100 anos da produção de loiça sanitária na Fábrica de Loiça de Sacavém Mostra documental – julho a dezembro 2019 Museu de Cerâmica de Sacavém Centro de Documentação
100 anos da produção de loiça sanitária na Fábrica de Loiça de Sacavém
4
Apresentamos um percurso documental, entre 1894 e 1993 pela loiça sanitária, produzida na Fábrica de Loiça de Sacavém, a partir do acervo do Museu de Cerâmica de Sacavém - Arquivo Empresarial Fábrica de Loiça de Sacavém. Neste, com grande destaque para os copiadores de correspondência expedida, atas de reuniões, fotografias, publicações e, acima de tudo, as tabelas de preços e catálogos desta produção de loiça sanitária.
Seção de Loiça Sanitária 1920-1930
Expositor Fábrica de Loiça de Sacavém 1931
5
Na Europa, as casas de banho, com um espaço separado a integrar as divisões de uma casa, surgem no final do século XIX, em simultâneo com a expansão das redes urbanas de água e saneamento. A legislação sanitária, entendida como um progresso nas questões de saúde pública, tem início em Inglaterra a partir de 1855 e torna-se uma escola a seguir no mundo ocidental. Na indústria de cerâmica, destaca-se, em Inglaterra, a Fábrica Twyfords – Sanitary Appliances, ao apresentar um catálogo ilustrado em 1894 sobre técnicas, mecanismos, peças e decorações, no domínio da loiça sanitária. A gestão inglesa da Fábrica de Loiça de Sacavém, não foi alheia a este desenvolvimento da loiça sanitária e, em 1894, nos copiadores de correspondência da Fábrica, há menção a encomendas de loiça sanitária: bacias de retrete, bacia excêntrica com pala e urinóis de canto e face, o lavatório Inglês, e afirma-se que as bacias levam o dístico “Sanitas”. Em 1899 numa carta dirigida a um cliente de Coimbra, a Fábrica refere: “Temos variedade de bacias para o fim que deseja. As bacias mais gastáveis e as mais modernas são as Delug e Victorias, que já têm syphão. Estas bacias saem baratas por não precisarem de obra alguma de carpinteiro.” Também em carta de 1901, apontam a Bacia Excelsior (pág. 7 a 9). Em 1905, a Real Fábrica de Louça em Sacavém – Gilman & Commandita apresenta uma edição de Preços Correntes, onde o texto de abertura desta Tabela, chama a atenção dos consumidores para as bacias de retrete, iguais às inglesas. Nesta constam, para além da loiça doméstica, serviços de jantar e chá, peças decorativas, artigos para farmácia e loiça de higiene, e também a loiça sanitária com os formatos Sanitas, Excelsior, Motolite, para: bacias de retrete excêntricas, cónicas, redondas, pias, bidés e lavatórios para parede, e ainda sifões, tanques de autoclismo, e urinóis para carruagem (pág. 10 e 11). A Fábrica de Sacavém acompanhava a produção de loiça sanitária no estrangeiro, como podemos verificar nas publicações existentes no Arquivo Empresarial Fábrica de Loiça de Sacavém, onde constam revistas de sanitária, nomeadamente: Modern Sanitation, 1909, Pittsburgh – EUA. Em 1921 editam uma tabela que designam de Lista de preços da louça sanitária, onde acrescentam novos formatos como o Cascade, Invicta, Hygienica e o Inglez (pág. 12). A Tabela de Preços da Loiça Sanitária de 1927 exibe a primeira marca para a loiça sanitária. Esta esteve em vigor até aos anos 60 do século XX (pág. 13). Durante os anos 30 do século xx, a produção de loiça sanitária em faiança vitrificada aumenta e diversifica-se com novos formatos, bem como aumentam os acessórios, ao mesmo tempo, inicia-se nova produção de loiça sanitária em grés mais resistente para um amplo uso público, em hospitais, outros serviços públicos e laboratórios (pág. 14).
