Concurso Literário Escolar

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Poesia e Contos premiados



PROJETO MAIS LEITURA / MAIS SUCESSO

CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

POESIA - Carlos Antunes, Vencedor do 1º Escalão | 6º ano

A COTOVIA De tão bem que piava, já estava aprovada.

A cotovia da D. Margarida ouvia, em sintonia, as boas novas na padaria.

Foi convidada para piar, na festa popular.

Um dia, fora à pradaria e, para seu espanto, gostara do que vira.

O piar dela vibrava até ao mar.

À noite, foi à casa da D. Maria, onde tudo reluzia.

A Alegria morria, se não podia piar.

Já o dia aparecia, Foi ter com o corvo da D. Palmira.

Um dia, via ela na televisão, uma cotovia, que piava exemplarmente.

Este, disse-lhe que, por terras da D. Elvira, havia uma cotovia, que tinha um piar de arrepiar.

Ficou com inveja e, por isso, foi a Beja. Em Beja, morava a cotovia, que Alegria tinha visto na televisão.

O nome dessa cotovia era Alegria, o piar dela era de agradar ao ar. O piar dela fazia chorar. Entretanto, decidiu participar num concurso para piar.

Seu nome era Mega e ela era bela. Alegria, ficou a pensar nela.

Ganhou o concurso e decidiu fazer um curso.

Mega era inteligente, mas era pouco clemente. Um dia, Mega foi pescar e encontrou Alegria a ensaiar.

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CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

POESIA - Lucas Almeida, Vencedor do 2º Escalão | 9º ano

SOU DO BAIRRO Sou do bairro, mas não sou vilão Quero mais saúde, respeito e educação Sou do bairro e conquistador, não sou ladrão Muitas vezes até tratado como cão.

Solidariedade aqui nunca falta Sempre alguém, ajuda alguém Enquanto muita gente da «alta» Só ajuda quem lhe convém.

Não entrem com guerra, entrem com investimento Chega de luta, de choro, de lamento Sou do bairro sim, mas não sou violento Me chamam por cada nome que não tem cabimento.

Queria morar numa mansão, isso não nego Mas o caminho até lá vai ser muito dolorido A vida é dura, sonhar é preciso, Nunca pare de lutar, nunca se dê por vencido.

Quero respeito, justiça e paz Quero direito de ir e vir a tornar-me um bom rapaz!

Quero respeito, justiça e paz Quero direito de ir e vir a tornar-me um bom rapaz!

Sou do bairro e tenho orgulho de o ser Também gosto de Rap e músicas para o meu lazer Injustiça e violência não vão prevalecer Pois sei que um dia o bairro vai vencer.

A vida no bairro é como na favela Com bandidos e bandidas Mas se ninguém lutar por ela Continuam em suas vidas sofridas.

Iremos a vitória trazer Sei que somos capazes de o fazer Para lá chegar basta crer Juntos fazemos acontecer.

Esquerda de lá, direita de cá E o povo continua a sofrer no momento. Onde a tristeza do abuso é para a maioria E o prazer de gozar sobra para um por cento.

Quero respeito, justiça e paz Quero direito de ir e vir a tornar-me um bom rapaz!

Quero respeito, justiça e paz Quero direito de ir e vir a tornar-me um bom rapaz!

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CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

POESIA - Sara Santos, Vencedor do 3º Escalão | 12º ano

UM CANTO RASGADO DE UM GUARDANAPO Um dia, No canto rasgado de um guardanapo, Uma menina tentou escrever um poema. Deu-lhe o nome de 'Primavera" Porque decorria o mês de abril. Esta lembrava-lhe as variadas cores que adquiriam as flores. Lembrava-lhe as roupas coloridas que começavam a surgir entre as últimas gotas de chuva. Lembrava-lhe os parques com escorregas molhados e casais apaixonados. Com isto, escreveu um lindo poema. Noutro dia, No canto rasgado de um guardanapo, Uma menina tentou escrever um poema. Deu-lhe o nome de "Inverno", Porque, embora ainda decorresse o mês de abril, Tudo à sua volta parecia ter escurecido. Agora, este lembrava-lhe as flores murchas do seu jardim. Lembrava-lhe os parques abandonados por falta de alegria e os casais separados por falta de amor. Com isso, escreveu um poema.

