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CLAUDIA BIGOTO
O HOSPITAL HUMANIZADO: Projeto do Hospital do Rim de Bauru
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Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura, pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP de Bauru. Orientadora: Prof. Dra. Silvana Aparecida Alves. Coorientadora: Marta Enokibara 4
AGRADECIMENTOS
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gradeço os meus pais, Rosângela e Pedro, por todo apoio oferecido nesta caminhada que me trouxe até aqui. A eles devo o meu empenho, a força de continuar lutando diante todas as adversidades, além de uma nova chance de continuar a viver. Quero dedicar este projeto também ao meu irmão, João (conhecido como “O grande salvador de computadores indefesos e outras causas impossíveis”) e a minha cunhada Joyce, por estarem sempre a disposição, me apoiar e socorrer nos momentos mais críticos. Não posso esquecer aquelas que me suportaram durante toda a graduação, dentro e fora da faculdade, as talentosíssimas Gabriela e Liara. As longas conversas, enquanto assistimos programas questionáveis na TV, eram atividades verdadeiramente terapêuticas, além de uma ótima forma de esquecer momentaneamente os trabalhos e seus curtos prazos. Neste mesmo patamar, quero adicionar os importantes grupos de amizades: as “Meninas do Shopping”, “Sobreviventes do Tamandaré” e os mais novos amigos do escritório RMAA. Meus mais sinceros agradecimentos também àqueles que me orientaram neste projeto diretamente, em diversas áreas do processo criativo: o Matheus Arid e Rodrigo Oliveira, e as professoras Silvana Alves, Marta Enokibara e Maria Helena Reginato. Não chegaria até aqui sem a ajuda de todos vocês! Muito obrigada!
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“Diz quem foi que fez o primeiro teto Que o projeto não desmoronou Quem foi esse pedreiro esse arquiteto E o valente primeiro morador” “ALMANAQUE”, Chico Buarque de Holanda 6
RESUMO
O
caderno aqui apresentado trata-se de estudos levantados na área de arquitetura hospitalar e outros ramos do conhecimento que podem trazer novas soluções de projeto para um ambiente da saúde mais humano e capaz de desempenhar suas funções de maneira eficaz e digna para com o usuário. Além de estudos que tangem a área da percepção ambiental, é apresentado também técnicas projetuais e construtivas para a elaboração de equipamentos mais eficientes e sustentáveis. Tomando como base o estudo apresentado, é elaborado, por fim, o projeto de um hospital especializado para doentes renais e hipertensivos para a cidade de Bauru e região, interior do estado de São Paulo. Palavras-chave: Espaço, Humanização, Especializado, Conforto Ambiental, Modulação.
Hospital
ABSTRACT
T
he book presented here are studies carried out in the area of hospital architecture and other branches of knowledge that can bring new design solutions to a health environment more humane and able to perform its functions in an effective and dignified way with the user. In addition to studies that touch on the area of environmental perception, we also present design and construction techniques for the development of more efficient and sustainable equipment. Based on the study presented, the project of a specialized hospital for renal and hypertensive patients for the city of Bauru and in the interior region of the state of São Paulo is elaborated. Keywords: Space, Humanization, Specialized Hospital, Environmental Comfort, Modulation. 7
SUMÁRIO
[10] . INTRODUÇÃO Objetivo 11
[12] . A ARQUITETURA E A SAÚDE HUMANA: REVISÃO DA LITERATURA O Hospital 13 Nosocomium: Um Breve Histórico 13 A Enfermaria Nightingale 18 O Hospital no Brasil 20 Os Sentidos Humanos e a Influência na Percepção Ambiental 23 Percepção Ambiental 23 Tato 28 Olfato 29 Audição 30 A Humanização no Ambiente Hospitalar 31 Iluminação 32 Cores e Texturas 36 Ergonomia 40 Espaços Verdes 45 O Hospital e a Natureza 45 O Verde e seus Benefícios Terapêuticos 49 Inserindo a Natureza no Projeto 51 Arte e Racionalidade Estrutural: Uma Experiência Brasileira 58 Arquitetura Modular 58 O módulo e seus Benefícios Construtivos e logísticos 60 João Filgueiras Lima: Um Olhar sobre a Saúde 61
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[69] . METODOLOGIA [69] . RECONHECIMENTO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO: VISITAS TÉCNICAS Santa Casa de Misericórdia de Jales 71 Hospital do Rim – Fundação Oswaldo Ramos 80
[97] . ESTUDOS INICIAIS Levantamento Planialtimétrico 98 Viabilidade Urbanística 102 Estudo de Impacto de Vizinhança 104 Critérios para o projeto 106 Circulações externas e internas 107 Condições ambientais de controle de infecção 110
[113] . HOSPITAL DO RIM DE BAURU Método e desenvolvimento do projeto 114 Definição de um programa de necessidades 114 Reconhecimento de fluxos 116 Forma e volume 120 Modulação e segmentação dos espaços internos 123 O projeto arquitetônico 127 Apresentação geral 128 HRIM - Um Hospital Humanizado 146 Fluxos 146 Conforto térmico 152 O dormitório 154 Perspectivas 162
[180] . CONSIDERAÇÕES FINAIS [182] . REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS [182] . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9
1. INTRODUÇÃO
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ados da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2015 indicam que cerca de 10% da população brasileira possui alguma forma de doença que envolve os rins, desde diabetes, hipertensão e até falência dos órgãos. Aqueles que descobrem a doença tardiamente e precisam de hemodiálise ficam sujeitos a uma rotina semanal de sessões de 4 horas numa clínica especializada. O Sistema Universal de Saúde (SUS), é responsável por 87% dos 122 mil pacientes que precisam do tratamento (dados de 2016). Este também cobre todos os transplantes renais realizados. Trata-se de uma vitória incalculável em questão de direitos humanos, principalmente no que tange o direito à vida. Entretanto, é de conhecimento geral a condição da infraestrutura do serviço. Clínicas com pouca iluminação natural, máquinas ultrapassadas e ambientes antissépticos dão a impressão de cárcere, e muitos pacientes tratam isso como uma penalidade o qual não os cabe a culpa. Isto influencia diretamente no comportamento do usuário, desde como este irá reagir diretamente o tratamento aplicado, até danos psicológicos incalculáveis. A criação de ambientes hospitalares humanizados, entretanto, não exige uma atitude rebelde dos profissionais, indo contra às normas e manuais, e sim, adicionar conhecimentos básicos do conforto ambiental, como a valorização da iluminação e ventilação natural. Cabe ao arquiteto despertar interesse de atuar nesses campos do projeto, buscar soluções para problemas novos e antigos, e oferecer à sociedade pelo menos um espaço digno em momentos onde o cidadão está mais vulnerável.
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1.1. OBJETIVO
Desenvolver o projeto do Hospital do Rim de Bauru - SP. O interesse neste tema surge a partir da demanda observada em São Paulo, onde o serviço é considerado de referência, e assim, recebe um contingente humano que excede a capacidade da infraestrutura atual. A criação de um centro de referência no interior, além de facilitar a vida daqueles que são obrigados a percorrer grandes distâncias para o tratamento, melhoraria, consequentemente, o serviço na capital do estado. O projeto tem como partido arquitetônico a ressignificação do ambiente hospitalar, através da adoção de estratégias para a humanização de espaços. A aplicação de conhecimentos de conforto funcional e ergonômico, bem como o conforto ambiental (térmico, acústico e luminoso), são fundamentais para conceber um espaço ideal para receber pacientes, acompanhantes e funcionários. Desta forma, o HRIM – Fundação Willem Kolff tem o papel de apresentar uma solução arquitetônica que seja capaz de gerar novos significados na percepção daqueles que o frequentarem. 11
2. A ARQUITETURA E A SAÚDE HUMANA: REVISÃO DA LITERATURA
A
revisão a seguir é um esforço para abordar os aspectos teóricos e analíticos capazes de criar um ambiente hospitalar humanizado, qualificado para cumprir sua função social sem causar traumas e tornar a vida daqueles que o frequentam ainda mais complicada. Desta forma, o estudo é dividido em linhas do conhecimento arquitetônico, extraídos de diversos autores, sendo eles arquitetos ou não. A primeira, de caráter histórico, apresentando a origem dos hospitais e como se ordena historicamente o sistema de saúde brasileiro. Partimos então para uma instrução mais subjetiva e sensorial, que influencia na percepção do ambiente, culminando nas impressões do usuário e afetando diretamente na qualidade dos serviços oferecidos da instituição. Como diretrizes de projetos, é introduzido os aspectos do conforto ambiental a serem empregados no edifício, assim como a importância de áreas livres e verdes para se criar um espaço ainda mais eficiente e terapêutico. Para finalizar, serão analisadas questões técnicas, estruturais e logísticas para o projeto, além de exemplos que representam a abordagem sistêmica da saúde, em todas as suas áreas assistenciais, nesse caso, serão analisadas algumas obras e contribuições do arquiteto João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé.
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2.1. O HOSPITAL
2.1.1. NOSOCOMIUM: UM BREVE HISTÓRICO A história da medicina é bem mais remota que a dos hospitais. A preocupação com o bem-estar da família e de sua própria defesa, fez com o que o homem se interessasse pela a saúde de seus próximos, isto levando em consideração o aumento populacional e a intensificação do tráfego de pessoas, cargas, e consequentemente, doenças. Do latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes (hóspede, estrangeiro, viajante), a origem da palavra remete a algo que dá agasalho, protege, hospeda. Em suas origens, eram os locais onde as pessoas com graves doenças iam para morrer com um mínimo de dignidade. Tratava-se de instituições filantrópicas e agências de auxílio aos pobres. Apenas com a ascensão do cristianismo que nosocomium (terminlogoia grega/latina que designa lugar para tratar doentes, asilo, enfermos) recebe um significado de tratamento de doentes, pobres e peregrinos. Entretanto, a relação entre a prática médica e a religião pode ser analisada muito antes do cristianismo. Encontra-se esta interação no paganismo, politeísmo e budismo. Estas orientavam e determinavam que enfermarias ou organizações de assistência aos enfermos fossem construídas adjacentes à edifícios sagrados e de habitações de comunidades religiosas, o que acontece com mais intensidade no cristianismo, sobretudo durante a Idade Média. Os hospitais se confundiam com os santuários que se erigiam, e o corpo, este feito à imagem de Deus, não poderia ser aberto. Só a alma precisava de tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944).
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A forte relação com o sagrado, que consideravam a doença como um castigo divino, resulta em uma arquitetura hospitalar que se assemelha aos tempos, como é o Asclépion de Kos (Fig. 1), na Grécia. Um Conjunto de edificações religiosas, onde possivelmente atuou Hipócrates, considerado o Pai da Medicina (CARVALHO, A. 2014). Ainda na antiguidade, Roma se destaca ao empregar alguns equipamentos distintos para a cura e manutenção da saúde, são eles: Thermas; Valetudinárias, que tratavam dos soldados feridos em combate ou escravos, e por fim, os Xenodochium (Fig. 2). Estes são tidos como os primeiros estabelecimentos feitos para o cidadão comum, unindo abrigo com a recuperação física (CARVALHO, A. 2014).
Figura 1 – Asclepieion de Kos, Grécia.
Figura 2 – Xenodochium Bizantino
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Enquanto isso, no Mundo Islâmico, a religião e a cultura exercem uma grande influência na arquitetura e na prática médica. Eles prezam muito pela a higiene pessoal, e tais cuidados foram aplicados no ofício. Enfermarias são separadas por sexo, estágio de convalescença, especialidades médicas. Na prática cirúrgica o profissional indú se vestia de roupas brancas, e aparava unhas e cabelos para evitar complicações durante o procedimento. Além disso, o cuidado é também observado em ambientes de apoio, como cozinha dietética, biblioteca e asilo para órfãos e idosos. No decorrer da Idade Média no Ocidente, surgem outras configurações hospitalares. A morfologia básica destes é a Nave, que reflete os avanços das tecnologias estruturais. Segundo Lauro Miquelin (1992) “Os vãos tornam-se cada vez maiores e as condições de iluminação e ventilação dos edifícios melhoram muito”. O Domus Dei – Hospital do Santo Espírito de Lubeck (Fig. 3), construído em 1286 e localizado na Alemanha, é um exemplo desta nova tipologia. A grande nave abrigava 4 fileiras de leitos, e na extremidade temos a o altar, o que demonstra a íntima relação do sagrado com a cura.
Figura 3 – Hospital Santo Espírito, de Lubeck, Alemanha.
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Um marco fundamental na história dos hospitais foi a construção do Hotel de Dieu (Fig. 4), pelo arcebispo Landri, em Lyon em 542 na França. O hospital era gigantesco, tinha cerca de 1.100 leitos individuais e 600 coletivos. Era considerado como uma verdadeira “máquina de contaminação”. Em 1772, o hospital é atingido por um grande incêndio e passa então por reformas. As reformas do Hotel Dieu geram inúmeras discussões e estudos acerca das formas hospitalares. É a partir desta efervescência de ideias que surge no final do século XIX uma nova tipologia, os Hospitais Pavilhonares. O Hospital Lariboisiere de 1846 (Fig. 5), localizado em Paris, França, é fruto deste esforço. O edifício é composto por 10 pavilhões paralelos, separados entre si por áreas ajardinadas e ligados por um corredor galeria, que por sua vez, define um pátio interno (MIQUELIN, 1992).
Figura 4 – Representação da enfermaria do Hotel de Dieu, em Paris.
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Figura 5 – Planta do Hospital Lariboisiere
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2.1.2. A ENFERMARIA NIGHTINGALE
Considerada a fundadora da Enfermagem Moderna, Florence Nightingale participa como voluntária na Guerra da Criméia, no ano de 1854. É a partir deste envolvimento com os horrores encontrados no campo de batalha e suas consequências diretas, os feridos, que ela então desponta como o grande nome da Enfermagem. Entretanto, tal reconhecimento vai além de uma proposta de mudança de condutas do ofício e a quebra de preconceitos e paradigmas em relação a participação da mulher em exércitos, e até mesmo na rotina hospitalar; seus conhecimentos influenciam diretamente na anatomia do edifício hospitalar. Um dos maiores méritos dela foi paramentar, criar metodologias para a profissão, transformar o ofício que outrora se resumia à prestação de cuidados, onde aqueles que atuavam muitas vezes nem prestavam atenção na importância dos rituais que realizavam. Para Florence Nightingale, a enfermagem “[...] era uma arte que requeria treinamento organizado, prático e científico; a enfermeira deveria ser uma pessoa capacitada a servir a medicina, à cirurgia e à higiene e não servir aos profissionais dessas áreas” (COSTA, R; PADILHA, Ml; AMANTE, LR, COSTA, E; BOCK, LF, pg. 662).
É em “Notas sobre Hospitais” (1859), que Florence Nightingale questiona teorias, como a dos “miasmas”, que considerava que as doenças se proliferavam através de maus odores ( a teoria aceita hoje é a microbiana). Segundo ela, os maiores defeitos dos hospitais era a precariedade da iluminação e ventilação natural, além de uma falta de dimensões mínimas por leito, culminando também na superlotação destes espaços terapêuticos. 18
A partir de observações de hospitais novos na época, como é o caso do Hospital Lariboisiere de 1854, Nightingale adota o modelo pavilhonar como o exemplo a ser seguido, e então estabelecer algumas bases e dimensões básicas que ficariam conhecidas como “Enfermaria Nightingale” (Fig. 6). Trata-se de um longo salão e estreito, com os leitos dispostos de maneira perpendicular às paredes. Entre os leitos haviam grandes janelas, que permitiam uma iluminação natural generosa, além de ventilação cruzada no salão.
Figura 6 – Enfermaria Nightingale usada no St. Thomas Hospital FONTE: MIQUELIN, 1992.
“As instalações sanitárias ficavam numa das extremidades com ventilação em três faces do bloco. Locais para isolamento do paciente terminal, escritório da enfermeira chefe, utilidades, copa e depósito ocupavam o espaço intermediário entre o salão e o corredor de ligação com outros pavilhões. Um posto de enfermagem é implantado no centro do salão, onde também ficava o sistema de calefação (quando existente) ou a lareira” (MIQUELIN, L. P. 47).
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Esta formatação é amplamente adotada como modelo de espaço de internação a partir de 1967, e é considerado um dos elementos mais importantes da anatomia hospitalar do fim do século XIX (MIQUELIN, 1992). É também um princípio de humanização do espaço terapêutico, mesmo por trás de um discurso preocupado e simples quanto a higienização dos processos e a diminuição da proliferação de doenças.
2.1.3. O HOSPITAL NO BRASIL O conceito de arquitetura hospitalar foi introduzida no Brasil por Oswaldo Cruz, cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro, durante a administração de Pereira Passos (1902 a 1906) , no Rio de Janeiro. Tinha como princípio ajustar as unidades de saúde ao espaço urbano, buscando eficácia terapêutica. À arquitetura começa a ser atribuída a função de criar um espaço técnico, inteiramente funcional, capaz de canalizar a circulação desordenada de fluídos, objetos e corpos que constituíam os suportes físicos do contágio indiscriminado (FIOCRUZ, 1990, p. 191).
