Carlos Vamberto de Araújo Martins 1
DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS EM ESTACAS CRAVADAS VERTICALMENTE, CONSTITUINTES DE UM ESTAQUEAMENTO DE BLOCO SUJEITO A MOMENTOS E FORÇAS HORIZONTAIS E VERTICAIS.
1 – CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES O presente estudo visa apresentar a formulação necessária para obtenção dos esforços em estacas cravadas verticalmente, cujo estaqueamento a que pertencem esteja submetido a forças horizontais e verticais e a momentos. 2 – HIPÓTESES ADOTADAS 2.a – O Bloco de Coroamento é sobejamente rígido de forma a desprezar-se suas deformações face as das estacas; 2.b – O material das estacas atende à lei de Hooke; 2.c – Os afundamentos das estacas são iguais; 2.d – As deflexões das estacas são iguais. Fx = FX ( a )
1
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3 – ESFORÇOS ATUANTES NO SISTEMA O
sistema
está
submetido aos esforços FX , FY , FZ , MX , MY , todos reduzidos ao sistema de eixos X,Y e Z (arbitrário) e com a origem em O. ( Ver fig. I ). Reduzindo os esforços ao sistema de eixos x, y e z, que passa pelo baricentro (G) da estacaria, teremos, para os esforços respectivos, Fx , Fy , Fz , Mx , My , Mz , os seguintes módulos : Fy = FY ( b )
1
Carlos Vamberto de Araújo Martins 1 Fz = FZ ( c )
∑
Mx = MX – FY.d + FZ.Yg ( d )
Mzi = 0 ⇒ Mz +
n
∑
[( H i , Mz ). yi ] +
i =1
n
∑ [( V
i , Mz
).xi ] = 0
i =1
(6)
My = MY + FX.d - FZ.Xg ( e ) Mz =Mz,Fx+Mz,Fy
=
NOTA: O segundo índice, indica o esforço que deu origem ao esforço referido.
-FX.Yg+FY.Xg ( f )
Para que o sistema esteja em equilíbrio devemos ter, sendo n o número de estacas ( Ver FIGs I e II ):
∑Fx
4 – DETERMINAÇÃO DO BARICENTRO (G) DO ESTAQUEAMENTO
n
∑Hi = 0
= 0 ⇒ Fx +
i
a) Forças Normais (Ni):
i =1
Da figura I, tiramos:
n
∑
Fy i = 0 ⇒ Fy +
∑Vi = 0 i =1 n
∑
∑Ni = 0
Fz i = 0 ⇒ Fz +
i =1
n
∑
∑Ni. yi = 0
Mx i = 0 ⇒ Mx +
i =1
∑My
n
i
= 0 ⇒ My +
∑Ni . xi = 0 i =1 n
∑
n
∑
Mz i = 0 ⇒ Mz +
Hi . yi +
i =1
∑Vi. xi = 0 i =1
Ocorre que : Hi = H i , Fx + H i , Mz
n
Vi = Vi , Fy +Vi , Mz
Fz . Xg +
Ni = N i , Fz + N i , Mx + N i , My
∑Fy ∑Fz
i , Fx
i
= 0 ⇒Fy +
∑V
i , Fy
=0
(1)
Xg =
∑[( N
=0
∑N
i , Fz
=0
(3)
i
= 0 ⇒ Mx +
∑N
= 0 ⇒ My +
i , Mx
i =1 n
∑ [( N
i , Fz
Analogamente : n
n
∑ [( N
(A)
i =1
i =1
i
). Xi ]
n
(2)
n
= 0 ⇒ Fz +
i , Fz
i =1
i =1
i
). Xi ] = 0 ∴Xg = −
n
n
∑ My 1
∑H i =1
∑ Mx
2
= 0 ⇒Fx +
i , Fz
Tendo em vista ( c ) e ( 3 ), teremos :
n
i
∑[( N i =1
Como os momentos geram forças reativas em forma de conjugados, o sistema de equilíbrio acima se simplifica em:
∑Fx
n
i , My
). yi ] = 0 ).xi ] = 0
i =1
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(4) (5)
Yg =
∑[( N
i , Fz
).Yi]
i =1
(B)
n
∑N i =1
i , Fz
∑[( N
i , Fz
i =1
Fz
). Xi ]
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Como o material da estaca obedece a lei de Hooke, teremos: N i , Fz = −Ki .δi , onde Ki =
Ei . Ai , sendo : Li
δi – Alongamento ou encurtamento da estaca; Ai – Seção reta da estaca;
Sabemos que (Fig. II-a):
− Hi = β ⋅
E i ⋅ J i ,y Li
3
⋅ δ xi ;−Vi = β ⋅
E i ⋅ J i ,x Li 3
⋅ δ yi
Onde:
Li – Comprimento de cálculo da estaca; Ki – Coeficiente de Rigidez.
δxi (δyi) - Deslocamento do bloco na direção x (y); Ei - Módulo de Elasticidade do material da estaca i;
Em virtude de 2.c, teremos: δi = δ = constante
β - Coeficiente adimensional que depende da vinculação da haste (estaca) com o bloco;
Ni,Fz = - Ki.δ
Li - Comprimento livre da haste (estaca);
Portanto, as expressões ( A ) e ( B ), tornam-se:
Ji,x (Ji,y) - Momento de Inércia da seção reta da estaca na direção x (y); Assim, as coordenadas Xm e Ym podem ser escritas da forma:
n
∑
( Ki . Xi )
Xg =
i =1
(C)
n
∑Ki
n
i =1
Xm =
∑( C
i =1
∑( C
∑
Ki
Ym =
i =1
De forma análoga, teremos: n
Xm =
⋅Xi ) ;
∑V i =1
i
Ym =
∑( H
i
⋅ Yi )
i =1
n
i ,x
⋅ Yi )
i =1 n
∑( C
(D-1) i ,y
)
∑H
Ei ⋅ J i ,y Li 3
e C i ,y =
E i ⋅ J i ,x Li 3
5 – DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS NAS ESTACAS
i
i =1
5.1 – Reação Axial devida à Carga Vertical Fz De
1
∑( C
Onde: C i ,x = n
n
)
i =1
b) Forças Horizontais ( Hi ,Vi ):
i
i ,x
n
(D)
n
i =1
(C-1)
n
i =1
∑( Ki.Yi )
∑( V
⋅Xi )
i =1
n
Yg =
i ,x
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( 3 ) e ( c ) , teremos:
3
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n
n
∑
Fz = FZ = −
∑
N i , Fz = −
i =1
( −Ki .δi ) = δ
i =1
n
∑Ki
Assim,
i =1
N i , My = −
, uma vez que δi = δ = constante
Assim,
δ=
Fz n
=
My . Ki ( Xi − Xg ) n
∑[ Ki( Xi − Xg )
2
]
i =1
FZ n
∑ Ki ∑ Ki i =1
i =1
Como Ni,Fz = - Ki.δi = -Ki.δ, teremos :
N i , Fz
Ki =− n Ki i =1
∑
. Fz
(E)
5.2 – Reação Axial devida aos Momentos Mx e My
De ( 4 ) , teremos ; n
n
∑
Mx = −
∑[ N
( N i , Mx ). yi = −
i =1
i , Mx
.(Yi −Yg )]
i =1
Ainda, observando-se a figura III – b , teremos:
N i , Mx = −Ki .δi = −Ki (Yi −Yg ).( −ϕi ) = Ki (Yi −Yg ).ϕi , sendo ϕi = constante Assim,
Mx = −ϕi
n
∑[ Ki(Yi −Yg )
2
] ∴ϕi = −
i =1
De ( 5 ) , teremos:
Mx n
∑[ Ki(Yi −Yg )]
2
i =1
n
∑( N
My = −
Logo,
n
i , My
∑[ N
). xi = −
i =1
i , My
.( Xi − Xg )]
i =1
N i , Mx =
Ainda observando-se a figura III – a, teremos :
∑[ Ki( Xi − Xg ) i =1
2
] ∴ϕi =
My n
∑[ Ki( Xi − Xg ) i =1
1
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]
Ni = N i , Fz + N i , Mx + N i , My , ou seja : 2
]
Ki Ni =−Fz n Ki i =1
∑
4
2
5.3 – Reação Axial Total (Ni)
constante
My = ϕi
∑[ Ki(Yi −Yg ) i =1
N i , My = −Ki .δi = −Ki ( Xi − Xg ).ϕi , sendo ϕi= n
Mx. Ki (Yi −Yg ) n
Mx . Ki (Yi −Yg ) My . Ki ( Xi −Xg ) + n − n 2 [ Ki (Yi −Yg ) ] [ Ki ( Xi −Xg ) 2 ] i =1 i =1
∑
∑
Carlos Vamberto de Araújo Martins 1 Para o caso particular em que o estaqueamento sofra o carregamento sobre eixos de simetria e as estacas preservem o mesmo material e dimensões, teremos: K1 = K2 = . . . . = Kn = constante
n
−
∑( H
i ,Fx
)
i =1 n
∑( C
=− i ,x
)
H i ,Fx = −Fx .
Yg = 0 E a expressão de Ni, acima , passa a ser : Fz Mx.Yi Ni =− + n − n Yi 2
∑ i =1
n
∑Xi i =1
2
C i ,x
, que tendo em vista (1):
i =1
Xg = 0
My . Xi
H i ,Fx
Ci , x n
∑( C
i ,x
)
i =1
Fz My . Xi Mx.Yi =− − n + n n Yi 2 Xi 2 i =1 i =1
∑
5.4 – Reações Tangenciais(Horizontais Verticais) devidas a Fx e Fy
∑
e
Reduzindo ao baricentro M(X m,Ym), as Forças Externas F x e F y , relativas aos eixos x e y, teremos a seguinte disposição:
b) Reações Devidas Analogamente,
Vi ,Fy = −F y .
a Fy :
C i ,y n
∑( C
i ,y
)
i =1
5.5 – Reações Tangenciais ( Horizontais e Verticais ) devidas a MZ',Fx e MZ',Fy a) Reações devidas a MZ',Fx :
a) Reações Devidas a F x Sob a ação da força F x o bloco rígido sofre uma translação δx, Fx, na direção x´, gerando uma reação Hi,Fx na estaca i, também nessa direção, dada por:
− H i ,Fx = β ⋅ C i ,x ⋅ δ x ,Fx ∴−
H i ,Fx C i ,x
Sob a ação de MZ',Fx o bloco do estaqueamento, gira em torno do eixo z', perpendicular ao plano x'y', de um ângulo ϕ, provocando o aparecimento de forças reativas Hi,Mz',Fx no plano dos topos das estacas.
= β ⋅ δ x ,Fx = cons tan te Para que o sistema esteja em equilíbrio, deveremos ter(Fig.V):
Que nos permite escrever:
n
M z' ,Fx +
∑( H
i ,Mz' ,Fx . y' i
) =0 ( F )
i =1
Considerando a estaca i:
1
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5
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−H i ,Mz' ,Fx = β ⋅ C i ,x ⋅( δ x ,Mz' ,Fx ) = β ⋅ C i ,x ⋅ y' i ⋅tgϕ , ou, ainda, em vista de 2.d :
−
H i ,Mz' ,Fx
=−
C i ,x ⋅ y' i
H i ,Mz' ,Fx ⋅ y' i C i ,x ⋅ ( y' i ) 2
= β ⋅ tgϕ = cons tan te
Finalmente:
Vi ,Mz' ,Fy = −F y ⋅ X m ⋅
Ci ,y ( X i − X m )
∑[C n
i ,y
⋅( X i − X m )2
i =1
]
Que permite escrever: n
∑[( H
i ,Mz' ,Fx
i =1 n
∑[C
i ,x
6 – RESUMO DOS ESFORÇOS NAS ESTACAS
) ⋅ y' i ]
⋅ ( y' i ) 2
i =1
]
H i ,Mz' ,Fx
=
Todos os esforços até aqui analisados, foram obtidos considerando-se o sistema BLOCO.
C i ,x ⋅ y' i
Tendo em vista a TERCEIRA LEI DE NEWTON, e, considerando-se o sistema ESTAQUEAMENTO, teremos, para os esforços genéricos nas estacas os mesmos aqui deduzidos com o sinal trocado.
