JUNTA-TE A NÓS! A equipa editorial da P´ALMADA é composta por jovens do Concelho e utentes das Casas Municipais da Juventude que, procurando um enriquecimento extracurricular, têm vindo a prestar um serviço voluntário a toda a população juvenil do Concelho. Envia a tua proposta de colaboração para juventude@cma.m-almada.pt. PARTICIPA! Queres ver algum trabalho teu ser publicado na P´ALMADA online? Envia-nos os teus textos literários, artigos de opinião, ilustrações e fotografias, cartoons ou banda desenhada para juventude@cma.m-almada.pt. BIOGRAFIAS
Caixa de Lápis, página 51 Alexandra Piteira tem 25 anos e frequentou os cursos de “Arte e Design Têxtil” da Escola Artística António Arroio, “Conservação e Restauro” da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e “Pintura” da Escola Superior de Belas Artes. Tendo desenvolvido diversos trabalhos de desenho, pintura e fotografia, apresentou recentemente a sua primeira exposição individual, intitulada “Once upon a Time”, na Casa Municipal da Juventude - Ponto de Encontro. Texto Palmadense, página 56
Íris Gomes tem 21 anos e estuda no curso de “Artes Visuais” do Instituto Politécnico da Escola Superior de Educação de Setúbal. Frequentou recentemente o “Workshop de Ilustração” e o “Workshop de Aerografia”, desenvolvidos por Mário Santos no âmbito do “Plano Form´Arte 2013”, na Casa Municipal da Juventude - Ponto de Encontro.
D. I. Box, página 54 Nuno Chanoca é formador do Programa Escolhas no projeto +XL – E5G da Associação de Solidariedade e Desenvolvimento do Laranjeiro, consultor cultural na EPK.pt e orientador do módulo de “Promoção e Marketing” na Restart. Trabalha na indústria discográfica desde 1998, tendo passado pela Polygram, BMG, MVM e Universal Music Portugal, onde executou a função de promotor de televisão, trabalhando com inúmeros artistas nacionais e internacionais. De 2003 a 2009, foi chefe de promoção na Influenza, outsourcing de assessoria de imprensa, onde trabalhou com UHF, Fingertips, Hands on Approach, Sons em Trânsito e em concertos como os de Depeche Mode, Anastacia e Mark Knopfler, entre outros. ERRATA Na edição n.º 18 da revista P´ALMADA, a autoria do artigo “[Perfil] John Romão – A Voz por detrás do Murmuriu” é de Marta Gregório e não de Ana de Freitas como ficou referido. A P´ALMADA apresenta as suas desculpas às colaboradoras e aos seus leitores.
ÍNDICE
3 editorial 4 Periscópio sítio da juventude e p’almada online 6 na escola com... agarra-te à vida! 8 epicentro Almada destingue jovens talentos 15 Caixa de lápis “under your bed...” por Natasha Mascarenhas 16 palavras-cruzadas maria temporão - insónia na cidade 22 associativismo geração cool - uma voz no bairro 24 post it noidz 2.0.1.3 26 perfil joão pedro mamede - a vida ao quadrado 28 clica.mos voluntariado - ajudar por gosto e vocação 34 perfil tiago durão - apaixonado pelo teatro 36 Periscópio muito chão - uma viagem pelas Origens 38 post it uma casa a todo o vapor 40 debaixo de olho Segue-lhes o Exemplo 42 associativismo o incrivel corta! 44 palavras-cruzadas vencedores do 9º concurso de música moderna de almada 51 banda desenhada
“a garagem - as aventuras de jony e seus amigos” por mário santos 52 post it fluso series - o tempo hexato 54 d. i. box press kit - como escrever um press release? 56 texto palmadense “message in the bottle” por marta gregório 59 caixa de lápis “rosa em cinza” por alexandra piteira
FICHA TÉCNICA Direcção: António Matos – Vereador dos Serviços Municipais de Desenvolvimento Social, Informação e Relações Públicas Coordenação Geral: Divisão de Juventude – Departamento de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Almada Equipe Editorial: Ana de Freitas, Bruno Mendes, Daniel Freitas, Daniela Silva, Laura Moura, Mário Santos, Marta Gregório, Marta Tavares, Natasha Mascarenhas, Nuno de Albuquerque, Sérgio Martins, Tatiana Trilho, Tiago Dias, Vanessa Cabral Design Editorial: Departamento de Comunicação - Câmara Municipal de Almada Créditos Fotográficos: Ana de Freitas, André Dias, Bruno Mendes, Câmara Municipal de Almada, Jorge Gonçalves, Marta Tavares, Nuno de Albuquerque, Projeto Geração Cool / Santa Casa da Misericórdia de Almada [Associativismo], Rodrigo de Souza Colaboradores nesta Edição: Alexandra Piteira [Caixa de Lápis], Íris Gomes [Texto Palmadense], Nuno Chanoca [D. I. Box], Projeto Geração Cool / Santa Casa da Misericórdia de Almada [Associativismo] Revisão de Textos: Divisão de Juventude – Departamento de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Almada Agradecimentos: Ana Coelho (Corta! Festival), Armanda Capinha (Companhia de Dança de Almada), Benvindo Fonseca, Diana Pereira (Casa do Vapor), Mariana Romão, Raquel Lima (Companhia de Dança de Almada), Karina Ismael (Geração Cool E5G), Francis Seleck (ACOME – Associação Cultural O Mundo do Espetáculo), Ricardo Pereira (Fluso Series)Tiragem: 7500 exemplares Distribuição: Câmara Municipal de Almada Anotado no ICS DEPÓSITO LEGAL: 204684/03; ISSN: 1645-8966 Dezembro de 2013. Contactos das Casas Municipais da Juventude: Centro Cultural Juvenil de Sto. Amaro, Av. Prof. Ruy Luís Gomes, 2 2800-274 Laranjeiro-Almada, Tel.: 21 254 82 20 | Ponto de Encontro, Rua Trindade Coelho, 3 2800-297 Cacilhas – Almada, Tel.: 21 274 82 10 | Espaço Jovem-Centro de Informática e Documentação, Centro Comercial M. Bica, loja 66 – Almada, Tel.: 21 272 30 77 | Centro de Lazer de S. João da Caparica, Rua Bernardo Santareno, 3, 2825-481 Costa da Caparica, Tel.: 212918250, reservas@centrolazercaparica.com. juventude@cma.m-almada.pt | www.m-almada.pt/juventude
Jovens com muito valor! Almada tem jovens talentos e tem projetos talentosos com particular interesse para toda a comunidade e a revista p’almada orgulha-se de contribuir para a sua divulgação junto dos leitores, também eles jovens e com talento, dando a conhecer trajetos de vida e jovens valores que se lançam nos meios artístico, cultural e/ou profissional com a segurança de quem conhece o caminho que há que percorrer, com muita luta e perseverança, até se conseguir alcançar o que virá a ser nosso por direito – esta é a via para o sucesso.
Nesta edição impressa, de caráter anual, vamos apresentar vários projetos cujo percurso tem vindo a assumir uma relevância crescente, como os recentes vencedores dos concursos de música moderna e de jovens talentos, dos que estão a ser desenvolvidos por jovens empreendedores ou o trabalho realizado a nível do associativismo jovem, entre outros assuntos que irão decerto cativar o vosso interesse e atenção. Após 10 anos de existência, a p’almada mantém a missão de te dar a conhecer um Concelho que rejuvenesce e que acolhe os projetos dos jovens, reconhecendo a sua excelência e colocando-os num lugar de destaque, como o das páginas desta revista. António Matos Vereador dos Serviços Municipais de Desenvolvimento Social, Informação e Relações Públicas
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editorial
Com a p’almada constrói-se também uma pequena montra para todos os colaboradores editoriais, jovens com talento e ambições nas áreas da comunicação, fotografia, artes gráficas, ilustração e tantas outras áreas emergentes e de interesse, que passam a ter um novo canal de divulgação com a aposta na edição online, permitindo uma maior regularidade na apresentação de novos conteúdos idealizados e concretizados pelos jovens do Concelho, com o apoio técnico dos serviços municipais da juventude.
Sítio da Juventude versão 2.0
periscópio
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O sítio da juventude, em www.m-almada.pt/juventude foi reformulado, apresentando um novo design gráfico e muitas novas funcionalidades. Cumprindo a sua função de informar acerca das atividades e políticas municipais dirigidas à juventude do Concelho, a nova página inicial acolhe agora, para além da “Agenda” e das “Notícias”, menus específicos para informar acerca do “Fórum Municipal da Juventude”, do “Cartão Almada Jovem” e das “Associações”. Foram também criados novos conteúdos de divulgação para colocar “Jovens em Foco” e também um “Roteiro Jovem de Almada”.
A funcionalidade “Mapa do Site”, no fundo de cada página permite uma visão geral, para se aceder intuitiva e rapidamente a todos os conteúdos. As “Votações”, o “registo” e a subscrição rápida e simples da newsletter, garantem um maior nível de interatividade, cujo aprofundamento será garantido com uma nova funcionalidade, ainda em desenvolvimento: “Cria a Tua Página” irá permitir a criação de “microsites” de conteúdos originais e diretamente carregados pelos jovens, grupos e associações de Almada. Visita-nos, subscreve a newsletter e envia-nos as tuas notícias!
P´ALMADA online A Câmara Municipal de Almada lançou no passado mês de outubro a nova versão da revista p’almada, em formato online. A edição n.º zero, experimental, publicou diversos conteúdos originais, redigidos pelos colaboradores editoriais ao longo de 2012 e 2013, encontra-se disponível num link próprio do Sítio da Juventude, a partir da página inicial em www.m-almada.pt/juventude. A versão online da p’almada permite subscrever uma newsletter de divulgação para envio das futuras edições.
Desde a abertura de uma nova campanha de angariação de colaboradores, em setembro, a equipa editorial tem vindo a crescer bastante, contando agora com mais de quinze elementos, jovens estudantes ou profissionais nas áreas da comunicação, da fotografia e das artes gráficas, da música e da dança. A p’almada online irá publicar regularmente os conteúdos idealizados e concebidos pelos seus colaboradores, proporcionando-lhes visibilidade para os seus trabalhos e continuando a assegurar a divulgação de inúmeros projetos desenvolvidos pelos jovens em Almada.