Cruz foi responsável pela concepção das unidades de saúde pública (atual rede primária e secundária, formada por postos, centros de saúde e unidades mistas), e tinha como objetivo a criação de infectórios, cuja a função era de “isolamento das vítimas de doenças infecciosas, do serviço de exterminação de ratos e da desinfecção do dente, deu sua casa e pertences” (FIOCRUZ, 1990, p. 187). Algumas décadas depois, o ministro e médico Lionel Miranda e sua equipe propõe uma sistematização dos atendimentos médicos no país, durante o governo de Costa e Silva (1964 a 1969), início da ditadura militar no Brasil. O plano se baseou num 20
conceito moderno de universalização dos serviços, unificando as ações em unidades integradas e hierarquizadas. Depois de algumas reformulações deste plano, é na Constituição Federal de 1988, no capítulo VIII da Ordem Social, artigo 198, em que surge o Sistema Único de Saúde (SUS), influenciado diretamente pelo o exemplo britânico National Health Service (NHS). Os princípios do SUS é de que as ações e serviços públicos da saúde deve integrar uma rede regionalizada e hierarquizada, consistindo em um sistema único. Em suma, suas diretrizes são: a descentralização, atendimento integral, entretanto priorizando as atividades preventivas, e por fim, a forte participação da comunidade. Atualmente, o sistema é organizado em três aspectos distintos: municipalização, níveis de atendimento e tipos de estabelecimentos adotados. Quanto a municipalização, é entendido como forma de estabelecer ações para o atendimento primário de saúde, a partir do momento que entendemos que o homem mora num município, zona rural ou urbana, e não no estado ou país, e este precisa de educação, nutrição, atenção à família, imunização, saneamento básico, controle de endemias, tratamento de doenças comuns e previsão de medicamentos essenciais. A municipalização apresenta diversas vantagens: a adequação dos serviços à realidade e necessidades locais; a elevação de eficiência pelos recursos existentes; controle de custos; utilização dos recursos humanos e dentro de cada realidade; possibilidade de articulação entre estabelecimentos e instituições; etc. Entretanto, as desvantagens muitas vezes se sobressaem no panorama nacional. O Brasil, país de dimensões continentais, é marcado por desequilíbrios regionais e uma diversidade de culturas. Muitos municípios não colocam em prática a política de saúde, consequentemente, não investem em ações básicas e optam por enviar seus pacientes para as sedes regionais, não se importando com a complexidade das enfermidades e o impacto de contingente pessoal que isso pode causar nestas instituições (GOÉS, 2010). 21
Os níveis de atendimento são divididos em Primário, que promove ações de proteção e recuperação no nível ambulatorial; o Secundário, que além de apoiar o primário, desenvolve atividades de clínicas básicas (clínica médica, clínica cirúrgia, clínica ginecológica, obstetrícia e pediátrica); e o Terciário, que oferece um local para tratamento de casos mais complexos. Esses três níveis de atendimento sao reconhecidos como: os Ambulatórios, Hospitais Regionais e Hospitais Especializados. Hospitais Especializados, como o nome já diz, são aqueles destinados a atender um sistema específico do corpo, doenças. Entre os mais comuns estão os Hospitais de Doenças Infectocontagiosas, Psiquiátricos, Oncológicos, Pediátricos, Geriátricos, Universitários e Penitenciários. Em alguns casos, é questionável a existência de certas instituições, como os de cunho psiquiátrico, que vem sido combatido através de movimentos antimanicomiais. A luta deste movimento é a inserção destes pacientes na sociedade, e o direito de acompanhamento ambulatorial, isto é, sem a necessidade de confinamento. Outras formas de especialização muito comum para hospitais são aquelas que tratam de um órgão, ou sistema, específico. Entre eles, o Instituto do Coração (Incor) e Hospital do Rim (HRIM), ambos localizados em São Paulo e atrelados a uma universidade pública (USP e UNIFESP, respectivamente), são exemplos de atendimento de ponta e especializado no Brasil. Outro exemplo, é o Hospital dos Olhos, em Sorocaba, considerado uma referência nacional em tratamentos e transplantes de córneas.
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2.2. OS SENTIDOS HUMANOS E A INFLUÊNCIA NA PERCEPÇÃO AMBIENTAL Os sentidos humanos são aguçados pela visão, audição, tato, paladar e olfato. Cada um desses sentidos é percebido em maior ou menor intensidade de acordo com elementos arquitetônicos que nos cercam. Isso pressupõe que um determinado ambiente pode aguçar mais um dos sentidos do que outros, embora várias possam ser ativados (OKAMOTO, 1999). A visão, o sentido mais ativado ao adentrarmos em um hospital, é o maior responsável por sermos inundados por inúmeras informações de um ambiente caracteristicamente diversificado, cheio de pessoas, maquinários e estigmas. Porém, não é o único. A seguir é apresentado o estudo que trata dos efeitos dos estímulos sobre o ser humano, e como a percepção ambiental, (uma linha de estudo da psicologia, antropologia, arquitetura, entre outros), pode afetar diretamente na dinâmica de um ambiente hospitalar.
2.2.1. PERCEPÇÃO AMBIENTAL A relação entre arquitetura e o homem é discutida desde os primórdios do ofício. O arquiteto romando Marcos Vitrúvio Polião em “Tratado de Artquitetura” (27 a.C.) discorre sobre os parâmetros para uma cidade ideal, e faz isso com o intuito de preservar a saúde dos habitantes, afastando-os de pântanos e priorizando altitudes e ventos que manteriam o equilíbrio de todos os elementos que compunham o corpo humano. Já no século XX, o arquiteto franco-suíço Le Corbusier lança “O modulor” (1948) título de extrema importância que pauta o movimento moderno no começo do século. Nele temos o homem como medida para a arquitetura, uma escolha prática para o arquiteto, que se viu no conflito entre o sistema métrico decimal e outros sistemas, como pés e polegadas. 23
O homem torna-se parâmetro para a arquitetura, e iniciase então o estudo da ergonomia nos espaços, a estipulação de medidas e métricas ideais para realização de atividades específicas. A “Cozinha de Frankfurt” (1926) do arquiteto alemão Ernst May surge como uma inovação, o mínimo necessário para um espaço desempenhar sua função de cozinha. Tudo está ao alcance da pessoa, milimetricamente planejado para o mínimo esforço e espaço. Embora muito se fale sobre o homem na arquitetura na hora do projeto, as dimensões ideais, as aberturas mínimas para garantir ventilação e iluminação, pouco estuda-se sobre a influência que este terá sobre o comportamento humano. Para Robert Sommer (1973), psicólogo ambiental americano, durante o projeto Dá-se ênfase relativamente pequena às atividades que ocorrem dentro da estrutura. Isso é previsível no caso do arquiteto que, em sua formação e em sua prática, aprende a ver os edifícios sem pessoas no seu interior. Fotografias muito coloridas em revistas brilhantes mostram salas e corredores vazios, mesas cheias de prataria e copos de vinho, um livro aberto no sofá, o fogo crepitando na lareira, mas nenhum sinal de quem quer que seja em parte alguma (SOMMER, 1973, p. 3, grifo nosso).
Tal afirmação pode ser facilmente verificada se observarmos apresentações de projetos. Independentemente do nível gráfico, um croqui ou uma imagem renderizada com os mais sofisticados softwares, o homem ali aparece como uma escala. Deixa de ser uma pessoa para virar uma simples régua, algo que dimensiona o espaço. Se querem fazer o mesmo com as fotografias com as obras já concluídas, aparecem vultos, o movimento da pessoa sob uma exposição longa na máquina. É como se o ambiente permanecesse vazio no final das contas. Uma estrutura oca, tal qual uma escultura, extremamente bela, porém sem função. 24
A doutrina de que a arquitetura pode ser concebida como uma grande estrutura oca ou como forma imutável e intemporal, cuja existência é um fim em si mesma precisa ser também afastada. A arquitetura pode ser bela, mas deve ser mais do que isso, deve conter espaço em que algumas atividades possam ser realizadas de maneira cômoda e eficiente (SOMMER, 1973, p. 5).
O arquiteto, mesmo repleto de boas intenções, muitas vezes entrega o hospital “vazio”, deixando escolhas e estudos do layout na mão dos funcionários e administradores. Não cabe a estes o conhecimento da melhor distribuição de poltronas numa sala de espera, por exemplo, este é papel do projetista, que após estudos e convívio com as demandas, sendo capaz de trazer o usuário para o processo, ouvir suas necessidades, desejos e angústias. Sommer (1973) em seu ensaio sobre a percepção ambiental fez diversos estudos e observações de comportamentos de seres vivos, de espécies de macacos a idosos humanos internados num hospital de cuidados paliativos. Dialogando com a relação que a pessoa tem para com os espaços de uso coletivo, ele pode constatar que pequenas mudanças de mobiliário, como a inserção de mesas rodeadas por cadeiras num espaço como a enfermaria, incentiva uma maior interação entre os pacientes. Entretanto, logo após essas alterações, percebe que muitos voltam com as cadeiras em seus lugares originais, quase como uma cerimônia. E então se questiona: por que estes se relutam tanto contra simples mudanças como estas? Sommer (1973) constata a existência de uma “santificação institucional” do espaço hospitalar, que se manifesta como um conjunto de regras não escritas de como o espaço deve estar disposto e como as pessoas devem comportar nele.
A mesma passividade diante do ambiente é um ingrediente básico do que denominamos “prisionismo”, hospitalismo e neurose institucional. Não sabemos se a falta de queixas se deve a sentimentos de resignação e impotência, à crença de 25
que as queixas não têm outro efeito senão marcar o internado, ou embotamento sensorial depois de longo internamento (SOMMER, 1973, p 117).
O paciente é então visto como um ser apático, que recebe informações do ambiente através dos sentidos, e aceita a situação em que está inserido. Comporta-se de forma impotente e nada faz para mudar um ambiente repleto de pessoas debilitadas e funcionários sobrecarregados. Sabe-se que aquele lugar não é um espaço divertido e dinâmico. Assim cabe ao arquiteto, através do projeto, conceber um espaço com humanidade. Este pode ser por meio do material, forma, cor e outras qualidades perceptivas, é possível incutir caráteres individuais (RAMUSSEN, 2015), promovendo alguma ligação, um reconhecimento do local, por parte do paciente. Outra situação costumeira na vida daqueles que frequentam o hospital é a distinção entre espaços privados e comuns. O hospital é sim um edifício de uso coletivo, porém pode-se distinguir dos espaços de cunho privativo ou não. Muito se estuda quanto a efetividade de quartos individuais em detrimento a grandes enfermarias coletivas, no que se trata à maiores índices de recuperação, porém não há dados muito claros. Para COELHO NETO (2014), o usufruto de espaços privados é consequência de uma situação socioeconômica privilegiada (devido a oferta de espaços, pequenos espaços acabam por abrigar extensas e até múltiplas famílias, diminuindo então a privacidade de seus moradores), assim, a preferência por um espaço privado não se trata apenas de uma determinante cultural, mas também de questões econômicas. No âmbito da saúde brasileira, basta olhar as enfermarias de hospitais públicos e particulares. Os primeiros, além de um problema estrutural em relação a alta demanda, vemos grandes enfermarias lotadas de macas, enquanto nos particulares, são quartos individuais, com o conforto que o poder aquisitivo do paciente pode comprar. Além da enfermaria, a confusão de usos em determinados 26
espaços pode trazer ansiedade aqueles que o ocupam, além de representar um projeto ineficaz e até uma má administração hospitalar. Os corredores, responsáveis pela distribuição de pessoas e materiais pelo edifício, muitas vezes acabam por receber outras funções. Um exemplo pode ser visto no sexto andar do prédio dos ambulatórios do Hospital das Clínicas da FMUSP (Fig. 7). Trata-se de um local repleto de clínicas ambulatoriais de diversas especialidades. Na foto, podemos observar que o corredor, além de suas funções iniciais já descritas acima, assume papel de local de espera para pacientes aguardando consultas; espaço de visitantes e acompanhantes; além de ambiente pósoperatório.
Figura 7 – Corredor do PAMB - HCFMUSP
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A falta de espaços particulares, entretanto, pode culminar em desequilíbrios psíquicos (COELHO NETO, 2014), assim, cabe ao arquiteto desenvolver um espaço, que mesmo de uso intenso e coletivo, permita o escape, um lugar para contemplação e solidão. [...] propor novas concepções de utilização desses espaços com base na combinação dialética entre privado e comum: nem o privado deve ser o objeto único das preocupações de arquitetura, nem a imposição do comum deve erigir-se em programa de ação absoluto. É importante, sim, ter em mente a função da formação que só pode ser exercida através do novo e do confronto bipolar que o instaura. (COELHO NETO, 2014, p. 48).
2.2.2. TATO O sentido do tato é despertado pela sensação na pele, e há de se considerar que é o maior órgão do corpo. Nesse caso, as sensações táteis são despertadas pelas sensações de conforto térmico, provindas do fluxo e correntes de ar e da temperatura ambiente, que provoca a percepção de quente, frio ou agradável. Outro aspecto que influi na sensação de tato é o contato da pele com objetos, móveis ou os próprios elementos da arquitetura. Contatos com superfícies lisas ou ásperas, quentes, frias ou em temperatura ambiente, são exemplos de como aguçar o sentido do tato. Pensando em ambientes hospitalares, para assegurarmos a sensação de conforto do corpo (no sentido de segurança física) é preciso escolher adequadamente os móveis que apresentam design ergonomicamente correto, como por exemplo, móveis com cantos arredondados, revestidos com tecidos leves e suaves. É importante também garantir que seja possível a mobilidade do mobiliário e o manuseio destes móveis, para reduzir o estresse 28
e ansiedade no paciente que deseja mudar a posição do móvel, ou que precisa se locomover no ambiente com autonomia e segurança. Isso também facilita a manutenção do espaço. A qualidade tátil do espaço pode ser também enriquecida pelo emprego de tratamentos diferenciados para as superfícies, como a variedade de tecidos e acabamentos; e variedade e versatilidade dos móveis.
2.2.3. OLFATO Não existe falta de memória em relação aos odores, todos permanecem na lembrança” (MORRIS, 1984, apud OKAMOTO, 1999, p 94).
O olfato é um dos mais evocativos dos sentidos, trata-se de uma relação muito íntima com o lado emocional. Este se processa como reação química junto aos receptores situados na narina. Segundo Diane Ackerman (1992), o olfato é “O efeito imediato e não diluído pela linguagem, pelo pensamento ou pela tradução. Um aroma pode ser extremamente nostálgico, porque detecta imagens e emoções poderosas antes que tenhamos tempo para editá-las”. Os aromas causam efeitos físicos e químicos sobre o corpo. Aceleram a respiração e o batimento cardíaco, assim também como podem reduzir o estresse. Desta forma, é preciso estar atento ao tratar de ambientes hospitalares. O cheiro de produtos químicos para a limpeza costuma afastar as pessoas, tal imagem é tão consolidada que é comum referir-se a “cheiro de hospital”. Isto causa extrema ansiedade aos pacientes, que estão suscetíveis à diversos outros odores desagradáveis neste espaço. Para Vasconcelos (2004), existe algumas medidas para amenizar os odores indesejáveis de hospitais. O uso de saches, de arranjos florais e da própria vegetação que proporciona 29
fragrâncias agradáveis. O hospital Santa Fé de Bogotá Foundation (Fig. 8), localizado na Colômbia, um grande cubo de elementos vazados, tem uma planta livre e permite que apareça espaços repletos de plantas, que além de exalar bons aromas, purifica o ar interno, absorvendo toxinas, alegrando o ambiente e promovendo o contato com a natureza.
Figura 8 – Áreas verdes do hospital Santa Fé, em Bogota.
2.2.4. AUDIÇÃO O canal sonoro é justamente aquele pelo qual mais se sente a invasão de um estranho, pois o homem não pode controlá- lo à sua vontade como faz com a visão, por exemplo (COELHO NETO, 2014, p 42). 30
A audição está estreitamente relacionada ao sentido espacial, e formando também o sentido de equilíbrio, através da cóclea, que se localiza no ouvido (OKAMOTO, 1993). Tem o significado inconsciente muito profundo e relacionado à segurança. Num hospital, estamos sempre atentos a qualquer barulho, seja ele o choro da criança, o grito de dor do paciente ao lado, ao carrinho que traz a comida, às visitas chegando. Isso estressa o paciente, e prejudica o seu tratamento. Por este motivo, ao projetar, é recomendável a escolha de materiais que valorizem o isolamento acústico.
2.3. A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR O hospital é de longe o equipamento de uso coletivo mais temido e estigmatizado na sociedade, dividindo o pódio com o presídio (por estar repleto de seres vivos perigosos) e o cemitério (onde estão os mortos, que nos fazem lembrar da única certeza da vida, a qual tentamos afastar a qualquer custo). O ambiente hospitalar é sim repleto de perigos, que vão desde agulhas, bisturis e até a contaminação por uma superbactéria, mas todos estes podem ser evitados com a aplicação de estudos de ergonomia, uso correto dos instrumentos, da higienização e organização de recursos humanos. O medo para com o hospital, que recebe até um nome sofisticado de fobia, Nosocomefobia, é muitas vezes atrelado às características de como percebemos o espaço, o que está intimamente relacionado com o projeto arquitetônico. É claro que arquitetos não tem o poder de desatrelar a ideia de dor e sofrimento do edifício em questão, pois isso faz parte de seu uso (tratamento e resguardo aos enfermos), mas, como será dito a seguir, há várias diretrizes, teorias e experimentos realizados por grandes estudiosas que ajudam a trazer um caráter mais humano a estes espaços, o que influencia diretamente na recuperação do paciente. 31
2.3.1. ILUMINAÇÃO
Quando tratamos de um ambiente hospitalar, é preciso permitir que o projeto tenha amplo acesso à luz natural, uma vez que a literatura afirma que a exploração correta dos recursos da natureza nas áreas construídas fornece benefícios à saúde. As vantagens são desde ordem física e emocional, por envolver a percepção do usuário em relação o espaço. Vale lembrar que o paciente é colocado ali por uma condição de enfermidade, este não escolheu esta condição. Neste sentido, todos os esforços para a criação espaços que oferecem sensações mais agradáveis e de bem-estar são válidos. A luminosidade atua no organismo em duas instâncias. Na primeira, a luz afeta a retina de nossos olhos, através de nosso sistema óptico, regulando nosso metabolismo e ou sistema endócrinos e hormonais. A segunda maneira é a partir de nossa pele, que a partir de processos fotossintéticos, acaba por produzir a vitamina D. A deficiência de vitamina D está relacionada com uma doença conhecida como raquitismo, uma formação óssea anormal em crianças, resultado de baixos níveis de cálcio nos ossos. O papel da vitamina D no corpo é a absorção de nutrientes, e cerca de 80 a 100% dela é garantida a partir da pele, em contato com o sol. Países ao norte do globo, que sofrem diretamente com a ausëncia da luz solar por longos períodos do ano, usa de Tratamento da Luz, que tenta regular os níveis destes hormônios de uma maneira menos invasiva, sem o uso de remédios regulados. Uma solução arquitetônica muito adotada nestes lugares é ir além das aberturas nas paredes, incentivando o uso de iluminação zenital. Entretanto, a realidade brasileira é bem diferente. Acesso a luz 32
solar não é um problema na grande maioria das cidades, desta forma, é preciso determinar diretrizes para projetar corretamente, fornecendo um nível de iluminação que não fique abaixo do exigido, provocando cansaço e/ou fadiga visual, ou então muito alto, provocando ofuscamento. Outro efeito fisiológico da luz natural no organismo humano mostra que ela serve como um catalisador para a secreção de hormônios, as mais conhecidas como Serotonina e Melatonina, que atuam diretamente nos níveis de atividade e energia durante o dia, e a possibilidade de ter um bom de sono. Desta forma, pessoas que vivem e/ou trabalham em locais sem janelas ou locais com luminescência inadequada, correm risco de ter seu “relógio interno” completamente conturbado. A serotonina é um hormônio ligado a várias desordens psiquiátricas, incluindo depressão, bulimia, TOC e transtornos de ansiedade. Em baixos níveis, ela é responsável por graves crises depressivas, que são caracterizadas por sintomas como pensamentos suicidas e sentimento de tristeza, incapacidade e culpa. A melatonina, por sua vez, é secretada ao anoitecer, ou a baixos níveis de luminosidade, aumentando o nível de cansaço e facilitando o processo de dormir. Sua produção é suspensa no corpo quando este tem acesso a luz natural, que passa então a produzir a serotonina. Em suma, Serotonina e Melatonina atuam de maneiras opostas, porém devem ser complementares, atuando de forma equilibrada no corpo. Cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”, é também regrado pela luz natural. Segue um padrão diurno, com altos níveis sendo produzidos durante o dia e que se abaixam durante a noite (HOLLWICH, 1879; SCHEER E BUIJS, 1999). O nível de cortisol também demonstra uma variação entre estações, com a produção mais significativa durante o verão do que no inverno (ERIKSON E KULLER, 1983; KULLER E LINDSTEIN, 1992). Além do estresse, altos índices de cortisol aumentam a pressão sanguínea e o nível de açúcar no sangue, além de causar infertilidade em mulheres e diminuir o sistema imune. Nosso corpo precisa de 33
cortisol, mas apenas a quantia correta, e a luz é substancial para a manutenção do equilíbrio. Além das implicações fisiológicas, a luz produz resultados psicológicos, especialmente quando associada aos efeitos das cores sobre a percepção humana. Uma das questões mais importantes é a definição de temperatura da cor (e graus Kelvin). Segundo GÓES (2010) para um clima aconchegante o ideal é de 3.000 K, enquanto para um ambiente frio estimulante, 4.000 K. Para evitar interferência na aparência das cores a temperatura em torno de 3.500 K é neutra. Como projetistas, é indicado prever opções de luz conforme os tipos de ambientes, isto é, ambientes de espera, para realização de exames, de descanso e leituras, entre outros. É indicado evitar o uso de lâmpadas com baixa reprodução de cores, de tons azulados (pois deixam o ambiente impessoal e frio), que ofuscam e/ou criam sombras e reflexos indesejáveis; reatores eletromagnéticos que fazem ruído e piscam; uso de vidros coloridos que prejudicam o melhor aproveitamento da luz natural e cortinas grossas (GOÉS, 2010). Embora todo o aparato técnico, manuais de projetos luminotécnicos adequados, cabe ao arquiteto a função de criar cenários interessantes dentro de um edifício. A partir do manuseio de formas e volumes, a luz pode criar sensações positivas de agradabilidade aos usuários (Fig. 9). Num âmbito psicológico, o papel da iluminação vai muito além de permitir o mínimo necessário para o funcionamento de um espaço. Para Ramussen (2015) e Coelho Neto (2014), ela é responsável pela a criação de imagens em nosso intelecto. Um pequeno estímulo pode ser o instigador de uma narrativa que marcará a vida do usuário.
