Uma Viagem Empreendedora na Máquina do Tempo

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Ficha Técnica Título: Uma Viagem Empreendedora na Máquina do Tempo Autoria: Município de Alenquer. Textos: Rita Pereira Ilustração: Ana Gabriela Paginação: Rita Amorim Revisão ortográfica: Márcia Ramalho 1.ª Edição, Alenquer, outubro de 2019 Depósito Legal: ________________________ ISBN: ________________________ Tiragem: 1000 exemplares Copyright: Município de Alenquer Reservas de Direitos de Autoria


Os países mais desenvolvidos têm vindo a alicerçar as suas políticas públicas em dois eixos: a promoção de sistemas democráticos participativos e de cidadanias ativas; e a capacitação dos seus jovens com uma mescla de competências técnicas e soft skills. As exigências e a evolução das sociedades modernas requerem pessoas preparadas para abraçar desafios globais e imprevisíveis. Trata-se efetivamente de uma mudança de paradigma. Os sinais que se observam no horizonte dizem-nos claramente que os empregos para a vida estão a findar e cabe às instituições públicas concretizar políticas e medidas que permitam, dentro do possível, preparar e dotar as gerações mais jovens com as habilidades e saberes necessários para vingar nesses novos cenários. Nesse âmbito, o papel das autarquias, cada vez mais relevante no domínio da educação, até por via da transferência de competências operada no ano em curso, será fulcral no sentido de desenvolver projetos que promovam o sucesso educativo, a elevação dos níveis de capacitação, a potenciação da educação não formal e informal, bem como o aumento da empregabilidade, da cidadania ativa e qualificada. Corroborando a ideia de Joel Baker de que “a visão sem ação não passa de um sonho 4

e que a ação sem visão é só um passatempo, mas que a visão com ação pode mudar o mundo”, a autarquia desenvolveu o seu Projeto Educativo – Empreendedorismo nas Escolas (PEEE). Começámos no ano letivo de 2014/15, com apenas 3 turmas piloto do 4.º ano do 1.º ciclo do Agrupamento de Escolas Damião de Goes. Volvidos 4 anos, o projeto adquiriu contornos de unidade curricular e está implementado nos quatro agrupamentos e na escola secundária do município, estando celebradas parcerias com a Betweien, Associação Industrial Portuguesa e Universidade Europeia. Tudo isto implicou um enorme investimento do município. Um esforço invisível a curto prazo, mas que terá um retorno incalculável a médio e longo prazos. A promoção da criatividade, do espírito de iniciativa e da autonomia dos alunos não garante per si o surgimento de empresários, nem tal é nosso objetivo. Mas a experiência ensinou-nos que ninguém nasce empreendedor, mas que podemos desenvolver as competências necessárias para se ser empreendedor. Acresce que, seja em que área for, as nações florescerão sempre mais se puderem contar com os contributos de homens e mulheres responsáveis, com massa crítica, capacidade de decisão, espírito sonhador e concretizador, capacidade de liderança, originalidade, versatilidade, resiliência e persistência. Serão essas pessoas que saberão transformar dificuldades em oportunidades e que, à semelhança do herói do nosso livro, Damião de Góis, abrirão novos horizontes ao nosso município, país e, quem sabe, à própria humanidade. Pedro Miguel Ferreira Folgado Presidente da Câmara Municipal de Alenquer 5


Muitos falam da máquina do futuro, que, se existisse, nos transportaria no tempo, onde poderíamos ver carros voadores e robôs por todo o lado. Mas poucos falam da máquina do passado, aquela de onde eu vim… A Maria é uma rapariga cheia de ideias, que gosta de inventar e criar coisas novas. Nem sempre as suas ideias correm bem. O Miguel é o seu melhor amigo, mas gosta pouco das ideias da Maria. Acha sempre que vão correr mal e que o melhor é não fazerem nada de diferente, além das brincadeiras habituais do dia a dia.

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Naquele dia, a Maria acordou inspirada e foi a correr, ainda de pijama, para a garagem, para começar a construir algo… diferente e muito estranho. Como de costume, o Miguel apareceu à hora combinada. Qual não foi o seu espanto, quando entrou na garagem, e encontrou uma máquina gigante, quase do tamanho de um adulto e num formato parecido com o de um foguetão. Lá está outra vez a Maria a inventar, pensou ele. - Maria, o que é isto? Mais uma das tuas ideias??? - Miguel, esta é a melhor ideia de sempre, vou construir uma máquina do tempo, mas que nos leva ao passado! Com ela, vou trazer para o presente pessoas importantes da nossa história.

