Cosmococas em revisão relatório final clara de castro e carvalho

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Cosmococas em revisão: um olhar sobre estudos recentes

Relatório de Pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/CNPq Discente: Clara de Castro e Carvalho Orientador: Prof. Dr. David Moreno Sperling

São Carlos Fevereiro 2014

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1) INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ...........................................................................3

2) OBJETIVOS ............................................................................................................ 4 2.1 : Objetivos gerais......................................................................................................4 2.2 : Objetivos específicos..............................................................................................4 3)RESULTADOS .................………………………………………………………………...4 3.1 : Contextualização das obras de Hélio Oiticica………………………………………..4 3.1.1 : Neoconcretismo……………………………………………………………………….6 3.1.2 : A trajetória de Hélio Oiticica……………………………………………………….…7 3.2 : As Cosmococas……………………………………………………………………….…7 3.2.1 : Diagramas ………………………………………………….........…………………...12 3.2.2 : Visita ao Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim.........................................13 3.2.3 : CC1 Trashiscapes................................................................................................16 3.2.4 : CC2 Onobject……………………………………………………………………….…20 3.2.5 : CC3 Maileryn…………………………………………………………………………..22 3.2.6 : CC4 Nocagions…………………………………………………………………….….25 3.2.7 : CC5 Hendrix-War………………………………………………………………….…..28

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................31

6) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ..............................................................................32

7) BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................41

LISTA DE TABELAS E DIAGRAMAS Tabela 1: Cronograma do Plano de Pesquisa ...............................................................32 Diagrama1: ....................................................................................................................12 Diagrama2:.....................................................................................................................13

1. Introdução e Justificativa

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Hélio Oiticica (1937-1980), artista considerado pela crítica como um dos expoentes da neovanguarda brasileira, teve uma trajetória que se iniciou no neoconcretismo e se desenvolveu em direção a práticas experimentais vinculadas ao cinema. Grosso modo, suas obras consistiram em grande parte em envolver o então observador, pela participação, na criação de sua obra, dando a ele a oportunidade de experimentar e sentir, tornando-se parte integrante de suas proposições.

Em 1968, após uma sessão de cinema promovida pelo cineasta Neville de Almeida, Hélio teve a oportunidade de conhecê-lo e, após longas conversas, se ativeram ao fato de que ambos queriam realizar experiências de não-narração e de não-discurso. Contrariando a expectativa do fazer cinema, normalmente atrelado ao ato de encadear cenas para contar uma história, eles denominaram essa idéia de “quasi-cinema”. Dentre outras questões, a intenção era investigar a relação do público com a “imagem-espetáculo”. Da parceria entre Hélio e Neville, nasceram as “Cosmococas - programa in progress”, nove blocos experimentais que aglutinam elementos de diversas procedências, com apelos sensoriais diversos que acontecem com a presença das pessoas participando e se deixando invadir pela experiência. Hélio não chegou a montar estes espaços quando vivo, deixando apenas roteiros para futuras montagens. Cada bloco tem uma ficha de especificações técnicas relativas à trilha sonora, projeção de slides e instruções para montagem; cada apresentação tem a duração aproximada de vinte minutos, podendo ser instalada em diversos tipos de ambientes.

A importância das Cosmococas tem sido avaliada recentemente, não só como a face mais avançada da “proposição ambiental” de Hélio Oiticica, mas a partir de alguns dos desenvolvimentos subseqüentes na arte contemporânea. Cinco Cosmococas fazem parte do acervo permanente do Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim, onde estão expostas em pavilhão projetado especialmente para recebê-las. TRASHISCAPE, que foi o primeiro bloco inventado em 13 de março de 1973, onde o público se acomoda em colchões e travesseiros e é convidado a lixar as unhas, ao som de forró e com as projeções nas paredes de imagens diversas: espelho redondo, canudos de dólar, facas, navalhas, cinzeiros cheios, lata de filme, capas de revistas e de álbuns, entre outras; ONOBJECT é montado com uma espuma grossa no chão com formas geométricas de diversas cores espalhadas, convidando os observadores a

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dançar ao som de musicas retiradas do álbum “Fly” de Yoko Ono; MAILERYN, possui areia e bexigas coloridas espalhadas no chão, convidando o observador a deitar, rolar e brincar com as bexigas; nas paredes são projetadas fotos de Marilyn Monroe; NOCAGIONS cria uma situação com uma piscina no centro e imagens da capa do livro Notations de John Cage nas paredes; HENDRIX-WAR é composta por projeções de fotos da capa do disco War Heroes, de Jimi Hendrix, em uma sala cheia de redes, ao som de músicas do próprio Jimi Hendrix. Outros três blocos cosmococas COKE’S HEAD SOUP, MR. D or D OF DADO e COCAOCULTA RENÔ GONE são apresentados e reapresentados em vários locais do mundo, atestando a outra face do interesse crítico e da valoração desta obras pelo sistema da arte. O último bloco nunca avançou para além de um esboço.

Interessa, por meio desta pesquisa, levantar e analisar material primário a respeito das Cosmococas Trashiscapes, Onobject, Maileryn, Nocagions e Hendrix-War, fazendo entrevistas com os observadores participantes e criando registros fotográficos, além de realizar um levantamento e estudo de textos de Hélio Oiticica e de textos recentes sobre as nove Cosmococas, levando em conta a sua importância para a arte contemporânea.

2. Objetivos

2.1Objetivos Gerais

Estudar aspectos da trajetória de Hélio Oiticica e da reavaliação crítica de suas obras Cosmococas no contexto atual. 2.2 Objetivos específicos

Levantamento de material bibliográfico sobre a trajetória de Hélio Oiticica pelo movimento neoconcreto, contextualizando a produção artística de Oiticica ao longo de sua trajetória e os antecedentes teóricos e artísticos que culminaram na criação das Cosmococas.

Levantamento de literatura recente produzida sobre as Cosmococas, com o objetivo de estudar visões críticas produzidas sobre as mesmas obras na atualidade.

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Realização de visitas a Inhotim a fim de estabelecer um contato empírico com as obras de estudo e as formas de relação do público com elas, podendo assim mapear o comportamento participativo que essas obras oferecem e como o publico atual interage com essas obras que foram criadas na década de 70.

A partir do levantamento bibliográfico e experiência empírica da obra, será desenvolvido um relato detalhado sobre as cinco Cosmococas expostas no Centro de Arte Inhotim: CC1 Trashiscapes, CC2 Onobject, CC3 Maileryn, CC4 Nocagions e CC5 Hendrix-War, a fim de colocar contrapontos entre os autores que escreveram sobre essas obras, o que o próprio Hélio Oiticica escreveu sobre suas obras e o que se vê e vivencia no museu. 3) RESULTADOS

3.1 Contextualizacao das obras de Hélio Oiticica

O presente trabalho tem como objetivo estudar a fundo as obras de Hélio Oiticica chamadas Cosmococas, e sua importância para a arte contemporânea. Para isso foi preciso fazer um mapeamento da literatura buscando a contextualização na qual se insere a criação dessas obras, afim de melhor entendê-las. A primeira etapa da pesquisa teve como foco principal os estudos ambientais e entendimento da trajetória do artista, ou seja, o caminho e o contexto que levaram Hélio Oiticica à criação dessas obras de quasi-cinema. 3.1.1 O Neoconcretismo

A arte abstrata no Brasil teve suas primeiras manifestações na década de 1950, quando o país passou por um período de agitação social, econômica e cultural provocadas pela euforia desenvolvimentista. A adesão à arte abstrata, no Brasil, relaciona-se aos anseios de modernização e de construção de uma sociedade urbana e industrial. Essa proposta abstrata construtiva foi assimilada no Brasil por dois principais movimentos: o concretismo e depois o neoconcretismo.

Foi em 1959 que o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar escreveu o manifesto neoconcreto, um marco importante para a produção artística nacional, pois marca o momento de ruptura com o concretismo. Nesse texto ficaram assinaladas as diferenças e as posições tomadas pelo grupo

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de concretos cariocas em relação ao grupo de concretos paulistas. O manifesto neoconcreto expressa a leitura feita por Gullar do conjunto de obras, produzidas nos dois anos anteriores pelo grupo carioca concreto, e exibidas pela primeira vez em uma grande exposição realizada no mesmo ano. Ao analisar essa produção, Gullar registra que chegou à inevitável conclusão de que havia uma grande diferença entre o que se entendia por arte concreta e o que vinha sendo produzido pelo grupo carioca. Por este motivo ele acreditava que não fazia mais sentido continuar usando a mesma denominação para aquelas novas obras. No entanto, era inegável a raiz concreta dos artistas cariocas. Como solução para o impasse, Gullar forjou a palavra “neoconcretos” para denominar os integrantes e a produção do grupo de artistas do Rio de Janeiro, liderado por Ivan Serpa e tendo como integrantes Ligia Pape, Lygia Clark, Aluisio Carvão, Abraham Palatnik, Franz Weissmann, Hélio Oiticica e outros.

A partir do momento em que os integrantes do grupo carioca assinaram esse manifesto viramse livres para realizar seus trabalhos longe do rigor da arte concreta. O neoconcretismo foi um retorno ao humanismo frente ao cientificismo concreto da época e “representou o vértice da consciência construtiva no Brasil e sua explosão” (BRITO, Ronaldo; 1985, p.21) “O

tempo

neoconcreto

é

fenomenológico,

é

a

recuperação do

vivido,

a

repotencialização do vivido. Nesse sentido ele foi um precursor das tendências dominantes nos anos 60 que representaram um esforço para abolir a distância entre arte e vida.” (BRITO, Ronaldo; 1985, p.25)

O neoconcretismo tinha a ideia de tempo como duração. Estava associado à proposta de ativar o relacionamento do sujeito como trabalho artístico e permitir múltiplas possibilidades de leitura, “abertas” no tempo e no espaço experimentado pela obra. “Permitir a intervenção do espectador quase no sentido de completar os trabalhos, recriá-los, lê-los a cada vez de maneira diversa, viver os instantes de sua produção. Foi o início, sem dúvida, de um processo que levaria alguns artistas neoconcretos a radicalizar a participação dos outros em direção ao que Oiticica chamou de ‘vivências” (BRITO, Ronaldo; 1985, p. 69). “A fenomenologia que impregna o trabalho de H.O. desde a criação dos Bólides e Parangolés se funda e reverbera na participação do espectador, não só como fator

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lúdico, mas como uma base científica para o estudo da percepção da obra, suas transformações e descobertas. A obra se concretiza com o publico e se torna a verificação de um fenômeno, busca incessante do trabalho de H.O. “ (FILHO, Cesar Oiticica, 1986,p.229)

O artista Hélio Oiticica, vinculado ao movimento neoconcretista, levou as últimas consequências a proposta construtiva, chegando ao ponto de também romper com ela.

3.1.2 A trajetória de Hélio Oiticica

A iniciação de Oiticica ao universo artístico deu-se ainda em sua adolescência. O rico ambiente cultural carioca que ele frequentou exerceu uma importante influência em sua formação. Seus trabalhos iniciais (metaesquemas) concentraram-se no ‘estudo das possibilidades do plano e da cor e foram executados em guache sobre papel, cartão ou óleo sobre madeira. Nestes trabalhos é possível identificar a influência de artistas como Mondrian, Malevich e Klee.

A partir de 1960 ele teoriza e conceitua sua própria obra: se, durante o período neoconcreto, suas obras por ele mesmo nomeadas como ‘bilaterais’ e ‘relevos espaciais’ situavam-se dentro da conceituação ou teoria ‘não-objeto’ de Ferreira Gullar, a produção seguinte inaugura ‘ordens de manifestações ambientais’, com a criação de núcleos e penetráveis, acompanhados de textos específicos escritos pelo próprio Oiticica.

Em 1961 Hélio escreveu no seu diário que a era do quadro havia chegado ao fim. Nos 5 anos seguintes, a obra do artista é marcada pela pesquisa de um ‘novo corpo da cor’ criando assim obras como os bilaterais, os relevos espaciais e núcleos, nas quais a cor salta para o espaço em placas de madeira pintada. Essas obras tomam corpo na forma de pigmento em pó nos bólides, em seguida adquire traços arquitetônicos, formando paredes nos ‘penetráveis’, e continua como abrigo em panos coloridos de que são feitas as capas do ‘parangolé’. O artista via o dia a dia como uma obra de arte e incorporou essa visão às suas experimentações artísticas que, ao longo do tempo, sofrem intensidades progressivas do experiencial, ou seja, o envolvimento do público até então observador, na criação de sua obra, dando a ele a oportunidade de participar, experimentar e sentir, tornando-o parte integrante de suas

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proposições. Essa proposta central está presente nas Cosmococas, obras chamadas de quasicinema por se tratarem de um novo conceito de ‘ir ao cinema’ e suas proposições quanto ao tempo, a estrutura, o corpo, o espaço da obra e o comportamento de experimentação participante do público.