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A Academia dos Patins, uma entidade com larga experiência na organização de eventos e projetos na área dos desportos radicais urbanos, criou a “Tour Agarra a Vida” enquanto veículo de divulgação, informação e prevenção do consumo de drogas e pela adoção de estilos de vida saudáveis, através da prática saudável do desporto. Com o apoio e organização da Câmara Municipal de Almada, esta digressão passou pela Escola Secundária Francisco Simões, no Laranjeiro, e pela Escola Secundária Daniel Sampaio, na Sobreda, em outubro passado. Pelo sucesso alcançado, a p’almada gostava que as boas vibrações sentidas durante as sessões da Tour tocassem ainda mais jovens, para que todos pudessem sentir a adrenalina que as imagens tiradas na Sobreda e no Laranjeiro tão bem documentam. Numa manhã em que se sentiu fortemente a elevada animação proporcionada pelos desportos radicais, foi grande o entusiasmo ou como dizia o animador do evento, foi um… “Gand’Abuso!”. A par dos comentários e da apresentação de estilos sobre as demonstrações de skate, patins, bmx e free style scootering, as mensagens foram de apelo à promoção dos estilos de vida saudáveis, tendo sido realizado um concurso de frases sob o tema e do qual saíram algumas das frases que aqui te deixamos para reflexão.
Escola Secundária Francisco Simões “Com drogas tens uma sensação boa durante minutos, sem elas tens durante horas” Rita Costa, 11º C “Há uma linha que separa a droga da felicidade” Íris Matos, 12º B
“Adrenalina é vida, droga é causa perdida” Ana Rita Villar, 10º C
“Tour Agarra a Vida não é uma frase, é um ponto de partida” Duarte Simões, 11º A Escola Secundária Daniel Sampaio “Esta escola é feliz, porque drogas ninguém quis”Joana Cerveira, 7º D
“Com umas passas por dia a tua vida não duraria. Com uma skatada por dia dá saúde e energia.” Jorge Rafael Luís, 9º D “A única droga que deves ter é uma vida saudável para viver” Maísa Filipa Matos, 9º E “Vive a vida com energia sem drogas no teu dia-a-dia” Catarina Pereira 7º B “Vive a vida com o coração, às drogas diz não” Gonçalo Correia Sanches, 9º F
na escola com ...
“Viver a vida sem drogas é viver a vida sem limites. Isso sim, é um gand´abuso” Inésia Gonçalves, 10º C
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epicentro
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Almada e u g n i t s di Jovens s o t n e Tal O Concurso Jovens Talentos, promovido pela Câmara Municipal de Almada, tem como objetivo premiar os jovens do Concelho que se distinguem nas mais diversas áreas pelo seu envolvimento na comunidade. Decorreu no passado dia 26 de Setembro, no Auditório Fernando Lopes-Graça do Fórum Municipal Romeu Correia, completamente cheio, a cerimónia de entrega dos prémios da 5.ª edição. Aos vencedores foram atribuídos prémios no valor de 1000 euros para o Prémio Almada Cidade Educadora e de 500 euros para as restantes
categorias. Para além dos vencedores, que a p’almada apresenta em destaque nas próximas páginas, foram ainda distinguidos com menções honrosas: Carina Crucho, Davide Pinheiro, Francesca Poggi, João Paulo Albuquerque, João Avó, Maria Canilhas, Miguel Gutierrez, Mónica Trilho e Laura Silva, Pedro Luís e Tiago Araújo. A noite tornou-se memorável com as participações do grupo de street dance “Mysterious Dancers”, do Clube de Instrução e Recreio do Laranjeiro e da AnTUNiA - Tuna Masculina da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
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Natural de Lisboa, desde sempre residiu na Cova da Piedade. Fez o pré-escolar no externato “O Barquinho”, frequentando mais tarde a Escola Primária dos Caranguejais e a Escola Secundária Emídio Navarro. Licenciou-se em Biologia Celular e Molecular, com um mestrado em Genética Molecular e Biomedicina, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Obteve uma bolsa “Erasmus” para mestrado no Imperial College London e uma bolsa de mérito de melhor estudante de mestrado da Universidade Nova de Lisboa do ano letivo 2007/2008. Em 2008/2009, foi-lhe atribuído o diploma
de melhor aluna do curso. Possui bolsa de doutoramento do Programa GABBA da Universidade do Porto, sendo doutoranda na UT Southwestern, em Dallas, Estados Unidos da América e no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa. É autora do livro “Immune response to Virus”, sendo coautora de artigo científico, publicado na imprensa especializada. Para a Ana Filipa, o talento é “gostar de algo, com dedicação e determinação para ultrapassar as barreiras que todos os desafios impõem”. Amante da cultura, do desporto e do conhecimento, vê em Almada o lugar onde fez amigos para toda a vida. Como velejadora do Clube Náutico de Almada tem o sonho de “dar a volta ao mundo em vela”. Com tanta ambição e provas dadas, a p’almada desconfia que não será o “trypanosoma brucei” que a irá impedir.
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A jovem cientista Ana Filipa Ferreira tem investigado, através de estudos moleculares, a forma como o parasita responsável pela “doença do sono” - “trypanosoma brucei” - consegue induzir alterações nos ritmos biológicos dos seus hospedeiros.
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10 Fundada em 2009, a Lifeshaker Associação é uma organização não governamental (ONG) que tem como objetivo primordial a promoção da cultura e do recreio como meios de aprendizagem não formal. A multiplicidade dos projetos que a Lifeshaker – Associação desenvolve com o apoio de entidades públicas, locais e nacionais, carateriza-se em três áreas de ação: a “Educação pela Arte”, a “Educação pelo Desporto” e a “Educação para a Cidadania”. O enfoque da sua intervenção tem impacto num plano local, indo ao encontro de um público-alvo centrado na população juvenil socialmente desfavorecida, em risco ou com trajetos desviantes, dinamizando atividades centradas na promoção de estilos de vida saudáveis como a base para o desenvolvimento de projetos de vida.
Com uma prática caracterizada pela promoção da ética, da igualdade entre pares, da solidariedade e da tolerância, obteve distinção a nível nacional com o Prémio “Jovens pela Igualdade”, entregue pelo Instituto Português da Juventude e do Desporto e pela Comissão Nacional para a Cidadania e Igualdade de Género. A estrutura organizativa e executiva da Lifeshaker - Associação, baseada exclusivamente em jovens voluntários/ as, tem demonstrado responsabilidade e competência ao longo de quatro anos de existência, comprovando o potencial humano existente. A constatação de que as crianças e jovens que em 2009 começaram a frequentar as atividades são agora a força dinamizadora dos projetos em curso, comprova que a educação pelo associativismo é uma realidade paralela ao seu interesse, à sua participação e autonomia.
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Em 2001, finalizou o curso da Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal e, desde aí, teve a possibilidade de estudar e ser acompanhado por grandes músicos nacionais e internacionais, frequentando workshops e master classes com inúmeros nomes consagrados nacional e internacionalmente. Em 2012, foi convidado para lecionar Bateria no Colégio Campo de Flores e torna-se anfitrião do evento “Record do Mundo de Bateristas”, realizado em Montemor-
-o-Novo, entrando definitivamente para a História da Música. Em 2013, é o primeiro Baterista português a ser patrocinado pela marca de baquetas “Te & Son”, tendo desenvolvido um modelo customizado com o seu selo de assinatura. Atualmente, é baterista dos Teratron, juntamente com João Nobre (ex-Da Weasel), Pedro Quaresma (ex-Da Weasel) e Tiago Madeira, com quem atuou no Festival Optimus Alive 2011 e do Rock in Rio 2012. É ainda baterista dos Trash Candies, de Almada, projeto rock cantado em português, juntando várias gerações e influências musicais e dos Fokker, projeto extinto nos anos 90, agora reavivado e cujo concerto inaugural, em novembro de 2012, foi de abertura para os Great White (banda americana de hard rock).
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Nasceu em Lisboa, em 1980, tendo crescido em Almada em estreita relação com as Artes, onde o fascínio pela Bateria surgiu desde muito novo. Depois de alguns anos a tocar em pequenas bandas, aperfeiçoar a técnica da Bateria e o desejo de ser músico profissional passaram a ser a sua grande prioridade.
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12 Fundadora da ANDA - Almada Não Dorme Associação, a Maria Temporão é coreógrafa e bailarina de diversas companhias e escolas de dança do país, tendo desenvolvido projetos com grupos da Companhia de Dança de Almada, Nuclisol, Jean Piaget, Jazzy, Butterfliesouldflow e 12 macacos, entre outros. Vencedora da qualificação do “Eurobattle 2009”, participou como bailarina e júri em diversos campeonatos nacionais e internacionais, desde as Caldas da Rainha ao Porto, de Lisboa a Maceió, do Recife ao Rio de Janeiro e a São Paulo, na Irlanda e em Inglaterra, entre outros.
Participou como bailarina em vários videoclips de bandas nacionais e internacionais, como os Makongo, os Buraca Som Sistema, os M.A.C., Jesus Luz (Brasil) e Bruno Méndez. Participou no vídeo promocional “MTV 10 anos” e nos projetos “Pensando Junto”, com Gabriel Pensador e “Clinica da Rocinha”, no Brasil, dirigido a portadores de deficiência mental. Maria Temporão tem conseguido, com um forte componente organizador e humano, envolver jovens de diferentes classes sociais e de vários países, valorizar os seus talentos, na dança, na música e nas artes urbanas. Nesta edição da p’almada, poderás ficar a conhecê-la melhor e ao seu trabalho, na entrevista apresentada nas PALAVRAS CRUZADAS (página 16).
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Em 2013, a segunda edição do “GO Youth Conference” decorreu na reitoria da Universidade Nova de Lisboa reunindo oradores de Silicon Valley, Los Angeles, Berlim, Londres, Budapeste e Lisboa, de onde se destacaram os fundadores de empresas como a Rapgenius, uma plataforma com mais de 20 milhões de utilizadores, a Kiip, com mais de 15 milhões de euros investidos, o lead designer do Prezi ou o cofundador da PODIO. Também esteve presente Hussein Kanji, um business angel considerado o melhor investidor em startups tecnológicas
na Europa. Estes oradores partilharam as suas experiências com mais de 400 jovens empreendedores portugueses e estrangeiros. Além deste projeto, o Tiago está envolvido na organização do TEDxYouthÓbidos, evento na área de comunicação online. Foi gestor de projeto na Beta-I, uma associação de promoção do empreendedorismo, onde desenvolveu o projeto Betatalk. Ajudou na investigação de entomologia forense nos laboratórios da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Lisboa e é fellow na Kairos Society. Participou em vários concursos nacionais e internacionais de ciência e empreendedorismo. Como resultado do seu trabalho, já esteve representado em vários media portugueses e estrangeiros como um exemplo de jovem empreendedor.
epicentro
O Tiago Vidal é o fundador do “GO Youth Conference”, um evento anual realizado em Lisboa, desde 2012, com o objetivo da promoção do empreendedorismo jovem, da inovação e da educação, tendo como principais oradores jovens fundadores de empresas americanas e europeias.
epicentro
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Com 14 Anos, Vasco Gaspar começou a competir na SFUAP - Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, em Almada. Mais tarde, na Escola Secundária Romeu Correia, terminou o 12º ano com 18 valores e um diploma de mérito. Em 2008, entrou para o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e concluiu o 1º ano com distinção. É atleta de alto rendimento internacional na modalidade de natação em águas abertas desde 2009 e foi inserido no projeto de esperanças olímpicas, nessa mesma modalidade, para o ciclo olímpico 2012-2016. Especializou-se nas provas de resistência, as chamadas maratonas aquáticas, onde se nada cerca de duas horas sem parar, em locais ao ar livre, seja mar, rio, lago, barragem ou albufeira.
