MOSAICOS CERÂMICOS - FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM - 50 anos de produção contados pela documentação

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MOSAICOS CERÂMICOS FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM 50 anos de produção contados pela documentação

Mostra documental 2 de janeiro a 31 de julho 2020 Museu de Cerâmica de Sacavém Centro de Documentação



MOSAICOS CERÂMICOS

FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM 50 anos de produção contados pela documentação

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Os Romanos introduziram na Europa os pavimentos com mosaicos à medida, que ocupavam territórios. Esta arte foi esquecida até ao século XII, altura em que os monges Cistercienses desenvolvem os mosaicos, com diversos padrões, para os pavimentos de catedrais e igrejas. Com a Revolução Industrial e novas técnicas de Arquitetura e Arte, começaram a surguir, um pouco pela Europa e América, pequenos quadrados de cerâmica, que foram sendo aperfeiçoados e mais tarde foram organizados em composições decorativas, dando origem a belos pavimentos em ambientes de interior e exterior de edifícios públicos e privados. Em Inglaterra, a manufatura dos mesmos tornou-se cada vez mais perfeita e elaborada. Estes mosaicos cerâmicos possuíam a vantagem de serem um produto duradouro e de fácil limpeza e higiene. A mistura de cores e formatos permitiu elaborar intrincados designs em grandes e pequenos espaços. A Fábrica de Loiça de Sacavém acompanhou a evolução desta produção de mosaico cerâmico, ao produzir entre 1927 e 1977, belas e coloridas composições. A documentação da fábrica indica que muitos foram os edifícios onde estes pavimentos foram aplicados, tais como: hospitais, instituições militares, mercados, fábricas, escolas, hotéis. As composições decorativas podem ser observadas nos catálogos, assim como as medidas, os formatos e os preços, nas tabelas. Mas também a parte técnica, nos vários ensaios de material solicitados ao Laboratório de Ensaio e Estudo de Materiais, e nos ficheiros de barros, tintas e vidros. As encomendas são apresentadas na correspondência com os clientes. O final desta produção pode ser aferido nos relatórios de controle de gestão. Descubra connosco esta pouco conhecida produção de mosaicos cerâmicos, desta importante fábrica de cerâmica do concelho de Loures. 5


Do acervo do Museu de Cerâmica de Sacavém - Arquivo Empresarial Fábrica de Loiça de Sacavém (1877-1994) destacamos, nesta Mostra Documental, a produção de mosaico cerâmico. De acordo com os documentos deste Arquivo, a produção terá tido início a partir de 1926, pois neste ano a Fábrica solicitou, ao Laboratório de Ensaio e Estudo de Materiais, um ensaio de resistência ao esmagamento de doze mosaicos cerâmicos da Fábrica de Loiça de Sacavém, tendo obtido a resposta a 24 de novembro de 1926. A avaliação técnica deste produto continuou sucessivamente, com novos pedidos de ensaios laboratoriais, nomeadamente em 1934, um ensaio de compressão, desgaste e absorção de água. Em 1936, um ensaio comparativo de desgaste entre o mármore de Estremoz e os mosaicos cerâmicos na cor mescla castanho claro e mescla castanho escuro, e, no mesmo ano, um outro ensaio comparativo de desgaste entre os mosaicos cerâmicos da Fábrica e os mosaicos hidráulicos Duroscial. Nova solicitação de ensaios de compressão, desgaste e porosidade dos mosaicos cerâmicos, em 1940.

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Em 1929, a Fábrica endereçou ofícios às secções de publicidade dos jornais O Século, Diário de Notícias e A Voz, a indicarem o modelo de anúncio desejado para os Mosaicos Cerâmicos.

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MOSAICOS CERAMICOS Nenhum pavimento iguala, na beleza e harmonia dos desenhos, na resistência, no fácil asseio, os pavimentos que se formam com os nossos mosaicos cerâmicos. Para o confirmar basta ter os seus efeitos em muitos dos nossos edifícios públicos, estações de caminhos de ferro, hospitais, etc. Nas casas particulares, que o diga quem o tem aplicado nas casas de banho, nas cozinhas, nos halls, nos terraços, etc. FABRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM” Ilustração. Propriedade de Empresa Nacional de Publicidade e Aillaud LTD. Ano 5º - Nº 114, 16 de setembro de 1930

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A comercialização deste novo produto surge no ofício de 10 de agosto de 1927, dirigido ao Administrador Geral do Porto de Lisboa, onde a Fábrica informa que produz mosaico cerâmico e não hidráulico de ladrilho de cimento. Em 1929, referiam-se aos mosaicos chanfrados para pavimentos de cavalariças, garagens e balneários.

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Na correspondência de 19 de março de 1930, a Fábrica referia a temperatura de cozimento do mosaico: 1250 graus, bem como a utilização deste revestimento nos Hospitais de São José e Santo António dos Capuchos e em Instituições Militares. 11


Em relação às encomendas, destaca-se a resposta dada à Construtora Moderna, Lda., ofício de 16 de julho de 1931, onde se apresentava o orçamento para o edifício do Hotel Avis, nomeadamente para o terraço de 320 m2 de mosaico quadrado de 20 x 20 cm, cor encarnada, com combinação de quadrados 2,5 x 2,5 cm e tiras de 4 x 15,5 cm em azul vidrado, e para a casa de jantar de 330 m2 de mosaico, formato ziguezague, cor encarnada e quadrados com relevo a cores, conforme o catálogo que havia sido emprestado a esta empresa.

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O Catálogo de Mosaico Cerâmico apresenta as composições dos números 100 a 191, numa escala de 1/10, nos formatos do número 1 a 28 e nas cores: A- encarnado, B- amarela, C- azul, D- verde, E- castanha, F- mármore, G- branca, H- cinzenta, I- cortiça, e fantasias em filete, em todas as cores indicadas.

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No ano de 1936, também constam neste arquivo fichas com composições para cores dos mosaicos cerâmicos.

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Fábrica de Loiça de Sacavém Limitada – Tabela de Preços, setembro de 1944 “O nosso mosaico cerâmico, que é feito de uma pasta tecnicamente estudada e cuidadosamente preparada, constitui a pavimentação mais resistente que se conhece. Praticamente não tem desgaste; a sua porosidade é, pode dizer-se, nula, pois é cozido a uma temperatura elevadíssima, e a sua vitrosidade torna-o impermeável. Por estas razões, é o pavimento sem rival para os edifícios e casas de grande movimento que requerem um asseio fácil – como edifícios públicos, hospitais, sanatórios, quartéis, colégios, cozinhas, casas de banho, terraços, etc. A demonstração prática está, de resto, feita nos muitos edifícios e casas que há longos anos o adoptaram.” Em relação ao catálogo anterior acrescentam acabamentos para alguns formatos anteriores, novos formatos: 29 a 40, novas cores: C-53 – azul claro, J- amarelo Nº 2, K- amarelo Nº 3, L- preto, M- azul cinzento, N- mescla nº 1 (antigo nº 3) e listam também as dimensões para todos os 40 formatos e respetivos preços.

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Em 1960 mantêm-se os 40 formatos, apresentam-se 35 novas composiçþes e reorganizaram-se as cores, em lisas e mesclas, no total de 18 cores.

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Também listam algumas obras importantes onde foram aplicados os mosaicos cerâmicos da Fábrica de Loiça de Sacavém: Hotel Ritz; Hotel Mundial; Estação de Serviço Sorel; Estação de Serviço Mercedes-Benz; Fábrica de Massas do Beato; Sociedade Central de Cervejas; Companhia de Cervejas Estrela; Companhia União de Cervejas de Angola CUCA; Companhia União Fabril Portuense; Cidade Universitária de Coimbra; Instituto Superior Técnico; Liceu Charles Lepierre; Manutenção Militar: Matadouro dos Olivais; Mercado Chão do Loureiro; Mercado de Xabregas; Ministérios da Praça do Comércio; Misericórdia de Lisboa; Novos aquartelamentos Militares: Novo Edifício da Polícia Judiciária; Piscina do Estoril; UCAL; Pastelaria Mexicana.

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Em 1961 e 1962, referem, nas atas da Reunião da Administração, o mosaico cerâmico em várias tonalidades e em preto, mas também decalques nacionais para mosaicos. Há ainda referência a encomendas de mosaicos para a Fábrica Oliva e mosaico azul para África. Na tabela de 1963 aumentaram os formatos de 41 a 51.

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Na Tabela de 1965 exibem o certificado de qualidade obtido a 30-11-1963 e há uma significativa redução do número de formato e cores. Assim, há apenas os formatos: Nº 6 e 9 – quadrado, 12 – faixa, 19 – faixa canelada, 20 – botão, 41 – canto concavo e convexo, 43 – base triangular para canto concavo, 44 – base para canto convexo, 47 – esquadria para aresta ou angra. As cores lisas não têm designação alfabética, apenas nome da cor: creme, encarnado, preto, azul, verde. Nas cores mesclas, mantêm a numeração: Nº 1 cinzento-branco, Nº 2 encarnado-preto, Nº 3 preto-creme, Nº 4 azul-branco, Nº 9 creme-encarnado (cortiça).

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As Tabelas de 1969 exibem um S estilizado como marca da Fábrica, e há quatro tabelas iguais, onde os preços mudam conforme o cliente a que se destinam: Tabela Ultramar – preços CIF; Técnico; Retalhista; Público.

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Os formatos e as cores destas tabelas de 1969 são iguais aos apresentados no último catálogo existente na documentação da Fábrica.

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“O mosaico cerâmico de Sacavém é um material de tão grandes tradições e tão largamente conhecido, que quase dispensa falar dele. O prestígio adquirido através de longos anos, e cabe aqui referir que Sacavém foi a pioneira no fabrico de mosaico cerâmico no nosso pais, e a particularidade de haver sempre procurado acompanhar a evolução técnica do produto, conferem ao Mosaico Sacavém uma reputação muito especial, que o distingue como dos mais apreciados. O seu alto grau de vitrificação e enorme resistência ao desgaste, recomendam-no como o material mais adequado para a pavimentação de zonas de grande tráfego, tais como Fábricas, Armazéns, Hotéis, Restaurantes, Garagens, Mercados, Gares, e, de um modo geral, todos os edifícios de utilidade pública – Bancos, Escolas, Clínicas, Hospitais, Quarteis, etc. Estético – Inalterável – Resistente – Duradouro – Isolante - Higiénico”

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Neste catálogo apresenta-se o “aspecto de um pavimento em mosaicos cerâmicos de Sacavém”, numa imagem da emblemática Pastelaria Mexicana em Lisboa, e o mobiliário é também de outra importante Fábrica de Loures, a Fábrica Móveis Olaio.

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A última informação encontrada no Arquivo Empresarial da Fábrica de Loiça de Sacavém, acervo do Museu de Cerâmica de Sacavém, é do ano de 1976, e em 1979 referem a “Desmontagem do equipamento do Mosaico”.

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Alguns exemplares de mosaicos cerâmicos existentes no acervo do Museu de Cerâmica de Sacavém.

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Também o mostruário de mosaicos cerâmicos exibido na exposição atual do Museu.

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Ficha técnica Edição: Câmara Municipal de Loures Data: janeiro de 2020 Autores: Conceição Serôdio e Carlos Luís, Técnicos do Museu de Cerâmica de Sacavém Museu de Cerâmica de Sacavém Instalado num edifício construído de raiz, nos antigos terrenos da Fábrica de Loiça de Sacavém, o Museu de Cerâmica de Sacavém dedica-se, desde 2000, ao estudo da história e da produção desta Fábrica, bem como do Património Industrial do concelho de Loures. Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém O Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso é um serviço público do Museu de Cerâmica de Sacavém. Responsável pela gestão do acervo documental do Museu: o Arquivo das Fábricas de Loures, documentação única do património industrial do concelho, que mostra a arte e o conhecimento na Fábrica de Loiça de Sacavém, Fábrica de Papel do Tojal, Fábrica Móveis Olaio, Fábrica Nacional de Margarina, Companhia Portuguesa de Trefilaria. De igual modo, gere também a Biblioteca especializada em Artes, Cerâmica, Indústria, História Económica e Social, Museologia, Diários do Governo, Estatística industrial e comercial, Enciclopédias, Dicionários. Contactos dc@cm-loures.pt Telefone: 211 151 090 Horário Terça a sexta-feira 10:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:00 Localização Urbanização Real Forte Rua Álvaro Pedro Gomes 2685-145 Sacavém GPS: Lat: 38,7941442 Long: -9,1024132

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