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CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

CONTO - Mariana Pereira, Vencedor do 1º Escalão | 5º ano

HISTÓRIAS DO MAR O sucesso foi tal que todas as noites passou a haver um sarau de contos, onde todos podiam participar, inventando as suas próprias histórias e escutando as dos outros. Todo contavam as suas histórias, um de cada vez, e cada história contada tinha o seu encanto e magia.

- Já se sente a chegada do outono! - comentou o peixe-espada, com um sorriso de barbatana a barbatana. As praias começavam a ficar vazias e já se notavam os primeiros sinais de arrefecimento do tempo. Todos estavam atarefados menos a estrela-do-mar que parecia um pouco triste. - Eu cá vou sentir a falta de uma pessoadesabafava, piegas.

A estrela-do-mar sentia-se triste e com saudades da sua amiga humana, mas ao ouvir as histórias dos seus amigos marinhos começou a sentir-se cada vez mais feliz.

- Ah, ah, ah! - brincou o carapau- já alguém te disse que eras linda!!!? - És muito engraçado!!! Depois eu é que gosto de me armar em carapau de corrida!

- Estou muito feliz por vos ouvir contar as vossas histórias, mas brevemente vou voltar a encontra-me com a minha amiga humana no verão.

A estrela-do-mar tinha as suas razões. Todos os dias, durante o verão, uma menina visitava-a e contava-lhe histórias. Falava-lhe de sítios que a estrela-do-mar não conhecia, da sua vida na cidade, como era a sua escola e as suas amigas.

E assim acontecia todos os verões, a estrela-do-mar encontrava-se com a menina no areal de uma praia e ouvia novas histórias e aventuras passadas na terra. Quando vinha o outono, a estrela-do-mar regressava para o fundo do mar e narrava as histórias ouvidas ao longo do verão aos seus amigos peixes, que ficavam maravilhados!

Sem sair do seu habitat, ela tinha viajado todo o verão, através das palavras e histórias daquela criança. A estrela-do-mar contou ao peixe-espada o motivo da sua tristeza. - Não é nada disso do que estás a pensar-disse a estrela-do-mar- neste verão ouvi histórias muito curiosas e interessantes de uma menina que vive em terra. - Histórias? ?!!!! - exclamaram admirados os peixes que estavam ali por perto que significam essas histórias? Na verdade, essa era uma palavra que ninguém conhecia no fundo do mar. Ali, nunca nenhum animal marinho escutara um conto. A estrela-do-mar começou por contar uma das muitas histórias que tinha ouvido e as suas palavras soaram como música aos ouvidos dos presentes. Uns de olhos fechados, outros já com eles abertos. Todos os animais que ali estavam sentiram que as personagens das histórias que escutavam estavam ali mesmo, ao seu lado e divertiram-se à grande com as peripécias que iam ouvindo.

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CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

CONTO - Diogo Raminhos, Vencedor do 2º Escalão | 9º ano

POR VÓS, TUDO Mais uma manhã solarenga em Nova lorque. O barulho dos carros nas avenidas preenchia os ouvidos de Andrew, um segurança que conduzia para o aeroporto onde trabalhava, deixando em casa a sua esposa que recentemente tinha dado à luz e os seus outros dois filhos de dois e quatro anos. Andrew puxou de um cigarro antes de estacionar o carro no parque do aeroporto. Para ele seria um dia banal a fazer revistas e a garantir a segurança de quem embarcava.

voltou a deparar-se com o segurança nas revistas do aeroporto, desta vez sem bagagem.

Após sete horas de trabalho, já cansado, Andrew continuava, pois sabia que tinha de sustentar a família, uma vez que a sua companheira se encontrava debilitada e o dinheiro lá em casa escasseava.