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A retina é como uma tela cinematográfica sobre a qual se projeta uma sequência de imagens que mudam constantemente, mas, por trás do olho, a mente só tem consciência de muito poucas dessas imagens. Por outro lado, é necessária apenas uma impressão visual muito tênue para pensarmos que vimos uma coisa; um minúsculo detalhe é suficiente. (RAMUSSEN, 2015, p 35).
Figura 9 – Luzes do Chris O` Brian Lifehouse, Austrália.
A imaginação constrói muros - com as ilusões, os sonhos, as sombras. Isto é, a imaginação protege o indivíduo, seu foro interno ou sua última ligação consigo mesmo. (COELHO NETO, 2014, p 64).
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2.3.2. CORES E TEXTURAS
É comprovado cientificamente que cores, a partir da luz, podem afetar diretamente os nossos componentes físicos, mentais e emocionais. Desse modo, o uso de cores pode provocar estímulos sensoriais nas pessoas, e assim, causar distrações positivas. A aplicação pode ser com a intenção de destacar algum objeto ou elemento construtivo, com a intenção de criar um ambiente mais aconchegante, ou criar uma atmosfera de brincadeira e alegria, ótimo para afastar sensações de monotonias em espaços como alas pediátricas e tratamento contínuo. A luz e a cor influenciam também no conforto térmico. É sabido que a sensação de frio é intensificada em ambientes que possuem tons frios, enquanto sentem mais calor em espaços com tonalidades quentes, embora mantenha a mesma temperatura nas duas situações. A escolha da cor a ser empregada no ambiente deve seguir alguns princípios, ainda mais em se tratando de ambientes que vão atender pacientes que já estão debilitados e qualquer estímulo pode influenciar positiva ou negativamente na recuperação. Na escolha das cores deve ser levado em consideração a localização geográfica do edifício, assim como a incidência solar, questões culturais e regionais, as dimensões do ambiente, as atividades que serão realizadas e a idade dos usuários. A proposta projetual e a terapia a partir das potencialidades sensoriais das cores foram aplicadas em um hospital na Suécia, onde os pacientes são direcionados para enfermarias com cores adequadas à condição da saúde, e conforme o decorrer do tratamento é transferido, gradualmente, para quartos com cores 36
que possuem maior nível de estimulação (JONES, 1996). O Pars Hospital, localizado no Iran, é um ambiente repleto de cores, que seguem uma escala de cores vibrantes. Desde as áreas comuns, revestidos com uma tonalidade verde clara, os quartos recebem toques de cores de uma maneira criativa, cobrindo desde o teto, a parede e até o mobiliário (Fig. 10 e 11).
Figura 10 e 11 – Quartos do Pars Hospital, no Iran.
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As cores provocam sensações que podem surtir em efeitos terapêuticos, como mostra a Tabela 1:
Tabela 1 - Cores e suas propriedades terapêuticas
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COR
PROPRIEDADES
Vermelho
_ Cor que chama mais a atenção e está associada à corrente sanguínea e ao desempenho físico. _ Estimula a agressividade, a vitalidade e energia. _ Aumenta a pressão sanguínea, promove o aquecimento do corpo e estimula o sistema nervoso.
Amarelo
_ Estimula a concentração e a criatividade. _ Age reforçando o sistema nervoso e os músculos, inclusive o coração, facilitando a circulação. _ Antidepressiva. _ Cor do intelecto.
Laranja
_ Ambientes festivos _ Cor da alegria e da jovialidade. _ Estimula o sangue e os processos circulatórios e funções mentais, e do sistema respiratório e nervoso.
Verde
_ Cor do equilíbrio e da calma. _ Benéfica para o sistema nervoso simpático e é útil para a cura em geral, equilibrando e recuperando as células. _ Produz efeito direto sobre as funções cardíacas e pulmonar. _ Cicatrizante e ajuda no tratamento da hipertensão.
Azul
_ Efeito relaxante e tranquilizador. _ Reduz o calor e a inflamação do corpo, como _ ocorre nos casos de queimaduras. _ Usada para terapias de distúrbios psíquicos e agitações.
Lilás
_ Sedativa. _ Relaxante. _ Cor usada em ambientes de CTIs e UTIs.
Índigo
_ Estimula a imaginação atividade cerebral, a criatividade e a imaginaçao.
Violeta
_ Bactericida e antisséptica. _ Estimula a criatividade cerebral. _ Normaliza as atividades hormonais ou glandulares _ Alivia nevralgia e problemas associados aos olhos, ouvidos e nariz.
Preto
Branco
_ Efeito isolante. _ Evita os efeitos maléficos ou benéficos das cores. _ Cor neutra.
FONTE: Adaptado de GÓES (2005) e VASCONCELOS (2004).
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2.3.3. ERGONOMIA
A palavra Ergonomia, do grego ergon (trabalho) e nomos (leis), “as regras ou normas do trabalho”, isto é, a melhoria das condições de trabalho visando a otimização da relação homemmáquina, homem-trabalho e da interface homem- sistema. Por “sistema” entende-se componentes físicos, cognitivos e organizacionais com os quais o homem interage. Desta forma, pode ser uma tecnologia ou instrumento, uma pessoa prestadora de serviços, uma equipe ou uma organização, uma orientação política ou uma diretriz; pode até ser todo o envolvimento físico e/ ou organizacional (CARAYON, 2007). O trabalho em meio hospitalar apresenta diversas peculiaridades: é um meio de extrema complexidade, tanto em nível projetual, de tecnologias e instrumentos; com constante pressão em relação a tempo e a prestação de melhores cuidados possíveis. Além disso, é um local onde podemos encontrar diversidade humana, onde seus funcionários estão sujeitos à elevadas exigência físicas, como o trabalho noturno e por turnos. Assim também temos a relação delicada entre profissionais e pacientes e seus acompanhantes. Tal complexidade demanda a concepção de um edifício (e seus respectivos sistemas) que seja ergonomicamente adequado a funções, a localização dos diferentes serviços, a organização do trabalho e do ambiente. Cabe ao arquiteto tomar medidas para garantir distribuição de serviços no espaço de acordo com parâmetros de funcionalidade, comunicação e transferência e/ou deslocamento de contingente humano no hospital, ou seja, organizar fluxos e sistemas de informação hospitalar que 40
melhorem a comunicação entre serviços. Um bom desenho de fluxos e sistemas no hospital reflete diretamente sobre sua eficiência e capacidade de cura. Profissionais que são obrigados a percorrer enormes distâncias para realizar simples tarefas estão mais sujeitos à fadiga física e mental, tendo em vista que estes também trabalham em longos turnos que chegam a durar até 24 horas. Isso afeta diretamente sua capacidade de raciocínio, colocando em risco a segurança do paciente e sua própria. Assim, segundo Ramussen (2015), o estudo dos movimentos e fluxos se faz extremamente necessário na hora do projeto. Se acreditarmos que o objeto da arquitetura é fornecer uma moldura para a vida das pessoas, então os cômodos em nossas casas e a relação entre eles devem ser determinados pelo modo como viveremos e nos movimentaremos neles (RAMUSSEN, 2015. p 143).
O projeto de um hospital envolve diversas e etapas e, conforme avança, torna-se mais difícil a possibilidade de alterações de desenhos, inserção de alas esquecidas. Quando o edifício já se encontra é então uma atividade quase homérica. É com vermos hospitais rodeados de anexos feitos para suprir uma nova necessidade, legislação e tecnologia. Neste cenário recai sobre o arquiteto a responsabilidade análises prévias do trabalho em contexto real, através da observação e coleta de dados antropométricos, biomecânicos e fisiológicos da população. É preciso adotar e garantir a flexibilidade e adaptabilidade do sistema, que permita alterações simples e rápidas de acordo com as necessidades ou exigências dos serviços. Para isso, a escolha de equipamentos, bancadas, cadeiras e demais utensílios devem ser selecionados de acordo com as características cognitivas, morfológicas, fisiológicas e biomecânicas (tal qual a capacidade de ajustar para abranger o maior espectro de uso). Desta forma, não basta apenas listar as necessidades do equipamento, deve se 41
aprofundar sobre a funcionalidade, o manuseio, a atividade que envolve determinados serviços (SERRANHEIRA, SOUSA, SOUSA, 2010). Diante um ambiente de internação, é preciso valorizar o contato visual entre os diversos personagens que atuam no hospital. Uma medida que facilita o trabalho da equipe médica, que consegue perceber sinais de alteração no status do enfermo, assim como também permite uma sensação de amparo e segurança para o paciente (SERRANHEIRA, SOUSA, SOUSA, 2010). A distribuição de múltiplas estações de trabalho, também conhecidas como postos de enfermagem, além do uso de sistemas de comunicação efetivo, permitem uma resposta ainda mais rápida ao pedido de socorro. Em alguns hospitais contemporâneos são aplicadas divisórias translúcidas entre os dormitórios e postos de enfermagem, que permitem a visibilidade enquanto protege de ruídos e odores do ambiente (Fig. 12). Para garantir a privacidade do paciente e seus acompanhantes, é dada a possibilidade de fechar o ambiente com cortinas ou persianas, assim como o uso de vidros com tecnologia de regulação de opacidade. (SERRANHEIRA, SOUSA, SOUSA, 2010).
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Figura 12 Enfermaria do Meander Medical Center, Holanda.
Outra medida para incentivar a reintegração do paciente ao domínio de sua saúde, afastando sentimentos de isolamento e solidão, é a criação de áreas externas ao quarto/leito, que permita um nível de liberdade e distração, mesmo sobre os olhares dos cuidadores (Fig. 13, 14 e 15).
Figura 13 – Espaço 01 extra enfermaria do Meander Medical Center, Holanda
Figura 14 – Espaço 02 extra enfermaria do Meander Medical Center, Holanda.
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Figura 15 - Espaço de convívio do Nemours Children´s Hospital, EUA.
O estudo da ergonomia se demonstra essencial para a criação de um ambiente saudável, que consiga atuar na reintegração do paciente às suas atividades cotidianas, alterando sua disposição e humor, e consequentemente, sua recuperação. 44
2.4. ESPAÇOS VERDES
O desenvolvimento de um hospital humanizado está sujeito a um projeto completo e harmônico, que consiga criar áreas agradáveis para o uso, refúgios em meio ambientes sóbrios e complexos. Entretanto, no decorrer do desenho, este que é regido por inúmeras normas e um extenso programa de necessidades, espaços livres muitas vezes são aquelas sobras, cantos, quando não completamente deixados de lado. Um projeto harmônico inclui a valorização dos espaços livres e verdes desde o início do processo, ou seja, dar a mesma relevância para ambientes técnicos àqueles de apoio a terapia e bem-estar, a partir do princípio que juntos serão mais eficazes para a recuperação.
2.4.1. O HOSPITAL E A NATUREZA A relação entre espaço interno e externo sofre inúmeras transformações conforme a evolução das morfologias dos edifícios da saúde. De templos e pórticos da antiguidade, até os blocos monolíticos contemporâneos, podemos avaliar as maneiras de inserção de áreas livres ao projeto. Estas alterações estão intimamente ligadas aos avanços da medicina (como a descoberta de maneiras de transmissão das doenças), assim como técnicas construtivas, que possibilitavam a criação de grandes vãos, edifícios de vários pavimentos, etc. A morfologia predominante dos hospitais durante a Idade Média é a de Nave, com seus extensos vãos e melhores condições de iluminação e ventilação. Entretando o Hospital dos Cavaleiros 45
de Rohdes (1440) (Fig. 16 E 17), localizado na Grécia, remete a um sistema outrora adotado na arquitetura islâmica, um pátio central/ claustro que distribui circulações através de abrigos. Tratava-se de um local que oferecia abrigo, sol e sombra, sem se distanciar dos olhares daqueles que ofereciam amparo terapêutico.
Figura 16 – Hospital dos Cavaleiros de Rhodes, localizado na Grécia.
Figura 17 – Planta do Hospital dos Cavaleiros de Rhodes.
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O Hospital de Rhodes é considerado como um prenúncio do Renascimento na arquitetura hospitalar, que além de pátios abertos, incorpora também um elemento cruciforme. O cuidado com a inclusão de espaços livres em meio a morfologia surge através dos estudos epideomológicos e a importância da ventilação cruzada para o alívio de contágios, através da renovação constante do ar. Entretanto, é neste período que surge os imensos hospitais e asilos, que para Lauro Carlos Miquelin (1992), apresentava “níveis desumanos de mortalidade, insalubridade e promiscuidade”. É a partir de estudos destes caóticos edíficos hospitalares que se forma boa parte do arcabouço conceitual do planejamento hospitalar, que no final do século XIX, deu origem aos Hospitais Pavilhonares. Esta morfologia é formada por pavilhões dispostos paralelamente, separados um dos outros por áreas ajardinadas e ligados por corredores, que entre si, frequentemente formavam um pátio interno.
Figura 18 – Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
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Projetado pelo engenheiro italiano Luis Pucci, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo segue os parâmetros de um hospital pavilhonar. O edifíicio, inaugurado em 1884, abrigava apenas 150 leitos, porém recebeu inúmeras reformas e adições estruturais, o que possibilitou que em 1970 abrigasse mais de 1000 leitos (Fig 18). Com os avanços tecnológicos da construção civil, o uso de elevadores e a oferta de terrenos nos grandes centros urbanos, ocorre uma transição entre os hospitais pavilhonares para complexos edifícios de inúmeros pavimentos, reconhecidos segundo MIQUELIN (1992) por Blocos Hospitalares. Trata-se de uma economia de circulação, do percurso a ser percorrido pelo usuário, porém, desaparecem os jardins internos, terraços e solários, substituídos por áreas especificamente embelezados com plantas e floreiras, como os gigantes halls e pátios de serviços. Os jardins esquecidos nos estabelecimentos de saúde atuais devem ser vistos como a ignorância da psique e do espírito no tratamento da doença. O valor de um jardim e da psicologia para a cura são, ambos, difíceis de quantificar ou provar. Mas como uma alternativa ou como um complemento às medicações, são um início para reavaliar a conexão entre mente-corpo, e também para os profissionais de design um início para redescobrir as possibilidades terapêuticas de se incluir um jardim dos sentidos ao edifício hospitalar. (MARCUS e BARNES, 1995, p. 9, apud VASCONCELOS, 2004, P 83).
Podemos encontrar exemplares desses grandes blocos verticais no complexo dos Hospitais das Clínicas, em São Paulo. Unidades como o Instituto do Coração e Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) (Fig. 19), com suas altíssimas torres, onde o paciente perde completo contato com a escala da cidade, restando observar as copas das poucas árvores que se situam nas redondezas. 48
Figura 19 – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, São Paulo.
2.4.2. O VERDE E SEUS BENEFÍCIOS TERAPÊUTICOS Um dos aspectos mais notáveis da natureza é o seu constante movimento. A eterna dança de seus elementos é o que desperta a curiosidade, proporciona estímulos sensoriais, e previne a monotonia. O simples balançar das folhas, o vento, o movimento das nuvens, tudo isto é extremamente benéfico para o ser humano, o distrai, relaxa e desperta nele pensamentos positivos. O descanso e a recuperação de energia através do contato (sendo ele físico ou visual) com a natureza foi um dos principais argumentos para a concretização de parques, entre eles o Central Park em Nova York, por Olmsted (ULRICH, 1990, p. 95). Não há como negar: o “espaço livre” é o lugar da libertação do homem, um espaço de festa. Por certo há um sentimento de que o espaço ocupado, construído, é um lugar onde também o próprio espaço é aprisionado, mas com o aprisionamento deste continente o que é efetivamente atingido é seu conteúdo, o homem. (COELHO NETO, 2014, p 50). 49
Os benefícios do contato com o meio ambiente são ainda mais expressivos nos espaços construídos. Roger Ulrich, a partir da execução de diversos experimentos, constatou que a visualização de ambientes naturais, se comparado com o acesso apenas às cenas urbanas, é mais efetivo na recuperação dos componentes psicológicos do estresse. Desta forma, é importante salientar a importância do projetar aberturas em ambientes hospitalares, já que isto pode influenciar substancialmente no estado emocional do enfermo, e como se dará a sua recuperação. Ter acesso visual ao exterior é também importante para diminuir a sensação de enclausuramento, decorrente da permanência de longos períodos de tempo no mesmo local. Mesmo sendo apenas uma janela, esta atua como uma moldura de variações da luz e suas diversas tonalidades de cor, que se misturam e transformam a cena e o espaço, várias vezes durante o dia. A importância destes componentes foi comprovada por Ulrich em 1984, quando apresentou um estudo que avaliou a influência do acesso a paisagens naturais na recuperação de pacientes pós-cirúrgicos num hospital da Pensilvânia, Estados Unidos. Os pacientes foram divididos em dois grupos, um deles ficariam num quarto com janelas de acesso a uma vista com árvores, enquanto o outro teria acesso a uma “bela” vista de um muro. Aqueles expostos aos estímulos da natureza, através da janela, tiveram menor tempo de recuperação, de índices de complicações póscirúrgicas e de comentários negativos. A integração interior/exterior é também um benefício para a economia hospitalar. Os pacientes, em contato com o ambiente externo, necessitam de doses menores de medicamentos, assim como uma estadia mais curta, o que gera redução de custos. Diminui-se o desgaste da equipe médica e de enfermagem, aumentando a produtividade, e consequentemente, melhorando o atendimento (VASCONCELOS, 2004, p. 79).
