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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 27 DE NOVEMBRO DE 2011
Fundado em 1875
PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)
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Um caminho diferente? ✽ ●
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES om a transferência do poder para o irmão mais moço,Raúl,FidelCastro deu aparência desobrevidaaosocialismo cubano. Mas o que aconteceráquandoocomandante supremo morrer? A resposta é fácil: desaparecerá, como aconteceu com todos os regimes socialistas que foram implantados noséculo20 (a exceção estásendo a Coreia do Norte, talvez porque o herdeiro continue vivo). Marx profetizara que regimes socialistas seriam resultado do próprio desenvolvimento das forçasprodutivas edaaçãorevolucionária da classe operária. O próprio jogo do mercado levaria à crise do capitalismo e à revolução proletária. Mas o socialismo nunca foi uma fatalidade econômica. Resultou sempre de um ato de vontade política de chefes, comandantes ou guias que visavam o poder total. É claro – para reservar algum espaço para o materialismo histórico – que certas “condições objetivasesubjetivas”sãonecessárias para o êxito de ações revolucionárias. Uma delas é a hegemonia, na sociedade, de sistemas de valores que deixam pouco espaço para uma cultura cívica, para o individualismo, para o empreendimento e para a cidadania. Junto vêm a adoração do Estadoeacrençadequeassociedades mudam por decreto. Examinemos, a voo de pássaro, o aparecimento dos regimes socialistas mais importantes do século passado. O primeiro, naturalmente, é o da Revolução de Outubro, na Rússia. A mistificação comunista transformou em revolução operária e camponesa o levante armado bolchevista de 1917. A decisão do assalto ao poder, com data marcada de antemão, foi decidida por dez pessoas na famosa reunião do Comitê Central de 10 de outubro (calendário russo). No dia 24, o Governo Provisório foi derrubado por um golpe militar dirigido pelo partidobolchevique. Não houve nenhuma participação popular, apenasumagigantescabebedeira em Petrogrado (então capital russa, atual São Petersburgo): a adega do czar caíra em poder dos soldados. O segundo caso de socialismo que cumpre mencionar é o da China Popular. Também nesse caso a classe operária esteve ausente. Foi o exército revolucionário dirigido pelo Partido Comunistachinêsque,em1948,implantou o novo regime, sob a chefia do “grande timoneiro” Mao Tsé-tung.
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No caso das democracias popularesdaEuropaOriental,osocialismo foi imposto de fora, pela União Soviética (URSS). A exceção foi a Iugoslávia. Mas não surgiu de uma revolução operária ou sublevação popular, mas da guerrilha liderada pelo general Josip Tito. No Vietnã o socialismoveiotambémpelaviaguerrilheira de Ho Chi Minh. Ocaminhoquelevouaosocialismo cubano não diferiu essencialmente dos seus congêneres europeu e asiático. Em 1953, comapenas113combatentes,Fidel Castro organizou a sua primeira tentativa de chegar ao poder. O assalto aos quartéis de Moncada e Bayamo malogrou. Mas Fidel não desanimou. Em dezembro de 1956, com 81 homens, tentou novamente. Explicitamente pelo menos, a meta castrista não era eliminar o
Sem Fidel Castro, quanto tempo levará para chegar ao fim o regime que ele criou?
José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)
Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
A ordem tecnodemocrática na época da política de massas, para dar alguma legitimidade a ditadores que se levantam contra as elites tradicionais, grandesmobilizaçõesdevem serrealizadas. Benito Mussolini foi um dos primeiros a usá-las. Getúlio Vargaseoutrossouberamimitálo. Naturalmente, certa distribuição paternalista de benefícios coletivos aos assalariados se deve seguir. Sem dúvida, há diferenças entre o caso do socialismo cubano e os europeus e asiáticos. Na ilha, o Partido Comunista não teve nenhuma importância, os comandantesguerrilheirossempre estiveram acima dos apparatchiks comunistas que não lutaram na Sierra Maestra. Na ausênciadosintelectuais ousubintelectuaismarxistas, asintermináveis discussões ideológicas, como as que existiram na URSS, não ocuparam o mesmo espaço na edificação do socialismo cubano. A mística da revolução substituiu a da classe operária. Por fim, a situação de subdesenvolvimento e a presença próxima dos Estados Unidos propiciavam sentimentos nacionalistas,que nãoforamfortes nosoutros casos. Trotsky declarou certa vez quesemLeninnãohaveriaRevolução Russa. Poderíamos dizer também,commuito menospossibilidade de errar, que sem Fidel não haveria socialismo em Cuba. Mas poderá haver após sua morte? Sem o comandante máximo, quanto tempo levará para chegar ao fim o regime que ele criou? O retorno ao capitalismo, na verdade, começou depois do fim da URSS. Mas, como mostra o exemplo de outros países exsocialistas,oretornoàdemocracia é bem mais complicado.
