Canteiro Aberto Canto do Urutau

Page 1

TFG I Renata do Carmo Mota Alves

PUC MINAS 2017



Renata do Carmo Mota Alves

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU: O projeto de um centro de estudos de tecnologias alternativas para a bioconstrução e desenvolvimento sustentável.

TFG: Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – campus Poços de Caldas

Poços de Caldas 2017



Dedico este trabalho à todos os profissionais da construção civil, na esperança de que um dia venham a entender como somos fundamentais no processo de apaziguamento entre a existência humana e a vida na Terra.



À força do amor. Meus pais, sem os quais seria inimaginável o alcance desta etapa. À maravilha do tempo presente. Pablo e o regalo que é nosso convívio, me incentiva. Ao contágio da amizade. Marcos e Tibor, por todo o apoio acompanhado da alegria inabalável. À grandeza da sabedoria. Carlos, com toda a paciência e força de vontade para orientar. À beleza da experiência. André, que me mostrou que é possível realizar de forma plena. Ao carisma que motiva. Luciano e Renato, por abrirem tão calorosamente o espaço para novas ideias. À energia do universo, pela oportunidade de vivenciar um tempo e um lugar, e buscar melhorá-los.

Grata.



“O ser humano podia se reconciliar com o planeta e ver o que se pode fazer para ser útil, ser querido. Só que a gente não percebe isso, não enxerga, por sermos desligados da vida no planeta, achando que nós somos os inteligentes, e não vendo que somos parte de um sistema inteligente. ” (ERNST GÖTSCH, 2015)


10 RESUMO Este trabalho apresenta um estudo sobre modelos alternativos de ocupação e uso do solo, baseando-se nos conceitos de permacultura, bioconstrução e agrofloresta, de modo a se mostrar o benefício de tais práticas e sua segurança de aplicação, questionando o uso de modelos convencionais de construção civil que vêm sendo empregados em larga escala ao redor de todo o mundo, como o concreto armado, o aço e construção industrial pré-moldada – muitas vezes inadequados às condições bioclimáticas e culturais do local onde estão aplicados – tendo em vista que tais sistemas construtivos representam uma exploração desmedida de recursos naturais e sua produção acarreta impactos ambientais de alto nível. Deste modo, a presente obra buscará exemplificar tais conceitos através de um projeto de ocupação de uma área de 16,35 hectares na zona rural de Águas da Prata – SP, concebido como um Canteiro Aberto, em que a construção do espaço se dará ao passo que o local se torna frequentado e ocupado, sendo que os cursos a serem ministrados no local deverão abranger as técnicas de construção das estruturas a serem erguidas. O conceito de canteiro aberto ajuda a fortalecer a identidade do local como paisagem afetiva aos que o utilizam, permitindo que o aprendizado seja intensificado, e deverá atender as necessidades de moradia, produção de alimentos, tratamento de resíduos e estudos ambientais e aplicação de tecnologias alternativas rumo ao desenvolvimento sustentável.

TFG

Palavras Chave: Bioconstrução; Permacultura; Agrofloresta; Sustentabilidade.

I

|

RENATA

ALVES


11 ABSTRACT This work presents a study on alternative models of land use and ocupation, based on the concepts of permaculture, bio-construction and agroforestry, in order to show the benefit of the practices and their safety application, questioning the use of conventional construction models that have been used on a large scale around the world, such as reinforced concrete, steel and precast industrial construction - often inadequate to the bioclimatic and cultural conditions of the place where they are implanted - given that such constructive systems represent an unreasonable exploration of natural resources and their production entails high-level environmental impacts. Thus, the present project will seek to exemplify such concepts through the design of a project of occupation of an area of 16.35 ​​ hectares in the rural area of Águas ​​ da Prata SP, designed as an Open Site, in which the construction of space will occur as the location is more frequented and busy, so that the courses to be taught in the place should cover the techniques of construction of the structures to be built. The concept of Open Site helps to strengthen the identity of the project as the affective landscape to those who use it, allowing the learning to be intensified, and it should care as a housing need, food production, waste treatment and environmental studies and the application of technological alternatives towards sustainable development.

Keywords: Bioconstruction; Permaculture; Agroforestry; Sustainability.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


12 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Figura 2: Figura 3: Figura 4: Figura 5: Figura 6: Figura 7: Figura 8: Figura 9: Figura 10: Figura 11: Figura 12: Figura 13: Figura 14: Figura 15: Figura 16: Figura 17: Figura 18: Figura 19: Figura 20: Figura 21: Figura 22: Figura 23: Figura 24: Figura 25: Figura 26: Figura 27: Figura 28: Figura 29: Figura 30: Figura 31: Figura 32: Figura 33: Figura 34: Figura 35: Figura 36: Figura 37: Figura 38: Figura 39: Figura 40: TFG

I

|

Representante da arquitetura primitiva Distribuição da arquitetura de terra crua no mundo (hachurado) e 150 construções em terra inscritas na lista do patrimônio mundial (pontos). Painel do Inventário de Arquitetura em Terra, Programa Mundial de Patrimônio de Arquitetura em Terra Arquitetura tradicional em terra na África Castelo residencial contemporâneo no Marrocos Técnicas de construção com terra Vantagens da construção com adobe Etapas de secagem e armazenamento de adobes Exemplos de cúpulas e abóbadas de adobe Construção de paredes de adobe Maquinário para fabricação de tijolos de BCT Alguns exemplos da variedade de BCT Construção de abóbada de BCT Diversos elementos construtivos em terra ensacada Superadobe usado em campo de refugiados das Nações Unidas Abrigos emergenciais de Khalili em superadobe Hiperadobe em construção Restaurante de alta gastronomia com terra ensacada em SP. Paredes de taipa de pelão em construção Diferentes tipos de pilão Pilão mecânico utilizado pela empresa TAIPAL Montagem de taipal metálico Pau-a-pique em construção Componentes das técnicas mistas Exemplos de estrutura auxiliar Parade construída em COB Banheiro construído em COB Exemplos de construção em COB Oficina “Cores da Terra” na PUC MINAS campus Poços de Caldas Preparação de tinta à base de terra Casa feita de bambu pelos antepassados na costa do Equador Método de tratamento pelo fogo Tratamento pelo método Boucherie Site DOMERAMA Derivações do corte boca-de-peixe Corte do tipo flange Corte diagonal e diagonal parcial Conexões envolvendo a seção transversal completa Conexões internas de elemento paralelo Conexões da seção transversal para o elemento paralelo RENATA

ALVES


13

Figura 41: Figura 42: Figura 43: Figura 44: Figura 45: Figura 46: Figura 47: Figura 48: Figura 49: Figura 50: Figura 51: Figura 52: Figura 53: Figura 54: Figura 55: Figura 56: Figura 57: Figura 58: Figura 59: Figura 60: Figura 61: Figura 62: Figura 63: Figura 64: Figura 65: Figura 66: Figura 67: Figura 68: Figura 69: Figura 70: Figura 71: Figura 72: Figura 73: Figura 74: Figura 75: Figura 76: Figura 77: Figura 78: Figura 79: Figura 80: Figura 81: Figura 82:

Conexões da seção transversal para o elemento perpendicular Conexões do exterior para elemento paralelo Obras da primeira Bienal Internacional de Arquiteura em Bambu Depósito de pneus em Fort Lauderdale, USA Maior aterro do mundo, vista aérea Rio Juzna Morava na Sérvia Baía de Ussuri, na Rússia Earthship Austrália Earthship by Michael Reynolds Construção com garrafa PET e terra Casa de garrafa PET e terra Banheiro de recipientes móveis Vaso sanitário e compartimento com as câmaras de compostagem Banheiro compostável com duas câmaras Banheiro seco Esquema do modelo Bason Evapotranspiração Sistema Wetland vertical Sistema Wetland horizontal Sistema Wetland superfical Sistema Wetland para lodo Jardim filtrante Esquema do círculo de bananeiras Da esquerda para a direita, círculo de bananeiraas em construção, e depois de finalizado Ecocentro IPEC Instalações e vivências do Ecocentro IPEC TIBÁ Johan Van Lengen Espaço e vivências no TIBÁ A flor da permacultura Princípios da permacultura 3 princípios éticos e 12 princípios de design da permacultura Zonas de permacultura Exemplo de sistema agroflorestal (SAF) Sistema agroflorestal biodiverso ao longo dos anos Green School Planta - coração da escola Campus Green School One With the Birds Maquete e esquemas de modulação e amarração do projeto METI - Handmade School Salas de aula piso inferior e superior, da esquerda para a direita

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


14

Figura 83: Figura 84: Figura 85: Figura 86: Figura 87: Figura 88: Figura 89: Figura 90: Figura 91: Figura 92: Figura 93: Figura 94: Figura 95: Figura 96: Figura 97: Figura 98:

TFG

I

|

“Cavernas” nas paredes posteriores Da esquerda para a direita, de cima para baixo: planta pav. inferior; planta pav. superior; corte transversal; implantação; elevação norte; elevação sul; elevação leste; elevação oeste METI - Handmade School Urutau Localização em relação às cidades vizinhas Localização em relação ao marco divisório SP-MG Perspectiva em relação às cidades vizinhas Perspectiva do relevo Perfil de elevação transversal e longitudinal Mapa da Fazenda Quirinos e Serrote com curvas de nível Pontos relevantes do entorno Estação do bairro Entrada e escola do bairro Mapa da área a ser trabalhada com curvas de nível e indicação de estradas e leitos d’água Mapeamento das estruturas presentes no terreno Zoneamento do programa de necessidades

RENATA

ALVES


15 SUMÁRIO 17 1. INTRODUÇÃO 19 1.1 Objetivos 1.1.1 19 Objetivo geral 19 1.1.2 Objetivos específicos 19 1.2 Justificativa 20 1.3 Metodologia 21 1.4 Cronograma 22 2. A BIOCONSTRUÇÃO 25 2.1 Técnicas 25 2.1.1 Construção com terra 29 ADOBE 31 BLOCO DE TERRA COMPRIMIDA (BTC) 32 SUPERADOBE 35 TAIPA DE PILÃO 38 TAIPA DE MÃO 39 COB 41 REVESTIMENTOS 42 TINTAS À BASE DE TERRA 44 2.1.2 Construção com bambu 52 2.1.3 Construção com materiais reciclados 54 2.1.4 Tratamento de resíduos 54 BANHEIRO SECO 57 WETLANDS 60 CÍRCULO DE BANANEIRAS 61 2.2 Experiências Brasileiras Recentes 63 ECOCENTRO IPEC 65 TIBÁ 3. A PERMACULTURA

66

4. A AGROFLORESTA

70

74 5. REFERÊNCIAS PROJETUAIS 75 GREEN SCHOOL 78 ONE WITH THE BIRDS 80 METI-HANDMADE SCHOOL 6. 84 O LUGAR 6.1 85 Fazenda Canto do Urutau

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


16 Histórico 6.1.1 85 Diagnóstico Atual 6.1.2 87 LOCALIZAÇÃO 87 RELEVO 88 ENTORNO 89 CARACTERIZAÇÃO DO TERRENO 90 7. CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU 92 O Canteiro Aberto 93 7.1 Programa de necessidades 93 7.2 MAPEAMENTO SITUAÇÃO ATUAL 96 ZONEAMENTO 97 CONCLUSÃO 98 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 100 9.

TFG

I

|

RENATA

ALVES


1. INTRODUÇÃO


18 No mundo globalizado atual o compartilhamento de informações, tecnologias, bens e serviços tornou-se algo trivial em escala mundial, de modo que uma grande quantidade de objetos, serviços, materiais e outros podem ser feitos da mesma forma em quase qualquer lugar do mundo. Com a construção civil o quadro não se apresenta de modo diferente. A popularização de sistemas construtivos como o concreto armado, o aço e as peças pré-moldadas têm se tornado cada vez mais evidente, sendo que a observação individual de um edifício muitas vezes não permite identificar nenhum elemento que diga em que parte do mundo este está implantado. A produção, transporte e comercialização de materiais e tecnologias de construção já não mais dependem dos recursos naturais presentes na região em que se encontra a futura edificação, de forma que muito da sabedoria vernacular se perde em substituição por padrões vendidos como qualidade internacional. Este fato se apresenta como um problema quando avaliado na perspectiva da indústria capitalista e a massificação de padrões a serem atendidos. Os principais sistemas construtivos atuais representam grande impacto ambiental, exploração de recursos naturais em escalas insustentáveis e enorme gasto de energia desde sua fabricação, até a real utilização em obra. A indústria da construção civil consome 50% dos recursos mundiais, convertendo-se em uma das atividades menos sustentáveis do planeta. No entanto, nossa vida cotidiana desenvolve-se em ambientes edificados: vivemos em casas, viajamos sobre estradas, trabalhamos em escritórios e nos sociabilizamos em bares e restaurantes. A civilização contemporânea depende de edificações para seu resguardo e sua existência, mas nosso planeta não é capaz de continuar suprindo a atual demanda de recursos. Evidentemente, algo deve ser mudado nesse aspecto e os arquitetos e designers têm uma grande responsabilidade nesse processo. (EDWARDS, 2005)

Entretanto, apesar de esquecidos e desacreditados, existem muitos outros métodos construtivos que equivalem a uma alternativa do padrão atual, constituindo modelos seguros, mais baratos e de menor impacto ambiental, e que apresentam maiores benefícios em termos de conforto ambiental, térmico, acústico e sensitivo aos ocupantes de tais edificações. Os problemas ambientais causados pela ação do homem no processo de produção de bens de consumo, como também da produção do espaço urbano, tornam-se evidente ao final do século XX, o que resulta na sensibilização da Sociedade quanto a urgente necessidade de reverter este quadro. Instalada a crise dos modelos de construção estabelecidos, a arquitetura e construção com terra retornam como uma alternativa sustentável, incentivando a busca e a oferta para a formação e capacitação de profissionais preocupados em atender aos novos paradigmas. (NEVES, 2011)

TFG

I

|

RENATA

ALVES


19 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo geral O presente trabalho objetiva apresentar os modelos e sistemas de construção civil que constituem uma alternativa de baixo impacto ambiental, contrapondo-se à sistemas convencionais globalmente utilizados, aliando-os a conceitos como permacultura, agroreflorestamento, desenvolvimento sustentável e bioarquitetura, de modo a explicitar seus benefícios e ilustrar sua aplicação nos ambientes construídos atuais.

1.1.2 Objetivos específicos Ao fim desta obra deverá ser apresentada uma proposta de aplicação dos conceitos de bioconstrução, permacultura e agroreflorestamento em uma área de 16,35 hectares conhecida como Fazenda Canto do Urutau, na zona rural de Águas da Prata – SP, visando à recuperação do solo degradado, a produção de alimentos orgânicos agroflorestais, e a configuração do local como um modelo consciente de ocupação do solo e aplicação segura de sistemas bioconstrutivos. Para tal fim, este trabalho baseia-se nos seguintes pontos: • Elaborar um plano de ocupação da área baseado no tempo necessário para a consolidação de cada elemento aplicado; • Projetar um centro de estudos capaz de atender o público interessado na pesquisa e aplicação de tecnologias alternativas visando o desenvolvimento sustentável, de modo que a construção do espaço possa ser sincronizada com os cursos a serem realizados no local, permitindo a expansão da infraestrutura conforme a necessidade dos usuários do local (a ser elaborado no Trabalho Final de Graduação II).

1.2 Justificativa O histórico da ocupação humana no mundo apresenta um rastro de degradação desmedida do ambiente natural em um curto intervalo de tempo. O cenário de globalização de conhecimentos, recursos, tecnologias e matérias-primas também se estende aos problemas ambientais, esgotamento de recursos, depreciação da qualidade de vida, minoração da diversidade de alimentos, produção excessiva de lixo, esgotamento de recursos naturais, entre tantos outros problemas enfrentados pela civilização moderna. Dentro desta lista encontra-se a área da construção civil, tanto na massificação em escala mundial dos sistemas construtivos, quanto nos impactos ambientais desmedidos que tais modelos vigentes acarretam. (...) a arquitetura perdeu seus antigos vínculos com os materiais construtivos locais, as tradições vernáculas e sua unidade com o território. As cidades não mais dependem da capacidade de desenvolvimento do território onde se localizam, pois importam alimentos, água, recursos e força de trabalho humana

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


20 de todos os lugares do mundo. (...) As cidades e as edificações estão cada vez mais desconectadas do território em todos os aspectos. (EDWARDS, 2005).

Sendo assim, torna-se clara a necessidade do resgate ao conhecimento enraizado e a busca pela disseminação de métodos de ocupação e edificação de espaços humanos que não só reduzam o impacto causado ao meio ambiente, como busquem a recuperação das áreas já prejudicadas e o convívio harmonioso entre as diferentes espécies que habitam cada ecossistema. Para tal, faz-se necessária a criação de espaços que exemplifiquem alternativas às ocupações humanas como são conhecidas, assim como centros de capacitação dos profissionais responsáveis pela produção de tais espaços, visando dar andamento à caminhada da humanidade rumo ao equilíbrio ecológico e desenvolvimento sustentável.