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2.4.3. INSERINDO A NATUREZA NO PROJETO A seguir temos alguns exemplos de inserção do verde nos edifícios de atenção à saúde.
A.
JARDIM EXTERNO
Consiste numa área livre, externa, entre os edifícios de um complexo hospitalar. Tal espaço é comumente composto por passeios, mobiliário confortável, além de uma paisagem para a contemplação. O Centro Maggie de Oldham (Fig. 20,21 e 22), na Inglaterra, espaço especializado no apoio à pacientes com câncer, apresenta um belíssimo exemplo de jardim externo. Os arquitetos souberam tomar proveito do pequeno espaço disponível para o projeto e acabaram elevando o edifício sobre pilotis, deixando o térreo livre para o jardim.
Figura 20 – Planta do Centro Maggie de Oldham.
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Figura 21 – Jardim externo do Centro Maggie de Oldham
Figura 22 – Jardim externo do Centro Maggie de Oldham.
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B.
ACESSO PRINCIPAL
Responsável pela separação entre o edifício e a rua, o acesso principal é a primeira impressão de um hospital, e está normalmente associado a serviços de apoio, como estacionamento e transporte público. No Hospital infantil Teletón Infant Oncology Clinic (Fig. 23 e 24), localizado em Querétaro, México, os pacientes e seus acompanhantes são recebidos por formas e cores vibrantes, que torna o espaço convidativo.
Figura 23 - Teletón infant Oncology Clinic, México.
Figura 24 - Teletón infant Oncology Clinic, México.
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C.
PÁTIO CENTRAL
Geralmente é o espaço principal do hospital. Trata-se de um local semi-privativo e seguro, cercado pela edificação, deve ser facilmente visível e acessível, protegido e sombreado. O Zaans Medical Centre (Fig. 25, 26 e 27), situado na Holanda, tem uma tipologia que se volta completamente para o pátio.
Figura 25 – Corte do edifício do Zaans Medical Centre.
Figura 26 – Pátio central do Zaans Medical Centre.
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Figura 27 – Pátio central do Zaans Medical Centre
D.
TERRAÇO JARDIM
Trata-se de uma cobertura tratada, com a existência de vegetação e mobiliário atrativo e confortável em diferentes localizações, permitindo o acesso ao sol ou sombra, privacidade ou integração. O Christ Hospital Joint and Spine Center (Fig. 28, 29 e 30) localizado nos Estados Unidos, apresenta uma ótima solução, contribuindo para a criação de áreas agradáveis para o descanso de dos usuários.
Figura 28 – Fachada do Christ Hospital Joint and Spine Center, USA.
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Figura 29 – Terraços jardim no Christ Hospital Joint and Spine Center, USA.
Figura 30 – Terraços jardim no Christ Hospital Joint and Spine Center, USA.
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E. ÁTRIO Também conhecido como saguão principal, é normalmente locado na entrada do edifício. Diferente do pátio central, é um espaço coberto, responsável pela distribuição das circulações, e normalmente aglutina outras funções, como cafeterias, lojas e souvenirs e obras de arte exposta. Em Singapura, no National Heart Centre (Fig. 31), tem-se um extraordinário exemplo de átrio, com as escadas rolantes marcadas por diferentes materiais, e o pé direito alto, gerando uma sensação de amplitude, imprimindo uma escala monumental para o edifício.
Figura 31 – Átrio do National Heart Centre, Singapura.
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2.5. ARTE E RACIONALIDADE ESTRUTURAL: UMA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
A construção civil está entre as principais fontes de poluição e produção de resíduos sólidos no perímetro urbano. Técnicas tradicionais, onde já é previsto um percentual de desperdício de matéria-prima (como a quebra de parede para passagem de tubulações dos sistemas elétricos e hidráulicos) é ainda muito predominante no Brasil. As causas e consequências deste fenômeno se convertem num ciclo vicioso: a desvalorização da mão de obra primária e o desestímulo da criação de novas indústrias para a prática. Componentes estruturais confeccionados de maneira seriada e sistêmica, diminuem a necessidade de formas no canteiro de obra, facilitando o processo e aumentando a velocidade da obra. O estudo a seguir apresenta as diversas facetas do uso de sistemas modulares e pré-fabricados na construção civil, o que culmina nas obras racionais e orgânicas do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), que dedicou sua carreira em busca de novas soluções arquitetônicas para a área da saúde.
2.5.1. ARQUITETURA MODULAR De origem do latim, a palavra “modulo” tem como significado medida reguladora das proporções, ou quantidade que se transforma em uma unidade de qualquer medida (FERREIRA, 1999). Sob um aspecto histórico, podemos observar o uso de módulos em diferentes interpretações: para os gregos apresenta um caráter estético; para os romanos isto se torna estético58
funcional; agora para os japoneses trata-se de uma questão puramente funcional (ROSSO, 1976). A proporção dos elementos das ordens gregas era a expressão da beleza e da harmonia (CHING, 1998). O modulo grego, isto é, a unidade básica das dimensões era o diâmetro da coluna. A partir desta medida, surgiram todas as demais, como o fuste, o capitel e a base Para os romanos, todos os projetos, tanto planejamento das cidades e seus edifícios, obedeciam a um reticulado modular que se baseava em medidas antropométricas, o passus romanos, que era múltiplo do pes. Além disso, estes conseguiram padronizar tijolos universais: o bipetalis e o sesquipetalis (ROSSO, 1976). Na história japonesa houveram vários módulos, começando pelo shaku, de origem chinesa, que se equivalia praticamente ao pé inglês divisível por unidades decimais. Já na segunda metade da Idade Média, implantou-se uma nova medida, o ken, que passou a ser uma medida absoluta como módulo, cujo o reticulado regia toda a estrutura, os materiais e os espaços da arquitetura japonesa (CHING, 1998). Outra unidade de uso predominantemente residencial, o tatame, é um modulo cuja proporção é 1:2 em suas laterais, e seu uso garante um caráter prático funcional para a arquitetura japonesa, a partir do momento em que as dimensões de uma residência passa a ser expressa conforme o número de tatames utilizados (ROSSO, 1976). É entretanto, durante a Revolução Industrial que se intensifica a maior disseminação do uso do módulo, atrelado ao desenvolvimento do sistema de transporte ferroviário, que permite o uso de matérias primas não encontradas no local da obra (GRISOTTI, 1965). Neste cenário, a história da arquitetura moderna confunde-se com a da industrialização, com o uso de novos materiais, como o ferro fundido e o vidro, cuja fabricação pressupõe medidas que determinam a construção civil até a atualidade. pé direito alto, gerando uma sensação de amplitude, imprimindo uma escala monumental para o edifício. 59
2.5.2. O MÓDULO E SEUS BENEFÍCIOS CONSTRUTIVOS E LOGÍSTICOS
Segundo MASCARÓ (1976) a coordenação modular consiste em “um mecanismo de simplificação e inter-relação de grandezas e de objetos diferentes de procedência distinta, que devem ser unidos entre si na etapa de construção (ou montagem), com mínimas modificações ou ajuste”. É a representação da racionalidade aplicada à construção, o uso efetivo de recursos materiais e humanos. Na arquitetura modular todas as etapas do ciclo produtivo recebem a mesma atenção dos projetistas, desde a normalização, a certificação e o projeto dos componentes. É da responsabilidade destes a escolha dos materiais, o desenvolvimento dos projetos arquitetônicos e complementares, até a montagem e manutenção das edificações. O esforço deve partir de todos os interventores da cadeia produtiva, se responsabilizando pela busca do sucesso do projeto (GREVEN; BAUDALF, 2007). A partir de um relacionamento e comunicação apropriada entre os vários setores da construção, surge então as vantagens da coordenação modular. Entre elas a simplificação do projeto, com uma linguagem gráfica que torna mais fácil de interpretação, tornando acessível para todos os atores da construção, desde fabricantes, projetistas e os construtores. Além disso, a montagem tipificada agiliza e diminui o tempo da obra, o que consequentemente gera um controle eficiente de custos e de produção. A partir de uma receita, um manual bem detalhado da construção, temos também a redução de desperdícios e do consumo de matérias primas. E os benefícios não terminam assim que a obra é entregue, eles continuam através da facilidade 60
de manutenção posterior, além de gerar consequentemente um domínio tecnológico, através da repetição de técnicas e processos por parte dos envolvidos no empreendimento (GREVEN; BAUDALF, 2007). Enfim, o sistema construtivo baseado na modulação e préfabricação exige muito mais desenho e reflexão quanto às soluções arquitetônicas a serem adotadas, porém conduz muitos retornos ao empreendimento e todos aqueles a serem desenvolvidos ainda, pois estes poderão reutilizar moldes, indústrias especializadas e tantas outras técnicas nas quais foram investidas inicialmente.
2.5.3. JOÃO FILGUEIRAS LIMA: UM OLHAR SOBRE A SAÚDE Gentilmente conhecido como Lelé, João Filgueiras Lima é um dos mais importantes arquitetos do Brasil. Formado em 1955 pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve em Brasília o maior estímulo para desenvolver sua admiração pela a arquitetura oriunda da pré-fabricação. Foi na construção da nova capital brasileira que participou em diversos projetos que exigiam soluções construtivas e rápidas. Lá esteve também em contato com outros grandes nomes como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, e pode participar de diversos projetos do Plano Piloto, entre eles alguns edifícios da Universidade de Brasília (UNB), junto a Niemeyer e Darcy Ribeiro. Entretanto, é com o seu trabalho no campo da saúde que recebe o merecido reconhecimento. A preocupação de Lelé com a Saúde vai muito além do projeto de edifício hospitalar. Em sua obra, podemos observar uma atenção sistêmica com as diversas áreas que, juntas, possam criar um sistema básico que seja eficiente e atenda o maior número de pessoas. Nota-se um cuidado desde a assistência primária, quando pensa na violência no trânsito na cidade de Salvador, que segundo o arquiteto: 61
[...] Ceifa sistematicamente um enorme número de vidas e cria uma multidão de mutilados e de portadores de lesões irreversíveis que superlotam nossos hospitais, gerando tratamentos complexos na área de reabilitação. (FILGUEIRAS LIMA, 2012, 2012, P45).
Diante deste cenário, propõe 14 passarelas, todas prémoldadas e produzidas pela Fábrica de Equipamentos Urbanos da Prefeitura da Cidade (FAEC). Tal modelo posteriormente foi adotado em outras cidades, como Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba. Talvez a sua mais importante obra no que tange a profilaxia (medidas preventivas para a preservação da saúde), foram as obras de saneamento básico em Salvador, e, posteriormente, na Baixada Fluminense. Nestas obras, Lelé usou de uma tubulação formada a partir de elementos pré-moldados leves de argamassa armada, que foram transportados e montados in loco, facilitando os processos em terrenos difíceis. Graças a esta medida podemos afirmar que houve milhares de recursos economizados em tratamentos, pois é sabido que um sistema precário de saneamento básico é um dos principais fatores por contaminações e o crescimento do índice de mortalidade infantil (FILGUEIRAS LIMA, 2012). Lelé também dá muita atenção às ações primárias de saúde, que segundo ele, deveriam ser implementadas nas escolas e nos postos de saúde que atuam junto às comunidades. Tais espaços deveriam exercer funções como vacinação, educação sanitária, complementação alimentar, acompanhamento pré-natal e odontológico, além de direcionar os usuários para especialidades e tratamentos mais complexos se necessário. Conhecidas como “Casas comunitárias”, estas se localizavam prioritariamente em regiões urbanas de maior concentração da população de baixa renda, além de oferecer uma tipologia livre e flexível para atender a demandas específicas de cada comunidade (FILGUEIRAS LIMA, 2012). 62
João Filgueiras participou do programa de reformulação dos hospitais da fundação hospitalar do Distrito Federal, em 1967. A primeira obra do programa reestruturado foi na cidade satélite de Taguatinga (Fig. 32), e sua área de atuação contém os bolsões de pobreza de Ceilândia. Junto ao projeto estavam também uma equipe médica, composta por Wilson Sesana, Aloysio Campos da Paz e Carlos Gonçalves Ramos. Influenciado pela pobreza adjacente, diversos setores, como a da emergência, foram superdimensionados para atender as vítimas da violência urbana.
Figura 32 – Fachada modular do Hospital de Taquatinga.
Como partido, Lelé aproveita da topografia existente, e a implantação do projeto é dada de uma forma escalonada (Fig. 33). Esta solução cria vantagens, como a adoção de um esquema aberto de circulação e a possibilidade de expansibilidade de qualquer setor sem prejudicar as áreas vizinhas (Fig. 34) (FILGUEIRAS LIMA, 2012, p. 71). 63
Figura 33 – Corte esquemático do Hospital de Taguatinga.
Figura 34 – Organograma hospitalar.
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O desenho de Lelé demonstra sua preocupação com o conforto ambiental nos pavilhões ambulatoriais deste projeto. O sistema de iluminação e ventilação é feita de maneira natural através de Sheds pré-fabricados, com um desenho extremamente orgânico (Fig. 35). Entretanto, relata o arquiteto após uma avaliação pós ocupação, que o sistema empregado não é muito eficiente para a ventilação nos ambientes internos. Além de criar uma ventilação cruzada pelas portas, o que não é recomendável, pois propicia a transferência de bactérias entre ambientes contíguos.
Figura 35 – Sistema de iluminação e ventilação.
Entre suas obras mais importantes está o Hospital do Aparelho Locomotor de Brasília, que pertence à Rede Sarah, cuja as unidades espalhadas pelo Brasil são especializadas no tratamento do sistema locomotor, As inovações trazidas por Lelé neste projeto podem ser observadas desde pequenos e importantes detalhes, como o projeto da “cama-maca” (Fig. 36), criada com o intuito de substituir o leito convencional e trazer maior mobilidade aos pacientes, que agora poderiam ser movidos com maior facilidade por diversas áreas, até em lugares abertos, 65
para tomar um banho de sol (Fig. 37). Esta inovação reduziu a necessidade de constantes trocas de equipamentos, além da disseminação de infecção cruzada. O Hospital Sarah Brasília (Fig. 38) foi projetado para atender 300 leitos e é hoje um centro de referência mundial no tratamento do aparelho locomotor. É um projeto compacto, devido sua implantação em um terreno relativamente pequeno, e esta decisão de partido foi para garantir uma reserva de áreas para possíveis ampliações, (que já foram realizadas diversas vezes durante seus 31 anos de funcionamento). Sua configuração estrutural, composta por um bloco de oito pavimentos, cujo o desenho irreverente permite a criação de grandes terraços ajardinados e bem iluminados, rente às enfermarias. O projeto paisagístico (Fig. 39 e 40) é da arquiteta Alda Rebello Cunha, que desenhou massas vegetais que se integram de maneira lógica e funcional aos diversos tipos de espaços (FILGUEIRAS LIMA, 2012). Figura 36 – Desenho desenvolvido para a “cama-maca”.
Figura 37 – Pacientes tomando sol com a ajuda da “cama-maca”.
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Figura 38 – Bloco do Hospital Sarah Brasília.
Figura 39 – Área de espera, tratamento paisagístico e painel de Athos Bulcão.
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João Filgueiras Lima é, sem dúvida, uma referência quanto humanização do espaço hospitalar. Em toda a sua carreira soube atuar como um cientista, fazendo experimentos, analisando resultados, assumindo os erros e transmitindo os sucessos para a obra seguinte. Seu esforço em integrar espaços é louvável, sempre buscando valorizar a luz e a ventilação natural, isto é, trazendo o conforto ambiental ao edifício, a partir do desenho de detalhes estruturais, a pequena escala, a peça, seus materiais e encaixes. Lelé soube também trabalhar com profissionais de outras áreas, ouvir aqueles que usariam e atuariam no local, como os médicos presentes em vários desenvolvimentos de seus projetos. Sua atuação foi muito além do desenho arquitetônico, ele soube reimaginar a instituição hospitalar, pensando nos pequenos detalhes, na ergonomia e no melhor para os pacientes e funcionários. 68
Figura 40 – Massas vegetais.
3. METODOLOGIA
A
partir do estudo da vasta literatura existente sobre o assunto abordado neste caderno, deu se o seguimento à segunda etapa para a melhor compreensão do objeto de estudo, que envolve o reconhecimento de espaços construídos dos equipamentos de saúde em funcionamento através de visitas técnicas e entrevistas com usuários variados, buscando sempre abranger todas as categorias, desde administradores a pacientes e seus acompanhantes. Após o estudo em campo foi o projeto e todas as etapas que constituem este processo, desde a escolha do local do empreendimento; o levantamento Planialtimétrico do terreno; realização de estudos de viabilidade urbanística, que engloba o reconhecimento das leis e código de obra local, e por fim, prever os impactos que tal equipamento trará á região, sendo eles de curto, médio e longo prazo. Assim, feito os estudos preliminares da viabilidade urbanística, é desenvolvido o projeto principal.
4. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO: VISITAS TÉCNICAS
N
a arquitetura, o ato de realizar visitas técnicas consiste num reconhecimento mais aprofundado do objeto a ser projetado. O contato direto com a problemática, aquilo que leva a busca de uma solução/desenho, e principalmente aqueles que irão 69
ocupar este resultado se faz essencial no ofício como arquiteto. O levantamento realizado deve ir muito além de observações técnicas sobre o espaço construído, mas também consultar seus ocupantes. Segundo Sommer (1973): Os levantamentos entre os oprimidos são duplamente importantes, pois não apenas estes são os consumidores mais numerosos, mas também aqueles que que mais provavelmente se sentem mais impotentes e afastados das decisões. (SOMMER, 1973, p 117).
As informações coletadas nas visitas são importantes para que, a partir das demandas e recomendações dos usuários, possamos elaborar projetos que vão sobreviver a questão do tempo, isto é, um edifício capaz de se adequar a adaptações futuras, acomodando novas tecnologias e processos. Uma outra grande dificuldade é que o trabalho do arquiteto se destina a perdurar até um futuro distante. Ele prepara o palco para uma longa e demorada performance, a qual deve ser suficientemente adaptável para acomodar improvisações. O seu edifício deve, de preferência, estar à frente do seu tempo quando é projetado, a fim de que possa acompanhar a marca dos tempos enquanto se mantiver em pé. (RAMUSSEN, 2015, p 10).
