Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular

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APRESENTAÇÃO

Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular é uma especialidade médica recém-nascida e, em conseqüência disto, há uma carência na literatura acadêmica, principalmente quando nos referimos à língua portuguesa. Hoje em dia, os meios de comunicação e informação pela internet permitem-nos adquirir a maior parte dos dados necessários. No entanto, esta tecnologia ainda não está disponível para todos e, em sua maioria, os dados mais atuais e de melhor qualidade encontram-se em língua inglesa. O fato de viver em um ambiente acadêmico, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde o convívio com alunos, residentes, estagiários, técnicos em radiologia e em enfermagem e com diferentes especialidades médicas, colocou-me diante de um constante questionamento e indagação sobre informações básicas, orientações, onde estudar e obter esclarecimentos sobre o que é e como pode ser utilizado o “mundo” oferecido por esta nova especialidade médica. Os pacientes e seus familiares são os que mais sofrem por desconhecerem que o especialista vai realizar um “tratamento diferente”, por meio de um “furinho”, sem cortes e cicatrizes, com anestesia local e com regresso antecipado para casa: “nossa! Será que isto existe mesmo? Já está confirmada sua eficácia? Não é melhor continuar no tradicional e convencional? Será que este médico não está me enganando? O meu médico de tantos anos desconhece este tratamento!? Será que ainda é experimental? Vou ser cobaia? Tem comprovação científica? O médico é tão jovem...”. Enfim, estas foram algumas das indagações ouvidas durante estes últimos 10 anos de prática nesta nova especialidade médica aqui no Brasil. Nada fácil... Infelizmente, na tentativa de preservar a sua própria formação médica e obter os frutos do seu exercício, a resistência vem dos próprios colegas que ignoram a evolução da medicina. A força e a persistência para lutar contra tudo isto foram adquiridas no dia-a-dia com os pacientes tratados, muitos deles na classe pediátrica, possuidores de enorme satisfação e gratidão pelos resultados obtidos. Decidi escrever este livro como uma tentativa de preservação e conservação da especialidade, Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular, para que os pacientes continuem recebendo os benefícios das diferentes alternativas de tratamento que a medicina pode oferecer e para que todos aqueles que desejam aprofundar-se na especialidade ou viver dentro dela tenham uma estrela-guia no seu caminho... Francisco César Carnevale


Prefácio

Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular é uma especialidade médica pouco explorada e ainda muito jovem entre os diversos especialistas e, principalmente, entre os pacientes. Assim, escrever sobre o tema torna-se um grande desafio por causa da aceitação e credibilidade diante do desconhecido. Pelo que se poderá observar durante a leitura dos 53 capítulos, trata-se de uma obra que abrange a grande diversidade dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados pelo radiologista intervencionista. Os capítulos foram divididos em três partes, com o objetivo de fornecer as informações básicas e posterior detalhamento das intervenções vasculares e não-vasculares. A sua leitura se faz necessária por grande parte de especialistas, como radiologistas, cirurgiões do aparelho digestivo, angiologistas e cirurgiões vasculares, hemodinamicistas e cardiologistas intervencionistas, clínicos, entre outros. Durante a elaboração deste projeto, houve a preocupação em conduzir o leitor aos conceitos básicos sobre a anatomia vascular, os meios de contraste, a radiação ionizante e os equipamentos de imagem. Procurou-se descrever as principais alternativas terapêuticas, dando o enfoque atual aos procedimentos minimamente invasivos por meio das técnicas percutâneas vasculares e não-vasculares. Foi abrangida a quase totalidade dos procedimentos, destrinchados, com cuidado, os métodos diagnósticos e terapêuticos por colaboradores de renome nacional e internacional. A alta qualidade informativa, teórica e ilustrativa ressalta este livro como a principal obra na literatura nacional envolvendo a especialidade, devendo fazer parte da formação básica de alunos, residentes, enfermeiros, técnicos em radiologia e médicos da especialidade. A qualidade deste livro deveu-se a um trabalho de grupo realizado em grande parte no complexo do Hospital das Clínicas e liderado pelo Dr. Carnevale, cuja personalidade inovadora ajudou a desenvolver a Radiologia Intervencionista no nosso meio e fazer escola. Cumprimento a todos pelo excelente trabalho e também à Editora Revinter. Giovanni Guido Cerri