Em 2009, mudou de curso para medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, onde colabora como investigador no projeto GERIA, estudo geriátrico dos efeitos na saúde da qualidade do ar interior em lares da 3ª idade de Portugal. Em 2012 foi o vencedor do circuito do Vale do Tejo, marcou presença na prova de qualificação olímpica para Londres 2012 e obteve resultados internacionais de destaque em mundiais e europeus. Está convocado para ir representar Portugal no Campeonato do Mundo de Barcelona 2013, na modalidade de 5 e 10 km. Conciliar os treinos de natação de alto rendimento com o curso de Medicina, onde também é investigador, é um desafio pessoal que o tem levado a altos níveis de desempenho, tanto no plano desportivo como no plano académico.
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caixa de lápis
“Under Your Bed…”, por Natasha Mascarenhas
palavras-cruzadas
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Maria Tempor茫o Ins贸nia na Cidade
por Marta Tavares
A Dança e o Hip Hop
P´ALMADA Com que idade despertaste para a dança?
Mary Rock Tinha a certeza que queria
seguir desporto, só que nunca pensei em seguir dança. Aos 19 anos, entrei em “Animação, Recreação e Lazer” na Escola de Desporto de Rio Maior e, mesmo no final, houve um professor que me levou a experimentar o fitness. Acabei por tirar também este curso, terminando por volta dos 24 anos.
P´ALMADA O que te levou ao interesse pelo hip hop e pelo breakdance?
Mary Rock Bem, eu sou de Almada
Praça da Liberdade. Também no Ponto de Encontro e na Casa Amarela, onde sempre treinei e onde nasceu a “Let’s Battle”. A nível nacional, desde o Algarve a Leiria, ao Porto e a Santarém. Lá fora, estive em França, Itália, Espanha, Irlanda e mais recentemente no Brasil, em Recife e Rio de Janeiro.
P´ALMADA O que te fascina na cultura hip hop?
Mary Rock Acima de tudo o facto de
ser uma cultura que vivemos desde que acordamos até que nos deitamos. Na “Casa da Maria Joana” estamos a desenvolver as quatro vertentes - o break, o graffiti, o MCing e o DJing. E estamos todos envolvidos - Mafia do Caril, M.A.C., o writer Vilela, entre outros - porque fazemos parte da mesma cultura.
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e nós estamos rodeados de cultura urbana. A cultura hip hop esteve sempre presente na minha vida, na maneira de vestir e de conviver com P´ALMADA Que gratificação retiras do os outros. Quando voltei a Almada, ensino da dança e como te sentes ao comecei a interessar-me pelo break. fazê-lo? Foi engraçado porque eu apenas dançava newstyle quando decidi ir Mary Rock Tenho muitos momentos com um colega de faculdade a um engraçados como, por exemplo, uma campeonato de breakdance a Setúbal. aluna de 5 anos que me ofereceu Como o meu colega desistiu, pedi um desenho de uma boneca loira de ajuda a alguns colegas de Setúbal, que pernas para o ar e que dizia: “Maria, me apresentaram gosto muito do hip o Speedy, um b-boy “Eu transpiro break!” hop, gostei muito de muito conceituado aprender o babyfrise”. com quem fiz par. Tenho alunos que estão comigo desde Muito perto da hora de começar ele que comecei a dar aulas há seis anos ensinou-me uns quantos passos e e quando os vejo em battles, encheacabámos por ganhar o campeonato. -me o coração ver que treinaram e que A partir daí comecei a apaixonar-me se esforçaram para além das minhas cada vez mais e hoje é a minha vida. Eu aulas. Fico muito contente quando eles transpiro break. chegam ao pé de mim e me mostram P´ALMADA Em que palcos te iniciaste? novas coisas que já conseguem fazer, é encantador… Mary Rock No Auditório Fernando P´ALMADA Sentes-te mais bailarina ou Lopes-Graça, onde comecei com a mais uma pessoa que ajuda os outros a Companhia de Dança de Almada e lidarem melhor com a vida? pelas ruas de Almada, em especial na
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Mary Rock Sinto-me as duas coisas.
Sinto-me bailarina porque tenho treinado para isso, embora sabendo que em breve isso vai acabar, é a lei da natureza… Ainda me sinto com a energia e a vontade de uma bailarina mas também olho para o lado da construção, sempre tive as duas coisas, dançar e divulgar a cultura, organizando eventos, battles, “fazer barulho”, como costumamos dizer.
se dedicam ao hip hop e deixam de fazer certas asneiras, seguindo outro rumo. Na favela conheci muitos que me disseram que se não fosse o break, estariam presos ou mortos.
P´ALMADA O que te levou ao Brasil? Mary Rock Queria ir seis meses para
um país com ligação ao hip hop. Pensei inicialmente em Nova Iorque, ir ao Bronx, onde nasceu o hip hop, conhecer a Rock Steady Crew e Afrika BambaaBrasil ta… mas não tinha dinheiro suficiente e decidi-me a ir para o Rio de Janeiro. P´ALMADA Porque é que a dança é Lá a cultura tinha o lado social que é tão importante para as pessoas e em uma coisa que sempre me apaixonou. especial para os jovens? Quando cheguei ao albergue, escrevi uma mensagem no Orkut a dizer que Mary Rock Eu estive durante seis mequeria conhecer b-boys ses na favela da Roda zona e a partir daí “Aprendi que o hip hop cinha, no Brasil, onde conheci pessoal ligado pode mudar vidas” a realidade é muito ao break. Comecei a ir mais dura e crua e a espetáculos, a battles, a cypher’s… onde reforcei a minha opinião acerca foi a maior loucura que alguma vez fiz do poder do hip hop. Aprendi que o hip na minha vida. hop pode mudar vidas, miúdos que
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P´ALMADA Houve algum caso que te
Prémio
balhaste no projeto “Pensando Junto”. Qual foi o teu contributo?
Mary Rock Tendo como padrinho Ga-
tivesse marcado mais, algo impossível de esquecer?
Mary Rock Uma das coisas que me
marcou bastante foi a força que o break tem em encaminhar os jovens para o bom caminho. Por exemplo, na favela de Água Fria, no Recife, o pessoal deslocava-se duas horas para ir para o treino, treinavam três ou quatro horas
P´ALMADA O prémio “Almada - Terra
Solidária e das Oportunidades” do 5º Concurso Jovens Talentos reconheceu o teu trabalho e a entrega com que tens ajudado jovens almadenses através da dança. Sentes este prémio como um incentivo para expandires o teu trabalho?
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briel, O Pensador, esse projeto era onde os miúdos aprendiam a ler com rimas de hip hop, a escrever rap e a dançar para fazer um espetáculo, com o objetivo de mudar o seu caminho, afastá-los da realidade das drogas. Eu era professora de break e andava sempre com eles para todo o lado. Quando me fui embora foi um mar de lágrimas e ainda hoje penso onde é que estarão esses miúdos.
e iam dançar para um semáforo, fazer uma coreografia e pedir dinheiro. Ali passavam o dia todo para ganhar dinheiro para comer, é a vida deles. O treino fazia-se num jardim enorme, com cerca de cinquenta b-boys, uma coisa gigantesca. Isto impressionou-me muito porque lá eles não têm uma sala como nós temos. Nós aqui temos tudo, temas salas em condições, rádio, um chão lisinho. Foram coisas que me marcaram muito, eles têm uma energia e uma vontade enorme, porque não têm nada… Nós temos tudo e as pessoas não dão valor a isso.
P´ALMADA Na favela da Rocinha tra-
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atividades para ajudar quem precisa. Nós não somos uma empresa, somos reconhecidos e eu levo esse reconheuma casa de jovens que quer dinamizar cimento muito a peito. Quando vim a cultura, a arte urbana, a fotografia, da faculdade quis logo mexer-me em a moda, a dança. A Casa da Maria Almada e esse reconhecimento foi Joana está aberta para toda a gente, muito bom porque foi um trabalho com espetáculos de dança, mercado muito longo. Foram muitos anos a dar, de trocas, pinturas faciais, desfiles de a dar, a dar… Em termos de projeção, moda, exposições de fotografia e seripenso que é sempre bom ter este grafia, workshops género de reconhe“Somos uma casa de jode dança. Trabacimento e espero vens que quer dinamizar a lhamos também colher frutos dele. cultura e a arte urbana” em parceria com outras associações Almada Não Dorme Associação e grupos, como o Gang dos Bichos, recebendo roupa, alimentação e P´ALMADA A Almada Não Dorme medicamentos para animais abandoAssociação tem agora a sua sede na nados. Temos também connosco os “Casa da Maria Joana”, propondo-se M.A.C., os padrinhos da Casa da Maria a divulgar a cultura hip hop. Como foi Joana e o DJing com os Máfia do Caril. esta experiência? O writer Vilela está connosco ao nível dos graffiti. Temos muitos alunos da Mary Rock Criar esta associação foi Santa Casa da Misericórdia de Almada, um dos maiores desafios porque tive onde dou aulas gratuitas, que nos tem que chamar o meu lado mais frágil, acompanhado ao longo dos anos. tratar das burocracias que envolvem a criação de uma associação. Com um P´ALMADA A quem gostarias de dar mês ou dois de associação, a minha uma P´ALMADA? amiga Joana Pitanga propôs-me desenvolver um projeto juntas, em que Mary Rock Eu dava uma grande ela tem a parte da oficina de costura palmada a Almada, que Almada Não e moda e eu a parte da Dorme e o pessoal “Queremos acordar dança. Ela tinha enconANDA todo a dormir. Eu Almada!”. lembro-me que Almada trado um bom espaço era uma cidade cheia em Almada Velha e de vida, de cultura e alegria e agora foi aí que decidimos instalar a nossa está tudo a morrer… E nós queremos associação e o nosso projeto. acordar Almada! E já agora gostava de P´ALMADA Que atividades vão ser dirigir alguns agradecimentos, à Câmadesenvolvidas? ra Municipal de Almada e à Divisão de Juventude, aos meus alunos, ao Gang Mary Rock Embora este projeto seja dos Bichos, aos M.A.C. e aos Máfia algo virado para a promoção da arte do Caril, aos pais, à Joana e à crew urbana, nós queremos sempre ter feminina Buttlerfly Soul Flow, ao Rocka presente o lado social, fazendo muitas e à Gandaia…
Mary Rock É sempre bom sermos
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Geraçã o Cool
Uma Vo z no B airro por
Geração
associativismo
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Um dos pontos fortes do projeto “Geração Cool E5G”, promovido pela Santa Casa da Misericórdia de Almada, é o ateliê de produção musical que se iniciou ainda na 4ª Geração Escolhas, em 2010, designado como “Oficina de Hip Hop”, para composição e ensaios. Foi aqui que se formaram os “De La Kapta”, um grupo que começou a trabalhar letras e beats e que, em pouco tempo, tinha trabalho para mostrar. O som começou a ser conhecido entre os amigos e surgiram as primeiras atuações ao vivo.
