Caderno [ Clarissa de Melo - Projeto de Diplomação II - Crematório Lírio da Paz ]

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CREMATÓRIO LÍRIO DA PAZ

Orientanda: Clarissa de Melo e Lemos Orientadora: Suyene Arakaki UniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - Projeto de Diplomação II


Life is eternal, and love is immortal, and death is only a horizon; and a horizon is nothing save the limit of our sight.


JUSTIFICATIVA Cemitérios | DF

Atualmente Brasília conta com seis cemitérios , todos administrados pela empresa Campo da Esperança.

Em 2008, com a CPI dos Cemitérios, foram averiguadas inúmeras irregularidades, como: falta de segurança, limpeza precária, acessibilidade negligenciada, divergências nas tabelas de preços e mau atendimento. Somado a isso, têm-se a preocupação crescente com a superlotação: de acordo com estudos realizados em 2016, o cemitério da Asa Sul (o maior da cidade) estará lotado em 5,5 anos ; para o de Taguatinga, a previsão de lotação é de 1 ,5 ano. A solução aplicada, por hora, é a exumação dos corpos de indigentes.

Com o crescimento exponencial da população e a falta de espaços associada a este fenômeno, a cremação aparece como o sepultamento do futuro. O fator econômico também é favorável ao procedimento: normalmente os custos do sepultamento tradicional são mais elevados , uma vez que há despesas como locação de jazigo e taxas referentes ao terreno no cemitério.

Do ponto de vista higiênico e ecológico, a incineração evita possíveis fontes de infecção e é um processo 100% ecológico, diferente do enterro, onde pode ocorrer a contaminação da água subterrânea pela solução de embalsamento e por componentes como mercúrio, arsênio e formaldeído.

Será somente evoluindo a relação entre a morte e a arquitetura, que conseguiremos fazer com que os seres humanos deixem este plano sem gerar danos à natureza a longo prazo.


CONCEITO


CONTEXTUALIZANDO O RITUAL

De acordo com o dicionário Aurélio, o luto pode significar tanto o sofrimento pela morte de alguém, quanto os sinais exteriores deste sentimento. Neste contexto, ritualizar é marcar, pontuar um aspecto da realidade, um acontecimento.

Os funerais e os demais rituais relacionados a morte servem para contextualizar a experiência, permitindo as transições do ciclo da vida, criando elos entre o passado e o futuro.

Compreende-se, a partir de todas as considerações feitas, que o caráter simbólico dos rituais permite ou facilitar a comunicação social de significados relacionados ao morrer, oferecendo sentido à realidade.

Os rituais ajudam a simbolizar a morte do ente querido, favorecendo a reintegração cotidiana e social rompida pela mudança que a perda ocasiona. Além do mais, o investimento e dedicação presentes nos rituais poderão amenizar possíveis sentimentos de culpa, sendo o ritual fúnebre necessário para a maturação psicológica, por ter atribuições relevantes como: ajudar o indivíduo a confrontar-se com a perda concreta, entrando no processo de luto, possibilitando-lhe também a manifestação pública de seu pesar.


ESTUDO DE RITOS | DIFERENTES CULTURAS

Cultura Mexicana

Entre os dias 1 e 2 de novembro, é celebrado o Dia de Los Muertos. A festa conta com muitas flores, velas e incensos. Nestes dias, acredita-se que os mortos têm permissão divina para voltar à terra e visitar familiares e amigos. O início da festa se dá no dia 31 de outubro, coincidindo com o Dia das Bruxas.

Cultura Judaica

Na tradição fúnebre judaica, é comum realizar um rasgo na roupa de quem está de luto (keriá), como forma de descarregar a dor e a angústia. Além disso, as pessoas acompanham o caixão fazendo rápidas paradas antes de chegar no túmulo: tais paradas simbolizam a relutância dos parentes em se separarem do falecido. Como uma forma de honrar a simplicidade do falecido, o enterro é feito sem flores ou ornamentos.

Cultura Cristã

Na tradição cristã, a homenagem ao falecido pode ocorrer tanto na data celebrativa (2 de novembro, Dia de Finados) quanto no dia a dia. As comuns demonstrações de carinho, saudade e respeito se dão através de ornamentações com flores e velas, além de orações.

