Gramática Normativa Sintetizada

Page 1

GRAMÁTICA NORMATIVA SINTETIZADA

e l a b o r a ç ã o d e J Ú L I A D E O L I V E I R A A LV E S P O R T E L L A e JÚLIA SOUSA MARTINS projeto gráfico de CLARISSA REIS

2018


C A P Í TU L O 1 Desde os primórdios da humanidade, há a necessidade de expressão daquilo que se pensa, sente ou quer comunicar. Prova disso é a existência de diferentes línguas, pinturas, danças, músicas, números, desenhos e demais signos que podem ser utilizados para expressar uma ou mais mensagens. As mensagens podem ser meramente corriqueiras, como também representar ideologias de um povo, o que você pensa de si mesmo ou do mundo, registro do que houve, há e há de haver. Dessa maneira, o homem, desde sua forma evolutiva mais primária, desenvolveu mecanismos de se conectar a outros seres, como através da domesticação de animais ou o estabelecimento de relações de comércio com outros humanos. O homem desenvolveu dois tipos de linguagem: verbal e não-verbal. A linguagem verbal é aquela que se utiliza de palavras para ser efetivada, ela é sustentada por uma língua, a qual corresponde a um mecanismo de comunicação baseado em um número finito de partículas que pode ser reconfigurado de infinitas maneiras através da fala, e que possui uma série de regras para que funcione adequadamente. Já a linguagem não verbal necessita de signos que não correspondam a palavras, portanto é formada por signos não verbais. Nessa apostila, trabalharemos, primordialmente, com a linguagem verbal, ainda mais especificamente, com o modo de funcionamento da Língua Portuguesa. O português é uma língua que deriva do latim, não o latim literário, mas o latim imperial, vulgar, aquele falado pela maior parte da população, pela massa, pelos soldados, os quais foram responsáveis por implantar a língua latina em uma grande área do planeta através das conquistas do Império Romano. Mesmo sendo considerada uma estratégia perfeita para a unificação de um povo impor-lhe a mesma língua, isso não garante que não se desenvolvam variações linguísticas, que são atualizações da língua que ocorrem através da fala, pois a língua é algo vivo, móvel, maleável, heterogêneo, que tem sua estrutura permanentemente mudada de acordo com as necessidades

Capítulo 1

que surgem durante a comunicação entre seus falantes. Por isso postulou-se que as variações linguísticas – toda e qualquer forma de dizer a mesma coisa sob a mesma prova de verdade, mas de formas diferentes – podem ocorrer de acordo com três condições: diatópicas, diastráticas e diacrônicas. As diatópicas correspondem às variações que se estruturam pela localização geográfica, diastráticas são aquelas tidas pelas condições sociais de seus falantes e diacrônicas são aquelas que se desenvolvem devido ao aspecto temporal. Mas a forma mais fácil de pensar é que as pessoas falam de modos diferentes de acordo com uma série de fatores, que podem ser pela cultura em que estão inseridas, pelas condições socioeconômicas e escolares que possuem, pelo ambiente em que estão, pelo grau de formalidade que a situação exige, assim como pela intenção que possuem ao produzirem determinado discurso. É preciso ter em mente que toda e qualquer variação linguística é igualmente importante e complexa para a determinação da identidade da língua, como também toda língua, independentemente de sua origem, do grau de desenvolvimento urbano de seus falantes e de sua importância no panorama sócio-político-econômico mundial, possui uma estrutura complexa e importante para qualquer análise no âmbito linguístico, visto que se ela atende às necessidades comunicativas de seus falantes, isso basta. Desse modo, é preciso delinear nossos olhares e nossos ouvidos com a tolerância. Muito se escuta expressões como “erros de português”, é necessário desmistificar a língua portuguesa, autenticar todas as suas variações, legitimar toda forma de expressão linguística, pois não há como designar algo como “certo” ou “errado” quando a mensagem chega ao receptor de maneira coesa, clara e compreensível. Por isso é preciso entender o que é norma-padrão, norma-culta ou gramática normativa, porque isso influencia diretamente no modo como se enxerga o mundo, como também no modo como se encara e se coloca diante daquilo que é diferente do que somos. Falar da língua é falar de humanidade. Entender como me

•2


expresso é entender como penso. Desvendar o que penso é me encontrar. A norma-padrão é aquela que foi definida como a forma mais pura, correta e canônica de se falar português. Entretanto, ninguém fala de acordo com a norma-padrão, pois ela reúne uma série de estruturas que já caíram em desuso há muito tempo no Brasil, mas que permanecem vivas apenas nesse recanto da perfeição linguística. Nem mesmo os falantes acadêmicos seguem a norma-padrão, pois a língua mudou, as expressões se atualizaram, os usos se ampliaram. Dá-se a variação linguística utilizada por indivíduos letrados, que utilizam demasiadamente a escrita científica no cotidiano e têm formação superior, o nome de norma-culta. Essa é a língua em sua forma mais tradicional realmente utilizada na atualidade, livre de idealizações e utopias. Diante de todas essas informações, a nossa mente, condicionada socialmente a valorizar a norma-padrão em detrimento de outras variedades, provavelmente está um pouco confusa, principalmente no que diz respeito ao que a escola deve se propor a ensinar aos alunos. O que concerne à escola é criar condições para o desenvolvimento de um aluno letrado. O letramento não está restrito ao saber escrever e ler, pois abrange e amplia todas as capacidades comunicativas do indivíduo. Portanto o letramento é a formação de um aluno que saiba ler, escrever, escutar, falar, compreender e respeitar as variedades linguísticas, resumidamente, é capacitar o indivíduo a se comunicar adequadamente em qualquer tipo de situação e sob qualquer condição social.

Todo e qualquer falante do português brasileiro é igualmente importante no processo de atualização da língua, isso significa que é preciso desenvolver uma autoestima linguística e cultural nos falantes brasileiros, desvencilhar suas ideias linguísticas das teorias eugênicas e de visões eurocêntricas, descolonizar a língua brasileira e assumir que sua formação se deu pelo encontro de diferentes povos – indígenas, africanos, europeus. Por fim, é preciso que pensemos sobre os novos (não tão novos) papéis que a língua adquiriu, isso é, pensar na língua não só como mais um mecanismo de comunicação, mas como um instrumento de manutenção de poder, privilégios, dominação, controle e emudecimento. Sendo assim, quando nos dizem que a forma como dizemos é errada, estão tentando apagar nossas identidades. Quando não nos reconhecemos mais, já nem somos mais ninguém, nem pra gente, nem pra eles.

A TI V I

L I V RO :

CO M P L

EMEN “ TA R – Mar Preconce ito Lin cos B agno guíst ico” D O C UM E

N

em P TÁ R I O : “Lí n o Lope rtuguês” – gua – Vida s s 2004 , Victo r FI L M E : “ 1998, Central d o dirigi do po Brasil” – escrit r Wal o por ter Sa João Carne lles, E iro e Marc manuel os Be rnste in

Isso nos permite desconstruir o paradigma de que “linguistas defendem que os alunos falem errado”. Em primeiro instante, é preciso reforçar que não há formas erradas de falar, mas formas diferentes. Em seguida, é preciso elevar a discussão a um patamar que traga as verdadeiras reivindicações dos linguistas, as quais são, primariamente, a elevação da norma-culta à norma-padrão com posterior descrição numa nova gramática do português brasileiro, a qual, certamente, será ensinada aos alunos durante o curso de português nas escolas juntamente ao ensino de outras variedades linguísticas com visão sempre voltada à formação de alunos adaptáveis linguisticamente.

Capítulo 1

DADE

•3


Árvore genealógica das línguas existentes no mundo

A obra Abaporu de Tarsila de Amaral, pintada em 1928, é um claro exemplo de linguagem não-verbal.

Vênus neolíticas – esculturas que possivelmente retratavam a f igura de uma mulher que representava a mãe natureza repleta de fertilidade e abundância, ou eram representações das próprias mulheres da época sob uma perspectiva de si mesmas

Retrato da escrita cuneiforme, primeiro registro de escrita no mundo, criado pelos sumérios.

Capítulo 1

Pintura rupestre no Piauí, no Parque Nacional Serra da Capivara

•4


Etnia

Chico Science & Nação Zumbi ( Af rociberdelia )

Somos todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa etnia. Todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa etnia. Índios, brancos, negros e mestiços Nada de errado em seus princípios. O seu e o meu são iguais Corre nas veias sem parar. Costumes, é folclore, é tradição. Capoeira que rasga o chão Samba que sai da favela acabada É hip hop na minha embolada. É o povo na arte, é arte no povo E não o povo na arte, de quem faz arte com o povo. É o povo na arte, é arte no povo E não o povo na arte, de quem faz arte com o povo. Por de trás de algo que se esconde Há sempre uma grande mina de conhecimentos e sentimentos Não há mistérios em descobrir O que você tem e o que gosta Não há mistérios em descobrir O que você é e o que você faz

Capítulo 1

•5

Maracatu psicodélico. Capoeira da pesada. Bumba meu rádio. Birimbau elétrico. Frevo, samba e cores. Cores unidas e alegria. Nada de errado em nossa etnia!


C A P Í TU L O 2 CLASSES GRAMATICAIS

com muita ordem, andando de cá para lá e de lá para cá, exatinho como gente numa cidade comum.

As palavras de uma determinada língua são divididas em conjuntos denominados classes de acordo com seus comportamentos funcionais. Há classes que são variáveis – passíveis a mudanças de sua forma – e outras invariáveis – que se mantêm estáticas independentemente das condições em que estiverem.

— Que bairro será esse? — perguntou Narizinho. — Um muito importante — o bairro dos NOMES, ou SUBSTANTIVOS. — Que emproados! — observou Emília. — Até parecem as Vogais da terra do alfabeto.

As classes variáveis são: substantivos, artigos, adjetivos, numerais, pronomes e verbos. Já as invariáveis são essas: advérbios, preposições, conjunções e interjeições.

— E são de fato as Vogais das palavras. Sem eles seria impossível haver linguagem, porque os Substantivos é que dão nome a todos os seres vivos e a todas as coisas. Por isso se chamam Substantivos, como quem diz que indicam a substância de tudo. Mas reparem que há uns orgulhosos e outros mais humildes.”

Substantivos Os substantivos são as palavras que nomeiam os seres, qualidades, estados e ações. Os seres podem ser vivos, materiais, espirituais, mitológicos, fictícios ou religiosos. Não se podem confundir substantivos que nomeiam qualidades com os adjetivos, pois os substantivos fazem isso de maneira geral, global e integral, é a qualidade pela qualidade, como por exemplo, a beleza, feiura, inteligência ou esperteza. Essa confusão também não pode ser feita com os substantivos que designam estados, pois são nomeações de estados por si só, comuns a todos, tais como, tristeza, alegria, felicidade e desânimo, assim como com os substantivos que determinam ações como abraço, suspiro, beijo. Uma forma mais fácil de entender é pensar que essas três últimas denominações se referem a qualidades, estados e ações que mesmo dependendo de outros seres para existirem, pode ser nomeadas independentemente deles através de substantivos abstratos como conceitos. A tristeza é a tristeza. Não precisamos ver alguém triste para saber o que é tristeza, mas só sabemos o que é tristeza porque algum dia nos sentimos tristes ou vimos alguém triste. Indicação de livro: Emília no País da Gramática – Monteiro Lobato “Oh, ali era outra coisa! Ruas varridas, sem mato e com “grilos” nas esquinas. Grande número de palavras moviam-se

Capítulo 1

Classificação dos substantivos Comuns: são aqueles que nomeiam um ser de maneira genérica, sem especificações, um ser qualquer de determinada espécie. Exemplos: cachorro, lápis, livro, porta, menino.

Próprios: são aqueles que especificam o ser nomeado, trata-se de um ser único da espécie, singular, que se diferencia dos outros. Exemplos: São Paulo, Alceu Valença, Donna Dulce, Microsoft.

Concretos: são aqueles que existem independentemente de outro ser (não confunda apenas com o que é materialmente concreto ou apalpável). Exemplos: alma, anjo, vento, garrafa, violão, besouro.

Abstratos: são aqueles que dependem de outro ser para que existam, caráter apegado a uma realidade imaterial e costumam se configurar como ‘noções’. Exemplos: beleza, raiva, corrida, gentileza, largura.

Coletivos: são aqueles que representam um

•6


grupo de elementos da mesma espécie. Podem ser numéricos, específicos (relacionados a somente uma espécie) ou não-específicos (relacionados a mais de uma espécie).

Substantivos terminados em –ão fazem o plural de três modos: em –ões, -ães e –ãos

Exemplos: dezena, centena, alcateia, assembleia, cacho, enxame.

Primitivos: são aqueles que não derivam de nenhuma outra palavra. Exemplos: casa, filho, pedra, terra, rosa.

Derivados: são aqueles que derivam de outra palavra. Exemplos: casebre, casarão, pedreira, pedregulho, terreno, terreiro, roseira.

Simples: são aqueles formados por um único radical. Exemplos: lápis, carro, lua, vassoura, caixa, cabo, porta.

balão

balões

pão

pães

sótão

sótãos

Compostos: são aqueles formados por mais de um radical. Exemplos: passatempo, pé-de-moleque, beija-flor, tico-tico, ex-namorado.

Os substantivos compostos exigem um pouco mais de atenção devido ao seu processo de formação, o qual pode ocorrer por justaposição - quando as palavras envolvidas não sofrem nenhum tipo de alteração gráfica nem sonora-, ou por aglutinação, quando as palavras envolvidas sofrem alteração gráfica e sonora ao serem agrupadas.

