edifício Anchieta foge um pouco ao modelo, uma vez que conta com um quarto unido às áreas molhadas destinado a uma empregada doméstica. A existência desse cômodo demonstra a destinação a uma classe de mais alta renda dentro da classe dos industriários e também quais necessidades e relações estavam incluídas em um apartamento de 1940. Existe, no entanto, uma distância entre como essa demanda programática é idealmente entendida pelos órgãos de financiamento e produção dessas habitações e pelos próprios arquitetos. O modo de vida doméstico e a configuração das famílias muitas vezes não correspondem a essa visão socialmente elaborada. O projeto do CECAP, por exemplo, responde à esse afastamento entre as demandas ideais e as reais com uma solução de projeto que permite a flexibilização dos espaços – fortemente defendida no ideário modernista – a partir das divisórias entre os cômodos em gesso, facilitando remoções ou alterações dos ambientes, como discutido mais a frente no trabalho. Suprir uma demanda de habitação popular envolve não apenas atingir um determinado programa – mesmo que idealizado – mas envolve demandas de recursos, prazos e outras determinações relacionadas à política pública. Nesse sentido, para a habitação so-


cial soma-se uma camada de agentes e condicionantes do projeto diferentes mesmo das demandas de recursos e tempo da iniciativa privada, de modo que cada política pública acaba por influenciar no desenho desses projetos. O título do trabalho faz ainda referencia à ideia de “habitar”, o que se torna essencial no que o presente trabalho considera na construção de moradia. Henri Lefebvre diferencia o habitat do habitar, entendendo o primeiro unicamente como suprimento da necessidade de habitação do indivíduo para sua sobrevivência, em contraposição ao habitar, em que soma-se à apropriação do espaço em si, e como aquele espaço permite um direito à cidade (LEFEBVRE, 2001). Se Lefebvre coloca o direito à cidade como:

“Significa o direito dos cidadãos – citadinos e dos grupos que eles constituem (sobre a base das relações sociais) de figurar sobre todas as redes e circuitos de comunicação, de informação, de troca” (LEFEBVRE, 2008, p. 31) É válido questionar se o modelo do conjunto habitacional realmente corresponde à esse direito e se configura como um espaço de habitação e não somente de habitat. A cisão entre o conjunto e a cidade tradicional – não histórica, mas a cidade heterogênea – distancia seus moradores das redes de troca, e não faz a manutenção ou a reprodução de novas redes de troca e de espaço urbano público de qualidade. Nos anos 1960 e 1970, com o avanço do liberalismo e da especulação imobiliária nas cidades brasileiras - mas principalmente nos grandes centros, como a região metropolitana de São Paulo – ocorre concomitantemente o crescimento e consolidação das favelas, como alternativa e resistência das populações que não detinham meios de permanecer em suas moradias anteriores. Esse período corresponde aos projetos, por exemplo, do CECAP, em que a ação do governo para com a habitação - no caso o período da ditadura - se torna unicamente um acesso à uma certa ideia de moradia digna e da construção numérica de unidades habitacionais. Ao fim da década de 1980 e inícios dos anos 1990, por sua vez, retoma-se uma valorização e defesa da manutenção do espaço da cidade como espaço legítimo do habitar, desassociando o morar somente à unidade habitacional. Concomitante, ocorre um crescimento à defesa às cidades 25


informais e autoconstruídas, vendo como uma possibilidade de habitabilidade para as populações que ali se instalam - com a devida revisão de precariedade que também muitas vezes lhe é própria. Isso surge, em oposição à uma ideia de arquitetura universalizante, funcional e racional, imposta hierarquicamente - como ocorre muitas vezes nos conjuntos habitacionais. O COPROMO, por mais que seja um conjunto, aparece nessa transição, aproximando a comunidade da produção do espaço, ainda que se configure como um território de exceção ao tecido urbano. Por mais que conformem esse tipo de território, é necessário relativiza-los como ação, entendendo-os exatamente como as hipóteses que são, entendendo-os como produtos de uma concepção de um contexto não apenas arquitetônico, mas fruto de expectativas do desenvolvimento de habitação por parte do Estado.

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a represetação na arquitetura

A teoria crítica de arquitetura tem emprestado de outras disciplinas seus métodos de analise, seja a historia, a arte, a sociologia, ou as contribuições filológicas de estudo de dados sociais ou técnicos (ZEVI, 1996). No entanto a própria produção da arquitetura não se faz a partir desses códigos, o que implica em uma distância entre a própria arquitetura e o método de analisa-la. Há também uma distância entre o que a arquitetura produz - espaços – e o instrumento que utiliza em seu processo de concepção – o desenho. A partir dele, a arquitetura assumiu códigos de representação abstrata dos espaços, representando o volume arquitetônico como uma projeção ortogonal das seções horizontais e verticais do edifício, ou seja, as plantas e cortes.

“Os desenhos arquitetônicos são, na melhor das hipóteses, um modo de trabalhar, e de pensar a arquitetura, e que, por natureza, em geral se referem a algo que está fora deles (ao contrario dos desenhos artísticos que remetem unicamente a si mesmo, a sua materialidade e procedimentos.)” (TSCHUMI, 1980) Por mais que a arquitetura se faça da materialização desses espaços, dos cheios e dos vazios realizados em si, a ferramenta de desenho é chave na arquitetura e em seu entendimento, pois é o instrumento que a disciplina adotou para projetar os espaços no sentido mais literal da palavra: projeta-los num futuro, imaginar como se articularão os volumes e os vazios que se tem a intenção de criar, como eles serão ocupados, que atividades ocorrerão ali. O desenho arquitetônico seria antes linguagem ou projeto? Ele apresenta e retrata algo externo a eles ou são em si uma intenção? Como linguagem o desenho de arquitetura possui os próprios códigos de representação, referenciando elementos à símbolos (imagem 02) e permitindo o diálogo entre as diversas disciplinas que compreendem o desenvolvimento de um projeto – da engenharia ao canteiro de obras. Como projeto, contém em si o plano e a finalidade de materialização, mas depende dessa linguagem codificada para tanto. A comunicação entre esses dois planos da existência da arquitetura - o desenho e o edifício construído – foi estruturado e consolidado dentro da disciplina, de modo que a abstração dos planos ortogonais bidimensionais vão se tornando conhecimento adquirido e internalizados pelos seus executores. A representação investigada no presente trabalho se apre27


senta como linguagem analítica dos projetos, é um esforço de, se utilizando dos códigos tradicionais da representação arquitetônica - a projeção ortogonal - uni-la à volumetria dos espaços, como forma de sintetizar esses diversos planos que conformam uma edificação. As linhas da planta também estão associadas à uma dimensão vertical, e a união das duas qualidades dessas linhas é que permite nos aproximar da materialização delas no espaço. A representação utilizada pode ser estranha aos olhos, uma vez que une duas projeções ortogonais paralelas do espaço - a planta e a elevação - adicionando ainda um nível tridimensional. O desenho faz referencia ao mesmo tempo que se afasta da representação tradicional arquitetônica, e não reproduz uma percepção de um observador do espaço.

IMAGEM 02. Correspondência entre os códigos de desenho da arquitetura e seu elemento. No caso, a forma como diferentes tipos de aberturas nos elementos de vedação vertical (paredes)são representados em planta no desenho de arquitetura.

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A difusão da representação a partir das imagens renderizadas são, por exemplo, uma tentativa de reproduzir a experiência de um observador. Por mais que, de certa forma, tais imagens aproximem a representação da experiência, elas não deixam de ser construções. Por mais que uma das discussões colocadas seja como esses espaços projetados são experienciados, o esforço do presente trabalho é representar a materialização de uma espacialidade a partir dos próprios códigos usados em sua concepção – sendo esses códigos as representações ortogonais. Ou seja, reunir os códigos utilizados pela disciplina para conceber o espaço e sua hipótese de projeto com a materialização do espaço em si criado: a relação entre os diversos elementos arquitetônicos, suas dimensões horizontais, verticais, e a relação entre os espaços internos e externos. A vista paralela também favorece a não-hierarquia dos elementos na tridimensionalidade, uma vez que todas as medidas ficam em mesma grandeza. É interessante também notar que esse método de representação – a partir do rebatimento de planos – aparece em outros contextos onde não se busca um entendimento pela disciplina e sim uma necessidade de retratar o espaço. É o caso por exemplo da arte popular brasileira (imagem 03) ou mesmo a arte do antigo Egito (imagem 04). A dificuldade de tornar bidimensional o espaço vivido, encontrou a mesma solução em culturas totalmente diferentes e demonstra uma tendência e necessidade de demonstrar simultaneamente diversos pontos de vista de um espaço, seja qual for.


IMAGEM 03. Neste exemplar da arte popular brasileira, de Antonio Poteiro, a paisagem da várzea e do rio, é representada a partir de uma simultaneidade de planos que não se configuram como nossos olhos captariam tal cena, ao mesmo tempo, ainda nos permite entender a cena, as diversas posições dos jogadores de futebol e os barcos navegando no rio.

IMAGEM 04. A arte egipcia antiga é reconhecida pela bidimensionalidade da representação, ao retratar pessoas e animais de forma planificada. O exemplo de estuque ao lado também se utiliza da planificação dos elementos, apresentando concomitantemente vários pontos de vistas diferentes, por exemplo, o lago com a vista superior, ao mesmo tempo que as árvores frontalmente.

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Tais exemplos se tratam da representação arcaicas do espaço, no entanto, torna-se simbólica da necessidade de apresentar a arquitetura em geral – entendendo aqui a arquitetura como a cidade em si, os espaços livres e construídos. Ao mesmo tempo, apesar de esforços, sejam eles vernaculares, técnicos ou subversivos, parte da existência de uma obra não pode ser representada de nenhuma forma. Seu entendimento em totalidade só é conhecido e vivido na experiência direta. Principalmente se tratando de habitação, em que o real entendimento do espaço se da na vivencia cotidiana dele.