capitalismo,masderrubaraditadura do ex-sargento Fulgencio Batista, que não era visto com simpatia pela elite cubana. Por issoosdemocratas cubanos,boa partedaclasse alta(deondeprovinhaopróprioFidel),eatémesmo a opinião pública dos Estados Unidos apoiaram a luta antiBatista.Osocialismofoiimplantado pelas costas do povo. À noite, na residência de Che Guevara, um pequeno grupo preparou secretamente os decretos de estatizaçãodaeconomiaedetransformação de Cuba num país socialista. Quando o trabalho terminou,todoopoderforatransferido para Fidel. Deixando de lado a mistificação ideológica, o modo de implantaçãodosocialismoéomes- ✽ mo em toda parte. Primeiro, sob PROFESSOR TITULAR DOS a chefia de um líder supremo, DEPARTAMENTOS DE CIÊNCIA umpequenogrupodeaventurei- POLÍTICA DA UNIVERSIDADE ros (intelectuais revolucioná- DE SÃO PAULO (USP) E DA rios, na maioria) dirige o assalto UNIVERSIDADE ESTADUAL DE do poder. Depois, constrói-se o CAMPINAS (UNICAMP) socialismo. Nunca o novo regime resultou da chama- SINAIS PARTICULARES da “ação das massas”.Manifestaçõespopulares de apoio vêm posteriormente, sob a farsa da democracia direta. A esquerda vêemmobilizações feitas de cima, depois da tomada do poder, a prova do apoio ao regimeedeseulado popular. Penúltima volta Acontece que
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GAUDÊNCIO TORQUATO s quedas sucessivas de governos europeus – Islândia, Dinamarca, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Eslováquia, Portugal, Itália e Espanha – abrem intensa polêmica sobre o fenômeno da regionalização, sinalizam a ascensãodatecnocraciaaocentro do poder político e contribuem para mobilizar massas, até então amorfas, em países credores e devedores. Abrigados nas margens do espectro ideológico, grupos de todos os matizes passam a agir como exércitos destemidos, tomando as ruas, exigindo a saída de governantes açoitados pela crise financeira e a entrada na cena política de figurantes e de propostas inovadoras. O status quo é jogado no colo de “elites” identificadas com mandatários responsáveis pela adoção de modelos ultrapassados. Espraia-senaEuropaumaagitação que clama por mudanças drásticas, tendência que se enxerga na ação de partidos de extrema direita na Itália, França, Holanda, Áustria e Finlândia, e de setores populistas que pretendem sacudir o continente e inserir na agenda amplo debate sobre os parâmetros que regulam a União Europeia (UE). A par de explícitos interesses de grupos radicais, que esquentam a polêmica e partem para o embate, o que está em jogo neste momento, também nos EUA e em outras praças, é o próprio equilíbrio do sistema democrático,aensejar ainstigante questão: a crise financeira ameaça os valores da democracia? Partamos da análise dos efeitos da regionalização na vida dos países. A crítica mais comum é quanto à sensível perda das identidades nacionais. E as nações passaram a ter gover-
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nos manietados, ou, para usar termomaisleve,controladospelo mandatário-mor do planeta, o capital internacional. Parcelas expressivas das populações europeias se queixam de que a erosãode suasfronteiras, aeliminaçãodasmoedasnacionais eaimposição de uma nova ordem pela troica UE-Banco Central Europeu-FMI interferem no seu modo de ser, pensar e agir. Não se conformam com o enxerto emsuasculturasdesementesestranhas ao solo pátrio e apontam para o esgarçamento da teia de valores que formam o caráter de seus povos. A expressão das comunidades, agora mais acesa, resgata a tese de que as economias continentais diferem bastante para ficarem sob as rédeas de uma única política monetária. As assimetrias, como agora se mostram, eram previsíveis. O