Algumas terminações de substantivos simples propiciam dúvida a respeito de como é feito o plural. Por isso, abaixo explicaremos os usos de acordo com as principais e recorrentes dúvidas. Substantivos terminados em –al, -el, -ol e –ul : substitui-se –I por –is

justaposição

aglutinação

couve-flor

planalto

banana-maçã

aguardente

passatempo

vinagre

guarda-chuva

fidalgo

arco-íris

boquiaberto

sinal

sinais

água-de-colônia

pontiagudo

hotel

hotéis

cachorro-quente

pernalta

farol

faróis

guarda-roupa

dessarte

paul

pauis

beija-flor

embora

Substantivos terminados em -il: quando oxítonos, substitui-se o –I por –s e quando paroxítonos, substitui-se o –il por –eis funil

funis

fuzil

fuzis

réptil

répteis

fóssil

fósseis

Além disso, existe certa dificuldade de elevar os substantivos compostos à condição de plural. A seguir, mostraremos como isso deve ser feito de acordo com algumas condições. a) os dois elementos passam para o plural se formado por: substantivo + substantivo = couve-flor/couves-flores

Substantivos terminados em –u fazem plural com acréscimo de –s troféu

troféus

sarau

saraus

nau

naus

degrau

degraus

Capítulo 1

substantivo + adjetivo = amor-perfeito/ amores-perfeitos adjetivo + substantivo = má-língua / más-línguas numeral + substantivo = segunda-feira/ segundas-feiras

•7


b) apenas o primeiro elemento vai para o plural quando: • o segundo elemento indica finalidade ou limita a ideia do primeiro: pombocorreio/ pombos-correio, salário-família/ salários-família. • os elementos são ligados por preposição: pé-de-moleque/ pés-demoleque, pão-de-ló/pães-de-ló. c) apenas o segundo elemento passa para o plural quando: •

o primeiro elemento for verbo, advérbio, forma reduzida: guarda-chuva/guarda-chuvas, abaixo-assinado/abaixo-assinados, grão-duque/grão-duques. as palavras forem repetidas ou onomatopeicas: tico-tico/tico-ticos, tique-taque/tique-taques.

d) nenhum dos elementos vai para o plural se: • •

as palavras forem invariáveis: o topa-tudo/os topa-tudo forem verbos de sentidos opostos: o leva-e-traz/ os leva-e-traz

Além das possibilidades flexivas de número, as quais já foram explicadas, há também as flexões de grau e gênero. No caso das flexões de grau, há duas classificações: aumentativo e diminutivo. Entretanto, ambas são subdividas em modo analítico ou modo sintético. O modo analítico é aquele que aponta a expansão ou supressão de significado através do auxílio de outras palavras, normalmente de caráter adjetivo, como por exemplo, dente grande e fogo imenso. Já o modo sintético consegue sincretizar os significados dos termos utilizados no modo analítico em uma única palavra, como por exemplo, dentão e fogaréu. Os exemplos dados se encontram no aumentativo, mas o mesmo ocorre com o diminutivo como nas expressões dente pequeno ou fogo fraco e dentinho e foguinho.

Juíza

Elefante

Elefanta

Cidadão

Cidadã

Menino

Menina

Poeta

Poetisa

Maestro

Maestrina

Conde

Condessa

Barão

Baronesa

Embaixador

Embaixatriz

Substantivos uniformes são aqueles que possuem uma única forma para denominar o que é masculino e feminino. São divididos em comuns de dois gêneros, sobrecomuns e epicenos. Os comuns de dois gêneros são aqueles que possuem uma única forma, mas que podem ter carga semântica modificada por outros termos acessórios. Os sobrecomuns são aqueles que nem mesmo os termos acessórios são capazes de distinguir o gênero, por isso o contexto é extremamente importante para a identificação do sujeito. Os epicenos são aqueles que têm o gênero representado através do acompanhamento dos termos macho ou fêmea, muito utilizados para designar animais. O artista

A artista

A pessoa

A pessoa

Mosca macho

Mosca fêmea

É preciso que haja cuidado durante interpretação quando surgirem substantivos comuns de dois gêneros nos textos, pois muitas vezes, o artigo que os acompanha pode ser determinante no sentido que eles revelam. Exemplos: a capital = Brasília/ o capital = recursos monetários, riqueza, conjunto de bens; a cabeça = parte do corpo / o cabeça – líder, dirigente, chefe.

Já as flexões de gênero podem ocorrer de diferentes formas e caracterizar os substantivos de modos distintos. Substantivos biformes são aqueles que possuem duas formas para nomear o que é masculino e o que é feminino.

Capítulo 1

Juíz

•8


Trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” Para fechar esse capítulo trouxemos para análise esse trecho a fim de levar à discussão a influência que a posição das palavras possui na construção de sentido do texto. Quando o narrador afirma que é um “defunto autor” e não um “autor defunto”, revela-nos que não é um autor se passando por defunto, mas um defunto que é autor. Isso muda profundamente a maneira como enxergamos a obra, pois além de fazer um transplante de classificações gramaticais, ele faz um transplante de sentidos.

ME PLE

AT

N TA

R o

M om E CO ta c obre D s i A v s IVID ntre lho

Saudosa Maloca Adoniran Barbosa

Si o senhor não está lembrado Dá licença de contá Que aqui onde agora está Esse edifício arto Era uma casa velha Um palacete assobradado Foi aqui seu moço Que eu, Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mais, um dia Nós nem pode se alembrar Veio os homi cas ferramenta Que o dono mandô derrubá Peguemo todas nossas coisa E fumos pro meio da rua Apreciar a demolição Que tristeza que nós sentia Cada táuba que caía Doía no coração Mato Grosso quis gritá Mas em cima eu falei: Os homi tá cá razão Nós arranja outro lugar Só se conformemo quando o Joca falou: “Deus dá o frio conforme o cobertor” E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim E prá esquecê nóis cantemos assim: Saudosa maloca, maloca querida, Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida

e ”. ti TUBE: iba Cas Melhor U O Y NO tal da raVÍDEO ssor A ma Vi a G

d u fe pro o “Por País ato” o r ob o liv ia n : os míl teiro L E “ gua dx n : n O o í l R L I V ica – M so ax t ontr es do u eitas, c s má . odx luçõ a Fr O : “T s e as so “, de An al Nexo G I T A R lema eutrx , Jorn n 6 prob agem de 201 u o g h l lin e Ju 10 d

O substantivo “Gaturro” é próprio e todos os outros são comuns, entretanto “avental”, “mochila”, “livros”, “estojo” e “maçã” são concretos, enquanto “vontade” é abstrato. Atenção para o termo “esf rangalhada”, o qual é certeiramente

Capítulo 1

•9


Atenção para o termo “esf rangalhada”, o qual é certeiramente derivado.

Atenção para o fato de como um substantivo comum pode se transformar em um substantivo próprio dependendo do contexto.

Capítulo 1

• 10


C A P Í TU L O 3 Os artigos indicam o grau de especificação e generalização de uma espécie, como também podem indicar noções de número e gênero. É preciso destacar que sempre que utilizados antes de termos que não sejam substantivos, propiciam um fenômeno linguístico chamado substantivação, ou seja, transformam o termo que o sucede em um nome. São divididos em duas categorias: definidos e indefinidos. Os definidos são a, as, o e os, enquanto os indefinidos são uma, umas, um e umas. “É uma senhora de uns setenta anos” “Vi uma colega no cinema” “Quebrei os lápis” “Ouvi um não seco” “O Ricardo saiu” O uso dos artigos é acompanhado de uma carga de intencionalidade discursiva muito grande, pois demonstra o que se pensa ou o que se quer expressar através da determinação ou indeterminação do nome que o sucede. Desse modo, os artigos podem permitir os sentidos de aproximação, gênero, número, substantivação ou intimidade.

A TI V I D A D E C O M P L E M E N TA R : Leitura e análise das tirinhas abaixo:

Capítulo 1

• 11


Leitura e escuta da música “Águas de Março”, Tom Jobim

Águas de Março Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o Matita Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto o desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto É um pingo pingando, é uma conta é um conto É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato, na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É uma cobra, é um pau, é João, é José É um espinho na mão, é um corte no pé São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração

Capítulo 1

• 12


C A P Í TU L O 4 NUMERAIS Os numerais compõe a classe de palavras responsável por quantificar e ordenar quaisquer campos semânticos. São divididos em cardinais (números exatos), ordinais (que indicam ordem de fatores), multiplicativos (apresentam noções multiplicativas) e fracionários (indicam noções fracionárias). cardinais

um, dois, três...

ordinais

primeiro, segundo, terceiro...

multiplicativos

dobro, triplo, quádruplo...

fracionários

metade, um terço, dois terços...

A TI V I D A D

E CO M P L E M

V ÍD E O : Ori gem d

E N TA R

a Lingua - Narrad gem o pela at riz: Ferna Montene nda gro

A N Á L IS E : t rechos a

baixo

Há numerais adjetivos, aqueles com caráter qualitativo e que acompanham os substantivos, e há numerais substantivos, responsáveis por substituir substantivos. “As crianças comeram dez mangas” “As crianças comeram dez mangas e eu comi duas” É comum que se confunda artigos indefinidos com numerais, entretanto isso pode ser resolvido a partir de uma visão analítica: quando o termo for fundamental para a qualificação genérica dos elementos posteriores, ele se enquadra como um artigo indefinido, enquanto o termo for importante e fundamental para a quantificação de acordo com o contexto, certamente ele é um numeral. “Quantos livros você leu no mês passado?”

“No mês passado, eu li um livro.”

“Que tipo de livro você leu?”

“Eu li um livro de ficção científica.”

Capítulo 1

A Revolução dos Bichos - George Orwell Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todos iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir, quem era homem, quem era porco. Diário da Queda - Michel Laub Eu sonhei muitas vezes com o momento da queda, um silêncio que durou um segundo, talvez dois, um salão com sessenta pessoas e ninguém deu um pio, e era como se todos esperassem um grito do meu colega, um grunhido que fosse, mas ele ficou no chão de olhos fechados até que alguém dissesse para que todos saíssem de perto porque talvez ele houvesse se machucado, uma cena que passou a me acompanhar até que ele voltasse à escola, e passasse a se arrastar pelos corredores, de colete ortopédico por baixo do uniforme no frio, no calor, no sol, na chuva.

• 13


C A P Í TU L O 5 ADJETIVOS

Florianópolis

Florianopolitano

É a classe de palavras responsável por relacionar-se com os substantivos de forma qualitativa e descritiva, a fim de propiciar exclusividade a determinado elemento. Podem indicar qualidades, estados, aspectos e locais de origem. Além disso, podem ser simples (com apenas um radical), compostos (com mais de um radical), primitivos (não derivam de outros) e derivados (provém de outras palavras, sejam da mesma classe ou não).

Fortaleza

Fortalezence

Matro Grosso

Mato-grossense

Afeganistão

Afegão, afegane

Galiza

Galego, galaico

Patagônia

Patagão

Quito

Quitenho

Japão

Japonês, nipônico

Malásia

Malaio

Bogotá

Bogotano

Simples

Claro, escuro

Alemanha

Alemão, germânico

Composto

Castanho-escuro, castanho-claro

Marajó

Marajoara

Primitivo

Azul, meiga

Tocantins

Tocantinense

Derivado

Preguiçoso, partido

Salvador

Salvadorense, soteropolitano

Campinas

Campineiro, campinense

Aracaju

Aracajuense, aracajuano

Há também locuções adjetivas, as quais são expressões representadas por mais de uma palavra e com valor adjetivo. Da audição

Auditivo

Da voz

Vocal

De cabelo

Capilar

De coração

Cardíaco

De estrela

Estelar

De gelo

Glacial

De manhã

Matinal, matutino

De osso

Ósseo

De pescoço

Cervical

De rio

Fluvial

De morte

Mortal, letal

De pai

Paternal, paterno

De paixão

Passional

De veia

Venoso

Sem cheiro

Inodoro

Do campo

Campestre, campesino, rural

Capítulo 1

Os adjetivos podem variar de acordo com gênero, número e grau. Quanto ao gênero, podem ser uniformes (não mudam de forma ao gênero ser modificado) e biformes (alteram a forma de acordo com o gênero). No caso dos adjetivos compostos, são uniformes aqueles que têm como último elemento um substantivo que varia, e biformes os que têm o último elemento um adjetivo em que ocorre variação. Vestido verde-limão

Blusa verde-limão

Olho castanho-claro

Pele castanho-clara

Quanto ao plural dos adjetivos compostos, dá-se variação ao último elemento quando ele for um adjetivo, caso contrário, não há variação.

• 14


Olho castanho-claro

Olhos castanho-claros

Vestido verde-limão

Vestidos verde-limão

O grau pode ser comparativo ou superlativo. Comparativo Marcia é tão amorosa quanto Natália (Igualdade) Henrique é mais amoroso que Natália (Superioridade) Pedro é menos amoroso do que Natália (Inferioridade) O grau superlativo demonstra característica intensificada de um ser com relação aos outros seres e pode ser relativo ou absoluto. O relativo estabelece relação de superioridade ou inferioridade com relação a outros seres determinados. Marcelo é o mais estudioso dos irmãos. Marcelo é o menos estudioso dos irmãos. O absoluto é a característica intensificada ao máximo, mas sem relação com outros seres. Esse tipo de grau pode ser analítico e sintético. Analítico

Valéria é muito simpática.

Sintético

Valéria é simpaticíssima.