“O caráter essencial da arquitetura – o que a distingue das outras atividades artísticas – está no fato de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem” (Zevi, 1996, p. 19) Os desenhos técnicos de arquitetura nunca contam com a presença humana em si, apenas supomos que aquelas grandezas, distâncias e proporções o consideram de alguma maneira. Proporções essas que foram também sempre assumidas como possíveis valores a serem universalizados e representados como verdades a serem aplicadas. (imagem 05) Neste sentido também se introduz uma dimensão que não é abarcada pelos desenhos técnicos de arquitetura: a apreensão temporal que ocorre a partir do deslocamento humano no espaço ou sua interação nele (imagem 06). A simultaneidade de ângulos, perspectivas e olhares que temos ao estar em um espaço não está presente em uma representação bidimensional (ZEVI, 1948). Ao ser introduzida como disciplina, a arquitetura evolui conjuntamente com suas representações: desenvolvendo o desenho arcaico, estabelecendo a planta e o corte como código próprio, a invenção da perspectiva, até as formas contemporâneas de representação a partir dos renders. Uma vez consolidada, a própria disciplina também presta um autoquestionamento, e a subversão da representação se introduz como parte da crítica e da renovação da concepção projetual. A arquitetura pós-moderna, através do acesso à diversas tecnologias nos mostra como esse desenvolvimento e essa subversão afeta o próprio método de projeto, seja através da parametrização possibilitada pelos novos sofwares, ou pelo raciocínio que não parte mais unicamente dos desenhos tradicionais, e sim se utilizado do diagrama ou de dados para ser concebido.

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IMAGEM 05. Referência mundial, o manual de dimensões e organização dos espaços realizado pelo arquiteto alemão Ernst Neufert, toma como partida algumas medidas e proporções que seriam adequadas para a habitabilidade de um ser humano no espaço.

IMAGEM 06. A imagem, intitulada “Increasing disorder in a dining table” revela um esforço em representar o tempo na arquitetura, a partir da interação humana com os objetos.

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IMAGEM 07. Mario Botta utiliza da representação paralela como discurso de linguagem e de projeto.

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As ferramentas que o arquiteto dispõe para projetar estão diretamente associadas aos resultados encontrados. Se fossemos mais a fundo em cada um dos projetos, entendendo cada etapa de sua concepção e desenvolvimento seria possível, por exemplo, perceber diferenças em um projeto que partiu do croqui de outro que partiu de uma maquete, ou mesmo de um projeto concebido na prancheta de outro realizado em sua totalidade nos softwares dos computadores.


IMAGEM 08. Neste retrato do projeto da Sadat Rest House, de Hassan Fathy, de autoria do próprio arquiteto, há, tanto a referência à própria representação do antigo Egito, quanto a subversão da maneira tradicional de representação arquitetônica. Aqui o arquiteto realiza a mesma estratégia de rebatimento dos planos ortogonais que conformam o entendimento do desenho de arquitetura: a planta e as elevações.

IMAGEM 09. O cartaz produzido pelo Arquiteto Alex Wall para o escritório Office for Metropolitan Architecture do arquiteto Rem Koolhaas, baseado no projeto para o concursodso Parc La Villette também usa da planificação como forma de subversão do entendimento tradicional do espaço.

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pesquisa de linguagem

As representações realizadas - que constam na segunda parte do trabalho - a partir das bases tradicionais dos projetos, ou seja, suas respectivas plantas e cortes, tornam-se o próprio método de aproximação dos projetos. Se a o concepção desses projetos foi realizada a partir do desenho, ao refaze-los a partir do modelo eletrônico – método escolhido para essa reconstrução e posterior síntese de representação – é possível identificar o raciocínio que existiu em seu desenvolvimento, as modulações, as repetições e a organização dos ambientes a partir de premissas arquitetônicas. Pelo fato dos projetos contidos neste trabalho serem exemplares das hipóteses que representam, e comuns no imaginário da história da arquitetura e dos arquitetos em geral, o acesso aos desenhos originais e tradicionais são acessíveis, e portanto, considerou-se de mais valia a ressignificação dos mesmos, como parte do estudo, ao invés de apenas reproduzi-los como já se conhece. De toda forma não foram desconsideradas as bases originais e as formas de apresentação tradicionais de planta e corte. Cada uma das representações está associada a uma forma de compreensão da arquitetura. Duas formas de síntese da representação para posterior análise dos edifícios foram propostas, primeiramente a perspectiva paralela que associa as projeções ortogonais horizontais e verticais, e o diagrama axonométrico, que por mais que também se afaste de uma percepção do observador do espaço, é um código mais comum ao entendimento, e busca demonstrar a tridimensionalidade total do edifício. Essa representação foi utilizada exatamente para as questões diagramáticas, buscando o entendimento mais direto, enquanto a primeira busca a apresentação desses edifícios enquanto arquitetura, concepção e espaço criado. Para tal entendimento foram definidas algumas escalas de projeto a serem apresentadas: Escala urbana como análise da urbanidade proposta por aquele projeto: ele se insere em uma urbanidade? Ele propõe uma nova forma de ocupação do território? Quais elementos urbanos são trazidos para dentro do projeto? • A análise se faz a partir das implantações dos projetos em escalas que caracterizam os desenhos quase como mapas. • A partir do levantamento dos aspectos urbanos próprios de cada um dos contextos (áreas livres, sistema viário, aspectos do projeto) pretende-se expor quais relações urbanas estão propostas, seja do projeto em si ou do projeto com seu entorno imediato. Implantação na escala do lote, unidade do território determinada pelo edifício e pelo entorno imediato que ele qualifica. Essa uni-


dade pode tanto terminar em si, como no caso do Anchieta, como pode ser reproduzida por toda a gleba do conjunto, como no caso do COPROMO. • Essa análise, já se aproxima da escala do edifício e com as relações espaciais estabelecidas entre ele e sua externalidade. Nesse caso já é utilizada a representação proposta, em que os diversos planos ortogonais são justapostos exatamente para propor uma compreensão de como a volumetria interna do pavimento se relaciona com a externa.

12. Citação reproduzida na página 26 do presente trabalho, relativo à referência bibliográfica Zevi, 1996, p. 19

Escala da unidade, da porta para dentro. O primeiro módulo do habitar proposto por cada um dos projetos, a organização da casa, a relação com a circulação e as possibilidades espaciais propostas por cada uma. • A análise da unidade parte da planta, se amplia para o recorte de cada ambiente com a tridimensionalidade do plano ortogonal rebatido e insere a escala humana no trabalho, retomando a fala de Bruno Zevi12, estabelecendo - baseado nos layouts propostos pelos arquitetos nos projetos originais - um mapa de uso e ações possíveis, a partir da negativação dos cheios e vazios. A variedade de representações que foram solicitadas para compreender os vários níveis de um projeto demonstram em si a complexidade em que um projeto se baseia, de nível urbano à unidade habitacional.

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quatro hipóteses

hipotese i • edificio anchieta hipotese ii • parque cecap hipotese iii • copromo hipótese iv • gleba A, heliópolis


hipótese i • edifício anchieta

O edifício Anchieta, obra do escritório MMM Roberto, de 1941, estréia a verticalização da Avenida paulista através da construção de habitação promovida pelo IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários). Primeiro edifício vertical da Avenida Paulista, acompanhou o desenvolvimento da região em centralidade urbana e econômica. Implantado no que hoje se configura como uma área extremamente consolidada, o edifício que estava inserido em um programa de construção de moradia para aluguel pelos industriários na realidade nunca se configurou como um edifício para a classe popular dos trabalhadores, tendo sido sempre ocupado pelo alto escalão dentre os industriais. Tem uma importância urbana muito grande e uma escala como habitação coletiva relevante. A arquitetura dos irmãos Roberto esta inserida na Escola Carioca, e trás consigo alguns aspectos da mesma, a qual está muito ligada a uma primeira experiência modernista no Brasil, que partiu do Edifício Gustavo Capanema, que inaugura no Brasil a tipologia da lamina, com pilotis, terraço e dinamismo da fachada. Muitos dos edifícios do escritório trazem essas características, e quase todas estão presentes no edifício Anchieta. Por mais que a promoção de habitação no caso do edifício Anchieta não tenha tido o enfoque social, é importante localiza-lo na produção do IAPI, nos anos 1940, que desenvolveu, durante o Estado Novo de Getúlio, um número relevante de habitações “populares” - como era denominado na época. Além disso, o edifício Anchieta inaugura diversos aspectos da produção de habitação coletiva em São Paulo, trazendo tendências internacionais do modernismo, desde a verticalidade, até o uso misto e diversas questões de linguagem. Tem presença relevante na centralidade da Avenida Paulista, e marca em seus espaços e em seu projeto uma visão de urbanidade, além de um modo de habitar.


escala 1:1000

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hipótese 01 • edifício anchieta

LOCAL: Avenida Paulista, São Paulo, SP, Brasil COORDENADAS: 23o33’18.57’’ S, 46o39’46.96’’ W ANO: 1941 ARQUITETURA: Marcelo e Milton Roberto USO ORIGINAL: Moradia para a classe dos industriários e comércio SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários) TIPO DE AGRUPAMENTO: Edifício Isolado 40


imagem 10

imagem 11

41

imagem 12


unidade área total (m2) área seca (m2) área molhada (m2) número de habitantes

120 95 25 6

pavimento área apartamentos (m2) área circulação horizontal (m2) área circulação vertical (m2) área uso comum (m2) número de unidades área total (m2)

950 180 70 0 8 1200

edifício pavimentos pavimentos residenciais total de unidades pavimentos uso comercial

levantamento de dados

pavimentos com garagem pavimentos área comum área total residencial (m2) área total circulação horizontal (m2) área total circulação vertical (m2) área total uso condominial(m2) área total uso comercial (m2) área total construída (m2) total moradores

12 11 80 2 1 1 9600 2160 840 1200 2400 14400 480

projeto total de edifícios população total área total construída (m2) área terreno (m2) ca taxa de ocupação densidade populacional do projeto (hab/ha) densidade populacional do entorno (hab/ha)

1 480 14400 4000 3,6 0,6 1200 260


Apesar da metragem muito acima de uma média das habitações populares, a verticalidade do edifício Anchieta favorece uma densidade populacional no projeto. Além da verticalidade, o edifício tem um índice alto de taxa de ocupação e de coeficiente de aproveitamento (CA) do terreno em que está implantado. Seus dados também demonstram que em sua verticalização não existe apenas adensamento construtivo - realidade das construções contemporâneas de alto padrão. No caso do Edifício Anchieta, por se tratar de um edifício isolado os dados encontrados satisfazem o projeto como um todo. O valor de 1200 habitantes por hectare, se comparado com o valor da cidade de São Paulo (73 hab/ha) traz a questão do potencial de adensamento da cidade, uma vez que expõe o quanto a cidade é esparsa. Localizado em um dos bairros nobres e centrais, a Bela Vista, os dados de densidade populacional também se apresentam como um dos mais altos índices entre os bairros de São Paulo. O levantamento de dados corresponde à expectativa do projeto, e de sua hipótese de referência à Unite D’habitacion modernista, no que diz respeito ao adensamento populacional da cidade moderna. 43


projeto • concepção arquitetônica

O edifício Anchieta faz clara referência à Unite D’habitacion, conceito cunhado por Le Courbusier nos anos 1920 e que se materializou a partir edifício Cité radieuse, em Marselha França, em 1947, Le Corbusier desenvolveu o termo como um manifesto do morar coletivo do homem moderno. O edifício segue alguns dos preceitos da arquitetura moderna, difundida pelo próprio Le Corbusier, do teto jardim aos pilotis. Também traz em si a ideia do morar moderno: unindo lazer, habitação e comércio em um edifício vertical e denso. Para além das referências européias que traz em si, o Anchieta é também representante claro da escola carioca modernista: a marquise curva da cobertura, as circulações avarandadas. Neste sentido, o edifício Anchieta materializa sua hipótese arquitetônica, ele é o projeto moderno que, no início dos anos 1940, passava a construir a cidade moderna, tanto no sentido urbano quanto estético.