Cool E5G
Em Junho de 2012 apresentaram-se na festa de encerramento do ano letivo na Escola Secundária Monte de Caparica e, ainda nesse verão, subiram ao palco nas Festas do Monte de Caparica e de Corroios. Seguiram-se mais atuações, entre elas a participação no “Festival Emigrarte”, em Lisboa, evento em que voltaram a participar a 16 de Novembro passado, no Ateneu Comercial de Lisboa. Pelo caminho houve uma passagem pelo estúdio para registar uma primeira mixtape. “Vozes do Bairro” é um CD com 8 temas, histórias e vivências do quotidiano dos jovens que integram os De La Kapta. O lançamento deste trabalho integrou-se na Quinzena da Juventude de 2012. Tratou-se de um evento que englobou uma exposição acerca da história da cultura hip hop e um concerto em que os De La Kapta contaram com a presença de vários convidados e casa cheia. Este CD já teve duas edições sendo que a primeira era acompanhada por um DVD com um videoclip da música “Putos do bairro”. O grupo conta atualmente com dez elementos, os quais se encontram a trabalhar em material para um
segundo CD. Mais uma vez, as vozes cantam o quotidiano, o amor, a amizade, o sonho e a luta. É que “isto de ser um puto do bairro, acredita é lixado mas… se a vida te dá um limão faz limonada!”. Mais uma vez as vozes cantam e na voz de quem canta, De La Kapta é vida, é união de vozes e um porto de abrigo. Para melhorar o funcionamento da “Oficina de Hip Hop”, com a preciosa ajuda de alguns amigos, foi construída no espaço de ensaio uma cabine isolada para gravação que só falta equipar. E, como à partida nada cai do céu, puseram mãos à obra e apresentaram uma candidatura ao programa “Juventude em Ação – Iniciativas Jovens”. Aguarda-se pelos resultados e se tudo correr bem, os participantes assim o esperam, conta-se que a gravação dos próximos trabalhos já seja feita “em casa”.
associativismo
“Se a vida te dá um limão faz limonada!”
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Noidz 2.0.1.3. Já são bem conhecidos os aliens que vieram do planeta Noidz e que conquistam os nossos palcos com as suas poderosas armas sonoras. O álbum 2.0.1.3. é a segunda invasão por parte destes seres do outro mundo, com música a condizer.
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Com um nível de produção incrível, Zork e companhia conseguem juntar o tradicional português e o fado com o rock e a eletrónica, criando assim uma onda de som explosiva que é genuinamente sua. Recuperando o tema “Root Sounds From Earth” do primeiro álbum, o disco apresenta enérgicos temas como “Estranha Forma de Vida”, num tributo a Amália Rodrigues com voz de Kátia Guerreiro, “O Pastor”, que renovou um original dos Madredeus ou “Message to Earth”, com Júlio Pereira, entre outras composições que quebram a fronteira do imaginário terrestre e nos transportam pela diversidade instrumental para algo de novo e arrojado. Um disco demente pela sua força e originalidade.
por Bruno Mendes
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João Pedro Mamede A Vida ao Quadrado
por Daniela Silva
Foi nesta formação que o João Pedro percebeu o seu gosto pelo teatro. Acostumado a ouvir o Francis dizer que “o teatro é a vida ao quadrado, só no teatro se vive a relação com os outros, no espaço e no tempo”, recorda hoje que a formação com Francis foi isso mesmo e escusado será dizer o quanto adorou esses tempos. Em 2012, participou em “A Morte de Danton” de Georg Büchner, com encenação de Jorge Silva Melo e, já em 2013, participou em “A Paz” de António Tarantino, com colaboração de Jorge Silva Melo e em “Sala VIP” de Jorge Silva Melo, com encenação de Pedro Gil. Mas foi com a peça “A 20 de Novembro” de Lars Norén, dirigido por Francis Seleck e produzido pela ACOME, num monólogo assombroso, muito
elogiado pela crítica especializada e que percorreu o País numa digressão promovida pela companhia Artistas Unidos, que João Pedro garantiu o seu lugar de destaque no atual panorama do teatro, a nível nacional. João diz que foi um dos trabalhos que mais gostou, por representar “um diálogo com o público e daí residir uma maior dificuldade e um maior desafio”, tendo tido o privilégio de atuar em palcos como o Teatro Helena Sá Costa, no Porto, a Casa de Teatro de Sintra – Chão de Oliva, o Teatro da Politécnica, em Lisboa ou o Teatrão/OMT em Coimbra, entre outros. João Pedro criou junto de Pedro Sousa Loureiro, “Playground Session”, a partir de Eduardo II de Marlone e criou também junto de Catarina Rôlo Salgueiro e com João Aboim (pianista) “Hansel & Gretel dedicam-se ao futuro em 3 passos”. Neste momento divide a sua vida entre o trabalho como ator na companhia Artistas Unidos e o trabalho de criação que faz com o seu grupo “Os Possessos”, do qual também fazem parte Catarina Rôlo Salgueiro e Nuno Gonçalo Rodrigues.
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João Pedro Mamede terminou agora a licenciatura em teatro na Escola Superior de Teatro e Cinema, tendo iniciado a sua formação em Almada, no grupo Cena Múltipla da ACOME/Associação Cultural O Mundo do Espetáculo, entre 2006 e 2010, formação dada por Francis Seleck, Catarina Pé-Curto e Pedro d´Orey na Casa Municipal da Juventude – Ponto de Encontro.
Voluntariado Ajudar por gosto e Vocação
por Tatiana Trilho
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O trabalho voluntário de cariz social tem vindo a ganhar protagonismo ao longo dos últimos anos, tornando-se numa realidade incontornável na sociedade atual, impulsionado pelas crescentes carências da população. A crise tem vindo a contribuir para a consciencialização da importância da solidariedade e do voluntariado. Uma preocupação constante com o futuro e o espírito de entreajuda são motivos apontados por muitos para se tornarem voluntários, podendo-se definir esta atividade como um exercício da cidadania que se traduz numa relação solidária para com o próximo, de participação livre e cívica na resolução prática de problemas que afetam a sociedade em geral. A emissão do Cartão do Voluntariado pela CNPV - Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado é um direito que assiste ao voluntário como reconhecimento público do seu serviço. Outros direitos do voluntário são receber apoio e formação de acordo com os
seus conhecimentos, ter um ambiente de trabalho favorável e participar nas decisões que dizem respeito ao serviço que presta. Em contrapartida, cabe-lhe observar certos deveres como preservar a vida privada e as convicções de quem está a ajudar, guardar sigilo sobre assuntos confidenciais ou respeitar as opiniões e recomendações dos profissionais e especialistas. O relatório da ONU - Organização das Nações Unidas, em 2011, mostrou que se inscreveram em projetos de voluntariado mais de 18 mil pessoas, distribuídas por 162 países e que as suas intervenções foram maioritariamente dirigidas para a África Subsariana. A área em que se desenvolveram mais projetos foi a de “prevenção e recuperação de crises”. A nível nacional existe um grande número de organizações, associações e atividades de trabalho voluntário. O CNPV – Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado fornece, em www.voluntariado.pt, todas as informações necessárias.
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Voluntariado na Europa
Voluntariado Internacional
O SVE - Serviço Voluntário Europeu, em www.sve.pt, permite aos jovens, com idade entre os 18 e os 30 anos, levar a cabo serviços de voluntariado até doze meses, num país que não o seu. As atividades têm lugar em países da União Europeia e os voluntários são escolhidos independentemente das suas habilitações literárias, qualificação profissional ou experiência específica, sendo dada formação aos candidatos após a sua seleção.
A OIKOS, em www.oikos.pt, é uma organização não-governamental para o desenvolvimento, fundada em Portugal em 1938 e reconhecida internacionalmente: “acreditamos, acima de tudo, num mundo sem pobreza e injustiça onde o desenvolvimento humano seja equitativo e sustentável à escala local e global”, afirmam os seus dirigentes. Em Portugal, o seu trabalho desenvolve-se nas áreas da educação para a cidadania global, do desenvolvimento
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de parcerias para a promoção do “bem comum” e do exercício da “influência pública”. A organização promove o envolvimento cívico através do voluntariado, da angariação de donativos, da assinatura de petições públicas e da realização de eventos. Em www.ataca.org, encontras a ATACA – Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana, uma associação de solidariedade social sem fins lucrativos, com sede no Porto e que visa o desenvolvimento humano nas regiões do mundo mais desfavorecidas, contribuindo com voluntários para projetos desenvolvidos em várias regiões de Moçambique. A associação tem operações de voluntariado em África e em Portugal, sendo possível ser-se voluntário, tutor à distância ou fazer um donativo. O prestigiado prémio “ACE – Active Citizen of Europe Award – 2012” foi atribuído a Isabel Fernandes, de 24 anos, pelo trabalho voluntário desenvolvido como coordenadora da missão em Moçambique, entre junho de 2011 e agosto de 2012.