Ágil

Agílimo

Baixo

Ínfimo

Bom

Boníssimo, ótimo

Cru

Cruíssimo

Livre

Lilbérrimo

Mau

Péssimo

Miúdo

Minutíssimo

Amável

Amibilíssimo

Amigo

Amicíssimo

Benéfico

Beneficentíssimo

Sagrado

Sacratíssimo

Capítulo 1

• 15

Voraz

Voracíssimo

Sério

Seríssimo

Salubre

Salubérrimo


Descrição escrita ou mental de alguns indivíduos da obra Operários (Tarsila Amaral, 1933)

• 16

Capítulo 1


A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R Trechos da obra “O Cortiço”, de Aluisio de Azevedo: “E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco. E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.” “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda, a Nenen, e mais um filho, o Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço. Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar. Teria vinte e cinco anos. Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho da sua virgindade, escapando como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa branca de homem com muita perfeição. Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado de policia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço. Também tinham filhos, mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju,

Capítulo 1

vivia na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha era uma cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade. Procedência francesa. Alexandre, em casa, à hora de descanso, nos seus chinelos e na sua camisa desabotoada, era muito chão com os companheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode e empunhando a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém mais lhe via os dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem ele só dava tu quando não estava fardado, era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu temperamento e não do arbítrio do seu caráter. Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre as suas vizinhas. Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”. Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito seria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda. Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem lhes dispensavam todos certa consideração, privilegiada pelas suas maneiras graves de pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou-se, dei-

• 17


xando-lhe uma filha muito doentinha e fraca, a quem Isabel sacrificou tudo para educar, dando-lhe mestre até de francês. Tinha uma cara macilenta de velha portuguesa devota, que já foi gorda, bochechas moles de pelancas rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da boca como saquinhos vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sempre chorosos engolidos pelas pálpebras. Puxava em bandos sobre as fontes o escasso cabelo grisalho untado de óleo de amêndoas doces. Quando saia à rua punha um eterno vestido de seda preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, e um xale encarnado que lhe dava a todo o corpo um feitio piramidal. Da sua passada grandeza só lhe ficara uma caixa de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora pitadeava agora, suspirando a cada pitada. A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmo porque o médico a proibira expressamente. Tinha o seu noivo, o João da Costa, moço do comércio, estimado do patrão e dos colegas, com muito futuro, e que a adorava e conhecia desde pequenita; mas Dona Isabel não queria que o casamento se fizesse já. É que Pombinha, orçando aliás pelos dezoito anos, não tinha ainda pago à natureza o cruento tributo da puberdade, apesar do zelo da velha e dos sacrifícios que esta fazia para cumprir à risca as prescrições do médico e não faltar à filha o menor desvelo. No entanto, coitadas! daquele casamento dependia a felicidade de ambas, porque o Costa, bem empregado como se achava em casa de um tio seu, de quem mais tarde havia de ser sócio, tencionava, logo que mudasse de estado, restituí-las ao seu primitivo circulo social. A pobre velha desesperava-se com o fato e pedia a Deus, todas as noites, antes de dormir, que as protegesse e conferisse à filha uma graça tão simples que ele fazia, sem distinção de merecimento, a quantas raparigas havia pelo mundo; mas, a despeito de tamanho empenho, por coisa nenhuma desta vida consentiria que a sua pequena casasse antes de “ser mulher”, como dizia ela. E “que deixassem lá falar o doutor, entendia que não era decente, nem tinha jeito, dar homem a uma moça que ainda não fora visitada pelas regras! Não! Antes vê-la solteira toda a vida e ficarem ambas curtindo para sempre aquele inferno da estalagem!”

Capítulo 1

- Escuta e análise da música “O homem da gravata florida” de Jorge Ben Jor. Lá vem o homem da gravata florida Meu deus do céu... que gravata mais linda Que gravata sensacional Olha os detalhes da gravata... Que combinação de côres Que perfeição tropical Olha que rosa lindo Azul turquesa se desfolhando Sob os singelos cravos E as margaridas, margaridas De amores com jasmim Isso não é só uma gravata Essa gravata é o relatório De harmonia de coisas belas É um jardim suspenso Dependurado no pescoço De um homem simpático e feliz Feliz, feliz porque... com aquela gravata Qualquer homem feio, qualquer homem feio Vira príncipe, simpático, simpático, simpático Porque... com aquela gravata Êle é esperado e bem chegado É adorado em qualquer lugar Por onde ele passa nascem flores e amores Com uma gravata florida singela Como essa, linda de viver Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,.. - Escuta e análise da música “Lua de São Jorge” de Caetano Veloso. Lua de São Jorge, lua deslumbrante Azul verdejante, cauda de pavão Lua de São Jorge, cheia, branca e inteira Oh, minha bandeira solta na amplidão Lua de São Jorge, lua brasileira Lua do meu coração! Lua de São Jorge, lua deslumbrante Azul verdejante, cauda de pavão Lua de São Jorge, cheia, branca e inteira Oh, minha bandeira solta na amplidão Lua de São Jorge, lua brasileira Lua do meu coração! Lua de São Jorge, lua maravilha Mãe, irmã e filha de todo esplendor Lua de São Jorge, brilha nos altares Brilha nos lugares onde estou e vou

• 18


Lua de São Jorge, brilha sobre os mares Brilha sobre o meu amor Lua de São Jorge, lua soberana Nobre porcelana sobre a seda azul Lua de São Jorge, lua da alegria Não se vê um dia claro como tu Lua de São Jorge, serás minha guia No Brasil de Norte a Sul - Escuta e análise de “Morena Tropicana” de Alceu Valença. Da manga rosa Quero gosto e o sumo Melão maduro, sapoti, juá Jaboticaba, teu olhar noturno Beijo travoso de umbu cajá

Morena Tropicana Eu quero teu sabor Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! Da manga rosa Quero gosto e o sumo Melão maduro, sapoti, juá Jaboticaba, teu olhar noturno Beijo travoso de umbu cajá Pele macia Ai! carne de caju! Saliva doce, doce mel Mel de uruçu

Pele macia É carne de caju! Saliva doce, doce mel Mel de uruçu

Linda morena Fruta de vez temporana Caldo de cana caiana Vem me desfrutar! Linda morena Fruta de vez temporana Caldo de cana caiana Vou te desfrutar!

Linda morena Fruta de vez temporana Caldo de cana caiana

Morena Tropicana Eu quero teu sabor Ai! Ai! Ioiô! Ioiô!

Vou te desfrutar! Linda morena Fruta de vez temporana Caldo de cana caiana Vem me desfrutar!

Morena Tropicana Eu quero teu sabor Ai! Ai! Ioiô! Ioiô!

Morena Tropicana Eu quero teu sabor Ai! Ai! Ioiô! Ioiô!

“Entre a Caatinga tolhida e raquítica, entre uma vegetação ruim, de orfanato: no mais alto, o mandacaru se edif ica.” (João Cabral de Melo Neto)

Capítulo 1

• 19


C A P Í TU L O 6 ADVÉRBIOS Os advérbios ou locuções adverbiais são os termos responsáveis por circunstanciar as ações verbais. Podem referir-se a adjetivos, outros advérbios ou a uma oração inteira. Nos cultos de igrejas, o som costuma ser muito alto. Há pessoas que se expressam muito bem. Irremediavelmente, precisamos comprar água hoje. Podem indicar condições das mais variadas: tempo, lugar, modo, afirmação, negação, intensidade e dúvida.

Negação

Não, absolutamente, tampouco, de modo nenhum, de jeito nenhum, de forma alguma.

Intensidade

Bem, bastante, assaz, mais, menos, muito, pouco, demais, tão, tanto, quase, quanto, de todo, de pouco, de muito.

Dúvida

Talvez, acaso, quiçá, provavelmente, possivelmente, com certeza, por certo.

Há também advérbios interrogativos: onde (noção de local), como (modo), quando (tempo) e por que (motivo ou causa). Onde deixou seus sapatos? Como você está?

Tempo

Lugar

Modo

Ontem, hoje, atualmente, amanhã, anteontem, cedo, tarde, antes, depois, logo, agora, já, jamais, nunca, sempre, outrora, ainda, antigamente, brevemente, de manhã, à tarde, à noite, pela manhã, de dia, de noite, em breve, de repente, às vezes, de vez em quando.

Quando você esteve lá? Por que temos que ser assim?

Aqui, ali, aí, lá, cá, acolá, perto, longe, atrás, além, aquém, acima, abaixo, adiante, dentro, fora, defronte, detrás, onde, à direita, à esquerda, ao lado, a distância de, dentro, de cima, em cima, por ali, por aqui, por perto, por dentro, por fora. Bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, devagar, rapidamente, lentamente, calmamente, à toa, ao léu, às pressas, às claras, em vão, em geral, gota a gota, passoa passo, frente a frente, por acaso, de cor.

AfirmaSim, certamente, realmente, ção efetivamente, com certeza, sem dúvida, por certo.

Capítulo 1

Igualdade

Ela era tão linda quanto o céu estrelado.

Superioridade

Ela era mais linda que o céu estrelado.

Inferioridade

O céu estrelado era menos belo que ela.

Analítico

O céu estava mais perto quando eu estava com ela

Sintético

O céu estava pertíssimo quando eu estava com ela.

Alguns advérbios podem variar o grau assim como os adjetivos em: comparativos (igualdade, superioridade, inferioridade) e superlativo absoluto (analítico e sintético). Algumas palavras são empregadas ora como advérbios, ora como pronomes indefinidos (muito, pouco, bastante). Para resolver o problema basta analisar: se o termo estiver relacionado a um substantivo e pu-

• 20


der variar de acordo com número e gênero, certamente será um pronome indefinido, porém se estiver relacionado a um verbo, adjetivo ou advérbio e não admitir flexão de gênero nem de número, nitidamente, trata-se de um advérbio. Meu amigo caminha muito. Meu amigo caminha muito lentamente. Meu amigo caminha muito triste. Meu amigo caminha muitas horas. A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R Análise e discussão sobre:

- Leitura e escuta da música “O Leãozinho” de Caetano Veloso Gosto muito de te ver, leãozinho Caminhando sob o sol Gosto muito de você, leãozinho Para desentristecer, leãozinho O meu coração tão só Basta eu encontrar você no caminho Um filhote de leão, raio da manhã Arrastando o meu olhar como um ímã O meu coração é o sol, pai de toda cor Quando ele lhe doura a pele ao léu Gosto de te ver ao sol, leãozinho De te ver entrar no mar Tua pele, tua luz, tua juba Gosto de ficar ao sol, leãozinho De molhar minha juba De estar perto de você e entrar no mar Um filhote de leão, raio da manhã Arrastando o meu olhar como um ímã O meu coração é o sol, pai de toda cor Quando ele lhe doura a pele ao léu Gosto de te ver ao sol, leãozinho De te ver entrar no mar Tua pele, tua luz, tua juba Gosto de ficar ao sol, leãozinho De molhar minha juba De estar perto de você e entrar no mar - Leitura e análise do poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra.” - Leitura, escuta e análise de “Tarde em Itapuã” de Toquinho e Vinicius de Moraes. Um velho calção de banho

Capítulo 1

• 21


O dia pra vadiar Um mar que não tem tamanho E um arco-íris no ar Depois na praça Caymmi Sentir preguiça no corpo E numa esteira de vime Beber uma água de coco

Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã

É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Enquanto o mar inaugura Um verde novinho em folha Argumentar com doçura Com uma cachaça de rolha E com o olhar esquecido No encontro de céu e mar Bem devagar ir sentindo A terra toda a rodar É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Depois sentir o arrepio Do vento que a noite traz E o diz-que-diz-que macio Que brota dos coqueirais E nos espaços serenos Sem ontem nem amanhã Dormir nos braços morenos Da lua de Itapuã É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã

Capítulo 1

• 22


C A P Í TU L O 7 PRONOMES Os pronomes são palavras usadas para substituir ou acompanhar o substantivo, são uns dos principais recursos da língua portuguesa para evitar a repetição dos nomes e, já que podem fazer referência a elementos já citados no texto, garantir a coesão do discurso. Os pronomes estão sempre ligados às pessoas do discurso, fazendo referência a elas, estas são: 1ª pessoa: aquele que fala ou escreve o emissor da mensagem; 2ª pessoa : aquele que escuta ou lê o receptor da mensagem; 3ª pessoa: aquele (ou aquilo) que não participa diretamente do discurso, mas de quem (ou de que) se fala ou se escreve – pessoa mencionada; Os pronomes são divididos em duas classes principais: os pronomes substantivos e os pronomes adjetivos. Os pronomes substantivos são aqueles que substituem diretamente o substantivo, fazendo o papel de nome na oração. Já os pronomes adjetivos são aqueles que acompanham os substantivos, sem substituí-los, apenas restringindo a extensão de seu significado.

Exemplo 2:

A fim de entendermos um pouco melhor o que são os pronomes, analisemos alguns exemplos:

BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.

Exemplo 1:

Homemagem ao Dia das Mães de 2012 em que o pronome “elas” substitui o substantivo “mães”, sendo assim um pronome substantivo. A pessoa do discurso referida pelo pronome “elas” é a 3ª pessoa, pois as mães não estão participando ativamente do discurso, mas apenas sendo citadas. A 1ª e a 2ª pessoa, nesse caso, são, respectivamente, o anunciante – quem emite a mensagem – e aquele a quem o anúncio é direcionado – quem recebe a mensagem.

Neste segundo exemplo, texto teatral “O Santo e a Porca” de Ariano Suassuna, podemos notar o uso de diversos pronomes, tanto substantivos quanto adjetivos, observe: PINHÃO: sai ao mesmo tempo que BENONA entra.

EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele. BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções. EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não! BENONA: Isso são coisas passadas. EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. (...) Os pronomes presentes no texto são, por

Capítulo 1

• 23


ordem de uso:

Os pronomes pessoais são:

Você – pronome substantivo que substitui o uso do nome do personagem Eurico na fala de Benona. (2ª pessoa);

Número

Ele – pronome substantivo usado duas vezes na primeira fala de Euricão, se ao personagem Eudoro Vicente e substitui o uso de seu nome. (3ª pessoa) Lhe – pronome substantivo que substitui o uso do substantivo Eudoro, nome do personagem. (3ª pessoa);

Singular

Pessoa

Pronomes Retos

Pronomes Oblíquos

Primeira

Eu

Me, mim, comigo

Segunda

Tu

Te, ti contigo

Você – agora usado na fala de Euricão, substitui o nome da personagem Benona. (2ª pessoa);

Terceira

Ele/Ela

Se, si, consigo, o, a, lhe

Eu – refere-se a Euricão, substituindo seu nome, logo, é pronome substantivo. (1ª pessoa);

Primeira

Nós

Nos, conosco

Segunda

Vós

Vos, convosco

Eles/Elas

Se, si, consigo, os, as, lhes

Meu – pronome adjetivo que acompanha o substantivo “prejuízo” para marcar o fato de o prejuízo ter sido de Euricão (1ªpessoa); Aquele – pronome adjetivo que acompanha o substantivo “dinheiro” e restringe seu significado para aquele dinheiro específico e não mais qualquer dinheiro (3ª pessoa). Pronomes Pessoais Os pronomes pessoais sempre substituem os nomes (logo são sempre substantivos) e representam as pessoas do discurso. Além de variarem em pessoa (primeira, segunda ou terceira), gênero (feminino ou masculino) e número (singular ou plural), os pronomes pessoais podem variar em forma (reto ou oblíquo). O pronome pessoal será reto quando representar a função de sujeito ou predicativo do sujeito na oração e será oblíquo quando representar função de complemento verbal.

Plural Terceira

Além dessa divisão entre pronomes de caso reto e de caso oblíquo, os pronomes oblíquos também são divididos entre átonos e tônicos: os tônicos são sempre precedidos por preposição, enquanto os átonos, não. Para entendermos melhor, vejamos alguns exemplos de pronomes pessoais: Exemplo 1:

No poema de Paulo Leminsky, podemos notar o uso muito recorrente de pronomes pessoais: Contranarciso em mim eu vejo o outro e outro e outro enfim dezenas trens passando vagões cheios de gente centenas o outro que há em mim é você você

Capítulo 1

• 24


e você

São eles:

assim como eu estou em você eu estou nele em nós e só quando estamos em nós estamos em paz mesmo que estejamos a sós

Número

Singular

O uso do pronome pessoal “Lhe”: Precisamos analisar com mais cuidado o uso desse pronome pessoal tônico que causa dúvida em muitos. O pronome lhe funciona como objeto indireto, ou seja, complemento de verbo transitivo indireto, que é ligado por preposição, sendo assim, esse pronome deve obedecer aos critérios de regência dos verbos e ser usado apenas quando o verbo é transitivo indireto, caso o verbo exija um objeto direto, ao invés de lhe devemos usar os pronomes átonos “o”, “a” e suas variações. Assim como os outros pronomes oblíquos, lhe não deve ser usado em início de oração. Exemplo 1:

“Obedecemos aos nossos pais” – “Obedecemos-lhes”: O verbo obedecer é transitivo indireto e exige complemento que venha acompanhado de preposição, no caso da primeira oração “aos”, sendo assim, o uso de lhes para substituir “aos nossos pais” é adequado.

Plural

Pessoa

Pronomes Possessivos

Primeira

Meu, minha, meus, minhas

Segunda

Teu, tua, teus, tuas

Terceira

Seu, sua, seus, suas

Primeira

Nosso, nossa, nossos, nossas

Segunda

Vosso, vossa, vossos, vossas

Terceira

Seu, sua, seus, suas

No relato de memórias do autor Manuel Bandeira, encontrado no livro “Poesia completa e prosa” podemos observar o uso de alguns pronomes possessivos, observe: “Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.” Os pronomes possessivos concordam em gênero e número com o objeto possuído e em pessoa com o possuidor.

Exemplo 2:

“Respeitamos os nossos pais” – “Respeitamos-lhes”: Respeitar é um verbo transitivo direto, ou seja, que não necessita de preposição no seu complemento verbal, sendo assim, o uso de “lhes” para substituir “os nossos pais” não é apropriado e a segunda oração “Respeitamos-lhes” é gramaticalmente incorreta, o correto seria usar o pronome pessoal átono “os” transformando a oração em “Respeitamo-los”.

Exemplo 1:

(eu) Vendi minha moto. (tu) Releste tua prova? Quando há mais de um elemento possuído, ou seja, quando o pronome possessivo determina mais de um substantivo, ele deve concordar em gênero e número com o substantivo mais próximo.

Pronomes Possessivos

Exemplo 2:

Pronomes possessivos são aqueles que apresentam a relação de posse entre as pessoas do discurso e o elemento referido, são, também, pronomes adjetivos, pois acompanham o substantivo e restringem seu significado a um elemento específico e sua relação com uma das pessoas do discurso.

Vou lavar minhas sandálias e casaco.

Capítulo 1

O uso dos pronomes possessivos de terceira pessoa “seu/sua”, “seus/suas” pode fazer com que a frase se torne ambígua, como: “A menina disse ao colega que não con-

• 25


cordava com sua reprovação” – Nesse caso não conseguimos saber se a menina não concordava com a reprovação do colega ou dela própria. Para evitar esse tipo de ambiguidade, quando possível, devemos usar dele/dela, deles/ delas, por exemplo: “A menina disse ao colega que não concordava com a reprovação dela” – Fica claro que a reprovação é da menina.

Exemplo 1:

“Este dia bem que poderia passar mais rápido.” – Este indica o tempo presente, o dia que está em curso. Exemplo 2:

“Esse fim de semana passado foi bem tedioso.” – Esse indica um passado próximo. Exemplo 3:

“A menina disse ao colega que não concordava com a reprovação dele”- Fica claro que a reprovação é do colega.

“Aquele feriado foi o motivo de vocês começarem a namorar.” – Indica um passado distante do momento da fala.

Pronomes Demonstrativos

Indicação da posição linguística apresenta determinada informação ou elemento na oração ou texto.

Os Pronomes demonstrativos são aqueles que indicam a posição de um elemento em relação a uma das pessoas do discurso, essa posição pode ser espacial, temporal ou linguística. Pessoa

Variáveis

Invariáveis

Primeira

Este, estas, estes, estas

Isto

Segunda

Esse, essa, esses, essas

Isso

Terceira

Aquele, aquela, aqueles, aquelas

Aquilo

Os pronomes demonstrativos são: Indicação da posição espacial demonstra onde o elemento se encontra no espaço físico em que a pessoa está. Exemplo 1:

“Este é o livro de que lhe falei.” – Este indica que o livro está próximo da primeira pessoa do discurso. Exemplo 2:

“Eu pedi para buscar aquela blusa branca, não esse casaco.” – Aquela indica que a blusa branca está distante de ambas primeira e segunda pessoa do discurso, e essa significa que o casaco está perto da segunda pessoa do discurso. Indicação da posição temporal demonstra a proximidade de determinado evento em relação ao tempo presente.

Capítulo 1

Exemplo 1:

“O meu desejo é este: vê-la de novo.” – Este é usado quando anuncia a informação ou termo seguinte. Exemplo 2:

“Vê-la de novo. Esse é o meu desejo.” – Esse é usado para retomar termos ou informações já citadas. Exemplo 3:

“Não sei se vou a festas ou me dedico só aos estudos. Este garante o futuro, aquelas, o prazer do momento.” – Neste caso, este é usado para retomar o elemento próximo, dito por último, e aquelas para retomar o elemento mais distante, dito antes. Algumas outras palavras também podem ser usadas na função de pronome demonstrativo como: - Mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): São pronomes demonstrativos de reforço, estão sempre se referindo a um substantivo com o qual concordaram em gênero e número. “Ele mesmo preparou o jantar.” “A própria filha lhe disse que ele precisava mudar.” - Tal, tais: Equivalem a esse(s), essa(s), este(s), esta(s), isto e isso.

• 26


“Não havia motivo real para tal comportamento.” “Não acredito que possa dizer tais coisas a ele.”

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar! A linguagem da arte – Eduardo Galeano

- O(s), a(s): podem agir como pronomes demonstrativos quando equivalem a isso, isto, aquele(s), aquela(s) e aquilo.

Chinolope vendia jornais e engraxava sapatos em Havana. Para deixar de ser pobre, foi-se embora para Nova York.

“O que você disse para Maria foi errado.” “As que não sabiam escrever eram as filhas mais novas.”

Lá, alguém deu de presente a ele uma máquina de fotografia. Chinolope nunca tinha segurado uma câmera nas mãos, mas disseram a ele que era fácil:

Pronomes Relativos

- Você olha por aqui e aperta ali.

São pronomes relativos aqueles que retomam um termo antecedente da oração, dando início a uma nova e estabelecendo relação entre as duas.

E ele começou a andar pelas ruas. Tinha andado pouco quando escutou tiros e se meteu num barbeiro e levantou a câmera e olhou por aqui e apertou ali.

São estes:

Na barbearia tinham baleado o gângster Joe Anastasia, que estava fazendo a barba, e aquela foi a primeira foto da vida profissional de Chinolope.

Variáveis

Invariáveis

O qual, a qual, os quais, as quais

Que

Cujo, cuja, cujos, cujas

Quem

Quanto, quantos, quantas

Onde

Pagaram uma fortuna por ela. A foto era uma façanha. Chinolope tinha conseguido fotografar a morte. A morte estava ali: não no morto, nem no matador. A morte estava na cara do barbeiro que a viu.

Os pronomes relativos relacionados a “cujo” concordam com o termo posterior, já os restantes concordam com o termo antecedente. A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R Leitura e análise dos textos abaixo A função da arte – Eduardo Galeano Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

Capítulo 1

• 27


C A P Í TU L O 8 ONOMATOPÉIAS E A ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO Todos nós estamos familiarizados com as onomatopeias e também, na maioria das vezes, com o conceito de que estas são as palavras que reproduzem, na escrita, os sons do nosso mundo. Quem nunca leu uma história em quadrinhos e pôde entender a situação e o som representado devido a presença de uma onomatopeia como “Tibum”, para representar o som de algo caindo ou mergulhando na água, ou “Au au”, para representar o latido de um cachorro? As onomatopeias sempre estiveram presentes em nossas vidas como essa representação direta e genuína dos sons que nos cercam. É por isso que, ao falarmos da teoria do linguista francês Ferdinand de Saussure de que todos os signos (mais comumente conhecidos como palavras) e o conjunto de sons (fonemas) pelos quais são formados não apresentam motivação específica para serem chamados como são, ficamos confusos e perdidos e logo pensamos nas nossas tão familiares onomatopeias. Na visão da linguística de Saussure, os signos são compostos por significante e por significado, que são, resumida e respectivamente, o som e o sentido. Também segundo essa vertente linguística, o significante e o significado não apresentam nenhum tipo de relação motivada, não há nenhum motivo que conecte determinado som a determinado sentido, sendo assim os signos são invariavelmente arbitrários. “Mas ora, se nenhum signo tem motivação para ser formado pelo conjunto de sons de que é formado, como Saussure e a linguística explicam a existência das onomatopeias, que são justamente a representação de um som específico do meio físico? ” Essa observação é, sem dúvidas, pertinente, mas se direcionarmos o nosso olhar para todas as línguas do mundo ao invés de apenas para a língua portuguesa, notaremos algo interessante: as onomatopeias, assim

Capítulo 1

como todas as outras palavras, mudam de língua para língua. Em inglês a onomatopeia para o mergulho na água é “Splash” e não “Tibum” e o latido dos cachorros é representado por “Whoof” e não “Au au”. Já que o motivo para essa variação acontecer claramente não é o fato dos cachorros britânicos ou americanos terem latidos diferentes dos cachorros brasileiros, podemos assumir que até as onomatopeias e os fonemas pelos quais são formadas não têm motivo específico, sendo assim, são também aleatórias, arbitrárias, pois trata-se de impressões sensoriais que cada indivíduo possui e cada povo toma

como um acordo linguístico. A TI V I D A D E C O M P L E M E N TA R Leitura dos texto abaixo: - Análise e escuta da música “Bate coração” de Elba Ramalho Bate, bate, bate, coração Dentro desse velho peito Você já está acostumado A ser maltratado, a não ter direitos Bate, bate, bate, coração Não ligue, deixe quem quiser falar, ah! Porque o que se leva dessa vida, coração É o amor que a gente tem pra dar Oi, tum, tum, bate coração Oi, tum, coração pode bater Oi, tum, tum, tum, bate, coração Que eu morro de amor com muito prazer As águas só deságuam para o mar Meus olhos vivem cheios d’água Chorando, molhando meu rosto De tanto desgosto me causando mágoas Mas meu coração só tem amor, amor! Era mesmo pra valer, ê Por isso a gente pena sofre e chora coração

• 28


Capítulo 1

• 29


C A P Í TU L O 9 CONJUNÇÕES Conjunções são as palavras de ligação usadas para estabelecer relação e aproximação entre duas orações ou dois termos que exercem a mesma função sintática dentro da oração.

Adversativas: estabelecem relação de oposição entre Mas, contudo, no os termos ou ora- entanto, porém, toções. Simbolizam davia, entretanto. adversidade, contraste, oposição.

Exemplos:

- “Já eram onze horas quando fui dormir.” (nesse caso a conjunção “quando” liga a oração “Já eram onze horas” à oração “fui dormir”); - “Eu e João compramos batatas e tomates.” (Nesse caso as preposições “e” ligam dois sujeitos, “Eu e João”, e dois objetos, “batatas e tomates”). As conjunções são divididas em duas principais classes, coordenativas e subordinativas, e muitas outras subclasses. Observe as tabelas. CONJUNÇÕES COORDENATIVAS São conjunções coordenativas aquelas que ligam termos que exercem a mesma função sintática dentro da oração ou que ligam orações coordenadas, independentes, ou seja, aquelas capazes de formar sentido sem estarem relacionadas à outra. Tipo

Exemplos

Aditivas: são usadas para adicionar um termo ou oraE, nem, mas também, ção a outra que como também, mas exerce a mesma ainda. função gramatical, têm sentido de soma e adição.