Perfis políticos cedem lugar a ‘solucionadores de problemas’ por causa da gangorra financeira discurso é consistente. O ordenamento do império financeiro – inspirado na proteçãodoscofresenofortalecimento dos PIBs nacionais – acaba tapando os olhos para o conforto social,aindaqueasequaçõesproduzidas pelos formuladores de plantãotentemdemonstrarrelação de causa e efeito, ou seja, a estratégia de defender o bem da nação seria chave para abrir as portas do bem-estar geral. Não faltarãoquestionamentosàabordagem, basta lembrar a receita brasileira: para enfrentar a crise prescreveu o acesso da população ao crédito e consumo. Explicações à parte, o fato é que as democraciasveemsuasengrenagensnavegaremnasondasdoimpériofinanceiroglobal,entidade que enquadra as esferas políticas e governamentais, centrais e periféricas,depotênciasouterritórios de pouca expressão. Não há como deixar de constatar a existênciadeparâmetrossimilares em todos os sistemasdemocráticoseacorrosão de cores nas bandeiras LOREDANO nacionais. Dito isto, analisemosagora o segundo ator importante no quadro das democraciascontemporâneas:otecnocrata. De início, é oportuno lembrar que não há mais no planetabrilhantes estrelas da política. O painel político da
humanidade locupleta-se de figurantes sem o glamour de líderes que marcaram presença na História. Os tempos são outros. Queixumes se ouvem nas praças do mundo: quem lembra a sabedoriaeotinodefigurasportentosas como De Gaulle, Churchill e mesmo Margaret Thatcher ou Willy Brandt? As nações dispõem hoje de quadros funcionais de limitado ciclo de vida política. Os conflitos do passado, cujo foco era a geopolítica e a expansão de domínios, cedem lugaràslutasinternascontraodragãoquedevastaasfinançasecorrói os Tesouros. É natural, pois, que o perfil do momento seja o treinado nos salões da tecnocracia. Aliás, o termo vem a calhar nestes tempos de insegurança, eis que agrega habilidade (tekné) ao poder (krátos). Isso é o que se espera dos “solucionadores de problemas”, entre eles, Mario Monti, novo primeiro-ministro italiano, que herda o caos deixado por Berlusconi, e Lucas Papademos,quedominaaplanilhade contas,maspareceperdidodiante dos cofres vazios da Grécia. Exímios tecnocratas, deverão pôr em prática as ordens de quem realmente dá o tom da Europa – Alemanha e França, cujos mandatários, Angela Merkel e NicolasSarkozy,sãojocosamente chamados de Merkozy. Afinal, o tecnocrata faz mal à democracia? A pergunta está no ardesdeaquedadoMurodeBerlim,novácuodeixadopelodesvanecimento das ideologias e pela pasteurização partidária. De lá para cá, governos esvaziaram seus compartimentos doutrinários, preenchendo-os com quadros burocráticos e apetrechos técnicos para obter eficiência e eficácia. Inaugurava-se o ciclo que Maurice Duverger cognominade“tecnodemocracia”,quesucede à democracia liberal. Seus eixos se apoiam em organizaçõescomplexas eracionais e,hojemaisquenunca,levamemconta a gangorra dos capitais financeiros mundiais. A política deixou de ser uma unidade autônoma, porquanto passou a depender de mais duas hierarquias: a alta administração do Estado e os negócios. Esse é o feitio dos modernos sistemas democráticos. E é essa modelagem que explica manifestações radicais das massas em quadrantes diferentesdoplaneta.Busca-seumsalvador da pátria, seja ele socialista, populista, liberal, conservador de direita, tecnocrata ou intelectual.Seelenãoaparecer,umditado conhecido dos ditadores poderá emergir: quando nada mais se apresenta, o trunfo é paus. ✽ JORNALISTA, PROFESSOR TITULAR DA USP, É CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO
Fórum dos Leitores FORÇAS ARMADAS Sucateamento
É extremamente preocupante a situação de penúria em que se encontram as Três Armas. Num país que se propõe a ser uma das maiores economias do mundo e na iminência de explorar o présal, é inadmissível que tenhamos uma Marinha que dispõe de apenas dez mísseis e nenhum avião. Recentemente o governo adquiriu velhos aviões da época da 2.ª Guerra para patrulhar as nossas águas, e alguns deles seriam desmontados para usar as peças em outros. Essa displicência quanto à segurança nacional pode nos custar muito caro futuramente... Os EUA têm tudo o que precisamos em termos de armamento, como os Awacs e inúmeros tipos de aeronaves de combate testados exaustivamente em vários conflitos. A desculpa de que o Brasil é um país pacífico não se sus-