SUMÁRIO

Parte I ASPECTOS GERAIS

Capítulo 1

História, Estado Atual e Tendências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Manuel Maynar

Capítulo 2

Equipamentos e Segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Tânia Aparecida Correia Furquim

Marcia de Carvalho Silva

Capítulo 3

Meios de Contraste Iodados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Luiz Antonio Nunes de Oliveira

Erico Souza de Oliveira

Capítulo 4

Materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Airton Mota Moreira

Capítulo 5

Emboloterapia Vascular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Miguel Angel de Gregorio Ariza Antonio Mainar Airton Mota Moreira Francisco César Carnevale

Joaquin Medrano

Marisol Rengel

Capítulo 6

Anestesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 João Luiz Piccioni

José Luiz Oliva

Parte II INTERVENCIONISMO VASCULAR

Capítulo 7

Fisiopatologia das Lesões Ateroscleróticas e da Reestenose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Tania Leme da Rocha Martinez

Eulógio Emílio Martinez Filho

Capítulo 8

Ultra-Sonografia Intravascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Mariano de Blas

Capítulo 9

Arteriografia – Acessos e Técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Alvaro Razuk

Jong Hun Park

Walter Karakhanian


Capítulo 10

Flebografias – Acessos e Técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 José Luiz Orlando

Capítulo 11

Angioplastia Transluminal Percutânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Pedro Puech-Leão

Capítulo 12

Fibrinólise Intravascular Percutânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Carlos Abath

Gustavo Andrade

Norma Brito

Romero Marques

Capítulo 13

Aterotomia Percutânea Periférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Manuel Maynar

José M. Carreira

Roman Rostagno

Capítulo 14

Angiografia Cerebral, Medular e de Cabeça e Pescoço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Paulo Puglia Jr.

José Guilherme Mendes Pereira Caldas

Capítulo 15

Tratamento da Doença Carotídea Oclusiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 José Guilherme Mendes Pereira Caldas

Paulo Puglia Jr.

Leandro de Assis Barbosa

Michel Eli Frudit

Capítulo 16

Tratamento das Lesões da Aorta Torácica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Gaudencio Espinosa

Mônica Ferreira Caramalho

Warley Dias Siqueira Mendes

Capítulo 17

Tratamento das Lesões Estenosantes da Aorta Abdominal e Artérias Ilíacas . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 Marcus Vinícius Borges

Francisco César Carnevale

Capítulo 18

Tratamento dos Aneurismas da Aorta Abdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 Manuel Maynar Roman Rostagno José M. Carreira Roberto Fominaya Tobias Zander Christian Liu Rafael Llorens Francisco César Carnevale

Alejandro Romero

Capítulo 19

Tratamento das Oclusões Arteriais Ilíacas Crônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257 Francisco César Carnevale

Marcus Vinícius Borges

Airton Mota Moreira

Capítulo 20

Tratamento das Lesões Ateroscleróticas Infra-Inguinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277 Felipe Nasser

Charles Edouard Zourstrassen

Capítulo 21

Terapêutica Percutânea no Trauma Vascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293 Marcus Vinícius Borges

Felipe Nasser

Francisco César Carnevale

Capítulo 22

Tratamento da Hipertensão Renovascular e da Nefropatia Isquêmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313 Miguel Angel de Gregorio Ariza

Eduardo Ramón Alfonso Aguirán

Capítulo 23

Acessos Venosos Centrais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327 Nelson Wolosker

Capítulo 24

Francisco César Carnevale

Tratamento das Fístulas e Enxertos de Diálise Não-Funcionantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335 Pablo Gamboa


Capítulo 25

Retirada de Corpos Estranhos Intravasculares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351 Luis Marcelo Ventura

Breno Boueri Affonso

Francisco César Carnevale

Capítulo 26

Ecoesclerose com Microespuma no Tratamento das Varizes dos Membros Inferiores . . . . . . . . . . . 357 José J. Martinez-Rodrigo

Henrique Elkis

Capítulo 27

Endovascular no Tratamento das Varizes dos Membros Inferiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361

Moises Roizental

Capítulo 28

Tratamento da Insuficiência Venosa Pélvica Crônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 367 Santiago Zubicoa Ezpeleta Linda Maria Vergara Correa

Javier Leal Monedero

Julián Castro Castro

Francisco Arroyo Arboleda

Capítulo 29

Tratamento das Malformações Vasculares Periféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387 José Luiz Orlando