sem escala

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projeto • concepção arquitetônica

O edifício lâmina é reconfigurado para a sua situação urbana de esquina, e organizado, portanto, em duas lâminas, uma principal, mais extensa, voltada para a Avenida Paulista, e outra com fachada para a Avenida Angélica. As unidades habitacionais são organizadas também a partir dessa configuração: as unidades tipo na lâmina principal e as unidades duplex na secundária. Distando da esquina, em direção a Avenida Angélica existe uma variação de gabarito decorrente de uma questão de legislação e recuo em relação aos lotes vizinhos. Nesse trecho existe duas unidades de uma variação da unidade duplex tipo. Mesmo contendo a ideia da lâmina modernista, vê-se que há, com a introdução de elementos relacionados ao contexto urbano em que se insere, uma reconfiguração da ideia tradicional da lâmina, criando um volume e uma organização espacial única. Apesar do contexto modernista da cidade funcional, o Anchieta na realidade se insere em uma conformação da cidade tradicional, em que os edifícios conformam o espaço dos logradouros públicos. 46


sem escala

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projeto • concepção arquitetônica

A respeito do térreo comercial, originalmente haveriam ali três espaços comerciais, todos com sobreloja. A licença para o uso comercial no edifício só foi liberada em 1952, no entanto, atualmente apenas uma das lojas é utilizada: a esquina. Esse espaço foi por muitas décadas e voltou a ser atualmente, ocupado pelo Bar Riviera, que na época trouxe notoriedade para o edifício. O espaço comercial ocupado pelo bar Riviera tem particularidades que lhe conferem características especiais, como por exemplo a escada circular que dá acesso a sobreloja e a vedação vertical em tijolo de vidro na esquina. Todo esse térreo possui um plano de vidro como fechamento e é marcado pelo ritmo dos pilotis, que vencem os dois pés direitos ocupados por essa área não residencial O Edifício Anchieta tem uma implantação que favorece a conformação do espaço público da calçada, uma vez que se insere diretamente ligado à este espaço. Atualmente existe uma grade que separa a área do térreo condominial do espaço público, porém no projeto original, o jardim e os pilotis tinham a intenção de integrar o espaço público e o privado. 48


sem escala

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descrição • qual urbanidade?

É marcante o fato de que os edifícios dos Irmaos Robertos estão muitas vezes localizados em áreas centrais e dinâmicas. Isso se repete no edifício Anchieta, em uma das esquinas mais movimentadas de São Paulo, entre a Rua da Consolação e a Avenida Angélica, com a fachada principal para o final da Avenida Paulista. Também está localizada a frente do viaduto Okuhara Koei, que cria o acesso entre a avenida doutor Arnaldo e a Avenida Paulista. Essa estrutura viária também garante uma visualidade grande para a fachada principal do edifício, no entanto também configura um não-lugar, refém do sistema viário e um entrave na continuidade do tecido. O edifício ocupa um terreno retangular, que cruza a quadra, possibilitando frente para três ruas. Ele se organiza em um embasamento comercial, com frente para a avenida paulista e uma profundidade de aproximadamente 1/3 do terreno. É onde também se dá um dos acessos de moradores. A transição entre o espaço público da rua, e o edifício Anchieta se dá por algumas áreas ajardinadas, que conferem um pequeno espaço livre no terreno, a real área de lazer livre se concentra na cobertura. Ainda no piso térreo, atrás dessa área se estende a garagem do edifício, sua laje era destinada para um pátio de uso condominial, mas não se efetivou e acima disso não há nenhuma edificacão, garantindo um espaço grande entre a torre residencial e os lotes vizinhos.


volumes construídos:

volumes construídos:

lâmina e bloco de garagem

lâmina

áreas não edificadas do lote

sistema viário:

av en

id a

an

lic a

entorno imeditato

via

du

to

ok uh

ar a

av en

id

ko e

i

a

pa

ul

ist

ão

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ol ns

a ru

da

co

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descrição • unidade espacial

Acima do térreo comercial sobe a torre residencial, com 10 pavimentos. Ela se divide basicamente em três tipos de apartamentos. Se organizando como a forma mais clássica da lamina, cada apartamento ocupa a extensão transversal da lamina, tendo sua fachada principal para a rua e o fundo para a circulação horizontal avarandada. A unidade da esquina tem a mesma estrutura da tipo, porem pelo seu lugar privilegiado tem uma reorganização do programa entre as duas fachadas principais que ocupa, não tendo inclusive acesso para a circulaçãoo horizontal avarandada. A extensão em “L” tem sua fachada para a Avenida Angelica. Nesta outra lamina que se volta para a Avenida Angelica estão contidas as unidades duplex. Duas delas (que são iguais) ocupam os 10 pavimentos e são organizadas em sala, voltada para a fachada principal e cozinha e quarto de emprega domestica para a circulação horizontal no piso de acesso, e no segundo pavimento possui dois quartos, voltados para a fachada principal, e áreas molhadas e um terceiro quarto para a secundaria. A fachada do edifício Anchieta não possui o clássico elemento de dinamismo tão usado pelos irmãos roberto e os modernistas cariocas em geral, o Brise Solei, porem há uma preocupação em criar um ritmo e uma variação na fachada. Cada unidade se alterna em deixar a marcação da laje evidente, com parapeito apenas para os quartos e plano de vidro para a sala, e outras com parapeito em toda a extensão, englobando a laje. As cores das pastilhas usadas na fachada também colaboram com isso, além dos planos de empenas cegas.


0 1

5

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descrição • da porta para dentro

As unidades tipo - não duplex - do edifício Anchieta ocupam a lâmina principal, com fachada principal voltada para a Avenida Paulista. Ela conta com quatro quartos, dois deles ocupando parte da extensão da fachada principal, o terceiro ocupa a fachada secundária, assim como o último quarto que consta nos memoriais descritivos do edifício como “quarto de empregada doméstica”. A presença de um quarto destinado a empregadas domesticas é um indicativo do tipo social a que seriam destinados esses apartamentos pelo IAPI. A sala e área de convívio social do apartamento ocupa parte da extensão da fachada principal e possue abertura de iluminação e ventilação que varia a partir do ritmo da fachada: em alguns momentos o caixilho das janelas ocupa todo o pé direito, em outros apenas o vãoa partir do parapeito. A organização do apartamento se dá a partir da entrada social e de uma distribuição dos ambiente através dos corredores. Há também uma configuração das compartimentações internas típica dos anos 1940 e 1950 de prever a instalação de mobiliário e layout fixo, como armários e eletrodomesticos. O núcleo de área molhada se concentra na parte posterior da fachada, tendo acesso pela circulação avarandada e aberturas voltadas para ela, configurando-se como fachada secundária, mas permitindo a ventilação cruzada e abertura de todos os ambientes para uma área externa.


55 0

1

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diagramas • circulação

A circulação vertical principal/social se organiza por um elevador que atende duas unidades, tendo um hall que dá acesso a elas. Por mais que tenham acessos diferentes, toda a circulação se concentra no fundo da torre, garantindo toda a extensão da fachada principal para os apartamentos. O hall social é mínimo e se organiza a partir do elevador, enquanto a circulação horizontal avarandada toma toda a extensão da lâmina, marcando a fachada secundária. Os cômodos que se concentram junto à circulação tem abertura de janelas voltadas para o corredor, assim como um acesso ao apartamento pela área de serviço, marcando mais uma vez uma diferenciação de caráter social entre o edifício Anchieta e o restante dos projetos, uma vez que é o única exemplar analisado que possui dois acessos, caracterizados como entrada social e entrada de serviço.


sem escala

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diagramas • circulação

O edifício em formato de L, conformando na realidade, duas laminas, possui também duas circulações verticais - nas fachadas voltadas para o miolo do lote- uma para cada lamina, e também circulação horizontal avarandada independente. Para a lamina principal e mais extensa, essa circulação se conforma como secundária/de serviço. Para a lamina menor que contem as unidades duplex ela é a única circulação e conta com um núcleo de escadas e elevadores. Pelo recuo criado entre a torre residencial e os lotes vizinhos, ambas as circulações tornam-se bastante visiveis e marcantes na paisagem, de forma que ajudam a configurar a volumetria e linguagem do edifício, ganhando algum protagonismo, e não apenas como circulações funcionais. 58


sem escala

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hipótese ii • parque CECAP

O parque CECAP de Guarulhos é uma das últimas experiências de produção de habitação popular promovida pelo Estado antes de um longo período marcado pelos projetos do BNH durante a ditadura militar no Brasil. A implantação em Guarulhos demonstra o contexto de consolidação da região metropolitana de São Paulo, e o enfrentamento da questão habitacional pelo Estado em uma das áreas de maior concentração de moradia operária. Projeto dos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado o Conjunto Zezinho Magalhães faz referencia às matrizes corbusianas ao mesmo tempo que se torna uma referencia para a arquitetura e o urbanismo modernista paulista e brasileiro. A implantação e organização urbana, a malha ortogonal e o sequenciamento paralelo das lâminas expõe o racionalismo que organizam a concepção urbana – que se estende desde a concepção arquitetônica da unidade. A lógica de democratização da moradia é o que rege o projeto, e o próprio processo de produção dos edifícios - pautado na pré-fabricação e na produção em série - também refletem isso. (PETRELLA, 2016). Por mais que o projeto tome uma posição de agente da urbanização dentro do contexto de crescimento da região metropolitana, o plano urbano que cria, por mais que conte com equipamentos de lazer, saúde e educação, é insuficiente no entendimento da conformação da cidade. É uma ideia de universalização da ideia do habitar, que associava o homem moderno, à indústria e à moradia. No entanto, acaba perdendo uma historicidade das cidades e uma hierarquia de território própria do ambiente urbano. A visão abstrata e utópica que cria a respeito do habitar está estritamente relacionada com o ideário do projeto moderno, no estabelecimento de novas formas de morar que estivessem de acordo com a vida moderna consolidada (KOPP, 1990). No entanto se distancia de uma ocupação histórica da heterogeneidade dos tecidos urbanos e de uma visão atual relacionada ao habitar.