Entretanto, o arquiteto se depara com muitas barreiras para o acesso a este espaço, e são completamente compreensíveis se considerarmos a dinâmica e a superlotação de diversos hospitais. Trata-se de uma enorme burocracia, diálogo com administradores e responsáveis, e muitas vezes, mesmo aprovado o procedimento, nos deparamos com falta de funcionários para acompanhar o percurso, discordância entre datas e horários, além de restrições de registros fotográficos do ambiente interno. Para contornar estes impedimentos, é confeccionado croquis dos ambientes mais importantes para um estudo mais aprofundado do espaço. 70
4.1. SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE JALES
Figura 41 – Fachada da Santa Casa de Misericórdia de Jales
Localizada numa cidade de pequeno porte, cerca de 50 mil habitantes, a Santa Casa de Misericórdia de Jales (Fig. 41) é um hospital considerado regional, pois recebe pacientes de todas as cidades da região, e tem como capacidade 142 leitos, entre eles SUS e conveniados, além de 10 leitos para UTI e 6 para UTI neonatal. O instituto é mantido maioritariamente por doações e eventos realizados para arrecadação de verba e mantimentos, trata-se de um esforço constante para que continue atendendo de maneira digna.
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A visita aconteceu no dia 1 de junho, às 10:20 horas, acompanhada pela enfermeira Anari Britto da Silva, especialista e responsável pelo Centro Cirúrgico. Apesar de ter a autorização prévia dos servidores da instituição, não houve a possibilidade de realizar registros fotográficos do espaço interno do hospital. É importante ressaltar também que a data da visita coincidiu com um feriado prolongado, então o hospital estava consideravelmente vazio se comparado com dias úteis. Logo no início do percurso a primeira característica que se nota é a escuridão dos corredores, com pouquíssimas luzes acesas. Segundo a enfermeira, a medida é para economia de energia, pois o hospital não está conseguindo pagar as contas, avolumando- se as multas da prefeitura. A única entrada de luz natural se localiza no fim do extenso corredor, e é claramente insuficiente para iluminar o local. A sensação, mesmo em luz do dia, é de completo abandono do local, e as pessoas, sendo elas acompanhantes, funcionários e pacientes, ficam obscuras diante o cenário. O primeiro espaço visitado foi a Farmácia (Fig. 42), com acompanhamento da Farmacêutica responsável por esse setor. Trata-se de uma sala inicial que dá acesso às outras duas, uma para receber e catalogar os medicamentos, e a segunda, cheia de prateleiras e caixas, é o depósito. Esta farmácia, assim como outras localizadas no hospital, é responsável pela dispersão de medicamentos de uso interno apenas, atendendo o contingente internado e oferecendo toda a instrumentária do centro cirúrgico. No salão principal estão bancadas e computadores, onde a farmacêutica responsável tem que atender os pedidos de enfermeiros e técnicos de enfermagem que chegam com o pedido numa abertura da parede, chamada de “boqueta” por elas. Ao perguntar sobre o espaço, relataram que é suficiente para o porte do hospital, mas prefeririam que o almoxarifado, onde se recebe e localiza grande parte do estoque de medicamentos, fosse num local mais próximo e acessível. Entretanto, não se pode reclamar
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da localização da farmácia, que está logo ao lado da Unidade de Terapia Intensiva, otimizando o atendimento daqueles que mais necessitam de atenção.
Figura 42 – Croquis esquemático da farmácia.
Seguimos para UTI, uma grande sala com três entradas diferentes, duas para funcionários e uma para acompanhantes dos pacientes internados. A configuração desta apresenta algumas peculiaridades (Fig. 43). Os boxes são configurados por camas e máquinas dispostas em 45 graus, permitindo que haja uma barreira visual entre os leitos, porém todos são acessíveis ao longo balcão central, onde ficam de plantão os médicos e enfermeiros. Além dos 9 leitos normais, há um de isolamento para pacientes com condições infecciosas mais graves. Como apoio, temos banheiros para uso dos funcionários, um banheiro para pacientes (raramente utilizados, pois estes, em sua maioria, se encontram em situações que não permite a locomoção), uma copa para funcionários bem precária, onde também são postas as dietas dos pacientes; de uma sala de descanso do médico em plantão; um DML (Depósito de Materiais de Limpeza); um Expurgo (um espaço onde são despejados fluidos e outros materiais orgânicos, lixos infectados, etc. ), Arsenal de Materiais (depósito de materiais de
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uso da enfermaria), Rouparia (onde são dispostos roupas, lençóis e cobertores limpos) e Vestiário para os funcionários. Ao percorrer os ambientes verifica-se que os corredores são estreitos. Além disso, não há uma única janela na UTI, e devido ao racionamento de energia imposto ao hospital, algumas das luzes artificiais se encontram também apagadas. Rente à UTI temos um espaço destinado aos visitantes, para que estes possam ver seus entes. Trata-se de um corredor, que acompanha os boxes, e estes têm acesso visual através de vidros localizados ao lado do dos leitos. Assim, um acompanhante tem direito de entrar diretamente na UTI, enquanto os restantes vão para este espaço. Segundo a enfermeira que acompanhava a visita, isto é uma medida para evitar contaminação por intenso contato externo. Entretanto, ao considerarmos que se trata de um espaço de isolamento e extremo cuidado, fica o questionamento se realmente é viável a permissão deste acompanhante.
Figura 43 – Croqui esquemático da UTI.
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As enfermarias do hospital são segmentadas em unidades, que se configuram em salas dispostas ao longo de corredores, porém há diferenças bem nítida entre elas. A unidade 1, por exemplo, grande parte dos quartos foram reformados pelas famílias mais abastadas da cidade, e apresentam até placas com os nomes dos benfeitores nas portas. São quartos individuais com janelas com vista para a avenida, um pequeno banheiro individual (cuja a dimensão é insuficiente para passar com uma cadeira de rodas), o leito, uma cadeira e um sofá para acompanhantes pernoitarem. Os quartos, embora reformados, apresentam inúmeras imperfeições, como piso e rodapés em granito, que não permite o acabamento curvado, que é recomendado pelas normas atuais; armários cujas portas, quando abertas, impossibilitam a entrada de enfermeiras, entre outras peculiaridades. Nesta unidade também estão os apartamentos, financiados pelos convênios da cidade. As outras unidades, assim também como a pediatria e a maternidade, são sustentadas pelo SUS, e podemos ver uma diferença substancial de padrão. São quartos que abrigam até 5 leitos, com uma cadeira desconfortável ao lado para visitantes pernoitarem. Os banheiros, mal projetados, apresentam também uma dimensão mínima, impossibilitando a entrada das técnicas de enfermagem com uma cadeira de rodas para a devida higienização dos enfermos. Além dos quartos, todas as unidades contam com um posto de enfermagem, rouparia, hamper (espaço parecido com a rouparia, mas para roupas sujas), sala de medicação e alguns banheiros de uso dos funcionários, pacientes e acompanhantes. Há também duas salas de isolamento, com um leito cada, junto à enfermaria, onde o acesso é restrito. O centro cirúrgico conta com 6 salas de cirurgia, além de uma sala destinada para parto normal e outra para pequenos procedimentos cirúrgicos. Adjacente a estas salas, há também um espaço destinado para recuperação pós cirúrgicos. Junto ao centro cirúrgico, têm-se as seguintes áreas de apoio: DML, vestiário feminino e masculino, banheiros, expurgo, copa, arsenal 75
de materiais e uma área de espera improvisada, duas cadeiras posicionadas aleatoriamente na entrada, que de certa forma atrapalha o trânsito de macas. É importante observar os diferentes acessos para esta ala, uma para funcionários, passando pelo banheiro e vestiário, e outro para os pacientes, uma entrada maior, o suficiente para passar macas. Uma questão levantada pela enfermeira Anari é a má localização da área de esterilização do hospital. Localizado no andar acima do centro cirúrgico, a área de esterilização conta com três salas diferentes, a primeira, que recebe os instrumentos sujos, a segunda, intermediária, onde se localizam as máquinas esterilizadoras, conhecidas como Autoclave (Fig. 44), que dá acesso ao terceiro ambiente, etapa final, onde se encontram os instrumentos limpos após o procedimento. Anari ressalta erros graves no desenho do local. Segundo ela, não deveria existir portas que interligassem estes ambientes, e sim, uma entrada individual para cada, além de uma pessoa para cada etapa do processo. Da maneira que está conformada, pode ocorrer contaminação cruzada dos materiais, afetando diretamente os pacientes e até funcionários. Outra necessidade relatada pela enfermeira é a falta de conexão direta entre esta área e o centro cirúrgico, o que poderia ser facilmente resolvido com a implantação de uma monta carga. Outro ambiente de apoio importante é a lavanderia, dividida entre duas salas, e entre elas as enormes máquinas de lavar. A primeira sala recebe todas as roupas e outros tecidos 76
Figura 44 – Autoclave, equipamento utilizado para a esterilização de instrumentos cirúrgicos
sujos do hospital e o funcionário deste lado fica responsável por preencher as máquinas, enquanto no outro ambiente, ficam aqueles que esvaziam as máquinas de lavar, colocam na de secar e continuam com o processo de passar, dobrar e selar corretamente as peças. Conversando com os funcionários, é notado um grande descontentamento quanto a ventilação do ambiente, que é feita por apenas um ventilador e uma pequena janela alta. Notase que também é insuficiente o espaço para guardar as peças após a lavagem, e as estantes ficam dispostas sem critério. Uma informação interessante que não consta na grande maioria de manuais de arquitetura hospitalar, é que grande parte os hospitais contam com costureiras para pequenos reparos do dia a dia. De uma maneira geral, o hospital apresenta uma circulação bem confusa e erros graves de acessibilidade. Por ser um prédio antigo, diversas rampas não respeitam a inclinação definida pelas normas, além de ter materiais de revestimentos escorregadios. Por mais irônico que seja, a rampa que dá acesso à ala de ortopedia e raio x, já foi responsável por diversos acidentes e quedas, ainda mais por ter uma porta de vidro no final da rampa. A área de emergência, cuja entrada é separada da recepção (Fig. 45), é composta por boxes divididos por cortinas, acessadas por um corredor que não aparenta ter nem sequer um metro de largura, insuficiente para o transporte de macas.
Figura 45 – Acesso da ala de emergência.
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Analisando o hospital com um viés da percepção ambiental e outras características que são necessárias para um hospital mais humanizado, nota-se falhas preocupantes de conforto ambiental. A falta de janelas, a superlotação de quartos da enfermaria, e os problemas graves causados pelo racionamento de energia, geram um ambiente mal iluminado, provocando um efeito sensorial sombrio. Não há uma linguagem de sinalização adequada (Fig. 46), pois existe apenas uma placa com uma lista de nomes e duas setas. Diversas portas não têm sequer o nome do ambiente. Isto causa sensação de labirinto e incerteza aos pacientes.
Figura 46 – Placa na recepção que indica os espaços do hospital.
Quanto às áreas verdes e livres, é praticamente inexistente. Não há nenhum tipo de átrio, pátio central, jardim externo, e muito menos um terraço jardim. Há apenas uma área de espera para visitas, coberta e externa ao edifício (Fig. 47). O mais peculiar, entretanto, é o uso do canteiro central da avenida como espaço arborizado e de espera (Fig. 48), e este local já foi palco de várias tragédias, acidentes, na história da cidade. 78
Figura 47 – Área de espera para visitas.
Figura 48 – Canteiro central da Avenida João Amadeu.
De modo geral, a visita à Santa Casa de Misericórdia de Jales foi uma experiência valiosa no que tange o reconhecimento do serviço de saúde público em cidades de pequeno porte, porém com a responsabilidade de atendimento regional. A partir destas observações é possível encontrar soluções arquitetônicas a serem criadas e aquelas que devemos evitar. Este hospital nada mais é que a representação de uma má gestão pública, um descaso com o atendimento básico de saúde e com a própria manutenção da vida representados na arquitetrura sem planejamento e sem humanização. 79
4.2. HOSPITAL DO RIM – FUNDAÇÃO OSWALDO RAMOS
O Hospital do Rim – Fundação Oswaldo Ramos (HRIM) (Fig. 49) localiza-se na rua Borges Lagoa, Vila Clementino, região nobre de São Paulo capital. Trata-se de uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos e de autonomia administrativa e financeira, reconhecida nacional e internacionalmente por ser um centro de excelência em transplantes e tratamentos renais. Nos últimos dez anos, é conhecido por ser o hospital que realiza mais transplantes renais no mundo, em média 850 procedimentos ao ano.
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Figura 49 – Fachada do HRIM.
A instituição surge a partir do esforço do grupo da Disciplina de Nefrologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que desde o ano de 1983 idealizavam um serviço especializado e de qualidade. Em 1998 é inaugurado o edifício do HRIM, que hoje apresenta 151 leitos, sendo destes 16 destinados para UTI e 9 para hospital-dia. Em seus 11 pavimentos e 3 subsolos, oferece serviços de apoio ao diagnóstico, a partir de laboratórios de patologia, análises clínicas, imagem e hemodinâmica completos e especializados para a função renal. Conta também com centro cirúrgico com 4 salas equipadas com toda a tecnologia necessária para o transplante renal, além de cirurgias do aparelho digestivo e cardiovasculares. Além disso, disponibiliza duas unidades de hemodiálise, uma intra-hospitalar e outra satélite, que juntas mantêm a capacidade de atender 230 pacientes. Após dois meses de negociação, foi concedido a possibilidade de realizar a visita técnica, que aconteceu no dia 28 de agosto de 2018, no período matutino. Em todo o período, recebemos o apoio da equipe do Núcleo de Pesquisa, além do grupo de Gestão Operacional, composta por engenheiros responsáveis pela a manutenção do edifício e segurança do trabalho hospitalar. Começamos a visita no anfiteatro do hospital para assistir uma palestra. A sala estava repleta de dirigentes da instituição, entre eles o Doutor Medina, um dos responsáveis pela a concretização do projeto do HRIM. O palestrante, um aluno da graduação em medicina, apresenta sua experiência com a atuação em transplantes no Jackson Memorial Hospital, um grande centro de transplantes de diversas modalidades, localizado no Estado da Califórnia, Estados Unidos. Seguimos então para a área administrativa do Hospital. Conhecido como “Anexo”, é um edifício adjacente ao hospital, que recebe diversos departamentos de pesquisa, além da diretoria, setores de finanças, etc. Na sala da Gestão Operacional, temos uma breve reunião com a responsável da ala, a Engenheira Ambiental e especialista em segurança do trabalho Rosângela Castro Alves Duarte. Junto a ela estão os quatro estagiários em engenharia 81
civil, que no momento estão atuando e auxiliando as obras de reforma do edifício, após 20 anos de atividade. No pouco tempo de permanência nesta ala, podemos entender a necessidade de um núcleo desta função em hospitais. Desde direcionamentos quanto a limpeza ideal das áreas em reforma, até a elaboração de planos diretores para reforma (Fig. 50) de alas inteiras, tudo é resolvido ali.
Figura 50 – Plano diretor de obras impresso.
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É louvável o esforço destes profissionais para a adequação deste edifício às novas normas da ANVISA e de acessibilidade. Segundo Rosângela, o maior desafio é manter o funcionamento das áreas, relocá-las, para que então possa surgir um canteiro de obra. Uma expressão proferida pela a engenheira representa muito bem este desafio: “Trocar a turbina com o avião no ar”. Em breve se inicia as obras do centro cirúrgico, que irão acontecer nos períodos entre cirurgias, desta forma deve haver uma comunicação constante entre os setores do hospital
Figura 51 – Boiler.
O percurso pelo o edifício principal inicia-se na cobertura. Outrora um Heliponto, hoje recebe novos equipamentos para o bombeamento de água fria e quente, além de boilers e chillers (Fig. 51 e 52). Quando questionado sobre essa troca de funções, o responsável pela visita afirmou que em 20 anos de história do hospital nunca foi necessário o uso do heliponto. É uma reforma recente, e o transporte dos equipamentos exigiu uso de guindastes para a locação destes na cobertura.
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Rente a área recém reformada, há outra cobertura, acessível pelo décimo primeiro andar. Segundo os representantes da gestão operacional, há um projeto de tornar essa área em uma região de permanência e descanso para os funcionários, que hoje tem apenas o refeitório e uma área adjancente como um espaço destinado para este uso específico. Seguimos então com a visita em outra obra que está acontecendo no laboratório de patologia. Localizado no segundo andar, o laboratório conta com áreas bem distintas e dissoantes. Repletos de antigas divisórias, a reforma tem como função dar uma nova objetivo a estes espaços (Fig. 53), que precisam se adaptar para receber os mais novos e enormes equipamentos de mecanização dos procedimentos.
Figura 52 – Sistema de bombeamento de água e maquinário de ar condicionado.
Figura 53 – Reforma de uma sala no Laboratório de Patologias.
Há uma separação provisória que dá acesso a área em reforma, além do acesso ao cômodo que já teve sua obra finalizada. Mesmo recente, nos deparamos com o de revestimento impróprio no piso, este cheio de divisões e um rodapé que não facilita a limpeza, e desta forma, aumenta o risco de acumulação de sujeira (Fig. 54). Além disso, ao ouvir o responsável por esta área, fica claro que se trata de um espaço menor que o necessário, e devido ao grande número de aparelhos, isto gera a sensação de aglomeração no ambiente. 85
Figura 54 – Laboratório de patologia.
Somos então atendidos pela chefe do Laboratório de Análises Clínicas, Silvia, que apresentou de uma maneira muito simples, explicando cada ambiente e processos realizados sob organização dela (Fig. 55). São 55 funcionários, entre os responsáveis pela coleta do material (tanto de pacientes internados e ambulatorias) e aqueles que processam os exames. O andar é dividido em pequenas salas, segmentando os processos, o que segundo Silvia, atrapalha o segmento e retarda os resultados. Embora a RDC 50 e alguns manuais de arquitetura hospitalar estipulam dimensões necessárias para esses procedimentos, é importante 86
ressaltar, como afirmam os funcionários, que as técnologias mudam, e hoje, uma “linha de produção”, num ambiente contínuo, seria muito mais efetivo. Trata-se de uma informação valiosa, pois com a possibilidade de acelerar os resultados, mais rápido o diagnóstico, e consequentemente, o tratamento.
Figura 55 – Procedimento de urinálise a partir do método da fita.
Devido sua configuração antiquada, o laboratório então precisa locar suas grandes máquinas fora destas salas. Atualmente, grande parte de um hemograma é realizado por uma unica máquina (Fig. 56), que a partir de leitura de barras, já distingue e disponibiliza os resultados no sistema de dados no hospital. Assim também ocorre com os exames de imunologia (Fig. 57) e eletroforese. 87
Figura 56 – Maquina responsável para a realização de hemogramas.
Figura 57 – Exames recolhidos de pacientes transplantados internados.