Capítulo 30

Tratamento da Síndrome da Veia Cava Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401 João Martins Pisco

Capítulo 31

Terapêutica no Tromboembolismo Pulmonar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 409 Renan Uflacker

Capítulo 32

Filtros de Veia Cava . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 435 Miguel Angel de Gregorio Ariza

Ricardo Tobio

Francisco César Carnevale

Capítulo 33

Terapêutica nas Hemoptises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455 Miguel Angel de Gregorio Ariza Eduardo Ramón Alfonso Aguirán Antonio Mainar Marisol Rengel

Joaquin Medrano

Capítulo 34

Diagnóstico e Tratamento das Hemorragias Digestivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 469 Ricardo Augusto de Paula Pinto

Marcus Vinícius Borges

Francisco César Carnevale

Capítulo 35

Métodos de Imagem nas Lesões Hepáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 487 Manoel de Souza Rocha

Capítulo 36

Biópsia Hepática Via Transjugular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 493 Henrique Elkis

Elena Lonjedo

José J. Martinez-Rodrigo

Francisco César Carnevale

Capítulo 37

Tratamento Percutâneo dos Tumores Hepáticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 497 Ignacio González Crespo Alberto Benito Boillos Antonio Martínez de la Cuesta Esther de Luis Pastor José Ignacio Bilbao Jaureguízar Francisco César Carnevale

Capítulo 38

Tratamento das Complicações Vasculares e Biliares do Transplante Hepático . . . . . . . . . . . . . . . . . 511 Alexander Ramajo Corvello

Francisco César Carnevale

Capítulo 39

Portossistêmico Intra-Hepático Transjugular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 535

Hector Ferral

Irma Karina Urbina-Anderson

Francisco César Carnevale


Capítulo 40

Recanalização Percutânea da Veia Porta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 563 Renan Uflacker

Capítulo 41

Tratamento do Hiperesplenismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 579 Paula Martinez-Miravete Mario Espreafico José Ignacio Bilbao Jaureguízar

Antonio Martínez de la Cuesta

Capítulo 42

Coletas Hormonais nas Doenças Endócrinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 587 Ana Maria Arguello Sandra Valéria de Sá

Márcio Carlos Machado Luiz Roberto Salgado

Francisco César Carnevale

Paulo Puglia Jr.

Capítulo 43

Embolização dos Miomas Uterinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 603 Miguel Angel de Gregorio Ariza

Ramón Alfonso

Parte III INTERVENCIONISMO NÃO-VASCULAR

Capítulo 44

Drenagem de Coleções Abdominais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 619 Horacio B. D'Agostino Abdelmoneim Dessouky

Heriberto Hernandez Fraga Guillermo Sangster Miguel Angel de Gregorio Ariza

Hector de la Torre Gonzalez

Capítulo 45

Tratamento Percutâneo das Lesões Esofágicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 647 Jorge E. Lopera

Augusto Brazzini

Arturo Gonzales

Wilfrido Castañeda-Zúñiga

Capítulo 46

Gastrostomia Percutânea Radiológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 669 Luciano Mastrogiovanni Jorge E. Lopera

Christian Scheuermann

Arturo Gonzales

Ruizong Li

Augusto Brazzini

Capítulo 47

Tratamento Endoscópico das Lesões Biliares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 685 Paulo Sakai

Everson Luiz de Almeida Artifon

Fábio Yuji Hondo

Carlos Kiyoshi Furuya Júnior

Capítulo 48

Intervenção Percutânea nas Vias Biliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 701 Guilherme de Souza Mourão

Carlos Eduardo Baccin

Capítulo 49

Colônico – Tratamento Não-Cirúrgico da Obstrução Intestinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 717

Manuel Maynar

Miguel Angel de Gregorio Ariza

Eloy Tejero

Capítulo 50

Intervencionismo Percutâneo Geniturinário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 725 Pablo Gamboa

Capítulo 51

Vertebroplastia Percutânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 743 Carolina Manzo

Moises Roizental

Andrés Madrid

Capítulo 52

Intervenções Endoluminais nas Tubas Uterinas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 759 Augusto Brazzini Raúl Cantella Wilfrido Castañeda-Zúñiga