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O Miguel estava confuso: - A máquina do tempo? Mas, como nos leva ao passado?! Como é possível? Não vale a pena tanto trabalho, não vai resultar. A Maria não ouviu o Miguel, de tão empolgada que estava, e sabia que esta seria uma grande ideia, seria, na verdade, a sua melhor ideia. E assim continuou, enquanto o Miguel olhava para ela, surpreendido. - Miguel, preciso da tua ajuda, passa-me as ferramentas, a fita-cola, o cartão, a tesoura… O Miguel não estava nada animado e preferiu ficar apenas a observar.

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A máquina do passado estava pronta! Realmente, era estranha, mas tinha um aspeto muito engraçado, a Maria era muito criativa. Estava na hora de colocar a ideia em prática, mas o Miguel não conseguia deixar de ter medo do resultado. - Maria, isto não vai correr bem, é melhor não experimentares. A Maria continuava numa excitação tal que nem ouviu o Miguel. Carregou no botão vermelho, com a palavra “Iniciar”, e os dois amigos fecharam os olhos, ele de medo e ela como que a pedir um desejo. - Do passado bem antigo, espero que apareça uma personagem para o presente bem atual.

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E num solavanco, no meio de uma cortina de fumo, apareci eu, Damião de Góis. Eu, na minha altura, sempre adorei viajar e, quando soube que havia uma máquina do tempo, não perdi tempo e fui o primeiro da fila. Quando os dois amigos abriram os olhos, lá estava eu, com as minhas roupas antigas, bem características do século XVI, e cheio de vontade de conhecer este mundo novo. Os dois amigos nem queriam acreditar, principalmente o Miguel, que achava que as ideias da Maria nunca iriam dar certo. A Maria apressou-se a começar o interrogatório. - Quem és tu? De que ano és? O que fazias? Como viajaste na minha máquina?

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Foi um chorrilho de perguntas que, só de ouvir, já aborrecia. Rapidamente a interrompi, as perguntas eram tantas que me estavam a deixar baralhado. - Olá, amigos do presente! Eu sou o Damião de Góis, uma personalidade muito importante de Alenquer. Foi aqui que nasci, há muitos anos, mais exatamente, em 1502. Antes de vos responder a qualquer pergunta, quero saber como vim eu aqui parar. Quem inventou esta máquina? O Miguel tomou a iniciativa de falar, embora estivesse muito nervoso e acanhado. - A ideia foi da Maria, aliás, as ideias são sempre da Maria. Ela tem muitas ideias, algumas sonhadoras, como esta, e está sempre a tentar criar coisas novas. Eu não gosto nada disso, acho sempre que vai correr mal.

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Percebi que os dois amigos eram muito diferentes e acabei por defender um bocadinho a Maria. - Miguel, por vezes, as pessoas persistentes e com ideias diferentes assustam as outras, pela criatividade, ousadia e energia, mas é importante criar e fazer sempre mais e melhor. Eu também fui assim, procurei sempre ter e dar a conhecer ao mundo novas ideias. A Maria continuava de boca aberta a olhar para mim e a sua curiosidade era cada vez maior. Percebi que estava na hora de responder às suas perguntas. - Por favor, conte-me tudo sobre si! - conseguiu ela dizer. - Ui! Contar tudo sobre mim levaria horas, semanas, meses ou até anos! Tive uma vida cheia de aventuras, mas terei de reduzir muito a minha história, porque esta viagem no tempo apenas me deixa ficar no presente durante uma hora.

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Os amigos sentaram-se em silêncio, de olhos arregalados e ansiosos por me ouvir. Sempre adorei contar histórias e, agora, poder contar a história da minha própria vida era muito emocionante. Uma hora passou a voar, mas consegui contar muitas das minhas aventuras. Falei das viagens que realizei por Inglaterra, Dinamarca, Polónia, Lituânia… e Itália, onde fiquei vários anos a estudar, na Universidade de Pádua. Eu adorava aprender! Não consegui dizer o nome de todas, mas ainda descrevi algumas das pessoas importantes que conheci ao longo da minha vida, entre músicos, poetas e navegadores. Vão ouvir falar de algumas dessas pessoas nas vossas aulas de história e, na verdade, de mim também!!