Os trabalhos fílmicos produzidos por Hélio Oiticica foram conceituados por ele mesmo como quasi-cinemas, por se diferirem do cinema convencional em relação à sua temporalidade, sua montagem e à posição do espectador que, tornando-se participante, cria um novo olhar sobre a obra. Nas palavras de Celso Favaretto, esses trabalhos (1992, p.211), “exploram os efeitos de montagem dinâmica superpostos à projeção de sequências de slides acompanhadas de trilha sonora” e propõem novos caminhos deslocando-se do padrão da narrativa linear do cinema tradicional, de forma a intervir no suporte da imagem em movimento e criar experiências que romperam com os modelos convencionais, onde não havia espaço para o arejamento de novas ideias. Os quasicinemas produzidos por Hélio Oiticica são: Agripina é Roma-Manhattan (1972), Neyrótika (1973), Cosmococa - programa in progress (1973) e Helena Inventa Ângela Maria (1975). Hélio teve sua história marcada por uma constante inquietação, impulsionada pelos desejos de embaralhar arte e vida e de superar a arte até então vigente do ponto de vista de seu significado e relevância para a vida de quem com ela tivesse contato. O artista teoriza suas obras, com muita pesquisa e lucidez, fazendo com que sua produção artística tenha grande coerência em todas as etapas de sua trajetória artística. “A morte de Oiticica deixou suspensa a questão: depois que a arte deslizou para o além-da-arte, o que poderia sobrevir? Ainda nisso o trajeto de Oiticica é exemplar: como não se pode repetir, cabe a análise, a transformação das experiências em anamnese, perlaboração que relança os fios soltos do experimental.” (FAVARETTO, 1992, p.226)

Ao falecer em 1980, o artista deixou um grande acervo de obras, muito importante para a história da arte brasileira, entre essas obras está a série das nove Cosmococa-programa in progress, que serão aprofundadas no item a seguir.

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3.2 As Cosmococas

Para facilitar a compreensão do seguinte texto, que tem como objetivo contemplar os diferentes pontos de vista apresentados por alguns autores selecionados que recentemente escreveram sobre as Cosmococas, por Hélio Oiticica e pela pesquisadora responsável pelo presente trabalho, foram selecionadas cores para representar esses pontos de vista, criando uma polifonia que faz referência às formas de apropriação gráfica desenvolvidas por Oiticica. Sendo assim podemos considerar:

Hélio Oiticica Beatriz Carneiro Celso Favaretto Ines Araujo Natasha Marzliak Paula Braga Pesquisadora

As Cosmococa - programa in progress, objeto de estudo desse trabalho, consistem em nove BLOCOS-EXPERIMENTOS, ou BLOCO DE EXPERIÊNCIAS – in COSMOCOCA (CC), elaborados entre os anos de 1973 a 1974, por Hélio Oiticica e Neville D’Almeida

Essas obras são compostas por caixas contendo o material necessário para a montagem de cada uma das CC, bem como um “manual de instruções”, que explica detalhadamente como cada uma deve ser montada e apresentada. A idéia de Oiticica era que cada um poderia montar as Cosmococas, a partir dos roteiros disponibilizados.

Cada uma dessas nove obras é composta por uma série de slides que são exibidos acompanhados por uma trilha sonora em um ambiente determinado, compondo assim uma apresentação que tem, em média, vinte minutos de duração.

As obras diferem-se: (1) pelo conjunto de fotos e pôsteres presentes nos slides, sendo que a maior parte das imagens tem como tema o ato (ou brincadeira) de se espalhar carreiras de cocaína nas capas de discos, livros e outras superfícies; (2) pelo ambiente, composto por

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elementos como água, areia, cores, luzes, contentores e superfícies diversas; e (3) pela trilha sonora, composta por sons e músicas diversas. Além da montagem, o “manual de instruções” traz uma proposta de atuação do público.

Segundo Beatriz Carneiro, a primeira vez que surgiu a idéia sobre fazer uma obra de experiência cinematográfica foi em 1968 quando Hélio foi a uma sessão fechada promovida pelo cineasta Neville D’Almeida para a apresentação de sua longa metragem que havia sido censurado.

Após conversar com o cineasta, Hélio Oiticica viu que ambos compartilhavam das mesmas ideias. Acreditavam que o cinema não deveria buscar reproduzir os eventos com veracidade e narração.

Não interessava a representação do tempo pela imagem movimento que reproduziria a passagem sucessiva dos momentos ao mostrar um “antes e depois” de uma linha evolutiva na qual se desenrolava uma narração. Após muita conversa, se ativeram ao que de fato queriam, realizar uma experiência de NÃO-NARRAÇÃO, de NÃO-DISCURSO, contrariando a expectativa de contar uma história, de fazer cinema. (CARNEIRO, 2006) A não-narração , que Oiticica aplica às suas pesquisas de linguagem “audiovisual”, pode ser estendida também aos textos. Essas experiências são caracterizadas como quase-cinema, pois exploram os efeitos de montagem dinâmica superpostos a projeção de uma sequência de slides acompanhada de trilha sonora. Na projeção, produzem-se intervenções livres, assimilam-se interferências acidentais, imprimem-se maior ou menor velocidade na exposição, transformando-se a situação habitual de audiovisual em outra, quase-cinematográfica. Assim como se posiciona contra o texto discursivo, a não-narração rejeita a montagem cinematográfica de efeitos naturalistas, que valorizam, principalmente, a linearidade do dialogo. (FAVARETTO, 1992: 212)

Em 1973 Hélio e Neville reencontraram-se em New York, onde puderam dar inicio às Cosmococas. O nome, que inicialmente foi pensado por Neville para um projeto cinematográfico, a partir da parceria com Hélio transformou-se em obras de quase-cinema. Essas obras não se tratavam de um espetáculo, de uma narrativa e muito menos continham um enredo contado quadro a quadro.

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A projeção de slides, como se fosse uma película quadro a quadro, revelaria este segredo da magia do cinema e o arbitrário da construção da percepção do tempo. (CARNEIRO, 2006)

A série de slides escolhidos para os cinco blocos que produziram em parceria, eram fotos tiradas por Hélio de imagens produzidas por Neville desenhando carreiras de cocaína sobre figuras e fotos. As imagens usadas para a apresentação de slides nas Cosmococas têm o intuito de desconstruir o conceito de imagem soberana, acabada. Hélio Oiticica então, brincava com as imagens escolhidas para os slides, muitas delas carregando grande simbologia, e adicionava carreiras de cocaína, desenhando como se fosse uma máscara por cima delas. Essa brincadeira foi denominada mancoquilagem pelo próprio artista.

A coca que se camufla plagiando o desenho-base não faz critica do conceito mas brinca com o ato de que essa oportunidade de brincar haja surgido(...) (OITICICA,1793,P.193)

Adicionando essa ´máscara-plágio´às imagens teoricamente acabadas e intocáveis, Oiticica deixa claro que as Cosmococas não têm a intenção de fazer um culto à imagem, como o cinema convencional, mas sim explorar o visual, o sensorial, o espacial e o temporal

A cocaína se esconde quando se funde com a imagem selecionada e desaparece quando é aspirada. A apropriação de imagens acabadas seguida da ação de fazer as carreiras de cocaína e cheirá-las depois seria, segundo o ponto de vista do artista, um sorriso irônico para o que se denominava plágio. (MARZLIAK ,2012p.34)

Neville cuidou da trilha sonora das apresentações e juntos pensaram o set de cada bloco, para que o público pudesse apreciar a experiência cinematográfica proporcionada por eles. A obra transformou-se no que Hélio denominava ‘ambiente’ e hoje seria uma ‘instalação’.

Beatriz Carneiro afirma que, ainda hoje o uso de cocaína nessas obras, como material para desenho de linhas brancas sobre capas de discos e livros exibidos em slides, é assunto controverso. Entretanto, para além da discussão das drogas no contexto dos anos 1970, as obras devem ser lidas como parte da pesquisa de Oiticica com a cor e com a expansão do

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campo da arte. A cocaína nos textos do artista esta ligada à cor branca. O branco da coca refere-se ao estado de ‘branco sobre branco’, que Oiticica define a partir da obra de Malevich como um estado de invenção, de liberdade em relação a arte feita em épocas passadas.

A série Cosmococa propõe uma discussão sobre o uso de tóxicos, e atrela a questão à pesquisa de Oiticica sobre o suprassensorial, a capacidade de emergência de estados alterados de consciência a partir da experiência estética. (BRAGA, 2006)

Após a produção desses 5 primeiros blocos, Hélio criou outros quatro, contando com outras parcerias. Esses blocos são descritos a seguir: CC6 COKE HEAD’S SOUP A CC6 COKE HEAD’S SOUP foi feita em parceria com Thomas Valentim, e parodiava o disco Goat’s Head Soup (1973),da banda The Rolling Stones. Este bloco possui 26 slides e marcação de tempo de 12,3 segundos por slide para ter sincronia com a trilha sonora do trabalho Sister Morphine que tem duração de 5 minutos e 34 segundos, sendo assim, a trilha sonora começa e acaba junto com a projeção de slides. A 27º projeção não tem slide, apenas a luz do projetor.

As fotos tiradas para a apresentação de slides são do disco do qual essa Cosmococa leva o nome, mancoquiladas. As imagens são projetadas com uma translucidez, formando um reflexo translúcido, como se fosse uma névoa, por isso o artista nomeou esse jeito de projetar de “cocamist”. Em instruções para o local da performance, Hélio Oiticica determinou os prérequisitos: um quarto com quatro paredes, onde as portas e janelas deveriam ser pintadas da mesma cor das paredes e mantidas fechadas durante o tempo da projeção. Os projetores ficariam dispostos em cima, perto do teto, e inclinados para baixo. As quatro paredes deveriam estar, na medida do possível, totalmente cobertas pelas imagens. O chão deveria ser emborrachado, onde os participantes poderiam sentar e deitar, com os pés descalços. Para montar a trilha sonora, composta por sons de rock – como a música Moonlight Mile, dos Rolling Stones: “i got silence on my radio/ let the air waves flow....” e

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“the sound of strangers/ sending nothing to my mind” – além de ruídos aleatórios, Oiticica usou um gravador Sony estéreo e um microfone para gravar a música em som bem alto. Os barulhos aleatórios ao fundo não seriam um problema, ao contrário, fariam parte da composição da gravação, juntamente com momentos de silêncio. Os sons casuais, disseminados em todo o tempo da música, viriam de máquina de escrever, telefone tocando, etc.Esta trilha, ao incorporar elementos casuais e misturar trivialidades, foi uma homenagem ao trabalho de John Cage. Oiticica percebeu ruídos alheios ao registro do som (afora os barulhos aleatórios que foram antes imaginados por ele), por exemplo, quando começou a gravar Sister Morphine e passou na rua uma sirene, no momento da frase “the scream of the ambulance is soundin’ in my ear. (MARZLIAK ,2012,p. 53)

Hélio Oiticica achava grande beleza nos sons aleatórios gravados e como eles pareciam ter perfeita sincronia com a musica e o trabalho, como o som da sirene e o som do telefone que toca no apartamento no final da gravação.

[...] a realidade de um risco subjetivamente experimentado escutado / sentido através de um sinal / símbolo como transliteração - combina com a letra / contexto de Sister Morphine: a experiência torna-se uma perfeita experiência-sensação.” (OITICICA, PHO 0446/73)

O resultado da soma de todos esses elementos sonoros muitas vezes acidentais seria escutado depois pelos participantes da CC6, dando a eles outra percepção da situação vivida. A luz total do 27º slide, que é apenas a luz do projetor, é uma não–imagem que pede uma máxima participação, pois a falta de imagem abriria espaço para a imaginação e criação dos participantes. CC7

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O bloco CC7 era uma proposição para Guy Brett, famoso critico de arte e curador inglês. Quando Hélio e Guy Brett se encontraram em New York, Hélio explicou a ele o conceito das Cosmococas e propôs que ele pensasse na sétima block-experiment , mas essa Cosmocca nunca saiu do esboço.

O 7 esta sendo feito pelo GUY BRETT segundo proposta minha quando esteve aqui 1 mês atrás (levou o projeto para executar in LONDON) (OITICICA,1974, p.78)

CC8 MR. D or D OF DADO

(...)e o 8 foi feito por mim com assistência de luz de Silviano (é com o irmão de Romero: Mr. D e o nome dessa ficou sendo : D de Dado) e é uma beleza: nesta a PRIMA ao aparece pois o que era grafico (nos seus) e depois área que se absorve na superfície (na do Thomas) faz com que o pó em si desapareça e que o espelho no qual se reflete mr. D como num lago-NARCISO seja o equivalente do pó num outro nível do mesmo processo do rastro que se esconde e da área que se absorve : e parafraseando este CC8 no texto escrito das instruções figura um pedaço do OSWALDO DE ANDRADE: Serafim vai à janela e qual Narciso vê, no espelho das águas o espelho de Copacabana. (OITICICA,1794,p. 79) Com a parceria do escritor Silviano Santiago, foi criada a oitava cosmococa, CC8 MR. D or D OF DADO. São 20 slides ao som da canção “Dancing with Mr. D”dos Rolling Stones. As fotos foram tiradas por Oiticica no banheiro do Loft 4, seu apartamento em Nova York. A pessoa fotografada foi Carlos Pessoa Cavalcanti, o Mr. D irmão de Romero Cavalcanti. A luz e o reflexo são a maquiagem que ativam a figura representada. Neste bloco não existe uma imagem impressa, mas fotografias de uma cabeça que se inclina como se estivesse olhando em direção a um lago, a câmera fotografa o reflexo dessa cabeça a partir de um espelho que esta no chão, sendo assim o teto é o plano de fundo da imagem.