Jorge E. Lopera

Arturo Gonzales

Mariana Brazzini

Capítulo 53

Tratamento Percutâneo da Obstrução Nasolacrimal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 767 Ho-Young Song

Deok Hee Lee

Sung-Gwon Kang

Índice Remissivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 783


Capítulo 1

História, Estado Atual e Tendências ✦ Manuel Maynar


4 O ser humano é o único que possui história, portanto, cultura. A história nos leva a uma seqüência de pensamentos e, portanto, às possibilidades de evolução percebidas por seres humanos que pisaram na terra antes de nós. Em Medicina, como em qualquer outro ramo da ciência das artes, o conhecimento individual é estéril. Nenhum ato médico é possível sem o conhecimento dos passos prévios, mesmo os equivocados, de mentes que refletiram sobre o problema. Os conhecimentos anatômicos são a base sobre a qual se sustentam praticamente todas as áreas do saber médico. Ainda hoje, em nossas faculdades de medicina, é uma disciplina fundamental. Nos séculos passados, era praticamente a coluna vertebral dos estudos médicos. O conhecimento correto dessa disciplina é o fundamento de todas as ações terapêuticas da cirurgia, assim como oferece a possibilidade de entender as alterações macro ou microscópicas secundárias aos processos patológicos. O nascimento e a consolidação da cirurgia minimamente invasiva (CMI) já fazem parte da história. Não existe algo que nasça espontaneamente, sem antecedentes, sendo assim, é impossível tentar compreendê-la fora da história. A história da medicina é a do homem contra a adversidade. Não existem antecedentes de civilizações antigas em que não se descobriram sinais religiosos ou instrumentos de alguém (mago, bruxo ou médico) que tentou controlar a dor causada por uma determinada enfermidade. Desde o conceito mágico da cura, o Egito Faraônico, a Grécia Clássica e o Império Romano até os dias atuais, nossa profissão segue debatendo seu caráter e seus métodos, entretanto, algo imutável se mantém durante os séculos, como é a atitude diante do sofrimento alheio e o compromisso de aliviar, baseado no juramento Hipocrático (texto que resume a alma, a condição e a essência de nossa profissão). A tradição atribui a Hipócrates (60-370 a.C.) pertencer a uma estirpe de magos da ilha de Cos e contemporâneo de Sócrates e Platão. Considera-se como o autor de uma espécie de enciclopédia médica da Antigüidade. Em seus textos defende-se a concepção da enfermidade como a conseqüência de um desequilíbrio entre os chamados fluidos do corpo (sangue, escarro, bile amarela e bile negra). Observar o interior do corpo humano vivo e poder modificá-lo segundo as circunstâncias fisiopatológicas é hoje em dia um ato médico habitual. Entretanto, a aventura científica que o tornou possível teve uma caminhada durante séculos. Neste período, cercearam-se esforços, sonhos e fracassos de um grande número de seres humanos audazes que acreditaram na utopia. São misteriosos os processos mentais, sociais e profissionais que fazem cristalizar, consolidar e difundir aquisições tecnológicas. É possível imaginar a quantidade de avanços que ficaram no ouvido a ponto de nascer. Conduzimos nossa visão ao século XVI, quando a cirurgia era realizada por “barbeiros-cirurgiões”. Habilidosos, mas sem formação acadêmica, o mais célebre foi Ambrosio Paré (1509-1590), considerado como o grande cirurgião do Renascimento. Posteriormente foram reconhecidos como