1.3 Metodologia A elaboração deste trabalho será feita através de: • Leitura de bibliografia e textos acadêmicos relacionados ao tema para embasamento e referencial teórico; • Levantamento e estudo do conceito, métodos e histórico da permacultura, bioconstrução e agrofloresta tanto no mundo quanto no Brasil, assim como estudo de caso dos locais onde a prática é conhecida e disseminada; • Análise de projetos arquitetônicos e detalhamento técnico de edificações de cunho escolar e de moradia que utilizem técnicas construtivas de bioconstrução, e/ou apresentem programa de necessidades semelhante ao avaliado para o local; • Visitas de levantamento e reconhecimento do terreno a ser trabalho; • Definição de programa de necessidades para a área; • Elaboração de croquis, mapas e plantas para definição de zoneamento e planejamento de ocupação do local; • Criação de projeto arquitetônico e detalhes construtivos das edificações e outros ambientes planejados para o território em questão. Faz-se necessário neste momento o esclarecimento sobre a autoria deste projeto, tendo em vista que o aluno Marcos Blanco, do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas campus Poços de Caldas, está desenvolvendo um projeto para uma ecovila no mesmo local, de modo que os dois trabalhos se complementam como plano de ocupação da área. Sendo assim, o estudo do programa de necessidades e a definição do zoneamento para o local será realizada em parceria entre o aluno e a autora do presente texto, em conformidade com o orientador de ambos os alunos. Entretanto, após a definição desta etapa, o programa de necessidades deverá ser divido entre os envolvidos para o desenvolvimento do projeto arquitetônico de cada ambiente na segunda etapa deste projeto (Trabalho Final de Graduação II). TFG

I

|

RENATA

ALVES


21 1.4 Cronograma AGO 2017

ATIVID AD ES

SET 2017

OUT 2017

NOV 2017

Pesquisa de referencial teórico Leitura de bibliografia Definição de temas Análise de projetos Elaboração do caderno Apresentação caderno

25/09

Definição do programa

De 26/09

Zoneamento

à 03/10 De 04 à 10/10

Revisão do texto e impressão

De 11à14/10

Entrega caderno

17/10

Pré-banca

23/10

Estudo preliminar

De 24 à 30/10

Plano de ocupação

De 31/10

Revisão E.P. e texto caderno

à 07/11 De 08 à 14/11

Impressão caderno e montagem de pranchas

De 15/11 à 21/11

Banca final

28/11

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


2. A BIOCONSTRUÇÃO

TFG

I

|

RENATA

ALVES


23

Desde os primórdios de sua evolução, a espécie humana tem a necessidade de construir ou adaptar ambientes naturais de modo a se proteger de predadores e intempéries. Os representantes da arquitetura primitiva mostram como os diferentes ambientes, climas, fauna e flora constituíam fatores substanciais para a construção de abrigos e comunidades em diferentes civilizações e épocas, ao redor de todo o globo (Figura 1.)

Figura 1: Representantes da arquitetura primitiva. Fonte: http://pointdaarte.webnode.com.br/news/a-historia-da-arquitetura/;ttp://www.arquiteturasustentavel.org/15-casas-ancias-que-eram-construidas-apenas-com-recursos-naturais/ As técnicas de construção com terra surgiram em quase todas as civilizações do passado e expandiram-se através das invasões e colonizações, comuns na história da Humanidade. As técnicas nativas uniram-se às técnicas trazidas pelos estrangeiros e, com variadas combinações entre elas, foram se adaptando e organizando as formas mais adequadas de construir. As técnicas apresentam semelhanças de uma região para outra, cada uma com suas particularidades e com sua própria nomenclatura que, muitas vezes, confunde até os mais estudiosos. (NEVES, 2011)

A partir de então, toda a estruturação do habitat humano sofreu uma drástica mudança, e a evolução tecnológica dos últimos séculos trouxe consigo um grave quadro de devastação do meio ambiente para sustentar a produção industrial de novos materiais e tecnologias. Descobertas científicas e estudos nas esferas da resistência de materiais, segurança, saúde, entre outras, acabaram por popularizar em escala mundial alguns sistemas construtivos, de modo a se aproximar radicalmente o processo construtivo e os resultados das estruturas edificadas em todo o planeta, abafando conhecimentos de tradições locais que guardavam soluções acumuladas por povos distintos, e que atendiam, até certo ponto, de maneira satisfatória os problemas bioclimáticos que cada localidade apresentava. Analisando do ponto de vista do desenvolvimento puramente tecnológico, vê-se que o futuro da construção civil segue o caminho da execução com materiais pré-prontos, com alocação de elementos pré-moldados e até edificações prontas. Entretanto, este modelo vem se demonstrando destrutivo dos elementos fundamentais a uma boa qualidade de vida individual e coletiva, necessitando de uma associação ou uma substituição por um modelo mais orgânico, buscando ambientes menos estéreis e possibilitando uma vida em harmonia com a natureza. (COLOMBO; SATTLER; ALMEIDA, 2006)

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


24 Então, colocando os óculos da sustentabilidade podemos ver que o passado da construção agregado a conhecimentos do presente que nos instrumentam para o trabalho no sentido de melhoria daquelas tecnologias, tais como as construções de pau-a-pique, com terra, com palha, em menor escala se mostra como uma alternativa para que tenhamos um futuro para a construção civil e um futuro de vida no planeta. (COLOMBO; SATTLER; ALMEIDA, 2006)

Para Edwards (2005), somente por meio do uso de tecnologias mais inteligentes, de um maior respeito aos recursos naturais e da substituição da exploração de recursos não renováveis por práticas renováveis e autossuficientes, podemos reduzir a pressão sobre o meio ambiente. A tentativa de referir-se a um tipo de construção socioambientalmente mais adequada se estende a muitos termos utilizados mundo a fora. Por entender que o adjetivo “bio” alcança a significação “voltada para a vida de forma ampla”, e “construção”, refere-se a construções de modo geral, não apenas edificações, ou seja, envolvendo todo o espectro de trabalho da Engenharia Civil e Arquitetura (Construção Civil), assumimos aqui o termo “Bioconstrução”, para referirmo-nos a construções voltadas à Sustentabilidade. Esta qualidade de construção também pode ser entendida como “Construção Orgânica”, por ter um caráter de desenvolvimento em harmonia com a natureza. (COLOMBO; SATTLER; ALMEIDA, 2006) O Brasil (2008) define bioconstrução como “construção de ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto ambiental, adequação da arquitetura ao clima local e tratamento de resíduos.” André Soares, fundador do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – IPEC, definiu, em sua cartilha de 1998, bioconstrução como o tipo de construção que “visa a utilização de materiais ecológicos, reduzindo o impacto ao meio ambiente por meio de técnicas da arquitetura vernácula mundial, algumas delas com centenas de anos de história e experiência, tendo como característica a preferência por materiais do local, como a terra, reduzindo gastos com fabricação e transporte e construindo habitações com custo reduzido e que oferecem excelente conforto térmico.” (IPOEMA, 2017) A bioconstrução pode ser entendida como uma metodologia, pois contempla princípios norteadores que, quando aplicados, definem a técnica específica adequada caso a caso” (IPOEMA, 2017)

Deste modo, grupos de arquitetos, designers, ecologistas e outros pesquisadores vêm buscando resgatar algumas técnicas de construção que atendem a tais conceitos, com o intuito de exemplificar modelos alternativos aos cultivados pela sociedade capitalista, compreender suas aplicações no contexto atual da vida urbana, e capacitar outras pessoas para a utilização dos ditos sistemas, a fim de popularizar a prática entre a população geral.

TFG

I

|

RENATA

ALVES


25 2.1 Técnicas As chamadas técnicas bioconstrutivas, ou sistemas bioconstrutivos, aplicados ao redor do mundo são inúmeros. Os institutos e centros de pesquisa sobre o tema têm buscado diversificar os tipos de aplicações, compartilhando o conhecimento levantado com outros grupos de outras localidades, promovendo um intercambio mundial de cartilhas, livros e manuais, assim como a promoção de cursos práticos em diversos países. O conhecimento da arquitetura e construção com terra, adquirido ao longo do tempo, tem configurado uma dinâmica de disseminação inovadora através da comunicação virtual – a internet. Os conhecimentos gerados em pesquisas e outras experiências, antes limitados aos estudiosos e aos construtores, agora são mais e melhor divulgados. As páginas Web, as redes virtuais e o correio eletrônico se tornam um grande aliado para o avanço da arquitetura e construção com terra, pois possibilitam encontrar e contatar pesquisadores e demais profissionais, trocar informações e conhecimentos em um mundo atemporal, sem fronteiras e sem distancias, inimaginável em gerações próximas passadas. (NEVES, 2011)

Entretanto, apesar de toda a colaboração, é difícil enumerar todas as técnicas construtivas já utilizadas em épocas distintas no planeta (vernaculares), assim como as que vêm sendo reestabelecidas. Sendo assim, para efeito deste estudo, serão apresentadas a seguir as formas de construir que têm sido ensinadas com maior frequência nos Centros e Institutos brasileiros relacionados à área, que por ventura se assemelham em grande parte com o que vêm sendo experienciado por outros grupos em caráter mundial, nas esferas de construção de estruturas e de tratamento de resíduos.

2.1.1 Construção com terra

Talvez o material que mais tenha sido utilizado para a construção no mundo seja a terra. Material abundante apresenta-se em diversos estados e condições (barro, argila, areia, etc.), e em praticamente todas as regiões do globo, sendo a escolha mais frequente para a solução de estruturas verticais, e utilizada em uma variedade de técnicas e modelos, dependendo do clima, relevo, cultura e tecnologia disponíveis em cada parte do mundo, na época em que foi utilizada.

Em 2012, o Inventário de Arquitetura em Terra do Programa Mundial de Patrimônio de Arquitetura em Terra da UNESCO mapeou inúmeras construções em terra distribuídas pelo globo, sendo que 150 delas encontram-se inscritas na lista do Patrimônio Arquitetônico Mundial (GANDREAU, DELBOY E JOFFROY, 2012 apud SANTOS, 2015) (Figura 2).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


26

Figura 2: Distribuição da arquitetura de terra crua no mundo (hachurado) e 150 construções em terra inscritas na lista do patrimônio mundial (pontos). Fonte: CRATerre 2012

Segundo Santos (2015), a tecnologia relativa à construção com terra crua, que se desenvolvia juntamente com as culturas que a adotavam, sofreu praticamente uma interrupção em sua evolução com o aparecimento de novas tecnologias construtivas e novos materiais, especialmente o cimento e o aço. Com a industrialização dos processos construtivos, construir com terra passou a ser relacionado à falta de recursos e de acesso à tecnologia. O barro como material de construção perdeu a sua credibilidade devido ao desconhecimento de suas amplas possibilidades. (MINKE, 2001 apud SANTOS, 2015)

A era da tecnologia e do compartilhamento de informações a nível global acabou por desfavorecer as construções com terra. Fatores como a grande diferença no custo da obra, a falta de conhecimento sobre as técnicas empregadas, a falta de manutenção das edificações, a pressão do mercado capitalista, o interesse da indústria da construção civil, o favorecimento de mercado, a especulação imobiliária e o padrão de vida comercializado, contribuíram para que a porcentagem de construções com terra no mundo fosse reduzida drasticamente, de modo que grande parte da sociedade moderna passou a vê-la como sinônimo de precariedade, sujeira, doença, pobreza, marginalidade e desinformação.

Figura 3: Painel do Inventário de Arquitetura em Terra, Programa Mundial de Patrimônio de Arquitetura em Terra. Fonte: UNESCO

TFG

I

|

RENATA

ALVES


27

Apesar disto, ainda é possível encontrar belos exemplares da arquitetura com terra em alguns locais do mundo. Segundo Santos (2015), a partir do século XIX, a terra foi cedendo espaço a outros materiais de construção, mas nunca deixou de ser utilizada. Exemplos da arquitetura tradicional ainda em uso na África encontram-se nas vilas de76 Musgum em Camarões, de Botshabelo Ndebele, na África do Sul e de Tiébélé em Burkina Faso (Figura 4).

Figura 4: Arquitetura em terra tradicional na África. Cooper; Willaert (2009)

Fonte: Tomás (2014); Imagem Cité science et de I’industric, Paris;

Ainda de acordo com Santos (2015), já em países de clima seco e influência árabe, a arquitetura com terra continua tendo destaque, como na execução deste castelo residencial em terra recém-construído em Ouarzazate, Marrocos (Figura 5). Figura 5: Castelo residencial em terra contemporâneo no Marrocos. Fonte:

Roth, 2012.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


28 A partir da segunda metade do século XIX, o uso habitual da terra vai cedendo inexoravelmente ao aparecimento de materiais de construção industrializados e a terra é marginalizada das grandes obras públicas e privadas, onde começa a concorrer com o gosto pelos padrões estéticos ditados pelos novos materiais. Apesar disso, principalmente nos países em desenvolvimento, a terra segue como uma das únicas alternativas de construção da população excluída do mercado formal de habitação, geralmente moradores da periferia das cidades e da área rural. (NEVES, 2011)

Mas o cenário tem mudado. No Brasil, por exemplo, assim como outros modelos de construção de baixo impacto ambiental, a utilização da terra como material construtivo tem ganhado maior interesse a cada ano. São cada vez mais acessíveis, frequentes e divulgados os cursos práticos de construção com terra, sediados por diversos institutos de bioconstrução e permacultura, movimentando centenas de pessoas ao redor do país para o aprendizado de tais modelos (como será constatado no CAP. 2.2 Experiências Brasileiras Recentes deste trabalho), em espelho ao que vem acontecendo ao redor de todo o mundo. Desde a década de 1980, no entanto, com o aumento da busca por alternativas mais sustentáveis, a terra como material de construção vem recebendo um crescente interesse, estimulando a realização de pesquisas e eventos e culminando na produção de normas construtivas em diversos países (CID, MAZARRON E GUERRERO, 2011 apud SANTOS, 2015)

Segundo Santos (2015), o notável número de cursos denota um aumento na consciência ambiental e a busca por estilos de vida mais sustentáveis. No entanto, para fazer bom uso desse material, é preciso conhecer suas propriedades e seus modos de utilização. Na busca Figura 6: Técnicas de construção com terra. Fonte: Adaptado de por conhecimento da área muitos Houben e Guillaud, 1989 (Tradução livre). avanços têm sido feitos, como por exemplo a equipe do laboratório CRATerre – Cultures Constructives et Dévéloppment Durable – da ENSAG, Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble 17, vêm trabalhando desde 1979 para atualizar os conhecimentos técnicos e científicos sobre a construção em terra crua, publicando inúmeros livros, incluindo um extenso tratado de construção com terra e parceiro da UNESCO na identificação e preservação do patrimônio histórico de edificações em terra. ( UNESCO, 2012 apud SANTOS, 2015) (Figura 6). TFG

I

|

RENATA

ALVES


29 ADOBE

Uma das técnicas de construção mais primitivas e empregadas até hoje é a alvenaria de adobe. (...) os antigos construtores aprenderam a usar a terra, melhorando suas propriedades com adição de outros materiais e protegendo as superfícies exteriores da ação de agentes degradantes. (NEVES, 2011)

Trata-se de uma das formas mais antigas de construção, e ainda apresenta representantes em todos os continentes do mundo. Consiste em blocos de terra (tijolo) maleável moldado, usualmente, em fôrmas de madeira, embora também possa ser feito em fôrmas de metal e seco naturalmente ao sol (FERREIRA, 1986 apud SANTOS, 2015). É frequente que se misture palha seca à terra para aumentar a resistência. Originalmente os tijolos eram fabricados à mão, atualmente a fabricação já é possível com ajuda de maquinário. (HOUBEN E GUILLAUD, 1989 apud SANTOS, 2015).

Figura 7: Vantagens da construção com adobe. aprenda-a-fazer-tijolos-com-terra-crua/

Fonte: http://blogs.canalrural.com.br/casanocampo/2016/07/29/adobe-

A terra empregada deverá conter, no mínimo, 10% de argila, mas o ideal são 20%. Em caso de subsolo rico em areia, deve ser utilizada uma porção de calcário (cal). Depois de preparado, o adobe é deixado ao sol para secar, o que em geral leva de 15 a 20 dias, dependendo da região e do clima. O trabalho de construção com o adobe é semelhante ao realizado com o tijolo convencional, porém, em vez de se assentar com argamassa industrial, utiliza-se argamassa de terra (BRASIL, 2005 apud SANTOS, 2015).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


30 O tijolo de adobe é 100% natural, reciclável e biodegradável, sendo que a terra utilizada em sua fabricação pode ser retornada ao ambiente quando sua utilização já não se faz mais necessária (em caso de demolição da construção). Esse sistema pode utilizar terra do próprio canteiro de obras, ou de localidades próximas, e os tijolos podem ser produzidos no próprio canteiro de obras (havendo espaço). Segundo a apostila Curso de Bioconstrução do Ministério do Meio Ambiente (2008), recomenda-se que os tijolos sejam secos ao sol por cerca de dez dias, virando-os a cada dois dias. Já Rotondaro (2011) diz que os adobes secam-se ao ar livre durante vários dias (entre uma a duas semanas), e depois se coloca de lado até completar a secagem, entre cinco e dez dias, dependendo do clima local. Depois eles são empilhados e cobertos para evitar que se desagreguem com a água de chuvas. Recomenda-se fazer pilhas até 1,20m de altura e canalizar a água em volta das pilhas.