Voluntariado Nacional É do conhecimento público a existência de várias associações onde os voluntários têm de estar bem preparados para lidar com situações de grande complexidade emocional, exigindo-se uma intervenção especializada. É o caso da APAV - Associação de Apoio à Vítima, em www.apav.pt, onde o voluntariado pode assegurar o atendimento direto à vítima ou prestar serviços no âmbito da sua experiência profissional. Já em www.ligacontracancro.pt, na LPCC – Liga Portuguesa contra o Cancro, a adesão do voluntário é mais escrutinada, exigindo-se que seja maior de idade, compareça a entrevistas de avaliação sobre a sua disponibilidade e motivações, que frequente um curso de formação no caso da candidatura ser aceite, que estagie durante um período de tempo variável e que cumpra um horário previamente acordado para o desenvolvimento da sua atividade. Em www.bancoalimentar.pt, o BA - Banco Alimentar promove a campanha “Alimente esta Ideia”, recolhendo
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alimentos em supermercados por todo o país. A nível nacional, esta é a ação de solidariedade que, num tão curto espaço de tempo, mobiliza o maior número de voluntários. O voluntário pode participar na campanha de recolha de alimentos ou no armazenamento e distribuição dos donativos. A ajuda dos portugueses tem vindo a crescer todos os anos. O programa “Jovens para as Florestas”, em juventude.gov.pt, pretende
alertar os jovens para a necessidade de “cuidar” da floresta e de consciencializá-los para o estado em que esta se encontra. Uma das atividades que se destaca é o “Campo de Voluntariado Jovem”, com a duração de sete dias, onde os jovens voluntários contribuem para a limpeza de espaços florestais, a recuperação trilhos e caminhos, a observação e vigilância da fauna e da flora, entre outras atividades.
Voluntariado em Almada Em Almada existem diversas associações que acolhem voluntário e dão apoio aos mais carenciados. Se estás interessado, encontrarás em www.voluntariado.pt uma listagem das organizações do Concelho que apelam ao teu apoio!
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Um desses exemplos é a Lifeshaker – Associação, em lifeshakers.blogspot.pt, e do seu projeto “AJA – Almada Jovem Ativa”, de mobilização para a criação de uma rede de voluntariado jovem entre associações e outras entidades, com cobertura em todo o Concelho. Os voluntários contribuem na organização de eventos cujo objetivo seja a promoção da igualdade a diferentes níveis - igualdade de géneros, de oportunidades, entre outros. Em 2012, esta associação foi distinguida com o 2º lugar do “Prémio Jovens pela Igualdade”, atribuído pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, premiando a presença regular da componente de igualdade de género no desenvolvimento dos seus projetos. A Lifeshaker - Associação promoveu um encontro, na Quinzena da Juventude de 2012, com objetivo de debater a prática do voluntariado no Concelho, tendo apresentado o resultado de um questionário aplicado a jovens de Almada sobre a sua relação com o trabalho voluntário. Os resultados mostraram que mais de metade dos jovens inquiridos (55%) nunca teve experiências dessa natureza mas que quase todos (87%) mostram disponibilidade em receber informação sobre o assunto e que a maioria (57%) revela interesse em participar em atividades do género, regular ou pontualmente. O Escutismo é um movimento mundial de carácter não político, aberto a todos, fundado por Baden-Powell com o pro-
pósito de “contribuir para a educação integral dos jovens de ambos os sexos, baseado na adesão voluntária (…) que permite a cada jovem ser protagonista do seu próprio crescimento (…)”. O CNE - Corpo Nacional de Escutas desenvolve diversas atividades, promovendo valores como a igualdade, o respeito, a solidariedade e as “boas ações”. Existem agrupamentos por todo o concelho de Almada, o seu contato encontra-se disponível em www.cne-escutismo.pt. Também presente no concelho de Almada, a Associação de Escoteiros de Portugal, www.escoteiros.pt, tem o seu grupo 173 sediado na Charneca de Caparica, desde o ano de 1991. Este
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grupo promove o voluntariado em torno do espírito de equipa e da entreajuda, reforçado nas atividades culturais, desportivas, lúdicas, ambientais e serviços à comunidade, participando regularmente em atividades promovidas no Concelho, como a Quinzena da Juventude ou a FAJA - Feira das Associações Jovens de Almada. Descobre mais em www.grupo173.no.sapo.pt. Fundada em 2012, a 1ª Companhia de Almada da Associação Guias de Portugal promove o desenvolvimento do voluntariado juvenil junto das jovens, regendo-se pelos mesmos princípios orientadores de Baden Powell. Realiza as suas atividades, regularmente, no
Parque Aventura, perto da Piscina Municipal da Charneca da Caparica. Sabe mais em www.guiasdeportugal.org. Conclusão Considerando muito importante a promoção do voluntariado e a sua prática, especialmente quando promovido no âmbito da juventude, a P´ALMADA deixa-te a seguinte reflexão: “Podes mudar a vida de uma pessoa em troca de uma hora do teu tempo, descobrindo que ser solidário compensa e que… a melhor gratificação não é a monetária!”.
Tiago Durão
Apaixonado pelo Teatro
por Tatiana Trilho
Tiago Durão é um jovem almadense de 21 anos, formado na Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde estudou interpretação e artes do espetáculo, sendo fundador e diretor artístico da companhia Art Theatre Ensemble.
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Após uma temporada no auditório Camões em 2012, onde trabalhou em proximidade com grandes nomes do teatro nacional, a companhia veio a fixar-se na Sobreda, onde encabeçou a organização do “Festival OFF 2013”. O mistério que envolve o mundo do teatro, o contacto com o público e a influência de uma amiga levaram-no a Cascais, onde aprendeu, desde cedo, que é necessário “procurar, ser interessado” para se ser bem-sucedido. Foi este espírito que o levou a fixar-se, com a sua companhia, na “cidade alentejana”, como Tiago se refere à Sobreda e a organizar com sucesso um festival de teatro com a duração de oito dias e os apoios da Junta de Freguesia da Sobreda e do Clube Recreativo Sobredense. Atualmente é a sua energia sem fim e as relações de amizade e respeito, que mantém com os restantes membros da Art Theatre Ensemble, que o levam a “trabalhar, com gosto, até vinte horas por dia. A dedicação, empenho, paixão e disponibilidade de todos os envolvi-
dos, é o segredo que mantém viva a Art Theatre Ensemble”, realça Tiago Durão. Apesar de ter alguma experiência como ator é fora do palco que se sente mais confortável, enquanto diretor artístico, reescrevendo peças com o seu cunho pessoal, o que o distingue na sua forma de fazer teatro: “não há ninguém que faça teatro como o meu, um teatro fotográfico, político, técnico, estético, influenciado pelo expressionismo alemão”, refere. Preza a transparência e a honestidade, o estore à entrada do seu gabinete, em vez da convencional porta e o facto de se poderem observar, da plateia, os armazéns da companhia, provam isso mesmo. Para o Tiago, a reação do público é deveras importante pois “levar o público à catarse” é a função mais nobre do teatro e “o teatro é uma forma de estar na vida, é arte e um agente da cultura e da educação, onde todos os elementos são importantes pois não há pequenos nem grandes papéis”, declara. Fica atento pois a Art Theatre Ensemble está a preparar o espetáculo “Quem tem medo de Virginia Wolf?”, a apresentar na Sobreda, em data a determinar.
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Muito Chão Uma viagem pelas Origens por Ana de Freitas
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A P’ALMADA assistiu à estreia de “Muito Chão”, coreografia de Benvindo Fonseca, no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal. Um espetáculo sensorial, dançado por oito talentosos bailarinos da Companhia de Dança de Almada, “Muito Chão” encerra a trilogia de coreografias que comemora os 30 anos de carreira de Benvindo Fonseca, que se estreou como bailarino profissional em 1983, no Grupo 7ª Posição. Depois de África em “Edzer” e Portugal com “Casa do Rio”, o coreógrafo evoca a Índia, num regresso às suas origens. Benvindo Fonseca nasceu em Moçambique, os pais são de Cabo Verde, os bisavôs maternos são portugueses e os paternos, indianos. Daqui resulta uma profusão de raízes e influências, revisitadas nesta trilogia, que se traduz, simultaneamente, numa “caminhada espiritual” e numa viagem interior, segundo revelou Benvindo Fonseca à publicação Mais TMJB – o jornal do Teatro Municipal Joaquim Benite, onde o espetáculo foi entretanto apresentado. Em “Muito Chão”, o coreógrafo procurou explorar a Índia enquanto “associação do terreno e do espiritual, do autêntico e do etéreo” e levar estes paradoxos até ao limite. Na sua opinião, a dança étnica indiana oscila entre dois extremos: “tem qualquer coisa de humano e de espiritual”. Da
plateia sentem-se as vibrações de um país onde a espiritualidade e os deuses convivem com o humano e o mudano. Os bailarinos estão enraizados no chão e na terra mas, simultaneamente, evocam os deuses e, por momentos, quase que chegam a dançar com eles. Porque entre o chão e o céu há lugar para a dança. Benvindo Fonseca foca-se na experiência sensorial dos bailarinos e procura explorar aquilo que considera ser a essência da dança: “o movimento, nunca desprovido de emoção e intenção”. Mariana Romão, bailarina da Companhia de Dança de Almada, revela que, para o intérprete, este “é um trabalho de busca interior e comunicação com algo superior e transcendente (…) e por isso a mensagem que o público sente chegar é essa, tão sensorial, introspetiva e espiritual”. A plenitude do mundo está aqui refletida no cruzamento de linguagens e na diversidade de escolhas sonoras. O pulsar da terra eleva-se do chão e faz-se ouvir nos passos dos bailarinos e no som grave do didgeridoo, instrumento de sopro dos aborígenes australianos, tocado ao vivo por Carlos Mil-Homens. A celebração dos 30 anos de carreira de Benvindo Fonseca fica também marcada pela relação estreita do coreógrafo e antigo bailarino com
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a Companhia de Dança de Almada (CDA). Depois de “Xancan” (1994) e “Com os Olhos de... Água para Chocolate” (2002), os bailarinos de Almada voltam a entrar no seu universo, dançando “Casa do Rio” (2011) e “Muito Chão” (2013), cuja ante estreia foi apresentada em conjunto com a inauguração da exposição “Sempre Benvindo”, comemorativa dos 30 anos de carreira, na abertura da 21ª Quinzena da Dança de Almada.
Uma Casa a todo o Vapor Eu tenho a “minha” casa. Tu tens a “tua”. E se pudéssemos ter uma casa “nossa”? Nossa de todos, de um grupo, de uma comunidade, construída por nós e para todos nós, uma casa que a todos recebe de braços abertos? A “Casa do Vapor” foi assim.