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Foi durante as minhas viagens pela Europa que descobri um modo de pensar que influenciou e marcou as pessoas dessa época, chamaram-lhe “Humanismo”. Esta maneira de pensar foi difícil de explicar aos dois amigos, mas está relacionada com a forma como víamos as pessoas na minha época, eu acreditava na importância do ser humano. Defendia que as pessoas estavam no centro de tudo. A verdade é que, quando falei disto em Portugal, ainda ninguém conhecia. Como era muito diferente, nem sempre fui bem aceite, mas nunca desisti de defender o que acreditava, pois sempre achei que a humanidade iria mudar. A Maria contou-me que sou agora considerado uma personagem importante da história de Portugal e que, em Alenquer, existe um museu sobre mim. Adorei essa ideia! Eu, Damião de Góis, figura de museu… ah, ah, ah!

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Ainda consegui contar aos meus dois novos amigos que, por causa de defender o que acreditava, meti-me em apuros, durante uma invasão francesa. Também lhes falei sobre os livros que escrevi, que algumas pessoas gostavam e aceitavam e outras nem tanto. Nem sempre foi fácil ser o Damião de Góis, mas nunca deixei de escrever e publicar grandes obras. No final da conversa, falei do meu casamento com a Johanna Van Hargen, uma bela holandesa que me preencheu o coração. À medida que o tempo passava, a Maria parecia nervosa, não conseguia ficar quieta no seu lugar e agitava a mão, pedindo permissão para falar:

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- Desculpe interromper, Sr. Damião de Góis! Surgiu-me uma grande ideia. Estas histórias que nos está a contar não podem ficar só comigo e com o Miguel, todos têm de as conhecer! Vamos criar um projeto para mostrar a história da sua vida a todos. Organizamos exposições, visitas guiadas ao seu Museu, mostramos os seus livros, pedimos a grupos musicais para apresentar as suas obras…há tanto que podemos fazer. Aquela ideia entusiasmou-me muito, mas foi o Miguel que interrompeu: - Lá estás tu com as tuas ideias inovadoras… para isso precisamos de dinheiro, de mais pessoas e, provavelmente, não iria ninguém às nossas exposições. Eu não sei se é boa ideia. Gostei muito de conhecer o Sr. Damião de Góis, mas acho que é melhor ficarmos por aqui. A Maria desanimou um pouco e sentiu-se até inibida.

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- Desculpe, Sr. Damião de Góis, eu não sei porquê, mas as ideias estão sempre a surgir nos meus pensamentos, não consigo parar. Sou mesmo uma sonhadora! O meu pai até já me explicou que vou ser muito boa numa coisa que se chama “Empreendedorismo”. É uma palavra nova, mas o meu pai explicou-me que é quando tomamos a iniciativa de criar novas ideias e de as fazer acontecer. Ele disse que isso é bom e que me pode ajudar a ser melhor. Aquela palavra estranha, “Empreendedorismo”, eu não conhecia bem o que significava, mas ter muitas e muitas ideias eu sabia bem o que era, oh se sabia…!

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- Maria, para criares boas ideias, tens de ser criativa, querer realmente mudar ou fazer algo diferente, é preciso muita coragem para isso e parece-me que tu tens essa coragem. Além de coragem, precisas de ser organizada e estruturar bem as coisas, para conseguires ter bons resultados. Acho que este projeto sobre a minha história de vida é excelente e podemos criar ótimas atividades. Miguel, precisamos também da tua ajuda, se todos trabalharmos, vai correr tudo bem. Apesar de o Miguel não ser tão empreendedor como a Maria, acabou por aceitar ajudar. A Maria foi muito organizada, planeou tudo com muito cuidado, tal como eu aconselhei. Para angariar algum dinheiro para as atividades planeadas, a Maria teve algumas ideias, como vender limonada e bolos.

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Eu acabei por voltar ao passado, mas pedi que, mais tarde, voltassem a carregar no botão vermelho da máquina do passado, para eu regressar e saber como tudo tinha corrido. Os dois amigos juntaram-se a muitos outros amigos que também gostaram da ideia. A Maria e o Miguel decidiram guardar segredo sobre o sucesso da máquina do tempo. Essa experiência e a conversa que tinham tido comigo seria um segredo só nosso.