A irradiação solar é também um problema nestes ambientes. Antes da reforma da fachada, onde os projetistas responsáveis optaram por cobrir as janelas com brises, as áreas do laboratório recebiam sol intenso, e para amenizar o “efeito estufa”, resolveram então colocar insulfims nos vidros (Fig. 58). Isto atrapalha a percepção do dia aos trabalhadores, através daquela luz sempre artificial e “filtrada”. 88
Figura 58 – Iluminação no laboratório de análises clínicas.
A circulação do hospital é realizada maioritariamente via elevadores. No total são 6 elevadores distribuidos em dois pontos focais no edifício. As saídas de escadas são obscuras e não sinalizadas, o que dificulta o acesso da informação por parte do usuário inexperiente. Perde-se muito tempo a espera de um elevador, o que é um dos problemas dos eficícios contemporâneos da saúde, com grandes blocos verticais. Acima do andar dos laboratórios, temos o Centro Cirúrgico e o Hospital Dia. Estes espaços, vistos de uma distância segura para os pacientes, aparentam seguir as normas e padrões recomendáveis. O hospital-dia (Fig. 59), unidade onde se realiza pequenas cirurgias e procedimentos e os pacientes ficam sob obervação durante o período de no máximo um dia, é de extrema importância para uma instituição como esta. O tratamento de um paciente renal vai muito além de consultas ambulatorias, hemodiálise e transplante. Faz parte da rotina dos pacientes a realização de biópsias, de pequenas cirurgias vasculares, do trato urinário, que se tornam muito menos traumáticas quando não é necessária uma internação convencional. 89
Para entender o sistema de máquinas por trás do hospital, somos levados a visitar alguns espaços específicos. O sexto andar do edifício é conhecido como Andar técnico. Logo acima do centro cirúrgico, o pavimento é caracterizado por portar máquinários, cilindros, dutos de ventilação (Fig. 60) e de rede de dados do sistema (Fig. 61). É um andar diferente, “denominado andar técnico” com um pé direito mais baixo que o normal (cerca de 1,5m) e com acesso regulado, feito para facilitar as manutenções cotidianas dos equipamentos de suporte ao tratamento. Designar um pavimento apenas para este uso trata-se de uma boa escolha de projeto. Dispensa a necessidade do uso de forros removíveis, onde os funcionários precisam atuar diretamente em áreas terapêuticas para realizar reparos, atrapalhando a rotina do hospital. 90
Figura 59 – Hospital-dia.
Figura 60 – Dutos de ventilação do andar técnico.
Figura 61 – Duto para sistema de redes.
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Os funcionários responsáveis pela assistência técnica tem uma sede própria. Uma ala subutilizada do hospital, recebe provisóriamente uma equipe sempre atenta à manutenção dos equipamentos hospitalares. Desde macas, até dialisadores, o espaço acaba realizando também a função de depósito de peças. Todo o suprimento de energia do hospital se dá através da miniestação de energia localizada no segundo subsolo. Ao lado do estacionamento, ali estão localizados os maquinários responsáveis por manter o hospital em funcionamento, tanto em condições normais de distribuição de energia da rede pública, quando em casos de queda, por meio dos geradores. A visita acompanhada pelas enfermarias se deu de maneira superficial, visando não perturbar a equipe médica e os pacientes internados. São quatro andares destinados a esta atividade, onde alguns já passaram por reformas recentes e estão mais adaptados às normas atuais. Em geral, são suítes duplas (duas camas), que recebem luz a partir de duas janelas padrões, que se repetem ao longo da fachada do edifício. Formam-se alguns núcleos no pavimento, caracterizado por um posto de enfermagem e outras salas de apoio, rodeados pelos dormitórios de uso comum e os de isolamento. Por ser uma instituição filantrópica, o HRIM tem como meta destinar 60% de seus leitos ao SUS, entretanto esses números chegam até 90% normalmente. Desta forma, os dirigentes optaram por não criar uma distinção entre leitos, muito menos no tratamento e serviços oferecidos aos pacientes. A clínica de hemodiálise também não foge muito dos padrões encontrados em outros estabelecimentos (Fig. 62). São salas com pequenas turmas de pacientes, onde as caderias e suas respectivas máquinas ficam rente as paredes. Adjacente a estas áreas, temos os ambientes de apoio ao serviço de hemodiálise: expurgo; depósito de materiais; lavabo; área de higienização de fístulas (Fig. 63), etc.
92
Figura 62 – Planta do Quarto Pavimento do HRIM.
Figura 63 - Área para higienização de fístulas.
Chegamos em um momento bem movimentado, a troca de turno entre os funcionários e almoço dos pacientes, porém pudemos conversar um pouco com a enfermeira da estação. A falta de espaço é um relato bem comum entre os profissionais entrevistados, porém no caso da clínica de hemodiálise é um pouco mais sério. As máquinas parecem muito próximas uma das outras, e as cadeiras, embora aparentem ser confortáveis aos pacientes, dificultam o trabalho da equipe, que deve estar sempre atenta aos acessos sanguíneos do paciente e aferir a pressão arterial frequentemente. Trata-se de uma questão de ergonomia, e acreditamos com a possibilidade de oferecer uma distância maior entre as maquinas e cadeiras facilitariam o atendimento. Durante o percurso pudemos observar a falta de espaços livres para pacientes e 93
equipe, o que pode ser justificado pela configuração espacial do edifício hospitalar, o grande bloco vertical. É notável a capacidade de padronização de andares, que parecem manter a mesma configuração espacial mesmo recebendo diferentes usos e necessidades. Diante desse esforço, resta apenas uma pequena área de espera e descanço para os pacientes e acompanhantes, uma dilatação do correndo (Fig. 64), com uma grande abertura e um banco de concreto, que ora recebe cadeiras de plásticos.
Figura 64 – Corredor dilatado que realiza função de área de espera.
O grupo responsável pelo gerenciamento de obras é atento aos detalhes e disposto a atender às demandas de cada profissional atuante na instituição, na medida do possível. Para a obra do centro cirúrgico, por exemplo, foram convidados para assistir uma cirurgia de transplante, que seria no dia seguinte, para entender os fluxos e necessidades de uma sala cirúrgica Cada reforma está devidamente programada, seguindo o plano diretor minuciosamente construído, o que demonstra o caráter adaptativo que um hospital merece ter, e no HRIM isso vai além de uma questão técnica de resposta à novas tecnologias e normas. Eles querem mudar a imagem do hospital, mesmo este jovem, com seus 20 anos de existência, as obras da fachada 94
demonstram um interesse em transformá-lo num edifício mais amigável e dinâmico, que receba um destaque maior na região onde está implantado. Com uma linguagem contemporânea, as cores quentes das chapas perfuradas (Fig. 65 e 66) que cobrem as janelas contrastam com a massa rústica cinzenta.
Figura 65 – Trabalhadores implantando as chapas nos trilhos.
Embora todos os problemas apontados neste relato, é admirável observar o esforço da equipe em oferecer o melhor tipo de tratamento possível, independente das questões estruturais. Podemos observar a paixão no olhar dos profissionais, que estão na instituição desde os primórdios do projeto, e permanecem atuando em prol do bem-estar do paciente. 95
Figura 66 – Fachada do edifĂcio principal.
96
5. ESTUDOS INICIAIS
A
pós a realização das visitas técnicas, o trabalho avançou para uma abordagem mais técnica dos parâmetros envolvidos num projeto de tamanha escala. O estudo inicia-se na escolha do terreno, e as principais características que nortearam nesta decisão, Levantamentos topográficos e planialtimétricos, e questões da legislação local, discorrem sobre a viabilidade da implantação de um edifício com as proporções previstas. É previsto também os principais impactos que o empreendimento irá causar na região, tanto ambientais como os transtornos que uma rotina hospitalar pode causar na vizinhança, como por exemplo, aumento da quantidade de veículos nas ruas que permitem o acesso até o hospital. Por se tratar de um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS), recai sobre o projeto inúmeras outras legislações a serem seguidas, de âmbito nacional. A RDC 50 de 2002 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com apoio de outras portarias lançadas pelo ministério da saúde, regem o desenvolvimento do projeto, em diversas fases deste Há também a NBR 9050 de 2015 da ABNT, que dita as normas de acessibilidade. Após um estudo minucioso destas normas foi elaborado um resumo dos critérios principais a serem adotados e avaliados no projeto, apresentados a seguir.
97
5.1. LEVANTAMENTO PLANIALTIMÉTRICO
O Projeto do Hospital do Rim de Bauru se adaptaria bem se fosse instalado na área escolhida, pelos motivos detalhados neste tópico. O terreno faz parte de um seguimento de quadras subutilizadas, inserido numa região nobre da cidade. São três quadras distintas, interseccionadas pelas ruas dos RadioAmadores, Almeida Brandão, Vinte Nove de Outubro e termina na Avenida das Nações Unidas, uma das vias principais da cidade. É então escolhido o terreno intermediário (Fig. 67 e 68), que apresenta uma boa proximidade com a via principal, porém ainda mantém um resguardo para evitar o ruído do intenso tráfego de automóveis da Avenida das Nações Unidas.
98
Figura 67 – Localização.
Figura 68 – Vista do terreno.
Trata-se de uma localização estratégica e privilegiada (Fig. 69). Próximo de uma das principais vias da cidade, a Avenida das Nações Unidas, que conta com linhas de ônibus que dão acesso à rodoviária e grande parte do município. A área também se encontra próxima à centros de saúde, ensino e pesquisa já consolidados. O Campus da Universidade de São Paulo (USP), que além do novo curso de medicina, conta com outros cursos relevantes como: odontologia e fonoaudiologia, além do renomado Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), conhecido por “Centrinho” (credenciado pelo Ministério da Saúde). Nessa mesma região da cidade há também a Universidade do Sagrado Coração (USC), com um reconhecido curso de enfermagem. A região também é beneficiada pelo Parque Vitória Régia e alguns comércios alimentícios e de serviços de hotelaria. Além de serviços da área da saúde que já estão implantados adjacentes à área do projeto e, deve-se ressaltar ainda que a existência de outros lotes vazios em volta da quadra escolhida possibilitaria a expansão e criação de novas unidades, consolidando um complexo voltado à saúde na região. 99
O local escolhido apresenta uma topografia (Fig. 70) que acompanha o declive da região, onde historicamente pertencia às margens do Rio Córrego das Flores, que foi canalizado e deu lugar à Avenida das Nações Unidas. Assim, é uma área problemática na questão do escoamento das águas pluviais. A proposta é usar a topografia como partido arquitetônico, que apresenta uma inclinação de 5,6% em média no decorrer do terreno. Tal característica pode ser utilizada para a segmentação de acessos – entradas e saídas de pacientes, funcionários, suprimentos e cadáveres. A partir da topografia pode-se também trabalhar com a valorização paisagísitca do local, como o direcionamento do edifício e de suas aberturas para que seus usuários tenham uma ótima vista do Parque Vitória Régia, etc. 100
Figura 69 – Infraestrutura da região.
Figura 70 – Levantamento Topogråfico.
101
5.2. VIABILIDADE URBANÍSTICA
A área escolhida para o projeto se conforma entre as ruas Almeida Brandão e a Vinte e Nove de Outubro. São 8,134m² de área, rodeadas por residências em duas de suas extremidades. O terreno está situado numa Zona Residencial 2 (ZR2.B), assim como determina o Mapa Digital Cadastral de Bauru (Fig. 71). que gerencia o zoneamento da cidade
102
Figura 71 – Consulta da área do projeto no Mapa Digital Cadastral de Bauru
Tabela 2 – Tabela de parâmetros para o zoneamento.
A Lei nº 2399 de 15 de fevereiro de 1982, que determina normas para parcelamento, uso e ocupação do solo, que posteriormente recebe anexos (Lei 2399a), estabelece os seguintes parâmetros urbanísticos para a região (Tabela 2):
Entre os usos permitidos, maioritariamente residenciais, está o tipo S2.02, que consiste em diversos tipos de empreendimentos, como podemos observar em sua descrição contida na mesma lei: Analisando o texto da lei, fica indefinido se a implantação de um hospital, como proposto até o momento, é viável. Embora várias das atividades que estão previstas no escopo Tabela 3 – Uso S2.02
103
do projeto estejam explícitas no texto, não podemos afirmar se o edifício em sua totalidade seria aprovado. Entretanto, a atividade proposta trata-se de um estudo de teor puramente acadêmico, cujo foco é apresentar uma solução, e não necessariamente um projeto a ser executado imediatamente. Assim, acreditando nas potencialidades da região e todos os serviços ali consolidados, após consultar legislações minicipais, optou-se por manter esse terreno para o projeto. É importante ressaltar que a área em questão atualmente já recebe diversos usos que tomaram outras proporções daquelas previstas na Lei, que foi escrita em 1982. Desde então Bauru se desenvolveu muito, e revisões são sempre bem-vindas e necessárias.
5.3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA O objetivo de um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) é de instruir o Poder Público quanto a capacidade do meio urbano para receber o equipamento, de modo a garantir um equilíbrio no crescimento urbano e manter condições de ocupação dos espaços. Tem também função fiscalizatória, preventiva e de precaução, garantindo a avalição dos empreendimentos e atividades que possam causar danos ao meio ambiente. O estudo tem como obrigação apontar aspectos positivos e negativos quanto à implantação na área proposta, sobre a qualidade de vida urbana, propondo medidas mitigatórias ou compensatórias quando houver necessidade. (DIAS, SILVA, 2016). De maneira geral, impactos podem trazer tanto aspectos positivos e negativos à uma determinada região. Desde grande movimentação de veículos de emergência (ambulâncias) à instauração de um comércio para atender a concentração de pessoas esperadas neste espaço. Para tanto, é importante analisar e criar alternativas para uma atuação efetiva sobre o espaço. A seguir é apresentada a análise das demandas a serem atendidas durante e após a implantação de um empreendimento hospitalar: 104
A.
ENERGIA ELÉTRICA E GÁS NATURA
É preciso estabelecer contratos que viabilizem ligações diretas destes recursos, a partir de concessionárias locais. Um hospital, devido o seu porte e função social, necessita de constante acessos à energia, além de prever geradores capazes de manter suas atividades primordiais funcionando em casos de interrupções de transmissão. Gás natural é também um recurso extremamente utilizado nos setores de apoio do edifício, como nutrição e dietética, lavanderia, esterilização de materiais, etc.
B.
ÁGUA POTÁVEL
O Acesso a este recurso deve ser realizado através da rede pública de distribuição, no caso de Bauru, o Departamento de Água e Esgoto (DAE), por meio de uma ligação direta e exclusiva com o edifício.
C.
PERMEABILIDADE DO SOLO E DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS
Como partido arquitetônico e devido sua localização rente à uma área historicamente conhecida por enchentes e alagamentos, será adotada sistemas de drenagem e coleta da água da chuva, além da criação de áreas para a retenção do fluxo, a partir de áreas permeáveis com tratamento paisagístico adequado.
D.
RESÍDUOS SÓLIDOS
Os Resíduos de serviços da Saúde (RSS), segundo a Resolução RDC nº 33/03, são classificados entre grupos conforme a periculosidade e maneiras que devem serem feitos seus descartes. São eles: resíduos potencialmente infectantes; químicos, como elementos inflamáveis, corrosivos, reativos e tóxicos; resíduos radioativos, utilizados em radioterapias e outros procedimentos 105
da medicina nuclear; resíduos comuns (não contaminados) e os perfurantes, como bisturis e agulhas. Todo o recolhimento de lixo hospitalar deve atender à norma 306/2004 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e cabe ao administrador do hospital a criação de um PGRSS – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde que inclua coleta, transporte, tratamento e disposição final adequada.
E.
RESÍDUOS SÓLIDOS
Não é esperado emissões atmosféricas significativas por parte do edifício; apenas em casos onde será necessário a ativação dos geradores durante interrupções da rede elétrica. Entretanto, é esperado um número maior de fluxo de automóveis na região, que devido a queima de combustíveis fósseis, podem aumentar a poluição atmosférica de maneira local, conforme a movimentação.
F.
EMISSÕES DE RUÍDOS
É esperado a geração de ruídos durante a operação do hospital, mas estes devem ser concentrados em seu interior, a partir do uso de materiais e revestimentos que apresentam qualidades acústicas satisfatórias para o uso. O que de fato é o maior causador de ruídos e consequentemente incômodos na vizinhança, será o aumento substancial do fluxo de pessoas e automóveis na região, entre eles ambulâncias.
5.4. CRITÉRIOS PARA O PROJETO Apresentaremos a seguir uma compilação de recomendações gerais para o projeto de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). Tais critérios projetuais são embasados, prioritariamente, nas normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 106
RDC 50 de 2002, que apresenta um manual para este tipo de empreendimento, independente da função e escala do projeto em questão. Diversos preceitos apresentados neste documento também estão de acordo com a norma NBR-9050 da ABNT, que diz respeito acessibilidade. Como forma de complementação e aprofundamento no assunto, é consultado também manuais de arquitetura hospitalar, que são elaborados, em sua maioria, por profissionais com experiência na área, e que já lidaram com os diversos desafios que um edifício desta complexidade apresenta. De modo geral, as recomendações recebem um foco maior em dois tópicos: circulação e controle de infecção. É importante ressaltar, que além destes, há inúmeros outros âmbitos do projeto, como instalações prediais, que demandam um conhecimento mais específico e um trabalho em equipe multidisciplinar, com engenheiros e profissionais da saúde, o que demandaria um tempo maior que o programado para um trabalho acadêmico, uma vez que exige um nível de detalhamento de projeto executivo..
5.4.1. CIRCULAÇÕES EXTERNAS E INTERNAS Por circulações, entende-se os acessos, estacionamentos e circulações horizontais e verticais de um estabelecimente. Tais acessos devem necessariamente estar de acordo com as normas da NBR 9050 da ABNT, para promovar a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida ao edifício, seus mobiliários e equipamentos urbanos ao redor.
A. ACESSOS Segundo a RDC 50 de 2002, é preciso valorizar os acessos do hospital, pois é a partir deles que se dá a circulação de sua população usuária e de materiais. É necessário restringir o máximo o número de acessos distintos, para que possam manter controle da movimentação no edifício e evitar circulações indesejadas em áreas restritas. 107
B. ESTACIONAMENTOS Os estacionamentos em Edifícios Assistenciais de Saúde devem necessariamente obedecer ao código de obras local, e no caso da omissão deste, deve ser adotado uma área mínima de 12,00m² ou uma vaga para veículos a cada quatro leitos. A área destinada a esta função pode estar localizada num local distinto ao hospital, desde que respeite as restrições contidas no código de obras da cidade. Além disso, os meios-fios destes devem ser rebaixados para permitir o tráfego de cadeira de rodas e macas. Algumas vagas especiais devem ser demarcadas, como locais de estacionamentos para viaturas de serviços e vagas para deficientes físicos.
C.