Cultura Indiana

A partir da crença na reencarnação, o rito fúnebre indiano conta com mantras entoados sem tristeza nas vozes: pelo contrário, o tom é de devoção. O cadáver é comumente envolto em panos coloridos, de tonalidades fortes, vibrantes e alegres.


OCIDENTE

AS CORES DO LUTO AO REDOR DO MUNDO

ÁSIA

Na cultura ocidental, a cor associada ao luto é o preto. Embora atualmente seja comum apenas que as pessoas se vistam com esta cor no velório, antigamente, os costumes associados ao luto eram muito severos: as viúvas da Europa Ocidental, no século XIX, deveriam vestir-se inteiramente de preto durante dois anos. A Rainha Vitória, após o falecimento de seu marido príncipe-console Albert, usou trajes pretos para simbolizar a sua dor até o fim da vida. Na África, as cores que representam o luto são vibrantes: vermelho e amarelo. Já no Oriente Médio, a cor escolhida é o azul.

ÁFRICA

ORIENTE MÉDIO


FORMANDO O CONCEITO | ENTENDENDO O RITUAL

Referência bibliográfica: Os Ritos de Passagem | Gennep

O livro Os Ritos de Passagem, de Gennep, aborda os significados e funções benignas dos ritos fúnebres para a elaboração do processo de luto. A importância de se estudar os rituais funerários está em compreender as implicações das manifestações humanas em relação à perda de uma pessoa querida. Fica claro que a ação ritual auxilia, e muito, para que o ser humano consiga significar suas perdas.

Gennep coloca que os ritos se assemelham à fronteiras e interdições, que devem ser ultrapassadas no percurso de cada etapa da vida (nascimento, puberdade, casamentp, divórcio, morte...), e que o ritual (neste caso, o fúnebre) transcende o tempo real da morte já ocorrida para que possa haver um reconhecimento social desta, ou seja, o morto precisa morrer também socialmente (Turner, 1974).

Segundo Augras (1984), a vida humana é repleta de falhas, momentos não necessariamente interligados, como um caminho com obstáculos a serem ultrapassados, cabendo às pessoas criar a continuidade, estabelecendo ligações entre as partes. “É o próprio homem que faz a ponte que traz continuidade à vida, ou que se transforma na ponte ou na porta por onde se dará a passagem.” Para o autor, ainda, o ato de passagem remete ao movimento: os estados anteriores e posteriores à passagem serão sempre delimitados simbolicamente.


CONCEITO: INTERDIÇÃO


REFERÊNCIAS +PARTIDO


REFERÊNCIAS PROGRAMATICAS

Crematório Woodland // Johan Celsing referência programática pela proposta da organização dos fluxos; ambientes técnicos interligados estrategicamente, de forma a otimizar o caminho a ser percorrido no Crematório Siesegem // KAAN referência programática pela proposta de paradas em meio ao percuso para contemplação, dentro e fora do edifício, além do paisagismo natural ao redor do edifício.

transporte do caixão.


REFERÊNCIAS CONCEITUAIS

Capela da Despedida// TRIA referência conceitual pelo uso abundante de madeira, espaços abertos, vazados. Leveza e sensação de abrigo.

Residência Costa Esmeralda// Centro Cero referência conceitual pelo uso abundante de madeira, concreto e vidro; espaços amplos e abertos, ligados à natureza. Escala humana, linearidade.


O

PARTIDO

A ATMOSFERA: Partido baseado na horizontalidade em respeito a escala e dimensão. Materias acolhedores, quentes. Tensão com o exterior: sensação de abrigo, segurança. Luz do dia. Interdição por meio de partes desagregadas e reconstituídas de uma malha.

Para o prédio: interdição nos fluxos por meio de zonas neutras, que representam os ritos de passagem. Fronteiras, momentos não ligados; Espaços desagregados.

Para o caminho até o prédio + entorno, paisagismo: cultura judaica: pessoas realizam rápidas paradas que simbolizam a relutância em se despedir; Criar marcos.