- Bem — começou o sujeito. — Nós precisamos de esconder uma quantidade muito superior do produto, mas não a podemos passar toda de uma vez, é aí que você entra, queremos que a esconda na sua casa até ao dia vinte e cinco deste mês, nessa altura trá-la para o aeroporto e certifica-se que ela passa para os terminais.

- Você outra vez? — Exclamou Andrew. - Venha cá, tenho outra proposta, não dê muito nas vistas. Andrew e o sujeito encaminharam-se para um sítio mais discreto. - Então, que proposta é essa?

Ainda faltavam duas horas para o turno acabar e um sujeito, com ar apressado, passou nos dispositivos de segurança do aeroporto e Andrew, sempre perspicaz, detetou algo suspeito na bagagem e abordou-o:

- Nós quem? - Não interessa... aceita? - Acham que vou esconder droga em minha casa?

- Senhor, por favor, abra a sua mala, só por precaução... - O sujeito assim o fez e Andrew deparou-se com vários tipos de drogas, escondida por entre a roupa.

- Desta vez, como a quantidade do produto é maior, recebe dez mil broas, o que acha? Andrew pensou automaticamente em recusar, no entanto, faria toda a diferença na sua família, nas dívidas que tinham...

- Oiça, deixe-me passar, estes produtos serão vendidos noutro país, por isso não haverá problema para si, e darão muito dinheiro, se cooperar posso dar-lhe algum...

- Ok, eu aceito, mas têm mesmo de me dar o dinheiro!

Andrew estacou. Não podia deixar passar drogas, mas se não conseguisse pagar as suas dívidas, o seu carro e a sua casa seriam hipotecados.

Andrew, contrariado e desconfiado, acabou por dar a morada.

- Até quanto posso receber? - sussurrou.

Chegado o dia combinado, o segurança levou os produtos para o aeroporto e arranjou algumas desculpas para passar com todas aquelas bagagens.

- Se estes produtos chegarem ao destino, eu terei muito lucro - comentou o sujeito. - Se me deixar passar eu pago-lhe aqui cinco mil dólares. Andrew apercebeu-se rapidamente de como tal quantia seria útil.

Nos dois meses seguintes, a vida de Andrew manteve-se estável. Já depois de ter feito várias revistas e não ocorrer problema algum, Andrew foi abordado por cinco homens:

- Ok, passe rápido e dê-me o dinheiro... A caminho de casa, Andrew sentiu-se culpado, mas lembrou-se de que estava a ajudar a sua família e que não valia mais a pena pensar no assunto. Duas semanas passaram e Andrew já mal se lembrava do sucedido, porém, o mesmo sujeito

- Queremos que passes isto! - Passar o quê? -perguntou Andrew aflito, mas decidido a negar independente do dinheiro que eles oferecessem.

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CONCURSO LITERÁRIO ESCOLAR 2019/2020

Um dos homens abriu a bagagem e fechou rápido para que só Andrew pudesse ver.

- Temos um novo trabalhinho para ti. E desta vez vais ganhar muito dinheiro...

- Nem pensar! Jamais deixarei passar armas!

- Tu e os teus amigos são monstros! Manipularam-me, fizeram-me cometer erros terríveis, porque tocaram no meu ponto fraco... a família... Agora já não o conseguem fazer...

- Tem lá calma! Um dos nossos já fez com que passasses droga, agora vais passar armas, para o bem da tua família, nós sabemos onde moras e somos mais do que imaginas, se essas armas não estiverem prontas a embarcar para a Califórnia amanhã, já sabes...

Frente a frente com o terrorista, Andrew puxou da caçadeira, abateu o indivíduo sem piedade e em seguida disparou contra si próprio. Jamais conseguiria viver com a culpa do que fizera.

Andrew ficou sem reação, sabia que não devia ter dado a sua morada, ao tentar ajudar a família comprometera-a, agora estava entre a espada e a parede.

No dia seguinte, através de uma denúncia anónima, a polícia anunciou que acabara de desmantelar uma célula terrorista evitando um dos maiores massacres de sempre.