O adobe (...) é usado na execução de alvenaria, geralmente unidos por uma argamassa preparada com uma mistura muito semelhante à do adobe, para parede autoportante, parede portante, arcos, abóbadas e cúpulas. Ele pode ser usado para gerar formas ortogonais e curvas, contanto que se respeite sua característica de resistência à compressão. (ROTONDARO, 2011)

Figura 8: Etapas de secagem e armazenamento de adobes. Fonte: Proterra 2011

Figura 9: Exemplos de cúpulas e abóbadas de adobe. Fonte: Proterra 2011

Figura 10: Construção de paredes de adobe. Fonte: Proterra 2011 TFG

I

|

RENATA

ALVES


31 BLOCO DE TERRA COMPRIMIDA (BTC) Os tijolos de BCT são recentes na história da construção civil, tendo se popularizado a partir da década de 1950 (BARBOSA, MATTONE E MESBAH, 2002 apud SANTOS, 2015). Para sua fabricação coloca-se uma mistura ideal de argila, areia e água em uma prensa manual ou automatizada. Para melhorar as características físico-mecânicas do BTC como resistência à compressão e à ação abrasiva de ventos, impermeabilização, durabilidade, pode-se utilizar o processo de estabilização granulométrica, a qual consiste na mistura de proporções de diferentes terras; e/ou a estabilização química, a qual se adiciona um aditivo químico à terra, geralmente aglomerante tipo cimento ou cal. (SANTOS, 2015)

Atualmente, o tijolo de adobe vem sendo conhecido como “tijolo ecológico” devido ao fato de não passar pelo processo de queima, diferenciando-se do tijolo cerâmico convencional. A técnica apresenta desmolde imediato, sendo essa uma vantagem em relação ao tijolo de adobe, já que dispensa a secagem ao sol. Este fato é o que garante maior atrativo no ponto de vista industrial, já que permite a produção rápida das peças, além do benefício ambiental da ausência da queima. A fabricação atual permite diversos moldes em prensas, sendo que seus encaixes e formatos ajudam a manter o prumo no assentamento (Figuras 11 e 12).

Figura 11: Maquinário para fabricação de tijolos BCT. Fonte: https://portuguese.alibaba.com/product-de-

tail/small-home-business-adobe-clay-interlocking-brickmaking-machine-qmr2-40-brazil-manual-soil-brick-machine-60629883232.html

Figura 12: Alguns ecemplos da variedade de BTC: a) Maciço de superfície lisa; b) Maciço com encaixes Bloco Matone; c) Com furos; d) Com furos e encaixe. Fonte: Proterra 2011

Segundo Neves e Milani (2011) o BTC pode ser usado em qualquer tipo de construção substituindo os blocos cerâmicos convencionais, seja em alvenaria simples de vedação, ou alvenaria estrutural, desde que atendam às resistências estabelecidas no projeto. As paredes tanto podem ser aparentes (quando protegidas da chuva), como revestidas, podendo receber revestimento em argamassa, diversos tipos de pintura ou revestimento cerâmico.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


32

Figura 13: Construção de abóbada de BTC. Fonte: Proterra 2011

SUPERADOBE O termo terra ensacada engloba todas as técnicas construtivas que usam sacos como fôrmas para conter a terra antes, durante e depois da compactação. (SANTOS, 2015) A técnica possui um processo construtivo bem simples e que pode ser executado no local da obra. Ela envolve preencher sacos de tamanho padronizado (individuais ou contínuos) com terra (estabilizada ou não) e compactá-los onde se deseja formar um elemento construtivo. O solo ideal para o preenchimento deve ter até 30% de argila, mas a técnica aceita uma gama variada de granulometrias (HUNTER EKIFFMEYER, 2004 apud SANTOS, 2015). Existem diversos tipos de sacos que podem ser utilizados para a execução da estrutura ensacada, sendo que, dependendo do modelo, pode ser utilizado arame farpado entre as fiadas, para aumentar atrito e, consequentemente, sua fixação. A técnica permite a execução de fundações, muros de arrimo, paredes portantes ou de vedação, e coberturas em domo ou arco, ou mesmo toda a edificação. (SANTOS, 2015) (Figura 14) TFG

I

|

RENATA

ALVES


33

Figura 14: Diversos elementos construtivos em terra ensacada. Fonte: Earth Home Builder 2014

Em algumas apostilas e cartilhas de cursos de bioconstrução pode-se encontrar a informação de que a técnica foi inventada pelo arquiteto Nader Khalili, mas esta informação não é precisa. A popularização e a repercussão da CTE devem-se em grande parte a este arquiteto iraniano que, nos anos 1980, utilizou sacos longos em forma de tubo entremeados com arame farpado e o chamou superadobe (GONÇALVES e GOMES, 2012 apud SANTOS, 2015). Khalili disseminou a técnica por todo o mundo, principalmente através do trabalho que fez como proposição à NASA do uso deste tipo de construção nas supostas colônias na Lua e em Marte, e do incentivo à utilização da técnica para construção de abrigos emergenciais (Figuras 15 e 16). Figura 15: Superadobe usado em campo de refugiados das Nações Unidas. Fonte: Cal-Earth 2014

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


34 Com seu perfil divulgador e seu discurso sobre a condição espiritual da construção com terra, suas construções com formas orgânicas e tecnicamente seguras foram as maiores divulgadoras da bioconstrução, tornando o superadobe o símbolo da ideologia de construção sustentável em todo o mundo. Figura 16: Abrigos emergenciais de Khalili em superadobe. Fon-

te: Cal-Earth 2014

Atualmente o superadobe é um dos carros-chefes dos cursos de Bioconstrução promovidos por institutos de Permacultura, contribuindo para a divulgação das técnicas de construção com terra não só como mais sustentáveis, mas como modernas e inteligentes, explicando sua ampla disseminação. (Santos, 2015)

Quanto o aprimoramento da técnica, muito se foi feito desde seu surgimento e popularização, especialmente na área de ensacamento: Em 2006 o engenheiro brasileiro Fernando Soneghet Pacheco, em parceria com a empresa Citropack©, alterou o tipo de sacaria, substituindo os sacos contínuos de polipropileno tecido (PP-T) por sacos contínuos de tela de polietileno de alta densidade em malha Raschel (PEAD-MR apud SANTOS, 2015).

Esta mudança permitiu a redução do uso de plástico, bem como a dispensa do arame farpado e uma melhor fixação do reboco (GEIGER, 2011), além de resolver um problema de classificação da técnica, já que algumas comunidades não a consideravam construção com terra, por não ter a argila como ligante, já que neste caso a mesma se comunica através das fiadas. Pacheco batizou esta técnica de hiperadobe. (SANTOS, 2015) (Figura 17) TFG

I

|

RENATA

Figura 17: Hiperadobe em construção.

(2015); Pacheco (2012)

ALVES

Fonte: Earth Building


35

Figura 18: Restaurante de alta gastronomia com terra ensacada em SP. Fonte: Atala e Poleto (2015); Almeida (2009)

TAIPA DE PILÃO Técnica conhecida como taipa-de-pilão (ou simplesmente taipa) no Brasil e Portugal, tapial ou apisonado em outros países ibero-americanos, corresponde a paredes monolíticas construídas no próprio local (Figura 19). Ela consiste na compactação de camadas de terra úmida no interior de moldes, chamados “taipal”, geralmente de madeira, que vão se deslocando à medida que avança a construção. Para garantir o prumo e manter constante a espessura da parede usam-se guias verticais que inclusive facilitam o deslocamento Figura 19: Paredes de taipa de pilão em construção. dos moldes. (HOFFMANN; MINTO; Proterra 2011

Fonte:

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


36 No sistema, o solo é devidamente preparado e compactado. O processo de produção da parede consiste, resumidamente, em preparar a terra utilizada e coloca-la em um molde, e compacta-la batendo em sua superfície com compactadores manuais ou mecânicos. Detalhes de projeto devem ser observados quando se utiliza a taipa de pilão, para que seu desempenho não seja reduzido, ou que, em alguns casos, a estrutura colapse, tais como a distribuição de cargas na estrutura, acumulação de água na cobertura e penetração de umidade pela fundação. Além disto, toda construção que apresenta paredes externas de terra necessita de um beiral generoso em seu telhado para protegê-las da chuva. A espessura das paredes também deve ser observada em projeto, pois a técnica necessita de paredes mais largas para sua estabilização. Após o advento dos estabilizantes químicos e dos compactadores pneumáticos, a taipa tornou-se uma das técnicas de construção com terra mais utilizadas na arquitetura contemporânea. Além de permitir a confecção de paredes portantes, seu apelo estético tem sido um fator significante para o renovado interesse nesta técnica (KAPFINGER, 2001 apud SANTOS, 2015).

A construção com taipa de pilão necessita de fôrmas para a moldagem da terra a ser compactada. É importante que as fôrmas sejam resistentes, pois podem ser utilizadas até o final da obra, tendo em vista que uma vez que um trecho de terra já foi compactado, sua fôrma pode ser retirada imediatamente e recolocada em outro local. As fôrmas vão sendo deslocadas de baixo para cima no processo de compactação, seguindo o mesmo sentido de execução das paredes. A textura das fôrmas pode ser um fator determinante para o acabamento final das paredes, já que estas não necessitam de pintura ou reboco de qualquer tipo após serem desinformadas, assim, a textura da fôrma pode deixar um registro na parede finalizada, que será parte de sua estética. Portanto, para acabamento mais liso, deve-se utilizar fôrmas de madeira bem polida, ou de metal, enquanto que para um acabamento mais rústico, fôrmas mais grosseiras são a melhor opção. A modulação das fôrmas também é determinante para o projeto e execução. O projeto pode ser feito observando-se certa modulação de fôrma a ser utilizada do começo ao fim da obra, de modo que possam ser reaproveitadas e executem todas as paredes, ou podem ser feitas fôrmas especiais para determinadas paredes que tenham dimensões não Figura 20: Diferentes tipos de pilão. Fonte: Brasil 2008 atendidas na modulação, ou que TFG

I

|

RENATA

ALVES


37

sejam curvas. Quanto ao pilão, existem diversos tipos. Com o passar das décadas a técnica foi sendo aprimorada e, atualmente, é possível a realização de paredes de terra apiloada utilizando pilão mecânico (Figuras 20 e 21).

Figura 21: Pilão mecânico utilizado pela empresa TAIPAL. Fonte: Taipal 2015

No Brasil, a empresa Taipal vêm atuando na construção com terra há mais de 15 anos. Durante seu tempo de mercado, a Taipal promoveu grande estudo sobre a taipa de pilão, testando e melhorando a técnica. Hoje a empresa trabalha com fôrmas modulares, auxiliadas por uma estrutura metálica que garante o prumo das paredes, e com pilão mecânico. A espessura mínima de parede executada pela construtora é de quarenta centímetros. Esta dimensão garante qualidade de trabalho para o operário que executa a compactação, pois ele vai caminhando sobre a terra e mantém a mesma posição de trabalho do início ao fim da parede, subindo seu nível junto dela, à medida que o trabalho é feito.

Na construção das paredes em terra a TAIPAL utiliza todas as técnicas em busca de alto desempenho a favor do meio ambiente. A matéria prima natural passa por uma seleção no laboratório de solos da USP e todas as etapas são monitoradas, garantindo assim a essência e a qualidade do produto. (TAIPAL, 2015)

Figura 22: Montagem de taipal metálico. Fonte: Taipal 2015

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


38

Grande parte dos estudos indica que os solos adequados para a taipa devem apresentar baixa quantidade de silte, pouca matéria orgânica, e teor em torno de 30% de argila e 70% de areia (CRATerre). Entretanto, mesmo para solos com distribuição granulométrica semelhante, têm-se grande variabilidade de resultados que pode ser atribuída principalmente às características da argila e, em alguns casos, as da areia. O CEPED, para execução de parede de painéis monolíticos de solo-cimento, especifica solos com teor de areia entre 45% a 90%, teor de silte e argila entre 10% a 55%, limite de liquidez ≤ 45%, índice de plasticidade ≤ 18% e retração no ensaio da caixa3 ≤ 2 cm. (HOFFMANN; MINTO; HEISE, 2011)

TAIPA DE MÃO A taipa de mão, também conhecida como pau-a-pique, é classificada como uma técnica mista pela rede Ibero-Americana:

A técnica mista consiste em uma estrutura portante, de madeira, unida por entramados reticulados de madeira ou varas e coberta com uma massa plástica de terra. Em geral, os efeitos da retração da massa de enchimento muito pronunciados exigem um revestimento posterior à secagem, para deter o efeito desagregador. (GARZÓN, 2011)

O pau-a-pique é uma técnica construtiva de paredes de vedação que consiste em preencher com terra e palha um entramado de galhos, preso a uma estrutura de madeira. Os galhos e a madeira podem ser substituídos por bambu. (SANTOS, 2015) (Figura 23)

Figura 23: Pau-a-pique em construção. Fonte: Latufo e Pinheiro 2007

As paredes de taipa de mão são compostas por quatro elementos principais: estrutura mestra, estrutura auxiliar, enchimento e revestimento (Figura 24).

TFG

I

|

RENATA

ALVES


39

• A estrutura mestra corresponde à estrutura básica da construção, em que seus elementos são os responsáveis pelo equilíbrio e resistência. (GARZÓN, 2011) • A estrutura auxiliar é destinada a suportar e consolidar o enchimento da parede. (GARZÓN, 2011) (Figura 25) • O enchimento ou barreamento se comporta como uma “pele” e, como tal, oferece certo grau de isolamento térmico, além de regular as mudanças higrotérmicas entre o meio exterior e o ambiente interior da edificação. (GARZÓN, 2011) • A mistura de terra e fibras empregada para o enchimento das técnicas mistas resulFigura 24: Componentes das técnicas mistas. Fonte: Proterra 2011 ta em um material poroso, com baixa massa específica e pouco resistente à ação da água, de chuvas e geadas. Para a proteção externa do enchimento, usam-se revestimentos apropriados, que podem ser o reboco ou o forro, que corresponde a todo tipo de revestimento sólido. (GARZÓN, 2011)

Figura 25: Exemplos de estrutura auxiliar: a) entramado em bambu em trama dupla, uma em cada face da estrutura; b) entramado reticular simples no meio da estrutura; c) tecida um tramas estreitas no meio da estrutura. Fonte: Proterra 2011

COB Cob ou cobe é um nome genérico para as técnicas de construção onde as paredes são levantadas sem fôrmas ou moldes (SANTOS,2015). A modelagem das estruturas é feita com uma “massa” de terra, possibilitando grande exploração de formas e desenhos orgânicos, com bastante curvas e movimentos pouco explorados na arquitetura convencional (Figura 26).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


40

Figura 26: Parede construída em COB. Fonte: Edwards e Eve 2015

Este sistema tem sido bastante explorado na construção de muros decorados, bancos e mesas em institutos de permacultura e ecovilas no Brasil. A mistura para cob é feita com solo peneirado (16 partes), água (3 par

tes), os resíduos agrícolas ricos em sílica, tais como palhas e cascas de arroz (para secar), e outros aditivos, como a seiva de cactos e estrume (para dar liga), quando disponível. Esta mistura (até agora chamado ‘mistura de terra’ ou ‘barro’) deve ser feita em cima de uma lona resistente. Uma maneira eficaz é misturar os elementos com os pés. Fãs da técnica chamam esse procedimento de “a dança do cobe”. A mistura está pronta quando, puxando num lado da lona, a mistura dobrada mantém duas camadas distintas. (SANTOS, 2015)

Figura 27: Banheiro construído em COB.

Fonte: http://www.jardimdomundo.com/receita-para-bioconstruir-sua-casa-com-suas-proprias-maos/

TFG

I

|

RENATA

ALVES

O COB talvez seja a técnica até agora apresentada que mais possibilita liberdade de criação e pesquisa e, portanto, seja muito utilizado por grupos que tenham como parte da prática bioconstrutiva, a busca por uma estética própria do movimento dos bioconstrutores e permacultores atuais. Deste modo, o COB está presente neste contexto não só como uma escolha construtiva, mas como elemen-


41

to decorativo, ou complementar, de ambientes em que foi escolhido outra técnica de bioconstrução para execução da estrutura (Figuras 27 e 28).