Parte I

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ASPECTOS GERAIS

cirurgiões, passando a vestir batas curtas, deixando as largas para aqueles que não “sujavam” as mãos com o bisturi – os médicos. A ciência, mesmo que amordaçada pelo dogma, pode ser testemunha de figuras sobressalentes como Tomás Moro, Miguel Servet ou Erasmo de Rotterdam. Passamos ao século XVII, época terrível, quando as guerras religiosas converteram a Europa em um campo de batalha. Otto von Guericke (1602-1686) inventou a primeira máquina para gerar eletricidade e descobriu a eletroluminescência. Observou que havia uma repulsividade entre corpos eletrizados logo depois de terem sido atraídos. Na arte, pintores como Velázquez e El Greco conseguiram perfeições dificilmente igualadas. O século XVIII, século da razão, do conceito geométrico, da existência e da lógica cartesiana, deu vida a científicos como Alessandro Volta (1745-1827), Michael Faraday (1791-1867) e Luigi Galvani (1737-1798). Com eles a eletricidade já é uma realidade. Descreveram suas leis, as relações com o magnetismo e observou-se a capacidade de influenciar sobre os tecidos vivos. O movimento de um músculo de cadáver ao ser atravessado por uma corrente elétrica fez conceber a idéia de haver descoberto o princípio físico que poderia devolver a vida a um morto. A literatura de ficção usou esta hipótese científica devolvendo a vida a um cadáver mediante uma corrente elétrica (Frankenstein ou moderno Prometeo. Mary Shelly, 1818). O século XIX moveu a sensibilidade humana em direção à área do sentimento, distanciando-se do anterior, o da razão (“a razão sem sentimento produz monstros”, Francisco de Goya, Lucientes). Neste século, encontramos três personagens excepcionais: Wilhelm Conrad Röentgen (1845-1923), Mme Curie (1867-1934) e Santiago Ramón y Carral (1852-1934). Os três caracterizaram-se por possuir três condições comuns: o triunfo da vontade sobre circunstâncias adversas, honestidade profissional e humildade. O século XX começou com o descobrimento e rápida difusão dos raios X, fato que deu a Wilhelm Conrad Röentgen o prêmio Nobel de Física em 1901. Rapidamente começaram a descobrir suas aplicações na medicina. Em 1927 Egas Moniz descobriu a angiografia cerebral, e em 1929 Forssmann realizou, em si mesmo, a primeira ventriculografia através da dissecção de uma veia do seu antebraço e introdução de uma sonda até a câmara cardíaca. Durante as décadas que cercaram a Segunda Guerra Mundial houve a consolidação do que passou a denominar Radiologia Vascular e no princípio dos anos 1980 associou-se o termo “intervencionista”. Os doutores Charles Dotter, Cesare Gianturco, Joseph Rösch e Kurtz Amplatz surgiram com as idéias. Foi o tempo dos pioneiros, entretanto, faltavam alguns anos para que a tecnologia da imagem e dos materiais permitisse tornar possível as suas idéias. Este conhecimento surgiu ao final dos anos 1960 e 1970. Os doutores Seldinger, Gruntzig e Dotter descreveram o acesso não cirúrgico a qualquer território vascular e a angioplastia transluminar percutânea (ATP).


Capítulo 1

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HISTÓRIA, ESTADO ATUAL E TENDÊNCIAS

O Dr. Seldinger (1921-1999) nasceu em Mora (Suécia), graduando-se no Instituto Karolinska em 1948. Em 1953 descreveu a técnica do acesso percutâneo (tríade agulha, fio-guia e catéter), que permitiu a realização da maioria das técnicas minimamente invasivas realizada hoje em dia. Através de uma simples punção vascular, pode-se ter acesso a qualquer parte do organismo, utilizando, como guias de imagem, os sistemas de raios X. O Dr. Charles T. Dotter (1920-1985) nasceu em Boston, Massachusetts. Estudou Medicina e Radiodiagnóstico na Universidade de Cornell, onde desenvolveu sua atividade assistencial, investigadora e docente. Sua contribuição foi tão importante que é considerado o “pai” da Radiologia Vascular Intervencionista (RxVI). Modificou e aperfeiçoou aspectos da técnica de Seldinger, descrevendo a ATP periférica em 1964 e grande parte da rotina de procedimentos realizados no mundo ocidental. Recebeu o pedido médico para realizar uma arteriografia diagnóstica pré-operatória de membro inferior em paciente que seria submetida à amputação do membro. Fez o diagnóstico de estenose da artéria femoral superficial e, não satisfeito, utilizando os conceitos de Seldinger, realizou a dilatação percutânea da estenose com sistema de catéteres coaxiais de calibres progressivos. A paciente melhorou clinicamente e não teve sua perna amputada. Em 1978 recebeu o prêmio Nobel de Medicina. Estes descobrimentos proporcionaram o nascimento da radiologia diagnóstica com aplicação clínico-terapêutica. Denominada como RxVI, seu nascimento significou o surgimento de um novo caminho diagnóstico-terapêutico, menos agressivo e com complicações e atitudes médicas até este momento desconhecidas. Mas, este grupo de especialistas começou a defrontar com três tipos de problemas no desenvolvimento do que seria, com o passar dos anos, uma técnica alternativa ao diagnóstico e terapêutica médico-cirúrgica: o treinamento em sua especialidade e/ou de seus próprios colegas; especialidades que encontraram no conhecimento dos vasos a base para o correto desenvolvimento de seus diagnósticos e tratamentos (angiologistas, cirurgiões vasculares e cardiovasculares); o custo dos materiais, tanto dos dependentes da tríade agulha, fio-guia e catéter, como dos equipamentos de imagem adequados. Este grupo de nascentes especialistas, no âmbito do diagnóstico radiológico, enfrentou incompreensão em seu meio profissional. Nos departamentos de radiologia, todo o esforço concentrava-se em conhecer e aplicar os conhecimentos da radiologia diagnóstica não-invasiva. Para estes profissionais foi difícil prever que uma técnica diagnóstica invasiva se converteria em uma técnica alternativa à cirurgia convencional. Existiram grandes dificuldades para permitir que um membro da radiologia se dedicasse a seguir um novo caminho aberto pelas técnicas invasivas derivadas da técnica de Seldinger. Na maioria dos departamentos de Radiologia não se permitia a dedicação a esta área e era obrigatório realizar a formação em radiologia convencional diagnóstica, impedindo o desenvolvimento e crescimento de novas técnicas. Em