- Pensa bem, amanhã voltaremos cá e tu vais passar as armas para o terminal dez. Andrew voltou para casa, nessa noite não conseguiu dormir, tinha a decisão mais dolorosa da sua vida para tomar. No dia seguinte, quando Andrew se encontrava a sair com o carro, dois outros indivíduos abordaram-no: - Já sabes, temos a casa cercada, se as armas hoje não passarem forçamos a entrada e matamos tudo o que mexe, pensa muito bem no teu próximo passo. Andrew continuou o caminho em direção ao aeroporto, sabia que de nada adiantava ficar perto de casa, a única maneira de salvar a sua família seria passar as armas. Só agora se apercebia com o que estava a lidar, uma organização muito maior que ele. Já no aeroporto, Andrew voltou a ser abordado pelos indivíduos e acabou por passar as bagagens com as armas. Ficou arrasado. No dia seguinte, em todos os canais, foi comunicado o mesmo: "Atentado num concerto na Califórnia, cinco atiradores, vinte e dois mortos". Andrew sabia que nada podia fazer para compensar o seu erro, no entanto, queria vingar-se da pressão a que fora sujeito. Juntou todo o seu dinheiro, comprou quatro passagens para a sua mulher e filhos com rumo ao Canadá onde residia a sua cunhada. Ali estariam em segurança! Andrew levou a família para o aeroporto e despediu-se, rasgado em lágrimas. Agora poderia vingar-se. Certo que a organização voltaria a contactá-lo, Andrew prepara o seu plano. Esse dia não tardou.

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CONTO - Carlota Simões, Vencedor do 3º Escalão | 11º ano

BRINQUEDO DAS APARÊNCIAS As aparências iludem Alexander, tinha esta noção enraizada no seu subconsciente e entrelaçada no seu quotidiano, porque nada é o que parece e ninguém é o que diz ser. Ele, porém, era diferente. Todos os dias era relembrado da crua realidade do mundo e não conseguia evitar encará-la de outra forma senão apaticamente, como o pescador que se deixa levar pela corrente, pois sabe que resistir é escusado. Aquele dia não era uma exceção.

Era reconfortante observar todas as pessoas que trocavam o calor do ambiente doméstico pela aragem exterior, especialmente tendo em conta os últimos acontecimentos. O fantasma da presença do dilúvio da noite anterior conferia um festim aos sentidos cavalheiro que percorria a calcada ainda encharcada. A imundicie do chão era purificada pelos restos de água que lá permaneciam, as poças refletiam o semblante sonolento dos cidadãos e os sorrisos despreocupados das crianças que insistiam em saltar nelas, o som familiar das botas contra o pavimento molhado e as gargalhadas jovens percorriam as ruas, a humidade do ar abria os poros de Alexander, a frescura da brisa abrigava conversas alheias e a expetativa de um pequeno-almoço quente. Mesmo assim, o que mais se destacava era o petricor, sem dúvida o cheiro favorito de Alexander, o cheiro da chuva. Era o equivalente a jogar um balde cheio e ensaboado de água sobre a pavimentação suja, ou um cão a sair de um lago e a agitar-se pronto para a próxima aventura. Para ele, petricor era o renascimento, a redefinição.

Alexander seguia uma rotina estrita e inquebrável. De manhã acordava às cinco e tocava uma hora de piano, tomava um duche de água fria, mesmo no inverno, exatamente às seis e um quarto, lavava os dentes e vestia-se. A sua escolha de traje era sempre um fato, no entanto, dispensou o uso de gravata visto ser um domingo. A sua regra mais importante é que tudo tinha um lugar a que pertencia. Sapatos eram deixados à porta e calçados apenas à saída, vinho ficava na sala de jantar, nunca na cozinha, o tapete à entrada era virado ligeiramente para a direita e a cortina da banheira ficava aberta quando não estivesse a ser usada. Simples, prático e imutável. "Um lugar para tudo e tudo no seu lugar' era o seu mantra.