Capítulo 1

Alternativas: estabelecem relação entre os termos ou orações atribuindo estado de alternância ou de escolha, exclusão entre as mesmas.

Ou (estando repedido ou não), ora... ora, nem, quer... quer, seja.

Explicativas: são usadas com a função de trazer sentido explicativo Que, porque, pois para a relação que (quanto antes do a segunda oração verbo), porquanto. tem com primeira ou que o segundo termo tem com o primeiro. Conclusivas: estabelecem relação de conclusão ou consequência para a relação entre as duas orações ou termos.

• 30

Pois (quando após o verbo), assim, então, logo, portanto.


CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS São conjunções subordinativas aquelas responsáveis por ligar duas orações dependentes entre si, ou seja, quando uma não é capaz formar sentido sem estar ligada à outra. Tipo

Exemplos

Causais: São as que estabelecem relação de causa, motivo entre as orações.

Porque, pois, que, uma vez, já que, desde que, visto que, como, por isso que, etc.

Comparativas: São as que estabelecem relação de comparação entre as orações que aproxima.

Como, assim como, maior (do) que, mais (do) que, menor (do) que, menos (do) que, tal... qual, bem como.

Concessivas: São as que estabelecem relação de concessão entre Embora, mesmo as duas orações, que, ainda que, ou seja, se referem posto que, por um evento oposto mais que, apesar ao apresentado de, mesmo quando, anteriormente, etc. mas esta oposição não implica em impedimento de ocorrência. Conformativas: São as que estabelecem relação de conformidade entre a segunda oração (subordinada) e os fatos apresentados na primeira (coordenada).

Conforme, segundo, consoante, como.

Condicionais: São as que estabelecem relação de condição entre a segunda oração e os fatos apresentados na primeira.

Se, caso, contando que, a não ser que, desde que, salvo se, apenas se, etc.

Finais: São as conjunções que expressam a finalidade dos fatos apresentados na primeira oração.

A fim de que, para que, porque, que.

Capítulo 1

Proporcionais: São as que estabelecem relação de proporção entre os fatos apresentados na oração coordenada e aqueles apresentados na oração subordinada.

À medida que, à proporção que, quanto mais... (tanto) mais, quanto mais... (tanto menos), quanto menos... (tanto) menos, quanto menos... (tanto) mais.

Consecutivas: São Tão que, tal que, as que estabelecem tanto que, de relação de conmodo que, de masequência entre a neira que, tamanho segunda oração e que, se sorte que, os fatos apresende forma que, etc. tados na primeira. Temporais: São as que estabelecem relação temporal e circunstancial entre a segunda oração e os fatos/ situação apresentados na primeira.

Quando, enquanto, logo que, agora que, desde que, tão logo, apenas, toda vez que, mal, sempre que, etc.

Integrantes: São as que iniciam as orações subordinadas que cumprem papel de elementos sintáticos da oração coordenada (sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, etc.).

Que e se.

• 31


A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R - Observação e análise dos textos e imagens abaixo. - Trecho de “Mulher de Atenas”, Chico Buarque. “Quando amadas, se perfumam Se banham com leite, se arrumam Suas melenas Quando fustigadas não choram Se ajoelham, pedem imploram Mais duras penas; cadenas” “Quando eles se entopem de vinho Costumam buscar um carinho De outras falenas Mas no fim da noite, aos pedaços Quase sempre voltam pros braços De suas pequenas, Helenas”

Capítulo 1

- Trecho de “Dom Casmurro” – Machado de Assis “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se www.nead.unama.br 36 retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bemaventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno.”

• 32


C A P Í TU L O 11 Acidentais:

PREPOSIÇÃO Preposições são as palavras da língua portuguesa que ligam dois termos da oração, subordinando um ao outro.

São aquelas palavras de outras classes gramaticais que, ocasionalmente, podem funcionar como preposições.

Mediante; como; conforme; fora; salvo; exceto; durante; segundo; menos; consoante; afora; senão;

Tipos

Exemplos

Acerca de; a fim de; apesar de; através de; de acordo com; em vez de; junto Locuções Preposide; para com; à tivas: procura de; à busca de; além de; anPreposições formadas por duas ou tes de; à distância de; à maneira de; mais palavras com junto de; junto a; a valor gramatical par de; em frente à; prepositivo. ao lado de; graças a; a respeito de; diante de; embaixo de; ao redor de. Combinação: No caso da imagem acima, a palavra “pelo”, que liga “foto feita” a “robô”, é uma preposição. As preposições podem ser divididas em diversas classificações, montemos então uma tabela para observarmo-las. Tipos

Exemplos

Essenciais: São as preposições propriamente ditas, que funcionam apenas como preposição.

Por; para; perante; a; ante; até; após; de; desde; em; entre; com; contra; sem; sob; sobre; trás

Junção de preposições a palavras de outras classes gramaticais em que não há nenhuma alteração fonética no processo. Contração: Junção de preposições a palavras de outras classes gramaticais em que há alteração fonética no processo.

Ao: preposição “a” + artigo “o”; Aonde: preposição “a” + advérbio ou pronome “onde” Do: preposição “de” + artigo “o”; Neste: preposição “em” + pronome “este”; À: preposição “a” + artigo “a”

O uso da crase: É importante também que esclareçamos o uso de uma preposição que causa muitas dúvidas de colocação: a crase. Há casos em que a crase é obrigatória, ca-

Capítulo 1

• 33


sos em que é optativa e casos em que não deve ser usada. Vejamos: Casos Obrigatórios Antes de substantivo feminino que exija artigo “a”. Exemplos:

- Frente à situação, fiz o que pude. - Devemos obedecer às leis. - Todos que conheço gostam de ir à praia. Dica Devido à dificuldade de identificar a necessidade ou não de artigo em alguns casos, acabamos usando a crase erroneamente. No caso de nomes de lugar, empregados com o verbo ir, uma dica pode facilitar a percepção: Devemos transformar a frase usando o verbo voltar e notar se usamos as preposições “de” ou “da”.

posição na situação em que se encontra basta substituir o demonstrativo pelas expressões a aquilo(s), a aquele(s), a aquela(s), caso o acréscimo de “a” faça sentido, a crase deve ser usada. Antes de pronomes relativos “que, qual e quais” em que se exige preposição. Exemplos: - A mulher à qual me refiro é alta. - As moças às quais me referi há pouco estão chegando. Dica Para averiguarmos a exigência ou não de preposição, basta substituir a palavra antecedente ao pronome por uma palavra masculina, caso “a” se transformar em “ao”, a preposição é necessária e deve-se fazer uso de crase. Em expressões que significam à maneira (de), à moda (de).

Exemplos:

Voltei de Campinas. – Fui a Campinas. (No caso do emprego da preposição “de”, a regra é que o substantivo não assume artigo, então não utilizamos crase). Voltei da Bahia. – Fui à Bahia. (No caso do emprego da preposição “da”, a regra é que o substantivo assume artigo, portanto utilizamos a crase). Antes de numeral indicando horas , sendo de forma expressa ou implícita. Exemplos:

Exemplos:

- Cortei meu cabelo à francesa. (Cortei meu cabelo à moda/maneira francesa). - Ele escreve à Guimarães Rosa. (Ele escreve à maneira de Guimarães Rosa). Antes da palavra terra, quando esta não tiver sentido de terra firme (oposto de a bordo). Exemplos:

- Chegamos à terra dos índios. - Vou à terra de meus pais.

- Chegamos às dez horas. - A reunião será à uma hora. Quando pronomes demonstrativos iniciados com vogal a completam o sentido de um verbo ou nome que exigem preposição. Exemplos:

- Fomos àquele bar na Vila Madalena. - As pessoas costumam dar atenção apenas àquilo que lhes interessa. - Que diremos àquelas pessoas? Dica Para saber se o pronome exige pre-

Capítulo 1

Quando em locuções adverbiais, prepositivas ou conjuntivas constituídas por palavras femininas. Exemplos:

Adverbiais: às cegas, às pressas, à tarde, à noite, à toa, à força, às escondidas. Prepositivas: à beira de, à falta de, à guisa de, à espera de, à vista de. Conjuntiva: à medida que, à proporção que. Na expressão a distância de, quando essa distância é determinada .

• 34


Exemplo:

Encontro-me à distância de dez metros da entrada principal. Casos Optativos Antes de nome próprio feminino referente a pessoas.

Quando estiver no singular (a) antes de palavras no plural de sentido genérico. Exemplo:

- Não vou a lojas que não aceitam cartão de crédito. Antes do artigo indefinido uma:

Exemplo:

Exemplo:

Dirigirei a palavra a/à Renata.

- Pergunte a uma pessoa qualquer.

Observações:

Antes de pronomes e expressões de tratamento com exceção de senhora, senhorita e dona.

- Não se usa crase antes de nomes históricos. (O imperador ofereceu sua cora a Cleópatra); - No caso de modificação do nome, o uso de crase é obrigatório. (Escrevi à famosa J. K. Rowling). Antes de pronomes possessivos femininos no singular. Exemplo:

- A humildade é relacionada a/à nossa capacidade de aceitação do outro. Em locuções femininas que indiquem meio ou instrumento.

Exemplo:

Direi a Vossa Excelência que está aqui. A TI V I D A D E C O M P L E M E N TA R : - Leitura e análise dos textos abaixo: Desafinado – Tom Jobim Se você disser que eu desafino amor Saiba que isto em mim provoca imensa dor Só privilegiados tem o ouvido igual ao seu Eu possuo apenas o que deus me deu Se você insiste em classificar Meu comportamento de anti-musical Eu mesmo mentindo devo argumentar Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

Exemplo:

- Fora morta a/à facada. Casos em que não ocorre Antes de substantivo masculino. Exemplo:

- Iremos a cavalo.

O que você não sabe nem sequer pressente É que os desafinados também tem um coração Fotografei você na minha Rolley-Flex Revelou-se a sua enorme ingratidão

Antes de verbos. Exemplo:

- Passou a dedicar mais tempo aos amigos. Entre palavras repetidas. Exemplos:

- Estava cara a cara com o monstro. - No dia a dia, as coisas se tornam monótonas.

Capítulo 1

Só não poderá falar assim do meu amor Ele é o maior que você pode encontrar Você com a sua música esqueceu o principal Que no peito dos desafinados No fundo do peito Bate calado, que no peito dos desafinados Também bate um coração.

• 35


Capítulo 1

• 36


C A P Í TU L O 12 SINTAXE A frase é aquilo que expressa um sentido ou uma mensagem completa, a qual é delimitada por pausas longas como ponto final e ponto de interrogação e pode ser extremamente complexa, simples ou muito simplificada. As frases podem ser declarativas/informativas, interrogativas (perguntas), exclamativas (admiração, indignação), imperativas (ordens, pedidos) e optativas (desejo). Borges está cantando lindamente. Qual será a próxima música?

bo, o termo com o qual ele concorda é certamente o núcleo. Um bando de pássaros sobrevoou minha mente. O sujeito pode se comportar de diferentes formas, por isso há sujeito simples, composto, indeterminado, desinencial (elíptico ou oculto) e oração sem sujeito. Sujeito simples é aquele em que é possível definir objetivamente quem é o sujeito através de um só núcleo.

Essa música é muito boa!

A noite me envolvia como um manto sagrado.

Mude de música agora mesmo. Tomara que isso acabe logo. Frases nominais são aquelas construídas sem verbos, enquanto as verbais são aquelas que possuem verbos. Frases verbais constituem o que chamamos de orações. Uma oração é uma frase que se estrutura em torno de um verbo ou uma locução verbal central, que também pode ser chamada de período, o qual pode ser simples (apenas um verbo) ou composto (dois ou mais verbos). Cada termo ou conjunto de termos que compõe o período possui uma função que se relaciona com todos os outros integrantes da frase. A essas funções dá-se o nome de função sintática, ou seja, papel desempenhado que agrega sentido ao complexo frasal. Sujeito é a parte da oração que determina quem exerce a ação verbal, seja ela agente ou receptora. A pequena menina abria o peito como se abrisse a janela. De acordo com a ordem direta da oração (sujeito+ verbo+complemento), o sujeito deve se posicionar no primeiro espaço da frase. Porém quando isso não ocorre, é preciso atentar-se às pontuações. O núcleo do sujeito é o termo principal que o compõe, o qual sempre tem caráter substantivo. Para facilitar, basta olhar para o ver-

Capítulo 1

Sujeito composto é aquele que possui dois ou mais núcleos. A noite e a lua me envolviam como um manto sagrado. Obs: é importante não confundir o sujeito composto com o sujeito simples que possui como núcleo um substantivo pluralizado, pois o que está em questão não é a quantidade de seres que exercem a ação verbal, mas os núcleos que designam espécies distintas de seres. Sujeito indeterminado é aquele que existe, mas não se pode identificar através de nenhum termo. Normalmente está na terceira pessoa do plural ou na terceira pessoa do singular acompanhado da partícula –se (índice de indeterminação do sujeito). Plantaram todos os sonhos do mundo Plantou-se todos os sonhos do mundo. Sujeito desinencial é aquele que é determinado pela desinência do verbo. Trago rosas ao invés de munição. Oração sem sujeito é aquela em que não há sujeito. Fator de sua existência está ligado à presença de verbos impessoais que exprimem fenômenos da natureza, sentido de existência ou acontecimento.

