11.07. 2020 17. 10. 2020
MAJA ESCHER UM DIA CHOVEU TERRA
Galeria Municipal de Arte Av. Nuno Álvares Pereira, 74 A 2800–050 Almada T. 212 724 724 casadacerca@cma.m-almada.pt
Em parceria com:
Organizada por:
Qual é a coisa qual é ela que quanto mais alto está melhor se lhe chega?
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Foi com esta adivinha, lançada pelo Sr. Luís nas hortas do Monte da Caparica, que Maja Escher iniciou a sua investigação sobre água e chuva. Maja Escher nasceu e cresceu perto da barragem de Santa Clara, no sudoeste alentejano. Uma região densamente povoada por monoculturas de eucaliptos e com a forte presença das estufas e agricultura intensiva na área do perímetro de rega do Rio Mira e no Parque Natural do Sudoeste Alentejano, abastecidos por essa barragem na qual o nível da água, nos últimos anos, baixou drasticamente (bem como a água do seu próprio poço e furo). Esta constatação e crescente preocupação com a escassez de recursos hídricos e o consequente risco de desertificação do solo, levou a artista a desenvolver uma investigação precisamente sobre métodos e engenhos para encontrar, coletar e conservar a água, na procura de recolher informação para, no futuro, vir a construir uma máquina de fazer chuva. No seu processo de trabalho é fundamental a relação pessoal com quem, de facto, trabalha a terra, para quem a falta de água é a preocupação central na sua subsistência, com quem trabalha nos lugares que explora e, por isso, muito do seu método passa por conversas, entrevistas e investigações onde recolhe adivinhas, ditados populares, canções, trava-línguas e histórias que pertencem a uma tradição oral, património e sabedoria imaterial que remontam a tempos imemoriais. Muitas vezes, as ideias para projetos surgem de uma partilha, de uma conversa, de uma canção, de uma imagem que viu num livro ou num museu, de um objeto que encontrou numa feira de velharias. Todos podem constituir-se como pistas para as suas instalações. A exposição na Galeria Municipal de Arte de Almada, a primeira mostra individual numa instituição, vem no seguimento de três momentos expositivos anteriores: “Quatro Ventos”, “Semear Nuvens” e “Estação Meteorológica” (todos em 2019), sendo que cada um funcionou como um laboratório de investigação e experimentação sobre diferentes partes deste grande projeto. “Um Dia Choveu Terra” centra-se na figura do Vedor, alguém capaz de detetar água no subsolo, bem como os seus veios, utilizando apenas uma vara de madeira (frequentemente de Salgueiro). Esta figura popular e algo mágica é a personagem principal, mas invisível, desta exposição. Para ele, Maja construiu um conjunto de ferramentas inventadas, mas baseadas numa longa pesquisa que se apropria de métodos do trabalho de campo etnográfico, como funis, tampas, sistemas de elevação, pêndulos, antenas parabólicas para detetar água, objetos para abrir veios, organizados em diferentes núcleos no espaço expositivo. Interessa-lhe este cruzamento entre
a ficção e a realidade. Gosta de inventar objetos que aparentam, ou que deixam a dúvida, se têm ou não uma função real. Esculturas que desafiam a credibilidade, o senso comum e mesmo a imaginação. Como com a figura do Vedor, a artista pede ao espetador que tenha fé nestes processos, que acredite nesta magia, que participe nestes rituais. Esta exposição-instalação remete-nos também para o uso e exploração intensivos dos recursos hídricos do sudoeste alentejano, bem como para a utilização massiva de fertilizantes químicos e pesticidas na agricultura. Pretende ainda traçar um paralelo visual entre a vivência e o cuidar de uma horta à escala do pequeno e médio agricultor e a agricultura intensiva. Todos as suas esculturas remetem para uma dimensão personalizada e íntima com a ideia de cuidar, de observar, de proximidade e contacto direto com a terra. Em “Um Dia Choveu Terra” a ausência de água é constantemente evocada, quer no barro que dá forma às esculturas, quer nos alimentos e vegetação desidratada, quer mesmo nas cores utilizadas. A água do poço é a resposta à adivinha do Sr. Luís. Ela contém em si a ideia de procura, do inatingível e ao mesmo tempo de proximidade. Filipa Oliveira
The higher it is, the easier is to get. What is it?