Figura 28: Exemplos de construção em COB.

ing-straw-clay-sand-for.html; pin/120189883778887778/

Fonte: http://veganslivingofftheland.blogspot.com.br/2012/12/cob-buildhttp://tonocosmos.com.br/receita-para-construir-sua-casa-de-forma-barata; https://br.pinterest.com/

REVESTIMENTOS Segundo Mattaraia e Ino (2002), a terra crua foi sempre um dos materiais mais empregados em construção no mundo, apresentando excelente conforto térmico, tanto

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


42 em baixas quanto nas altas temperaturas. Entretanto sua durabilidade depende de alguns cuidados por ser um material suscetível à ação da umidade, sendo que, para aumentar sua durabilidade, é necessário revesti-la. Trata-se por revestimentos a aplicação de superfícies protetoras. Parte-se do princípio do aproveitamento da capacidade de aderência entre os materiais porosos e a necessidade de gerar superfícies mais resistentes que as dos sistemas construtivos da base, mas sem que se perca a capacidade de troca de ar e vapor de água com o meio ambiente. (BACA, 2011) No sistema bioconstrutivo, considera-se revestimentos ecológicos a aplicação feita à base de terra, ou cal e areia. O princípio geral consiste na aplicação de pelo menos duas camadas sobrepostas. A primeira tem 2 cm a 3 cm de espessura e é feita com materiais de granulometria mais grossa; e a segunda camada, com alguns milímetros de espessura, é feita com materiais de granulometria fina. (BACA, 2011)

Alguns autores e pesquisadores afirmam que certas construções com terra crua dispensam o revestimento, como o bloco de terra monolítico, entretanto Houben (1989) apud Mattaraia e Ino (2002) não concorda com esta teoria, especialmente em regiões de clima tropical, e afirma que em todas as regiões onde o clima é caracterizado por uma pluviometria elevada (muitas chuvas), e por chuvas que incidem quase horizontalmente (trópicos), os revestimentos protetores são indispensáveis. Em alguns locais é possível encontrar construções com terra revestidas de argamassas à base de cimento. Entretanto, consta-se que este material é incompatível com a estrutura, de modo que se desprende facilmente, deixando a superfície exposta à umidade. Pesquisadores e profissionais da área de restauração têm feito grandes avanços na tentativa de resgatar técnicas utilizadas inicialmente nas construções com terra, e nas pesquisas de melhoria dos revestimentos à base de terra e cal, a fim de resgatar o patrimônio arquitetônico de construção de terra. Tais estudos apresentam-se como pontos de apoio para bioconstrutores em suas experimentações na construção com o solo cru. Existem muitas formas de se fazer uma argamassa à base de solo. Uma delas é descrita por Baca (2011): A preparação de misturas de barro consiste em peneirar o solo natural seco, adicionar materiais estabilizantes (palha, esterco, serragem, cal, gesso, areia, etc), umedecer progressivamente, misturar e deixar em repouso. A terra que se utiliza para o reboco inicial deve ser passada por uma peneira com abertura de malha de 5 mm e as fibras picadas com comprimento entre 5 cm e 10 cm. A terra para o reboco final deve passar por uma peneira com abertura de malha de 2 mm e as fibras não devem medir mais de 3 cm de comprimento.

TINTAS À BASE DE TERRA A pintura sempre esteve presente no contexto humano, desde as habitações pré-históricas. No início a tinta era produzida apenas com materiais naturais como flores, sementes, frutos e, claro, o barro. TFG

I

|

RENATA

ALVES


43

Tudo faz supor ter sido a gruta pré-histórica, em seu período Clássico, um amplo ateliê de aprendizagem e realizações artísticas. (PEDROSA, 2009 apud GÓIS, 2016)

Com a evolução tecnológica as tintas sofreram grandes mudanças. Com a chegada do desenvolvimento industrial e petroquímico no séc. XX, as tintas utilizadas pelos artistas passaram por uma revolução, com a introdução no mercado e a rápida difusão do uso de tintas prontas para o consumo, embaladas em tubos metálicos, potes plásticos ou estojos, e ainda com o surgimento da Tinta Acrílica. (GÓIS, 2016) A industrialização fez com que os conhecimentos e, a consequente utilização, das tintas à base de terra fossem esquecidos, tornando o que era uma técnica tradicional em algo alternativo, associado à precariedade, pobre resultado estético e baixa durabilidade. Mas esta não é a realidade sobre as tintas naturais. As tintas convencionais apresentam como matérias-primas os minerais não metabólicos e os produtos derivados de petróleo, recursos não renováveis, e água, além de ocorrer a liberação de efluentes líquidos e gasosos que poluem o meio ambiente (GÓIS, 2016). Enquanto que as tintas com pigmentos de terra são sustentáveis e não geram resíduos ou produtos tóxicos à saúde e ao meio ambiente. São compostas de pigmentos minerais puros e na-

turais e emulsões de base aquosa não tóxica. As tintas à base de terra são produzidas através de processo físico sem auxílio de meio químico e com baixo uso de energia. Ademais, durante a transformação em produto final não há emissões tóxicas, como no caso das tintas convencionais. O resíduo não polui o meio ambiente e completa seu ciclo de vida retornando à terra em curto prazo. (GÓIS, 2016)

A utilização de tintas com pigmentos terrosos em edificações tem ganhado espaço junto aos grupos de bioconstrutores. Em algumas universidades é possível encontrar oficinas e cursos sobre tais tintas, como é o caso Figura 29: Oficina “Cores da Terra” na PUC MINAS campus Poços de Calda PUC MINAS campus Poços de Caldas, que têm realiza- das. Fonte: DAON (Diretório Acadêmico Osdo oficinas esporádicas com a direção da Professora do car Niemeyer) 2015. Fotos: Lucas Rezende curso de Arquitetura e Urbanismo, Rosana Parisi (Figura 29).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


44 A produção das tintas é bastante simples, usando como materiais principais a terra, a água e a cola branca (Figura 30). As tonalidades podem variar tanto dentro da paleta natural, em que a tinta adquire a coloração da terra que foi utilizada em seu preparo, como pode ser alterada adicionando pigmentos industriais comercializados convencionalmente, a fim de atingir tons de azul, verde, roxo, etc.

Figura 30: Preparação de tinta à base de terra. Fonte: Cores da Terra 2007

2.1.2 Construção com bambu

Tradicionalmente, os países asiáticos são ligados à ampla cultura de utilização do bambu, com belos exemplos de edificações vernaculares, utilizando o material em sua forma natural. Mais recentemente, na América Latina, em países como a Colômbia, Costa Rica e Equador, observam-se projetos bem-sucedidos – desde habitações populares com fins de interesse social, até prédios de grande porte como pavilhões de exposições, hotéis e edifícios verticais multi-familiares. (PADOVAN,2010)

Figura 31: Casa feita de bambu pelos antepassados na costa do Equador. Fonte: Hidalgo-López 2003 TFG

I

|

RENATA

ALVES

O bambu é uma matéria-prima há muito explorada na arquitetura mundial. Com o passar das décadas, o bambu deixou de ser exclusividade da arquitetura oriental e indígena, e passou a conquistar espaço dentre a produção de muitos países (Figura 31). Existem diversas espécies e cada uma apresenta uma característica diferenciada em relação ao plantio, crescimento, resistência mecânica, resistência à umidade, corte, por-


45

te, encaixes, carga suportada, peso próprio, tratamento contra pragas, etc., e, portanto, oferecem uma infinidade de aplicações em estruturas de diversos portes. As possibilidades construtivas oferecidas pelo bambu têm sido estudadas por pesquisadores no mundo todo, ensaiando sua resistência em laboratórios, catalogando exemplares de utilização ao redor do mundo, estudando e registrando sistemas de encaixes empregados por diferentes culturas ao redor do mundo, resgatando conhecimentos vernaculares sobre o cultivo e o controle de pragas, etc. Deste modo, o interesse dos profissionais da construção civil na utilização de bambu em seus projetos tem crescido exponencialmente em caráter mundial. Grandes arquitetos de renome internacional estão utilizando cada vez mais o bambu em seus edifícios monumentais, compondo exemplos de tecnologia, leveza e sofisticação. O bambu necessita ser tratado para que sua vida útil como material de construção seja prolongada. Segundo Padovan (2010), a necessidade de investimentos em tratamentos é uma questão técnica comum a diversos outros materiais naturais utilizados na construção civil, como as madeiras, com sistemas apropriados de secagem e preservação. O bambu não tratado pode apresentar uma vida útil entre um e três anos quando utilizado em áreas abertas em contato com o solo, de quatro a seis anos quando em áreas cobertas e de livre de contato com solo; e entre 10 e 15 anos, quando utilizado em áreas cobertas em excelentes condições. Quando os bambus são tratados, a vida útil pode se estender por vários anos, como ocorre com as madeiras de reflorestamento. (JANSSEN, 2000 apud PADOVAN, 2010) Existem muitos tipos de tratamento que podem ser conferidos ao bambu. São divididos entre métodos tradicionais, métodos químicos e tratamento sob pressão. • • • •

Métodos tradicionais: Cura na touceira; Cura por imersão em água; Cura pela ação do fogo (Figura 32); Cura pela ação da fumaça;

Figura 32: Método de tratamento pelo fogo.

Morán 2003

Fonte:

Métodos químicos: • Imersão em solução de sais hidrossolúveis; • Substituição da seiva por sais hidrossolúveis através transpiração; Tratamento sob pressão: • Autoclave; • Método Boucherie modificado (Figura 33).

Figura 33: Tratamento pelo método Boucherie. Fonte:

Padovan 2010

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


46 O armazenamento do bambu deverá ocorrer em local preferencialmente coberto, protegido do sol e da chuva, com as varas dispostas em camadas, com espaçamentos que permitam a circulação de ar entre as peças, colocadas afastadas do solo aproximadamente 15 cm, para que não tenham contato com a umidade. (PADOVAN, 2010)

Quanto à sua utilização na construção civil, o material tem sido utilizado de diversas formas ao longo dos anos. Nas regiões onde é planta nativa o bambu foi utilizado como matéria-prima de construções desde os primórdios da civilização. Nas construções tradicionais, o bambu é utilizado em sua maneira mais simples de aplicação, com utilização de colmos inteiros, réguas sem aparelhamentos, bambu trançado, cordas de bambu e argamassa adicionada de fibras naturais, utilizando-se métodos e ferramentas muito simples e acessíveis até mesmo para os jovens e para os não qualificados. (JAYANETTI; FOLLET, 1998 apud PADOVAN, 2010)

Nas construções tradicionais é utilizado nas formas de colmos inteiros de bambu, ripas de bambu, tiras, cordas com fibras de bambu, argamassas, fundações, estrutura, pisos, paredes, portas e janelas, forros, estruturas de cobertura e cobertura. (PADOVAN, 2010) No Brasil, a associação do bambu à cultura indígena, à pobreza e a falta de recursos acabou por limitar por muitos anos a utilização da chamada “madeira dos pobres”. Atualmente as construções que utilizam o bambu apresentam-no nas mesmas formas que a arquitetura tradicional de bambu, porém, as formas de utilização passaram por modernização e estudo, e hoje apresentam resultados esteticamente mais refinados e estruturalmente mais seguros. Dentro do contexto das comunidades permacultoras e centros de bioconstrução o bambu é atualmente muito explorado na construção de geodésicas e na confecção de mobiliário, sendo estes os temas mais frequentes de cursos envolvendo o bambu oferecidos por institutos e comunidades. O site DOMERAMA é uma ferramenta atual que busca facilitar e capacitar construtores na execução de geodésicas, incluindo o bambu como material (Figura 34).

Figura 34: Site DOMERAMA. Fonte: domerama.com TFG

I

|

RENATA

ALVES


47

Os elementos mais trabalhosos no projeto de uma edificação de bambu são as conexões entre as peças.

De acordo com diversos autores, uma das maiores dificuldades do emprego do bambu como material de construção são suas conexões. Por causa da sua forma não perfeitamente circular, cônica, oca, com diversas dimensões em seu comprimento, diâmetro e espessura de paredes, as conexões entre duas ou mais peças de bambu requerem um tratamento diferente dos materiais sólidos ou ocos com paredes resistentes, como as madeiras ou os tubos de aço, respectivamente, que possuem tecnologia avançada para sua utilização. (PADOVAN, 2010).

Existem milhares de maneiras de se realizar o encaixe e fixação das peças. Padovan (2010) divide-as em conexões tradicionais e conexões contemporâneas. As tradicionais apresentam três tipos de cortes: •

Corte boca-de-peixe

Figura 35: Derivações do corte boca-de-peixe. Fonte: Ebiobambu 2007

Corte tipo flange

Figura 36: Corte do tipo flange.

2003

Fonte: Hidalgo-Lopéz

Corte diagonal e diagonal parcial

Figura 37: Corte diagonal e diagonal parcial. Fonte:

Hidalgo-Lopéz 2003

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


48

Já os modelos de conexões tradicionais se subdividem em quatro grupos:

Grupo 1: conexões de elementos na mesma direção o Conexões de mesma direção, sobrepostas de colmos inteiros; o Conexões de mesma direção sobrepostas de colmos cortados ao meio; o Conexões de mesma direção a topo com talas de bambu; o Conexão de mesma direção a topo com luvas ou tarugos de bambu.

Grupo 2: conexões de elementos ortogonais o Conexões ortogonais a topo; o Conexões ortogonais laterais simples em ângulo reto; o Conexões ortogonais laterais duplas em ângulo reto; o Conexões ortogonais laterais duplas em linha; o Conexões ortogonais sobrepostas.

Grupo 3: conexões de elementos diagonais o Conexões diagonais com elementos horizontais; o Conexões diagonais com elementos verticais e horizontais.

Grupo 4: conexões de elementos passantes (PADOVAN,2010)

Já as conexões contemporâneas foram classificadas por Janssen (2000) em três grupos: • Grupo 1 - Secção transversal completa (Figura 38);

• Grupo 2 – Conexões do interior para um elemento paralelo (Figura 39);

Figura 39: Conexões internas de elemento paralelo. Fonte: Janssen 2000 TFG

I

|

RENATA

ALVES

Figura 38: Conexões envolvendo a seção transversal completa. Fonte: Janssen 2000


49

• Grupo 3 - Conexões da seção transversal para um elemento paralelo (Figura 40);

• Grupo 4 – Conexões da seção transversal para elemento perpendicular (Figura 41);

Figura 41: Conexões da seção transversal para o elemento perpendicular. Fonte: Janssen 2000

Figura 40: Conexões da seção transversal para o elemento paralelo. Fonte: Janssen 2000

• Grupo 5 – Conexões do exterior para o elemento paralelo (Figura 42).

Além destes, podem ser executados muitos outros tipos de conexões entre os elementos de bambu, de modo que sua escolha deve ser feita a partir da análise do projeto, das forças exercidas pela estrutura, do tipo de bambu utilizado, suas dimensões e seu tratamento, e do custo necessário para as peças utilizadas em cada tipo de amarração.

Figura 42: Conexões do exterior para elemento paralelo. Fonte: Janssen 2000

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


50 O potencial do bambu como material para a construção civil, tanto como fechamento e decoração, quanto como elemento estrutural, além de toda a plasticidade a ser explorada, tem sido tão resgatado, estudado e explorado por arquitetos que no ano de 2016 aconteceu a primeira Bienal Internacional de Arquitetura em Bambu da história. No mês de setembro o pacífico vilarejo de Baoxi, na China, recebeu 18 construções desenhadas por 12 arquitetos de renome internacional, como Kengo Kuma, Vo Trong Nghia, Anna Herringer, Li Xiaodong e Simon Velez. A bienal teve curadoria do artista Ge Qiantao e do arquiteto George Kunihiro. O propósito da bienal era a construção de estruturas leves e sustentáveis, explorando as possibilidades oferecidas pelo material, aliando-o à arquitetura contemporânea. As estruturas foram pensadas de modo a atender as necessidades dos moradores locais, e as construções tiveram caráter permanente, sendo deixadas para continuar fazendo parte do cotidiano do vilarejo depois que a Bienal acabou. (LYNCH, 2017)

TFG

I

|

RENATA

ALVES


51

Figura 43: Obras da primeira Bienal Internacional de Arquitetura em bambu. Fonte: Julien Lanoo 2017

A lista de obras da Bienal incluiu: (LYNCH, 2017) Bridge Ge Quantao (China) Ceramic Workshop
 (existing) George Kunihiro (USA) Bamboo Product Research and Design Center Li Xiaodong (China) Boutique Hotel Simon Velez (Colombia) Youth Hostel 
Anna Heringer (Germany) Contemporary Celadon Ceramic Museum Kengo Kuma (Japan) Professional Ceramicist Workshop 
Keisuke Maeda (Japan) Experimental Eco-efficient House 
Mauricio Cardenas Laverde (Italy/Colombia) Bamboo Restaurant
 Suk-hee Chun and Young-chul Jang (South Korea) Public Ceramic Workshop
 Madhura Primatilleke (Sri Lanka) Welcome Center Vo Trong Nghia (Vietnam) Art Hotel Yang Xu (China)

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


52 2.1.3 Construção com materiais reciclados Outro modelo de construção que tem estado nas discussões a respeito da sustentabilidade é o que utiliza materiais produzidos pela indústria, que foram descartados após sua vida útil para seu objetivo inicial, e que representam grande risco ambiental devido à sua lenta decomposição, tais como pneus, garrafas PET e garrafas de vidro. O problema ambiental que estes materiais representam é inquestionável. Todos os anos toneladas incontáveis de pneus e garrafas são descartadas e despejadas no ambiente, onde ficam durante décadas (Figuras 44 a 47). Recentemente, comunidades, pesquisadores, arquitetos, institutos e ONGs vêm executando projetos de construções que utilizam estes materiais como componente determinante de suas estruturas. A utilização se justifica pela premissa de se reaproveitar os objetos, retirando-os da natureza e prolongando sua vida útil, além da redução nos custos da construção em si, sendo incentivada como alternativa para habitações de interesse social, abrigos emergenciais e estruturas para comunidades carentes (Figuras 48 a 51). Esses materiais estão sendo explorados nas construções, geralmente, em associação com a terra e o cimento, transformando-os em parte integrante das paredes, como tijolos. Outra forma de reaproveitamento destes materiais pela construção civil é sua utilização como parte do processo de produção de materiais já destinados à construção, reciclando-os em matéria-prima de elementos já presentes na construção convencional. Há uma divergência de opiniões em relação a esse tipo de construção devido ao fato destes materiais serem produtos de fabricação industrial e sua finalidade não ser o atendimento à construção civil.