• 37


Choveu muito ontem à noite. Há muitos alunos bons aqui. Faz muito calor em Recife. Também é possível classificar o sujeito de acordo com o seu grau de autonomia ou passividade. Por isso existe o sujeito agente (pratica a ação), sujeito paciente (sofre a ação verbal) e o sujeito agente e paciente (pratica e sofre a ação). O sujeito agente designa a voz ativa na oração, já o sujeito paciente é o que sofre a ação realizada pelo agente da passiva quando a oração está na voz passiva, e o sujeito agente e paciente é o que age na voz reflexiva.

Verbos transitivos indiretos são aqueles que necessitam de complementos verbais auxiliados por preposições. Eu gosto (de quê?) da poesia de Drummond. Os complementos dos verbos transitivos diretos são nomeados objetos diretos, enquanto os dos verbos transitivos indiretos são nomeados como objetos indiretos. Eu comprei flores. Eu moro em Guanabara. Há também verbos que contemplam ambas as qualificações, ou seja, são transitivos diretos e indiretos, pois possuem tanto objeto direto quanto indireto.

Alceu disse coisas lindas sobre a existência.

Recebi elogios imensuráveis dos meus avós.

O violão foi quebrado por algum aluno. Penteei meu cabelo hoje à tarde. Voz passiva analítica

Voz passiva sintética

Prédios foram construídos.

Construíram-se prédios.

Predicado é a parte da oração que inclui o verbo, como também seu complemento. Exemplo:

A pequena menina sentava no muro e observava os astros. Verbo intransitivo é o verbo que não exige qualquer tipo de complemento, pois tem um sentido carregado de subsistência semântica. Ele pode ser acompanhado de outros termos, mas mesmo sozinho compõe um predicado completo. A flor nasceu. O menino morreu.

Verbos de ligação são aqueles que não guardam a carga semântica em si, mas transferem-na a um complemento do sujeito, ou seja, conectam o sujeito a sua característica. Caetano é um poeta incrível. Principais verbos de ligação Ser, estar, parecer, permanecer, ficar, continuar, andar, viver, virar, torna-se, fazer-se, achar-se, encontrar-se. Orações compostas por verbos transitivos ou intransitivos possuem predicados verbais, pois o núcleo do predicado está no verbo. Já orações compostas por verbos de ligação têm predicados nominais, pois o núcleo semântico está na qualificação do sujeito, portanto no nome. Entretanto existem também predicados verbo-nominais, que são aqueles que possuem tanto verbo transitivo/intransitivo quanto predicativo do sujeito ou do objeto. Fui à feira de arte.

Verbos transitivos diretos são aqueles que necessitam de complementos verbais sem o auxílio de preposições. Para facilitar, é preciso perguntar ao verbo sobre seu complemento, caso a pergunta exigir uma preposição, certamente ele é um verbo transitivo indireto e não direto.

O predicado nominal é composto pelo verbo de ligação e pelo predicativo do sujeito (característica do sujeito).

Eu comi (o que?) dois tomates.

Mirtes é um oceano de literatura.

Capítulo 1

Sou um tanto tímida. Eu assisti àquele show emocionado.

• 38


O predicativo do objeto é a característica atribuída ao objeto do verbo, o qual, quase sempre, é transitivo direto. Dei um copo lindo a Chico. Complemento nominal é a expressão que complementa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo, advérbio) ligando-se a ele através de preposição. O som do mar penetrava na minha camada epitelial. Adjunto adnominal é o termo que se liga a um núcleo representado por um nome e pode ser representado por artigos, adjetivos, locuções adjetivas, pronomes e numerais adjetivos. A visita dos pais foi incrível. Um bom recurso para não confundir adjuntos adnominais de complementos nominais é observar a natureza morfológica do termo que é acompanhado: será complemento nominal se os termos complementarem o sentido de adjetivos, advérbios e substantivos abstratos através de preposições das mais diversas e se forem plenamente essenciais para a completude de sentido da sentença; será adjunto adnominal aquilo que pode ser dispensável e acompanha substantivos concretos e abstratos sem preposições ou através da preposição “de”. Para saber diferenciar o complemento nominal dos adjuntos adnominais que utilizam preposições, é preciso observar o grau de atividade ou passividade do termo analisado. Se o termo expressar ideia de agente da ação ele é um adjunto adnominal, mas se expressar ideia de alvo ou receptor ele é um complemento nominal.

Afirmação

Negação

Sim, com certeza, sem dúvida, de fato, deveras, certamente, realmente

Não, nunca, jamais, em hipótese alguma, de modo algum, de forma alguma

Modo

Causa

Bem, mal, melhor, pior, igual, diferentemente, intensamente, à pressa, em silêncio, tranquilamente, devagar, depressa

Porque, por causa de, devido a, por, pois

Lugar

Tempo

Aqui, ali, lá, acolá, abaixo, acima, em cima, embaixo, atrás, dentro, fora, em, longe, perto, ao lado, à direita

Hoje, amanhã, ontem, cedo, tarde, agora, ainda, em breve, logo, durante, de vez em quando, à noite, de manhã

Intensidade

Companhia

Muito, pouco, demais, bastante, mais, tão, Junto com, com, quão, intensamente, na companhia de extremamente Dúvida

Concessão

Talvez, acaso, Todavia, contuporventura, quiçá, do, muito embora, provavelmente, apesar disso, ainda quem sabe, se posque, se bem que sível Instrumento

Meio

De faca, com uma tesoura, com a pá, com uma ferramenta

Pelo correio, de ônibus, de carro, de moto, de trem, a pé

A leitura do texto foi razoável.

Condição

Finalidade

Adjunto adverbial é o termo acessório dos verbos, portanto o acompanha a fim de circunstanciar o tempo, lugar, modo, etc.

Se, caso, senão

Para que, para, por, a fim de

Assunto

Direção

De, sobre, a r e s p e i to d e

Par cima, para baixo, abaixo

A vinda dos meus amigos me deixou muito feliz. A leitura do aluno foi excelente. A visita aos meus amigos me deixou muito feliz.

Entrei repentinamente na sala de aula.

Capítulo 1

• 39


Exclusão

Frequência

Eu quero caminhar e descansar depois.

Menos, com exceção de, exceto

Diariamente, frequentemente, mensalmente, sempre, todos os dias

Tirei uma boa nota, mas não foi suficiente.

Matéria

Conformidade

De, com, a partir de

Conforme, de acordo, segundo

Aposto é o termo que retoma outro termo da oração com função de explicar, qualificar ou ampliar os sentidos. Encontra-se quase sempre entre vírgulas ou após dos pontos. Paulo, exímio vendedor, fez-me comprar muito mais do que havia planejado. Trouxemos os ingredientes: farinha, ovos, chocolate, leite, fermento e óleo. Meu bem, não há nada do que havia dito aqui.

Ora quer minha companhia, ora quer ficar só. Eu gosto de cafuné, porque me sinto protegida. É uma ótima banda, logo fará sucesso. Quando ocorre a mudança de sujeito em orações coordenadas sindéticas aditivas, é preciso acrescentar vírgula antes da conjunção. Eu queria um sorvete de chocolate, e ele queria um sorvete de morango. Todas as orações coordenadas sindéticas adversativas necessitam de uma vírgula antes da conjunção, assim como ocorre nas orações coordenadas sindéticas alternativas, explicativas e conclusivas. Isso me faz tão bem, mas é tão cansativo.

Vocativo é o termo utilizado para atrair a atenção do interlocutor, ou seja, da segunda pessoa do discurso e exige uma vírgula sempre após seu uso.

Ora me chama de amor, ora me chama de desgraça.

Como já visto anteriormente, o período composto possui duas ou mais orações, as quais podem ser classificadas de acordo com o tipo de relação que possuem: independência ou dependência. Além disso, as orações podem ser conectadas através de conjunções coordenativas, conjunções subordinativas ou pronomes relativos.

Estou com sono, por isso vou embora.

Eu gosto de você e você sabe disso.

Vá logo, que já é tarde.

Já as orações subordinadas possuem relação de dependência em relação à outra. No caso da oração abaixo, é possível observar dois verbos que estão conectados através da conjunção “que” e notar que existe uma oração principal (minha mãe pediu), a qual submete a outra a uma condição de subordinação (que eu cozinhasse hoje).

Você sabe que eu gosto de você. As orações coordenadas são aquelas que mesmo juntas mantém-se independentes entre si e que podem ser assindéticas (sem conectivos) ou sindéticas (com conectivos). Passei pelo centro, comprei umas canetas e voltei pra casa. No caso das orações coordenadas assindéticas, elas são separadas por vírgulas na escrita e por pausas na oralidade. As sindéticas podem ser aditivas (soma), adversativas (oposição, contraste, compensação), alternativas (alternância, escolha), explicativas (justificativa, explicação) e conclusivas (conclusão).

Capítulo 1

Minha mãe pediu que eu cozinhasse hoje. As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais. As orações subordinadas substantivas são aquelas que podem ser substituídas por um substantivo. Eu quero que você esteja presente. Eu quero a sua presença. Elas são subjetivas quando funcionam como sujeito do verbo da oração principal.

• 40


É necessário que você volte.

Aprovou-se que ninguém saia.

Convém que você fique.

Não consta que tenha feito o trabalho.

São objetivas diretas quando funcionam como objeto direto da oração principal, assim como também ocorre quando funcionam como objeto indireto.

os médicos são bons, portanto todos merecem nosso respeito. As orações subordinadas adverbiais têm a função de adjunto ou locução adverbial em relação ao verbo da oração principal. Temporais

Causais

Quando fomos embora, a festa desanimou.

As plantas estão secando porque não tem chovido.

Condicionais

Proporcionais

Para não confundir as orações subordinadas substantivas objetivas diretas com orações subordinadas substantivas subjetivas, basta observar se o sujeito está contido na oração principal, se não estiver, a oração é SSS, se estiver, a oração é SSOD.

Se você quiser, poderemos ir ao baile mais tarde.

À medida que nos conhecíamos, mais nos apaixonávamos.

Finais

Consecutivas

São completivas nominais as orações subordinadas que funcionam como complemento para um substantivo, adjetivo ou advérbio contido na oração principal.

Eu estava ali a fim de ser convocada.

Chorou tanto na partida que todos se surpreenderam.

A maioria decidiu que iremos para Acapulco. Necessito de que você volte.

Existe a necessidade de que você vá. São predicativas aquelas que funcionam como predicativo do sujeito da oração principal. Viver é caminhar à beira do abismo. São apositivas as orações subordinadas que funcionam como aposto, ou seja, explicação de um termo da oração principal. Meu lema é este: carpe diem. Os médicos que são bons merecem nosso respeito. Os médicos, que são bons, merecem nosso respeito. Já as orações subordinadas adjetivas são classificadas em restritivas e explicativas e têm como conectivos os pronomes relativos. As restritivas são aquelas que têm o papel de restringir ou limitar a característica do termo antecedente. Já as explicativas possuem função generalizadora e estão sempre entre vírgulas. Abaixo é possível observar que a primeira frase refere-se apenas aos médicos que são bons, ou seja, induz ao nosso pensamento a ideia de que nem todos os médicos são bons, mas aqueles que são, merecem nosso respeito. A segunda sentença generaliza, pois indica que todos

Capítulo 1

Conformativas

Concessivas

Tudo foi feito de acordo com o que pedimos.

Ainda que tenhamos dormido muito, chegamos a tempo.

Comparativas Eles brincavam como duas crianças.

As orações subordinadas podem ser reduzidas quando se ausenta o uso de conectivos e o substitui por verbos em formas nominais (infinitivo, gerúndio, particípio). O médico aceitou remarcar a consulta.

O médico aceitou que fosse remarcada a consulta.

Saindo, feche as janelas.

Quando sair, feche as janelas.

Terminada a apresentação, todos elogiaram.

Quando a apresentação terminou, todos elogiaram.

• 41


A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R - Leitura e análise sintática dos textos abaixo: Motivo – Cecília Meirelles Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Meu povo Meu poema - Ferreira Gullar Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova No povo meu poema vai nascendo como no canavial nasce verde o açúcar No povo meu poema está maduro como o sol na garganta do futuro Meu povo em meu poema se reflete como a espiga se funde em terra fértil Ao povo seu poema aqui devolvo menos como quem canta do que planta

Capítulo 1

Não há vagas - Ferreira Gullar O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras - porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas” Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fede nem cheira A estrela - Manuel Bandeira Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia. Era uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha Luzindo no fim do dia. Por que da sua distância Para a minha companhia Não baixava aquela estrela? Por que tão alta luzia? E ouvi-a na sombra funda Responder que assim fazia Para dar uma esperança Mais triste ao fim do meu dia.

• 42


Estrada - Manuel Bandeira Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo o mundo é igual. todo o mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo

Capítulo 1

que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar.