escala 1:10000

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hipótese 02 • parque CECAP

LOCAL: Guarulhos, SP, Brasil COORDENADAS: 23o27’26.31’’ S, 46o29’33.46’’ W ANO: 1967 ARQUITETURA: Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Fábio Penteado USO ORIGINAL: Habitação população operária sindicalizada de São Paulo SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: Caixa Estadual de Casas para o Povo TIPO DE AGRUPAMENTO: Conjunto 62


imagem 13

imagem 14

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imagem 15


unidade área total (m2) área seca (m2) área molhada (m2) número de habitantes

52 38,5 13,5 4

pavimento área apartamentos (m2) área circulação horizontal (m2) área circulação vertical (m2) área uso comum (m2) número de unidades área total (m2)

1120 75 50 0 20 1245

edifício pavimentos pavimentos residenciais total de unidades pavimentos uso comercial pavimentos com garagem pavimentos área comum área total residencial (m2)

levantamento de dados

área total circulação horizontal (m2) área total circulação vertical (m2) área total uso condominial(m2) área total uso comercial (m2) área total construída (m2) total moradores

4 3 60 0 1 1 3120 300 200 1245 0 4980 240

conjunto edifícios população área construída (m2) área do módulo urbano selecionado (m2) densidade populacional ca

16 3840 79680 64392 596,3 1,23

projeto total de edifícios população total área total construída (m2) área terreno (m2) ca taxa de ocupação densidade populacional do projeto (hab/ha) densidade populacional do entorno (hab/ha)

62 14880 308760 1.800.000 0,17 0,04 82,6 38


O projeto do CECAP não foi construído em sua integridade, o conjunto que encontramos hoje é referente à aproximadamente metade do pretendido por seus arquitetos. Os dados levantados a partir do que foi construído, gera resultados distorcidos: densidades e taxas de ocupação baixísimas. Portanto foi também considerado o cálculo de uma freguesia unidade espacial nomeada no memorial do projeto - que envolve duas quadras com metragem de, aproximadamente, 160x160m, e o sequenciamento de 16 edificios de lâmina dupla. Isso também permite entender o projeto como unidade espacial menor que a de um conjunto monofuncional de grande escala, pensando como poderia estar inserido em outra qualidade urbana. Mesmo que gerando valores muito mais altos de adensamento e ocupação que o conjunto existente, a unidade espacial criada pelo projeto não gera valores tão interessantes para a questão da demanda habitacional. O parque CECAP de Guarulhos foi pensado como bairro exatamente na tendência propositiva de ocupação do território na expansão da periferia - logo os dados referentes ao entorno são, na realidade, relativos à cidade de Guarulhos. 65


projeto • concepção arquitetônica

O conjunto possui duas tipologias de edifício, com mesma volumetria e aparência, mas diferem em algumas questões de estrutura e de circulação vertical. O presente trabalhou abordou a tipologia “2”, com laje nervurada e escada acoplada com dois patamares. A tipologia “1” tem laje plana e escada contínua. Por mais que guardem uma integridade de volumetria, a organização das unidades se dá como “casas geminadas” duas a duas, em cada uma das lâminas, criando um módulo de quatro unidades articuladas pela circulação e garantindo independencia entre cada um dos módulos. Os três pavimentos residenciais conformam o volume do bloco edificado que “flutua” apoiado pelos pilotis, que garantem o térreo livre do projeto.


sem escala

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projeto • concepção arquitetônica

A lógica da reprodução em série faz parte da concepção do edifício, e toda sua organização parte de módulos construtivos. Era intenção inicial que toda a estrutura fosse realizada em sistema pré-fabricado de concreto, no entanto a estrutura utiliza o método construtivo convencional. (PUNTONI, 1997) As vedações externas, por sua vez, são alvenaria e placas préfabricadas que conferem uma das soluções de desenho dos arquitetos para o projeto. Essas placas funcionam como peitoril dos caixilhos de toda a fachada (interna e externa) e se estendem em balanço para o lado externo. Como fechamento para dentro dos apartamentos essas placas se conformam em armários, otimizando o espaço do apartamento uma vez que o espaço de armazenamento que criam avança para fora. Dessa forma as duas fachadas do apartamento contam com esta faixa de armários abaixo da caixilharia. Essa solução reforça as ideias de funcionalidade e otimização presentes no projeto, e coerentes com os ideais modernistas, no que dizem respeito à hipótese de projeto que o conjunto pretende confirmar. 68


escala 1:150

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13. A citação é extraida da Edição do debate sobre o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães realizado na FAUUSP em 1967. Desenho no 4, São Paulo, GFAU, 1972.

O conjunto não conta apenas com as zonas residenciais, chamadas no memorial dos arquitetos de “freguesias”, mas também com equipamentos, distribuídos funcionalmente, cada um ocupando a área de uma quadra, em diferentes pontos da gleba em que o conjunto está implantado. Tais equipamentos estavam inseridos em um projeto de uso de toda a população da região, para além do conjunto. A questão habitacional não é enxergada como única finalidade do morar. Integrado às freguesias e às áreas de equipamentos tem-se as áreas livres e o sistema viário.

descrição • qual urbanidade?

A visão funcionalista organizacional dos espaços da razão modernista fica evidente. Em um debate a respeito do Conjunto Zezinho Magalhães de 1967, Artigas defende a ideia do urbanismo “progressista”, aos moldes dos entendimentos modernistas da época13:

“É muito difícil que nós possamos sair, individualmente, de uma posição ideológica geral, brasileira, que caracteriza nossas tendências de Urbanismo como Progressista.(...) Esse geometrismo que caracterizou a República é a mesma linha de cidades que, de certa forma, são as cidades paulistas. Esse projeto tem características Progressistas como um processo de atender a uma ideologia que caracteriza o pensar brasileiro em torno do Urbanismo. (...) Esse Urbanismo utópico ou pré-Urbanismo é a base do conjunto de correntes urbanísticas, hoje chamadas de Progressistas. Nós não podemos ser contra, de forma nenhuma, as várias propostas que as corrente utópicas trazem até o transborde nas propostas socialistas.”(ARTIGAS, 1972, apud, PUNTONI, 1997, p.49) O projeto original não se concretizou e apenas 4 das 8 fregresias previstas foram construídas. Os equipamentos previstos também foram construidos parcialmente, apenas o bloco comercial, o centro de saúde e o centro comunitário inauguraram junto com as quadras residenciais. As faltas criadas colaboram com o aspecto de ilha urbana do conjunto, que hoje conta com grandes áreas vazias em seu entorno.


volumes edificados: edifícios habitacionais e equipamentos públicos

áreas não edificadas e livres

áreas não concluidas do projeto original permanecem não edificadas

sistema viário criado e exis-

rodovia presidente dutra

tente

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descrição • edifício

A unidade volumétrica do edifício é resultado das 5 repetições dos módulos. Cada módulo, articula duas duplas de unidades, cada uma das duplas uni-se linerarmente entre si, e são integradas simetricamente a partir da circulação. A lâmina modernista clássica também é reconfigurada aqui em duas lâminas conjugadas. O intervalo criado pelas circulações e pela lamina cria pátios internos, para onde estão voltadas as aberturas internas das lâminas. Cada unidade ocupa uma seção transversal da lâmina, permitindo a ventilação cruzada. Esses intervalos também garantem a possibilidade de abertura em ambas as fachadas da unidade, permitindo iluminação e ventilação cruzada. Os três pavimentos residenciais sobem acima do térreo sob pilotis demonstrando mais um dos ditames modernistas, o do térreo livre – ocupado por um área de estacionamento e as pequenas praças e passeios de pedestres.


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descrição • unidade espacial

A unidade volumétrica do edifício é resultado das 5 repetições dos módulos. Cada módulo, articula duas duplas de unidades, cada uma das duplas uni-se linerarmente entre si, e são integradas simetricamente a partir da circulação. A lâmina modernista clássica também é reconfigurada aqui em duas lâminas conjugadas. O intervalo criado pelas circulações e pela lamina cria pátios internos, para onde estão voltadas as aberturas internas das lâminas. Cada unidade ocupa uma seção transversal da lâmina, permitindo a ventilação cruzada. Esses intervalos também garantem a possibilidade de abertura em ambas as fachadas da unidade, permitindo iluminação e ventilação cruzada. Os três pavimentos residenciais sobem acima do térreo sob pilotis - demonstrando mais um dos ditames modernistas, o do térreo livre – ocupado por um área de estacionamento e as pequenas praças e passeios de pedestres. A racionalidade da concepção do edifício se extende para toda a construção urbana desse território. As lâminas duplas são alinhadas sequencialmente, com espaçamentos regulares e qualificados por alguns canteiros também ordenados. O modelo se reproduz em cada uma das freguesias. Dessa forma, a linearidade do edifício e sua organização criam poucas escalas de convivência e co-habitação de atividades, e essas escalas se reproduzem para todo o conjunto. A hierarquia dos espaços tornam-se homogeneas por todo o conjunto, e reforçam esse afastamento da cidade plural e heterogenea. Ao mesmo tempo materializam a hipótese de projeto, a partir de uma construção racionalizada, democrática e universal desse bairro, além de garantir o acesso à uma unidade habitacional de qualidade


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descrição • da porta para dentro

Para além da solução dos armários, a compartimentação interna também aplica a otimização dos espaços. As paredes que dividem os cômodos são vedações em gesso, permitindo flexibilidade na organização e tamanho dos mesmos. O núcleo de área molhada e a divisão entre apartamentos são de alvenaria e marcam a parte fixa do projeto, porém o restante da unidade estaria a serviço da demanda da família que ali iria morar. A unidade entregue organiza o programa a partir de três quartos, ocupando a extensão da fachada externa, um núcleo hidráulico com cozinha e área de serviço voltadas para a fachada interna – e da circulação – da lâmina, com abertura direta para o lado externo, e o banheiro, com ventilação indireta a partir da abertura para a área de serviço. O acesso da unidade se dá pela sala, localizada também na fachada interna, com abertura para os pátios criados. Aqui não foi encontrado um layout original dos arquitetos, apenas um croqui de uma solução anterior para a unidade, e foi a partir dele que tentou-se criar os fluxos e ocupações esperadas na concepção arquitetônica.