Já se encontrava a meio do caminho quando avistou, a brincar no parque, sozinha, a integrante mais nova da família vizinha, um casal com duas filhas que geriam uma empresa fornecedora de carne biológica. Tratava-se de uma menina pequena e franzina, com longos cabelos de um castanho baço presos num laço azul celeste condizente com o seu vestido. Nas suas mãozinhas delgadas e percorridas por veias encontrava-se uma boneca com a qual esta parecia estar a brincar, conclusão a que o homem chegou pelos frenéticos movimentos da criança e pelo microscópico sorriso nos seus lábios descorados.

Antes de sair, fez questão de tirar a embalagem inscrita como "carne da vizinha" do congelador, despediu-se da sua amada, recebendo com grande desgosto nada mais do que um resmungo abafado. Calçou-se e trancou a porta três vezes antes de retomar caminho. Os seus passos eram largos e confiantes, com pernas desproporcionalmente compridas e estatura mais alta que os demais. Os seus olhos avelã tremeluziam ao sol variando entre tons de dourado e vermelho, uma dualidade de outro mundo aclamada pelo Paraíso e peto Inferno. Qualquer cidadão na rua sentia a imponência deste homem tão respeitado por todos. Mulheres desejavam-no, homens invejavam-no e crianças admiravam-no.

Embora o seu estômago ansiasse por uma boa refeição, Alexander, decidindo que uma breve paragem não seria um grande sacrifício, aproximou-se da jovem, um divertimento outrora inexistente evidente na sua passada. A rapariga que, perdida nos seus devaneios de criança, não se tinha apercebido da presença do adulto atrás de si, não conseguiu evitar o pequeno salto involuntário de surpresa ao ser

Ele era um verdadeiro gentleman. As previsões da manhã prometiam um dia límpido e ensolarado como já não se via desde os últimos meses. Há dias que Alexander era obrigado a carregar um chapéu-de-chuva para todo o lado. Claro está então que a mudança de temperatura trouxe consigo alívio e uma certa leveza no seu andar.

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cumprimentada. Não obstante, o seu corpo relaxou quando se apercebeu de que quem se encontrava à frente dela era ninguém mais, ninguém menos que o seu adorado vizinho. Reparou que quando a sua atenção finalmente parou sobre a sua postura curvada sobre ela projetando a sua sombra sobre toda a sua pessoa, o permanente e contagiante sorriso do seu vizinho alargou os seus dentes impossivelmente brancos à vista, e não foi capaz de reprimir o extenso sorriso como se alojou no seu rosto pálido.

ergueu os olhos quando Alexander entrou, a sua chegada anunciada por uma rajada de vento frio. Ao contrário do lado de fora, o interior do café era quente e alegre, com luzes brilhantes e paredes coloridas. Os clientes voltaram às conversas quando a porta se fechou atrás dele e a brisa fria esquecida. - Bom dia, Alex. O que é que vai ser hoje? – Perguntou uma voz feminina e esganiçada. Esta voz provinha da senhora do balcão, a dona do café e uma amiga próxima de Alexander. Era uma senhora pouco mais velha que quarenta anos, com cabelos louros pintados, olhos azuis e um nariz esguio. A maior parte das suas rugas estavam escondidas sob uma camada de maquilhagem que Alex considerou um pouco exagerada.

- Bom dia para si também, sir. – Ela saudou de volta. Ela tinha-se levantado e voltado para Alexander num ato de educação e respeito. A posição deste ainda assim, mantinha-se inclinada numa tentativa vã de reduzir a sua altura. - O que é que fazes aqui sozinha a estas horas? Ele questionou, com uma curiosidade incontestável na sua voz.

Ele pediu o habitual sendo, no entanto, informado que o croissant misto teria que ser substituído por pão-de-leite misto. Ao menos o expresso mantinha-se.

A menina estendeu a sua boneca com um sorriso orgulhoso, como se a mera posse deste simples objeto fosse o suficiente para justificar o facto de ela estar acordada às sete da manhã de um domingo sozinha no parque.