TFG

I

|

RENATA

ALVES

Figura 44: Depósito de pneus em Fort Lauderdale, USA. Fonte: http://linguagemgeografica.blogspot. com.br/2014/05/deposito-de-pneus.html

Figura 45: Maior aterro do mundo, vista aérea. Fonte: https://hypescience.com/maior-aterro-mundo-possui-7-milhoes-de-pneus-e-pode-ser-visto-espaco/

Figura 46: Rio Juzna Morava na Sérvia.

Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/06/servios-navegam-entre-garrafas-plasticas-e-lixo-acumulado-em-rio.html

Figura 47: Baía de Ussuri, na Rússia. Fonte: http:// www.beevoz.net/2017/02/09/baia-de-ussuri-um-aterro-degarrafas-se-transformou-em-uma-praia-de-cristal/.


53

Figura 48: Earthship Australia. Fonte: http://architecturerepublic.com.au/earthships-australia/

Figura 49: Earthship by Michael Reynolds. Fonte: http://www.alternativeconsumer.com/2010/05/11/eco-architectmichael-reynolds-off-grid-global-model-earthship/

Figura 50: Construção com garrafa PET e terra.

Figura 51: Casa de garrafa PET e terra.

Fonte: https://thonilitsz.arq.br/tijolos-trocados-por-garrafas-pet-na-construcao-de-uma-casa/

Fonte: https:// thonilitsz.arq.br/tijolos-trocados-por-garrafas-pet-na-construcao-de-uma-casa/

NOTA DE OPINIÃO Enquanto entendo que o descarte de materiais como os pneus e garrafas representa uma ameaça gigantesca à saúde do planeta e todos os seus habitantes dos reinos fauna e flora, penso que sua utilização na construção civil deva ser analisada com cautela. É inegável que alguma atitude deva ser tomada a respeito do problema ambiental que tais materiais representam, porém creio que a responsabilidade sobre os descartes seja, em primeiro lugar, da indústria que os produziu. A fabricação destes produtos é realizada em escalas absurdas e seu consumo é pouco questionado no cotidiano das pessoas. Sua vida útil é ridiculamente curta, quando comparada ao consumo de energia e matéria-prima em todas as etapas de produção, e ao tempo que o objeto descartado leva para se decompor no meio ambiente. Sendo assim, é obviamente claro que as indústrias produtoras destes materiais sejam responsabilizadas por todo o seu ciclo de vida, especialmente após o descarte do produto pelo consumidor. Aprecio o trabalho de arquitetos e outros profissionais que tentam fazer sua parte na tentativa de reduzir o problema gerado pelo descarte compulsório,

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


54

apoio com extrema admiração e acho completamente válido o trabalho daqueles que buscam dar dignidade e qualidade de vida e ambiental à população carente, utilizando os descartes na construção de moradias dignas e infraestruturas básicas para suas comunidades. No entanto, penso que a postura de preocupação deva ser assumida pelo fabricante, não pelos arquitetos e construtores, pois esses objetos não foram concebidos para servirem como sistema construtivo, nem foram testados ou pensados para melhorar seu desempenho em tal função. Sendo assim, este trabalho apresenta rasamente algumas práticas de construção utilizando pneus e garrafas que têm se feito presente no cenário atual, mas limita-se a isto, não explorando à fundo sua execução e características.

2.1.4 Tratamento de resíduos Para a sustentabilidade de um sistema ser efetiva, é necessário avaliar o ciclo por completo. A entrada de energia e matéria prima deve ser tão importante quanto à sua saída. Sendo assim, é preciso pensar em maneiras menos agressivas ao meio ambiente para tratar os resíduos descartados, tanto líquidos quanto sólidos. Para resíduos sólidos recicláveis pratica-se a coleta seletiva, destinando as embalagens à reciclagem e ao reaproveitamento, estendendo seu ciclo de vida e reduzindo o destino do lixo não tratado à lixões irregulares. Já para os resíduos orgânicos não recicláveis, serão apresentadas soluções de tratamento para os resíduos sólidos e líquidos.

BANHEIRO SECO O banheiro compostável, também conhecido como banheiro seco ou sanitário ecológico, é uma técnica de saneamento que não utiliza água para remover os dejetos: estes ficam armazenados em uma câmara onde passam por um processo de compostagem e o produto final pode ser utilizado como adubo (SÁ, 2011 apud AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013). Trata-se de um sistema pouco explorado no Brasil, apesar de haverem usos em muitos locais no mundo, onde já é uma tecnologia consagrada, como os Estados Unidos, Canadá, Suécia, Noruega, Nova Zelândia, Inglaterra e Austrália (ALVES, 2009 apud AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013). O processo tem sido avaliado para implementação de saneamento básico para comunidades carentes, devido ao seu reduzido custo de execução e sua independência de infraestruturas públicas nem sempre disponíveis, como distribuição de água e rede de escoamento de esgoto. Entretanto, é primordial que se entenda como o banheiro seco funciona, como executá-lo, utilizá-lo e mantê-lo, pois quando mal manuseado pode representar risco de doenças à população. TFG

I

|

RENATA

ALVES


55

Trata-se ainda de uma tecnologia que não interfere no ciclo natural de nutrientes, pois é adotada a compostagem como forma de tratamento deste material fecal. Portanto, como não há mistura de água com os dejetos, não existe geração de esgoto doméstico, evitando possíveis doenças relacionadas a ela, assim como a possível contaminação de mananciais hídricos pela má disposição desse esgoto. (AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013)

Do ponto de vista da sustentabilidade, o banheiro seco é uma maravilhosa alternativa de saneamento, pelo fato de que não utilizar água para levar os dejetos, economizando, em média, 10 litros de água por descarga. Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP (2010) apud Amatuzi, Botega e Celante (2013), uma bacia sanitária com válvula de pressão e tempo de acionamento de 6 segundos gasta a média de 12 a 16 litros de água. Já bacias sanitárias por acionamento e com válvulas acopladas (fabricadas a partir de 2001), necessitam um tempo de acionamento 50% menor para efetuar a limpeza, neste caso pode-se chegar a volumes de 6 litros por descarga. Entretanto, se a válvula estiver defeituosa ou desregulada, pode-se chegar a gastar 30 litros de água por descarga. Dentre os modelos conhecidos de banheiro seco destacam-se: • Banheiro de recipientes móveis – Composto por um compartimento móvel (como barril ou semelhante) localizado abaixo do assento sanitário, designado a receber a excreta. Após completo o volume útil do compartimento fecal, este é substituído por outro semelhante e carregado para um local adequado de modo a ser esvaziado. Muitos são compostos por sistemas de ventilação, a fim de prevenir odores desagradáveis. (AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013) (Figura 52) • Banheiro com sistema carrossel - O sistema carrossel de banheiro seco, desenvolvido por EcoTech (Ecological Engineering Group) utiliza o processo biológico da compostagem rápida decomposição aeróbia por micro-organismos do ar e calor para quebrar resíduos orgânicos. A velocidade do carrossel de compostagem superior e a eficiência são o resultado de seu design patenteado, que possui quatro câmaras de compostagem rotativas. (AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013) (Figura 53)

Figura 52: Banheiro de recipientes móveis. Fon-

te: Basic overview of composting toilets (with or without urine diversion, GTZ 2010

Figura 53: Vaso sanitário e compartimento com as câmaras de compostagem. Fonte: Eco-

logical-engineering 2008

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


56 • Banheiros Compostáveis com duas câmaras - Também conhecido por fossa seca, sanitário seco e “composting toilet”. O modelo fecha o ciclo de nutrientes, transformando as fezes humanas em composto orgânico seguro, sem problemas com odores e sem contaminação do solo e da água (SETELOMBAS, 2006 apud AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013). Este modelo caracteriza-se pelo posicionamento dos vasos sanitários acima das câmaras de compostagem e, entre o assento sanitário e a câmara, existe uma rampa por onde descem os dejetos. Como detalhe construtivo deve-se observar o posicionamento das câmaras que, para o hemisfério Sul, deve ser voltado para a face Norte, a fim de receber maior irradiação solar, favorecendo o aquecimento da câmara. (SÁ, 2011 apud AMATUZI; BOTEGA; CELANTE, 2013). (Figuras 54 e 55)

Figura 54: Banheiro compostável com duas câmaras. Fonte: Setelombas 2006

Figura 55: Banheiro seco. Fonte: IPEC

• Modelo Bason - O modelo Bason de banheiro seco foi criado pelo holandês Johan van Lengen, que diz que os dejetos humanos (excrementos e urina) podem ser misturados ao lixo da cozinha (cascas, papel) e converter-se lentamente em adubo, em forma de terra preta (LENGEN, 2004). Lengen (2004) recomenda ainda que para facilitar a decomposição inicial deve-se colocar no piso, antes de selar as tampas dos recipientes, uma camada de 30cm de folhas secas, cinzas ou serragem (Figura 56). Figura 56: Esquema do modelo Bason. Adaptado de Lengen 2004

TFG

I

|

RENATA

Fonte:

ALVES


57

Como recomendações para o melhor uso do banheiro seco encontra-se a separação da urina com as fezes. De acordo com Kvarnström et al (2006) apud Amatuzi, Botega e Celante (2013), a separação de urina como uma tecnologia de saneamento é importante para a melhoria das instalações de saneamento seco reduzindo odores e facilitando a manutenção do sistema, além de contribuir para melhorar a saúde sendo uma maneira mais fácil e higiênica de manusear as fezes, reduzindo o risco de contaminação das águas subterrâneas com patógenos.

WETLANDS Trata-se de uma tecnologia de tratamento de águas e efluentes por mecanismos naturais, de elevada eficiência, simplicidade construtiva e operacional, além de uma beleza estética e paisagística. Sua principal característica é a utilização de vegetação aquática, permitindo o aumento de sua eficiência e a construção de um espaço atraente, participando do paisagismo do ambiente. (WETLANDS, 2017) Nos wetlands construídos a principal característica que resulta em redução de custos é a sua operação, manutenção e longevidade. Como não há a necessidade de aeradores, como em uma lagoa aerada ou lodos ativados, não há o consumo de energia elétrica para o funcionamento do sistema. (...) A manutenção do sistema é bastante simples, bastando um funcionário para abertura e fechamento de válvulas/comportas e inspeção rotineira com eventuais correções. Também é possível automatizar alguns itens do sistema. (WETLANDS, 2017)

Segundo o site da empresa WETLAND Construídos, as plantas são o elemento mais notável nos sistemas, sendo elas as responsáveis destes terem se tornado tão atraentes. Na literatura científica internacional há incontáveis pesquisas que mostram a importância da vegetação nos sistemas (Figura 57). • Aumentam a área de filtragem; • Aumentam a superfície de contato na subsuperfície; • Estabilizam o meio suporte; • Liberam oxigênio e elevam o potencial redox; • Aumentam a diversidade, densidade e atividade biológica; • Absorvem nutrientes e elementos-traço a certo limite; • Liberam exsudatos radiculares importantes para as reações; • Aumentam a condutividade hidráulica no meio suporte; • Reduzem o processo de colmatação; Figura 57: Evapotranspiração. Fonte: wetlands. com.br

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


58 • • ​

Representam beleza estética e paisagística; Atraem biodiversidade criando um sistema ambientalmente rico.

Há que se considerar, porém, que apesar dos serviços ambientais e de favorecer e potencializar os processos de remoção de nutrientes, a vegetação tem apenas uma parcela de contribuição no tratamento dos efluentes. A biomassa (fungos, bactérias e vírus) aderidas ao meio suporte, bem como os fenômenos físicos químicos particulares ao sistema, são os principais responsáveis por tratar as águas residuárias. (WETLANDS, 2007)

A empresa Wetlands Construídos, que possúi mais de 3500 sistemas operantes, apresenta quatro modelos básicos do sistema, que se adaptam de acordo com as características locais, o tipo de resíduo a ser tratado e a disponibilidade de espaço. VERTICAL Este modelo alcança eficiências superiores a 80% de remoção de resíduos, devido ao ambiente aeróbio criado pelas condições não saturadas do meio suporte e o regime de alimentação. ​ A zona de raízes das plantas aumenta a diversidade de microrganismos no leito e ainda aumenta a eficiência para filtragem e absorção de nutrientes. São mais eficiêntes na remoção de amônia (NH4+), conseguindo lidar com maior demanda de oxigênio em uma área mais compacta (Figura 58).

Figura 58: Sistema Wetland vertical. Fonte: wetlands.

com.br

HORIZONTAL No sistema horintal o leito permanece constantemente alagado e pela presença da vegetação, o que leva à criação de um ambiente ecologicamente complexo abaixo da superfície, permitindo a ocorrência simultânea de vários mecanismos de tratamento. Estes sistemas são ideais para a remoção de sólidos suspensos, e seu padrão de tratamento atingido possibilita que a água tenha potencial para o reuso (Figura 59). TFG

I

|

RENATA

ALVES

Figura 59: Sistema Wetland horizontal. wetlands.com.br

Fonte:


59

SUPERFICIAL Este é o único modelo em que é possível ver a água na superfície. São sistemas que recriam um ecossistema aquático e incorporam uma diversidade de plantas aquáticas, tornando o sistema altamente atrativo, e também pode ser usado com armazenamento de água para reuso (Figura 60).

Figura 60: Sistema Wetland superficial.

Fonte:

Figura 61: Sistema Wetland para lodo.

Fonte:

wetlands.com.br

PARA LODO O objetivo é reter os sólidos e permitir seu desaguamento e estabilização. O tanque possui borda livre com altura suficiente para acúmulo de lodo durante um ciclo de operação de aproximadamente 10 anos.​ Diferentemente de instalações mecanizadas para desaguamento de lodos, nenhum produto químico é necessário para o processo. Não há ruído, vibração ou odor e o lodo é mineralizado a um elevado nível (Figura 61).

wetlands.com.br

O sistema de Wetlands também é conhecido como Jardim Filtrante, possuindo o mesmo objetivo de reproduzir os sistemas de áras alagadas naturais, como pântanos e mangues, de modo a produzir o tratamento de águas cinzas provenientes do uso doméstico, e podem ser construídos de maneira caseira, sem necessariamente o estabelecimento de um contrato com uma empresa, como são os casos apresentados anteriormente (Figura 62).

Figura 62: Jardim filtrante. Fonte: Embrapa, 2013.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


60 CIRCULO DE BANANEIRAS Segundo Ecocentro IPEC (2017), a Fossa de Bananeiras (Canteiro Bio-séptico) foi desenvolvida no Ecocentro IPEC em 1999, e foi certificada como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil e Prêmio de Inovação tecnológica pela FINEP-MCT. Hoje existem milhares em funcionamento no Brasil e no exterior, comprovando viabilidade desta alternativa de saneamento ecológico. Trata-se de um sistema completo, que associa a digestão anaeróbica (sem presença de oxigênio) a um canteiro séptico que digere toda a matéria orgânica na zona de raízes das plantas, produzindo biomassa viva, inclusive frutos. O sistema que utiliza fossa séptica com círculo de bananeiras funciona com o despejo do efluente proveniente da fossa séptica em uma vala circular com britas ao fundo, coberto por gravetos e restos de vegetais (dois metros de diâmetro e um metro de profundidade), rodeado de bananeiras espaçadas de 60cm (Figura 63). As bananeiras se adaptam a solos úmidos e ricos em matéria orgânica. Entre as bananeiras podem ser plantados lírios e mamoeiros para ajudar no tratamento e reuso do efluente. Sua principal manutenção é a colheita dos frutos e evitar crescimento excessivo de vegetação no local, além da reposição da matéria orgânica da fossa, que vai diminuindo de volume com o passar do tempo (BRASIL, 2014).

Figura 63: Esquema do círculo de bananeiras. Fonte: Ministério da Saúde, 2014. TFG

I

|

RENATA

ALVES


61

• • • • •

As principais vantagens do cículo de bananeiras são: (LEAL, 2016) Promove a recarga do lençol freático; Diminui o consumo de água tratada para a irrigação; Mantém os nutrientes no local; Promove o crescimento da vegetação local; Diminui o volume de esgoto e consequentemente o impacto em fossas.

O Ecocentro IPEC (2017), recomenda que, quando o lençol freático é profundo (mais de 2m), o sistema pode ser construído numa vala escavada. Entrtanto, nas situações em que o lençol se encontra a menos de 2m, o ideal é construir um canteiro acima do nível do solo e, neste caso, a construção pode significar que a altura da instalação hidráulica da casa necessite ser modificada.

Figura 64: Da esquerda para a direita, círculo de bananeiraas em construção, e depois de finalizado. EMATER, 2016.