0

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diagramas • circulação

As unidades se organizam a partir da circulação, constituida por um bloco de escadas, que confere o único acesso, e um corredor avarandado que permite a entrada para cada uma das quatro unidades que integram o módulo. As circulações unem as duas lâminas entre si, e suas cinco repetições marcam a modulação do edifício, ainda assim garantindo a aparência de unidade do edifício - mesmo que cada uma das oito unidades articuladas por cada circulação tenham indepedência entre as outras. O corredor de 8m garante a distancia entre as lâminas e com isso a abertura de ambas as fachadas. Integra o sistema de circulação também o térreo livre, sob pilotis, estabelecendo a livre fruição do térreo - própria do ideário moderno. Essa solução reforça o CECAP como uma hipótese de projeto moderno a partir das matrizes corbusianas.


sem escala

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hipótese iii • COPROMO

O tipo de canteiro do projeto do COPROMO, o mutirão autogerido pela comunidade (com mão de obra assalariada de apoio), influencia na grande racionalidade do desenho do projeto, que por sua vez que está diretamente relacionada à produção do canteiro – tanto nos processos produtivos quanto nas atividades relacionadas à gestão da obra por parte dos mutirantes. O projeto do COPROMO está intimamente ligado ao seu processo de produção. O COPROMO se insere num movimento dos anos 90 com sistema de financiamento de desenvolvimento pela CDHU de mutirões e de renovação da construção de habitação social após um longo período do BNH durante a ditadura militar. A participação da comunidade existiu tanto durante a concepção do projeto e se extendeu para a contrução do mesmo. Há uma maior fixação dos moradores a esses conjuntos em que se considera sua partipação e em que se estabelece a ideia de cooperativa do que no realizado por construtoras, em que se aplica muito mais a lógica do lucro e do mercado. O conjunto produzido a partir da cooperativa é uma referência às experiências uruguaias, que em 1960 a partir de um esforço conjunto entre arquitetos e comunidades da luta pela moradia conseguiu produzir diversos conjuntos gerando acesso à moradia para diversos grupos, além de, a partir dessa articulação, conseguir em 1968 aprovar a base legislativa que gerou a Lei Nacional de Habitação Uruguaia (Lei Nacional de Vivenda). Conjuntos como o MESA I - Cooperativa de Viviendas Nuevo Amanecer, são resultado dessas experiências. O COPROMO se organiza como conjunto, no que é relativo à reprodutibilidade dos espaços e dos edifícios. Criam-se módulos, que se agrupam, criando uma unidade de espaço e essa é replicada numa área delimitada. A lógica dessa conformação do espaço é menos ligada ao território em que está inserida, uma vez que poderia ser reproduzida em diferentes lugares. Existe uma qualidade dos espaços criados, uma preocupação nas escalas de público e privado, nas circulações internas e na criação de espaços qualificados ali dentro, existe um foco na vida em comunidade, dos pátios internos e de sociabilidade, mas, por outro lado há pouco diálogo com o entorno e não se criam ali uma malha urbana propriamente, existe menos a discussão da construção da habitação como urbanidade.


escala 1:2000

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hipótese 03 • COPROMO

LOCAL: Osasco, SP, Brasil COORDENADAS: 23o30’34.56’’ S, 46o47’11.10’’ W ANO: 1991 ARQUITETURA: Usina CTAH USO ORIGINAL: Habitação população da Associação Terra é Nossa SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: Mutirão autogerido com mãode-obra assalariada complementar técnicas construtivas SISTEMA DE FINANCIAMENTO: CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e Associação Terra é Nossa TIPO DE AGRUPAMENTO: Conjunto 82


imagem 16

imagem 17

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imagem 18


unidade área total (m2) área seca (m2) área molhada (m2) número de habitantes

54 40,5 13,5 4

pavimento área apartamentos (m2) área circulação horizontal (m2) área circulação vertical (m2) área uso comum (m2) número de unidades área total (m2)

216 17 9,5 0 4 242,5

edifício pavimentos pavimentos residenciais total de unidades pavimentos uso comercial pavimentos com garagem pavimentos área comum área total residencial (m2) área total circulação horizontal (m2)

levantamento de dados

área total circulação vertical (m2) área total uso condominial(m2) área total uso comercial (m2) área total construída (m2) total moradores

5 5 20 0 0 0 1080 85 47,5 0 0 1212,5 80

conjunto edifícios população área construída (m2) área do módulo urbano selecionado (m2) densidade populacional ca

4 320 4850 2168 1476 2,23

projeto total de edifícios população total área total construída (m2) área terreno (m2) ca taxa de ocupação densidade populacional do projeto (hab/ha) densidade populacional do entorno (hab/ha)

50 4000 60625 50.600 1,19 0,23 790 792


Por se tratar de um conjunto foram estabelecidas duas formas de avaliação dos dados para o COPROMO. Primeiramente do projeto como um todo, considerando toda a extesão da gleba em que foi implantado, as áreas de estacionamento e áreas livres e também da unidade espacial que conforma o conjunto de edificios que é replicado, simulando uma pequena quadra, com os edificios e as áreas que o qualificam em seu entorno imediato (indicado pela linha pontilhada no desenho acima). Tratando-se de uma verticalização média, com unidades em todos os pavimentos e uma circulação ampla - mas que evita os longos corredores - o projeto demonstra condições de adensamento populacional. Comparando os dados referentes à unidade espacial e ao projeto em si vemos que a densidade populacional que essa “quadra” propõe é o dobro da efetiva do projeto. O mesmo ocorre com o coeficiente de aproveitamento. Como unidade espacial o COPROMO propõe uma ocupação interessante, com valores de adensamento populacional apropriadas para a demanda de habitação, no entanto isso não se cumpre em sua totalidade. 85


projeto • concepção arquitetônica

A lógica de construção do projeto parte da unidade construtiva do bloco cerâmico, e a partir dele criam-se novas unidades construtivas, que organizadas – sempre pautado na racionalidade, ortogonalidade e simetria – vão criando os diversos níveis de espacialidade do projeto, da unidade, passando pelo edifício, até o conjunto. O edifício é composto por 4 unidades habitacionais idênticas, que se encaixam duas a duas e espelhadas conformam o edifício. A forma arqueada do edifício se dá pela organização desses apartamentos, e o agrupamento dos edifícios possibilitam a criação desses bolsões mais reservados exatamente por essa forma (diferente do que criado pela lamina, por exemplo) O formato em cata-vento do apartamento se dá por uma construção muito racional da forma, em que 4 quadrados deslocados criam 4 ambientes e uma circulação interna ao apartamento, que permite o acesso a todos os ambientes. A decisão estrutural pela construção em alvenaria armada também dá direções formais ao projeto. Cada um dos quadrados tem 3,75 m de lado.


sem escala

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descrição • qual urbanidade?

Entre os blocos existem 4 tipos de áreas livres que se relacionam de diferentes formas com a área construída. Os caminhos de pedestres pavimentados conectam os edifícios – essas muitas vezes associadas a escadarias que vencem as diferenças topográficas do terreno -, as áreas verdes que correspondem à canteiros no entorno dos edifícios e que ajudam a criar os bolsões, as áreas de estacionamento que ocupam as parcelas entre edifícios que não estão associadas à permanência e que de certa forma ocupam as “costas” dos agrupamentos de edifícios, e algumas vias de circulação de veículos dentro do conjunto. Além disso existe uma “praça central” que reune espaços de convivência como quadras esportivas e pequenos equipamentos de socialbilidade. Em questão de situação urbana, foi delimitado para a área do conjunto, uma gleba entre algumas das principais avenidas do município. Ao redor Sendo uma área de urbanidade hostil, o conjunto se fecha em si, o que de certa forma reproduz uma tendência dos conjuntos brasileiros, que negam a cidade e se voltam para dentro de si, tentando criar uma outra proposta de espaço.


volumes edificados e caminhos pavimentados de pedestres de conexão dos edifícios

áreas não edificadas e livres

áreas não edificadas sem qualificação para a permanência ocupadas por estacionamento

sistema viário criado e existente

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14. Existem sim diversas préexistências no entorno do terreno de implantação do conjunto, seja de morfologia das ocupações vizinhas ou do sistema viário. No entanto, ao se fechar em si, o COPROMO, de certa forma, nega essas préexistências e realiza uma ideia de ocupação que refere-se a ele mesmo.

descrição • edifício

15. Na realidade existem diversas questões técnicas, de conforto, legislação e mesmo por ser parte de um processo participativo que balizam o projeto do COPROMO.

A conformacão COPROMO se realiza a partir de diversas unidades espaciais, começando pela unidade habitacional, passando pelo edifício, pelo agrupamento de edifícios até se configurar em um conjunto. Exatamente pela “forma conjunto” que o projeto antecipa, o estabelecimento desses diversos módulos é possível e faz sentido, pois é a partir da modulação e reprodução da mesma que o território neste exemplo se conforma. O COPROMO vai além de apenas a hipótese do conjunto - uma vez que é intrínseca à sua proposta, a construção participativa da habitação - no entanto, por ser um conjunto, implantado em uma gleba “sem pré-existência”14 a coerência da ocupação é determinada por ele mesmo, ou seja, existe uma certa liberdade da forma do edifício - ou de qualquer que seja a unidade espacial. Não é necessário adaptar-se a uma angulação colateral de um vizinho ou olhar - ou deixar de olhar - para uma certa rua, de maneira que a volumetria do edifício é inaugural, e pode ser concebida pautada por uma ideia mais “livre”15 da arquitetura que tem-se a intenção de produzir. Por esses motivos, todos os edifícios do conjunto possuem mesma volumetria, e a sua reprodução conformam o território. Por sua vez, o edifício em si é marcado pela mesma racionalidade geométrica que concebe a unidade. A forma arqueada, já mencionada, e o gabarito médio, lhe dão um aspecto de “bloco”, se afastando da linearidade da lâmina, e o bloco cerâmico - elemento estrutural do projeto - ao permanecer exposto, garante também um aspecto mais vernacular ao edifício. Por não possuir variação de usos em si, ou seja, ser ocupado em todos os pavimentos pelo uso residencial, a volumetria é unificada, a viariação se dá pela rugosidade gerada pela geometria das unidades e pela circulação horizontal avarandada, que se volta para os bolsões criados.


sem escala

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descrição • unidade espacial

O COPROMO materializa uma hipótese de projeto, a do conjunto habitacional em blocos de média verticalização com organização não-linear, estabelecendo uma hierarquia de espaços e valorizando a ideia de comunidade e vizinhança, principalmente ao associarmos o espaço à suas forma de produção - é importante ressaltar tal aspecto, pois, por mais que configure a “forma do conjunto habitacional” (PETRELLA, 2011) o seu modelo de desenvolvimento integra grande parte do valor social do projeto. A partir da união de dois edifícios e o espelhando desse conjunto estabelce-se a unidade espacial: quatro edifícios, com uma pátio interno determinado por caminhos de pedestres e canteiros gramados. Esse agrupamento é repetido 12 vezes na gleba e constituem essas diversas comunidades dentro de um todo. Os blocos de 4 edifícios formam esse bolsão que são a ultima escala de público em uma hierarquia que vai das vias principais externas ao conjunto, entrando aos poucos na escala do edifício e criando essas diversas qualidades de público e privado.


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descrição • da porta para dentro

A unidade guarda em sua forma a racionalidade geométrica que a constitue, deixando claro que os cinco ambientes criados são resultado da interssecção dos quatro quadrados (como já mencionado). Dos quatro módulos de 3,75 x 3,75, dois deles correspondem aos quartos, um deles (onde existe o acesso) corresponde à sala e o quarto módulo corresponde às áreas molhadas, se dividindo entre banheiro e cozinha + área de lavanderia. Todos os ambientes possuem pelo menos uma abertura para o lado externo, com excessão do banheiro, que tem abertura para a lavanderia. Os módulos se articulam a partir da pequena circulação - também com geometria quadrada - que é remanescente da intersecção dos módulos maiores. O layout apresentado pelos arquitetos juntamente com a planta traduz algumas expectativas para com os espaços, que podem, ou não ser seguidas pelos moradores. No entanto a alvenaria estrutural não permite modificações de tamanho dos ambientes. Esses layouts dividem o apartamento em um quarto de casal, um quarto com duas camas de solteiro (o que mostra uma expectativa de 4 moradores por apartamento), uma sala contendo área de estar com sofá e mesa de refeição, a cozinha dispõe de bancada com cuba, fogão, geladeira e armário e a lavanderia de tanque e um eletrodoméstico como máquina de lavar.


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diagramas • circulação

A solução estrutural referente a circulação vertical é também um aspecto inaugural no projeto do COPROMO e dos mutirões autogeridos em geral. A única circulaçao vertical existente é uma escada de estrutura metálica não enclausurada, que cumpre função estrutural, além de circulacão, mas que principalmente possibilita a própria produção do edifício, pois se configura como uma “escada andaime”. Em seu livro “Arquitetura Nova”, o arquiteto Pedro Fiori Arantes defende que as escadas em estrutura metálica do COPROMO eram a demonstração de que “os movimentos de moradia e seus arquitetos não estavam dispostos a simplesmente reproduzir ‘precariedades’, mas, ao contrário, concentravam seus esforços à procura de soluções modernas, utilizando ao máximo possível os meios técnicos da civilização contemporânea” (ARANTES, 2002: p. 218). A torre de estrutura metálica que viria a sustentar a escada e a circulação horizontal avarandada era erguida logo após a feitura da fundação. Essa estrutura seria previamente um dos elementos a serem trazidos de fora do canteiro, mas permitiam que os mutirantes subissem as fiadas de blocos a partir dessa estrutura, criando autonomia, que tem grande sentido em todo o processo de construção proposto. A estrutura metálica se estende para a circulação horizontal, imediatamente unida à escada. A circulação horizontal é avarandada e dá acesso aos 4 apartamentos. Exatamente pela forma arqueada do edifício as portas de acesso se tornam mais próximas e dessa forma a circulação não se tornam corredores extensos. A varanda, ampla, permite um uso comum entre os vizinhos, que comumente a ocupam como extensão da unidade.


sem escala

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16. Citação do memorial descritivo do projeto retirado do livro Vigliecca & Associados. O terceiro território. são paulo, 2014. p. 145

A proposta para a Gleba A de Heliópolis realizada pelo escritório Hector Vigliecca & Associados está inserida não somente numa tendência contemporânea de produção de habitação social, mas também estritamente ligada a um histórico de produção do próprio arquiteto Hector Viggliecca.

hipótese iv • gleba A

Diferente de todas as estratégias de produção do espaço e de construção de habitação apresentadas até aqui pelo presente trabalho, neste projeto existe um grande esforço em lidar com a préexistência. O CECAP e o COPROMO apresentam propostas de projeto interessantes, que buscam unir uma produção racional com um espaço de qualidade, além da criação da ideia de conjunto para uma comunidade. Porém, a urbanidade que geram nega a cidade como conhecemos e como ela se reproduz. Por mais desfavoráveis que fossem suas situações urbanas, os projetos não trazem em si uma possibilidade de integração com o entorno pré-existente ou mesmo uma reprodução da urbanidade que propõe, pois criam espaços funcionais e não urbanos. O edifício Anchieta, trás em si alguns elementos urbanos interessantes, porém, exatamente pela sua condição inaugural, foi propositivo, e não lidou com préexistência. No memorial descritivo do projeto os arquitetos colocam:

“O objetivo essencial deste projeto é propor o entendimento de que a habitação de interesse social não é um problema de quantidade nem de custo, nem de tecnologia, o objetivo essencial é a construção da cidade. (...) A construção da cidade implica em inserir estes empreendimentos na trama ativa da cidade de maneira que o indivíduo que se estabelece nesta área se insere na rede pública estrutural da cidade.”16 O projeto da Gleba A em Heliópolis demonstra um racionalismo na forma de construção de habitação, com qualidade urbana e arquitetonica. Ele se integra ao território sem se tornar uma mímese do existente, e sim sendo propositivo na construção desta urbanidade. Inclusive, quando observamos os dados de densidade demográfica, a verticalização proposta pelo projeto alcança os mesmos valores de densidade que o território da cidade informal, no entanto requalificando essa densidade, sem precariedades e riscos.


escala 1:2000

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hipótese 04 • gleba A

LOCAL: Helioópolis, São Paulo, SP, Brasil COORDENADAS: 23o36’14.2’’ S, 46o35’53.6’’ W ANO: 2004 ARQUITETURA: Hector Vigliecca USO ORIGINAL: Habitação social em área de precariedade AGENTE ORGANIZADOR: Prefeitura de São Paulo AGENTE FINANCIADOR: COHAB TIPO DE AGRUPAMENTO: edifício inserido em urbanidade existente 100


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unidade área total (m2) área seca (m ) 2

área molhada (m2) número de habitantes

50,75 38,75 12 4

pavimento área apartamentos (m2) área circulação horizontal (m2) área circulação vertical (m2) área uso comum (m2) número de unidades área total (m2)

710,5 23,8 58,45 0 14 792,75

edifício pavimentos pavimentos residenciais

levantamento de dados

total de unidades pavimentos uso comercial pavimentos com garagem pavimentos área comum área total residencial (m2) área total circulação horizontal (m2) área total circulação vertical (m2) área total uso condominial(m2) área total uso comercial (m2) área total construída (m2) total moradores

4 3 49 0 0 1 2486,75 95,2 233,8 406 0 3171 196

projeto total de edifícios população total área total construída (m2) área terreno (m2) ca taxa de ocupação densidade populacional do projeto (hab/ha) densidade populacional do entorno (hab/ha)

1 196 3171 1843 1,72 0,43 1063 1000


Para fins de cálculo, dado a variação de gabarito e metragem da unidade, foi considerado apenas o edifício lâmina e um entorno imediato composto pela ampliação do passeio de pedestres em frente ao córrego, sinalizado pela linha pontilhada. Considerado assim, o edifício responde à algumas questões presentes no projeto, no entanto deixa de responder à outras, como por exemplo a presença de comércio no térreo dos edifícios de esquina. Dado interessante é que o projeto reproduz a densidade de seu entorno, no caso a favela de Heliópolis, um dos territórios mais densos de São Paulo. No entanto sua densidade populacional é fruto de um projeto que garante questões essenciais de habitabilidade, e acaba com diversas questões de precariedade. Mesmo sem verticalidade, o edifício cumpre com bons dados de ocupação e adensamento, em relação à demanda habitacional. Considerando que mesmo não identicos, o restante das tipologias que conformam o projeto apresentam valores semelhantes ao da tipologia selecionada como exemplo. 103


17. Citação do memorial descritivo do projeto retirado do livro Vigliecca & Associados. O terceiro território. são paulo, 2014. p. 145

projeto • concepção arquitetônica

Como os próprios arquitetos apresentam em seu memorial de projeto:

“A metodologia que utilizamos para obter as diretrizes de arquitetura é a de definir uma hipótese de cidade para uma área especifica que não se baseia na imposição de um modelo pré-estabelecido e sim na geração de modelo próprio gerado sobre a observação e cultura que o próprio local nos ensina.”17 A área de implantação do projeto é resultado da desapropriação de uma faixa em frente ao córrego, ocupada pela população, e que conferia diversos riscos e precariedades. O projeto também contou com a canalização do córrego e a criação de uma faixa viária. O restante da quadra permaneceu com os edifícios existentes, que são resultado da autoconstrução. O projeto transita entre uma racionalidade de implantação necessária frente a uma demanda habitacional - e também uma adequação ao contexto. Estratégias como o não parcelamento dos lotes, e sim a criação de um conjunto continuo e fluido, permite uma conexão mais direta com os diversos “lotes”criados pela ocupação da cidade informal. Tal projeto exemplifica uma ideia de que a habitação constrói urbanidade e que a demanda da moradia ultrapassa os valores quantitativos. O programa habitacional corresponde a 80% da área urbana, e portanto implanta-la de forma agregada à cidade, e não apartada dela, é essencial para a conformação dos espaços, seja no caso da cidade formal ou informal. Os desenhos realizados tratam apenas da QUADRA 1 de um projeto que se estende por uma grande área a frente de um córrego da Favela de Heliópolis - uma das maiores de São Paulo, com mais de 100 mil habitantes.


sem escala

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projeto • concepção arquitetônica

A criação de um espaço público e livre no meio de quadra - que seria comum tanto aos moradores do novo conjunto quanto ao restante das construções da quadra - também integra as soluções de projeto que visam a integração entre a pré-existência e o projeto. Essas praças são conformadas pelo edifício laminar, e o recuo entre cada um dos blocos residenciais do meio de quadra e criam um espaço livre, com uma escala semipública, com alguns mobiliários e equipamentos sem nenhuma intenção de uso propriamente colocada, mas que sobretudo se apresentam como a junção e a transição dessas dois tipos de espaços construídos, sem que eles se tornassem distintos, e sim contínuos. Infelizmente o limite do conjunto foi fechado com um gradil, e as praças limitadas ao acesso dos moradores do projeto apenas, reafirmando uma distinção que dificulta que a própria comunidade entenda seu território como urbano, e sim como uma junção de espaços diferenciados. As modificações nos projetos ocorrem muitas vezes “a mercê” das decisões dos arquitetos, estanto muitas vezes ligadas à decisões por parte do Estado ou das construtoras contratadas. As modificações, por sua vez, são parte do desenvolvimento de um projeto, demonstrando um “embate entre formulação, proposta e viabilização” dos mesmos (RUBANO, 2014). 106


sem escala

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descrição • qual urbanidade?