6
Carta de 3 de agosto de 1894
7
Carta de 21 de junho de 1899
8
Carta de 12 de fevereiro de 1901
9
Real Fábrica de Louça em Sacavém – Gilman & Commandita, 1905 10
11
Lista de preรงos da louรงa sanitรกria, 1921
12
Primeira marca para a loiça sanitária
Também o primeiro catálogo ilustrado surge nesta década, um catálogo impresso pela Bertrand (Irmãos), Lda. – Lisboa, desta forma passamos hoje a conhecer as peças de loiça sanitária que a Fábrica já produzia à época deste Catálogo de Loiça Sanitária – Fábrica de Loiça de Sacavém. Este catálogo apresenta a diversidade de produção de formatos: 12 bacias de retrete; 4 bidês; 3 colunas para lavatório; 17 lavatórios; um sifão, dois tanques para autoclismo; oito acessórios; três urinóis; dois tanques para laboratório, um vazador para sala de operações. O mesmo catálogo ostenta, na folha de rosto, a marca da loiça sanitária da Fábrica, com o seguinte texto: “Esta marca é a garantia da origem e da qualidade. Toda a loiça que não leve esta marca não é SACAVÉM”, (páginas 15 a 29). Durante os anos 40 e 50 do século xx, a produção melhora em termos técnicos e prossegue com a introdução de variantes nos formatos existentes e novos formatos, conforme imagens no Catálogo de Loiça Sanitária de 1952 (pág. 30).
13
Tabela de Loiças Sanitárias em Grés, 1937 14
Peças de Loiça Sanitária - Catálogo de Loiça Sanitária, 1937 15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
Peças de Loiça Sanitária - Catálogo de Loiça Sanitária, 1952
30
No livro de reuniões de encarregados (1945 – 1958) sobre assuntos técnicos, foram discutidos vários assuntos sobre a produção de loiça sanitária, conforme podemos ler na ata de reunião do dia 10-05-1957 - Sanitária. Na reunião de 04-09-1957 – ponto 19, apresenta-se a proposta para a construção de novas instalações do sector de loiça sanitária e a compra de novos fornos túneis elétricos – GIBBONS (pág. 31). Posteriormente, nas reuniões da administração constantes no livro de 1958 a 1962, verificamos que, a 7 de maio de 1959, o novo forno túnel Gibbons começou a trabalhar e ficou referenciado na Fábrica, como Forno Túnel Nº 3, de acordo com a reunião de 20-5-1959 – ponto 1- Sanitária (pág. 31).
31
32
De acordo com as tabelas de preços, entre 1961 e 1966 termina a maioria dos formatos de loiça sanitária, em produção entre 1920 e 1965. A partir dos anos 60 do século XX, entra para a administração, a terceira geração Gilbert, com Clive Gilbert, tendo um papel de destaque na modernização do fabrico de loiça sanitária. Por esta razão, recolhemos o seu testemunho que passamos a transcrever em dois momentos importantes desta produção. “Por volta dos anos 60 os Serviços Comerciais da Fábrica de Loiça de Sacavém concluíram que era necessário lançar um modelo de loiça sanitária, mais moderno e atualizado, comparado aos que faziam parte da gama de sanitários. A equipe de modelação de loiça sanitária lançou-se ao trabalho e criou em primeiro lugar um lavatório que teve a total aceitação dos Serviços Comerciais. No entanto, as restantes peças para completar o conjunto foram mais difíceis de conseguir e levou várias semanas até se chegar ao design ideal. Este conjunto teve um sucesso enorme e durante muitos anos foi o que mais vendas teve em Portugal, de tal forma que várias outras fábricas copiaram o formato Superbus não só neste país, mas também em Itália.” “A Fábrica de Loiça de Sacavém forneceu durante muitos anos loiça sanitária para a CP – Comboios de Portugal. Não tenho a certeza de quantos modelos