1 minute read
SEM SEGUNDA CHANCE
from claro! Erro
by Claro! USP
Eu sempre escutei da minha mãe que eu precisava ser duas ou três vezes melhor do que qualquer outra pessoa para ser considerada igual”. O depoimento de Roberta Calixto, especialista em diversidade do Instituto Identidades do Brasil e coordenadora da organização As Josefinas, escancara uma realidade: a maioria das mulheres pretas não têm a chance de cometer erros durante sua jornada profissional.
Advertisement
Tal expressão do racismo é sentida desde a infância. A falta de letramento racial em parte do sistema de educação se manifesta contra crianças pretas que, muitas vezes, são desmotivadas em sala de aula e tratadas como caso perdido. Se apresentam um desempenho baixo, por exemplo, são inferiorizadas.
Quando adentram o ambiente corporativo, não demora para que as dificuldades impostas por uma sociedade racista continuem. Laiz Carvalho, economista chefe e fundadora da Black Swan, recorda que, ao olhar para o topo das empresas, não encontrava pessoas parecidas com ela.
Atravessadas pela violência, profissionais pretas têm suas experiências coletivizadas e carregam a missão de representar todo um grupo. Qualquer tropeço, por menor que seja, se torna argumento para a propagação de dis cursos semelhantes a “já contratei uma mulher preta para esse cargo e não deu certo”.
Com a avaliação constante de possíveis deslizes, o ar se torna ainda mais rarefeito para a diversidade nos postos de liderança das empresas, aponta Rachel Maia, ex-CEO da Lacoste no Brasil. Ao atingirem o topo, outra imposição é estabelecida: o que elas farão com o próprio legado? “O peso de ser ‘a única’ ou ‘a primeira’ é constante”, afirma Laiz.
Em meio a tantas expectativas, a conta também chega para a saúde mental dessas mulheres. Com a exigência de serem fortes a todo tempo, até mesmo o papel de vítimas lhes é negado. Cruel e enlouquecedor, o racismo tenta convencê-las de que a intolerância não existe.
Conceição Costa, psicóloga e coordenadora geral da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es), destaca que esse quadro exige um esforço mental e emocional elevado. A discriminação racial tende a potencializar doenças como ansiedade, depressão, Síndrome de Burnout e muitas outras patologias.
Os danos para a saúde mental refletem a disparidade de oportunidades que ainda domina o país. Roberta, Laiz e Rachel fazem parte dos 3% de mulheres pretas que ocupam cargos de liderança no Brasil — mas elas não ficarão sozinhas por muito tempo. A partir de suas organizações, auxiliam na construção de um mercado diverso e inclusivo.