O TERRENO


asa norte

asa sul SGAS O LOCAL | LEGISLAÇÃO

PARQUE DA CIDADE

Não existe nenhum crematório em Brasília. O estabelecimento mais próximo situa-se em Valparaíso, Goiás. A família que deseja cremar um ente querido, então, deve passar pela dificuldade de percorrer grandes distâncias. O intuito de idealizar o crematório no coração da cidade visa tentar facilitar, de alguma forma, o momento delicado do luto.

LIMITE DA UP O lote escolhido localiza-se ao lado do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Trata-se de um lote não registrado, mas que pertence à AP6 UP1, que, de acordo com a Planilha de Parâmetros Urbanísticos e de Preservação (PURP) 36, destina-se a prestação de serviços funerários e serviços relacionados, abrangendo a cremação

Localização: Área Especial para Cemitério - Setor de Grandes Áreas Sul - SGAS. AP 6/UP 1: Atividades Permitidas: prestação de serviços; 96.03-3: atividades funerárias e serviços relacionados. Taxa de Ocupação: 40% da área do lote, somada com a área pavimentada que não deverá ultrapassar 70% da área do lote. Taxa de Construção: 100% da área do lote. Afastamento Obrigatório: 20m para a frente e 5m para as laterais e fundo.

CEMITÉRIO

TERRENO

Pavimentos Permitidos e Altura Máxima: 3 pavimentos e 9,50m *Elementos como casa de máquinas e caixa d'água poderão ultrapassar a altura máxima permitida. Estacionamento: obrigatório dentro do lote; Uma vaga para cada 100m

² construído.

Área Verde: 30% na proporção do lote. Cercamento: altura máxima de 2m; fechado, vazado ou cerca viva.


CEMITÉRIO

O TERRENO


VEGETAÇÃO

FLUXOS

USOS

rasteira

baixo

serviços

m. arbórea

médio

institucional

impermeável

alto

ANÁLISE

estacionamentos

DE

CONDICIONANTES ventos úmidos ventos predominantes

baixo

+ baixo

médio

+ alto

alto

VENTOS

RUÍDOS

TOPOGRAFIA


O TERRENO | PROPOSTA

O terreno, atualmente, possui uma vegetação abundante, não possui vias de acesso direto e situa-se em dois metros de desnivel em relação à via mais próxima.

A proposta de intervenção aqui consiste em aumentar em mais dois metros e quarenta centímetros o desnivel, de forma a tornar o topo do edifício, uma continuação da paisagem; além disso, propõe-se vias de acesso direto, com estacionamentos dedicados tanto aos funcionários quanto aos visitantes do crematório.


O PROGRAMA


NECESSIDADES

1hall social + recepção 2café

9

3capelas

8

4administração 5sala de vendas

10

6almoxarifado 7arquivo

11

8sala de tanatopraxia 9câmara fria

3

10sala de cremação

2

11hall de serviços

12

12copa para funcionários 13banheiros 14sala de controle/segurança

1 13

5

ZONEAMENTO

Um edifício com usos tão específicos como um crematório necessita, obrigatoriamente, de um zoneamento bem estruturado. Aqui, os ambientes foram dispostos de forma a não misturar os diversos fluxos presentes no prédio.

4

14

6

7


O PROJETO


PLANTA

BAIXA

-

TÉRREO


A entrada social do edifício se dá por uma ampla e suave rampa, com inclinação de 6%. A mesma propõe a impressão de flutuar sobre um espelho d'água. Esta solução foi adotada de forma a trazer uma alusão às longas caminhadas fúnebres presentes na cultura judaica.


Estruturada em uma parede com 60cm de espessura e revestida com Pedra Moledo, a rampa possui calhas em toda a sua extensão: assim, as águas pluviais fluem diretamente para o ralo invisível no piso térreo. Um corrimão em estrutura metálica e chapa de MDF, fixado na parede, garante a segurança no percurso.



em azul: columbário, café/recepção e tubos solares em amarelo: capelas e setor administrativo em cinza: banheiros e copa dos fucionários Ao chegar no nivel térreo, o visitante é recebido por um aconchegante café, que se encontra diretamente ligado com a recepção. Em um amplo salão, é possível contemplar o columbário, situado em frente ao setor administrativo, o espelho d'água sob a rampa e os tubos solares, que antecedem a entrada das capelas. Ao final do percurso pelo columbário, têm-se os banheiros e a entrada para a copa dos funcionários.