CIRCULAÇÕES HORIZONTAIS
Quanto às circulações horizontais, é importante considerar orientações quanto ao dimensionamento de corredores e portas. No geral, os corredores de circulação de pacientes ambulantes ou em cadeiras de rodas, macas ou camas, devem ter largura mínima de 2,00m, e não podem exercer função de área de espera. Podem apenas ser instalados equipamentos como telefones públicos, bebedouros, extintores de incêndio, carrinhos e lavatórios, de tal forma que não reduzam a largura mínima e não obstruir o tráfego, a não ser que a largura exceda a 2,00m. Os corredores destinados à circulação de pacientes devem também possuir corrimãos em pelo menos uma parede lateral, a uma altura de 80 a 92 cm do piso, com finalização curva segundo as recomendações da NBR 9050 da ABNT. O batemacas, equipamento responsável para a proteção da parede, pode também exercer a função de corrimão. As portas de acesso a pacientes devem ter dimensões mínimas de 0,80 (vão livre) x 2,10m. Aquelas onde passam camas e macas, e portas de laboratórios no geral, necessitam medidas 108
de 1,10 (vão livre) x 2,10m. Em salas de exame ou terapias no geral, devem possuir 1,20 x 2,10m. Em banheiros e sanitários de pacientes, as portas devem sempre abrir para fora do ambiente, ou permitir a retirada da folha pelo lado de fora, para que sejam abertas sem necessidade de empurrar o paciente num cenário em que este caiu atrás dela.
D.
CIRCULAÇÕES HORIZONTAIS
A circulação vertical é um tópico muito importante nos edifícios hospitalares contemporâneos, tendo em vista a mudança de sua conformação: os grandes monoblocos verticais, aptos a serem implantados no concorrido mercado atual. Diante deste cenário, a RDC 50 determina alguns critérios para as modalidades do tráfego vertical: escadas, rampas e elevadores. As escadas devem seguir larguras mínimas distintas se destinadas a fluxo de pacientes (1,5m) e de funcionários (1,2m). Sua configuração, todos os seus parâmetros, deve seguir a NBR 9050 da ABNT, além de outros critérios exclusivos para EAS: _ O piso de cada degrau tem de ser revestido de material antiderrapante e não ter espelho vazado; _ Nenhuma escada pode ter degraus dispostos em leque, nem possuir prolongamento do patamar além do espelho (bocel); _ Nenhum lance de escada pode vencer mais de 2,00m sem patamar intermediário.
Para rampas, a largura mínima deve ser de 1,50m, e obedecer a declividade conforme a tabela a seguir (Tabela 4), extraída da NBR 9050 da ABNT. Além dos parâmetros quando dimensões, é determinado que as rampas devem ter piso não escorregadio. Tanto escadas e rampas, demandam corrimãos especialmente desenhados, aptos a atenderem a necessidade do maior número de pessoas, com necessidades especiais ou não (Fig. 72), 109
Tabela 4 – Dimensionamento de rampas.
Figura 72 – Desenho de corrimãos em escadas e rampas.
5.4.2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE CONTROLE DE INFECÇÃO “Infecção Hospitalar é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares” (Portaria do Ministério da Saúde de 12/05/98)
O controle da infecção Hospitalar está fortemente ligado à conduta humana, desta forma, a função da arquitetura está no auxílio de estratégias contra a transmissão adquirida em seu espaço. 110
As soluções arquitetônicas disponíveis para a prevenção de infeções estão distribuídas pelas as etapas do projeto, desde o estudo preliminar com a escolha de um terreno ideal, como no projeto executivo, com a seleção dos melhores revestimentos para usos específicos de ambientes diversos.
A.
CIRCULAÇÃO DE ELEMENTOS LIMPOS E SUJOS
Segundo a RDC 50, o transporte de material contaminado pode ser realizado através de quaisquer ambientes e cruzar com outros materiais e pacientes, desde que seja realizado a partir de técnicas adequadas. Desta forma, fica dispensável a necessidade de circulações exclusivas para elementos sujos e limpos. Tal medida, pode, por sinal, prejudicar o ambiente, através de mais um acesso a ser controlado, e da multiplicação de áreas para higienização.
B.
QUARTO PRIVATIVO DE ISOLAMENTO
Todo quarto privativo destinado para o isolamento necessita de um banheiro privativo (com lavatório, chuveiro e vaso sanitário), exceto quando este se localizar na UTI; além de um ambiente específico com pia e armários estanque para roupas e materiais limpo e sujo anterior ao quarto, conhecido como antecâmara.
C.
INTERNAÇÃO DE PACIENTES
Quanto à internação de pacientes adultos e infantis, a RDC 50 dá enfoque em relação à distribuição de banheiros ao longo de enfermarias e UTI. Cada quarto ou enfermaria deve possuir seu próprio banheiro, além de um lavatório para uso da equipe de assistência numa região/área anterior à entrada da enfermaria, para que os profissionais possam se higienizar corretamente antes de entrar em contato com o enfermo. É indicado a disposição de pelo menos um lavatório exterior a cada 4 quartos. 111
D.
LOCALIZAÇÃO DAS SALAS DE UTILIDADES
O projeto das salas de utilidades deve ser feito sem que afete ou interfira com outras áreas ou circulações. Estes espaços devem receber materiais contaminados da unidade onde se encontra, receber o despejo de resíduos líquidos contaminados, além de abrigar roupa suja e opcionalmente, resíduos sólidos, a serem encaminhados a lavanderia e outros serviços de apoio. Segundo a RDC 50, estas salas devem possuir, no mínimo, uma pia de despejo e uma pia de lavagem comum.
E.
ACABAMENTOS DE PAREDES, PISOS, TETOS E BANCADAS
Os materiais empregados em superfícies acessíveis do hospital devem ser, no geral, resistentes à lavagem e ao uso de desinfetantes. Em ambientes de áreas críticas e semicríticas, é importante priorizar acabamentos que permitem uma superfície monolítica, com o menor número possível de ranhuras e festas, mesmo após o uso e limpeza frequente. Os materiais, sendo eles cerâmicos ou não, devem possuir um índice de absorção de água inferior a 4% depois de instalados no ambiente, e todos outros materiais de apoio, como o rejunte, também deve apresentar índices parecidos. Tintas elaboradas a base de epóxi, PVC, poliuretano e outras substâncias especialmente projetadas para áreas úmidas, podem ser aplicadas em todas as superfícies acessíveis do espaço, desde que estas sejam resistentes à lavagem, uso de desinfetantes, além de abrasão e impactos constantes (quando aplicadas no piso). É proibido o uso de divisórias removíveis em áreas críticas, sendo permitido apenas a aplicação de paredes pré-fabricadas, quando aplicadas corretamente e possuírem acabamento monolítico. Não é permitido também que tubulações e dutos fiquem aparentes nas paredes e tetos nestes ambientes.
112
6. HOSPITAL DO RIM DE BAURU
A
ideia de criar um projeto especializado no tratamento de doenças renais e hipertensivas surge do interesse de aplicar novas tecnologias e soluções arquitetônicas num edifício diferenciado e dinâmico. O empreendimento se situa em Bauru-SP, e como abordada anteriormente, é um centro de saúde e educação em rápida expansão, que já recebe um alto fluxo de contingentes humanos para estas finalidades. A descentralização do tratamento de qualidade e especializado traz benefícios para todas as partes envolvidas, aos pacientes, funcionários e as unidades existentes na capital, o Hospital do Rim (HRIM) e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). O nome “Fundação Willem Kolff” é uma homenagem ao cientista holandês (1911 - 2009), considerado o pai dos órgãos artificiais, e por isso, um dos mais reconhecidos e renomados médicos do século XX. Em 1942 cria a primeira máquina de hemodiálise, o rim artificial, que em 1945 finalmente consegue recuperar uma paciente de 67 anos, a primeira paciente a permanecer viva após o uso da máquina. Em 1956, Kolff desenvolve também o primeiro Coração Artificial, uma máquina extra-corpórea capaz de bombear o sangue para o resto do corpo. O Hospital do Rim é um projeto complexo. Demanda diversos ambientes específicos, que seja capaz de receber atividades ambulatoriais, de apoio ao tratamento e internação, além daqueles de apoio e serviços. O principal esforço do projeto é de criar relações entre os espaços e gerar um fluxo racional de pessoas e materiais entre as múltiplas áreas. Além disso, criar ambientes agradáveis, acesso à luz natural e áreas verdes, trazendo um 113
pouco do espaço externo ao interno, desfazendo a imagem de um hospital como um espaço de total reclusão. Trata-se de uma instituição filantrópica, que receba apoios financeiros tanto governamentais, doações de terceiros e de planos de saúde. A escolha por este sistema é uma maneira de facilitar a viabilização financeira do projeto, e trazer o capital particular em benefício ao interesse público. Segundo o regimento das Redes Saúde Filantrópica, o hospital deve oferecer 60% de seus leitos para o atendimento do SUS. Assim, independente da origem do paciente, este poderá receber um atendimento de alta qualidade, e instalado numa infraestrutura adequada.
6.1. MÉTODO E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO O desenvolvimento do projeto se deu através de etapas claras, que demandaram diferentes esforços e estudos, até culminar na atividade mais criativa, o desenho.
6.1.1. DEFINIÇÃO DE UM PROGRAMA DE NECESSIDADES Iniciamos o projeto com um levantamento básico das atividades a serem exercidas no edifício. O ideal é a criação um centro especializado, capaz de atender às principais necessidades do paciente e seu prognóstico. Tendo como suporte o conhecimento adquirido após as visitas técnicas, podemos levantar as principais áreas e agrupamentos de setores fundamentais para a consolidação do hospital, são elas: Ambulatório, Atendimento Imediato, Atendimento em regime de internação, Apoio ao Diagnóstico e Terapia, Apoio Técnico, Apoio Administrativo e Apoio Logístico. É previsto, como atividade ambulatorial, quatro unidades especializadas em diferentes sistemas do corpo humano: a Nefrologia, responsável por cuidar do rins e tudo que envolve o tratamento paciente dialítico; Urologia, que atende aqueles que 114
sofrem e problemas no trato urinário e bexiga; a Cardiologia e Vascular, uma unidade mista para atender os pacientes que apresentam complicações no coração e na vascularidade do corpo (muito importante para garantir acesso à quem irá fazer hemodiálise); e por fim, a unidade de Transplante Renal, encarregada de oferecer o apoio ao enfermo e a família dos que irão realizar a cirurgia, além de acompanhar aqueles que já passaram por este processo. Esta última é uma unidade especial, com profissionais de diversas áreas, como os próprios cirurgiões (Urologistas) e clínicos (Nefrologistas), além de psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas. O atendimento imediato, caracterizado pelo a setor de urgência e emergência, é um serviço voltado a socorrer pessoas que apresentam distúrbios graves relacionados aos órgãos abordados no programa. Além disso, é um ponto de entrada para novos pacientes, que posteriormente darão seguimento no tratamento ambulatorial. O atendimento em regime de internação apresenta algumas segmentações importantes, que variam da gravidade do paciente, a idade e a enfermidade. Para casos mais graves, é oferecido a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que oferece o atendimento mais completo e restrito, onde não há possibilidade de visitas diretas de acompanhantes, apenas a partir de um espaço adjacente, para garantir a maior assepsia do espaço. As enfermarias são segmentadas em: Enfermaria do Transplante Renal, especial para receber receptores e doadores do rim (em casos de doadores vivos); Enfermaria Infantil; Enfermaria da Nefrologia e Enfermaria Urologia. As áreas que consistem no Apoio ao Diagnóstico e Terapia são aquelas que facilitam o tratamento, são eles o Laboratório de Análises Clínicas; o setor de Imagenologia, onde são executados exames como Ultrassonografia Doppler e Raio X, e a Clínica de Hemodiálise. A terapia substitutiva do rim, a Área de Hemodiálise atende aos pacientes com falência renal crônica, isto é, que precisam passar por sessões semanais para suprir a falta do 115
órgão. Em média, são sessões de 4 horas, 3 vezes por semana. As salas são divididas entre Hemodiálise Infantil (0-16 anos), Adultos (a partir de 16 anos) e Infectados, para pacientes portadores de doenças infecciosas, como hepatite e HIV. O Apoio Técnico, Administrativo e Logístico é aquele que permite o funcionamento do hospital. São segmentos do edifício que não entram diretamente em contato com o tratamento ou o paciente, então sua localização varia conforme o projeto, porém, é necessário garantir um fluxo funcional entre as as áreas terapêuticas, garantindo a ergonomia do hospital.
6.1.2. RECONHECIMENTO DE FLUXOS O projeto de um hospital é extremamente complexo, não apenas pelo seu extenso programa de necessidades, mas também porque exige reflexões e planos para os fluxos em diferentes escalas. Por fluxos entende-se a movimentação de pessoas e materiais. O contingente humano pode ser dividido entre Funcionários, Pacientes e Acompanhantes. É interessante evitar o intenso cruzamento das rotas a serem seguidas num ambiente hospitalar, para evitar a infecção cruzada e outras ocasiões de desconforto. É preciso pensar os fluxos por meio de diferentes escalas. A pequena escala consiste na relação entre os ambientes inseridos numa ala distinta no hospital, como é o caso da Clínica de Hemodiálise (Fig. 73). Numa média escala, planeja-se a circulação e afinidades entre diferentes alas, como por exemplo, colocar o Ambulatório de Nefrologia próximo à Clínica de Hemodiálise (Fig. 74). A grande escala é aquela que apresenta a relação do hospital na área onde está inserido, onde serão os seus distintos acessos, o trânsito e possibilidades de transporte coletivo (Fig. 75).
116
Figura 73 – Estudo de fluxos da Clínica de Hemodiálise.
117
Figura 74 – Relação entre Ambulatório de Nefrologia e Clínica de Hemodiálise.
118
Figura 75 – Fluxos externos.
Como metodologia de projeto, o estudo volumétrico, isto é, a forma do edifício foi concebido antes de realizar a segmentação interna dos espaços. Isto culminou em um estudo aprofundado do projeto em diversas fases, procurando adequar da melhor maneira possível, sem alterar drasticamente, o volume e a estética criada para o edifício. 119
6.1.3. Forma e volume Os traços principais do projeto surgem da configuração do terreno (Fig. 76, 77 e 78), procurando volumes paralelos e formas dinâmicas, a fim de criar um edifício com planos horizontais e verticais que se cruzam e se conectam, porém, sem se destoar de maneira negativa na área que está inserida.
120
Figura 76 – Croqui do projeto.
Figura 77 – Estudo de linhas principais do projeto.
Figura 78 – Desenvolvimento do desenho.
121
Diante de um terreno extenso, foi criada uma volumetria em planos horizontais e certicais – representados em andares que cumprem as funções principais do projeto em dois volumes distinto (Fig. 79): o horizontal, que recebe as atividades de apoio ao diagnóstico (laboratorial e clínica de hemodiálise) e ambulatoriais; enquanto o vertical conta com as alas mais hospitalares, como Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva e Enfermarias no geral.
Figura 79 – Estudo Volumétrico Inicial.
Após a definição do partido arquitetônico e a separação das atividades do hospital entre os dois volumes principais (Fig. 80), iniciou-se a distribuição, a espacialização e a segmentação dos espaços internos, buscando as melhores áreas para a as atividades propostas e a relação destas com as adjacentes. 122
Figura 80 – Estudo de segmentação dos ambientes internos.
6.1.4. MODULAÇÃO E SEGMENTAÇÃO DOS ESPAÇOS INTERNOS
Tabela 5 – Tabela com critérios para o projeto de um Necrotério.
Na literatura existente da arquitetura voltada à ambientes de saúde, é apresentado medidas mínimas para cada ambiente. Um dos Manuais seguidos neste projeto, o “Manual da Arquitetura Hospitalar”, de Ronald de Goés (2011), estipula as dimensões a partir de uma tabela (Tabela 5).
123
Analisando a tabela, percebe-se que existe uma modulação das medidas, sendo elas sempre múltiplas de 1,2m. Isto permitiu a elaboração de esquemas, de fluxogramas, com as áreas necessárias para cada ala, além de suas dimensões mínimas e fluxos principais Então nos deparamos com o maior desafio até então: adequar estes esquemas, de maneira modular, na forma criada a partir do estudo volumétrico. Para isso, criamos duas etapas. A primeira etapa se deu a partir de um processo manual e computadorizado. A partir do volume original, criamos planos principais e então, ao passar o desenho destas plantas básicas para softwrares (praticamente apenas o perímetro do que se tornaria um pavimento), fizemos um grid de eixos (Fig. 81).
124
Figura 81 – Planta com grid de eixos.
Figura 82 – Segmentação dos ambientes do Pronto Atendimento.
Tal qual um caderno quadriculado, esta malha, onde cada quadrado corresponde à um módulo de 1,2 x 1,2, serviu como base para a formulação das alas. Assim se deu a segunda etapa, a criação de subdivisões do espaço, e principalmente, a garantia de corredores dimensões suficientes e agradáveis para o edifício (cerca de 2,25m). Com o auxílio de papéis milimetrados (Fig. 82 e 83), adotamos a equivalência do quadriculado com a malha, e então é feito o desenho, de maneira manual, buscando a harmonia de formas e funções.
125
Figura 83 – Segmentação dos ambientes da Enfermaria.
126
h rim
6.2. O PROJETO ARQUITETÔNICO O projeto apresentado a seguir é um projeto arquitetônico, isto é, ainda necessitaria de diversos incrementos de outros profissionais para uma possível execução, como engenheiros de estruturas, ar condicionado e outras áreas específicas para um edifício voltado para saúde. Procuramos apresentar ideias, soluções e propostas a partir do desenho. Trata-se de um estudo elaborado a partir das demandas percebidas, além de tentativas de criar novas concepções do que é e o que pode vir a ser um hospital humanizado. 127
6.2.1. APRESENTAÇÃO GERAL
rua alm
eida b
ra n d ã
o
9 rua 2
IMPLANTAÇÃO
6
128
0
6
12
de o
utub
ro
O edifício tem cerca de 11,985 m² de área construída, distribuídos em 8 pavimentos distintos, entre eles o subsolo e o pavimento técnico. Como partido paisagísitco, opta-se pelo o plantio de espécies arbóreas nativas da região, que além de garantir sombra e dar a sensação de conforto térmico, fornece um visual agradável aos usuários e aqueles que visitarem a área.
SUBSOLO
FUNÇÕES POR ANDARES
SUBSOLO No subsolo se encontram as áreas de apoio , como lavanderia e centro de material esterelizado. Se comprovado a necessidade, durante o projeto executivo, este andar pode ser replicado, criando novos subsolos para atender a nova demanda.
LEGENDA Área de apoio Desembarque de ambulâncias Estacionamento 129
TÉRREO No pavimento térreo se localizam as atividades que demandam urgência (Pronto Atendimento), Apoio ao Diagnóstico (Laboratórios) e Serviços (Farmácia). São áreas que geram um grande fluxo de pequena permanência, como a realização de exames e retirada de remédios, desta forma, a localização facilita e diminui os riscos de contaminação nos andares de acesso restrito.
