A ineficiencia energetica brasileira

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A ineficiência energética brasileira ostaria de escrever sobre avanços tecnológicos, inves-

está em crise e não há outro lugar para investir com tamanha

timentos em novos projetos, programas de educação

rentabilidade já que nos países desenvolvidos as taxas de juros

das empresas, universidades e governos para melhorar

rondam o zero. A enxurrada de dinheiro fortalece o real e força

o desempenho energético do país e a relação entre consumo e

o Banco Central a ‘enxugar’ este capital comprando direta-

produção de energia, qualidade de vida e meio ambiente.

mente os dólares no mercado e vendendo títulos, tirando da

G

No entanto, o que relatamos nas matérias desta edição – fora

economia dinheiro essencial para investir. Aumentamos nossas

algumas iniciativas pontuais – é uma série de entraves legais,

reservas cambiais – hoje acima de US$ 340 bilhões –, mas im-

gerenciais e macroeconômicos que conjuram contra botar o

possibilitamos o aumento da taxa bruta de investimento – hoje

Brasil no pódio da corrida pelas novas energias renováveis e efi-

abaixo de 20% do PIB.

ciência energética.

Juros altos também retiram a capacidade do governo de in-

O ambiente macroeconômico desencoraja qualquer investi-

vestir e planejar. Nos primeiros sete meses de 2011, o governo

mento nestas áreas. De um lado temos taxas de juros escor-

federal criou um superávit primário de R$ 91 bilhões, enquanto

chantes de, no mínimo, 12% ao ano. Do outro, temos uma moeda

os investimentos ficaram em R$ 25 bilhões.

fortalecida artificialmente frente ao dólar e ao euro. Juntos, estes

Os reflexos para a eficiência energética são óbvios: por que in-

fatores impossibilitam ganhos de competitividade, investimen-

vestir em novos equipamentos e processos e obter ganhos

tos em inovação e ameaçam fortemente nosso parque industrial,

econômicos na conta de luz de um dígito se a aplicação na

pois, para as empresas, é mais barato importar equipamentos e

ciranda financeira rende no mínimo 12% anuais, sem risco? É uma

produtos do que investir.

lógica perversa, apesar do alto custo da eletricidade no Brasil.

Câmbio e juros estão intimamente ligados. Juros altos

Há quem diga que temos um potencial para economizar ime-

atraem capital especulativo, principalmente quando o mundo

diatamente 30% de todos os 420 terawatts-hora consumidos

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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anualmente no país. Mas, no Plano Decenal de Energia (PDE) e

biomassa e etanol celulósico, tecnologias que já vêm sendo

no Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) foram iden-

viabilizadas em outros países.

tificados potenciais de economia energética de 5% e 10% em 2020 e 2030, respectivamente.

Os entraves, contudo, persistem. A capacidade de geração de conhecimento de nossas universidades é imensa, mas não con-

É pouco. Afinal, parte do plano prevê investimentos e ino-

seguimos transformá-la em inovação efetiva. Falta criar meca-

vação, por parte das empresas, em melhorias do desempenho

nismos que aproximem centros de conhecimento e empresas,

energético de produtos e processos, que podem não vir à luz por

para que estas invistam em inovação.

conta do nefasto ambiente macroeconômico.

A criação deste ciclo de investimento é improvável num

Do lado das energias renováveis, podemos até comemorar o

cenário de escassez de dinheiro. O mundo está numa corrida

sucesso da eólica que, com preço baixo, acabou se instalando de

pelo controle das novas tecnologias energéticas limpas. O

fato no Brasil com mais de meia dúzia de fabricantes de equipa-

Brasil, apesar de seus abundantes recursos naturais – sol, vento,

mentos investindo no país após uma década de tentativas. O

biomassa, água – custa a entrar nesta corrida. Falta foco em

sucesso vem da política de obrigar um índice mínimo de 60% de

políticas públicas e pragmatismo contra os entraves micro e

nacionalização da tecnologia como contrapartida para o finan-

macroeconômicos.

ciamento barato do BNDES. Vem também, sobretudo, da necessidade das empresas eólicas estrangeiras buscarem mercados ativos após o colapso dos mercados na Europa e EUA. Deveríamos fazer dessa janela de oportunidade uma

Boa leitura,

política consistente e concreta, de olho nas demais renováveis

Alexandre Spatuzza

como a solar fotovoltaica, células a combustível, termossolar,

Diretor de conteúdo

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