Enquanto esperava que o pedido estivesse pronto, o casal foi pondo a conversa em dia. Falaram da mudança do tempo e do jogo de futebol da noite anterior, entre outros. Por fim, o tema mudou quando Alexander pediu dois muffins de mirtilo expostos na vitrina para levar para si e para a sua namorada. A mulher deixou um longo suspiro escapar-lhe dos lábios comentando que aqueles eram os favoritos da filha mais velha dos seus vizinhos, irmã da rapariga com quem tinha convivido no parque, a mais recente vítima dos desaparecimentos que percorriam a cidade.

- Queria brincar com a minha boneca nova hoje. Eu sei que é perigoso andar na rua ultimamente, mas estou farta de estar fechada em casa! - Um beicinho de revolta substituiu o sorriso. - Já tiveram notícias da tua irmã? - Infelizmente ainda não soubemos de nada, Sir, mas apreciamos a sua preocupação. Concluindo que nada mais havia a discutir, Alexander endireitou-se, ajeitou as suas roupas e acrescentou antes de se distanciar:

- Ela tem andado ansiosa estes últimos dias, especialmente com tudo o que tem acontecido.

- Agradece aos teus pais pela carne. Tenho a certeza que fará um ótimo almoço. A menina prometeu que o faria, acenando em despedida, a boneca na sua mão a balançar com o movimento.

- Explicou Alex. - Hoje até recusou o meu afeto. Espero que sejam só os nervos. . . - Eu percebo completamente. És um verdadeiro herói romântico, um homem de muitas paixões, só é pena que elas desvaneçam tão rapidamente. O teu amor nunca é devidamente retribuído. Tens o hábito de amar mais do que és amado. Acho que está na hora de encontrares alguém que corresponda os teus sentimentos com a mesma intensidade, Alex.

Alexander continuou o resto do caminho a pensar no quão parecidas eram as bonecas da sua vizinha e da filha do barbeiro, o brinquedo da última tendo sido roubado no dia anterior para grande descontentamento da mesma. Apenas se libertou dos seus pensamentos quando finalmente chegou ao café.

Ele concordou a contragosto. A verdade é que todas as mulheres que diziam ser apaixonadas por ele depressa deixavam de aceitar os seus gestos de amor. Sempre que ele se deixava envolver numa relação séria elas tentavam fugir do

Era um café pequeno, espremido entre dois prédios. Não tinha mesas com guarda-sóis sofisticados, apenas o pavimento irregular, vítima das rachaduras da idade. Meia dúzia de clientes

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compromisso. Era sinceramente desencorajador e a pior parte é que ele não era capaz de impedir os seus sentimentos cada vez que se apaixonava novamente.

preparar o almoço. A carne que tinha tirado do congelador estava agora descongelada e pronta a cozinhar. Ele tentou concentrar-se na preparação do prato sem quaisquer resultados. A rapariga sentada à sua mesa a chorar não o permitia. Ele virou-se para ela, o seu sorriso ameaçador, os olhos semicerrados. Só a imagem do seu sorriso foi o suficiente para fazer com que ela tremesse descontroladamente, os seus movimentos restringidos pelo facto de ter as mãos e os pés amarrados e um pano a tapar-lhe a boca.

Não teve que esperar muito pelo seu pequeno-almoço. Deu uma generosa dentada no pão quando viu entrar no café um conhecido seu. Um polícia de cabelos grisalhos, rugas proeminentes e olhos castanhos, vestido no seu uniforme, Alexander observava-o enquanto este falava alegremente com a dona do café e perguntou-se como era possível eles terem uma conversa tão casual. O senhor polícia devia ter-se esquecido, à semelhança de todas as outras pessoas, que há pouco mais de dois anos, a senhora que agora possuía o café que tantos frequentavam tinha cumprido uma pena extensa por crimes de violência doméstica.

O terror do seu olhar fê-lo sorrir mais abertamente. Voltou a sua atenção para a carne e cantarolou. - A minha querida vizinha certamente tinha bom gosto. Estes muffins são bons, não concordas, querida? - Ele disse, jubilante, o olhar alucinado fixo na carne vermelha e ensanguentada.