LEGENDA Pronto Atendimento Imagenologia Laboratório Análises Clínicas Farmácia 130
12
19
9
9
22
1 1
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4
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5 13 1 1
4 3
2 8
11 1
1
LEGENDA 1. Sanitários 2. Recepção 3. Administração 4. Consultório 5. Espera 6. Hall 7. DML 8. Depósito 9. Vestiários 10. Comando 11. Estar/copa
12. Observação 13. Entrega Remédios 14. Densiometria 15. Doppler 16. Ultrassonografia 17. Raio-X 18. Coleta 19. Esterlização 20. Preparo Reagentes 21. Laboratório Geral 22. Patologia
23. Informática 24. Procedimentos 25. Inalação/Rehidrat. 26. Triagem 27. Enfermagem 28. Utilidades 29. Assist. Social 30. Farmácia Satélite 31. Expurgo 6
0
6
12m
131
PRIMEIRO ANDAR O Primeiro Andar é onde se encontra as funções primordiais do Hospital do Rim, são elas os Ambulatórios, a Clínica de Hemodiálise e o Hospital-Dia.
LEGENDA Ambulatório de Urologia Hospital-Dia Clínica de Hemodiálise Ambulatório de Nefrologia Ambulatório de Transplante Renal Ambulatório de Cardiologia 132
1 1
1
1 1
5
9 13
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4
4
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2
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7
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15 4
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6 15
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3 14
2
13
17
12 10 9
12 18
LEGENDA 1. Sanitário 2. Administração 3. Recepção 4. Consultório 5. Observação 6. Procedimentos 7. Triagem 8. Enfermagem 9. DML 10. Depósito
11. Macas e Cadeiras 12. Reprocessamento de Dialisadores 13. Copa/Estar 14. Espera 15. Expurgo 16. Hemodiálise Infectados 17. Hemodiálise Adultos 18. Hemodiálise Infantil 19. Circulação
6
0
6
12m
133
SEGUNDO ANDAR Sem funções estritamente terapêuticas, o segundo andar se caracteriza por abrigar as áreas administrativas do hospital, além de uma lanchonete/cafeteria. O grande terraço é uma ótima opção para a espera e contemplação da vista de Bauru. Os pacientes internados, com o aval do médico e acompanhados, podem tomar banhos de sol, receber visitas e acompanhantes, etc.
LEGENDA Administração Lanchonete 134
17 18
5 1
1
6
19
1
7 8
15 9 16 2
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3
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4 20
10
14
13
LEGENDA 1. Sanitário 2. Recepção 3. DML/Utilidades 4. Espera 5. Depósito 6. Copa/Estar 7. Controle Infecções 8. Diretoria Clínica 9. Diretoria Cirúrgica 10. Diretoria de Enfermagem
11. Arquitetura Hospitalar 12. Diretor Geral 13. Sala de Reuniões 14. Recursos Humanos 15. Segurança do Trabalho 16. Contabilidade 17. Cozinha 18. Lanchonete 19. Circulação 20. Terraço
6
0
6
12m
135
TERCEIRO ANDAR De acesso restrito, o Terceiro Andar comporta as alas de Centro Cirúrgico e Unidade de Terapia Intensiva. Visando a assepia e a diminuição de infecções hospitalares de pacientes já debilitados, a UTI não permite acesso de visitas e acompanhantes. Estas são realizadas através do corredor rente aos letiso, com painéis de vidro e sistema de comunicação que garante o contato entre o paciente e seus familiares.
LEGENDA Unidade de Terapia Intensiva Corredor para Visita Acesso à UTI e Centro Cirúrgico Centro Cirúrgico 136
17
16
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2 13 12
10 11
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4 3
6 6
3 4
7
6
3 4
LEGENDA 1. Sanitário 2. Vestiário 3. Expurgo 4. Higienização 5. Utilidades 6. Salas Cirúrgicas 7. Sala de Apoio 8. DML 9. Estar/Copa 10. Materiais Esterilizados
11. Biópsia 12. Anestesia 13. Poso de Enfermagem 14. UTI 15. Recepção 16. Corredor Visita 17. Isolamento 18. Sala de Preparo de Equipamentos 19. Depósito de Equip.
20. Rouparia 21. Administração 22. Suíte Plantão 23. Estar/Circulação 24. Pós-Operatório 25. Cobertura Verde
6
0
6
12m
137
QUARTO ANDAR A configuração do quarto andar se repete para o quinto e sexto. São pavimentos destinados à internação, com dormitórios duplos e simples (especiais para casos de isolamento). No próprio andar temos áreas para que o paciente possa caminhar, receber acompanhantes e se distrair da rotina hospitalar.
LEGENDA Enfermaria 138
3
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3 2 3
13
2
5 5
7
3 2
5
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8
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2 3 3
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10 2
3
11
12
2 3
2 3
LEGENDA 1. Sanitário 2. Banho 3. Quarto 4. Quarto Isolamento 5. Antecâmera 6. Plantão Médico 7. Posto de Enfermagem 8. Copa Estar 9. Farmácia Satélite 10. DML
11. Rouparia 12. Utilidades 13. Depósito 14. Circulação/Estar 15. Jardim Interno
6
0
6
12m
139
CORTES
CORTE A
CORTE B
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CORTE C
CORTE D
6
0
6
12m
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ELEVAÇÕES
ELEVAÇÃO 1
ELEVAÇÃO 2
142
ELEVAÇÃO 3
ELEVAÇÃO 4
6
0
6
12m
143
ISOMÉTRICAS
144
145
6.3. HRIM - UM HOSPITAL HUMANIZADO
6.3.1. FLUXOS Projetar um espaço humanizado compreende desvencilhar alguns estereótipos atribuídos ao espaço. Hospitais são conhecidos por seu caráter labiríntico, com diversas passagens e caminhos confusos. O Hospital do Rim foi concebido a partir da ideia de um fluxo fechado e diferenciado para pacientes e funcionários (e consequentimente materiais e resíduos). A seguir apresentamentos algumas figuras que exemplificam estes fluxos.
146
Tร RREO
LEGENDA Fluxo misto Fluxo pacientes e acompanhantes Fluxo funcionรกrios e materiais Automรณveis
6
0
6
12m
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PRIMEIRO ANDAR
LEGENDA Fluxo misto Fluxo pacientes e acompanhantes Acesso à UTI e Centro Cirúrgico 148
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0
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12m
SEGUNDO ANDAR
LEGENDA Fluxo misto Acesso à UTI e Centro Cirúrgico
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12m
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TERCEIRO ANDAR
LEGENDA Fluxo misto Fluxo pacientes e acompanhantes Acesso à UTI e Centro Cirúrgico 150
6
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6
QUARTO ANDAR
LEGENDA Fluxo misto
6
0
6
12m
151
6.3.2. CONFORTO TÉRMICO
A implantação do hospital foi escolhida estrategicamente para permitir a melhor insolação em áreas de permanência e terapia. Em situações onde não foi possível locar ambientes voltadas ao norte é proposto beirais e brises verticais com algumas variações de ângulo, para diminuir a incidência direta do sol no ambiente (como é o caso da Clínica de Hemodiálise, que está sujeita ao forte sol da tarde), sem interromper a vista privilegiada ao Parque do Vitória Régia. O Hospital, por causa da demanda por uso de maquinários e ambientes fechados, exige assim uma refrigeração mecânica, feita por meio de arcondicionado. Entretanto, em dias oportunos, as aberturas dispostas ao sudeste, direção dos ventos predominantes de Bauru, garante ventilação cruzada e renovação do ar. 152
BRISES EM MADEIRA LAJE EM BALANÇO (BEIRAL)
153
6.3.3. O DORMITÓRIO As suítes de internação são espaçosas e comportam dois leitos com facilidade. Os revestimentos utilizados, em sua maioria, o piso vinílico que suporta abrasão, oferece um aspecto aconchegante ao espaço. Toques suaves de cor se alteranam conforme a unidade, e mobiliários confortáveis oferecem novas oportunidades para o paciente.
Vista externa do quarto. 154
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Vista interna do quarto. 157
Mobiliรกrio personalizado.
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Banheiro.
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O quarto sob o sol da manhĂŁ. 160
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6.3.4. PERSPECTIVAS
Vista lateral com espelho d’água. 162
163
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Vista frontal do edifĂcio. 165
Desembarque de pacientes. 166
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Espaço entre os dois volumes no tÊrreo.
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Espaço entre os dois volumes no tÊrreo. 171
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Rampa acesso secundรกrio. 173
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Vistas do terraรงo.
176
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Vista acesso secundรกrio 178
179
7.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
projeto de um hospital vai além de obedecer a regras e normas. É uma longa jornada, que adentra muitos conhecimentos que extrapolam o campo da arquitetura, do projeto. Para se desenhar um Hospital Humanizado, é preciso antes conhecer as necessidades e desejos, as percepções dos seres humanos e reconhecer seus interesses, aflições e medos. Percorremos a história, e nos deparamos com outras realidades e concepções do que é humano e como este deveria ser tratado quando enfermo. A psicologia, e suas várias ramificações, nos ajudaram a entender um pouco sobre as pessoas, o que influencia seu comportamento e suas respostas diante estímulos do ambiente. Então nos deparamos com os conhecimentos de conforto térmico e tantos outros saberes técnicos que auxiliam na concepção de um espaço humano. Somos impactados pelos grandes exemplares da arquitetura modernista brasileira, as obras de Lelé e tudo o que seus traços e ideiais podem nos transmitir. O desenho que nasce de toda esta caminhada é um conceito, não um projeto final a ser executado, é apenas o começo de todo um longo processo, que demanda tempo e uma extensa equipe de profissionais de múltiplas áreas. A adoção de uma planta livre, a partir de pilares e vigas, garante maior liberdade ao projetista, permite que este personalize os espaços conforme o uso, e não o contrário. O verbo “personalizar” indica tornar pessoal, condecer qualidade de pessoa. É a partir desta atitude que surge o Hospital do Rim de Bauru, com suas amplas áreas verdes e de contemplação, espaços adequados e confortáveis aos seus usuários. São ambientes para passar o tempo, para esperar por uma consulta, tratamento ou a cura. Acreditamos que esta é a maior contribuição que o arquiteto, munido de todo o conhecimento que adiquiriu nesta caminhada, pode aplicar num projeto voltado a saúde e influenciar diretamente na vida de pacientes, funcionários e acompanhantes.
181
8. REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS 8.1. TABELAS [1] FONTE: Adaptado de GÓES (2005) e VASCONCELOS (2004). [2] FONTE: http://www.bauru.sp.gov.br/seplan/legislacoes.aspx. Acesso em 04/06/2018. [3] FONTE: http://www.bauru.sp.gov.br/seplan/legislacoes.aspx. Acesso em 04/06/2018. [4] FONTE: NBR 9050 da ABNT de 2015. [5] FONTE: GÓES (2011).
8.2. IMAGENS [1] FONTE: MIQUELIN, 1992. [2] FONTE: MIQUELIN, 1992. [3] FONTE: MIQUELIN, 1992. [4]FONTE:https://www.agefotostock.com/age/en/Stock-Images/ Rights-Managed/B33-882127, gravura de Paul Lacroix. Acesso em 27/02/2018. [5] FONTE: MIQUELIN, 1992. [6] FONTE: MIQUELIN, 1992 [8]FONTE:https://www.archdaily.com/876184/fundacion-santafe-de-bogota-el-equipo- de-mazzanti. Acesso em 01/05/2018. [9]FONTE:https://www.archdaily.com/558365/chris-o-brienlifehouse-hdr-rice-daubney. Acesso em 01/05/2018. [10] FONTE:https://www.archdaily.com/795981/pars-hospitalnew-wave-architecture [11] FONTE: https://www.archdaily.com/795981/pars-hospitalnew-wave-architecture [12] FONTE: https://www.archdaily.com/506479/meandermedical-center-atelierpro. Acesso em 10/04/2018. [13] FONTE: https://www.archdaily.com/506479/meandermedical-center-atelierpro. Acesso em 10/04/2018 182
[14] FONTE: https://www.archdaily.com/506479/meandermedical-center-atelierpro. Acesso em 10/04/2018. [15] FONTE: https://www.archdaily.com/439396/nemourschildren-s-hospital-stanley-beaman-and- sears. Acesso em 10/04/2018. [16] FONTE: http://www.greece-is.com/old-town-rhodes/. Acesso em 29/04/2018 [17] FONTE: MIQUELIN, 1992. [18] FONTE: MIQUELIN, 1992. [19]FONTE:http://agencia.fapesp.br/posdoutorado_em_ oncologia_em_centro_do_icesp/20879/. Acesso em 29/04/2018. [20]FONTE:https://www.archdaily.com.br/br/888425/centromaggie-de-oldham-drmm. Acesso em 30/04/2018. [21] FONTE:https://www.archdaily.com.br/br/888425/centromaggie-de-oldham-drmm. Acesso em 30/04/2018. [22] FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/888425/centromaggie-de-oldham-drmm. Acesso em 30/04/2018. [23] FONTE: https://www.archdaily.com/877090/teleton-infantoncology-clinic-sordo-madaleno- arquitectos. Acesso em 30/04/2018. [24] FONTE: https://www.archdaily.com/877090/teleton-infantoncology-clinic-sordo-madaleno- arquitectos. Acesso em 30/04/2018. [25] FONTE:https://www.archdaily.com/874330/zaans-medicalcentre-mecanoo. Acesso em 30/04/2018. [26] FONTE:https://www.archdaily.com/874330/zaans-medicalcentre-mecanoo. Acesso em 30/04/2018. [27] FONTE:https://www.archdaily.com/874330/zaans-medicalcentre-mecanoo. Acesso em 30/04/2018. [28] FONTE: https://www.archdaily.com/783542/the-christhospital-joint-and-spine-center- som?ad_medium=gallery. Acesso em 30/04/2018. [29] FONTE: https://www.archdaily.com/783542/the-christhospital-joint-and-spine-center- som?ad_medium=gallery. Acesso em 30/04/2018. 183
[30] FONTE: https://www.archdaily.com/783542/the-christhospital-joint-and-spine-center- som?ad_medium=gallery. Acesso em 30/04/2018. [31] FONTE: https://www.archdaily.com/487944/national-heartcentre-broadway-malyan. Acesso em 30/04/2018. [32] FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/760028/classicosda-arquitetura-hospital-regional-de-taguatinga-joao-filgueiraslima-lele?ad_medium=gallery. Acesso em 07/06/2018 [33] FONTE: FILGUEIRAS LIMA, 2012. [34] FONTE: FILGUEIRAS LIMA, 2012. [35] FONTE: FILGUEIRAS LIMA, 2012. [36] FONTE: http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/175/ artigo104898-2.aspx. Acesso em 07/06/2008. [37] FONTE: http://www.caurj.gov.br/retratos-da-arquitetura-3/ attachment/4/. Acesso em 07/06/2018. [38] FONTE: http://www.pandita.net/arquitetos-de-brasilia.html. Acesso em 07/06/2018 [39] FONTE: http://www.fundathos.org.br/abreGaleria. php?idgal=76. Acesso em 07/06/2018 [40] FONTE: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/16.181/5592/en. Acesso em 07/06/2018. [44] FONTE: http://www.cirurgicaneves.com.br/produtos. php?id=99 Acesso 02/06/2018. [67] FONTE: Adaptado pela autora a partir do Google Earth. [69] FONTE: Adaptado pela autora a partir do Google Earth. [71] FONTE: http://www.bauru.sp.gov.br/seplan/mapas_digitais. aspx. Adaptado pela autora [72] FONTE: NBR 9050 da ABNT de 2015.
*Imagens não referidas acima são do acervo da autora 184
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, W. S. CARDOSO, V. M. B. SANTOS, K. F. Intervenção ergonomizadora: contribuições para o serviço de atendimento e postos de trabalho no ambulatório. Abergo, Brasil. 2004. AMANTE, LR. COSTA, E. COSTA, R. BOCK, LF. PADILHA, Ml. O legado de Florence Nightingale: uma viagem no tempo. Florianópolis: Texto & Contexto Enfermagem, 2009. ANVISA, Resolução- RDC n° 50, de 21 de fevereiro de 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessobilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. 2015. BALDAUF, A. S. F. GREVEN, H. A. Introdução à coordenação modular da construção no Brasil: Uma abordagem atualizada. Porto Alegre: Coleção Habitare/FINEP, 2007. 72 p. BOUBEKRI, Mohamed. Daylighting, Architecture and Health: Building Design Strategies. Burlington: Elsevier, 2008. 155 p. CARDOSO, V. M. B. MORAES, A. Fatores Ergonômicos que influenciam na recuperação de pacientes internos em hospitais e opiniões dos pacientes sobre as dificuldades vivenciadas. Abergo, Brasil, 1999. COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. 6 Edição. São Paulo: Perspectiva, 2014. 178 p. DIAS, P. M. SILVA, R. W. C. Estudo de impacto de vizinhança: Unidade de atendimento hospitalar. Niterói: Sóten, 2016. 87 p. GRUFFYDD, B. Landscape architecture for new hospitals. Londres: King Edward’s Hospital Fund for London, 1967. HEALTH Spaces of the world: A pictorical review. Victoria, Australia: Images Publishing, 2001.
185
GOÉS, R. Manual Prático de arquitetura hospitalar. 2 Edição. São Paulo: Blucher, 2011. 285 p. GOÉS, R. Manual Prático de arquitetura para clínicas e laboratórios. 2 Edição. São Paulo: Blucher, 2010. 266 p. LIMA, J. Filgueiras. Arquitetura: uma experiência na área da saúde. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2012. 336p. MINISTÉRIO DA SAÚDE. História e Evolução dos Hospitais. Rio de Janeiro, 1944. 588 p. MIQUELIN, Lauro C. Anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo: CEDAS, 1992. OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e comportamento. São Paulo; Plêiade, 1996. 200 p. RAMUSSEN, S. Eiler. Arquitetura Vivenciada. 3 Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2015. 246 p. SERRANHEIRA, F. SOUZA, A. SOUSA, P. Ergonomia hospitalar e segurança do doente: mais convergências que divergências. Portugal: Elsevier, 2010. SOMMER, R. Espaço Pessoal: As bases comportamentais de projetos e planejamentos. 1 Edição. São Paulo: EPU, 1973. 220 p. ULRICH, Roger S. Human responses to vegetation and landscapes. Journal of Environmental Psychology, n. 13, p. 29-44, 1986. ULRICH, Roger S. View through a window may influence recovery from surgery. Science, 1983, v. 224, p. 420-421. VASCONCELOS, R. T. Bomm. Humanização de ambientes hospitalares: características arquitetônicas responsáveis pela integração interna/externa. Florianópolis: Dissertação de mestrado pela UFSC, 2004. 177 p.
186
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188