Os reflexos e jogos de luzes no espelho tomam o lugar da cocaína e da mancoquilagem: O reflexo faz com q a antiga coca-maquilagem seja a superfície. (MARZLIAK ,2012,p. 54)

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CC9 COCAOCULTA RENÔ GONE

Feita dia 13 março de 1974 pra comemorar 1 ano de Cosmococa, a CC9 Cocaoculta Reno Gone, era uma proposta para o artista plástico Carlos Vergara, mas nunca foi terminada. A experiência homenageava Renô de Souza Mattos, morador do morro de São Carlos que havia sido morto em fevereiro daquele mesmo ano. O que Hélio Oiticica e Neville d’Almeida – e depois Oiticica, sozinho – propõem desde a invenção do primeiro bloco-experiência é a construção de um novo mundo, um mundo de invenções, para participação individual dentro de um coletivo. Com a mesma diversão proposta por Zaratustra60 – personagem criado por Nietzsche, que celebrou o carnal e o gozo em existir no presente, e que é seguido pelas pessoas inventivas e que procuram a diversão – motiva o participante ao invés de criar para o contemplador. (MARZLIAK ,2012,p. 55)

Hélio Oiticica tinha a preocupação de incorporar o então observador, chamando-o para fazer parte de sua obra deixando-se levar pela experiência por ela proporcionada.

Hélio disponibiliza sensações táteis, auditivas, sinestésicas e visuais em determinado momento e em determinado local e propõe ações a serem realizadas pelas pessoas. Nessa arte solicitase experimentações sinestésicas com o corpo, para além da visão contemplativa, aglutinadas em bloco. (CARNEIRO, 2006)

Os blocos CC ficaram guardados durante vinte anos, até a sua primeira montagem pública realizada em Roterdã, Holanda, em 1992.

No Brasil, foi montado CC5 HENDRIX-WAR em 1994, na Galeria São Paulo, na capital paulista. Em 1998 foi a vez do bloco CC3 no Centro Hélio Oiticica, Rio de Janeiro. Em 2003, o bloco CC6 COKE’S HEAD SOUP foi instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro como parte da exposição ‘Movimentos Improváveis: o efeito cinema na arte contemporânea’. Neste mesmo ano, foram apresentados na Pinacoteca de São Paulo, quatro blocos dos cinco realizados com Neville e, em uma galeria, as fotos destinadas à venda. (CARNEIRO, 2006)

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Muitas outras exposições foram realizadas ao longo dos anos :

em 2003 houve três

exposições na cidade de São Paulo: Momentos Frames, Cosmococa II, na galeria Galeria Fortes Vilaça ; -Programa in Progress, na Pinacoteca do Estado e Momentos Frames, Cosmococa, na Galeria Fortes Vilaça. Em 2005 no Rio de Janeiro houve uma exposição das cosmococas no Centro de Arte Hélio Oiticica. Em 2006 a exposição foi para a cidade de Nova York com CC1 Trashiscapes, na Galerie Lelong . Em 2010 mais uma exposição na cidade de São Paulo, no Itaú Cultural- exposição Museu é o Mundo.

De acordo com a autora Beatriz Carneiro o programa das Cosmococas fazia parte de um plano de trabalho de Oiticica, que ganhou a forma do livro intitulado ‘conglomerado Newyorkaises’. Essa obra reúne textos e imagens de experiências e proposições diversas concebidas nos oito anos em que o artista morou em New York. ‘Cosmococa- programa in progress’, como colocado em seu subtitulo, trata-se de uma obra que não é fechada, continua em progresso contaminando textos e outros trabalhos, ampliando-se para além dos blocos.

3.2.1 Diagramas

Os diagramas a seguir foram desenvolvidos com base no levantamento bibliográfico feito para o presente trabalho, sendo assim, todos os itens encontrados na bibliografia (com exceção dos endereços eletrônicos) são levados em consideração para os seguintes diagramas.

O diagrama tem por objetivo ilustrar cronologicamente as aparições das Cosmococas desde sua criação até o presente ano de 2014. Os diagramas são complementares , o primeiro leva em conta o tipo de material ou “o que” apareceu sobre as cosmococas, o segundo diagrama leva em consideração o local onde as aparições aconteceram ou “aonde”. Sendo assim se quisermos saber aonde ocorreu a publicação de 1990 que consta no diagrama é necessário olhar o diagrama 2 e procurar pelo ponto correspondente.

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Diagrama 1

O diagrama 1 ilustra as aparições das Cosmococas ao longo dos anos, seja em forma de publicações, produção acadêmica ou eventos e exposições.

A partir desse diagrama podemos observar que logo após sua criação, as Cosmococas passaram muitos anos esquecidas até receber atenção acadêmica sob forma da primeira publicação a respeito delas. Os eventos e exposições atingem um pico no começo dos anos 2000 e a produção acadêmica e publicações atingem seu ápice entre 2005 e 2010. Diagrama 2

No diagrama 2 podemos observar que as publicações em sua maioria vêm do Brasil e Estados Unidos, e as exposições têm uma variedade maior de países.

Foco do presente estudo

O trabalho realizado nesse projeto tem como foco principal analisar as obras CC1 Trashiscapes, CC2 Onobject, CC3 Maileryn, CC4 Nocagions e CC5 Hendrix-War que fazem

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parte do acervo permanente do Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim, onde estão expostas em pavilhão projetado especialmente para recebê-las. A vivência das Cosmococas tem grande importância pelo conceito de integrar o público à arte. Dessa forma, justifica-se o enfoque do presente estudo nessas obras, pois é necessário experienciá-las para efetivamente compreendê-las. Os parágrafos seguintes são dedicados ao estudo literário e empirico das cinco obras citadas. 3.2.2 Visita ao Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim

Como parte do presente trabalho foi realizada uma visita ao museu de arte contemporânea localizado em Inhotim. A visita foi essencial para completar o presente trabalho, pois a vivência e experiência empírica das Cosmococas nos traz maior compreensão de sua importância no contexto artístico dos anos 70, quando foram elaboradas por Hélio Oiticica.

O museu a céu aberto de Inhotim foi inaugurado em 2006 em um jardim botânico localizado em Brumadinho, MG, e é considerado um dos museus mais importantes do circuito artístico mundial, abrigando mais de 500 obras de artistas como Matthew Barney, Janet Cardiff, Adriana Varejão e Hélio Oiticica.

A galeria que abriga as Cosmococas foi projetada em 2008 por Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel, Paula Zasnicoff entre outros colaboradores. A construção ocorreu entre os anos de 2009 e 2010.

O edifício tem um único nível, onde as obras estão abrigadas e o telhado é um terraço verde que dá continuidade à paisagem existente. A galeria é formada por cinco salas de exposição escuras e com pé-direito duplo.

A fachada da galeria tem certo peso visual, por não ter nenhuma abertura e ser inteiramente revestida de pedras cinzas.

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Figura 1 – Galeria Cosmococa

Fonte: elaborada pela autora

Por estarem instaladas em uma galeria especialmente concebida para receber as cinco primeiras Cosmococas produzidas a partir de uma parceria entre Hélio Oiticica e Neville D´Almeida, tem-se a impressão de que a maneira pela qual estão instaladas foge da proposta de improviso de Oiticica, de adaptar a obra ao espaço existente em casa ou em qualquer ambiente cotidiano ou usual. Os projetores estão posicionados em buracos feitos na parede especialmente para eles. As caixas de som estão localizadas nos quatro cantos da sala para criar uma sessão de “home theater”. Além disso, várias regras foram criadas para “proteger” o participante. Por exemplo, os monitores responsáveis pela galeria sempre censuravam, dizendo “não pode fazer isso, não pode fazer aquilo” e de tempos em tempos a sala é fechada para a manutenção.

Os visitantes pareciam, a princípio, apreensivos ao entrar na galeria. Por serem as obras com maior interatividade de Inhotim, criavam opiniões divergentes. Alguns diziam ser a obra mais divertida do parque, outros reclamavam e diziam aquilo ser a maior “viagem” e que eram as obras mais chatas da visita.

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As crianças em geral aproveitavam muito, brincavam, corriam e não tomavam muito conhecimento da apresentação de slides, parecendo mais interessadas nos objetos de espuma, as redes, as bexigas, etc.

A experiência pessoal causada pela vivência das obras Cosmococas de Hélio Oiticica expostas em Inhotim foi, em geral, de grande relaxamento e alegria. Tem-se a sensação de entrar em um mundo paralelo, onde os problemas e preocupações do dia a dia ficam do lado de fora. As músicas cuidadosamente selecionadas para cada obra são de compositores muito talentosos. Os sons dos instrumentos envolvem e guiam o comportamento dentro do ambiente montado. Os diferentes elementos táteis e sensitivos presentes em cada uma das cinco salas das Cosmococas abrem portas para determinados tipo de vivência e comportamento conforme o autor intencionava ao criá-las. Seja nadando, dançando, brincando com balões ou pulando em colchões, essa experiência guiada pelos elementos que compõem as obras parecem ter intenção de soltar o participante do mundo real, apresentando-lhe um novo jeito de se movimentar, relacionar-se e sentir as produções de Oiticica.

CC1 Trashiscapes com seus colchões e travesseiros, foi um ótimo inicio para a apreciação das Cosmococas. Após longa caminhada pelo parque de Inhotim até a galeria Cosmococa, deitar nos colchões e lixar as unhas foi bastante relaxante e agradável. A música do ambiente é também muito envolvente e relaxante, contando com músicas nordestinas e os famosos sons da guitarra de Jimi Hendrix. A apresentação de slides traz algumas imagens perturbadoras, como a capa do disco Weasels Ripped my Flesh de Zappa. A doninha arranhando o rosto da figura do homem presente nesse slide, junto com a montagem feita para a fotografia, traz um certo desconforto por ter uma certa violência mascarada. A imagem de um tecido azul dentro da privada e a foto da capa de parangolé coberto por cinzeiros e cigarros também trazem uma sensação de sonho, algo surreal. As lixas de unhas fornecidas fazem com que sua atenção seja dividida entre lixar suas unhas e olhar os slides nas paredes.

CC2 Onobject traz uma experiência muito divertida proporcionada pela espuma grossa que recobre todo o chão como se fosse um grande colchão. Essa espuma faz com que os movimentos tornem-se mais leves, como se houvesse menos gravidade naquela sala. Os travesseiros coloridos com formas geométricas ajudam a soltar a imaginação e brincar, plantar bananeiras, fazer cambalhotas e usar os objetos como obstáculo, para saltá-lo e cair confortavelmente na espuma do outro lado. A música instiga a agitação e euforia. As cores

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presentes em cada slide fazem com que o ambiente mude de tempos em tempos, fazendo com que a nossa percepção dos objetos coloridos ao nosso redor mude a cada slide. Essa vivencia faz com que o participante sai sem ar, ofegante de tantos pulos e brincadeiras.

Na Cosmococa CC3 Maileryn tem-se a sensação de que o chão não está firme sob os pés, por conta das dunas feitas com areia e coberta por lona de vinil. O vinil tem um tato gelado e liso sob os pés e a areia é muito bem compactada. Por isso, encontra-se firme como um assoalho, não se tem a sensação de estar pisando em areia, mas sim em um chão estranhamente irregular. A música de origem peruana é muito bela, emocionante. Os balões amarelos e laranjas mesclam-se com os tons amarelos dos cabelos de Marilyn Monroe e o tom alaranjado proporcionado pela saturação da fotografia. O conjunto de todos esses elementos proporciona certa magia a esse ambiente. A sensação é de leveza nos movimentos, delicadeza para lidar com os balões, cuidado ao caminhar. Os sentidos de audição e visão são aguçados pelas imagens e música ambiente.

CC4 Nocagions causa certa sensação de desconforto pela água gelada combinada com a trilha sonora barulhenta e desconexa, bem como pelo cheiro de cloro que paira no ar. Esse desconforto é amenizado pelo lindo jogo de luzes, verdes azuis e brancas, que refletem-se na água e criam um ambiente mágico e envolvente, como em uma cena de filme. Enquanto a água e a música trazem certa inquietação. As luzes acalmam e encantam, incentivando o participante a ficar na sala e ver a apresentação até o fim. Nessa Cosmococa tem-se a impressão de que os slides têm importância secundária, por serem projetados apenas nas duas paredes menores da sala retangular e porque uma das imagens é quase inteiramente branca.

Em CC5 Hendrix-War deita-se em redes ao som de Jimi Hentrix. A sala é escura e os slides têm cor predominantemente marrom. Sente-se um profundo relaxamento e tranquilidade proporcionados por essa ambientação. Em alguns momentos, a tranquilidade é quebrada por crianças que querem se balançar muito alto nas redes, ou por pessoas conversando muito alto. Em outros momentos a sala se esvazia, aguçando a atenção aos acordes da guitarra e ao timbre da voz de Jimi Hendrix. A sensação é de flutuar sobre o solo, embalado pela música e as cores do ambiente. Os desenhos feitos em cocaína sobre o rosto de Jimi Hendrix presente nos slides são surreais e abertos a várias interpretações. Em alguns momentos essa cocaína faz linhas que parecem entrar nas narinas do músico, como se ele a tivesse aspirando. Tais

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linhas tomam forma de borboleta ao subirem pelas narinas e chegarem aos olhos e sobrancelhas do músico. Em outros momentos a cocaína faz uma moldura em torno da boca de Hendrix ou apenas um círculo no centro da testa, como se fosse um terceiro olho. 3.2.3 CC1 TRASHISCAPES

Ao entrar na galeria, os monitores explicavam que as cinco Cosmococas ali presentes representavam os cinco efeitos da cocaína, os quais são descritos nos parágrafos seguintes, na medida em que a experiência da pesquisadora com as obras são relatadas. Na revisão bibliográfica feita, nada foi encontrado que desse suporte a essa informação. Ao perguntar aos monitores, eles diziam que essas informações foram passadas a eles quando foram contratados pelo museu. Sendo assim, Trashiscapes representava o efeito de anestesia fornecido pelo uso da cocaína, fazendo com que os usuários /participantes, ficassem apáticos e não ligassem para mais nada.