• 43


C A P Í TU L O 14 SEPARAÇÃO DE SÍLABAS Mesmo parecendo uma ferramenta inútil, a separação de sílabas nos ajuda em situações de escrita em que temos uma palavra maior do que o espaço final da linha, por isso a seguir explicaremos como isso deve ser feito de modo adequado. A divisão silábica ocorre de acordo com o modo que pronunciamos as palavras, ou seja, o mínimo de sons que conseguimos produzir em uma única emissão de voz. No caso do português, o núcleo da sílaba são as vogais, portanto toda atenção deve estar voltada a elas nesse processo. Não se separam ditongos (duas vogais na mesma sílaba), tritongos (três vogais na mesma sílaba)’, dígrafos “lh”, “ch”, “nh”, “gu” e “qu”, e grupos consonantais iniciais “ps”, “mn”, “gn” e “pn”. Ditongos

Tritongos

Grupos consonantais iniciais

au-men-to

i-guais

psi-có-lo-go

á-gua

Pa-ra-guai

pneu-má-ti-co

pi-nhei-ro

quais-quer

gnós-ti-co

No entanto, separam-se os hiatos, dígrafos “rr”, “ss”, “sç”, “xc”, “sc”,“xs”e encontros consonantais disjuntos. Hiatos

sa-í-da po-e-sia na-vi-o

Dígrafos pás-sa-ro car-ro nas-cer ex-ce-ção

oxítonas (última), paroxítonas (penúltima) e proparoxítonas (antepenúltima). Oxítonas

Paroxítonas

Proparoxítonas

café, quintal, guaraná

velocidade, repórter, digno

simpático, próximo, lâmina

Saber identificar a tonicidade das sílabas é importante no que diz respeito à acentuação, como no caso de que todas as proparoxítonas devem ser acentuadas. A partir do acordo ortográfico de 2009: os ditongos paroxítonos perderam o acento agudo, mas os monossílabos e oxítonos continuam acentuados.

af-ta mag-né-ti-co

Capítulo 1

Geléia

Geleia

Odisséia

Odisseia

Platéia

Plateia

Pára

Para

Pólo

Polo

Pêlo

Pelo

As palavras terminadas em “ôo” e “êem” perderam o acento circunflexo, com exceção das formas plurais dos verbos “ter” e “vir” e seus derivados. Vôo

Voo

Crêem

Creem

Têm, vêm, detêm, intervêm

Têm, vêm, detêm, intervêm

Classificação e tonicidade Em todas as palavras sempre haverá uma sílaba que será pronunciada com maior intensidade em relação às outras s, essa é chamada de tônica, enquanto as outras são átonas. De acordo com a posição em que se encontram na palavra são classificadas em

Ideia

Os acentos diferenciais (agudo e circunflexo) utilizados para distinguir palavras que possuem a mesma grafia, mas não as mesmas pronúncias foram extintos (exceção de pôr e pôde).

Encontros consonantais disjuntos ad-vo-ga-do

Idéia

• 44


A TI V I D A D E CO M P L E M E N TA R : - Leitura e escuta da música “Carinhoso”, Pixinguinha e João de Barro Braguinha. Meu coração não sei por que Bate feliz Quando te vê... E os meus olhos ficam sorrindo E pelas ruas vão te seguindo... Mas mesmo assim, foges de mim... Ah se tu soubesses como eu sou Tão carinhoso e muito, muito Que te quero... E como é sincero Meu amor... Eu sei que tu não Fugirias... Mais de mim... Vem... Vem... Vem... Veeeem... Vem sentir o calor dos lábios Meus a procura dos teus... Vem matar essa paixão... Que me devora o coração... Só assim então serei feliz... Bem... Feliz...

Capítulo 1

• 45


C A P Í TU L O 15 FUNÇÕES DA LINGUAGEM O uso de qualquer tipo de linguagem vem sempre acompanhado de influências temporais, regionais, sociais e intencionais. Nesse último caso, é preciso afirmar que cada variante, seja ela qual for, possui uma intenção ao ser utilizada e adquire determinada organização linguística de acordo com o que se quer despertar no receptor. A partir disso, postularam-se as funções da linguagem: emotiva ou expressiva, conativa ou apelativa, referencial ou denotativa, poética, metalinguística e fática. A função emotiva é aquela que se centra em despertar a emoção no receptor através de uma linguagem subjetiva e carregada de sentimentos, muito encontrada em cartas de amor, poesias líricas e livros autobiográficos e de memórias. Nela prevalece a primeira pessoa, interjeições e exclamações. A função conativa , também chamada de apelativa, é aquela que utiliza de recursos linguísticos para convencer ou persuadir o receptor, ou seja, mudar ou influenciar seu comportamento. Ela utiliza predominantemente pronomes, imperativos e vocativos a fim de reforçar a atualização da atenção do interlocutor, e é encontrada em propagandas, sermões e discursos. A função referencial , também conhecida como denotativa, é o uso da linguagem na sua forma mais literal, exata e objetiva. Tem como princípio transmitir informações sem deixar quaisquer rastros de subjetividade e pessoalidade, por isso utiliza demasiadamente a terceira pessoa e é encontrada em jornais e artigos científicos ou manuais. A função poética é aquela centrada em transmitir uma mensagem a partir de subjetividade, estímulos, sugestões, afetividade, metáforas e demais recursos estilísticos. Ela tem como princípio de coerência interna a verossimilhança, assim como valoriza as formas, os sons e a pluralidade de sentidos das palavras. Não possui nenhum compromisso com a objetividade, pelo contrário, procura distanciar-se ao máximo do

Capítulo 1

que não exige reflexão e auxílio da memória involuntária. A função metalinguística é a que utiliza a própria linguagem como matéria prima da mensagem. Portanto é o uso da linguagem para falar dela própria. É uma música falando de música, um poema falando de poema, o dicionário falando das palavras, essa apostila falando da gramática. A função fática é centrada no canal de comunicação, por isso tem como objetivo estender ou não o contato com o interlocutor. Utilizada em rádios, conversas telefônicas e até mesmo na internet, tem como função realizar a manutenção da comunicação através de expressões como: “então”, “alô”, “entende?”, “está me ouvindo?”, “entendi”. A TI V I D A D E C O M P L E M E N TA R : - Leitura e análise PARA O MEU FUTURO AMOR eu tenho pensado em você todos os dias. tenho tentado te encontrar em todos os lugares por onde passo. talvez eu te encontre na fila do ônibus ou em um site de relacionamentos. na esquina de casa ou no shopping fazendo compras. eu não sei. mas eu sei que vou te encontrar em algum lugar desse mundo. talvez seja amor à primeira vista ou talvez eu me apaixone lentamente. por cada detalhe. por cada defeito. por cada qualidade. pelo seu sorriso. pelo seu olhar. pelos seus carinhos. vai ser você quem vai me ensinar o que é amor. que vai me fazer querer mais a cada dia. que vai me fazer sonhar com o grande dia. por você eu mudarei os meus planos. com você eu seguirei nos momentos difíceis da vida. eu sei que nem todos os dias serão bons. que eu sentirei vontade de desistir e chorar. mas então você me mostrará que juntos podemos enfrentar o mundo. e juntos conheceremos o mundo. até que um dia cansaremos de ser somente dois. e nossos filhos chegarão. eles trarão mais amor. porém não será fácil. a cobrança será grande. e vamos começar

• 46


a nos culpar. mas novamente vamos enxergar que podemos encarar outro desafio juntos. e os dias bons prevalecerão sobre a nossa casa. é por isso que eu lutarei sempre. para que o nosso amor prevaleça. que a chama da nossa paixão esteja sempre acesa. lealdade não faltará. eu te prometo. até o fim. com você. por você. por amor. eu já era sua. antes de ser. e eu dia estarei lendo essa carta no altar. olhando nos seus olhos. segurando na sua mão. com os olhos cheios de lágrimas. e com o peito explodindo de felicidade e mais amor. eu transbordo amor. eu te direi sim. e serei a sua esposa. por hoje e todo sempre. sua mulher. 26 de junho de 2018, 19h47 — Mel C. | versos-de-uma-sonhadora

S.Paulo, que aponta que houve ascensão de pretos e pardos às classes A e B a partir de políticas de ações afirmativas. Texto e imagem retirados da página do Facebook do Eduardo Suplicy Tecendo a manhã – João Cabral de Melo Neto Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

É um retrocesso a lei nº 16.974, sancionada ontem por Bruno Covas, que extingue Secretarias criadas na gestão Fernando Haddad, como a de Políticas para Mulheres e de Igualdade Racial. Elas já haviam sido suprimidas por seu antecessor João Doria, mas a reforma foi considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, por ter sido feita através de decreto. Fruto de participação social, essas secretarias foram amplamente discutidas com vereadores e movimentos sociais, em 2013. Para além da descontinuidade de políticas públicas, que perdem destaque e prioridade, a medida vai na contramão de recente pesquisa publicada na Folha de

Capítulo 1

• 47


Um telefone toca num fim de tarde, começo de noite . . . * Alô? * Pronto. Ele: - Voz estranha... Gripada? Ela: - Faringite. Ele: - Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar. Ela: - E se estivesse? Algum problema? Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre. Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite? Ele: - Constipado. Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida. Ele: - A gente aprende. Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa. Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce. Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis. Ele: - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou. Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas. Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no sho-

Capítulo 1

pping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas. (Trecho da crônica “Um telefone toca num fim de tarde,...”, de Luís Fernando Veríssimo)

e·mu·de·cer verbo intransitivo 1. Tornar-se mudo. 2. Calar-se. 3. Extinguir-se. verbo transitivo 4. Fazer calar. “emudecer”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 20082013, https://www.priberam.pt/dlpo/emudecer [consultado em 26-08-2018].

• 48


C A P Í TU L O 16 FIGURAS DE LINGUAGEM As figuras de linguagem são recursos estilísticos próprios dos textos literários como expressão da conotação. Diferentemente dos usos denotativos, as figuras de linguagem não possuem compromisso algum em serem objetivas, exatas e usuais. Elas costumam estar relacionadas com a criatividade do autor, assim como com sua capacidade de expandir os sentidos literais das palavras, enxergar sob novos ângulos, ter novas perspectivas e enxergar o que só se vê. Esse recurso estilístico está totalmente atrelado à função poética, aquela que valoriza o ritmo, as imagens, a sonoridade expressiva e a forma como detentora de sentido. A seguir falaremos sobre as figuras de palavras, que ocorrem quando as palavras adquirem sentidos não usuais. A comparação ocorre quando dois termos são aproximados através de um conectivo, mas não têm seus sentidos fundidos, pois o que existe entre eles é apenas uma relação de semelhança e não de sintetização semântica. A vida é como uma mancha de tinta. A chuva caía como um dedilhado de bolero.

Autor pela obra

Mais cedo ouvi Caetano Veloso. (a música)

Continente pelo contéudo

Comemos uma panela de sopa.

Parte pelo todo

Estamos procurando um teto pra morar. (casa)

Singular pelo plural

Todo homem deve ter liberdade de escolha. (homens)

Instrumento pelo usuário

Ele é um bom pincel. (pintor)

Abstrato pelo concreto

A juventude é corajosa. (jovens)

Efeito pela causa

Com muito suor, consegui terminar essa apostila. (trabalho)

Marca pelo produto

Comprei bombril quando fui ao mercado. (palha de aço)

A perífrase é a expressão ou palavra usada para nomear algo através de uma característica marcante ou um feito brilhante. Quando trata-se de pessoas, dá-se o nome de antonomásia.

Poetas trabalham como oleiros.

A terra da garoa está cada vez mais populosa.

Tinha meu coração povoado por todos os amores desde a infância.

O rei do futebol não esteve aqui.

Sobre mim há um epitélio estelar.

A catacrese é o recurso utilizado para empregar um termo com significado de outro pela ausência de uma palavra própria para nomear determinado ser.

Minha boca é um túmulo. A metáfora é o termo que designa um signo que possui e é possuído pelo sentido de outro, portanto ocorre uma comparação sem conectivo e muito mais intensa, profunda e instantânea. A metonímia ocorre quando uma palavra é substituída por outra pela existência de uma conexão lógica entre elas.

Capítulo 1

A manga da minha blusa está na medida. O pé da cadeira está quebrado. A asa da xícara está suja. A sinestesia é o uso de variadas palavras que propiciam impressões sensoriais das mais diversas.

• 49


Esse cheiro doce do perfume me deixa tão bem.

O vento está mais calmo. A lua afaga meus cabelos.

A música refresca minha alma. Ela me deu um doce abraço. As figuras de pensamento são aquelas que promovem um jogo de sentidos e significados a partir da análise das combinações de palavras na frase. Uma delas é a antítese , a qual promove aproximação de termos de sentidos opostos e que se mantém separados semanticamente.

As figuras de linguagem sintáticas são aquelas que dizem respeito à organização não convencional ou usual das palavras na frase. A elipse é o ocultamento de um termo que passa a ser subtendido ou facilmente identificado. Nos dias de feriado, nenhuma alma na faculdade.

A noite é fria, o dia é quente.

Passei dois anos naquela escola.

A frase é a mata, a palavra é semente. O paradoxo é a aproximação e fusão de termos de sentidos opostos até um ponto em que já não se possa identificar onde um começa e outro termina.

A zeugma é o recurso estilístico que ocorre quando há o ocultamento de um termo que já foi citado anteriormente, por isso tem ligação direta com o contexto.

Eu vivo sonhando acordado.

Eu observava a noite, as pedras, as casas, as luzes: tudo era muito coisa.

A pausa também é música.

Eu não o vi, nem ele a mim.

O eufemismo é o recurso estilístico utilizado para amenizar ou atenuar acontecimentos.

O hipérbato é a inversão da ordem direta dos termos na oração ou das orações no período.

Ele é desprovido de sapiência.

Pela manhã, dois cachorros ela viu.

Meu pai não está mais entre nós.

Andando devagar, íamos todos os dias à escola.

A hipérbole tem a função de amplificar o sentido de algo através de exageros e grande expressividade.

Pleonasmo ocorre quando a mesma ideia é repetida através do mesmo termo ou não.

Estou morta de fome.

Subiremos lá pra cima mais tarde.

Caraca! Demorou dez anos pra chegar com a comida.

Chorei um choro de saudade.

A irônia consiste em dizer algo com a intenção de dizer o oposto, a fim de satirizar ou ridicularizar algo ou alguém.

O polissíndeto consiste na repetição de conectivos – normalmente o “e”. Trouxe meus sonhos, e minha manta, e meu peito, e meu carinho.

Que olheiras imensas, vejo que está dormindo muito bem. Quantas interrupções, você é realmente muito educado. A prosopopeia , também chamada de personificação ou animismo, é a atribuição de características humanas ou de seres vivos a não humanos ou seres inanimados.

Capítulo 1

E falei, e cantei e me diverti. Assíndeto é a omissão de conectivos. Eu dizia que era cedo, ela pegou suas coisas, foi embora. Tenho andado contente, alegre, apaixonado.