Tendo em vista ( F ), teremos:
H i ,Mz' ,Fx = −M z' ,Fx ⋅ y' i ⋅
C i ,x
∑[C n
i ,x
⋅ ( y' i ) 2
i =1
]
Observando a figura II, teremos: 6.1 – Esforço Axial
Ocorre que:
y' i = Yi −Ym e M z' ,Fx = M z ,Fx − Fx ( Ym −Y g )
Ki Ni =Fz n Ki = −Fx ⋅Y g − Fx ( Ym −Y g ) i =1
∑
Finalmente:
C i ,x ( Yi − Ym )
∑[C n
i ,x
∑
⋅ ( Yi − Ym ) 2
i =1
]
-
Xg e Yg dados por (C) e (D), respectivamente;
-
Ki =
-
Fz = Fz;
-
Mx = Mx – Fy.d + Fz.Yg;
-
My = My + Fx.d - Fz.Xg .
b) Reações devidas a MZ',Fy : Analogamente,
E i Ai ; Li
6.2 – Esforço Tangencial Horizontal
Vi ,Mz' ,Fy = −M z' ,Fy ⋅ x' i ⋅
C i ,y
∑[C n
i =1
i ,y
⋅ ( x' i ) 2
]
Ocorre que:
x' i = X i − X m ,
e
H i = −( H i ,Fx + H i ,Mz' ,Fx )
H i = Fx .
C i ,x n
∑C
− F x ⋅ Ym ⋅
i ,x
i =1
Sendo, M z' ,Fy = M z ,Fy + F y ( X m − X g ) = F y ⋅ X g + F y ( X m − X g ) - Ym dado por (D-1); M =F ⋅X z' ,Fy
6
1
y
∑
Sendo,
M z' ,Fx = −Fx ⋅Ym
H i ,Mz' ,Fx = F x ⋅ Ym ⋅
Mx. Ki (Yi −Yg ) My . Ki ( Xi −Xg ) − n + n 2 [ Ki (Yi −Yg ) ] [ Ki( Xi −Xg ) 2 ] i =1 i =1
m
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C i ,x ( Yi − Ym )
∑[C n
i =1
i ,x
⋅ ( Yi − Ym ) 2
]
Carlos Vamberto de Araújo Martins 1
Ei J i ,y
-
C i ,x =
-
Fx = Fx ;
6.4 - Momentos de Engastamento Estaca-Bloco
;
Li 3
Admitindo o engastamento perfeito da estaca no bloco do estaqueamento, teremos:
6.3 – Esforço Tangencial Vertical
(
Vi = − Vi ,Fy +Vi ,Mz' ,Fy Vi = F y .
Ci ,y
∑( C
i ,y
)
+ Fy ⋅ X m ⋅
n
M ie,x = Vi .
)
i =1
6.5 – Regra de Sinais
C i ,y ( X i − X m )
∑[C n
i ,y
⋅( X i − X m )2
i =1
]
a ) Para as Forças Externas e nas Estacas, considerar a orientação dos eixos do presente estudo; b ) Para os momentos externos, considerar estes eixos e utilizar a regra universal do “Saca – Rolhas”.
Sendo, Xm dado por (C-1);
-
Li Li e e M i ,y = H i . 2 2
E i J i ,x
7 – EXEMPLO NUMÉRICO
Extraído da REVISTA ESTRUTURA N.º 94, pag. 55, do artigo Determinação das Reações em Blocos de Estacas Fincadas Verticalmente, dos autores - Fy = Fy Juan Pedro Zagni e Donato Cabral Garofano. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Esforços Externos
C i ,y =
-
Li 3
;
Fx = 5.000 kgf Mx = 50.000 kgm
Fy = - 20.000 kgf My = 30.000 kgm
Fz = 100.000 kgf D = 1m
Dados Geométricos
1
Estaca
Xi ( m )
Yi ( m )
Li (m )
Ai (m2 )
Ei ( kgf/m2 )
Jxi ( m 4 )
Jyi ( m 4 )
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
-1 -2 -1 1 2 1 -2,858 -2,858 0 2,858 2,858 0
1,732 0 -1,732 -1,732 0 1,732 1,65 -1,65 -3,3 -1,65 1,65 3,3
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
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As figuras acima exibem a tela do programa ESTAQV, de nossa autoria, executando o exemplo numérico proposto. João Pessoa, Abril de 1998
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