tenta, pois, parodiando o lema de um porta-aviões americano, devemos preservar a paz pela força. JAYME SARMENTO CORRÊA jayme.correa@yahoo.com São Paulo
Defesa em risco
Muito oportuno o editorial Defesa sucateada (24/11, A3). Apesar de as Forças Armadas terem um orçamento menor apenas que o do Ministério da Saúde, 80% são consumidos por militares da ativa, da reserva e pensionistas. Novos equipamentos e manutenção vão sendo adiados indefinidamente. É bom lembrar que o cumpañero Hugo Chávez leva muito a sério a questão de equipar as Forças Armadas venezuelanas. Será que é só para se proteger de eventual ataque norte-americano? EDGARD GOBBI edgardgobbi@gmail.com Campinas
Alarmante
Não poucas vezes o Estado tem denunciado o processo de sucateamento de nossas Forças Armadas. Para qualquer cidadão bem informado e minimamente preocupado com o futuro do Brasil, essas informações são alarmantes. O que acontece? Questão de prioridade na aplicação de recursos? Ou é uma questão política – por se tratar de um governo civil, não querer parecer militarista para os eleitores? Nenhuma nação que deseja projetar-se no exterior, com isso obtendo vantagens para a celebração de grandes negócios que lhe tragam dividendos positivos, pode prescindir de Forças Armadas capazes de cumprir seus objetivos e que mostrem efetivo poder de dissuasão. O Ministério da Defesa precisa, com urgência, elaborar um projeto de ação junto aos entes formadores de opinião pública, para que a sociedade bra-
sileira entenda a importância das Forças Armadas, e, daí, sim, pensar na formação e no desenvolvimento de novo quadro de pessoal, equipamentos e até mesmo de política de defesa. ROBERTO CURSINO BENÍTEZ benitez.gimenez@hotmail.com São José dos Campos
Grito de alerta
As notícias sobre o sucateamento do setor militar e a “patinação” do Plano de Fronteiras – lançado pelo Palácio do Planalto em junho e posto sob controle do vicepresidente –, parado por falta de recursos, só servem para nos causar desespero (pela falta de segurança) e revolta. Desespero não por temor de guerra com outros países – afinal, o Brasil é “muy amigo” dos vizinhos, haja vista a farta distribuição de benesses e/ou a renúncia a haveres –, mas medo, muito medo das drogas e
armas que entram pelas fronteiras, além de todo tipo de contrabando, distribuído pelos chefes do descaminho e vendidos livremente por camelôs e até pela internet. Revolta porque sabemos que não há falta de dinheiro, e sim desvios praticados por aqueles que deveriam zelar pelos bens públicos, exercendo suas funções com dignidade, honradez, seriedade e respeito por quem os elegeu. Pergunta-se: existe seriedade na condução dos interesses do País? APARECIDA DILEIDE GAZIOLLA rubishara@uol.com.br São Bernardo do Campo
muitas vezes mais potentes que as da Polícia Federal (PF), deixando os cidadãos desprotegidos. Em contrapartida, vemos o maior descaso com o dinheiro público, despejado em ONGs fajutas, da ordem de R$ 26,5 bilhões, sem ser contabilizado pelo Siconv do Ministério do Planejamento. É tão alto o grau de incompetência, descaso, pouca-vergonha mesmo, que em qualquer lugar do mundo os responsáveis já estariam a ver o sol nascer quadrado. O Brasil pós-PT transformou-se num país dos horrores. Até quando? LEILA E. LEITÃO São Paulo
País dos horrores
A que ponto chegamos no desgoverno dos petistas, quando tomamos também conhecimento de que as Forças Armadas estão sucateadas a ponto de não poderem cuidar das fronteiras por onde escoam livremente drogas e armas,
CORRUPÇÃO A profecia
No fatídico outubro de 2002, ouvi a profecia: “Vai dar m...” Não somente deu, como continua dando. Faxina não resolve mais. Cadê o limpa-fossa?