5 alguns serviços continua-se cometendo o mesmo erro, já que ninguém tem programado o desenvolvimento de centros de referência para avaliação e treinamento. Todos falam de gastos, no entanto, ninguém quer centralizar e quantificá-lo. A RxVI começou a ser aplicada como técnica diagnóstica e terapêutica em todos os campos da anatomia. Através da mesma punção e usando como base os mesmos materiais podiam-se tomar atitudes terapêuticas que evitavam a cirurgia, postergando a necessidade da mesma ou, simplesmente, colaborando com outros métodos para curar ou, ao menos, melhorar a qualidade de vida naqueles casos onde a medicina não oferecia alternativas superiores. O Dr. Andreas Gruntzig (1939-1985) nasceu em Dresden na Alemanha, formou-se em medicina na Universidade de Heidelberg. Contribuiu para o desenvolvimento dos procedimentos endovasculares minimamente invasivos ao realizar, com êxito, em 1977, a primeira a ATP mediante à utilização de um catéter-balão, basicamente similar aos utilizados atualmente. Trouxe uma idéia decisiva no desenvolvimento das técnicas minimamente invasivas. Todos os procedimentos descritos naqueles tempos conseguiram somar duas características aos procedimentos minimamente invasivos imprescindíveis a qualquer hospital de nível terciário: simplificação e eficácia. Em sua execução causam um trauma orgânico mínimo, que se manifesta em períodos curtos de internação hospitalar e redução de custos econômicos. Tudo começou a mover-se mais rapidamente. A RxVI continuava seu progresso, as técnicas já eram necessárias, entretanto, começava o perigo: o paciente, nosso objetivo único e prioritário, começava a perder sua posição devido à tecnologia, à completa ausência de regras de jogo e a um grupo de especialistas empenhados a alcançar objetivos, tanto pessoais como profissionais e amparados em seus conhecimentos históricos. A radiologia não criou programas de formação, ao menos, tão estritos como os que se exigem para conseguir o título de radiologista. A conhecida e exigente formação norte-americana obriga a um período mínimo de rotação aos residentes de radiologia pela área de RxVI para conseguir o título de especialista em radiologia. Todo um mundo terapêutico é deixado nas mãos de um treinamento praticamente nulo e mal programado. Nas décadas de 1980 e 1990, outro importante grupo de médicos deu impulso a estas técnicas em seus meios e hospitais. Podemos qualificá-lo como o tempo dos “executores”. As técnicas minimamente invasivas passaram de procedimentos praticamente desconhecidos para serem objetos de grande interesse e impulso. Foram criadas as sociedades Européia e Americana de Radiologia Vascular e Intervencionista dando impulso aos congressos científicos e outras atividades. É importante recordar a contribuição de Juan C. Parodi na descrição e difusão do tratamento endoluminal dos aneurismas da aorta abdominal mediante o implante de próteses cobertas associadas a stents. Este pas-