Fonte:

2.2 Experiências Brasileiras Recentes Quando se trata de experiências com a bioconstrução é possível dizer que a maioria, senão todos, dos casos está associada à experiência de outros conceitos, especialmente a permacultura. Há atualmente no Brasil várias comunidades, institutos, centros e coletivos de pessoas e ecovilas que fazem o trabalho de construção sustentável e a disseminação de suas técnicas através de cursos e vivências. Estes grupos estão, normalmente, unidos por uma ideologia de vida em comum, que preza pelo bem-estar de toda a flora e fauna, e a convivência harmônica do ser humano com a natureza. Tal ideologia é bem expressa pelo conceito de Permacultura (a ser apresentado no próximo capítulo), de modo que relatar a experiência nacional em bioconstrução também significa falar da rede de permacultores que se instalou no país. Segundo Yvy Porã (2017), em 1992, aconteceu no Rio Grande do Sul o primeiro

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


62 curso de permacultura no Brasil, ministrado por Bill Mollison, autor de Permacultura Um. No decorrer do curso se formaram vários permacultores, estimulados a multiplicar a permacultura no Brasil e no mundo. Estes permacultores foram os responsáveis pela criação dos primeiros centros e institutos do país, além de contribuírem para a articulação de uma futura rede nacional de permacultores. Dentre eles destacam-se Cláudio Sanchotene (fundador do IPERS – primeiro Instituto do Brasil), Masha Hansi (IPB e depois Epicentro Marizá), Marcos Abrão Cardoso (livraria e editora Via Sapiens) e Alano (sítio Pé na Terra- RS). A partir de então, os centros de permacultores e bioconstrutores se multiplicaram e se organizaram, movimentando grande quantidade de informações através de cartilhas, apostilas e manuais, compartilhados em sua maioria através da internet, chegando até mesmo a publicar uma revista intitulada Permacultura Brasil que editou 16 números, e teve como editores Fernando Soares (números 1 a 6) e posteriormente Nina Rodrigues e Sérgio Pamplona (números 7 a 16). Os profissionais que atuam hoje, em geral, são pessoas que aprenderam fazendo, praticando e experimentado. Eles têm uma bagagem considerável de conhecimento que deve ser aproveitado para planejar as formas de formação e capacitação de novos profissionais. A Rede Ibero-americana PROTERRA, 2011 faz um grande esforço para reunir e integrar especialistas de diversas áreas de atuação, trocar e divulgar conhecimentos. Através de eventos – seminários, congressos, oficinas – de publicações e outras ações, a Rede ibero-americana PROTERRA, 2011 busca disseminar a arquitetura e construção com terra e encontrar formas adequadas de capacitação para uma razoável quantidade de pessoas interessadas, em todos os países ibero-americanos. (NEVES, 2011)

Segundo um levantamento atualizado pela última vez em 2012, disponível pela Rede Permear, existem os seguintes grupos que desenvolvem a permacultura no Brasil: INSTITUTOS: • Ecocentro IPEC - Pirenópolis GO • IPB - Salvador BA • IPEMA - Ubatuba SP • IPERS - Porto Alegre RS • IPETERRAS - Irecê BA • IPOEMA - Brasília DF • OPA - Salvador BA • IPC - Fortaleza CE • Ecovida S. Miguel - Moeda MG

TFG

I

|

RENATA

ALVES

GRUPOS/REDES: • Autonomia (SC) • Coletivo Permacultores (SC) • GEPEC (DF) • Permacultura na Escola (SC) • Rede Permanece (CE) • Rede Permear • UESC-Ilhéus (BA) MÍDIAS: • Livraria Tapioca • Loja Verde • TV Permacultura • Livraria Via Sapiens


63

COMUNIDADES/SÍTIOS/CASAS: • Ajubaí (SC) • Arca Verde (RS) • Asa Branca (DF) • Bambu-a-pique • Casa Colméia (SC) • Casa da Montanha (SC) • Chácara Boa Vista (PR) • Curupira (SC) • Ecopalha (SC) • Gralha Azul (SP) • Kilombo Tenondé (BA) • Mangará (BA)

• • • • • • • • • • • • •

Marizá (BA) Morada da Floresta (SP) Morada Natural (MG) Moradia Ecológica (SP) Raízes (SC) Sete Eco’s (MG) SeteLombas (SC) São Francisco (SP) Terra Una (MG) Tibá (RJ) Vagalume (SC) Vida de Clara Luz (SP) Vila Nova do Alagamar (CE)

Dentre estes, destacam-se o Ecocentro IPEC e a comunidade TIBÁ, que apresentam um funcionamento e um processo construtivo bastante similar ao que se busca estabelecer no presente projeto para a Fazenda Canto do Urutau, e serão melhor apresentados a seguir.

ECOCENTRO IPEC Segundo o site oficial, o IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) é uma organização não governamental sem fins lucrativos que tem seu escritório no Ecocentro, localizado na cidade de Pirenópolis, Goiás. O IPEC foi fundado em 1998 com a finalidade de estabelecer soluções apropriadas para problemas na sociedade, promover a viabilidade de uma cultura sustentável, oportunizar experiências educativas e disseminar modelos no cerrado e no Brasil (Figura 65). Sua construção foi iniciada em 1999, pelo permaFigura 65: Ecocentro IPEC. Fonte: cultor André Soares e a pedagoga e escritora Lucy Legan, IPEC que já ministravam cursos de permacultura em todas as regiões do país e no exterior, e tinha como objetivo demonstrar a viabilidade dos princípios da permacultura e da bioconstrução. Com a missão de promover valores verdadeiros e proporcionar experiências educativas práticas, o Ecocentro IPEC tornou-se uma referência em permacultura e bioconstrução no Brasil. O local encontra-se em constante modificação, implementando uma infraestrutura para uma escola de estudos sustentáveis e desenvolvimento de tecnologias e soluções apropriadas para a realidade atual (Figura 66).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


64

Figura 66: Instalações e vivências do Ecocentro IPEC. Fonte: IPEC TFG

I

|

RENATA

ALVES


65

TIBÁ Segundo o site oficial, o TIBÁ – Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura – é um lugar de encontros, criado em 1987 por Rose e Johan van Lengen (autor de Manual do Arquiteto Descalço) (Figura 68), em Bom Jardim, Rio de Janeiro, voltado para a realização de uma consciência ambiental mais plena (Figura 67). A comunidade oferece oficinas de trabalhos dirigidas a todos os interessados em aprender e aperfeiçoar técnicas de Bioarquitetura e Agrofloresta, pesquisando e desenvolvendo novas e tradicionais técnicas, a fim de demonstrar não apenas um modo de vida saudável, mas também uma manifestação proje O TIBÁ se dispõe, em toda sua extensão, de programas de atendimento a comunidades, organizações e ecovilas. Mantém ainda convênios e intercâmbios com instituições, grupos e pessoas direcionadas para os mesmos fins. No idioma tupi, tibá quer dizer LUGAR ONDE MUITAS PESSOAS SE ENCONTRAM. (Figura 69)

Figura 67: TIBÁ. Fonte: TIBA

Figura 68: Johan Van Lengen. Fonte: TIBA

Figura 69: Espaço e vivências no TIBÁ. Fonte: TIBA

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


3. A PERMACULTURA

TFG

I

|

RENATA

ALVES


67

O conceito de Permacultura foi criado por Bill Mollison e David Holmgren, no final da década de 70, na Austrália. Naquele momento, a base era a agricultura, uma agricultura permanente. Entretanto, com uma certa “humanização” do tema, parte da definição passou a ser de “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, deslocando-se de agricultura para cultura permanente. (HENDERSON, 2012) Permacultura é uma palavra que cunhamos para um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes ou auto-perpetuantes úteis ao homem. Em essência, é um ecossistema agrícola completo, modelado sobre exemplos existentes, porém mais simples. Idealizamos o sistema, como é apresentado aqui, para condições de clima temperado; usando outras espécies e em número diferentes, adequar-se-ia a qualquer faixa climática, destinando-se também a se adaptar a situações urbanas. (MOLLISON; HOLMGREN, 1983)

Em 2007, Holmgren compilou os princípios da permacultura no símbolo conhecido como Flor da Permacultura (Figura 70). Juntamente com a Flor, definiu-se 3 princípios éticos e 12 princípios de design permacultura (Figuras 71 e 72). Tais princípios têm sido levados como fundamentos de comunidades e institutos de permacultura e bioconstrução por todo o mundo. Uma definição mais atual da permacultura, que reflete a expansão do foco implícito em Permaculture One, é “paisagens conscientemente planejadas que imitam os padrões e as relações encontrados na natureza, enquanto produzem uma abundância de alimento, fibra e energia para prover as necessidades locais”. As pessoas, suas construções e os modos como elas se organizam são centrais para a permacultura. Assim, a concepção de permacultura como agricultura permanente (sustentável) evoluiu para uma de cultura permanente (sustentável). (HOLMGREN, 2013)

Figura 71: Princípios da permacultura.

permacultureprinciples.com

Fonte:

Figura 70: A flor da permacultura. Fonte: permacultureprinciples.com

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


68 O Design da permacultura baseia-se em zonas concêntricas que organizam cada atividade necessária para a manutenção de todo o sistema. As zonas são planejadas de acordo com a demanda de manejo, de modo que os elementos que necessitam ser visitados com uma frequência maior são posicionados mais próximos à casa, que ocupa a zona central, denominada Zona Zero (Figura 73). Zonas de permacultura são áreas mais ou menos concêntricas de intensidade de uso, que descrevem o poder e a eficiência das pessoas que trabalham a partir do ponto focal (uma morada). Quanto mais próximo do centro, mais eficiente e intensivo o nosso uso da terra; quanto mais longe estivermos, mais devemos depender de elementos autossustentáveis que requerem pouco insumo de nós e, geralmente, produzem menos para nós. (HOLMGREN, 2013)

Figura 72: 3 princípios éticos e 12 princípios de design da permacultura. Fonte: permaculture-

principles.com

Figura 73: Zonas de permacultura.

Fonte: http:// lovelygreens.com/2012/08/learning-about-permaculture-zones.html

TFG

I

|

RENATA

ALVES


69

Segundo Mollison (1983), as zonas se definem como:

• A Zona Zero é o centro da atividade (casa, galpão, ou vila, se o projeto for em grande escala). A zona é planejada para a conservação de energia e para ajustar-se às necessidades de seus ocupantes; • A Zona I está perto da casa, é a mais controlada e intensivamente utilizada, podendo conter o jardim, oficinas, estufas, e viveiros de propagação, hortas, pequenos animais (coelhos, porcos da índia), combustíveis para casa (gás, madeira, composto), compostagem e área para secagem de grãos; • A Zona II ainda é mantida intensivamente, com plantio denso (arbustos maiores, pomares mistos e de que pequenas frutas, quebra-ventos) podendo incluir terraços, sebes, grades e tanques. Espécies de plantas e animais que requeiram observação e cuidados são localizados nesta zona, e a água é reticulada (irrigação por gotejamento); • A Zona III contém pomares não podados e sem composto, pastagem maiores para animais ou para manter a plantação principal. A água é disponível apenas para algumas plantas, embora haja bebedouros para animais; • A Zona IV é semi-selvagem, utilizada para a coleta de alimentos resistentes, possuindo arvores não podadas e manejo de vida selvagem e floresta; • A Zona V compõe os sistemas não manejados, selvagens. A Zona V tem a finalidade de observação e aprendizado. O Canteiro Aberto Canto do Urutau, objetivo final deste trabalho, deverá obedecer aos princípios da Permacultura apresentados, valendo-se do design permacultural para criar um ambiente sustentável e forte, atendendo às necessidades locais e estabelecendo uma base de exemplo para futuras ocupações com o mesmo objetivo de uma existência mais saudável para com o planeta, espera-se.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


4. A AGROFLORESTA

TFG

I

|

RENATA

ALVES


71

Especialmente nos últimos 60 anos, ao redor de todo o mundo, as árvores, os animais e as famílias camponesas, vêm sendo expulsos do campo, juntamente com todo o seu conhecimento sobre a natureza. Em substituição tem-se configurado um ambiente fabricado artificialmente para produzir alimentos, ao mesmo tempo em que se concentra dinheiro, terra e poder em um número muito pequeno de empresas. A responsabilidade deste movimento é o resultado de políticas públicas ditadas pelo interesse de grandes empresas transnacionais. (COOPERAFLORESTA, 2016) Desta maneira, a atividade rural tornou-se apenas o elo de uma cadeia industrial que envolve desde mineração, indústrias de equipamentos pesados, irrigação, combustíveis, adubos, sementes geneticamente manipuladas, plásticos, transporte, embalagens, propaganda, alimentos altamente tóxicos para a saúde humana e lojas sofisticadas para vendê-los. (COOPERAFLORESTA, 2016)

Como contrapartida apresenta-se a agricultura familiar. No Brasil, a agricultura familiar exerce um importante papel como principal fonte de abastecimento de alimentos do mercado interno. Entretanto, mesmo representando uma significativa parcela da produção nacional, os agricultores familiares ainda carecem de sistemas de produção apropriados à sua capacidade de investimento, ao tamanho de suas propriedades rurais e ao tipo de mão-de-obra empregada. (ARMANDO et al., 2002) Neste contexto constitui-se o conceito de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Em uma definição ampla, trata-se de combinações do elemento arbóreo com herbáceas e/ou animais, organizados no espaço e/ou no tempo. (STEENBOCK; VEZZANI, 2013) (Figura 74) A legislação brasileira, em diferentes instrumentos legais (Brasil, 2009; Brasil, 2011), tem definido sistemas agroflorestais como “sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes são manejadas em associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, forrageiras em uma mesma unidade de manejo, de acordo com arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e interações entre estes componentes”. (STEENBOCK; VEZZANI, 2013)

Segundo May et al. (2008), no Brasil, a prática de Sistemas Agroflorestais (SAFs) está presente entre as populações indígenas muito tempo antes da “descoberta” do país, ou mesmo do próprio continente. Atualmente, após a chamada Revolução Verde ter declarado guerra a todos os sistemas de produção antigos, os SAFs biodiversificados vêm ganhando notoriedade, sobretudo por meio de ações em rede. Existem diversos modelos de SAFs, mas, apesar de suas diferenças, estes podem ser caracterizados, a grosso modo, como consórcios entre árvores e culturas agrícolas. Os consórcios funcionam de modo a combinar alta diversidade de espécies em ocupação vertical de diversos estratos. É relevante destacar, nestes sistemas, o cuidado com o manejo da luminosidade, da produtividade primária, da sucessão natural, da reciclagem de nutrientes e das relações ecológicas. (STEENBOCK; VEZZANI, 2013)

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


72

Figura 74: Exemplo de sistema agroflorestal (SAF). Fonte: Circular Técnica 2002

Neste cenário, muitos pesquisadores têm registrado bons resultados em fazendas onde são cultivados diversos alimentos, no sistema agroflorestal. Dentre eles destaca-se Ernst Götsch, um agricultor e pesquisador suíço, criador do conjunto de princípios e técnicas que compõem a Agricultura Sintrópica. Com mais de 40 anos de experiência e realizações, ele foi capaz de desenvolver uma agricultura que concilia produção agrícola e recuperação de áreas degradadas, baseada em processos que mimetizam a regeneração natural e os processos sintrópicos da vida no planeta. (AGENDA GOTSCH, 2016) Em 1982, Ernst vem para o Brasil e inicia o trabalho de recuperação da terra degradada na Fazenda Fugidos da Terra Seca, na Bahia, onde recupera 410 hectares de floresta, além de 14 nascentes, o que levou a renomeação do local para Fazenda Olhos D’Água. A Agricultura Sintrópica trabalha com a recuperação pelo uso. Ou seja, o estabelecimento de áreas altamente produtivas e independentes de insumos externos tem como consequência a oferta de serviços ecossistêmicos, com especial destaque para a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo da água. (AGENDA GOTSCH, 2016)

Dentre os diversos cuidados que este tipo de sistema necessita em seu manejo, talvez o principal deles seja a poda das árvores, a fim de criar substrato para a cobertura do solo (Figura 75).

TFG

I

|

RENATA

ALVES


73

No projeto a ser apresentado para o Canteiro Aberto Canto do Urutau pretende-se combinar o sistema de Agricultura Sintrópica aos princípios de Design Permacultural, enquadrando-o nas Zonas III e IV já citadas anteriormente.