18. VIGLIECCA & ASSOCIADOS. O terceiro território. São Paulo, 2014.

O projeto de Vigliecca aparece principalmente em oposição a uma tradição de produção de habitação social no Brasil de desvinculação para com a pre-existencia espacial e cultural, gerando conjuntos que eram meros carimbos de um “padrão” de habitação social que foi reconhecido pelos governos. Pra além de uma discussão com uma pré-existência da cidade formal, surge nesse caso a intervenção no território que busca dialogar com a cidade informal, que traz consigo diversas particularidades urbanas, diversas fragilidades e áreas de risco. A proposta de Vigliecca é, como denominado em seu livro18 a instauração de urbanidade em áreas críticas. A proposta para a Gleba A está inserida num plano urbano, que conta com projeto de novas vias, requalificam a relação com o córrego, e das quadras a partir de espaços semi-públicos e da proposição de uma morfologia que se relaciona com a já existente, no que é relativo às edificações conformando os logradouros. O projeto usa de quatro diferentes tipologias de unidades para a implantação dos edifícios entendendo cada um dos contextos presentes na área de intervenção, e associando-os à novas vias. O máximo possível foi feita a manutenção das construções existentes.


volumes edificados: edifícios habitacionais

áreas não edificadas e criação de praças semi-públicas

vias criadas pelo projeto de urbanização

córrego existente

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descrição • edifício, unidade espacial

Todos os edifícios do projeto da Gleba A tem uma grande adaptação com o território, ao mesmo tempo que dispõe de uma grande racionalidade projetual. Na quadra em questão cada uma das 3 tipologias conta com uma unidade tipo – com excessão do edifício laminar que possui uma tipologia no térreo diferente dos andares superiores. Todas as tipologias contém um mesmo principio, mesmo contendo diferenças: se organizam sempre espelhadas entre si - de forma a aproveitarem os acessos da circulação - ocupam toda a seção do edifício, permitindo a ventilação cruzada e usam dos mesmo módulos de vedação e de aberturas. Por mais que haja uma variação da organização do programa da unidade habitacional todas contem dois quartos, uma área de estar social, um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço (estes sempre unidos, criando um núcleo de áreas molhadas). A caixilharia presente no projeto da Gleba A é algo raro em projetos de habitação social e que conferem grande qualidade ao projeto: a abertura de janela piso-teto. Vigliecca também usa do cobogó para permitir a ventilação das áreas molhadas, criando um ritmo de fachada. O edifício laminar, com gabarito mais baixo possui um térreo que alterna entre pórticos sustentados por pilotis que dão acesso ao meio de quadra e à circulação vertical e unidades habitacionais que são uma adaptação da tipologia que ocupa o restante da lâmina. Os três pavimentos residenciais que ocupam o restante do edifício contém 42 unidades idênticas: 14 unidades por pavimento. As circulações verticais são unicamente escadas e estão localizadas na fachada que se volta para o meio da quadra. Os edifícios do meio da quadra por sua vez, possuem um aspecto formal de bloco, contendo, por pavimento, apenas duas unidades espelhadas. São um total de 4 torres ligadas a 4 das 7 circulações verticais do edifício lâmina, e que se alternam exatamente com os pórticos sob pilotis que dão acesso às praças do meio de quadra. É implantado aproximadamente 1 metro acima do edifício laminar, e portanto esse acesso de circulação se da pelo patamar das escadas. Possui uso residencial em todos os pavimentos: térreo + 4 pavimento, de modo que os três edifícios da mesma tipologia juntos resultam em um total de 30 unidades (10 por edifício, 2 unidades por pavimentos).


Por fim, a tipologia das esquinas que possui mesmo gabarito dos blocos do meio de quadra, porém possuem outros usos no térreo. São inclusive esses outros usos que diferenciam o projeto do programa comum utilizado nas habitações sociais dentro das ações mais recentes da CDHU, que comumente restringiam o uso residencial aos projetos de habitação social em ZEIS.19 A implantação de uso misto também demonstra um caráter de criação de urbanidade para o território e não apenas de demanda quantitativa de habitação. Existem 6 salas de comércio e 2 salas de medicação, que também cumprem grande função social. Os quatro pavimentos superiores são ocupados por uso residencial totalizando 20 unidades, e a circulação vertical se dá por um edifício anexo que contem os blocos de escada e a circulação horizontal. Existem dois destes edifícios anexos na QUADRA 1, um em cada esquina.

19. Zona Especial de Interesse Social. As ZEIS são divididas em 5 tipos. No caso, a área de implantação se configura como ZEIS 1: “ são áreas caracterizadas pela presença de favelas, loteamentos irregulares e empreendimentos habitacionais de interesse social, e assentamentos habitacionais populares, habitados predominantemente por população de baixa renda, onde haja interesse público em manter a população moradora e promover a regularização fundiária e urbanística, recuperação ambiental e produção de Habitação de Interesse Social” como consta no Plano Diretor Estratégico de São Paulo aprovado em 2014.

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descrição • da porta para dentro

A unidade tipo apresentada é referente ao edifício lâmina. Contem, dois quartos, uma sala de estar social, e um núcleo hidráulico, o qual possui um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço. A ventilação do banheiro e da cozinha são voltadas para a área de serviço, em que a vedação externa é feita por uma parede de cobogós. Os quartos ocupam uma sessão transversal e possuem aberturas cada um para uma das fachadas da unidade. A circulação vertical e o hall são introduzidos dentro do volume formado pelo espelhamento de duas unidades. O layout proposto pelo projeto sugere 4 moradores por unidade e aproveita da criação de nichos para a colocação de eletrodomésticos e armários.


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diagramas • circulação

Conjugado a cada dupla de apartamentos da lâmina existe um núcleo que escadas. Sendo um total de 14 apartamentos por pavimento, organizados dois a dois, tem-se sete desses módulos. A volumetria da unidade se integra também a este volume da circulação. Quatro dos conjuntos de escadas também estão integrados aos blocos do meio de quadra e conferem acesso a eles. De forma que esses núcleos de circulação dão acesso a um total de 4 unidades. A diferença da cota de implantação entre a lâmina e os blocos do meio de quadra permitem esse acesso atraves do patamar das escadas. As unidades dos blocos do meio de quadra também se organizam duas a duasm de forma espelhada e simétrica e utilizam da extensão do patamar das escadas para o acesso à circulação, tendo sua volumetria independente.


sem escala

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diagramas • circulação

O território de uma favela é marcado por sua alta densidade populacional e construtiva, em que as vias e caminhos são determinados pelas construções: os edifícios acabam conformando as quadras. Cidades tradicionais e históricas geram morfologias semelhantes, refletindo uma forma de ocupação natural. Não com intensão mimética ao tecido de Heliópolis, e sim confirmando a tradição tanto histórica quanto de de seu lugar de implantação - do espaço construído conformar o espaço público e livre, o projeto da Gleba A organiza os edifícios residenciais e seus edifícios anexos a partir disso. Na quadra discutida, o edifício laminar ocupa a faixa mais extensa da quadra e desenha o limite o projeto, deixando uma área de espaço público a sua frente. Conformando as esquinas existem mais três edifícios verticais (de uma mesma tipologia) e suas torres de circulação vertical e horizontal. Esses edifícios anexos de circulação integram as volumetria construída, adaptado-se ao contexto, além de garantir o acesso aos edifícios de esquina. Pela diferença de gabarito entre os edifícios do meio da quadra e a lâmina, a volumetria também torna-se marcada pela continuidade da circulação. 118


sem escala

119



conclusões

formas genéricas, formas específicas comparações possíveis


formas genéricas, formas específicas

Cada um dos projetos analisados se configuram também como “formas genéricas” de uma certa hipótese arquitetônica, essa ideia regeu toda a construção da análise do trabalho. Nenhum dos projetos é inaugural de uma certa tipologia ou de uma tendência urbanística, e sim são referencias de seu próprio tempo. Ao mesmo tempo, tornaram-se exemplares na própria história da arquitetura reforçando a própria hipótese em que se embasaram. Primeiramente a torre vertical, que permite o adensamento populacional, e a inserção de seus moradores na cidade moderna que se constituía nos anos 1930 em São Paulo, contendo em si múltiplos usos. O edifício Anchieta, por sua vez, realiza em si tal tese, entendendo o habitar a partir de diversas frentes, do lazer - representado pela cobertura com salão de festas – ao morar, passando também pelo uso comercial no térreo. Expressa tanto a estética de seu tempo, como o ideário criado tanto política como socialmente pelo movimento moderno. Em seguida o conjunto também modernista de Osasco, racionalizado e funcionalista, que associa, desde à unidade até ao urbanismo, a organização cartesiana à otimização dos espaços e da vida, em que, a democratização da habitação através da indústria e os elementos próprios da modernidade levariam à emancipação. No CECAP, a organização em módulos que conformam a lâmina, seu espelhamento e articulação em relação à circulação, estabelecendo um edifício “tipo”, é apartada de um contexto específico, criando uma unidade passível, exatamente, de ser implantada a partir das premissas modernistas para o desenho urbano. Associada à lógica de implantação geral, havia sim um entendimento de que a moradia estava também associada ao lazer, ao comércio, à saúde e educação, mas novamente, de acordo com uma ideia morar do habitar organizadas funcionalmente no espaço. Projetar o habitar não se trata unicamente do resultado, mas também do processo. Na cooperativa, o processo participativo, o mutirão e o desenvolvimento de um território pela própria população que o ocupará é também fundamento para uma hipótese arquitetônica. Como forma urbana, o COPROMO também se configura como um território segregado de seu entorno, reproduzindo a “forma conjunto” monofuncional. No entanto, a hipótese que constitui é a de uma experiência na própria forma de conceber e construir um projeto habitacional, sendo, dentre os projetos apresentados, exemplar do projeto participativo - desde o desenho da unidade até a produção da construção. Adiante a isso, mesmo como conjunto habitacional, o COPROMO de 1991, insere algumas questões de escala de vizinhança e uma hierarquia de espaços que caracterizam algumas condições de revisão em relação ao funcionalismo modernista - do exemplar anterior.


A quadra como “unidade urbana de referência”20 estrutura a situação urbana entre o construído e o espaço público livre, lidando com a pré-existência e sendo propositiva como modo de ocupação, em uma escala de cidade reconhecida por seus moradores. Para além desse esforço em incluir um projeto em uma urbanidade pré-existente, ajudando a estrutura-la, o projeto de urbanização de Heliópolis, de 2004, e mais precisamente, da QUADRA 01 da Gleba A, introduz tais ideias urbanas e de arquitetura em um território informal, que por décadas foi ignorado na sua legitimidade. A diversidade de usos, a relação com a rua e a proposição de escalas entre o público, o semi-público e o privado compromete-se com a ideia de integrar o território, mas ao mesmo tempo ser ativo na proposição para com uma ideia de cidade.

