"A Reinvenção do Livro"

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A reinvenção do livro



Antônio Campos

A reinvenção do livro 3ª edição Revista e Ampliada

Recife, 2012


Copyright© 2012 Antônio Campos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização do Autor. Foto da capa (Biblioteca Nacional, Brasil) Mônica Imbuzeiro (Ag. O Globo) Editor Antônio Campos Assessora técnico-administrativa (Carpe Diem) Veronika Zydowicz Assessoras de pesquisa Tainah Castelo Branco e Ariane Cruz Designer gráfica Patrícia Lima Revisora Norma Baracho Araújo

C198r

Campos, Antônio A Reinvenção do livro/ Antônio Campos. - Recife: Carpe Diem - Edições e Produções, 2012. 80p. :il ISBN 978-85-62648-28-1 1.Livros – história e contexto atual 2. Futuro dos livros 3. Livros na era digital I. Título.

Impresso no Brasil Printed in Brazil

Carpe Diem | Edições e Produções

Rua do Chacon, 335, Casa Forte, Recife, PE 55 81 32696134 | www.editoracarpediem.com.br

CDU 002


SUMÁRIO DIA INTERNACIONAL DO LIVRO, 9 O FUTURO DO LIVRO, 9 O LIVRO NO FUTURO BREVE, 11 O QUE É O LIVRO?, 12 O LIVRO E AS SUAS DIVERSAS PLATAFORMAS, 13 UMBERTO ECO E O LIVRO, 15 PAULO COELHO, A INTERNET E O LIVRO DIGITAL, 18 O GOOGLE E OS LIVROS PARA ROBERT DARNTON, 18 PARADOXO MODERNO, 21 TERAPIA PELOS LIVROS, 24 A OLIMPÍADA DO LIVRO EM 2013 PARA O BRASIL, 24 CRIADORES SÃO SERES COLETIVOS, 26 QUAL SERÁ O DESTINO DO PROJETO DE LEI DE ALTERAÇÃO DA LEI DO DIREITO AUTORAL?, 35 O LIVRO DIGITAL E OS DIREITOS AUTORAIS, 37 A ERA DIGITAL E A REINVENÇÃO DO LIVRO – O IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS , 37 A REVOLUÇÃO DOS E-READERS, 39 O LIVRO VIRA REDE E AS BIBLIOTECAS ESTÃO NAS NUVENS, 43 A APRENDIZAGEM VIRA JOGO, 45 NA ERA DIGITAL, O AUTOR PODE SER O SEU EDITOR, 45 NOVO FORMATO DE LANÇAMENTO, 46 TENDÊNCIAS DO LIVRO – NOVOS PARADIGMAS, 46 O MUNDO DIGITAL X MATERIAL, 53 INTERNET: O QUE NÃO ESTÁ NA WEB NÃO EXISTE, 55 INTERNET E REDES SOCIAIS – O MUNDO EM REDE, 56 O GOOGLE BOOKS E A ERA DA DIGITALIZAÇÃO, 58 A ANTIGA E A NOVA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA, 60 CONSTRUIR UM PAÍS LEITOR: CONECTAR A POLÍTICA DO LIVRO, 64 O LIVRO COMO RESISTÊNCIA E REEXISTÊNCIA, 70 LISTA DE IMAGENS, 73 DADOS BIOBIBLIOGRÁFICOS, 75


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DIA INTERNACIONAL DO LIVRO No mês de abril, é comemorado o Dia Internacional do Livro e do Direito Autoral, data oficializada pela Unesco e que é festejada em mais de cem países. Na Espanha, por exemplo, a data é celebrada desde o ano de 1926, em homenagem ao aniversário de morte de Miguel de Cervantes. Na região da Catalunha, comemora-se ainda o Dia de São Jorge, da Rosa e do Livro. Na festa para o padroeiro do amor e da cultura, segundo a tradição, os homens devem dar uma rosa às mulheres, uma forma de simbolizar o sangue derramado pelo dragão ao ser vencido por São Jorge e transformado em rosas ao tocar o chão; enquanto as mulheres devem presentear os homens com um livro. O livro representa para a raça humana uma possibilidade de registrar o que acontece na vida das pessoas. É uma maneira de passar adiante todas as experiências vivenciadas por nós ao longo dos anos.