6 so permitiu abrir o território da grande cirurgia vascular aórtica ao terreno endovascular. A dedicação de uns poucos, a curiosidade de outros e a realidade diária fizeram o resto. Carecíamos de treinamento regrado, mas a medicina necessitava dos métodos e, uma vez mais, apesar de nós mesmos, o progresso existia. Por outro lado, os especialistas de outras áreas, amparando-se em seus conhecimentos profissionais, incorporaram técnicas (que têm em comum o método de Seldinger e os materiais desenvolvidos para este trabalho) com nula ou escassa formação. Isto toma vestes dramáticas quando o motivo principal é o paciente. Neste momento existem três elementos fundamentais nesta evolução: o paciente, a dificuldade de treinamento e o tremendo custo de toda a tecnologia. Deve-se colocar o paciente em primeiro plano, isto significa, alguém que solicita o tratamento mais correto pela equipe mais bem preparada. O segundo e terceiro elementos estão intimamente interligados, já que o desenvolvimento da tecnologia obriga ao contínuo treinamento profissional. A terapêutica tende a ficar cada vez menos agressiva, invasiva, e buscam-se mínimos orifícios para sua realização. Por outro lado, os métodos diagnósticos invasivos proliferam cada vez mais. Então, por que não criar grupos que manejem estes atos médicos, como um dia se fez com a cirurgia de modo geral, ou com a medicina interna, ainda vigente apesar das especialidades? É conhecida a limitação que tem o homem para seguir a história, limitação esta que se agrava ao nos referirmos ao tratamento da enfermidade. Saibamos aceitar a premissa embasada na experiência dos anos. Não existe regulamentação acadêmica para aprender, indicar, aplicar e atualizar-se nestas técnicas. Um dos problemas que a humanidade enfrenta hoje em dia é, sem dúvida, a evolução e o progresso. Incorporar-se ao redemoinho criador da história não é fácil. Até este momento, as aquisições humanas buscam alternativas que melhorem o já construído. O ser humano nasce forte, ativo, curioso e aprende rápido, entretanto, logo nos damos conta de nossa lentidão e rigidez para aceitar as mudanças. Não é infreqüente cair na tentação de atitudes defensivas para preservar posições, diante da suposta ameaça de novas estruturas. A postura inteligente seria, na medida do possível, fazer parte das mudanças. Tentar compreender a história e continuar seu caminho só se pode conseguir se soubermos treinar, ensinar e ajudar para que esses conhecimentos se transmitam às novas gerações. A Medicina forma parte da história e participa de todas as mudanças do pensamento. A universidade criou as especialidades como conseqüência da extensão e fragmentação dos conhecimentos. Ao serem estes cada vez mais extensos e diversos, foram criadas áreas definidas como especialidades e aos seus integrantes denominou-se Médicos Especialistas. O uso de atos terapêuticos baseados na técnica de Seldinger e o uso de vias naturais para métodos diagnósticos sobre os que começavam a aplicar atitudes cirúrgicas

Parte I

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ASPECTOS GERAIS

levaram à reafirmação da CMI. Trata-se do conjunto de técnicas diagnósticas e terapêuticas que, por visão direta, endoscópica ou por outras técnicas de imagem, utiliza vias naturais ou mínimas abordagens para introduzir ferramentas e atuar em distintos territórios da anatomia humana. A situação atual para treinamento em CMI dentro da enfermidade vascular, isto é, endovascular, é obtida, na melhor das condições, com um ou dois anos de treinamento em um determinado programa. Infelizmente, principalmente para o paciente, o método mais comumente utilizado é aquele que poderíamos denominá-lo de fly by night, que consiste em “ir a um determinado centro médico, ver um caso, fazer um caso e ensinar aos outros”. Uma alternativa oferecida pelo American Board of Radiology é a certificação em Vascular and Interventional Radiology, a qual é obtida depois de completar um ano de fellowship em intervencionismo e um ano de prática na especialidade. Após ser aprovado em exame escrito e oral obtém-se o título de Subespecialista em Radiologia Vascular e Intervencionista. Este título necessita ser revalidado a cada 10 anos. Dentro da Sociedade Americana de Radiologia foi criado um programa alternativo que inclui dois anos de clínica, dois de diagnóstico por imagem e dois de treinamento em técnicas percutâneas minimamente invasivas. Consegue-se, desta forma, dupla titulação em Diagnóstico e em Técnicas Minimamente Invasivas. Similar programa foi criado para treinamento em Neurologia Intervencionista, unindo-se a Sociedade Americana de Neurocirurgia, a Academia Americana de Neurologia e a Sociedade Americana de Neurorradiologia Intervencionista. Com o tipo de treinamento que denominamos fly by night a formação é escassa ou nula, e o suporte posterior durante a aplicação das técnicas baseia-se, na maioria das vezes, no auxílio pelo representante comercial e especialista de produto de uma determinada empresa. Este tipo de formação profissional representa altíssimo risco para o paciente. A recolhida parcial de dados, baseada na maioria das vezes em médicos com diferentes níveis de experiência, faz com que atualmente seja difícil reconhecer a veracidade dos dados publicados. De tudo isto ressalta o aumento da morbimortalidade, com prejuízo ao desenvolvimento das técnicas minimamente invasivas, às diferentes especialidades médicas, às empresas empreendedoras nesta nova tecnologia e, principalmente, ao paciente. O que se pode fazer? Criar uma estrutura com a intenção de crescer, desenvolver, formar e aplicar a nova época cirúrgica: a CMI. Utilizemos um exemplo. A Medicina dispõe de três tipos básicos de exercício da mesma: atividades clínicas, cirúrgicas e os denominados básicos-centrais. Entre os primeiros está o exemplo da cardiologia; entre o segundo, ao terminar a especialização, surge o cirurgião geral; e finalmente, como especialidade básica tem-se a radiologia que, ao final da residência, forma os radiologistas.