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Maja Escher started her research on water and rain with this riddle, which was presented to her by Senhor Luis in the vegetable gardens of Monte da Caparica. Maja was born and raised near the Santa Clara dam, in southwest Alentejo. A region characterised by the dense eucalyptus monoculture and the growing presence of greenhouse intensive farming in the Rio Mira basin and in the Sudoeste Alentejano natural park, irrigated by a dam [Santa Clara] whose water levels have dropped dramatically in the last years (much like the water level in her own well). Faced with this reality and with a growing concern about the scarcity of water resources and the risks of land degradation and desertification, the artist started her own investigation on methods and devices to find, collect and conserve water, gathering information with the ultimate goal of building a rain machine. Establishing a relationship with the persons that work the land is key to her work process; to them, water scarcity is a central issue in their daily lives and a threat to their livelihood. In the places she delves into, Maja engages in conversations, interviews and research practices that include the compilation of riddles, idioms, songs, tonguetwisters and stories that can be traced back to a certain oral tradition, knowledge and immaterial heritage that date
back to time immemorial. Often, the ideas for her projects arise from a shared moment, a conversation, a song, an image from a book or a museum, or from an object found at a flea market. In her installations, everyone and everything can be assimilated as clue or element. The exhibition at Almada’s Municipal Art Gallery, her first solo show in an art institution, comes in the sequence of three previous exhibitions, all in 2019: Quatro Ventos [Four Winds], Semear Nuvens [Seeding Clouds], and Estação Metereológica [Weather Station], being that each one of them was an experimental research laboratory for the different parts that compose this vast project. Um Dia Choveu Terra [Once it Rained Earth] focuses on the figure of the dowser, someone who detects ground water using a twig (often from a willow tree). This popular and somewhat magical figure is the main – although invisible – character of the exhibition. Based on a long research in which she appropriates methodologies from ethnographic fieldwork, Maja built a set of original tools for the dowser: funnels, lids, lifting systems, pendulums, water detecting parabolic antennae and devices to open water veins are organised in different nuclei throughout the exhibition space. Particularly interested in this overlapping of fiction and reality, the artist likes to create objects that appear to have a real function but never leave that ambiguous space of a sculpture that challenges verisimilitude, our common sense and even our imagination. Like a dowser, the artist asks for faith in her practice, a suspension of disbelief that allows the viewer to participate in these magic rituals. This exhibition-installation also refer to the intensive use and abuse of the water resources of southwest Alentejo, as well as to the heavy use of chemical fertilizers and pesticides in agriculture. They also aim to draw a visual parallel between the experience of caring for a small or medium-sized vegetable garden and intensive farming. All her sculptures refer to a personalised and intimate relationship with the notions of caring, observing and having direct contact with the land. In Um Dia Choveu Terra, the absence of water is constantly being evoked, either in the clay that shapes these sculptures, in the dehydrated food and vegetation, or even in the colours utilised. Finally, the answer to Senhor Luís’ riddle is well water. There, we can find a spring from which come forth a notion of exploration and a desire to seek out what is near but remains unattainable.
Maja Escher
Maja Escher (Santiago do Cacém, 1990) lives and works in Lisbon. She studied at the Lisbon Fine Arts University and she attended the Ceramic Program and the Individual Ceramic Project at Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual. Solo exhibitions include: Quatro Ventos, Otoco, Lisbon (2019); Die drei Welten, Altbau, Institut für Waldorfpädagogik Witten/Annen, Germany (2016); Zénite e Nadir, Terreiro de S. Pedro, Montemor-o-Novo (2015); Estudos para a construção de um mastro, Galeria 59, Lisbon (2011); and Primeira tentativa de construir uma casa, Galeria 59, Lisbon (2009). Her work has been included in group exhibitions such as: Azul, Ar.Co Xabregas, Lisbon (2018); Exposição de Verão, Ar.Co- Quinta de São Miguel, Almada (2018); Mastro do Monte, Biblioteca Maria Lamas, Monte da Caparica, Almada (2017); XXVII Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira (2017); Um ciclo, Galeria Municipal de Montemoro-Novo (2015); Ensaios sobre um lugar imagem, MU.SA, Sintra (2015); Nas margens do Lucefecit: Experimentar o lugar, Centro Cultural do Alandroal (2014); Enquanto Apropriação, Arquivo 237, Lisbon (2013), Pré-Reforma, Fbaul, Lisbon (2013); Limbo, VPF Cream Gallery, Lisbon (2012); Panóptico, Plataforma Revólver, Lisbon (2011); 41°, AVA, London (2011); Twenty:Twelve, The Camp, City Road, London (2011).