O FUTURO DO LIVRO Há mais de 3 mil anos, na China, os livros eram feitos com chapas de madeira e bambu ligadas por barbantes de seda ou couro, com letras pintadas à mão. Depois, no Ocidente, vieram os tipos móveis e as bíblias de Gutenberg. Certamente, uma realidade completamente diferente da que temos hoje com os audiobooks e os e-books. Esses formatos de livros, já 9


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indispensáveis para alguns, ganham cada vez mais espaço de exposição e discussão. Diante dessas novas plataformas de leitura, escritores e editoras estão preocupados com o futuro do livro impresso, ao qual estamos atualmente acostumados. Após o surgimento dessas novas tecnologias, o processo de produção, edição e impressão de livros na forma convencional se tornou motivo de debate.

O livro no futuro BREVE Vejamos a sala de aula do futuro na visão de Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo: Estamos no ano de 2050, na metade do século 21. Com surpresa, um grupo de crianças numa escola escuta o seguinte relato: “No passado”, descreve o professor, “os homens usavam extensas porções de terra para plantar florestas. Após sete anos — mas esse prazo poderia ser três ou quatro vezes maior —, a mata nesses locais era derrubada, e suas toras, transportadas por centenas de caminhões até grandes usinas. Ali, produzia-se um artigo chamado papel. Disposto em bobinas, esse produto atravessava o mundo em porões de navios. A viagem só terminava em amplos parques gráficos, onde, embebido em toneladas de tinta, era usado para a produção de jornais, revistas e livros. Essas publicações também passeavam bastante. Impressas, embarcavam em aviões, caminhões, peruas, bicicletas ou mesmo em

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sacolas até a porta da casa dos consumidores. E um detalhe: no caso dos jornais, toda essa imensa engrenagem era movida para a divulgação de notícias do dia anterior. Era como continuar a erguer um palácio mesmo enquanto o rei era deposto. No dia seguinte, tudo recomeçava”. (Revista Época Negócios, nº 37, mar. 2010)

Essa sala acontecerá antes de 2050. Recentemente, foi noticiado que a tradicional enciclopédia Britannica não será mais oferecida na versão física, apenas virtual. É um marco na nova era dos livros.

O que é o livro? O livro é o maior amigo do homem. O maior inimigo do livro é a falta de leitor. O livro é um elemento civilizador. Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. (Mário Quintana)

O documentalista Edson Nery da Fonseca nos afirma parafraseando Mallarmé, para quem tudo existe para acabar em livro, que tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro. Vejamos: Se tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro — ou em documento, ou em informação, ou em

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dado —, é evidente que tudo acaba em arquivo, biblioteca, serviço de documentação e/ou banco de dados. Culto é quem tem sempre um bom livro ao alcance das mãos. (Edson Nery da Fonseca)

Jorge Luis Borges disse: Dos instrumentos do homem, o livro é, sem dúvida, o mais assombroso. Os demais são extensões do corpo. O microscópio, o telescópio são extensões da sua vista; o telefone é a extensão da sua voz; depois temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é extensão da memória e da imaginação.

O LIVRO E AS SUAS DIVERSAS PLATAFORMAS Não podemos confundir o futuro do livro com o futuro do papel. Nunca tantas ideias foram escritas como na era digital. As plataformas impressas e digitais não são excludentes, mas complementares. O rádio não matou o teatro, o cinema não acabou com o rádio, a televisão não extinguiu o cinema, e a internet não prejudicou a televisão. As web rádios e as web tvs já são uma realidade. Cada meio de comunicação encontrou seu lugar na sociedade, e como resultado, temos uma indústria cultural cada vez maior e mais desenvolvida. Com os livros, será a mesma coisa. Ao lado do livro impresso, já temos o livro digital. Na internet, está a maior biblioteca do mundo. Vivemos então numa era de reinvenção do livro ante o mundo digital, com novos 13


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paradigmas no mercado editorial, novo modelos de negócios e da linguagem, pois tudo que é novo gera dúvidas, medo, questionamentos e curiosidade. Contudo, em qualquer uma de suas formas, o livro não foi só uma celebração do conhecimento e um registro da memória da espécie humana, mas uma celebração da vida. O livro já foi oral. A Ilíada, a Odisseia e As mil e uma noites foram obras contadas de gerações a gerações e que, pelo medo de perdê-las no esquecimento, foram registradas no papel. A memória da escrita mostra registros em obeliscos e tijolos de argila. Muito se questiona sobre os benefícios dos e-readers, que representam a possibilidade de reunir em um pequeno aparelho eletrônico milhares de livros. É uma espécie de biblioteca virtual, pois permite o acesso aos mais variados títulos a qualquer momento. Como outras vantagens dos e-readers, temos: • Possibilidade de adicionar mais livros à coleção já existente. • Retiradas, devoluções e recolocações automáticas nas prateleiras digitais. • Proteção contra roubos e danificação de documentos. • Mecanismo de busca através de apenas uma palavra em um livro ou na coleção inteira. • Suporte por meio das ferramentas de anotações, registros e pesquisa.

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Umberto Eco e o livro Não contem com o fim dos livros, obra de Umberto Eco, em coautoria com o francês Jean-Claude Carrière, traz uma extensa abordagem sobre o tema. O livro, que está nas livrarias de todo o País desde maio de 2010, é uma espécie de esclarecimento sobre as possíveis diretrizes que a literatura pode tomar com os novos formatos de livro. Em magistral palestra na Biblioteca de Alexandria — reconstruída no Egito —, Eco já defendia a ideia de que a expansão da internet não ameaça existência dos livros, porque que nós temos três tipos de memória: O primeiro é orgânico, que é a memória feita de carne e de sangue e administrada pelo nosso cérebro. O segundo é mineral, e, nesse sentido, a humanidade conheceu dois tipos de memória mineral: milênios atrás foi essa a memória representada por tijolos de argila e por obeliscos, muito conhecidos neste país, nos quais as pessoas entalhavam seus textos. Porém, esse segundo tipo é também a memória eletrônica dos computadores de hoje, que têm por base o silício. Conhecemos também outro tipo de memória, a memória vegetal, representada pelos primeiros papiros, de novo muito conhecidos neste país, e posteriormente pelos livros, feitos de papel. [...] Este local foi, no passado, e será, no futuro, dedicado à conservação de livros; portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber co-

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letivo. [...] Se me permitirem usar essa metáfora, uma biblioteca é a melhor imitação possível, por meios humanos, de uma mente divina, onde o universo inteiro é visto e compreendido ao mesmo tempo.

Segundo Eco, quando imaginávamos ter ingressado na civilização das imagens, eis que surge o computador, uma máquina capaz de nos reintroduzir na galáxia de Gutenberg, na era alfabética. Com o advento das novas tecnologias, estamos predestinados a ler de uma maneira nova. As variações em torno do livro como objeto não modificam sua função nem sua construção gramatical. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Não é possível que uma colher seja melhor que outra, no dizer de Eco. A biblioteca foi no passado — e será no futuro — dedicada à conservação de livros e, portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber coletivo, pois, como disse o próprio Umberto Eco, “uma biblioteca é a melhor imitação possível, por meios humanos, de uma mente divina, onde o universo inteiro é visto e compreendido ao mesmo tempo”.

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Paulo coelho, a internet e o livro DIGITAL Vejamos a opinião de Paulo Coelho, que conseguiu a façanha de ter mais de 140 milhões de títulos vendidos, sobre a internet e os livros: Em 1999, eu descobri que a edição de O alquimista publicada na Rússia estava disponível na internet. Então, decidi enfrentar a pirataria no campo dela e passei eu mesmo, em primeira mão, a colocar meus livros na web. Em vez de cair, a vendagem nas livrarias aumentou. Está comprovado que, se as pessoas lerem os primeiros capítulos na internet e gostarem, elas sairão e comprarão o livro.

O GOOGLE E OS LIVROS PARA ROBERT DARNTON Depois do Orkut e do e-mail (o Gmail), inusitado pelo fato de nunca ter sua capacidade de armazenamento esgotada, um dos projetos do Google é a ferramenta Google Books, inaugurada em novembro de 2005, com o propósito de vender livros eletrônicos (e-books) através do Google Editions. Assim, a empresa está construindo a maior biblioteca e o maior negócio livreiro do mundo. Os engenheiros do Google criaram um método específico de digitalização, em que mil páginas são escaneadas por hora. O Google Books investe em parcerias com bibliotecas no sentido de digitalizar seus acervos. 18


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O historiador e estudioso dos livros Robert Darnton, autor da obra A questão dos livros – passado, presente e futuro, fala do papel das bibliotecas e da iniciativa do Google de digitalizar os livros: O Google tem feito um trabalho maravilhoso de digitalização do acervo dessas bibliotecas. Mas, como toda empresa privada, tem por objetivo dar lucro a seus acionistas. Os objetivos das bibliotecas são distintos — entre eles, oferecer conhecimento público. Esse conhecimento não pode ser detido por uma empresa só. O acordo sobre direitos autorais do Google configura uma situação de monopólio.

Em seu livro, Darnton também comenta sobre a falta de critérios da digitalização realizada pelo Google, que não tem bibliógrafos no seu quadro funcional: O Google emprega milhares de engenheiros, mas, até onde sei, não tem nenhum bibliógrafo em sua equipe. Seu descaso com qualquer preocupação bibliográfica visível é particularmente lamentável, tendo em vista que a maioria dos textos, como acabo de argumentar, foram instáveis por boa parte da história da imprensa.

O Google está criando um comunicador universal com o seu tradutor de línguas. Atualmente, traduz 52 línguas. E mais: no Google, estão sendo armazenadas as biografias das pessoas no mundo contemporâneo. O livro Google: o fim do mundo como o conhecemos, de Ken Auletta, merece ser lido.

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É preocupante que um empreendimento comercial detenha o controle de tanta informação. O Google já está sabendo mais a nosso respeito que a Receita Federal, por exemplo. Precisamos que a sociedade da informação, esta na qual vivemos, seja a mais democrática possível e que não se submeta ao monopólio de ninguém. Vamos cobrar do Google o seguimento fiel de seu lema formal — “Organizar a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil” — e informal — “Não faça maldade”.

PARADOXO MODERNO Precisamos valorizar a literatura e os que a fazem, independentemente do formato que venha ter. Como disse o jornalista e escritor Ziraldo é a palavra que identifica o ser humano, é ela seu substrato, sua marca. Aquela que possibilitou a convivência humana e a comunicação total entre os seres dotados de inteligência. Ela é a menor partícula do entendimento das coisas. A palavra é o átomo da alma.

Robert Darnton, em sua obra A questão dos livros, defendeu a explosão dos modos eletrônicos de comunicação como sendo tão revolucionária quanto a invenção da impressão com tipos móveis. Estamos tendo tanta dificuldade de assimilá-la quanto os leitores do século XV tiveram ao se deparar com os textos impressos pela imprensa de Gutenberg.

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O filme O leitor é um bom exemplo disso, pois nos mostra que, se existe alguma redenção para o ser humano, ela passa obrigatoriamente pela linguagem. A falta de comunicação ou o erro nela podem ser determinantes na vida das pessoas. Os livros falam e dialogam com os homens. São eles os amigos mais valiosos que podemos ter. O mundo vive um paradoxo: na era da internet e do celular, ainda reina a incomunicabilidade, pois as questões essenciais não são ditas. A boa leitura é uma experiência mágica. Nos livros, conhecemos santos, reis, filósofos e homens comuns. Podemos saber o que disseram Jesus Cristo na Palestina e Gautama Buda no continente asiático. A leitura de um livro não pode parecer uma obrigação, mas deve ser um ato de prazer ou de paixão. Um livro tem que ser uma forma de felicidade, segundo Borges. “Todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra é um instrumento que lhe permite discernir o que, sem ele, não teria visto em si”, nas palavras do escritor Marcel Proust, filosofando sobre a leitura. De qualquer modo, precisamos deixar de lado essa ideia de que, com a chegada dos e-readers, os livros de papel vão se extinguir. Até o próprio Bill Gates, criador da Microsoft, afirmou que prefere ler textos impressos a ler na tela do computador. “Ler na tela é uma experiência vastamente inferior à leitura em papel. Prefiro imprimir qualquer coisa que ultrapasse quatro ou cinco páginas. Assim, posso carregar o texto comigo e fazer anotações.”

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