diferentes de lavatórios e bacias eram produzidas, mas eram um número significativo, pois a CP ao longo dos anos encomendou carruagens de vários modelos e de vários fabricantes de diferentes países da Europa, e cada carruagem eram equipadas com loiça diferente. O problema para a Sacavém, no entanto, era que a CP encomendava poucas peças de cada vez, e isto criava problemas junto dos oleiros de loiça sanitária, porque cada peça era bastante complexa na sua conceção e consequentemente as perdas no fabrico eram bastante elevadas. Ao iniciar a minha vida na Sacavém tentámos ultrapassar este problema, através de um contacto com os serviços técnicos da CP, explicando o nosso problema e a necessidade de o resolver. Após algum tempo de estudos, foi possível eliminar um grande número de diferentes modelos de lavatórios e bacias, de tal forma que que ficou reduzido a uma bacia de retrete e dois lavatórios.” Em 1960 decidem e registam um novo formato Superbus, este conjunto de loiça sanitária esteve em produção até ao fecho da Fábrica. Também em 1962 referem que ficou resolvido designar a loiça Superbus decorada, como “loiça Superbus decorada à mão” e com mais 30% sobre a loiça branca (Decor nº 1267-Camélia, Decor nº 495-Orla, Decor nº 476-Miosótis).
33
Entre 1965 e 1966 apostam numa nova marca para a loiça sanitária, conforme consta no Boletim da Propriedade Industrial nº 6 de 1965, editado no Apêndice ao Diário de Governo, de 22 de fevereiro de 1966. Assim a tabela de preços de 1966 já apresenta o novo logótipo da Fábrica e a loiça agrupada em conjuntos, designados de modelos e respetivos acessórios: SUPERBUS; OFIR; INGLÊS; SAGRES (pág. 35). Contudo, a loiça sanitária anterior que continua, é agora agrupada na designação de PEÇAS DIVERSAS e os acessórios agora chamados - modelos Diversos. Também alguma loiça em grés-vitreo continua, mas em 1968 passa a ser produzida também em vitreous china, ou seja, todos os produtos sanitários são agora, loiça vitrificada.
34
35
Na Tabela de preços da loiça sanitária vitrificada (vitreous china) de novembro de 1970, os Modelos passam a designar-se Série, e a qualidade de fabrico varia entre NOR (normal), ECO (económica), EXTRA (superior). Para as Séries Superbus e Ofir, a loiça monocolor e bicolor, produzia-se nas seguintes cores: branco, amarelo, azul, azul pavão, bronze, cerize, cinzento, framboesa, lilás, preto, rosa, verde, verde abacate, verde montanha. Os acessórios só são produzidos em monocolor e decorados para a Série Superbus. As Séries Sagres e Inglês só se fabrica na cor branca. Assim em 1970, a fábrica produz: Série Superbus – Grande luxo; Série Ofir – Luxo; Série Inglês – Tradicional; Série Sagres – Económica; Peças diversas e Acessórios. “Num total de 690 peças diferentes, como resultado da apresentação de alguns dos seus modelos nas três variantes: bicolor, monocolor e decorada.” De destacar também em 1970, a existência de tabelas específicas para retalhistas do Continente e Ilhas, e outra para Portos em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé. Por outro lado, as tabelas de 1970 já ostentam o slogan “Sacavém é outra Loiça”, registado em 1965, no mesmo ano da nova marca para Fábrica. Na tabela de preços de 1977, na Série Superbus decorada sai o motivo Camélia. Em 1978, acrescentam para as peças em monocolor – vidros especiais. A Fábrica produziu também loiça sanitária para hotéis e num destes catálogos listam os seguintes hotéis: Holiday Inn, Hotel Casino, Hilton, Savoy, Aparthotel, Sheraton – Madeira; Sheraton, Penta, Roma, Altis, Embaixador, Mundial e Eduardo VII – Lisboa; Polana Mar - Lourenço Marques; Trópico – Luanda; Penina, Lagos – Algarve; Templários – Tomar; Eurosol - Leiria; D. João V - Viana do Castelo; Afonso III – Braga. Em 1984, a Série Inglês já não consta na Tabela, mas os modelos Superbus, Ofir e Sagres continuam em produção, embora o Superbus deixe de ser decorado. Contudo acrescentam novos modelos: Delta, Impala, Savoy. Também entram novas cores: azul Sorrento e Salmão, estas últimas tem um acréscimo de 20% no preço. A Série Savoy, apresenta o decor ROMA sobre a cor Jasmim, e o decor ATENAS sobre a cor castanho siena, com um acréscimo de 25% no preço. Na reunião de Administração de 02-06-1986, referem novas cores para a loiça sanitária: Bone, Caramel, Bermuda, Rosa Sunset e mantêm as cores Bronze, Jasmim, Sorrento, Bahama Internacional, ao mesmo tempo estudam os fumados na base do rosa sunset e azul. Indicam também os formatos para exportação (normalização) englobados num só conjunto: Lavatórios 1º e 2º Ofir; Coluna e Cisterna novas Ofir; Bidé e Bacia Sagres. Na tabela de 1988 permanecem as Séries: Superbus, Ofir, Impala, Savoy, Sagres e uma nova Série Miramar, com os respetivos acessórios, e as Peças DIVERSAS (espaços públicos). Contudo, acrescentam o lavatório Delta na Série Ofir; o lavatório médio na Série Savoy; a bacia compacta com descarga à parede, Euro-Sagres (pág. 38). 36
Catálogo Série Ofir
Catálogo Série Sagres
Catálogo Série Alvor e Impala 37
Catálogo Série Savoy
Catálogo Série Miramar
38
Durante estes 100 anos de produção de loiça sanitária, muito foi o trabalho de pesquisa e ensaios nos laboratórios (cerâmico, físico e químico) da Fábrica, para continuamente melhorar a qualidade da produção. Os documentos da produção, os ficheiros de composições para a pasta e vidros da loiça sanitária, bem com as fotografias e diapositivos dos espaços de laboratório são a prova material desta investigação.
Composição de vidro, 1936
39
Composição de pasta, 1946 40
Laboratรณrio, 1948
Laboratรณrio, 1962 41
42
Ficha técnica Edição: Câmara Municipal de Loures Julho de 2019 Autores: Conceição Serôdio e Carlos Luís, Técnicos do Museu de Cerâmica de Sacavém Museu de Cerâmica de Sacavém Instalado num edifício construído de raiz, nos antigos terrenos da Fábrica de Loiça de Sacavém, o Museu de Cerâmica de Sacavém dedica-se, desde 2000, ao estudo da história e da produção desta Fábrica, bem como do Património Industrial do concelho de Loures. Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém O Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso é um serviço público do Museu de Cerâmica de Sacavém. Responsável pela gestão do acervo documental do Museu: o Arquivo das Fábricas de Loures, documentação única do património industrial do concelho, que mostra a arte e o conhecimento na Fábrica de Loiça de Sacavém, Fábrica de Papel da Abelheira, Fábrica Móveis Olaio, Fábrica Nacional de Margarina, Companhia Portuguesa de Trefilaria. De igual modo, gere também a Biblioteca especializada em Artes, Cerâmica, Indústria, História Económica e Social, Museologia, Diários do Governo, Estatística industrial e comercial, Enciclopédias, Dicionários.
43
44
45
Contactos dc_museus@cm-loures.pt 211 150 536 Horário De terça a sexta-feira Das 10:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:00 Localização Urbanização Real Forte Rua Álvaro Pedro Gomes 2685-145 Sacavém GPS: Lat: 38,7941442 Long: -9,1024132
www.cm-loures.pt
facebook.com/MunicipiodeLoures