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Erguida pelo coletivo Exyzt, a casa nasceu fruto do voluntariado dos moradores da Cova do Vapor, que muito contribuíram também para a sua manutenção e dinamismo enquanto espaço cultural. O projeto torna-se ainda mais interessante se tivermos em conta que a casa foi construída para ser desconstruída. Um espaço efémero, de incentivo à aprendizagem e à valorização cultural, composta por uma cozinha, cicloficina, rampa de skate, forno comunitário e uma biblioteca com centenas de livros doados. A Casa do Vapor conseguiu completar-se de algo de misterioso, raro nos dias de hoje. As madeiras que a suportavam foram abaixo mas a verdadeira Casa, essa, ela vive.
por Bruno Mendes
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debaixo de olho
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Se o e gue xe -l mpl he s o Ricardo Matos
Ricardo interrompeu os estudos em design gráfico, para ser mecânico de aviões na Força Aérea. Retomou o curso e complementou-o com vários workshops, de 3D, fotografia e web design. Trabalhou em empresas de comunicação e depois aventurou-se como freelancer, mas como o seu primeiro voo a solo não correu bem, sentiu “a necessidade de saber o que era um negócio”. Assim que ouviu falar do Programa de Apoio ao Empreendedor foi “a correr” inscrever-se. “Foi um curso intensivo, mas valeu a pena”, diz-nos Ricardo. Ao longo de dois meses “deram-me ferramentas para perceber o que estava a fazer mal, para corrigir os meus erros e para me adaptar ao mercado de trabalho”, resume. A sua ideia de negócio eram as visitas virtuais que “só tem a Google” como concorrência direta, ironiza. Mas graças a esta formação, é nesta área
que continua a trabalhar. “Percebi que se tiver o tal elemento diferenciador, consigo ir mais longe”, afirma. Sediou-se no Quarteirão das Artes, um dos quatro ninhos de empresas do Concelho, onde já estabeleceu duas parcerias. “Aqui o meu projeto está sempre a crescer”, por isso, “apesar de pagarmos uma renda o investimento é fantástico”. Entre outros projetos, já fez uma visita virtual à Casa da Cerca, o seu projeto-piloto, em que experimentou e aperfeiçoou a técnica; uma visita virtual do avião de instrução elementar da Força Aérea, o Chipmunk; o site do restaurante Sushic, do Lisboa Almada Hotel, incluindo uma visita virtual. Gostaria de fazer uma visita virtual em 3D a Almada Velha, mas recriando o seu ambiente ao longo dos séculos. Tem tudo o que precisa para o fazer, mas falta-lhe tempo e dinheiro para pôr de pé este elogio à terra onde cresceu.
Rita Dória
Quando soube do Programa de Apoio ao Empreendedor, a formação já tinha começado, mas ainda assim, Rita Dória inscreveu-se. Sempre quis ter o seu próprio negócio, mas sentia que lhe faltavam conhecimentos ao nível da criação de empresas. Foi já com a sua ideia de negócio delineada: aproveitar a sua formação em design e criar uma marca inspirada nos bordados tradicionais portugueses.
O cheirinho a rosmaninho recebe-nos nesta loja, onde encontramos sacos de histórias em linho, onde os bordados nos explicam símbolos nacionais como o fado ou a filigrana, mas também individuais com as receitas típicas do nosso país, lenços dos namorados com poemas de Fernando Pessoa, toalhas com o nome dos clientes ou lençóis com monogramas delicados. Todos os produtos podem ser personalizados para o cliente, que pode ainda trazer peças para serem bordadas ao seu gosto.
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QUEM SÃO EL ES?
Nomes: Ricar
do Matos e R ita Dória Profissão: jo vens empres ários Local de trab alho: Quartei rã o das Artes e Rua Cândido dos Reis Em comum: Finalistas do Programa de Apoio ao Empreended or de Almada, do G ACECI
ESTE É O TEU MELHOR CONTACTO Gabinete de Apoio à Criação de Emprego e Captação de Investimento Rua da Judiaria, nº 14, 2800 - 125 Almada Tel.: 21 273 63 80 email: info@novalmadavelha.pt site: www.almadadigital.pt
debaixo de olho
“Quando terminei o curso decidi arriscar”. “Hoje em Dia” é o nome da sua loja, que veio dar um toque de romantismo à Rua Cândido dos Reis, em Cacilhas. Está estrategicamente localizada junto ao Centro Municipal de Turismo, atraindo muitos clientes estrangeiros, que querem levar uma recordação do nosso país, mas também portugueses que querem levar um mimo para quem está longe de Portugal, diz-nos Rita, mostrando algumas das peças maioritariamente confecionadas por si e pela mãe, de quem herdou o gosto por “coisas manuais e antigas”.
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l e v í r c n I O Corta!
por Bruno Mendes
Existe um lugar em Almada onde o conceito de “bar” e “sala de espetáculos” se juntam, tornando-o único de seu género – estamos, pois, a falar da Cine Incrível. De facto, “incrível” é também um de muitos bons adjetivos para descrever este espaço. Gerida pela Associação Alma Danada, é um ponto de encontro das artes e cultura, seja música, cinema, teatro, fotografia ou workshops, funcionando como uma caixinha de experimentação para uns e um local de afirmação para outros. Este grupo de amigos, voluntários, tem vindo a dinamizar o espaço, criando eventos semanalmente e alimentando um “ambiente diferente, confortável”, que “se transmite para as pessoas”, de tal forma que “quem vem uma vez, normalmente volta”. Foi com base nesta realidade que surgiu o “Corta! Festival de Artes e Cinema”. O programa, de quatro dias, procurou contribuir para o primeiro tema, o “Halloween”, abrindo com a excelente atuação dos aliens Noidz, que encheram o espaço com os metaleiros RAMP e com o rock interventivo dos PunkSi-
Só através de muito “trabalho, cansaço e muito sono”, bem como a ajuda de associações como a Gaita-de-Foles ou o movimento “Shortcutz”, foi possível a realização de um evento deste calibre, sem ajuda monetária nem qualquer tipo de lucro, para além da satisfação em receber o gosto e aprovação por parte dos participantes. A bilheteira, já de si bastante acessível, reverteu para os artistas e até as legendas dos filmes, por exemplo, foram feitas pelos voluntários, começando todas por informar que “esta legendagem não respeita o novo acordo ortográfico”. O futuro do “Corta!” tem apenas uma certeza, a de querer acontecer novamente. Poderá surgir na mesma altura, por ocasião do próximo “Halloween”, assim como pode ir buscar temas tão variados quanto estes organizadores se lembrem e que correspondam a diferentes alturas do ano. Porque o que importa é que a cultura esteja sempre presente.
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natra, acompanhados por quatro DJs. No plano do Cinema e das Artes, o programa compôs-se com uma sequência de sete filmes internacionais de terror e seis curtas-metragens nacionais, um workshop de “StopMotion” e a presença do realizador Jerónimo Ribeiro. O festival reflete a filosofia e as várias semanas de trabalho desta família de amigos, que prima pela persistência e teimosia em “não deixar a cultura morrer”, em remar contra a crise e procurar acordar um público algo adormecido que não tem nada a perder mas tudo a ganhar.
Vencedores 9º Concurso de Música Moderna de Almada por Marta Gregório
P´ALMADA Como foi que começou a
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vossa banda?
Glass in the Park (Bruno)
Já tinha uma banda com a Rita Sedas (vocalista). Quando acabou, continuámos juntos a fazer música. Queríamos algo mais do nosso estilo e descobrimos o Diogo (baterista), que a Rita já conhecia. A partir do Diogo, conhecemos a Inês (baixista). Já tivemos outros membros, segundos guitarristas, mas acabámos por ficar só nós os quatro.
Sopas de Chavalo Cansado (Duarte) Eu e o Manuel (baterista)
fomos colegas desde os quatro anos e no 10º ano, na Escola Secundária do Monte da Caparica, fiz uma banda com o Cláudio (guitarrista). Quando essa banda acabou, o Manuel desafiou-me a formar uma nova banda, arranjámos um cantor/guitarrista e depois o Cláudio entrou. Entretanto veio outro cantor/ guitarrista, o Daniel, o qual acabou também por sair, até chegar o Emanuel (vocalista) e mais um outro guitarrista, o Francisco, que também acabou por sair.
Cláudio Nós conhecemos o Emanuel porque ele foi colega de mestrado do João (letrista e pai do Duarte).
Emanuel Na realidade foi uma oportunidade para trabalhar com excelentes músicos de tenra idade e fazer-me sentir também com 20 anos. Uma oportunidade, como artista em início de carreira, para privar com futuras estrelas e o pai delas e expressar-me através da excelente música produzida na banda. MC Kokhal (Márcio) Comecei em 1994, a partir do êxito dos Black Company “Não sabe Nadar”. Tinha 10 anos e morava no Barreiro. Comecei a pesquisar, até descobrir Gabriel o Pensador e aí, por volta de 1997, comecei a escrever as minhas letras. Em 1999, dei o meu primeiro concerto, com o meu grupo. Por volta de 2006, deixei de cantar e estive afastado cerca de quatro anos. Entretanto, fui pai e, em 2010, voltei com mais força. É um renascer, a solo. E embora trabalhe com várias pessoas dou mais força à minha carreira a solo.
P´ALMADA Quais são as vossas influências musicais?
Glass in the Park (Inês) Temos
Diogo Há alturas que oiço mais o que
eles ouvem, cenas mais alternativas, sem muito barulho e há outras em que oiço mais metal. Vario um bocado entre os extremos. Sou um bocado vidrado nas cenas mais pesadas mas tanto posso estar a ouvir Linda Martini como Paramore ou Slipknot.
Bruno Oiço mais um som alternativo,
do tipo Muse, Bloc Party, The Smashing Pumpkins.
Inês Eu tenho alguma influência de hardrock mas também de rock alternativo e de bandas mais recentes como os Warpaint. Bruno Nós somos uma mistura de
vários estilos. A nossa base é o rock alternativo. Temos músicas mais viradas para o pop, outras mais para o new metal e para o punk.
autores das músicas. Depois, o meu pai escreve as letras, o Manuel adiciona a bateria e o Emanuel interpreta as letras. As principais influências, em termos instrumentais, são os Queens of the Stone Age, Neil Young, Frank Zappa, Led Zeppelin, Arctic Monkeys. Linda Martini é mais em termos de atitude de banda.