Figura 75: Sistema agroflorestal biodiverso ao longo dos anos. Fonte: httpwww.agrofloresta.neteducacao-agroflo-

restalsistema-agroflorestal-sucessional-biodiversogravuras-agroflorestais

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


5. REFERÊNCIAS PROJETUAIS

TFG

I

|

RENATA

ALVES


75 GREEN SCHOOL Considerada a escola mais verde do mundo, a Green School foi projetada pelo canadense John Hardy e sua esposa, a americana Arquitetos: PT Bambu Cynthia Hardy. Idealizado em 2006, o projeto Ano: 2007 só começou a funcionar oficialmente em seÁrea construída: 7542 m² tembro de 2008, com 100 alunos. (NUNES, Endereço: Badung Bali Indonésia 2015) Tipo de projeto: Educacional Apresentando-se como um grande laStatus: Construído boratório estendido entre os dois lados do Rio Características Especiais: Ecológico Ayung, em Sibang Kaja, Bali, a escola contexMaterialidade: Madeira tualiza-se em um ambiente de selva exuberanEstrutura: Madeira te, com plantas nativas e árvores que crescem Localização: Badung, Bali, Indonésia em torno de jardins naturais (Figura 76). O campus se desenvolve potencializado por fontes de energia alternativas, geradas a partir de serragem do próprio bambu que auxilia no aquecimento da água utilizada na cozinha. Além disso, conta com a ajuda de painéis solares e da energia provinda da água, através de uma espécie de moinho. (BORTOLUZZI,2017) Ficha técnica: (BORTOLUZZI, 2017)

Figura 76: Green School. Fonte: http://sustentarqui.com.br/construcao/green-school-escola-construida-em-bambu-em-bali/

O bambu, abundante na ilha da Indonésia, é o principal material usado na construção dos 75 edifícios da escola. Em formato de espiral, toda a água é reciclada, os jardins são na verdade, hortas, algumas partes em barro, justamente para as crianças brincarem e há animais soltos fáceis de serem encontrados nos 9 hectares de área. (NUNES, 2015)

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


76 O pragrama do complexo inclui salas de aula, academia, espaços de assembleia, habitação para os estudantes, oficinas, cafeterias e banheiros, localizados em espaços com diversas qualidades em relação a sua organização. O projeto também conta com o cultivo sustentável de bambu para seu uso e estudo dentro da arquitetura, de modo a trabalhar na tentativa de inovar e experimentar métodos a serem passados adiante, formando alunos inspirados e engajados em relação às questões que envolvem o meio ambiente. (BORTOLUZZI,2017) (Figuras 77 e 78) A Green School foi uma das finalistas do 11º ciclo do Aga Khan Award for Architecture 2010 (AKAA), evento que incentiva formas de arquitetura que atendem as necessidades de comunidades e que melhorem a qualidade de vida das pessoas. (REDAÇÃO ECOD, 2010)

Figura 77: Planta - coração da escola. Fonte: http://www. archdaily.com.br/br/01-51359/escola-verde-pt-bambu Figura 78: Campus Green School. Fonte: http://www.archdaily. com.br/br/01-51359/escola-verde-pt-bambu; http://sustentarqui.com. br/construcao/green-school-escola-construida-em-bambu-em-bali/; http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/escola-verde-a-escola-de-bambu-da-indonesia TFG

I

|

RENATA

ALVES


77

Algumas das características interessantes da Green School: (NUNES, 2015)

• Os edifícios e mobiliários são feitos em bambu; • As crianças são ensinadas a criar animais como: galinhas, porcos e cabras; • Plantações para as crianças aprenderem a se alimentar com os produtos que plantaram; • Artes marciais locais; • Edifícios são ligados por caminhos de pedra; • Piscina natural com uma pequena cascata para o rio; • 80% de energia renovável; • A lousa é feita de bambu, pintada com tinta apropriada para quadro negro; • Sacos de lixo são de tecidos; • Banheiros secos; • Refeições servidas sobre folhas de bananeira; • Resto de alimentos, vão para os animais. Figura 78: Campus Green School.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


78 ONE WITH THE BIRDS Desenvolvido com um projeto con Projeto para concurso AIM Leceito, feito de varas de bambu, projetado gend of the Tent, na China. Competição para levar os hóspedes mais perto da natupropunha projetar um hotel-tenda com reza. O conceito é de um hotel portátil que baixo impacto ambiental. pode ser movido e ampliado com facilidade (Figura 79). Criado pelo escritório Penda - co Com a possibilidade de ser uma letivo de design com sede em Viena e casa, hotel, ou um local de descanso, o esPequim. quema tem como objetivo fornecer uma alternativa mais confortável capaz de proporcionar uma experiência diferenciada para os amantes da floresta, permitindo a exploração tridimensional da paisagem, bem como vistas acima das copas das árvores. (RANGEL, 2014)

A estrutura poderia crescer tão alto quanto as árvores. Ligados à verticalidade das árvores, podemos experimentar uma floresta a partir da perspectiva de uma criança subindo em uma árvore, entre as copas das árvores, com os pássaros. (CHRIS PRECHT apud RANGEL 2014)

O projeto baseia-se no conceito de uma estrutura de bambu flexível que pode ser facilmente expandida horizontalmente e verticalmente, inspirada nas construções dos nativos americanos, construídas com juntas em forma de X . O material foi escolhido por sua flexibilidade e disponibilidade na China. (RANGEL, 2014)

Figura 79: One With the Birds. Fonte: http://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-em-bambu-modular/ TFG

I

|

RENATA

ALVES


79

O espaço de cada módulo é de 4,7m na horizontal e 4m na vertical. A estrutura é levantada acima do chão, de modo a permitir que as alterações dos níveis possam ser facilmente ajustadas. As juntas apresentam amarração com corda, ao invés de fixação com pregos, mantendo intacto o bambu possibilitando ser desmontado e reutilizado em outros projetos. (RANGEL, 2014) (Figura 80) Segundo Precht, do escritório Penda, apud Rangel (2014), o foco foi a criação de uma estrutura que não deixasse nenhum impacto sobre o local, nem qualquer dano no próprio bambu, depois que é desconstruída. Os materiais podem ser reutilizados como andaime, em um canteiro de obras ou reutilizados como outro hotel temporário em uma localização diferente.

Figura 80: Maquete e esquemas de modulação e amarração do projeto. Fonte: http://sustentarqui.com.br/construcao/

projeto-em-bambu-modular/

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


80 METI - HANDMADE SCHOOL Com o contexto de uma população rural praticamente desassistida, em Bangladesh, esta escola vem como resposta a um desafio não somente educacional, mas de qualidade e qualificação para os moradores locais (Figura 81). Apropriando-se do conceito da escola METI - Modern Education and Training Institute (Educação Moderna e Instituto de Formação), onde a aprendizagem é feita de forma que os professores incentivam os alunos a usarem seus talentos de maneira criativa e responsável, a fim de melhorar e desenvolver o seu ambiente rural, o edifício foi construído com técnicas da arquitetura vernacular, valendo-se principalmente do barro e do bambu para o desenvolvimento da estrutura. (ARCHDAILY, 2010)

Ficha técnica: (ARCHDAILY, 2010) Arquitetos: Anna Heringer , Eike Roswag Localização: Rudrapur, distrito de Dinajpur, Bangladesh Engenharia estrutural: Ziegert Roswag Seiler Architekten Ingenieure Bürogemeinschaf Construção: Dipshikha / METI (Instituto de Educação Moderna e Trainig) com trabalhadores locais e própria oficina de treinamento Área construída: 325m² Ano do projeto: 2007

Figura 81: METI - Handmade School. Fonte: http://www.archdaily.com/51664/handmade-school-anna-heringer-eike-roswag

O edifício repousa sobre uma base de alvenaria de tijolos de 50 cm de profundidade, composta por um gesso revestido de cimento. O piso térreo apresenta paredes auto-portantes de COB. Uma mistura de palha de arroz e terra molhada foi fabricada e depois empilhados em cima da parede da fundação até uma altura de 65cm por camada. O excesso de material que se estende além da larguTFG

I

|

RENATA

ALVES


81

ra da parede é cortado usando pás afiadas após alguns dias. As janelas foram ​​moldadas com uma argamassa de cal e as grades feitas com bambu. As paredes espessas com acabamento natural em terra, garantem uma temperatura confortável para o edifício. A iluminação e a ventilação natural, podem ser reguladas através de cortinas. (ARCHDAILY, 2010) (Figura 82)

Figura 82: Salas de aula piso inferior e superior, da esquerda para a direita. Fonte: http://www.archdaily.com/51664/ handmade-school-anna-heringer-eike-roswag

A laje do piso superior foi feita com três camadas de bambu, dispostas perpendicularmente uma à outra, preenchidas com barro e palha, assim como a superfície do chão do piso térreo. As paredes foram construídas em armação de bambu. A cobertura de zinco é sustentada por vigas e estruturas de bambu dispostas na vertical e diagonal. (ARCHDAILY, 2010) Os arquitetos valeram-se do método construtivo de COB, criando na parede posterior “cavernas” onde as crianças podem brincar ou ler protegidas do sol excessivo (Figuras 83 a 85).

Figura 83: “Cavernas” nas paredes posteriores. Fonte: http://www.archdaily.com/51664/handmade-school-anna-heringer-eike-roswag

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


82

Figura 84: Da esqerda para a direita, de cima para baixo: planta pav. inferior; planta pav. superior; corte transversal; implantação; elevação norte; elevação sul; elevação leste; elevação oeste. Fonte: The Museum

Of Modern Art 2009

TFG

I

|

RENATA

ALVES


83

Figura 85: METI - Handmade School. Fonte: http://www.archdaily.com/51664/handmade-school-anna-heringer-eike-roswag; http://sustentarqui.com.br/construcao/arquitetura-vernacular-e-aplicada-em-escola-de-bangladesh/

Em 2007, a METI School ganhou o Prémio Aga Khan de Arquitetura. O evento acontece a cada três anos, onde seleciona os projetos que estabelecem novos padrões de excelência em arquitetura como práticas de planejamento, preservação histórica e paisagismo. O Prêmio visa identificar e encorajar conceitos de construções que abordam com sucesso as necessidades e aspirações das sociedades em todo o mundo. (NUNES, 2016)

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


6. O LUGAR

TFG

I

|

RENATA

ALVES


85 6.1 Fazenda Canto do Urutau A Fazenda Canto do Urutau, localizada no Bairro da Cascata, município de Águas da Prata – SP, é hoje resultado de um histórico de transações e contratos de mineração e arrendamentos. Trata-se apenas de uma pequena fração de uma área que foi negociada no início do século XX para que se houvesse extração mineral, de modo que todo o território de seu entorno foi altamente degradado por anos de exploração.

6.1.1 Histórico Em 16 de março de 1903 Honório Luís Dias assina uma divisão amigável com outros interessados referente ao imóvel denominado Fazenda dos Quirinos e Serrote, de modo que Honório fica com uma área total de 408,8215 hectares. Tal registro, realizado no Cartório do 1º Ofício de Caldas – MG, é até mesmo anterior ao Código Civil brasileiro e, portanto, não apresenta número de matrícula. Em 22 de dezembro de 1915, Honório e sua esposa Marianna de Oliveira Dias fazem uma doação Causa-Mortis desta fazenda para seus netos e sucessores. Sete anos mais tarde, no dia 14 de dezembro de 1922, morre Honório Luís Dias em Poços de Caldas – MG. Já no ano de 1930, no dia 26 de setembro, é estabelecido um contrato de arrendamento da fazenda para a Cia Bygton, permitindo a mineração de Zircônio no local, com a validade de 99 anos. Tal contrato foi, por conveniência, assinado pelos tutores legais dos herdeiros ainda menores de idade. Com o passar dos anos mudanças no destino da Cia acarretaram em algumas sucessões e transferências deste contrato, de modo que hoje a Votorantim Metais (antiga CBA – Companhia Brasileira de Alumínio) detém o arrendamento até o seu término, em setembro de 2029. Além do Zircônio, a CBA realizou extração de Bauxita na região durante os anos de 1999 e 2000. Durante o período de contrato com mineradoras, os focos de mineração na Fazenda foram diversos, de modo a alterar drasticamente o relevo, o solo e a vegetação da região, acarretando, por consequência, na dispersão de sua fauna original. Com o esgotamento dos focos de extração, as mineradoras agraciadas pelo contrato, cada uma durante o seu período de posse, fizeram contratos de arrendamento secundário de trechos da terra para pequenos agricultores e latifundiários que revezaram-se em épocas de cultivo intensivo de monoculturas no local, o que contribuiu, aliado à criação de gado também praticada, para o maior empobrecimento do solo. Na década de 1990 os irmãos Luciano Dias Montenegro e Renato Dias Montenegro, bisnetos de Honório Luís Dias, iniciam a ocupação de uma edificação existente na fazenda, em área já desocupada pela CBA, logo no início da Fazenda, com entrada ao lado do Bairro da Cascata. Em 26 de novembro de 1996, Luciano celebra um contrato de comodato com a CBA para a ocupação de uma área de 16,35 hectares, incluindo a casa onde já habitava com o irmão. Desde então os irmãos têm buscado ocupar a área de maneira consciente, recuperando seu solo, cuidando de sua vegetação nativa remanescente, explorando e fazendo reconhecimento da região ao redor pertencente à Fazenda Quirinos e Serrote original, visitando suas cachoeiras e tomando conta do leito d’água existente no local.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


86

Em 10 de dezembro de 2007, Renato Dias Montenegro celebra um contrato de comodato com a CBA para uso de uma área de 16,35 hectares ao lado da área já concedida ao seu irmão, Luciano, de maneira que, somando-se as duas áreas, tem-se a formação da atual Fazenda Canto do Urutau, onde será realizado o estudo deste trabalho. Os irmãos nomearam o local desta forma de modo a fazer alusão às características físicas do ponto onde sua casa se encontra, e devido à aparição de uma ave rara, chamada Urutau, que possui um dos cantos mais peculiares entre as aves do mundo todo. (informação verbal)

O URUTAU O Urutau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Habita a região norte e nordeste da Argentina, as matas do Paraguai, o Norte do Uruguai e o Brasil, onde lhe são atribuídos vários nomes: Jurutaui na região amazônica; Ibijouguaçú entre os Tupis e Mãe-da-Lua entre os mineiros (Figura 86).

A LENDA

Figura 86: Urutau. Fonte: http://baixarmusicastube. com/search/urutau-urutau/; http://www.chongas.com. br/2013/09/ooo-coitado-do-uruatu/ TFG

I

|

RENATA

ALVES

Conta a lenda que Nheambiú, uma bela moça, filha do Tuxaua da nação Guarani, se apaixonou profundamente por um bravo guerreiro Tupi chamado Cuimbaé, que era prisioneiro dos Guaranis, mas seus pais recusaram seu pedido para que se casasse com ele. Sofrendo, a moça sumiu e foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda. O pajé da tribo disse que somente uma grande dor poderia trazê-la de volta a falar. Apesar de muitas falhas tentativas, quando foi lhe dito que Cuimbaé estava morto, o corpo da jovem estremeceu e ela desapareceu na mata soltando repetidos lamentos. Todos que ali estavam foram transformados em árvores secas, e Nheambiú se transformou em um Urutau. (ORNITHOS ESCOLA, 2017)


87 6.1.2 Diagnóstico Atual LOCALIZAÇÃO

Poços de Caldas

Zona Rural Águas da Prata – SP Bairro da Cascata

Águas da Prata À aproximadamente 13km da cidade vizinha, Poços de Caldas - MG, e da cidade de Águas da Prata (Figura 87). Figura 87: Localização em relação às cidades vizinhas. Fonte: Google Earth

À 3,4km do marco divisório São Paulo/ Minas Gerais (Figura 88). Águas da Prata, SP fica localizada a 238km da cidade de São Paulo, é atendida pela SP342, estrada que liga os dois estados e fica na encosta da Serra da Mantiqueira, a 33km de Poços de Caldas, MG.

Marco Divisório

Poços de Caldas Águas da Prata

Figura 88: Localização em relação ao marco divisório SP-MG. Fonte: Google Earth

Figura 89: Perspectiva em relação às cidades vizinhas. Fonte: Google Earth

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


88

RELEVO O entorno apresenta o relevo característico da região, com montanhas e vales bem acentuados. Há um agravante no relevo do entorno, devido à atividade mineradora mencionada anteriormente, muito do relevo original foi modificado por conta da extração mineral, e nunca foi reconstituído. O terreno em si apresenta um desnivel considerável, porém não de proporções acentuadas como encontradas na região. A área conta com uma estrada de acesso e um leito d’água percorrendo toda sua extenção, sendo que no extremo mais alto do terreno foi Figura 90: Perspectiva do relevo. Fonte: produção pesconstruída uma represa anos atrás. soal

Figura 91: Perfil de elevação transversal e longitudinal. Fonte: Google Earth

Figura 92: Mapa Fazenda Quirinos e Serrote com curvas de nível. Fonte: Acervo Luciano Montenegro TFG

I

|

RENATA

ALVES


89

ENTORNO Os pontos principais a serem considerados ao avaliar o entorno do terreno são o Bairro Ponto da Cascata, que dá acesso à propriedade, e uma granja de porcos localizada em um propriadade vizinha.