• 50


O anacoluto é o recurso utilizado para interromper um segmento temático do discurso e introduzir um novo. Uns papéis amassados pela casa, eram pistas de como foram meus últimos dias. Chegaram sem nada, merecem apoio e acolhimento. A anáfora é a repetição de uma palavra ou expressão para enfatizar uma mensagem ou um sentido. Com ela sou mais feliz, com ela sou melhor, com ela sou meu. Era manhã, era tarde, era noite. A silepse é a concordância que ocorre de acordo com o sentido e não com os termos da frase. Silepse de gênero

Silepse de número

Silepse de pessoa

Vossa excelência está bonito.

Aquela cidade toda costumavam reciclar.

Quem vamos?

A antiga Rio de Janeiro era linda.

A sala estava calma, estavam lendo.

Todos os cidadãos somos assim.

As figuras fonéticas são aquelas que dão destaque sonoro às palavras. As onomatopeias imitam os sons ou vozes dos seres. O cricri dos grilos inundou a noite. O au-au era sempre sinal de que ele havia chegado. A aliteração ocorre quando há a repetição de fonemas consonantais no início ou no interior das palavras, assim como a assonância só que em relação aos fonemas vocálicos. Ele era bravo, breve, bruto. A casa ficava na mata.

Capítulo 1

A TI V I D A D E C O M P L E M E N TA R - Leitura, escuta e análise dos trechos abaixo: Operário em construção – Vinicius de Moraes (experiência sensorial: ler ouvindo Milonga Choro de Yamandu Costa e Herz) Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia... Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse, eventualmente Um operário em construção. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão - Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção.

• 51


Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão.

Era a mansão do patrão Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão.

Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia - Exercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia.

E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução. Como era de se esperar As bocas da delação Começaram a dizer coisas Aos ouvidos do patrão. Mas o patrão não queria Nenhuma preocupação - “Convençam-no” do contrário - Disse ele sobre o operário E ao dizer isso sorria. Dia seguinte, o operário Ao sair da construção Viu-se súbito cercado Dos homens da delação E sofreu, por destinado Sua primeira agressão. Teve seu rosto cuspido Teve seu braço quebrado Mas quando foi perguntado O operário disse: Não! Em vão sofrera o operário Sua primeira agressão Muitas outras se seguiram Muitas outras seguirão. Porém, por imprescindível Ao edifício em construção Seu trabalho prosseguia E todo o seu sofrimento Misturava-se ao cimento Da construção que crescia.

E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava.

Sentindo que a violência Não dobraria o operário Um dia tentou o patrão Dobrá-lo de modo vário. De sorte que o foi levando Ao alto da construção E num momento de tempo Mostrou-lhe toda a região E apontando-a ao operário Fez-lhe esta declaração: - Dar-te-ei todo esse poder E a sua satisfação Porque a mim me foi entregue E dou-o a quem bem quiser. Dou-te tempo de lazer Dou-te tempo de mulher.

E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia sim Começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas A que não dava atenção: Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uísque do patrão Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde morava

Capítulo 1

• 52


Portanto, tudo o que vês Será teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não.

Geni e o Zepelim – Chico Buarque

Disse, e fitou o operário Que olhava e que refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria. O operário via as casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não!

De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada

(assistir interpretação de Leticia Sabatella)

Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato

- Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu. E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão.

E também vai amiúde Com os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir Ela é um poço de bondade E é por isso que a cidade Vive sempre a repetir Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!

Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão. E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão. Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em construção.

Um dia surgiu, brilhante Entre as nuvens, flutuante Um enorme zepelim Pairou sobre os edifícios Abriu dois mil orifícios Com dois mil canhões assim A cidade apavorada Se quedou paralisada Pronta pra virar geleia Mas do zepelim gigante Desceu o seu comandante Dizendo: “Mudei de ideia!” Quando vi nesta cidade Tanto horror e iniquidade Resolvi tudo explodir Mas posso evitar o drama Se aquela formosa dama Esta noite me servir Essa dama era Geni! Mas não pode ser Geni! Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni!

Capítulo 1

• 53


Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela Tão coitada e tão singela Cativara o forasteiro O guerreiro tão vistoso Tão temido e poderoso Era dela, prisioneiro Acontece que a donzela (E isso era segredo dela) Também tinha seus caprichos E ao deitar com homem tão nobre Tão cheirando a brilho e a cobre Preferia amar com os bichos Ao ouvir tal heresia A cidade em romaria Foi beijar a sua mão O prefeito de joelhos O bispo de olhos vermelhos E o banqueiro com um milhão

Não existe amor em SP – Criolo Não existe amor em SP Um labirinto místico Onde os grafites gritam Não dá pra descrever Numa linda frase De um postal tão doce Cuidado com doce São Paulo é um buquê Buquês são flores mortas Num lindo arranjo Arranjo lindo feito pra você Não existe amor em SP Os bares estão cheios de almas tão vazias A ganância vibra, a vaidade excita Devolva minha vida e morra Afogada em seu próprio mar de fel Aqui ninguém vai pro céu

Vai com ele, vai, Geni! Vai com ele, vai, Geni! Você pode nos salvar Você vai nos redimir Você dá pra qualquer um Bendita Geni!

Não precisa morrer pra ver Deus Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você Encontro duas nuvens Em cada escombro, em cada esquina Me dê um gole de vida Não precisa morrer pra ver Deus

Foram tantos os pedidos Tão sinceros, tão sentidos Que ela dominou seu asco Nessa noite lancinante Entregou-se a tal amante Como quem dá-se ao carrasco

Trecho de “Jesus chorou”, Racionais Mc’s

Ele fez tanta sujeira Lambuzou-se a noite inteira Até ficar saciado E nem bem amanhecia Partiu numa nuvem fria Com seu zepelim prateado

O que é, o que é? Clara e salgada Cabe em um olho E Pesa uma tonelada Tem sabor de mar Pode ser discreta Inquilina da dor Morada predileta

Num suspiro aliviado Ela se virou de lado E tentou até sorrir Mas logo raiou o dia E a cidade em cantoria Não deixou ela dormir

Na calada ela vem Refém da vingança Irmã do desespero Rival da esperança

Joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!

Pode ser causada por Vermes e mundanas E o espinho da flor Cruel que você ama Vai (Menina amanhã de manhã) – Tom Zé Menina, amanhã de manhã

Joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni!

Capítulo 1

• 54


quando a gente acordar quero te dizer que a felicidade vai desabar sobre os homens vai desabar sobre os homens vai desabar sobre os homens

é cheia de e é cheia de i é cheia de o

Na hora ninguém escapa debaixo da cama ninguém se esconde a felicidade vai desabar sobre os homens vai desabar sobre os homens vai desabar sobre os homens

cheia de a cheia de e

é cheia de a é cheia de e é cheia de i é cheia de o

Menina, ela mete medo menina, ela fecha a roda menina, não tem saída de cima, de banda ou de lado. Menina, olhe pra frente Oh! menina, todo cuidado, não queira dormir no ponto, seguro o jogo, atenção. (De manhã) Menina, a felicidade é cheia de praça, é cheia de traça é cheia de lata é cheia de graça. Menina, a felicidade é cheia de pano é cheia de peno é cheia de sino é cheia de sono Menina, a felicidade é cheia de ano é cheia de Eno é cheia de hino é cheia de ONU. Menina, a felicidade é cheia de an é cheia de en é cheia de in é cheia de on Menina a felicidade é cheia de a é cheia de e é cheia de i é cheia de o é cheia de a

Capítulo 1

• 55


C A P Í TU L O 17 FENÔMENOS LINGUÍSTICOS A língua está em constante processo de mudança e atualização, o que pressupõe a formação de infinitas combinações de sentenças, as quais podem adquirir propriedades semânticas distintas dependendo das circunstâncias nas quais o uso está inserido. Dominar as propriedades e relações que as palavras possuem a partir de seus significados é importante na modalidade escrita, visto que se ampliam as possibilidades de construções de sentido. A sinonímia ocorre quando dois os mais termos possuem significados muito próximos, o que varia certamente com o contexto.

A homonímia acontece quando há coincidências sonoras, gráficas ou sonoras e gráficas entre termos com sentidos distintos. Sede (local)

Sede (necessidade de líquidos)

Sessão (reunião, espaço no tempo, cerimônia)

Seção (divisão, repartição, setor, departamento)

A polissemia ocorre quando um mesmo signo possui mais de um sentido, muito recorrente no uso metafórico. É diferente da homonímia, pois, nesse caso, o termo possui uma única derivação, diferentemente do primeiro caso quando diferentes derivações se convergem graficamente e foneticamente.

Eu implorei para que minha mãe me deixasse sair. Eu roguei para que minha mãe me deixasse sair. A antonímia é a oposição direta entre dois termos que podem ou não ser antônimos de acordo com o contexto no qual estão inseridos. O dia me enchia de vida, a noite era a vida suspensa. Um termo é hiperônimo do outro quando seu significado engloba o sentido do segundo, o qual é denominado hipônimo. Portanto trata-se de uma relação de pertencimento. Comi tantos doces hoje: sorvete, torta, bolo, brigadeiro. A paronímia ocorre quando dois signos se parecem na grafia e na sonoridade, porém possuem sentidos completamente diferentes. Quando ocorre o uso de paronímia chamamos o recurso de paronomásia.

Prato (vasilha, objeto)

A mãe de Pedro entrou com seu carro na garagem. A ambiguidade ocorre quando uma mesma sentença produz mais de uma possibilidade de interpretação. Termos marcadores de pressuposição são aqueles que nos fornecem uma informação que não é dita diretamente na sentença, mas que a subentende. Marcia parou de fumar. Por fim, a polifonia textual ocorre quando mais de uma voz atua no discurso, assim como o que ocorre numa orquestra, só que através de citações e paráfrases por exemplo.

O corpo docente discutiu as pautas da reunião. (professores) O corpo discente discutiu as pautas da reunião. (alunos)

Capítulo 1

Prato (comida, iguaria)

• 56


Mais Uma Vez - Renato Russo Mas é claro que o sol vai voltar amanhã Mais uma vez, eu sei Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã Espera que o sol já vem Tem gente que está do mesmo lado que você Mas deveria estar do lado de lá Tem gente que machuca os outros Tem gente que não sabe amar Tem gente enganando a gente Veja a nossa vida como está Mas eu sei que um dia a gente aprende Se você quiser alguém em quem confiar Confie em si mesmo Quem acredita sempre alcança! Monte Castelo - Renato Russo Ainda que eu falasse a língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria É só o amor, é só o amor Que conhece o que é verdade O amor é bom, não quer o mal Não sente inveja ou se envaidece O amor é o fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer Ainda que eu falasse a língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder É um estar-se preso por vontade É servir a quem vence, o vencedor É um ter com quem nos mata a lealdade Tão contrário a si é o mesmo amor Estou acordado e todos dormem Todos dormem, todos dormem Agora vejo em parte Mas então veremos face a face

Capítulo 1

• 57


Capítulo 1

• 58


C A P Í TU L O 18 TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO Com a Terceira Revolução Industrial, denominada Revolução Informacional, que teve seu início após a Segunda Guerra Mundial, houve um processo de integração fundamental para que nos tornássemos o que somos hoje como indivíduo e como sociedade. Os adventos dessa revolução nos trouxeram inovações tais como a robótica, biotecnologia, nanotecnologia e informática, as quais propiciaram mudanças em diversos setores da sociedade, abarcando avanços na indústria, comércio, economia e na educação. Pensando no cunho linguístico desse processo, a expansão das possibilidades comunicativas através da Internet e de novos aparelhos eletrônicos provocou transformações profundas no modo como a sociedade se organiza, compreende-se, comunica-se e se relaciona. Uma das principais transformações é a instantaneidade das coisas, a memória coletiva tornou-se muito mais solúvel no tempo, visto que a rapidez dos veículos de comunicação transcenderam suas funções primordiais e atingiram a maneira como se desenvolvem as relações afetivas. Além disso, também é possível observar como os transtornos psicológicos atingiram seu auge nesse momento em que surgiram inúmeras ilhas virtuais, as quais perderam ou diminuíram o alcance de suas capacidades comunicativas interpessoais. No que diz respeito às capacidades de abstração das pessoas, também houve um imenso impacto, visto que se trata de um período que é sustentado pela imagem, a qual vem pronta, não exige nenhum tipo de esforço imaginativo para ser criada, o que atinge diretamente a comunicação e criação individual.

tante para a diminuição de preconceitos e ampliação de conhecimento do mundo, já o acesso à informação permite o desenvolvimento de novas correntes de pensamento ou o fortalecimento das que já existem, além de provocar um processo denominado democratização da informação. A democratização da informação é um fenômeno que consiste em tornar as fontes de informação acessíveis, assim como deve ocorrer paralelamente ao processo de captação da informação e transformação dela em conhecimento. Esse é um aspecto importante na sociedade brasileira atual, pois mesmo que as tecnologias estejam presentes na vida de uma grande parcela da população, ainda existe uma grande camada social periférica, no que diz respeito ao acesso à informação, que detém somente o que é veiculado pela mídia tradicional, a qual disponibiliza apenas aquilo que convém, ou seja, controla o que é informado a fim de manipular ideologicamente as pessoas. Por isso é preciso enxergar o acesso à informação como uma via de mãos duplas compostas pela tecnologia e educação, as quais devem andar de mãos dadas com o objetivo de ampliar as bagagens intelectuais das pessoas como forma de libertá-las do senso comum.

Entretanto um dos fatores mais importantes e mais positivos de todos os avanços das últimas décadas é a integração cultural e o acesso à informação de maneira rápida e prática. A integração cultural é impor-

Capítulo 1

• 59


Capítulo 1

• 60


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.