Cláudio A nossa referência a nível
nacional é Linda Martini, é de longe a nossa banda portuguesa preferida.
Emanuel Pessoalmente, tenho bastantes influências do António Variações, Eddie Vedder, Jim Morrisson. O soul dos afroamericanos, etc. A nível da performance vou buscar um pouco aos The Doors e ao Mick Jagger que, sem eu saber, tem influência. MC Kokhal (Márcio) Sempre foi claro que queria fazer música hip hop, apesar de ter outras influências, de outros estilos de música. Oiço muito reggae, Damian Marley. Gosto muito do reggae português de Bezegol ou
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influências musicais muito diferentes, o que dá um resultado diferente de outras bandas que conhecemos.
Sopas de Chavalo Cansado (Duarte) Eu e o Cláudio somos os
dos Nirvana. Mas identifiquei-me com o hip hop, que é um estilo de música que nos permite expressar os nossos medos e sentimentos de uma forma poética. Tento acima de tudo deixar sentimento naquilo que faço. Se eu não sentir, quem é que vai sentir aquilo que eu faço?
P´ALMADA Que importância teve
a experiência que o 9º Concurso de Música Moderna de Almada vos proporcionou?
Glass in the Park (Diogo) O ano
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passado bastava ouvir as bandas que estavam a concurso para se conseguir destacar as que poderiam vir a dar em alguma coisa. Este ano não aconteceu isso. Para além de existirem mais bandas, acho que esteve tudo mais equilibrado. Antes do concerto estávamos a tremer um bocadinho mas depois passou e não tínhamos mesmo ideia de quem poderia ganhar.
Bruno Quando ouvi as bandas do dia anterior fiquei sem expectativas porque as bandas eram todas muito boas. Inês Por serem
de nós e pelos vistos valeu a pena… É sempre bom receber um prémio porque é o reconhecimento do nosso trabalho e porque podemos investir em material e crescer como banda.
Sopas de Chavalo Cansado (Emanuel) Foi muito bom, quer
em termos de experiência como de organização e apoio técnico. Foi muito bom conhecer outras bandas e outros artistas.
Duarte Também não estávamos à
“(…) É sempre bom receber um prémio porque é o reconhecimento do nosso trabalho e porque podemos investir em material e crescer como banda.” Glass in the Park
mais bandas rock também ficámos na dúvida do que poderia dar. É difícil comparar uma banda de rock com outra do hip hop. Por outro lado, estamos mais maduros, mais habituados a concertos, mais à vontade. É sempre importante concorrer, achamos que é uma iniciativa muito boa. Mais uma vez fomos ver o que as pessoas pensam
espera deste segundo lugar. No nosso tipo de música, com grandes solos de guitarra, não é muito habitual.
MC Kokhal (Márcio) Eu participei mas antes não fazia a mínima ideia da existência do concurso. Quem me falou do concurso foi um amigo que participou mas não foi selecionado. Fui com expectativas mas, com alguns contratempos que aconteceram antes
Inês Temos de entrar em consenso mas, sim, o próximo passo seria gravar um álbum.
P´ALMADA Este prémio deu-vos um
portas e agora estamos mais perto do EP, tudo o que nos possa ajudar a divulgar a nossa música é ótimo.
novo estímulo para os projetos que possam ter na calha?
Glass in the Park (Diogo) Ainda
Sopas de Chavalo Cansado (Duarte) Claro que o prémio nos abriu
Cláudio Agora sabe-se que os Sopas
ganharam um prémio no Concurso de Música Moderna de Almada e esta entrevista não estaria a acontecer se não tivéssemos “(…) Participar, estar ali ganho. São entre dez artistas, é uma portas que se oportunidade única.” MC Kokhal abrem…
não falámos muito disso.
Inês Temos
andado a compor mais algumas músicas mas estamos ainda reticentes sobre o que vamos fazer. Se vamos fazer gravações, se vamos investir no visual…
Diogo Cada um está a pensar da sua
forma. Da minha parte o próximo passo era gravar um álbum mesmo à séria. Era esse o grande desafio.
Bruno Para mim, era também gravar um álbum.
MC Kokhal
(Márcio) Só participar, estar ali entre
dez artistas, é uma oportunidade única. Ainda bem que a Câmara Municipal de Almada tem estas iniciativas, não vejo muitas Câmaras em Portugal a apoiar o que os jovens fazem. Neste momento estou a limar as arestas de um projeto meu, que vou colocar para download gratuito. Também tenho outro projeto já gravado e que está
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do concurso, quando entrei em palco já ia sem expectativas nenhumas. Quando anunciaram o meu nome caiu-me tudo, porque não estava à espera. Por isso, este terceiro prémio, para mim, soube-me a primeiro!
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para masterização. E estou a trabalhar num projeto em conjunto também.
feedback do público e do júri melhor do que estávamos à espera.
P´ALMADA Dos locais onde já atuaram,
Inês Um dos que adorei foi no ano passado, na feira de Corroios. Foi imensa gente e foi fantástico. O público interagiu imenso, sabia as nossas letras, chegaram a subir para o palco.
qual foi o que gostaram mais?
Glass in the Park (Bruno)
Quando fomos tocar à Guarda e fomos recebidos muito bem. O público estava maluco (risos).
Inês O público que restou no final da noite foi para o palco dançar. Eu prefiro quando temos pessoas conhecidas ou da nossa idade. Sinto-me mais à vontade. Diogo Um dos melhores concertos que demos foi o primeiro na Cine-Incrível. Não estávamos à espera de muita gente e a sala acabou por encher.
Bruno No Cineteatro de Corroios, para
o lançamento do EP, também esteve a abarrotar.
Diogo Um dos que mais me marcou foi no Cineteatro de Corroios, no festival de música moderna. Tivemos um
Sopas de Chavalo Cansado (Emanuel) Na Casa Amarela, na
Cine-Incrível e no Concurso de Bandas do Avante!, onde conseguimos passar na primeira fase.
MC Kokhal (Márcio) Gostei muito de atuar na Casa amarela. P´ALMADA Quem escreve as letras e são sobre o quê?
Glass in the Park (Inês) É a vocalista, a Rita.
Bruno Eu começo por fazer a música na guitarra, o Diogo e a Inês vão atrás e fazemos todo o instrumental. Depois a Rita aparece com uma letra para aquela melodia.
Inês Inspira-se naquela melodia para
que surja a letra, umas vezes em português, outras em inglês.
Diogo Por incrível que pareça,
as músicas que são cantadas em português são sempre as mais difíceis de fazer (risos).
Tiago Os temas são sobre relações
amorosas, amizade, aqueles com que toda a gente se identifica.
Sopas de Chavalo Cansado (João - pai de Duarte e autor das letras) Na verdade são eles
Deixámos que isto chegasse a este ponto.
Emanuel Mas é importante ressalvar que nós não queremos compactuar com a publicidade que existe à crise. Vê-se muito folclore sobre a crise e na realidade não nos inserimos aí. Apenas pensamos em fazer boa música, passar uma mensagem de esperança e de determinação, inclusivamente mantendo a nossa posição e não nos voltando para nenhum estereótipo que exista em termos musicais.
Emanuel Na realidade, hoje em dia os jovens à rasca vão até aos 70, 80 anos.
Diogo As músicas estão a ficar mais
João Eu creio que será sempre
Bruno Eu noto que temos simplificado os processos, não elaborando demasiado para não ficar confuso. É mais direto.
apanágio dos artistas falarem contra esta situação. Mas há uma coisa que é verdade: somos todos culpados.
cheias e com mais nexo.
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MC Kokhal (Márcio) Eu escrevo que têm de responder, não eu (risos). sobre tudo o que vejo mas escrevo Porque a preocupação vem deles. Eles mais sobre intervenção. Não com a pertencem a uma geração terrível. É intenção de chamar a atenção sobre a geração dos miúdos que vão ter de mim mas acho importante que as lutar muito mais porque este governo pessoas que mais são ouvidas ponham não investe na educação e porque está o dedo na ferida. Tenho uma música perante um grande dilema que é “o que aborda o tema da violência que é que eu doméstica, faço aqui?”. “(…) Foi muito bom, quer em por exemplo. Enquanto termos de experiência como de Não há muitos artistas, têm organização e apoio técnico. artistas que uma série de falem deste Foi muito bom conhecer outras preocupações tema mas bandas e outros artistas.” Sopas e eu vou julgo que é de Chavalo Cansado escrevendo as importante não letras sobre fechar os olhos a isto. Acima de tudo, o futuro. Agora também eu voltei ao estamos a falar de música. Seja hip ensino e quando escrevi a letra da hop, metal, etc. música “Suficiente Menos”, que começa “Se tudo o que aprendi não me serve P´ALMADA Como é que a vossa para nada/ exames e diplomas são música tem evoluído? apenas uma charada” é porque acho Glass in the Park (Inês) As que isto agora, novos e velhos, está músicas estão maiores (risos). tudo misturado.
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Inês Mas também já não fica tão vazio como às vezes ficava.
tocar o mais perfeitinho possível. Acho que esse é sempre o maior desafio.
Bruno Está um bocado mais leve do que quando começámos. Agora estamos mais melódicos.
Bruno Isso e termos gravado o EP em três dias. Passei doze horas fechado numa sala para gravar a guitarra…
Sopas de Chavalo Cansado (Cláudio) Estamos muito diferentes.
Inês Foi um grande nervosismo porque a Rita ficou muito mal da voz, estava super constipada. Aliás, teve de gravar uma semana depois porque não dava mesmo. E depois ficámos todos doentes! (risos)
As faixas que estamos a trabalhar agora têm uma complexidade maior. Agora procuramos fazer música mais complexa sem abandonar as nossas raízes. Procuramos fazer uma fusão entre novas explorações sonoras e as nossas bases do blues rock, dos solos de guitarra e dos tempos muito marcados…
MC Kokhal (Márcio) Há uns anos
atrás era um bocado quadrado em relação a outros estilos, não fazia fusão de estilos de música. O coletivo onde também estou inserido trabalha uma fusão de reggae com hip hop, funk, jazz e sonoridades afroamericanas. O nome do projeto ainda está no segredo dos deuses mas posso adiantar que se chama Cartel Desgaia (risos). Em crioulo, “desgaia” significa “desenrasca-te” e é mesmo isso que é preciso nos tempos que correm.
P´ALMADA Qual foi até agora o
vosso maior desafio enquanto banda/ artistas?
Glass in the Park (Bruno) A nossa maior dificuldade agora é arranjar sítio para ensaiar (risos). Ficámos sem sala de ensaio.