O agente sentou-se numa mesa ao pé de Alex e, reconhecendo-lhe o sorriso largo, agradeceu-lhe pela receita de ensopado de carne de porco. Este, por sua vez, humildemente afirmou que não havia necessidade de agradecer. Cozinhar era uma atividade que lhe dava prazer e partilhar as suas receitas era um verdadeiro deleite, principalmente porque ele se considerava um especialista na confeção de carne. O polícia demonstrou também a sua frustração perante a falta de resultados relativos à investigação dos recentes sequestros. Quatro vítimas e zero pistas. Ambos dados realmente desconcertantes acentuados pelas profundas olheiras do agente. A sua inquietação não passou despercebida a Alexander. Este reparou na vermelhidão dos olhos do homem com quem falava e na sua incessante vontade de coçar o braço, acidentalmente levantando a manga da camisa e revelando marcas do que pareciam ser agulhas espalhadas pelo local. Escusado será dizer que o pequeno-almoço não caiu muito bem a Alex.

- Esperemos que ela saiba tão bem quanto eles. As aparências iludem. Alexander tinha essa noção enraizada no seu subconsciente e entrelaçada no seu quotidiano, porque nada é o que parece e ninguém é quem diz ser. Ele, porém, era diferente. Ele era o pior. Quem é o brinquedo das aparências, deixa-se seduzir pelas mentiras.

No caminho para casa, algumas gotas de chuva caíram na sua face, escorrendo-lhe pela bochecha e motivando-o a acelerar o passo. O sol que lhe tinha sido prometido era apenas mais uma mentira, tal como meninas ladras, senhoras violentas e polícias drogados. Alexander entrou em casa, pronto para continuar a sua rotina diária. Ajudou a sua amada, que mais uma vez recusou um beijo seu, a sentar-se na mesa da cozinha, colocou o muffin de mirtilo na mesa, trincou um pouco do seu e começou a

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Vencedores da Modalidade de Poesia

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Prémio do 1º escalão - “A Cotovia”, escrito por Carlos Diogo Antunes, da Escola Básica Comandante Conceição e Silva, 6º ano, G, do Agrupamento Escolas António Gedeão;

Pág. 4

Prémio do 2º escalão - “Sou do Bairro”, escrito por Lucas Henrique de Queiroz Almeida, da Escola Básica Monte da Caparica. 9º ano, 4, Agrupamento de Escolas do Monte de Caparica;

Pág. 5

Prémio do 3º escalão - “Um Canto Rasgado de um Guardanapo”, escrito por Sara Boisseau Varino dos Santos, da Escola Secundária Daniel Sampaio, 12º ano, B, do Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio.

Vencedores da Modalidade de Conto

Pág. 6

Prémio do 1º escalão - “Histórias do Mar”, escrito por Mariana Rodrigues Pereira, da Escola Básica do Monte da Caparica, 5ºano, 5, do Agrupamento de Escolas do Monte de Caparica;

Pág. 7

Prémio do 2º escalão - “Por Vós, Tudo”, escrito por Diogo Filipe Macau Raminhos, da Escola Secundária Romeu Correia, 9º ano, A, do Agrupamento de Escolas Romeu Correia;

Pág. 9

Prémio do 3º escalão - “Brinquedo das Aparências”, escrito por Carlota Branco Simões, da Escola Secundária Emídio Navarro,11º Ano, CT1, do Agrupamento de Escolas Emídio Navarro



Biblioteca Central-Fórum Municipal Romeu Correia Praça da liberdade, Almada Tel.: 212 724 920

Biblioteca Municipal José Saramago Rua da Alembrança, Feijó Tel.: 212 508 210

Biblioteca Municipal Maria Lamas

Rua do Moinho ao Raposo, Monte de Caparica Tel.: 211 934 020

CMA | SET 21

Sítio: www.cm-almada.pt/bibliotecas E-mail: bibl.mun.alm@cma.m-almada.pt


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