Acima, volumetrias simplificadas de tipologias - a torre, a lâmina, o bloco e o edifício perimetral - que representam as “formas genéricas” de ocupação de uma área a partir de um tipo de edifício. Abaixo as quatro formas específicas tratadas no presente trabalho: o edifício Anchieta, uma lâmina dupla do Conjunto Zezinho Magalhães, uma unidade espacial com quatro edifícios do COPROMO, e o conjunto de edfiícios da Quadra 1 da Gleba A de Heliópolis. 20. PANERAI et alii, 1986, apud RUBANO, 2014, p.8

Cada um dos projetos responde à uma mesma demanda habitacional - generalizando, pois cada um dos contextos também explicitou uma demanda específica - e aplica um mesmo programa, porém demonstram estratégias do habitar muito diferentes. Cada concepção acontece primeiro em um nível teórico, hipotético e genérico e se materializa em um projeto, a partir do desenho, das soluções técnicas, construtivas, espaciais e subjetivas. Em um sentido cíclico, elas partem de uma certa ideia de hipótese mas acabam por reforçar esta mesma ideia, ao se tornarem em si suas teses.

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comparações possíveis

21. MARX, Karl. O capital: Crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, v. I, p. 70, 1985. apud PETRELLA, 2011, p.114

O tema da habitação social lança mão de outras áreas do conhecimento por se inserir em um processo social e da política pública que extrapola a arquitetura (PETRELLA, 2011). Ao mesmo tempo, expõe os compromissos dos arquitetos na construção do território para além da instância privada – que conta normalmente com mais recursos e mais liberdades criativas. Os quatro exemplos foram selecionados por contradizerem uma idéia de que a habitação social corresponde a um modelo, que replicado, irá suprir a demanda relativa à moradia. Tal solução foi, por muitas décadas adotada, criando territórios de exceção, guetos urbanos e afastando parte da população – a mais pobre – das redes de troca da cidade, dos acessos à heterogeneidade de usos, de equipamentos e do transporte. A redução da habitação social a um mero modelo serve ao lucro das construtoras, e não aos seus moradores ou à cidade como um todo. Cada um dos estudos de caso sugere uma possível estratégia, de urbanidade e arquitetura, desenvolvida a partir do desenho e do projeto, e que resulta de fato em espaços para habitar. É necessário, no entanto, relativizar os projetos como produtos de seu contexto histórico, e como resultado de uma vontade política.

“(...) se cada uma dessas experiências for tomada isoladamente, isto é, autonomizadas do processo histórico que, de algum modo, une as mesmas, não poderemos conceber uma relação dialética entre elas (...). Eis que surge o problema do fetiche21: ao se descolarem (pelo pensamento) de suas relações históricas e apresentarem-se como formas ontológicas e puras, as relações sociais que produzem a coisa são nela subsumidas, parecendo serem propriedades naturais da própria coisa, como se a coisa existisse por si, sem o processo social o qual, efetivamente, produz-na e reproduz-na, e, assim, a coisa parece tomar o lugar das relações sociais, anulando a relação entre o sujeito e o objeto.” (PETRELLA, 2011, p.114).


120 m2

52 m2

54 m2

50,75 m2

125 0

1

5


As comparações possíveis entre os projetos estão, portanto, amparadas nas relações sociais que “produziram” as formas específicas aqui exemplificadas. Toda crítica, correspondente às “maneiras de habitar” de cada um deles, precisa levar em conta as bases sociais e históricas em que as hipóteses estão embasadas. O projeto do Conjunto Zezinho Magalhães, por exemplo, não é apenas parte de uma vontade política de reprodutibilidade em massa, como são, por exemplo, os conjuntos do BNH, do mesmo período ou os do Programa Minha Casa, Minha Vida, mais recentes – em que o projeto arquitetônico é destituído de importância. Neste exemplar da arquitetura modernista consta um entendimento, da época, de como poderia dar-se a democratização dos espaços de moradia, e como a indústria e a construção a partir da pré-fabricação poderiam cooperar para tanto. A crítica aos resultados desta hipótese são realizadas a partir de outro contexto histórico, em que outras “verdades” estão sugeridas. Cada um dos exemplares de projetos de habitação coletiva tratados no trabalho são resultado do pensamento arquitetônico. Podemos até questionar sua forma, mas em cada um deles existe uma intenção urbana e arquitetônica ali discutida:

“A boa arquitetura tem caráter emancipatório e papel fundamental na promoção da qualidade de vida e desenvolvimento humano.” (FERREIRA, 2012, p.30) E de forma concomitante e recíproca, a boa arquitetura tem também compromisso no desenvolvimento da cidade, que por sua vez é a realidade de mais de 80% da população brasileira22, onde se trabalha, se mora, onde se usufrui do lazer e das redes de troca em geral. Estudar tais projetos foi uma forma de entender quais “vontades” estão em jogo na produção do território e na criação de acesso à moradia para parte da população. Também, estudar boa arquitetura, boas soluções espaciais, nos torna capaz, a partir da distância contextual, de ponderar possíveis decisões de projeto. A partir disso, é possível olhar com mais clareza nosso tempo histórico e nosso território a ser transformado, questionando quais as demandas – em relação ao habitar – que estamos lidando. Por outro lado, não no entendimento da construção social, política e arquitetônica de cada um dos exemplos, mas no estabelecimento de uma base de dados para comparação de projetos

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de habitação coletiva, houve um esforço em determinar métodos e parâmetros comuns a todos os projetos, tanto no levantamento de dados quanto nas escalas de apresentação de cada um dos desenhos. No entanto, para a criação de uma base comparativa sistemática, existe a necessidade de equivaler os dados de algum modo, e precisar categorias de desenho, escala e apresentação mais regulares. Este esforço mirou-se no exemplo dos Cadernos de Habitação Coletiva. Tal publicação é iniciativa do grupo de pesquisa da FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) que “visa a sistematização de informações sobre as habitações coletivas, que ficarão disponíveis para pesquisadores, órgãos públicos, profissionais e interessados” 23. Faz parte de uma cooperação com a ETSAM-UPM (Escuela Tecnica Superior de Arquitectura de Madrid) que realiza levantamento semelhante a respeito das habitações coletivas Espanholas. O projeto conta com uma sistematização de escalas, categorias de desenhos, além de um extenso e dedicado levantamento de dados, possibilitando um entendimento técnico de cada um dos edifícios analisados. A escolha de realizar mais de um estudo de caso neste trabalho esteve amparada na intenção de estabelecer um método de leitura de projeto e um levantamento, que eventualmente poderia ser levado adiante, com análises de outras propostas de habitação coletiva ou social. No entanto, exatamente pela existência de um projeto como os Cadernos de Habitação coletiva para tanto, e como decisão pessoal de pesquisa, abdicou-se de certas sistematizações para dar lugar a uma pesquisa de representação a partir do redesenho e das sínteses descritivas dos projetos. A pesquisa de representação desenvolvida permitiu a investigação dos próprios processos que a disciplina utiliza para a elaboração de projetos e possibilitou entender a lógica de que se valeu cada um dos estudos de caso analisados no que diz respeito à sua concepção.

22. Dado retirado do Censo Demográfico do IBGE 2010 23. Descrição dos objetivos do projeto segundo a página online do grupo, que consta no endereço: https://chc.fau.usp.br/sobre O grupo é organizado pelos docentes Leandro Medrano e Luiz Recamán da FAUUSP.

Analisar os modos de habitar, por sua vez, compreende direções de estudos para além das antecipações de necessidades materializadas pelos arquitetos. Se aproximar de como as pessoas ocupam de fato os espaços e entender sua apropriação é um campo paralelo, mas que converge à análise de projeto. Se de fato a arquitetura propõe conscientemente espaços habitáveis - da unidade habitacional à cidade - tais soluções são reconhecidas e utilizadas pelas pessoas? As ideias se afastam ou se aproximam da vida cotidiana delas? Articular o desenho e o projeto à ocupação e experiência nos espaços é um compromisso da arquitetura e sua forma de desenvolvimento. 127


IMAGEM 01. Tuca Vieira (fotografia cedida pelo autor) IMAGEM 02. Extraído de: https://bracketsmackdown.com/elements-of-

design-pdf.html IMAGEM 03. Reprodução da obra Rio de Janeiro, de autoria de Antonio Poteiro, sem data IMAGEM 04. O jardin de Nebamun, 1400 a.C. Estuque em uma tumba de Tebas, 64 x 74,2 cm; Museu Britânico, Londres. IMAGEM 05. NEUFERT, Ernst. A Arte de projetar em arquitetura. São Paulo, Editora Gustavo Gili; Edição: 18ª, 2013. IMAGEM 06. Increasing disorder in a dining table, Sarah Wigglesworth, extraído de http://www.deconcrete.org/2010/02/17/dining-disorders/ IMAGEM 07. Biblioteca do Convento Capuchin, Mario Botta. Captado de: http://archiveofaffinities.tumblr.com/post/54952353723/mario-botta-

library-of-the-capuchin-convent IMAGEM 08. Sadat Rest House, Garf Hoseyn, Egito, Hassan Fathy. IMAGEM 09. Alex Wall, Office for Metropolitan Architecture (OMA), “The Pleasure of Architecture,” 1983. Poster baseado na competição para o Parc de la Villette, Paris, 1982–83. Impressão, 30 11/16 x 20 3/16 IMAGEM 10. Leonardo Finotti (fotografia cedida pelo autor)

lista de figuras

IMAGEM 11. Leonardo Finotti (fotografia cedida pelo autor) IMAGEM 12. Leonardo Finotti (fotografia cedida pelo autor) IMAGEM 13. Arquivo FAUUSP, Arquigrafia, sem data, sem autor IMAGEM 14. Arquivo FAUUSP, Arquigrafia, sem data, sem autor IMAGEM 15. Arquivo FAUUSP, Arquigrafia, sem data, sem autor IMAGEM 16. Arquivo Usina CTAH IMAGEM 17. Arquivo Usina CTAH IMAGEM 18. Arquivo Usina CTAH IMAGEM 19. Arquivo Hector Vigliecca & Associados IMAGEM 20. Arquivo Hector Vigliecca & Associados IMAGEM 21. Arquivo Hector Vigliecca & Associados IMAGEM 22. Arquivo Hector Vigliecca & Associados


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tipografia papel impressão encadernação

Big Caslon, Caslon 540, Theinhardt pólen bold 90gm Inprima encadernadora duarte 131



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