A disposição dos tubos solares em planta serve como um reforço do conceito: são interdições, representando as "falhas" e os momentos desconexos da vida. O simbolismo também se reafirma em relação ao percurso fúnebre judaico, trazendo as pequenas paradas no caminho, que remetem à relutância em se despedir da pessoa querida.



Para garantir a ventilação natural no salão, foram pensadas esquadrias de piso ao teto com estrutura de alumínio com pintura automotiva na cor chumbo e vidros jumbo. As portas camarão contam com vidros fixos nas laterais, que seguem o mesmo desenho, para assegurar uma linguagem coesa. Quando recolhidas, as folhas alinham-se aos pilares e convidam para dentro do edifício a natureza.



FACHADA

FACHADA

FACHADA

OESTE

LESTE

NORTE

FACHADA

SUL

Um elemento marcante no edifício é a repetição de brises fixos que ocorre em volta de quase todo ele. Estes brises, além de protegerem o prédio da incidência solar, funcionam como dutos para as descidas dos tubos de queda que vêm da cobertura. São estruturados com cantoneiras e metalons, com fechamento em placa cimentícia eterwood, da eternit.



E por falar em repetição, outro elemento que aparece várias vezes no prédio é a esquadria 01, que segue o mesmo padrão da porta camarão e garante a ventilação dos ambientes administrativos e das capelas.


Para a ventilação de ambientes mais restritos, como a câmara fria, sala de cremação e banheiros, foi utilizada uma veneziana

º

industrial com pintura automotiva na cor chumbo, que abre a 45 , permitindo assim a entrada de ar e luz naturais, e ainda assim garantindo a privacidade.



em amarelo: entrada de funcionários

Toda a parte de serviços, tais como lavanderia, depósitos e vestiários, foi locada no subsolo. O acesso a esta parte do edifício se dá pela entrada de funcionários: um bloco solto do restante do edifício na superfície.


PLANTA

BAIXA

-

SUBSOLO



em amarelo: rampa para carros de funerária em azul: área de manobra + hall para recepção dos corpos Para promover privacidade e segurança na chegada dos corpos ao crematório, foi pensada uma entrada exclusiva para os carros de funerária, que se dá por uma rampa no canto do prédio. A rampa está ligada a uma área de manobra, que dá acesso a um salão onde acontece a recepção dos cadáveres. Este espaço foi posicionado estrategicamente, próximo às áreas de câmara fria, sala de tanatopraxia e sala de cremação.

em vermelho: câmara fria, sala de cremação e tanatopraxia.



CORTE

AA

CORTE

BB

CORTE

CC

CORTE

DD

A estrutura do crematório é composta por laje nervurada no interior (atex 60) e caixão perdido nas "varandas", com vigas faixa e pilares em concreto armado com seção de 1,80m. Todas as distâncias entre os eixos totalizam 13 metros. No subsolo e na entrada de funcionários, todas as paredes são estruturais e as lajes são em concreto armado.


COBERTURA

|

SITUAÇÃO

A ligação entre as vias e estacionamentos propostos e a cobertura do edifício acontece através de uma espécie de "ponte", que reforça o conceito com fragmentos faltando. Ela se sustenta com um único pilar redondo de concreto, que com um acabamento amadeirado, disfarça-se entre os troncos das árvores presentes no terreno. A cobertura do crematório é composta por laje impermeabilizada, acrescida de sistema de piso e jardim elevado da Ecotelhado, com estrutura laminar de 7 centímetros de altura. Todo o paisagismo ao redor foi idealizado de forma a garantir a sensação de clareira em uma floresta, e um bosque no estacionamento começa a trabalhar a ambiência logo na chegada ao local.









OBRIGADA!

Orientanda: Clarissa de Melo e Lemos Orientadora: Suyene Arakaki UniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - Projeto de Diplomação II


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