B. Ponto da Cascata

Granja de Porcos

Figura 93: Pontos relevantes do entorno. Fonte:Google Earth

Figura 94: Estação do bairro. Fonte:Google Mapas

Figura 95: Entrada e escola do bairro. Fonte:Google Mapas

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


90 CARACTERIZAÇÃO DO TERRENO O terreno em que este projeto se desenvolve apresenta características importantes que delimitam pontos definidores do planejamento de ocupação. A área está delimitada pela passagem de dois leitos d’água, o Corrego Capetinga e o Córrego dos metais, que se encontram no ponto mais baixo da propriedade, seguindo adiante como um só leito d’água em direção ao bairro vizinho. Além disto, encontra-se também uma nascente na cota 1240m que, atualmente, não apresenta Área de Preservação Permanente para sua proteção. A água da referida nascente desce por um curto trecho e, após passar pela represa construída no local, acaba por juntar-se ao leito do Córrego Capetinga (Figura 96). A propriedade pode ser acessada através de uma estrada de terra batida que se conecta com as ruas asfaltadas do bairro Ponto da Cascata, mais precisamente à rua abaixo da escola local (Figura 95). Já dentro do terreno, esta estrada se ramifica em mais duas que, não somente atravessam toda a área em questão, como também constituem o acesso principal ao restante da Fazenda Quirinos e Serrote já mencionada e, portanto, não poderão ser restritas ao uso da Fazenda Canto do Urutau, apesar de serem os eixos principais de estruturação e acesso à toda a proposta de ocupação do local, constituindo os leitos carroçáveis que farão integração de todo o complexo e permitirão a entrada e saída de materiais, cargas, mudas, alimentos, maquinário, e outros equipamentos necessários à consolidação do espaço (Figura 96). Em termos de solo, flora e fauna, o local apresenta-se bastante degradado. O solo foi empobrecido devido aos anos de exploração de minério e posterior plantio de monoculturas em períodos esporádicos. É possível identificar, somente através da observação a olho nu, ao menos três tipos de solo ao longo do terreno. Boa parte da área central da propriedade encontra-se ocupada por enormes formigueiros que constituem uma infestação consequente da degradação e alteração no ambiente natural, que levou ao desaparecimento de predadores naturais destes insetos, configurando-a como um indicador da baixa qualidade ambiental do sistema atual em relação ao ecossistema original do local. Esta situação deve ser revertida através da recuperação natural da área até o ponto em que a qualidade do solo, a vegetação e a fauna recuperada devam ser capazes de controlar a infestação e remover o indicador de problema. A flora nativa foi amplamente derrubada e apenas poucos e esporádicos exemplares de sua constituição original ainda podem ser encontrados na propriedade, o que acabou por acarretar no desaparecimento de quase toda a fauna nativa da região. Vale lembrar que as características de devastação que a Fazenda Canto do Urutau apresenta não são limitadas à aréa de Comodato dos irmãos Montenegro, mas estão presentes em muitos pontos dentro da Fazenda Quirinos e Serrote, de modo que a recuperação proposta para os 16,35 hectares deste projeto devam servir como exemplo e gatilho para a recupeção futura do restante da Fazenda, quando esta passar aos seus herdeiros no fim do contrato de exploração já mencionado anteriormente.

TFG

I

|

RENATA

ALVES


0

30

40 12

12 50

12

20

10

12

Figura 96: Mapa da área a ser trabalhada com curvas de nível e indicação de estradas e leitos d’água.Fonte: Produção pessoal

12

121

91

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


7. CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU

TFG

I

|

RENATA

ALVES


93

A proposta de ocupação do terreno tem o propósito de contemplar a demanda oferecida pelos irmãos Montenegro, que têm o sonho de ocupar o local de modo a estabelecer um modelo alternativo que sirva de exemplo para a ocupação de outros pontos dentro da Fazenda Quirinos e Serrote, quando esta estiver livre do contrato de exploração de minerais e passar ao direito dos muitos herdeiros a serem contemplados pelo inventário que se seguirá na próxima década. Neste trabalho a ocupação deve ser planejada dentro do comodato de Luciano Montenegro a fim de firmar uma base de suporte para a expanção do projeto no futuro para a área do comodato de Renato Montenegro. A análise do ambiente e suas potencialidades deixam clara a capacidade do local de alcançar diversificada produção de alimentos, receber grande quantidade de visitantes para estadia temporária, abrigar famílias em moradias permanentes, atender a comunidade local com o comercio dos cultivos a serem produzidos, contemplar a criação de animais, tratar seus próprios resíduos e oferecer experiência de ensinamento, pesquisa e capacitação de interessados em reprodução do modelo, de modo que o programa deva atender todos estes pontos, seguindo os princípios de design permacultural e utilizando as técnicas bioconstrutivas já citadas neste caderno.

7.1 O Canteiro Aberto A opção por definir a ocupação do local como um Canteiro Aberto se deu devido à busca por reforçar a identidade do projeto como um modelo em constante transformação, estabelecendo-se como um empreendimento que se constrói à medida que mais pessoas se envolvem em sua proposta e contribuem para sua execução, em troca de aprendizado e experiência pessoal de capacitação em cursos práticos. Sendo assim, o programa de ocupação do terreno não somente deve atender às necessidades do ambiente, como também contemplar diretrizes de roteiro de construção, de modo a permitir que o local ofereça infraestrutura suficiente para receber os participantes de sua estruturação, permitindo que o projeto se execute, em grande parte, em regime de multirão. Este tipo de processo construtivo baseia-se no modelo aplicado na maioria dos centros e comunidades que desenvolvem suas atividades dentro dos mesmos conceitos que os propostos para a fazenda em questão, como já mencionado no Capítulo 2.2 Experiências Brasileiras Recentes, e busca oferecer a possibilidade da montagem de cursos de bioconstrução e plantio que englobem tanto a parte teórica e científica do assunto, quanto ao ensino da prática, observando-se as dificuldades, os preparativos e as dúvidas que envolvem a execução de tal tarefa.

7.2 Programa de necessidades O programa divide-se em 5 grupos principais de atividades dentro do Canteiro, sendo elas: Moradia e Estadia; Estudo e Pesquisa; Produção de alimentos; Convivência; e Manutenção do Espaço. Cada grupo contemplará as seguintes estruturas:

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


94

MORADIA E ESTADIA Área para Camping 300 m² Vestiários masculino e feminino (5 chuveiros cada) 120 m² Cozinha comnitária 30 m² Alojamento com 12 dormitórios 250 m² Casa Estúdio musical (para os irmãos Montenegro) 100 m² Ecovila com 12 casas 720 m² Parte do programa a ser desenvolvida pelo aluno Marcos Blanco no Trabalho Final de Graduação II

ESTUDO E PESQUISA Centro de estudos de tecnologias alternativas para desenvolvimento sustentável: Auditório (salão multiuso) cúpula 20m o Banheiros masculino e feminino (3 cabines cada) Salas (3) 75 m² Depósitos Ferramentas Pedras Palha Bambu Madeira Areia Terra Laboratório de materiais e tecnologias alternativas 50 m² Estúdio de projetos (2) 30 m² Biblioteca 50 m² Parte do programa a ser desenvolvida pela autora do presente caderno no Trabalho Final de Graduação II

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Horta 2000 m² Pomar 10000 m² Agrofloresta 55000 m² Estufas e banco de sementes 400 m² Fungicultura 100 m² Criação de animais 3000 m² TFG

I

|

RENATA

ALVES


95

Restaurante 150 m² Mercado 80 m² Silos (4)

CONVIVÊNCIA Praça 9500 m² Parque 20400 m² Pier da represa 300 m²

MANUTENÇÃO DO ESPAÇO Depósitos de ferramentas (4) 80 m² Recepção/Administração 60 m² Circulos de bananeiras e wetlands 200 m² As diretrizes de execução do programa acima deverão ser apresentadas no Capítulo 7.3 Plano de Ocupação, deste caderno (a ser desenvolvido durante o mês de novembro para a Banca Final, conforme cronograma apresentado na página 21 deste caderno).

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


SITUAÇÃO

ATUAL

Figura 97: Mapeamento das estruturas presentes no terreno. Fonte: Produção pessoal. Fotos: Acervo Luciano Montenegro.

MAPEAMENTO -

96

TFG

I

|

RENATA

ALVES


Figura 98: Zonemanto do programa de necessidades. Fonte: Produção pessoal.

ZONEAMENTO

97

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


8. CONCLUSÃO

TFG

I

|

RENATA

ALVES


99

A elaboração deste caderno deu-se através da leitura e pesquisa sobre os conceitos embazadores do que acredita-se ser uma corrente eficaz na busca por uma ocupação humana mais equilibrada no planeta: a bioconstrução, a permaculta e a agrofloresta. Contudo, vale ressaltar que esta é somente uma das vias que buscam o desenvolvimento sustentável, sendo este o objetivo final de muitos estudos, comprovando que não há, ainda, um concenso de um modelo único e mais eficiente a ser seguido - e talvez este nem mesmo venha a existir um dia. Através do processo de construção deste trabalho tornou-se possível averiguar as peculiaridades e características de cada uma das técnicas de construção apresentadas, de modo a proporcionar um cauteloso estudo do terreno trabalhado, catalogando suas estruturas, avaliando as condições de degradação de algumas áreas e enumerando as necessidades a serem atendidas no projeto do Canteiro Aberto para a Fazenda Canto do Urutau. Sendo assim torna-se factível a conclusão de que a realização do Plano de Ocupação da Fazenda é viável, devido à sua elaboração baseada em pontos de apoio para as futuras ampliações. Conclui-se também que os objetivos de apresentação dos conceitos e suas aplicações, o planejamento de ocupação e a definição das estruturas componentes do Centro de Estudos de Tecnologias Alternativas para a Biocontrução e Desenvolvimento Sustentável, foram atingidos de maneira satisfatória e, nesta conformidade, espera-se pela continuidade deste trabalho com a criação do projeto de tal Centro, a definição das técnicas a serem utulizadas para sua construção e a elaboração de um caderno com as instruções para a execução das ditas técnicas, a serem desenvolvidos através do Trabalho Final de Graduação II.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TFG

I

|

RENATA

ALVES


101

VAN LENGEN, Johan. e Tibá, 2004. 697 p.

. Rio de Janeiro: Livraria do Arquiteto

EDWARDS, Brian. 2005. 226 p.

. 2. ed. Londres: Riba Enterprises,

: conceitos e critérios para um desenho ambiental urGOUVêA, Luiz Alberto. bano, em localidades de clima tropical de planalto. São Paulo: Ampub Comercial Ltda., 2003. 174 p. PADOVAN, Roberval BrÁz. : DESIGN DE CONEXÕES ESTRUTURAIS. 2010. 181 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Design, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista “jÚlio de Mesquita Filho”, Bauru, 2010. OLIVEIRA, Luiz Fernando Andrade de. . 2013. 82 f. Monografia (Especialização) - Curso de Curso de Especialização em Construção Civi, Departamento de Engenharia de Materiais e Construção, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. CAEIRO, João Gabriel Boto de Matos. . 2010. 141 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura, Faculdade de Arquitectura, Universidade TÉcnica de Lisboa, Lisboa, 2010. SANTOS, Clarissa Armando dos. . 2015. 290 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. BRASIL. CENTRO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO-CID AMBIENTAL /MMA. . Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2008. 64 p. COLOMBO, Ciliana R.; SATTLER, Miguel Aloysio; ALMEIDA, Marcos Jorge. BIOCONSTRUÇÃO - Construção do Passado ou do Futuro? In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 11., 2006, Florianópolis. . Florianópolis: Entac, 2006. p. 3589 – 3598 NEVES, Célia (Ed.). Introdução. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 9-11. FARIA, Obede Borges (Org.). IDENTIFICAÇÃO E SELEÇÃO DE SOLOS. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 12-15.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


102 ROTONDARO, Rodolfo (Org.). ADOBE. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 16-25. NEVES, Célia; MILANI, Ana Paula. BLOCO DE TERRA COMPRIMIDA – BTC. In: NEVES, Célia; . Bauru: Proterra, 2011. p. FARIA, Obede Borges (Org.). 35-45. HOFFMANN, Márcio Vieira; MINTO, Fernando Cesar Negrini; HEISE, André Falleiros. TAIPA DE PILÃO. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 46-61. GARZÓN, Lucía Esperanza (Org.). TÉCNICAS MISTAS. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 62-71. BACA, Luis Fernando Guerrero. REVESTIMENTOS. In: NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges (Org.). . Bauru: Proterra, 2011. p. 72-77. MATTARAIA, Regina A.; INO, Akemi. ARGAMASSA DE REVESTIMENTO PARA CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 9., 2002, Foz do Iguaçu. . Foz do Iguaçu: Entac, 2002. p. 1269 - 1278. : O uso dos pigmentos naturais para uma pintura sustenGÓIS, Lílian. tável. São João del Rei: Ufsj, 2016. 20 p. PAMPLONA, Sérgio; JACINTHO, Cláudio (Ed.). Permacultura Ipoema, 2017.

. Brasília: Instituto de

AMATUZI, Barbara; BOTEGA, JÉssica Luiza; CELANTE, Luana Salete. . 2013. 62 f. TCC (Graduação) - Curso de Curso Superior de Tecnologia em GestÃo Ambiental, Diretoria de GraduaÇÃo e EducaÇÃo Profissional, Universidade TecnolÓgica Federal do ParanÁ, Medianeira, 2013. TAIPAL (Brasil) (Ed.). 2017.

. 2015. Disponível em: <taipal.com.br>. Acesso em: 11 set.

WETLANDS (Belo Horizonte) (Ed.). . Disponível em: <https://www. wetlands.com.br/tecnologia-wetlands>. Acesso em: 14 set. 2017. : Uma Agricultura Permanente nas MOLLISON, Bill; HOLMGREN, David. Comunidades em Geral. São Paulo: Ground, 1983. 149 p.

TFG

I

|

RENATA

ALVES


103

HENDERSON, Danielle Freitas. . 2012. 87 f. Monografia (Especialização) - Curso de Bacharel em Ciências Sociais, Com Habilitação em Antrpologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, 2012. HOLMGREN, David. : Princípios e caminhos além da sustentabilidade. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 415 p. Tradução de Luzia Araújo. COOPERAFLORESTA (Barra do Turvo). : Geraldo práxis agroflorestal em rede (que já reúne mais de mil famílias campesinas e assentadas). Barra do Turvo: Cooperafloresta, 2016. 177 p. ARMANDO, Marcio Silveira et al. Agrofloresta para Agricultura Familiar. Brasília, v. 16, n. 16, p.1-11, dez. 2002.

,

STEENBOCK, Walter; VEZZANI, Fabiane Machado. : aprendendo a produzir com a natureza. Curitiba: Fabiane Machado Vezzani, 2013. 139 p. MAY, Peter Herman et al (Org.). nistério do Desenvolvimento Agrário, 2008. 195 p. AGENDA GOTSCH (Brasil). com/>. Acesso em: 16 set. 2017.

. Brasília: Mi-

. 2016. Disponível em: <http://agendagotsch.

GÖTSCH, Ernst. . 2. ed. Rio de Janeiro: As-pta Assessoria e Serviços A Projetos em Agricultura Alternativa, 1996. 24 p. Tradução de Patricia Vaz. LIFE in Syntropy. Direção de Dayana Andrade. Produção de Felipe Pasini. Fazenda da Toca: Agenta Gotsch, 2015. P&B. YVY PORÃ (Brasil). . 2017. Disponível em: <https://yvypora.wordpress.com/>. Acesso em: 23 ago. 2017. REDE PERMEAR (Brasil). . 2012. Disponível em: <http://www. permacultura.org.br/>. Acesso em: 23 ago. 2017. INSTITUTO DE PERMACULTURA E ECOVILAS DO CERRADO (Brasil). . Disponível em: <http://www.ecocentro.org/o-ipec/o-ecocentro/>. Acesso em: 16 set. 2017. . Disponível em: <http:// RIO, Tiba. www.ecocentro.org/o-ipec/o-ecocentro/>. Acesso em: 16 ago. 2017.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


104 MONTENEGRO, Luciano Dias; MONTENEGRO, Renato Dias. : Luciano e Renato Dias Montenegro. Águas da Prata, abril 2017. Entrevista concedida a Renata do Carmo Mota Alves. : The First-Ever International Bamboo Architecture Biennale, LYNCH, Patrick. Captured by Julien Lanoo. 2017. Tradução livre. Disponível em: <http://www.archdaily. com/869931/the-first-ever-international-bamboo-architecture-biennale-captured-by-julien-lanoo>. Acesso em: 23 set. 2017. BORTOLUZZI, Camila. : Escola Verde / PT Bambu. 2012. Disponível em: <http:// www.archdaily.com.br/br/01-51359/escola-verde-pt-bambu>. Acesso em: 23 set. 2017. : Green School: Escola construída com bambu em Bali. NUNES, Cristiane. 2015. Disponível em: <http://sustentarqui.com.br/construcao/green-school-escola-construida-em-bambu-em-bali/>. Acesso em: 23 set. 2017. REDAÇÃO ECOD (Brasil). : Escola verde: a escola de bambu na Indonésia. 2010. Disponível em: <http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/escola-verde-a-escola-de-bambu-da-indonesia>. Acesso em: 23 set. 2017. RAGEL, Juliana. : Projeto em bambu para um concurso de ideias sustentáveis. 2014. Disponível em: <http://sustentarqui.com.br/construcao/projeto-em-bambu-modular/>. Acesso em: 23 set. 2017. THE MUSEUM OF MODERN ART (New York) (Org.). tectures of Social Engagement. New York: Moma, 2009.

: New Archi-

. 2010. Disponível em: <http://www.archdaily. ARCHDAILY (Brasil). com/51664/handmade-school-anna-heringer-eike-roswag>. Acesso em: 23 set. 2017. NUNES, Cristiane. : Arquitetura vernacular é aplicada em escola de Bangladesh. 2016. Disponível em: <http://sustentarqui.com.br/construcao/arquitetura-vernacular-e-aplicada-em-escola-de-bangladesh/>. Acesso em: 23 set. 2017. ORNITHOS ESCOLA. . 2017. Disponível em: <http:// www.ornithos.com.br/escola/mitos-e-lendas/a-lenda-do-urutau-mae-da-lua/>. Acesso em: 23 set. 2017. ECOCENTRO IPEC (Brasil). . 2017. Disponível em: <http://www.ecocentro.org/noticias/como-fazer-a-fossa-de-bananeira/?lang=pt>. Acesso em: 06 out. 2017.

TFG

I

|

RENATA

ALVES


105

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. : Algumas práticas e vivências. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. LEAL, Jane Terezinha da Costa Pereira. Brasil: Emater, 2016.

CANTEIRO ABERTO CANTO DO URUTAU


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.