Diogo Ficamos sempre mais nervosos
em concursos, com júri a ver. Tentamos
Bruno O nosso próximo desafio é lançar as próximas duas faixas e, em princípio, vamos ter o apoio de uma editora, a necrosymphonic. Sopas de Chavalo Cansado (Cláudio) Lembro-me quando o
nosso antigo vocalista saiu, o Daniel. O mundo caiu-me aos pés. Pensei: “isto é o fim dos Sopas!”. Mas depois veio o Emanuel e isso foi superado.
Duarte Diria que o nosso maior
desafio foi tentar gravar o EP. Tivemos alguns problemas com a produtora, gastámos um verão inteiro a tentar gravar um EP e não conseguimos. Mas agora com o dinheiro que recebemos do prémio vamos gravar um EP como deve de ser!
MC Kokhal (Márcio) Talvez o maior desafio seja estar a regressar à música. Embora pense que o maior desafio é o de todos os dias: querermos superarnos a nós próprios, tentar fazer melhor do que fizemos.
A P´ALMADA APRESENTA
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banda desenhada Segue a evolução da história na versão online da P´ALMADA. Acessível no sítio da juventude, em www.m-almada.pt/juventude.
POST IT 52
Fluso Series O tempo hexato Na maior parte do tempo, esquecemo-nos que o tempo é aquele que partilha todo o nosso tempo connosco e por isso nem sempre lhe damos o real valor que merece. Assim, o “Ar Origins” traz-nos um gato azul - o “Fluso” - que gosta de surfar na onda do tempo e que ao ver a forma quadrática (calendário) como o tratamos, decidiu trazer-nos uma nova forma de o ver e de lidar com ele.
Na página facebook.com/Fluso.series podem ver-se citações, passatempos e até… uma solução para a crise!
por Bruno Mendes
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POST IT
Na prática, o Fluso trabalha com hexágonos e cores para tratar o tempo como ele merece e para nos ajudar a usufruir de um tempo mais hexato. Para além dos normais dias da semana e feriados, nestas formas geométricas cabem ainda outros amigos do tempo que fazem dele uma constante, tais como os ciclos da Lua, datas importantes e datas engraçadas, eclipses, signos (na aplicação digital), estações do ano, solstício/equinócio, entre outros.
Pr e s s
Como escr ever um
Pr
Kit
?
por N ess Re le u no Cha ase noc a
D. I. Box
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Aqui está um primeiro desafio para quem pretende divulgar o seu projeto, seja musical, uma peça de dança ou teatro ou outro evento do seu interesse. Para que a informação que pretende passar seja considerada credível e venha a ser bem utilizada, pode contar com um instrumento como o press release, um comunicado ou nota de imprensa que é a forma mais direta de fazer chegar uma notícia aos meios de comunicação social. Tendo por objetivo divulgar eventos, acontecimentos, promoções, um novo disco, enfim, algo que dê origem a notícias, podendo também servir para
tornar públicas determinadas posições, é a partir do press release que se “vende” uma banda, um evento, uma história ou até uma música. Na sua composição, é importante ter alguns critérios em atenção. Se for demasiado extenso poderá nunca chegar a ser consultado, se contiver erros ortográficos poderá causar ataques de riso e descrédito. Se incluir informação errada ou fictícia pode dar origem a um artigo prejudicial. O documento deverá conter imagem e o emissor deverá ter o cuidado de descobrir o destinatário adequado, como o editor da secção de cultura de um jornal, por exemplo.
Guião – Press Release Título ou assunto: deve ser claro, direto e resumir o comunicado. 1º Paragrafo (lead): devemos resumir o que queremos transmitir, da forma que queremos que apareça em notícia, respondendo às questões “quem? o quê? quando? a que horas? onde? porquê? e como?”. Desenvolvimento: os parágrafos seguintes devem acrescentar pormenores e curiosidades, com ligação entre os assuntos. Citações: poderá ser interessante colocar citações curtas, uma ou duas frases de outros artistas e pessoas relevantes.
Links: devemos fornecer ligações para aprofundamento da informação, desde o site ao blog, aos vídeos e às redes sociais. Data: não esquecer de referenciar a data de emissão da press release. Preferencialmente, deve ser colocada no canto superior direito. Contato: devemos adicionar o nome, o contato telefónico e a morada de correio de eletrónico. Caso venham a ter interesse pelo assunto, alguma dúvida ou queiram mais informações, deveremos estar acessíveis e, já agora, ter “à mão” as ferramentas de promoção necessárias. Mas sobre isso falaremos numa outra dica!
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Biografia: podemos incluir uma pequena nota biográfica do projeto/artista, enquadrando melhor o percurso dos artistas envolvidos.
Ilustração de Íris Gomes
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Message in a Bottle por Marta Gregório
Neste preciso momento penso que deve estar a sentir o mesmo que as personagens de inúmeros filmes e histórias onde, a certo ponto, lhes aparece uma garrafa de vidro com um papel enrolado lá dentro. E aqui permita-me, desde já, apresentar as minhas desculpas se o desiludi quanto ao fato desta ser uma garrafa de coca-cola e, por sinal, de plástico. Era o que tinha à mão, na altura. Espero que não lhe tenha já estragado o romantismo da situação. Pense antes que, caso isto tenha ido parar às suas mãos no dia de Natal enquanto dava o seu passeio à beira-mar para digerir os exageros culinários típicos desta altura do ano, é o sujeito que recebeu o presente mais insólito deste ano. Feliz Natal! E queira-me desculpar também o facto de, com muita pena minha, este pergaminho não conter nenhuma mensagem secreta nem nenhuma verdade universal sobre o sentido da existência ou outro conceito do género que, por sua vez, quanto a mim, tem tanto sentido de existir como o sentido
que algumas pessoas dão a essa discussão. Ou seja, nenhuma. Não é que o sentido da vida seja o mau da fita, mas é que quando as pessoas falam sobre isso mistificam tanto, que borram a pintura toda.
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Elucido também que esta missiva (nem sei se a devo nomear de missiva uma vez que se destina a si, não fazendo eu a menor a ideia quem é si) não é, de todo, um pedido de ajuda de um náufrago que se encontra por aí à deriva, ao sabor das vagas. Na verdade, trata-se exatamente do contrário. Há uns anos atrás deparei-me com um fenómeno estranho. Um fenómeno mental, podemos chamar-lhe. Era dia de Natal e, numa das saídas habituais para passear a minha cadela, fui assaltado pela sensação de que a rua e as pessoas estavam mais distantes do que o habitual. Não no sentido de estarem imensuravelmente mais longe de mim, tinha mais que ver com o facto de eu ter a sensação de estar sempre numa posição paralela à delas. O suficiente para ter a ilusão de que estávamos no mesmo sítio mas sem conseguir sentir que partilhávamos a mesma realidade. A princípio, até nem desgostei da ideia. Sempre fui introvertido, fosse pela minha timidez, fosse por achar que sempre que expressava a minha opinião fazia-o numa língua exótica qualquer, incompreensível para os meus interlocutores. Acomodei-me a isso, julgando-me envolto numa nuvem protetora da inutilidade vinda do exterior. O problema maior surgiu quando comecei a ter consciência de que não captava bem a informação que alguém me queria transmitir quando falava comigo. Atribuí o fenómeno a várias causas, distração, cansaço e até surdez. Sugeriram-me, no trabalho, pôr baixa e consultar um psicoterapeuta. A verdade é que a situação foi piorando até eu não perceber patavina do que me diziam. Agia apenas por vontade própria e autorrecriação, não por egoísmo mas por não ter mais nenhum critério para assentar a minha conduta. Ainda assim, não posso dizer que me sentisse propriamente infeliz uma vez que, como já tinha dito, sempre fui uma pessoa solitária que gosta de o ser. Comecei a ver os outros como parte de uma realidade que, a pouco e pouco, se descolava da minha. O único espaço público que frequentava eram as ruas que me levavam ao meu local de trabalho e pouco mais. Isto durou alguns meses, até que se tornou claro para mim mesmo que não queria estar inserido em contextos
sociais. Note-se que o meu problema não foi, claro, ter deixado de perceber português, foi antes ter deixado de compreender o sentido que as pessoas lhe davam ao imprimir-lhe as suas ideias.
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O episódio mais constrangedor sucedeu numa noite (ainda no início de convivência com a minha nova condição psicológica, chamemos-lhe assim) em que levei a minha namorada da altura a jantar fora, poucos dias depois do dia de Natal. Tudo corria esplendidamente, o restaurante tinha poucas pessoas e ela estava lindíssima. A dada altura, a minha companheira começou a falar sobre o jantar de Natal da empresa e sobre o fato específico da sua arqui-inimiga (nem sei como lhe chamar, suponho que nem ela saiba) ter levado um vestido igual ao dela. À medida que avançava na conversa, vi-a a ficar cada vez mais enfurecida e com os olhos raiados de sangue. Julguei estar a alucinar e, tentando apurar a verdade, disse-lhe “desculpa, mas não percebi bem o queres dizer com isso.” Indignada, voltou a explicar-me pormenorizadamente o que tinha acontecido. “Querida,” – disse eu – “desculpa-me, mas não estou a conseguir perceber bem a razão pela qual estás assim”. Ela atirou o guardanapo para cima da mesa e disse que era óbvio que eu não lhe estava a dar atenção. E até hoje, permaneço na ignorância. Mas Deus, como ela ficou feia quando se enfureceu! Foi então que comecei a equacionar a hipótese de ser inapto para lidar com um certo tipo de pessoas. O tipo que se pode dizer que corresponde à maioria. Então, pensei em mudar de casa para um local que permitisse manter-me fisicamente e mentalmente apartado da realidade. A realidade da maioria, está a seguir-me? Foi então que comprei um pequeno barco a um pescador reformado e, a 25 de dezembro do ano passado, decidi que ia viver no mar, de onde a costa me pareceria apenas um quadro de formas pouco definidas que se tornava apenas uma sombra nas manhãs de nevoeiro. A vida tomou o gosto da cadência da ondulação e percebi que aquela era a minha oportunidade de me reencontrar comigo próprio e com algo que, apesar de ainda não saber muito bem o que era, me faz saber que afinal tenho o meu lugar no mundo. Peço desculpa se me alonguei demasiado mas é que não quero mesmo deixar a realidade equivocada quanto à minha existência e que me tome por um náufrago. Isto se der pela minha falta, claro.
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“Rosa em Cinza”, por Alexandra Piteira