Concebido em 13 de março de 1973, foi o primeiro bloco, ou Cosmococa, produzido por Oiticica e Neville. Em sua instalação, o público se acomoda em colchões e travesseiros espalhados pelo chão e é convidado a lixar a unha. Começa então a projeção dos slides, ocupando duas paredes inteiras,opostas uma a outra, de forma que vê-se uma de cada vez . As imagens são apropriações da capa do The New York Times Magazine que mostrava o rosto de Luis Buñuel, bem como fotos de Neville falando ao telefone e usando uma camiseta listrada. Há também um retrato de Luis Fernando Guimarães usando uma capa/parangolé (a P30) e a capa do álbum Weasels Ripped my Flesh, de Zappa and The Mothers of Invention: um desenho do rosto de um rapaz ‘certinho’ arranhado por uma doninha que ele segura como se fosse uma máquina de barbear deixando uma ferida com sangue. (CARNEIRO, 2006) Oiticica e Neville faziam a `Mancoquilagem” das imagens normalmente usando um canivete (o objeto também justaposto à imagem). Além do canivete, eles inseriram nas imagens outros adereços, geralmente encontrados no apartamento do artista.

Nos slides, aparecem objetos diversos: espelho redondo, canudos de dólar, facas, navalhas, cinzeiros cheios, lata de filme. Linhas brancas traçadas sobre as imagens das séries, sobre o pôster, sobre o rosto de Buñuel, sobre a capa do disco, linhas compostas de finas carreiras de

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cocaína. A trilha sonora conta com trechos do baião de Dominguinhos e Luis Gonzaga, trechos de Pífaros de Caruaru, de Stockhausen, de Hendrix, de sons da rua. (CARNEIRO, 2006)

As imagens-montagem eram finalmente fotografadas e projetadas em 32 slides sem marcação de tempo (tempo aberto), com trilha sonora não-sincronizada com as imagens. A trilha era montada com música popular do nordeste e inserções diversas: o som da guitarra de Jimi Hendrix, um homem lendo um texto inventado e sons aleatórios captados na Segunda Avenida, em Nova York. Essas inclusões são constituídas por períodos de silêncio, que percorrem toda a composição em tempo acidental. Oiticica chega a citar o trabalho de Stockhausen, mas sua música não é um guia para a formulação desta trilha. (MARZLIAK ,2012,p. 40)

No texto-manual de CC1 Trashiscapes, Oiticica especifica diferentes montagens que dependiam se a obra seria apresentada publicamente ou em uma situação mais privada. Nas apresentações públicas, os slides deveriam ser projetados em duas paredes opostas, sem tempo certo para a passagem da apresentação de slides, deixando que esse tempo seja randômico (tempo aberto ao acaso). Os participantes ficariam deitados sobre almofadas no chão e receberiam lixas de unhas metálicas para lixarem suas unhas durante a apresentação, em postura preguiçosa de ‘pouco se lixando’. A trilha sonora deveria começar um minuto antes da projeção do primeiro slide. Deixando o público durante um minuto na sala escura, apenas o som de forró ‘Ah! Isto aqui tá muito bom. Isto aqui tá bom demais’.

Nas performances privadas, os slides seriam projetados em uma tela de tamanho médio, com superfície branca, ao lado de uma televisão em cores ligada. Durante o acontecimento, haveria projeções, som e transmissão da televisão, com notícias do jornal. Um rádio ligado, situado em um canto mais afastado do quarto, “explodiria” o rock. A música, nesse caso, o rock, é também uma maneira de ativar sentidos nos participantes da obra. “Quanto à imagem principal do trabalho, a fotografia de Buñuel, ela não foi escolhida ao acaso. Trata-se de um importante cineasta surrealista que trabalhou entre as décadas de 1920 e 1970 e deixou sua marca ao subverter o discurso cinematográfico convencional. As carreiras de cocaína cortam seu olho, parodiando a famosa cena inicial do filme Le Chien Andalou (1929), produzido em parceria com Salvador Dalí. A poética e a estética deste filme surrealista insurgem da interpretação da teoria dos sonhos, de Sigmund Freud, mais especificamente no que se refere ao processo de simbolização – chamado por Freud de “disposição pictórica do

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material psíquico” (1973). Além disso, o filme referencia as ideias de escrita automática de André Breton, também encontradas no Manifesto Surrealista, mediando, assim, os mundos do consciente e do inconsciente. Com isso, rompe com a lógica e com a narrativa linear por meio de um forte apelo onírico. Assim como os artistas e cineastas do Cinema Marginal, dos fluxfilmes, do Cinema Expandido e dos quase-cinemas, Dalí e Buñuel já pensavam que a narrativa fragmentada faz com que os espectadores raciocinem, construindo entre-imagens de pensamento, e que a linearidade do discurso narrativo, ao contrário, os alienava. Em Le Chien Andalou existem, como no cinema clássico, os intertítulos, que, nesse caso, ironizam esse modo de continuidade de ações. São eles: “Il était une fois” (Era uma vez), “Huit ans après” (Oito anos depois), e assim por diante, os quais se prestam a enganar e confundir o espectador, que esperaria uma clareza de narrativa que, ao final, não existirá. E sim, ao invés disso, através de símbolos e metáforas que se sobrepõem rapidamente na tela, se apreende a narrativa de uma forma sensorial, ativando o subconsciente. Dessa forma, ao articular o processo de criação de símbolos e metáforas, o automatismo surrealista e, ainda, a ironização dos padrões de narrativa clássica. (MARZLIAK ,2012,p. 42)

A questão institucional em que insere essa obra montada em Inhotim é algo a se analisar. Quando Oiticica formulou as cosmococas, a intenção era que a obra fosse aberta ao improviso, ao acaso e adaptável às condições existentes no local em que seria apresentada. COSMOCOCA supera a época de isolar o MÍTICO porque se abre/ e abre/ ao/o/JOGO: à chance operation. (OITICICA, 1974,p.193)

O fato de ter sido feita uma galeria especificamente para a instalação dessas obras pode ter comprometido sua vivência. A instalação parecia muito ‘certinha’ com os projetores instalados na parede e caixas de som em todos os cantos da sala. Trashiscapes é um ambiente muito relaxante, com música agradável, colchões e travesseiros. Parecia que os participantes não entendiam que a proposta era lixar as unhas e tinham uma postura de `deitar no sofá e assistir televisão´ como fariam em casa. Alguns participantes dançavam ao som do forró, outros apenas assistiam aos slides. Essa cosmococa não era muito convidativa às crianças, por não haver muitos elementos com os quais elas poderiam brincar.

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Figura2 e 4- slide CC1

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p. 84.

Figura3,4,5 e 6- slide CC1

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p. 87.

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Figura7- CC1 TRASHISCAPES

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p. 82.

3.2.4 CC2 ONOBJECT:

O segundo bloco é formado por 25 slides, porém apenas 23 são mostrados pois, a pedido do artista no texto-manual, os slides 5 e 6 deveriam ser omitidos. Esses 23 slides são fotografias mancoquiladas de algumas capas de livros como Grapefruit, de Yoko Ono e apresentados deixando o tempo para a apresentação dos slides aberto ao acaso. Com o passar da apresentação, os slides vão sendo trocados por imagens do livro de Heidegger What’s a thing, seguido por Your Children de Charles Manson, o mandante do assassinato de Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski, e dos hóspedes que estavam na casa (crime famoso na década de 60). A trilha sonora foi retirada do álbum duplo

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Fly de Yoko Ono acompanhado por um som alto de telefone tocando. (CARNEIRO, Beatriz; 2006).

Foram adicionados às superfícies das fotos alguns itens, além da cocaína, tais como faca, canudo de prata e ainda outros objetos, como régua, lápis e cartões. As imagens foram feitas com o filme ektachrome que tem um equilíbrio das cores saturação moderada , agradáveis aos olhos. No ambiente proposto em CC2 Onobject os participantes seriam conduzidos a jogo de corpo tátil, sensorial, iluminado e divertido. A espuma grossa no chão, como se fosse um grosso colchão cobrindo todo o chão , tem por cima um tecido branco e convida os participantes a se deitar, rolar, pular e fazer qualquer tipo de brincadeira sem se preocupar em se machucar. Em cima dessa espuma são espalhados objetos também feitos de espuma em forma de bolas, cubos, cones e cilindros revestidos com tecidos nas cores azul, vermelho, verde e amarelo. Esse ambiente é convidativo e aconchegante, para que os participantes dancem e brinquem durante o tempo de projeção. Nas instruções usadas para a montagem, Hélio Oiticica descreve dois ambientes, que deveriam ser escolhidos dependendo se a apresentação fosse pública ou privada. Nas performaces públicas:

Os slides seriam projetados em dois vértices de um cubo instalado bem no meio e em duas paredes. Os participantes ocupariam a área intermediária dessas projeções, e os objetos que iriam manejar seriam oferecidos a eles. Nas instruções, ele também sugere a inserção de mais um objeto: uma caixa de madeira oca e pintada de branco. Nas performances privadas, quatro sequências de slides seriam projetadas simultaneamente (com tempo e sequência semelhantes às públicas) sobre superfícies brancas improvisadas, o que dependeria da localização da montagem (um quarto, um jardim, etc.). Pensou em lençóis brancos que seriam dispostos de forma a criar divisões espaciais e usados para cobrir o mobiliário que pudesse ter no interior de um quarto. Se a projeção ocorresse em um jardim, haveria arbustos e árvores. Para projetar sobre os lençóis, eles deveriam ter pesos na sua parte inferior para manter as superfícies planas. (MARZLIAK ,2012,p. 45)

A trilha sonora é formada por uma montagem de gritos de Yoko Ono e barulhos aleatórios gravados na rua. Nesse bloco, a figura de Yoko Ono é utilizada para expressar uma crítica ao mundo das aparências. Essa artista maravilhava Oiticica pois, apesar de atuar publicamente

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como uma celebridade e ser casada com o astro John Lennon, ela quebrava paradigmas com sua arte, dispondo de diversas “máscaras” para si mesma. YOKO

ONO

>

MÁSCARA

>EMBARALHAR

ROLES/SITUAÇÕES/O

MUNDO

DAS

APARÊNCIAS/PSIQUÊS (OITICICA, 1974, p. 199).

Ono atuava no grupo Fluxus, sobretudo no que se refere aos eventos/manifestações fluxus, que misturavam objetos cotidianos, performance, filmes (os fluxfilmes) e sons, incitando a participação

através

do

estímulo

às

sensações

sonoras,

visuais

e

espaciais:

a

multissensorialidade. Oiticica nomeou como “performance” as ações com o público, mas elas deveriam ser totalmente diferentes do modelo que fosse considerado performance do meio artístico e também não as definiu como “antiperformance”, o que, segundo ele, por definição, afirma que o que procura é destruir.

A CC2 se tratava, na verdade, de um jogo ambiental que embaralha, descaracteriza as situações e a relação entre o objeto e sua função, e entre o espectador e o espetáculo. (MARZLIAK ,2012,p. 45) Em Inhotim esse “bloco- experiência” é montado como especificado por Oiticica para uma performance privada, pois não contém o elemento do cubo no centro da sala onde imagens seriam projetadas em dois vértices, e nem a caixa de madeira oca e pintada de branco.

Foi possível observar que tanto crianças como adultos se divertem muito na CC2. A espuma grossa no chão proporciona uma sensação de conforto e segurança, encorajando as pessoas a darem cambalhotas, pularem, deitarem com os pés para cima. Os objetos geométricos macios espalhados pela sala permitem que a criatividade das pessoas aflore. Alguns usavam os objetos como obstáculo, para pular de um lado para outro. As crianças se divertiam muito com seus pais, algumas pessoas brincavam de luta, dando rasteiras e derrubando os outros. As imagens nas paredes pareciam passar quase despercebidas para os participantes, muito ocupados com a brincadeira. A trilha sonora é excitante e estimulante, com alguns pontos baixos e mais calmos. Podia se perceber a euforia das pessoas brincando quando a música estava mais rápida e o descanso quando a musica acalmava, isso indica que a obra com todos os seus elementos realmente dirige comportamentos e sensações, como já escrito por Oiticica em seus estudos.

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A espuma grossa que é colocada como um colchão no chão tinha alguns buracos e estava, aparentemente, mal conservada. O tecido branco que deveria cobrir a sala toda estava embolado e mal colocado por ter sido tão pisoteado, sendo possível em alguns pontos da sala observar a espuma se desfazendo por baixo do tecido.

De acordo com os monitores da galeria, a CC2 representava a agitação e euforia proporcionada pelo usa da cocaína. Figura 8 e 9- slide CC2

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p. 100.

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Figura 10- CC2 ONOBJECT

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p.102

3.2.5 CC3 MAILERYN:

Essa obra foi feita no dia 16 de agosto de 1973. Segundo o texto-manual de instruções, nas performances públicas o piso da sala seria forrado por areia e coberto por um vinil durável

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transparente, proporcionando ondulações, como dunas de uma praia. Os participantes deveriam estar com os pés descalços ao entrar na sala. Quaisquer objetos que pudessem danificar ou rasgar o vinil, tal como fivelas e botões deveriam ser deixados na entrada, assim como é exigido em Inhotim. Os participantes devem deixar seus sapatos no pequeno hall de entrada da galeria. Nas performances particulares, um conjunto de slides seriam projetados em uma tela, que seria uma superfície de veludo branco (real ou artificial) ou um vinil branco espesso e brilhante. Outro conjunto de slides seriam projetados nas paredes, se espalhando pelo teto, através de inclinações do projetor. Para Oiticica, a improvisação aqui deveria ser criativa e musical, o participante poderia, então, ora andar em bacias cheias de água, ora no solo frio, ora em um carpete. (MARZLIAK ,2012,p. 46)

Por cima do vinil são espalhadas bexigas nas cores amarelo e laranja. O público participante é convidado a deitar, rolar, e arrastar-se no chão irregular de vinil, jogando as leves bolas amarelas e laranjas para o alto. Nas quatro paredes e no teto do ambiente são projetados slides de fotografias mancoquiladas de Marilyn Monroe produzidos em filme ektachrome (que tem melhor saturação e equilíbrio de cores) Essas fotos são tiradas da capa do livro de Norman Mailer sobre Marilyn Monroe (atriz com quem foi casado) lançado em 1973.

Hélio comprou o livro logo após sua publicação, e as fotos da sequência de slides da CC3 Maileryn são imagens do livro sendo desembrulhado e a foto da atriz sendo mancoquilada, O livro aparece primeiramente embalado por papel celofane que vai sendo cortado por uma tesoura, enquanto que a mancoquilagem com cocaína vai se alterando, ora leve, ora carregada, quase grotesca.” (CARNEIRO, Beatriz; 2006).

Outras imagens trazem fotos da capa sem celofane, sobre as quais são dispostos diferentes acessórios para o consumo de cocaína, e desenhos esquemáticos com a própria, sobre a imagem, além da foto do “CAPE 24 P31 PARANGOLÉ – HO/NYC/72. (ARAÚJO,2008, p.261)

A trilha sonora, por sugestão de Neville, incorpora as músicas tradicionais de povos sulamericanos, usando musicas da interprete Yma Sumac, cantora popular peruana famosa na década de 60,

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“especialmente pela voz de timbre único, capaz de atingir entre 4 e 5 oitavas na escala musical, apresenta canções referentes aos rituais incaicos. Não é uma cantora de folclore latino, ela dá um tom de dramaticidade hollywoodiana para estes temas referentes aos incas.”(CARNEIRO, 2006)

CC3 Maileryn é montado em Inhotim como descrito por Hélio Oiticica nas performances públicas, exceto pelo vinil, que ao invés de ser transparente é azul e opaco. Há projetores instalados nas 4 paredes e um está no chão, com um espelho para refletir sua imagem no teto. Essa Cosmococa é descrita pelos monitores como o efeito de ´estar pisando nas nuvens´ proporcionado pelo uso da cocaína. Os participantes adultos pareciam ficar apreensivos de se soltar e brincar com os balões coloridos, focando sua atenção apenas nas imagens projetadas nas paredes e no teto. As crianças, por outro lado, se divertiam muito com os balões, e muitas delas gostavam de estourá-los, fazendo com que não sobrasse mais nenhum balão cheio dentro da instalação. Por isso, mais do que as outras Cosmococas presentes nessa galeria, a CC3 tinha que ser fechada com frequência para a manutenção. A música é muito envolvente, proporcionando um relaxamento profundo.

Figura 12,13 e 14 – slides de CC3 MAILERYN

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p.123

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Figura 11 – CC3 MAILERYN

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p.120

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3.2.6 CC4 NOCAGIONS:

O bloco CC4 Nocagions foi dedicado aos irmãos e poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. O ambiente é composto por uma piscina com duas projeções de slides que se refletem na superfície da água. Em volta da piscina há um deck de madeira e colchonetes. Os visitantes interagem ativamente, podendo entrar e se divertir na piscina, experimentando um “mergulho na imagem”. É a mais branca das Cosmococas. O branco da coca sobre o branco da capa do livro “Notations” de John Cage retoma o branco sobre branco citado por Oiticica em seus textos. Nas anotações sobre esse block experiment, Oiticica homenageia Malevich, inaugurador do espaço suprematista que valoriza uma arte abstrata baseada na supremacia do sentimento artístico puro, em vez de representação visual de objetos. “A capa do livro Notations forma em vários dos slides um losango além de se referir à pintura branca de Malevich de 1918, essa figura geométrica se associa a algumas composições de Mondrian, que, ao rotacionar a tela, emprestou ao angulo reto do quadrado uma ponta perfurante, aguda” (BRAGA, 2006).

As fotografias teriam como base a capa branca do livro Notations, de John Cage. Depois, foram incluídos um canudo de prata, dois canivetes e um tecido azul embebido em água do vaso sanitário do banheiro de Babylonests. Segundo Oiticica, este bloco-experiência estaria aberto para diversas interpretações: poderia ser música, poesia, objeto ou, também entendido como uma transformação do cinema, uma experiência cinética ou multimídia, sem ser nenhuma delas. Oiticica afirmou que esse trabalho não faz alusão direta ao livro de John Cage, e que ele deve ser considerado como experiência, como um elemento que está dentro de um programa maior.

Em CC4 o participante é convidado a entrar em uma piscina rasa com iluminação preparada: luz verde difundida em sua profundidade e luzes azuis nas bordas (cor periférica). A água da piscina se apresenta como uma superfície dinâmica onde os movimentos dos participantes nadadores se integram ao trabalho, tornando essa uma experiência sensorial e interativa. No fundo da piscina, um triângulo feito de pontos de luz verde determina a “área verde” da piscina. A ponta do triângulo imerso e das facas e canivetes mostrados nos slides, usados para fazer as trilhas de cocaína remetem aos ângulos agudos dos Secos (obra de Hélio, guaches do final da década de 1950). Em alguns slides, a cocaína ocupa toda a capa do livro de Cage e constrói a

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mesma textura das pinceladas curtas dos monocromáticos de Oiticica. O participante vê as pontas secas e agudas das facas enquanto sente o não menos cortante frio da água acompanhada dessa sensação de frieza o branco da cocaína nos slides toma mais do que nunca um aspecto de neve. A trilha sonora com trechos de composições de John Cage sugere a ideia de “sons cortantes” por contar com diversos ruídos metálicos. “Também formado por slides, CC4 tem marcação de tempo, aproximando-se das sessões de cinema (com hora para começar e acabar). O carrossel de slides foi enviado a John Cage (1912-1992), e Oiticica convidou-o a fazer uma peça musical para ser usada na trilha sonora deste trabalho. Assim, ele participaria “sonoramente” do ambiente.” (MARZLIAK ,2012,p. 47)

A apresentação, com duração de trinta minutos, ocorre em duas telas localizadas nas extremidades da piscina. Os dois projetores responsáveis pela apresentação (projetor X e Y) devem, de acordo com instruções, estar abaixo do nível das duas telas, de maneira a precisar incliná-los para preenchê-las com as imagens . A música nessa Cosmococa vem de quatro alto-falantes localizados nas bordas da piscina e tocam uma peça de John Cage. “(...) a sequência de slides X foi escalonada exatamente um slide antes da sequência de slides Y, sendo que os dois carrosséis tem o mesmo tempo e sequência de projeção. Quanto à sincronicidade de projeção, a sequência de slides Y projeta o primeiro slide. Quando o segundo começa, a sequência X projeta o seu primeiro slide. Quando Y mostra o terceiro, X projeta o segundo, etc. No final, Y corta seu último slide, e X também. Uma luz verde corre a tela e logo em seguida fica branca-brilho, sem nenhuma imagem. A tela fica acesa durante 3 minutos e, em seguida, temos um preto profundo. Nas performances privadas, os rastros de cocaína e os acessórios justapostos a capa de Notations, de forma a instaurar um “visual-transformável”, onde o visual e a música se mesclam e interagem. Quanto à sequência dos slides, eles formariam um espaço fílmico, devido ao posicionamento da máquina fotográfica e sua mobilidade de 360 graus.” (MARZLIAK ,2012,p. 48)

No texto-manual, Oiticica também levanta algumas questões que deveriam ser consideradas ao montar essa Cosmococa, tais como: (1) a necessidade de determinar a quantidade de pessoas, dependendo do tamanho do local em que seria montada a obra; (2) prever o número de performances que ocorreriam por dia e o intervalo de tempo entre elas; (3) o controle do tráfego de pessoas, prevendo que elas entrassem no começo da apresentação. Ao final do

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texto de CC4 Oiticica fala sobre a relação dele com o co-criador das Cosmococas, Neville d´Almeida. “Só nós 2 em uma multiestrutural e multivalente EXPERIMENTAÇÃO, que não é cinema nem fotografia nem narração: cada movimento e cada decisão é EXPERIMENTAÇÃO orientada: EXPERIÊNCIA como definitivo modo de estruturar novos processos de atividade inventiva sem limitar ou ser condicionado por sistema de valor: COSMOCOCA como um programa em progresso informa que está aberto o caráter experimental: mudanças e transformações para estrutura inventiva como operações ao acaso – elementos essenciais em manifestações: como um programa-aberto em progresso que desafia uma definição e/ou uma classificação: EXPERIÊNCIAS MÚLTIPLAS de possibilidades da extensão do programa para outras pessoas, coletivamente, em PERFORMANCE PÚBLICA ou seletivamente em PERFORMANCE PRIVADA: esta extensão (e aqui reside a sua força) ao invés de limitar a atividade dos programas para os originadores – criar MULTI-POSSIBILIDADES para participação coletiva/individual: o exercício experimental da liberdade (Mario Pedrosa).” (OITICICA, 1973, p.60)

As condições institucionais em que a obra CC4 NOCAGIONS se insere na galeria Cosmococas de Inhotim são muito restritivas: não se pode colocar os colchonetes na água, não se pode pular na piscina, não se pode molhar o chão em volta.

Ao entrar, o público é alertado pelo monitor responsável que se pode entrar na piscina, desde que com roupa de banho ou com roupas de baixo escuras. Possivelmente, com essa instrução, querem evitar o constrangimento de alguém entrando com alguma roupa clara que fique transparente. Os monitores também explicam aos visitantes que o choque causado pela água gelada é o efeito da cocaína representado por essa obra.

Ao redor da piscina há um deck de madeira envernizada, que ficava muito escorregadio por estar molhado. A água gelada desencorajava grande parte dos adultos a participarem da performance dentro da piscina, então se contentam em sentarem nos colchonetes que ficavam ao redor da piscina. As crianças, mais corajosas, entram e brincam dentro da água. A iluminação verde e azul faz com que a água da piscina se reflita no teto, criando um ambiente mágico. A trilha sonora causa algum desconforto assim como a água gelada.

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Para melhor atender os visitantes, é disponibilizado dentro da sala de CC4 Nocagions um vestiário com toalhas limpas.

Figura 15 – CC4 NOGAGIONS

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p.144

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Figura 16 e 17– slides de CC4

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p.147

3.2.7 CC5 HENDRIX-WAR

Feito do dia 26 de agosto de 1973 nos Babylonests em Nova York o bloco CC5 Hendrix-War é também formado por slides de fotografias em ektachrome. São 34 slides com tempo aberto ao acaso. A trilha sonora é composta por músicas de Jimi Hendrix, que tocam antes, durante e depois da projeção da sequência de slides. Os slides dessa apresentação são fotos da capa do disco War Heroes, lançado em 1972, com a face de Jimi Hendrix mancoquilada. Justapostos a esse disco estão objetos como canivetes e caixas de fósforos. Há também imagens de uma

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das capas de parangolé, obra de Hélio que também buscava a descoberta do corpo e do comportamento. Alguns desenhos de cocaína sugerem borboletas ocultando e revelando os traços do rosto do músico. As caixas com fósforos queimados que aparecem nos slides fazem referência ao gesto de Jimi Hendrix de pôr fogo na guitarra no Festival de Monterey em 1967. Essas imagens são projetadas em todas as paredes e no teto.

Em instruções, Oiticica escreveu que, nas performances públicas, os participantes ocupariam redes suspensas presas no teto, dispostas por toda a sala. Tais redes aludem ao nordeste brasileiro e, quando nelas deitados, os pés dos participantes não tocam o chão, criando uma sensação de flutuar. A proposta é relaxar o corpo no casulo-rede enquanto ouvem-se músicas de Jimi Hendrix. Outro motivo para manter os participantes suspensos no ar, de acordo com Hélio é que, quando nessa posição, o Bodywise (a inteligência do corpo) se impõe, sente outro espaço, e cria novas percepções. Ainda descrevendo as performances públicas, Oiticica especifica que as quatro paredes devem ser cobertas por lonas, e os participantes poderiam acessar o local através de entradas nos quatro cantos da sala. Esse cenário descrito por Oiticica para as performances públicas, não é o cenário encontrado na montagem dessa mesma obra na galeria Cosmococas de Inhotim.

Quando especificando as performances particulares em seu texto-manual, Oiticica diz que esse tipo de performance é destinada a casas ou apartamentos de quatro ou mais quartos, onde seriam projetados os slides. Se a casa tivesse um jardim, as projeções também poderiam ocorrer nos muros exteriores da casa. Hélio sugere que a projeção tenha inicio logo que os moradores da casa acordassem. Seguindo instruções os moradores montariam e ligariam a apresentação, deixando-a acontecer em sua casa durante todo o dia. Como a mesma ação se repetiria durante todo o dia, os moradores-operadores deveriam dirigi-la para a dança, convidando pessoas que não moram na casa para participar.

A escolha de Jimi Hendrix (aqui sua imagem e música são exploradas; em CC1, apenas sua música) não é mero acaso ou fruto de uma sorte de empolgação roqueira juvenil. Para Oiticica, contrariamente às atitudes tradicionais de alguns artistas da época, as categorias e divisões da arte (artes plásticas,música, cinema, fotografia, etc.) haviam perdido suas fronteiras, viabilizando as infinitas possibilidades de criação artística, que incluiriam a descoberta da ação perfomática do corpo dentro da expressão em arte, que nesse caso é a própria música, mais especificamente o Rock’n’Roll. Para ele, sua arte era música, pois esta era síntese de sua

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descoberta da performance do corpo, que passou a explorar a participação do público. Nesse sentido, CC5 passa a se construir como um filme-projeção de metalinguagem (MARZLIAK ,2012,p. 51) Para Hélio, a música é uma consequência da descoberta do corpo, o Rock , nesse sentido é um novo conceito de música que ativa o conceito de suprassensorial proposto pelo artista e cria uma manifestação coletiva desencadeada por seu ritmo.

como soltar o corpo no rock e depois prender-se a cadeira do numb-cinema? (OITICICA, 1973, p.191)

A vivência dessa obra traz um relaxamento profundo, as redes e os sons da guitarra de Hendrix levam os participantes a relaxar e curtir o momento. De tempos em tempos havia uma interrupção causada por crianças que queriam se balançar com muita força nas redes, e os pais vinham dar broncas. De acordo com os monitores o efeito da cocaína representado por essa obra é o de estar viajando e curtindo a musica, sem preocupações e com um outro estado de percepção (como citado por Oiticica, o Bodywise) Figura 19,20,21 e 22 – slides de CC5 HENDRIX-WAR

Fonte: César Oiticica Filho, 2004, p. 168

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Figura 18 - CC5 HENDRIX-WAR

Fonte: CĂŠsar Oiticica Filho, 2004, p. 166

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5. Considerações finais As Cosmococas, produzidas no inicio dos anos 70, vêm sendo retomadas por autores, pesquisadores e exposições por todo o mundo. Esses trabalhos de quasi-cinema desafiam o conceito de cinema, que coloca o espectador como mero observador, convidando-o a participar dessa experiência que mexe com todos os sentidos do corpo. Tratando-se de uma obra experiencial, a maior parte da literatura encontrada para a realização do presente trabalho visa descrever a experiência causada por essa obra assim como meditar sobre elas levando em conta as intenções de Hélio Oiticica ao criá-las. No processo de criação dos trabalhos de quasi-cinema denominados Cosmococas, podemos observar grande diligência do artista ao detalhar esses trabalhos um a um, levando em conta que esses blocos poderiam ser montados em diferentes situações ambientais e de público, colocando também em seu manual especificações para diferentes montagens caso fosse uma apresentação publica ou privada, com grande cuidado para que essa experiência seja realmente guiada em direção a vivencia que Oiticica queria causar com cada um dos blocos. O processo de produção do presente trabalho teve como foco fazer um levantamento bibliográfico que considerasse principalmente as produções mais recentes sobre as Cosmococas, afim de analisar os objetivos e abordagens que esses autores julgam importantes ao retomar esses block-experiments. Porém, o levantamento e leitura de autores mais antigos, assim como as anotações de Hélio Oiticica e a experiência empírica com as cosmococas foram de essencial importância para a conclusão do presente trabalho, que leva em conta os contrapontos e diferentes pontos de vista a respeito dessas obras. Levando em consideração o discurso de Hélio Oiticica ao se referir às obras Cosmococas, é possível relatar que o artista dava grande importância à liberdade, ao acaso e à mudança de direção em relação ao cinema convencional. Nesse aspecto podemos observar um grande paradoxo quando vivenciamos a obra e sentimos que nosso comportamento foi de certa forma “guiado” pelo ambiente, música e outros componentes que estão presentes na obra. Sendo assim abre-se um espaço para opiniões divergentes a respeito da obra, pontos de vista que não podem ser considerados certos ou errados, apenas devem ser levados em consideração como fazendo parte desse programa “in progress”. 6. Atividades desenvolvidas:

Essa pesquisa consistiu em levantamento de material primário, levantamento de literatura e leitura de textos sobre o artista Hélio Oiticica e as Cosmococas.

Durante o período de doze meses o projeto previu a realização de levantamento e seleção de

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textos que tratem especificamente das Cosmococas, buscando a compreensão, análise e estudo aprofundado dessas obras e estabelecendo o contexto de sua importância na arte contemporânea. O levantamento de material primário para essa pesquisa foi realizado por meio de visita a Inhotim, com o objetivo de vivenciar e fotografar as obras, bem como entrevistar observadores participantes das cinco cosmococas que fazem parte do acervo permanente do Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim, sendo elas: Trashiscapes, Onobject, Maileryn, Nocagions e Hendrix-War.

Foram oito as etapas previstas e realizadas no projeto:

Tabela 1 m1

m2

m3

m4

m5

m6 m7

m8

m9

m10 m11

m12

etapa1 etapa2 etapa3 etapa4 etapa5 etapa6 etapa7 etapa8

Na etapa1 foi realizado levantamento bibliográfico com o objetivo de selecionar o material a ser pesquisado. Foram selecionados Livros, Teses, revistas, textos e sites que continham material relevante para a atual pesquisa. A partir desse levantamento foram selecionados três livros para a compreensão da passagem de Hélio Oiticica pela fase neoconcreta, sendo eles: ●

OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Introdução Luciano Figueiredo, Mário

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Pedrosa; compilação Luciano Figueiredo, Lygia Pape, Waly Salomão. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. 134 p., foto p&b.

Este livro apresenta uma seleção de textos escritos por Oiticica e por críticos de arte. Nos textos escritos por Oiticica, o artista conceitua e elabora teorias sobre sua produção entre os anos de 1954 a 1969. Os textos dos críticos de arte fazem uma análise dessas obras, fazendo com que o leitor tenha um bom entendimento da trajetória de Hélio por meio de suas teorizações e críticas recebidas ao longo de sua vida.

Os textos são arranjados de forma a traçar a trajetória de Oiticica, mostrando seu avanço nas suas idéias artísticas. “Em 15 de janeiro de 1961, Hélio Oiticica anota uma frase em seu diário: ‘aspiro ao grande labirinto.´ Essa misteriosa aspiração é uma das várias portas para se entrar na obra de Oiticica, e sinaliza o interesse do artista em um tipo de arquitetura, labiríntica, que o atrai por ser um espaço estético onde o tempo é também estético, como anotado dois meses depois, no mesmo diário ‘quando realizo maquetes ou projetos de maquetes, labirintos por excelência, quero que a estrutura arquitetônica recrie e incorpore o espaço real em um espaço virtual, estético, e num tempo que também é estético.” (página 30) ●

FAVARETTO, Celso. A Invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: Edusp, 1992. 234 p., il. p&b. (Texto & arte, 6).

Tem como principal objetivo “reconstruir a trajetória de Hélio Oiticica, da experiência visual pura às ‘ordens de manifestação ambiental’ e proposições comportamentais, implica explicitar o sentido de uma atividade experimental exemplar” ( página 15). Nesse livro o Autor Celso Favaretto fala sobre as diversas experimentações feitas por Oiticica, e das obras que surgiram a partir delas. O autor usa trechos de textos escritos pelo próprio artista para complementar e ajudar nas suas análises e questionamentos das obras desde os primeiros guaches (chamados metaesquemas) até o que ele chama de ‘crise da pintura’ que é marcada pela ‘superação do quadro’. Ao longo do tempo, a obra de Oiticica sofre intensidades progressivas do experimental e transforma-se ao longo de múltiplas dimensões, como a cor, o tempo, a estrutura, o corpo, e a participação dos que têm contato com sua obra.

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“Oiticica monta um dispositivo delirante constituído de duas séries: a da produção artística e a do discurso” (página 18).

Em ambas ressalta a coerência do artista. Iniciado no rigor construtivo, sem passar pelo aprendizado

costumeiro,

Oiticica

chega

rapidamente

às

experiências

limite

do

monocromatismo, ao abandono da moldura e ao salto para o espaço real. Segundo Favaretto, Oiticica situa-se no cruzamento de duas grandes linhas artísticas da modernidade: a construtivista e a duchampiana. A experimentação de Oiticica estabelece uma composição original de sentido de construção e desestetização (ou revisão do conceito de estética prevalente naquela época).

Em Oiticica a necessidade estrutural dos quadros, dos relevos neoconcretos e dos penetráveis solta-se. O campo é invadido por ações, pela vida. Supor um público articulado em termos de sensibilidade e informação torna-se básico para que as operações dos artistas tenham a força de transformar o espectador, consumidor ou contemplador em participante.

A obra é a vivência do indivíduo. O artista não é mais um criador de objetos para contemplação mas um motivador para a criação. “A não-narração, que Oiticica aplica às suas pesquisas de ’linguagem audiovisual”’, pode ser estendida também aos textos. Essas experiências são caracterizadas como quase-cinema, pois exploram os efeitos de montagem dinâmica superpostos à projeção de sequência de slides acompanhadas de trilha sonora. Na projeção, produzem-se intervenções livres, assimilam-se interferências acidentais, imprimem-se maior ou menor velocidade na exposição, transformando-se a situação habitual de audiovisual em outra, quase-cinematográfica. Assim como se posiciona contra o texto discursivo, a não-narração rejeita a montagem cinematográfica de efeitos naturalistas que valorizam, principalmente, a linearidade do dialogo.”(página 211)

BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 119 p., il. p&b color. (Temas e debates, 4).

Nesse livro, Ronaldo Brito fala sobre as vanguardas artísticas do concretismo e do

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neoconcretismo. Faz uma contextualização desses movimentos, falando dos artistas e das bases sobre as quais o construtivismo se formou, como o construtivismo soviético, a Bauhaus, De Stijl, entre outros.

Após essa contextualização, Brito fala sobre a ruptura neoconcreta e faz uma comparação entre o concretismo e o neoconcretismo. Ele diz que esses dois movimentos devem ser estudamos juntos, como um par, tendo em vista que o neoconcretismo não é uma continuidade do concretismo, mas sim um ponto de rompimento com as ideologias extremamente racionais concretas do primeiro. “O tempo neoconcreto e fenomenológico, recuperação do vivido, repotencialização do vivido. E nesse sentido ele foi um precursor das tendências dominantes nos anos 60 que representaram um esforço para abolir a distância entre arte e vida.” (página 80) “Permitir a intervenção do espectador quase no sentido de completar os trabalhos, recriá-los, lê-los a cada vez de maneira diversa, viver os instantes de sua produção . Foi o início, sem dúvida, de um processo que levaria alguns artistas neoconcretos a radicalizar a participação do outro em direção ao que Oiticica chamou de ‘vivências´.”(página 69) A etapa2 teve como objetivo avançar no levantamento bibliográfico, selecionando material que tratasse especificamente sobre as Cosmococas. Foram também realizados fichamentos sobre os 3 livros citados acima. “na verdade esses BLOCOS-EXP. são uma espécie de quase-cinema: um avanço estrutural na obra de NEVILLE e aventura incrível no meu afã de INVENTAR- de não me contentar com a ‘linguagem-cinema’ e de me inquietar com a relação (principalmente visual) espectadorespetáculo (mantida pelo cinema-desintegrada pela TV) e a não-ventilação de tais discussões: uma espécie de quietismo quiescente na crença (ou nem isso) da imutabilidade da relação: mas a hipnotizante submissão do espectador frente à tela de super-definição visual e absoluta sempre me pareceu prolongar-se demais: era sempre a mesma coisa: porque?” (OITICICA,1974,p.188)

A Etapa3 deu continuidade aos fichamentos do material selecionado, sendo ele:

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FILHO, Cesar O. ; HERKENHOFF, Paulo ; MACIEL, Katia . Cosmococa programa in progress , Projeto Hélio Oiticica : Fundação Eduardo F. Costantini: Centro de Arte Contemporânea de Inhotim (2005)

Este livro é uma produção do centro de arte contemporânea de Inhotim. O livro contém muitas fotos das obras Cosmococas lá instaladas, bem como imagens do processo de elaboração dos slides e imagens escaneadas dos textos explicativos das Cosmococas feitos por Oiticica.

O livro também conta com uma seleção de textos de diversos autores falando sobre as cosmococas, dando assim muitos pontos de vista sobre as obras. O uso da cocaína nas obras é um assunto recorrente nos textos, os autores falam sobre a presença da cocaína explicando o contexto em que a obra se inseria e dando a esse ‘material’ utilizado a sua verdadeira importância no contexto de sua época: “a cocaína é a matéria escolhida pelos artistas para a composição das Cosmococas. Este cosmos,no entanto, não se confunde com os aspectos da miséria e da violência hoje manipulados pelo trafico de drogas. Na década de 70 quando estas experiências foram pensadas, o uso do pó branco dava materialidade à irrelevância de artistas que não queriam ser confundidos com os sistemas dominantes da arte e do cinema. O branco sobre o branco a que Hélio se referia não é fundo, mas primeiro plano de uma série de experiências que não fazem apologia da droga, da mesma maneira que Baudelaire também não fazia o elogio do haxixe, apenas nos inundava com suas sensações, ao nos desviar dos comportamentos instruídos.” (MACIEL, 2005: p.288) “o suprasensorial é uma proposição aberta ao participador da obra para elaborar as próprias sensações fora de todo condicionamento. O deslocamento do campo de experiência conhecido para o desconhecido provoca uma transformação interna nas sensações do participador, afetando em profundidade sua estrutura comportamental. Mais do que um novo conceito de arte , o Suprasensorial surge como um novo conceito de vida. Em uma carta escrita para Guy Brett, Hélio afirma ‘o Suprasensorial tornou-se um ponto claro para mim, sinto que a vida em si mesma é o seguimento de toda experiência estética’” (MACIEL,2005, p.286) “Em 1973, as cosmococas são um modelo de ruptura com algumas formas na relação da arte moderna com o crime e com a tradição moral ocidental a respeito do ‘tóxico’. Neville e Oiticica

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faziam referências diretas às cerimônias com a coca dos incas e quéchuas. Para o primeiro, a cocaína tinha certo teor utópico, pois era ‘a dimensão latino americana da obra’ e, para o segundo, ‘coisa de nobreza incaica’, numa perspectiva idealizada.” (HERKENHOFF, 2005,p.241) ●

MARQUES, Priscila G. Título: Lygia Clark e Hélio Oiticica: do “nao-objeto” ao “nãodesign”. Novembro de 2012. 238 páginas. Memorial de qualificação de mestrado não publicado, fornecido pelo orientador. Programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo-USP São Carlos.

O conceito principal gira em torno da produção artística de Helio Oiticica e Lygia Clark e a comparação desses dois artistas.

A mestranda escreve sobre a sua experiência quando visitou as Cosmococas, importante ponto de vista de alguém que foi vivenciar essas obras que foram feitas por Oiticia com esse propósito. Ela coloca que devemos refletir sobre “a eficácia destes trabalhos dentro de galerias e museus, pois apesar de contar com uma boa estrutura física eles acabam traindo o sentido e a intenção renovadora do artista. A autora disserta sobre a influência de pensadores como Merleau-Ponty e Michael Foucalt sobre a produção do artista e também a influência de outros artistas como Lygia Clark. O texto aproxima a obra desses dois artistas, ressaltando semelhanças, uma vez que ambos queriam renovar a prática artística e o espaço pictórico, além de que ambos faziam parte do neoconcretismo.

CARNEIRO, Beatriz S. Cosmococa - programa in progress: heterotopia de guerra (2006) texto disponível no site : http://www.nararoesler.com.br/textos/helio-oiticica

Em seu texto, Beatriz Carneiro faz uma leitura pormenorizada das Cosmococas, analisando sua produção e sua montagem em detalhes. A autora aborda essas obras desde o momento em que surgiram as primeiras idéias em conversas casuais de Oiticica com o cineasta Neville D’Almeida, até a forma com que elas são montadas nos dias de hoje.

As obras foram criadas entre os anos de 1973 e 1974, quando Oiticica e Neville se reencontraram na cidade de New York, onde Oiticica estava vivendo em exílio voluntário por

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conta da ditadura opressora pela qual o Brasil passava.

Beatriz Carneiro segue falando sobre heterotopias: “Heterotopia consiste em um conceito procedente das ciências biológicas e médicas, indicando órgãos ou tecidos que ocupam outros espaços que não aqueles que lhes seriam destinados. Foucault

empregara

esse

termo

inicialmente

em

questões

ligadas

à

linguagem.”(CARNEIRO,2006) De acordo com a autora, as heterotopias são locais “reais experimentáveis” onde a vida social pode tomar rumos diferentes e incentivar diferentes percepções e comportamentos das pessoas. Esses espaçoes de contrapõe ao espaço cotidiano pois são uma ruptura na vida ordinária. “Cosmococa - programa in ‘progress’ pertence à série das heterotopias de realizações libertárias. Amplia a noção de heterotopia para fora de uma perspectiva estritamente espacial ao programar uma experiência do tempo por meio da vivência de ritmos. Não um tempo utópico de um ‘futuro melhor’ ou referente ao passado, mas ao tempo do que se desenrola naquele espaço, vivenciado no ato de mover-se desacelerado em redes e chão de espuma, ou lixando unhas, ou dançando ou rolando em areia plastificada, acompanhando ou não música e imagens. Estas “caixas de imagens” fazem com que se experimente o tempo quase como no cinema.”

(CARNEIRO,2006)

O texto foi importante para o levantamento de informações detalhadas acerca de cada uma das Cosmococas, esclarecendo a criação, as parcerias, os materiais utilizados e as sensações proporcionadas por cada uma delas. ●

BRAGA, Paula. Hélio Oiticica e Neville D´Almeida - CC4 NOCAGIONS/Blockexperiments in Cosmococa - programa in progress(2006)texto disponível no site : http://www.nararoesler.com.br/textos/helio-oiticica

Paula Braga retoma a história das cosmococas, falando sobre parceria de Neville com Hélio Oiticica e suas idéias comuns de ‘não-narração e não-discurso’.

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“A fragmentação do cinetismo e a ilusão de “live action” são o cerne da pesquisa de Oiticica e D´Almeida sobre cinema. Cortar o cinema em seqüências de slides como pontos discretos e não como uma curva contínua quebra a ilusão criada pela projeção de 24 quadros por segundo. A “live action” no quasi-cinema depende do movimento do participante, ação real, ou duração, como articulado por Bergson. O quase-cinema de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida é uma reinvenção do cinema feita na concretude do corpo” (BRAGA, 2006) Ela problematiza o uso da cocaína e fala sobre o ‘suprassensorial’ de Oiticica descrito acima. O texto traz uma visão geral das Cosmococas e faz foco especificamente na CC4 Nocagions. A autora descreve a CC4 com mais cautela, usando-a como um exemplo da questão com a cocaína que ela coloca: “Cosmococa CC4 Nocagions é a mais branca das cinco CCs que Oiticica e D´Almeida planejaram juntos. John Cage – cuja obra Silence Oiticica havia lido – aparece na capa branca de seu livro Notations e nas peças para piano preparado que Oiticica e D´Almeida escolheram para a trilha sonora. CC4 Nocagions também homenageia Malevich, cujas pinturas de branco sobre branco aparecem recorrentemente nos escritos de Oiticica como sinônimos de invenção, a procura incessante pelo novo. “(BRAGA, 2006) Etapa 4 Consistiu da elaboração do relatório parcial.

Etapa 5: Visita a Inhotim para o levantamento de dados sobre as cosmococas, através de entrevistas, fotografias e vivência das obras.

Etapa 6: Continuação da Pesquisa, seleção e leitura de textos recentes que tratam especificamente sobre as Cosmococas. 

MARZLIAK, Natasha. Hélio Oiticica, quasi-cinemas e as relações com a videoinstalação contemporânea. Dissertação de mestrado-Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. Campinas 29-08-2012

A autora faz uma breve apresentação sobre a vida de Oiticica e suas proposições artísticas durante sua vida. O foco principal da tese são as obras de quasi-cinema produzido por Oiticica

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entre os anos 60/70. Sendo assim ela fala sobre as obras cinematográficas que influenciaram o artista nessa época, assim como os pensamentos do cinema marginal. “Os cineastas do Cinema Marginal, cujos contornos da estética e da ética confluíam com as ideias de Oiticica em relação ao dispositivo-cinema, se contrastavam com o Cinema Novo, ao mesmo tempo se aprofundavam, de forma mais radical, em algumas questões semelhantes, como, por exemplo, a “estética da fome” e a fragmentação da narrativa. Assim, prosseguiram com o caráter experimental do Cinema Novo, mas sem escrúpulos morais e muito mais agressivos, pois mostravam o horror, as torturas físicas, as imagens vis e imundas, aproximando-se de uma visão de antropofagia proposta pelo Tropicalismo da década de 1970:”( MARZLIAK,2012, p.17)

Hélio Oiticica mostrava-se descontente (pelos escritos e cartas que trocou com Lygia Clark) com a posição do espectador frente à tela de cinema. Ele dizia que o cinema propunha efeitos naturalistas que valorizavam a narrativa linear e previsível. Em sua busca por uma experiência expandida de arte, com participação corporal e sensória do público, queria uma aproximação gradativa com o domínio cinematográfico e uma abordagem diferente. Sendo assim, Hélio participou e propôs diversos “quasi-cinemas” entre as décadas de 60/70 . Neyrotica é um exemplo dessa produção. Com duração de 90 minutos, o filme era formado por fotos de garotos dentro das obras “ninhos” de Oiticica. “Cada ensaio tem uma estética única: climas, cores, luzes e mesmo a reação de cada modelo é diferente. Os corpos desintegrados pela máquina fotográfica são depois reconstruídos – de forma não-linear – pela projeção de slides. O ambiente criado pelas inúmeras projeções nas paredes oferece ao público a sensação de estar experimentando uma animação, pois cada slide mostra uma parte diferente do corpo, em diversos enquadramentos, explorando ângulos inabituais” (MARZLIAK,2012, p.26) Na mesma época em que idealizou as Cosmococas, Oiticica escreveu o texto “manguebangue” sobre o filme dirigido por Neville, fonte de análise para seu projeto. Nesse texto Oiticica mostra grande interesse em investigar cinema. “O filme Mangue-Bangue teria chegado ao limite do experimental, pois não se embasava na

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forma e na função do cinema que se fazia antes e do que se vinha fazendo naquele momento, ao mesmo tempo em que não pretendia instaurar uma nova linguagem para o mesmo. Estabelece-se, portanto, como um filme atemporal e desprovido de referências, podendo ser considerado com algo realmente novo. O prazer, o “joy”, os blocos que são completos em si mesmos, mas que juntos, justapostos, formam um programa em progresso, eram características principais no cinema de Neville e que ajudariam a formar, mais tarde, o programa Cosmococas.” (MARZLIAK,2012, p.25) Oiticica não achava necessidade de representar o cotidiano e o dia a dia de forma tão fiel como o cinema estava fazendo. Para o artista, era preciso contemplar o filme como sendo uma obra de arte, e não uma imitação do cotidiano, uma obra criativa e aberta ao improviso, criando assim uma relação participativa com o público. “Alimentado pelo contexto urbano em que estava inserido, pelo êxtase da cocaína, pelo rock, e questionando a representação em arte, o cinema narrativo e a posição apenas contemplativa do espectador, Hélio Oiticica propôs espaços sensoriais através dos suportes cinema, fotografia e som, construindo seu programa de invenção que desembocou na Arte Ambiental para participação coletiva. Trata-se de instalações multimídia, de experiências quasecinematográficas, obra aberta cujos sintomas ressoam na videoinstalação contemporânea, substancialmente ao tensionar discussões concernentes à participação corpórea e sensorial do público, através do espaço-ambiente, da presentificação do tempo e do abandono do objeto acabado, enfatizando, assim, o processo. Nas palavras do artista: “Como soltar o CORPO no ROCK e depois prender-se a cadeira do numb-cinema?” (OITICICA, 1996, p.177)” ((MARZLIAK,2012, p.71)

Leffinggell, Edward. Hélio Oiticica : Myth of the out law Magazine article from art in America (2002)

Esse texto tem como objetivo apresentar a exibição das quase-cinemas de Oiticica no New Museum of Contemporary Art de Nova Iorque realizada em 2002, com curadoria de Carlos Basualdo. Nessa ocasião, foram expostas quatro Cosmococas, assim como Neyrotica (outro trabalho de quasi-cinema de Hélio Oiticica).

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Explica brevemente ao público sobre as obras, contextualizando-as e também falando sobre a vida do artista.

Araujo, Ines. Do experimental informe ao Quase-cinema , observações sobre “cosmococa-programa in progress” de Helio Oiticica 1° edição, LUGAR COMUM Nº25-26, pp. 257-269(2008).

A matéria tem como enfoque principal a experiência quase cinematográfica proporcionada pelas Cosmococas. A autora explica e descreve como as Cosmococas foram feitas e o impacto que causaram no mundo da arte e do cinema da época. “Distinguindo-se, em primeiro lugar, por suprimir como finalidade expressiva a criação de objetos, o caráter experimental do trabalho de Hélio Oiticica foi paradoxalmente oposto à tendência geral de desmaterialização e dessubjetivação da arte. Traços que caracterizaram muito da orientação tomada por parte expressiva dos movimentos antiarte, underground e contracultura da sua geração, que despontavam nos anos 60/70.” (ARAÚJO,2008, p.257)

No texto, a autora dá grande importância à análise do público participante, avaliando a importância do corpo, com suas sensibilidades e movimentos dentro da obra em questão, que no caso só se “finaliza” quando o corpo do participante entra em cena. “Sinal de uma relação perceptiva e ambígua com o mundo, o corpo é esse lugar paradoxal a partir do qual surgem todas as distâncias, ainda que seja inseparável da cena que inaugura. Sem distância outra de seu próprio horizonte senão a que se funde com suas próprias sensações e trajetórias perceptivas. O corpo em questão, antes relativo à própria experiência perceptiva, atual e inatual, eminente e imediata, menos do que uma forma, irredutível a qualquer de suas projeções, abstrações, representações e ações, sede de todos os fenômenos, transborda qualquer totalidade. É para esse corpo fenomenológico que a própria efemeridade, transitoriedade e precariedade das construções experimentais do artista parecem apontar, objetivando razões do corpo.” (ARAÚJO,2008, p.266) 

SMALL, Irene. One thing after another- how we spend time in Hélio Oiticica’s Quasi Cinema(2008)

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Irene Small começa seu texto usando o exemplo de Paulo Freire, um educador brasileiro que ensina um novo meio de reconhecer combinações linguísticas criando-as, ao invés de apenas reconhecê-las. Esse meio de criar combinações linguísticas foi a base para os poemas neoconcretos. Ela usa o exemplo (TIJOLO): a partir dessa palavra pode-se fazer formações aleatórias com as sílabas de algo que tenha a ver com seu cotidiano. Um pedreiro que aprende a ler tijolo tem melhor noção do que isso representa na vida dele. Oiticica e Freire tinham como objetivo a “libertação” de suas áreas de atuação através da participação. Para Freire, mudar a hierarquia de professor e aluno com um diálogo colaborativo. Para Oiticica, rejeitar o público passivo para dar lugar a um público que participa da criação da obra. Em 1960, Hélio inicia suas experiências cinematográficas quando ainda morava no Rio de Janeiro participando como ator no filme Câncer, de Glauber Rocha que foi filmado no jardim da casa do próprio Oiticica. O artista faz a sua primeira experiência que liga claramente cinema e comportamento.

De acordo com a autora, Freud (um grande conhecedor da cocaína) dizia que quando o homem pré-histórico passou a ter uma postura ereta, a visão passou a ter maior importância do que o olfato. De acordo com Irene Small, as Cosmococas fazem o homem regressar a sua posição antiga, e é convidado a “ver com o nariz”, pela presença de cocaína nas obras. Em algumas das Cosmococas, Oiticica propõe que o participador use a droga antes da experiência. O espelho é um elemento que aparece em quase todas as Cosmococas e, de acordo com a autora tem diversos significados. É um objeto temporal absoluto, uma câmera que capta tudo, mas não deixa nenhum registro de comportamento no tempo (o espelho é também uma superfície lisa muito utilizada para cheirar cocaína). Irene Small segue seu texto fazendo comparações e análises sobre as simbologias dos elementos presentes nas fotografias das Cosmococas.

Etapa 7: Pesquisa, seleção e leitura de textos recentes que retomam as Cosmococas para pensar a arte contemporânea.

Etapa 8: Organização do material e Elaboração do relatório final da pesquisa.

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7) Bibliografia

LIVROS:

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contemporânea. Dissertação de mestrado-Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. Campinas 29-08-2012 MORAES,Marcia Martins Rodrigues Entre o museu e a praça: o legado de Lygia Clark e Helio Oiticica. Dissertação de mestrado-Universidade Estadual de Campinas.

Instituto de

Artes. Campinas 30-06-2006 LOPES, Ana Carolina Fróes Ribeiro. A cidade sob a poética do andar : as deambulações de Hélio Oiticica. Tese se doutorado-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo IAU USP. São Carlos-2012 MATARAGA, Francesca . Color, Space, Composition: painting in the expanded field. Tese de doutorado -College of Fine Arts- University of South Wales-2012 JANUARIO, Elizete Terezinha

Arte para o corpo: vivenciar, perceber e sentir a arte

contemporânea brasileira. Dissertação de mestrado-Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Artes. Campinas 31-08-2006 ELIAS,Tatiane de Oliveira .Hélio Oiticica: crítica de arte. Dissertação de mestrado – Universidade Estadual de Campinas- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas . Campinas, 2003. GRUBERT, Sara Cristiane Jara .Oiticica: limites de uma experiência limite . Dissertação de mestrado-USP- Escola de Engenharia de São Carlos . São Carlos, 2006. MOTTA,Gustavo M. V. No fio da navalha - diagramas da arte brasileira: do programa ambiental à economia do modelo. Dissertação de mestrado-USP-Escola de comunicação e artes . São Paulo,2011 BRAGA, Paula P. A trama da terra que treme: multiplicidade em Hélio Oiticica.Tese de doutorado-USP-Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas . São Paulo,2007 FUREGATTI,Sylvia H. Arte e meio urbano. Elementos de formação da estética extramuros no Brasil. Tese de doutorado –USP, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, 2007 SILVA, Cinara de Andrade. Hélio Oiticica-arte como experiência participativa. Dissertação de Mestrado – UFF, Instituto de arte e comunicação social. Niterói, 2006 Braga, Paula. Hélio Oiticica: Nietzsche ubermensch in the brazilian slums, Dissertação de Mestrado ,Illinois (1999) MARQUES, Priscila G.

Título: Lygia Clark e Hélio Oiticica: do “nao-objeto” ao “não-

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REVISTAS: CARNEIRO, Beatriz S. Jardins quase cinema: cinco blocos - experiência em cosmococaprograma in progress de Helio Oiticica e Neville de Almeida. AISTHE, v. 6, n.9, 2012 BARRY, Schwabsky Art from Brazil in New York, Artforum internacional, vol.33, pagina. 10 Sundell, Margaret. Hélio Oiticica “quasi-cinemas”: Wexner Center, Colombus, Ohio Magazine article from Artforum Internacional, vol.40, no.6 Small, Irene V. Material remains: Irene V Small on the Afterlife of Helio Oiticicas Work Magazine article from Artforum Internacional, vol.48, no.6 Leffinggell, Edward .Helio Oiticica : Myth of the out law Magazine article from art in America (2002) Araujo, Ines .Do experimental informe ao Quase-cinema , observações sobre “ cosmococa-programa in progress” de Helio Oiticica 1° edição, LUGAR COMUM Nº25-26, pp. 257-269(2008). TEXTOS: Small, Irene. One Thing After Another: How We Spend Time in Hélio Oiticica’s QuasiCinemas .USC Journal of Film and Television Criticism, “The Instant”, ed. René T. Brucker Vol 28 N 2 (2008) 73-89. ROESLER, Silvia. Hélio Oiticica: painting Beyond the Frame (2008) MACIEL, Kátia. “‘O cinema tem que virar instrumento’. As experiências quasi-cinemas de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida”. In: BRAGA, Paula. Fios Soltos: a arte de Hélio Oiticica. São Paulo:Perspectiva, 2007 BRAGA, Paula. O quadro virou praça. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 4, no 39, dez. 2008 , p. 72 - 77. FAVARETTO, C. F. . Vanguarda brasileira, Hélio Oiticica. Porto Arte (UFRGS), Porto Alegre, v. 4, n.7, p. 27-42, 1993. FAVARETTO, C. F. . Oiticica Excêntrico.. Guia das Artes, São Paulo, v. 7, n.30, p. 22-25, 1992. Victor Manuel Rodriguez-Sarmiento, Cold War Legacies Otherwise:Latin American Art and Art History in Colonial Times (2009) FAVARETTO, C. F. . Inconformismo Estético, Inconformismo Social, Hélio Oiticica.. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 4, n.8, p. 151-158, 1990.

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Exposicões cosmococas:

1992- Rotterdam (Holanda)- museu Witte de with contemporary art 1994 - São Paulo SP - Bloco - Experiências in Cosmococa - Programa in Progress, Galeria de Arte São Paulo 1998 - de Janeiro RJ- Centro Hélio Oiticica 2001- Colônia ( Alemanha) - “helio oiticica: quase cinemas” kolnisher kunstverein 2001-New York (Estados Unidos )- “helio oiticica: quase cinemas”

New Museum of

Contemporary Art 2001- Ohio (Estados Unidos)- “helio oiticica: quase cinemas” wexner center for the arts 2002 – Londres ( ingraterra) - “helio oiticica: quase cinemas” whitechapel gallery 2003 - São Paulo SP - Momentos Frames, Cosmococa II, Galeria Fortes Vilaça 2003 - São Paulo SP - Cosmococa - Programa in Progress, Pinacoteca do Estado 2003 - São Paulo SP - Momentos Frames, Cosmococa, Galeria Fortes Vilaça 2003- Rio de Janeiro RJ -‘Movimentos Improváveis: o efeito cinema na arte contemporânea’. Centro Cultural do Banco do Brasil 2005 - Rio de Janeiro RJ - Cosmococa, no Centro de Arte Hélio Oiticica 2005 - Buenos Aires, Argentina- Helio Oiticica / Neville d'Almeida: Cosmococa Programa in Progress, Colección Constantini, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires 2006 - Nova York (Estado Unidos) - Cosmococa - Programa in Progress - Quasi-Cinema CC1 Trashiscapes, na Galerie Lelong 2007-Hélio Oiticica & Neville D'Almeida, Cosmococa Programma In Progress - Quasi-Cinema CC1 Trashiscapes, Alison Jacques Gallery, London, UK 2010- São Paulo SP- Itaú Cultural- exposição Museu é o Mundo. 2011- Los Angeles (Estado Unidos) -Suprasensorial: Experiments in Light, Color, and Space The Museum of Contemporary Art, (MOCA) 2012- Ney York(Estado Unidos) - Suprasensorial: Experiments in Light, Color, and Space Hirshhorn 2013-COSMOCOCA Programa in Progress: Hélio Oiticica/Neville d'Almeida, Hamburger Bahnhof - Museum für Gegenwartskunst, Berlin, Germany

SITES:

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__________ Parangolé Síntese, 1972. AHO 201.72. 108 __________ Yoko Ono and Grapefruit, 1973. AHO 0292.73 e PHO 189/73. __________ ntbk 1/73, 1973. PHO 316/73. __________ ntbk 2/73, 1973. PHO 189/73. __________ Rap in Progress, 1973. PHO 0393/73. __________ Cosmococa: as drafted and synthetized for inclusion in Newyorkaises, outubro/1973 a fevereiro/1974. PHO 0311/73. __________ Ubercoca, 1973. AHO 0267.73-p2. __________ Mundo-Abrigo, 1973. AHO 194.73. __________ Cosmococa – programa in progress, 1974. AHO 0180/74 __________ Carta para Waly Salomão, 23/01/1974. AHO 318.73. __________ Branco no Branco, 1974. PHO 0148/74 __________ Vendo um filme de Hichcock, ‘Under Capricorn’, 1974. PHO 0318/74. __________ Texto feito a pedido de Daisy Peccinini como contribuição para uma publicação sobre o objeto na arte brasileira nos anos 60, 1977. PHO 101/77. __________ O Outro lado do Rio, 1978. PHO e AHO 0092.78. __________ Anotações sobre o Ready-constructible, 1978. PHO 0088/78. __________ Anotações Conta-Gota (para livro de Antônio Manuel sobre o corpo e implicações na arte, etc.), 1978. AHO 0091.78. __________ O q faço é MÚSICA, 1979. AHO 057.79. __________ À busca do suprassensorial. PHO. Tombo: 0192/67. __________ MANGUE BANGUE, de Neville d'Almeida, 1973. PHO 0477/73. __________ CC1 TRASHISCAPES, 1973. PHO 0300.73. __________ CC2 ONOBJECT, 1973. PHO 0443/73. __________ CC3 MAILERYN, 1973. PHO 0444/73. __________ CC4 NOCAGIONS, 1973. PHO 0445/73. __________ CC5 HENDRIX-WAR, 1973. PHO 0058/73. __________ CC6 COKE * HEAD’S SOUP / - a parody / GOAT'S HEAD SOUP, 1973. PHO 0318/73. __________ CC8 MR. D ou D DE DADO, 1973. PHO 0318/73. __________ SÉRIE DILMEN MARIANI 2 / CRELAZER, 1969. PHO 0367/69 __________ PARANGOLÉ-SÍNTESE, 1972. PHO 0201/72. __________ NEYRÓTIKA, 1973. PHO 0480/73. __________ DE HÉLIO OITICICA PARA BISCOITOS FINOS, 1979. AHO 0057.79.

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__________ Sem Título, 1976. PHO 0173/76. __________ ESQUEMA GERAL DA NOVA OBJETIVIDADE, 1966. PHO 0110/66

http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/3204 http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/3236 http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/4085 http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/4261 http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/4514

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biogr afia&cd_verbete=2020&cd_item=34&cd_idioma=28555 https://www.revistas.ufrj.br/index.php/Aisthe/article/view/291/310 Frieze magazine. URL: http://www.frieze.com/issue/review/helio_oiticica/ https://d7ba7d7b41snf.cloudfront.net/artist-0/105/2440-4d1w6m/source.pdf

http://www.afterall.org/journal/issue.28/tropicamp-pre-and-post-tropic-lia-at-once-somecontextual-notes-onh-lio-oiticica-s-1971-te

http://www.nararoesler.com.br/textos/helio-oiticica Há neste site textos de: Paula Braga - 2006 Beatriz Scigliano Carneiro - 2006 Cesar Oiticica Filho - 2006 Kátia Maciel - 2006 Cesar Oiticica Filho - 2003

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