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A Maria foi a líder daquele grande grupo de amigos e conseguiu organizar tudo! Na escola, foi realizada uma grande exposição com trabalhos feitos pelos alunos sobre a minha vida, que todas as pessoas podiam visitar. Também conseguiu organizar várias visitas ao Museu, que já existe em Alenquer, com o nome de Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição. Promoveu vários concertos com as minhas obras e as bibliotecas locais, todos os dias, contavam histórias aos seus visitantes sobre as minhas aventuras. Parecia impossível que um grupo de crianças, com apenas 10 anos de idade, conseguisse algo tão importante, mas com a ajuda de todos, tudo foi possível. Afinal, o pai da Maria tinha razão, isto de ser empreendedor era bastante importante e até divertido, só tinham de ser organizados, criativos, responsáveis, persistentes e, no fundo, tudo acontecia.

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O prometido é devido e os amigos, semanas mais tarde, depois de tudo acontecer, voltaram a fechar-se na garagem da casa da Maria, carregaram no botão vermelho da máquina do passado e eu apareci. A Maria contou-me tudo! Desde o plano até à realização de todas as atividades. Foi realmente uma excelente iniciativa, que envolveu muitas pessoas de Alenquer. - Sr. Damião de Góis, o projeto correu muito bem, todas as pessoas estavam satisfeitas por participar e agora as suas histórias, aventuras e obras são conhecidas por todos. Mas, temos mais uma grande novidade…

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- Que alegria tão grande saber do sucesso do vosso projeto. Por favor, conta-me essa grande novidade, estou ansioso por saber. - Como o projeto correu muito bem, recebemos um convite.... Vamos fazer as mesmas atividades, noutras localidades, para que toda a gente conheça a sua história. Eu sei que vai ser um trabalho difícil, e muito grande, mas todos juntos vamos conseguir.

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O Miguel também estava diferente, agora também ele estava ansioso por falar. - Não estava muito recetivo a esta ideia da Maria, mas adorei participar. Acho que percebi porque é que o pai da Maria dizia que ser empreendedor é uma coisa boa. Realmente, é muito bom pensar, organizar e fazer acontecer algo diferente. Maria, prepara-te, acho que vou começar a ter ideias ainda melhores que as tuas. Que alegria tão grande ver o Miguel e a Maria motivados com o empreendedorismo e, claro, que bom foi saber que agora mais pessoas conhecem a minha história. E o que fiz neste mundo. Fui um historiador, um pensador, um humanista, um viajante! Espalhei as minhas ideias e o meu conhecimento por onde passei, lutei por aquilo em que acreditava! Por vezes, tive bons resultados, outras vezes, nem tanto, mas nunca desisti. Foi por tudo isto que me tornei uma das personalidades importantes da história.

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Sabes que mais… já chega de falar de mim. Antes de voltar para o passado, quero deixar-vos um conselho: também tu podes ser como o Miguel e como a Maria! Pensa, planeia e cria! Podes sempre fazer mais, melhor e diferente, para isso é preciso seres criativo, persistente e líder, também correres alguns riscos, mas, sobretudo, acreditares em ti. E, com isto… tudo pode acontecer!!!!!!

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A Maria é uma menina empreendedora que está sempre a imaginar e a criar, fazendo acontecer o que imagina. É audaz e não receia o resultado das suas criações, se errar volta a tentar!! Já o seu amigo Miguel observa-a, com algum receio e muita cautela, sempre que ela se põe a inventar. Ele bem tenta demovê-la dos seus projetos tantas vezes arrojados e revolucionários, sempre sem sucesso. Mas, tudo muda, quando, numa descoberta inédita, a Maria consegue trazer do passado, uma ilustre figura nacional, natural de Alenquer, que, com as suas conquistas e história de vida, inspira o Miguel a ser, tal como a Maria, um empreendedor! Queres saber quem é esta figura nacional e o que é ser empreendedor/a? Não precisas de viajar para o passado porque o mesmo vem até a ti nesta história protagonizada por estes dois amigos. Abre este livro e embarca com eles nesta viagem no tempo!


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