Capítulo 1

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HISTÓRIA, ESTADO ATUAL E TENDÊNCIAS

A história tem demonstrado que, por diferentes motivos, nos três exemplos utilizados surgiram alternativas terapêuticas diretamente envolvidas com o especialista em questão. Todos eles compartilham da necessidade e desejo de utilizar a CMI em sua atividade diária. Entretanto, seria desejável que existisse um período de especialização nestas novas atitudes, sendo inicialmente mentais e posteriormente manuais. Existem razões para o treinamento em CMI. Dessa forma, ao completar esta nova fase de formação, o cardiologista passaria a ser cardiologista intervencionista, o radiologista especialista em técnicas endoluminais e intervencionistas e o cirurgião especializado em CMI. Diante de tudo isso, não podemos nos esquecer do conhecimento básico da especialidade e cair no erro de que os profissionais recebam mais formação de CMI que de sua própria especialidade. Em outras palavras, um cirurgião deve formar-se primeiro em “cirurgia a céu aberto” para posteriormente completar sua capacitação em CMI. Isto representa um ato de grande responsabilidade na formação das gerações futuras. Segundo este raciocínio, deve-se pensar em quatro perguntas: 1. Como fazê-lo? Necessita-se, urgentemente, desenvolver um programa médico de formação que esteja homologado pelo pertinente sistema de saúde de seu país, seguindo-se, por exemplo, o modelo do American Board of Medical Especialities. Destaca-se, hoje em dia, a formação com treinamento em simuladores virtuais e em modelos de experimentação.

7 2. Onde fazê-lo? Os serviços médicos universitários devem assumir a responsabilidade inicial deste tipo de formação profissional e atuar diretamente com as sociedades responsáveis por cada especialidade. 3. Quanto tempo? Como qualquer outra especialidade médica, a formação e capacitação não deveriam ser inferior a dois ou três anos. 4. A recertificação é necessária? Com base em cursos de Certificação Médica Especializada seriam obtidas certificações específicas juntos às sociedades legais para novas tecnologias e recertificações obrigatórias a cada cinco anos. As sociedades deveriam sentar-se à mesa e debater o cerne do problema, deixando de lado as vaidades e interesses profissionais, com o objetivo de uma certificação e qualificação uniformizadas. Não se trata de criar uma nova especialidade, mas em se regularizar e certificar um treinamento uniforme em técnicas minimamente invasivas com recertificação periódica. Não se deve esquecer que o ciclo da ciência em Medicina é compreendido por aprender, estruturar conceitos, criar, compartilhar, ensinar, liderar, atualizar-se, planificar, organizar, unificar e globalizar para o correto manejo do conhecimento que proteja nosso principal objetivo: o paciente. Em geral, e particularmente em Medicina, trabalhar juntos significa ir mais longe. Não se deve esquecer que ir juntos é o começo, seguir juntos é progresso, trabalhar juntos é sucesso e, em nosso caso, não deve ser outro que ajudar a nosso único objetivo: o paciente.


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