Filipa Oliveira
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Maja Escher (Santiago do Cacém, 1990) vive e trabalha em Lisboa. Estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Frequentou o curso de Cerâmica e Projeto Individual em Cerâmica no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual. Das exposições individuais destacam-se: Quatro Ventos, Otoco, Lisboa (2019); Die drei Welten, Altbau, Institut für Waldorfpädagogik Witten/Annen, Alemanha (2016); Zénite e Nadir, Terreiro de S.Pedro, Montemor-oNovo (2015); Estudos para a construção de um mastro, Galeria 59, Lisboa (2011); e, Primeira tentativa de construir uma casa, Galeria 59, Lisboa (2009). Das exposições coletivas destacam-se: Azul, Ar.co Xabregas, Lisboa (2018); Exposição de Verão, Ar.co-Quinta de São Miguel, Almada (2018); Mastro do Monte, Biblioteca Maria Lamas, Monte da Caparica, Almada (2017); XXVII Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira (2017); Um ciclo, Galeria Municipal de Montemor-o-Novo, Montemor-o-Novo (2015); Ensaios sobre um lugar imagem, MU.SA, Sintra (2015); Nas margens do Lucefecit: Experimentar o lugar, Centro Cultural do Alandroal (2014); Enquanto Apropriação, Arquivo 237, Lisboa (2013), Pré-Reforma, Fbaul, Lisboa (2013); Limbo, VPF Cream Gallery, Lisboa (2012); Panóptico, Plataforma Revólver, Lisboa (2011); 41°, AVA, Londres, U.K. (2011); Twenty:Twelve, The Camp, City Road, Londres, U.K. (2011).
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Eventos Paralelos
Serviço Educativo/ Education Department Ana Sofia Godinho, Mário Rainha Campos, Sílvia Moreira
22 JUL • 18:30H Conversa com a artista Maja Escher (via zoom)
Receção/ Reception Elsa de Sousa
17 OUT • 16:00H
Design Colönia Studio
Conversa com Maja Escher e Filipa Oliveira na exposição
Impressão/ Printing Urbanink (vinil)
Further Activities 22 JUL • 6.30PM
Agradecimentos / Acknowledgments A Casa da Cerca/Galeria Municipal de Arte agradece à artista pelo seu empenho, dedicação, magia e pelas suas belas canções. O nosso agradecimento ao Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual (Quinta de São Miguel), pela colaboração em mais um projeto. Um agradecimento especial ao Dr. Paulo Costa, Dra. Ana Botas e Dra. Alexandra Oliveira pela ajuda e apoio da investigação da artista nas Galerias da Vida Rural do Museu de Etnologia.
Talk with artist Maja Escher (via zoom)
17 OCT • 4.00PM Talk between Maja Escher and Filipa Oliveira in the exhibition space
Maja Escher. Um Dia Choveu Terra 11.07. 2020 - 17. 10. 2020
Chefe de Divisão/ Divisional Head Gabriela Cavaco
Galeria Municipal De Almada Almada Municipal Gallery
Programação e Curadoria de Artes Visuais/ Visual Arts Programmer and Curator Filipa Oliveira
The Casa da Cerca/Galeria Municipal de Arte wishes to thank the artist for her commitment, dedication, magic and for her beautiful songs. Our thanks also to Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual (Quinta de São Miguel), for callaborating with us in yet another project. And a special thank you to Dr. Paulo Costa, Dra. Ana Botas and Dra. Alexandra Oliveira for the help and support in the artist’s research at the Rural Life Galleries fo the Ethnology Museum. Maja Escher deseja agradecer a/ Maja Escher wishes to thank Ana Escher, Artur Pispalhas, Associação Goela, Hugo Pedro, Joana Vaz Borges, João Mouro, Luciana Florence, Manuel Castro Caldas, Maria Ana Vasco Costa, Maria Vaz Tavares, Pedro Grenha, Virgínia Fróis e também à Ana, Elsa Filipa, Paulo e Mário.
Produção/ Production Ana Taipas, Paulo Ramos Textos/ Texts Filipa Oliveira Montagem/ Installation Ana Taipas, Artur Pispalhas, Elsa de Sousa, João Mouro Divisão de Manutenção de Equipamentos Municipais da CMA Comunicação/ Communication Paula Freire
INSCRIÇÕES Através do email: marcar.cac@cma.m-almada.pt
APPOINTMENTS Prior appointment through the email marcar.cac@cma.m-almada.pt
HORÁRIO Terça a sábado: 14H - 19H Encerra domingos, segundas e feriados
SCHEDULE Tuesday to Saturday: 2pm-7pm Closed on Sundays, Mondays and public holidays Em parceria com:
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Secretariado/ Administration Carla Novais
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Organizada por: