Revista ECCO!

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ISSN 1546-6734

R$ 12,90

CONSTRUTIVISMO Entrevista: Lucio Agra A Rússia em Caos A Última Exposição Futurista A Utopia Tatlin

Staatliches Bauhaus Mondrian São Paulo Construtivista Lulalá



EDITORIAL O exemplar que você tem em mãos da revista Ecco! é duas vezes pioneiro: além de ser a primeira edição da revista, é a primeira publicação da editora Prumo, que está entrando no mercado afim de oferecer informação e conteúdo à seus leitores de maneira inovadora. A revista Ecco! tem como objetivo principal mostrar a você, leitor, a relevância dos diversos movimentos artísticos que já dominaram a história da arte. Na revista será possível conhecer a história desses movimentos, suas características e de que forma suas influências podem ser sentidas no mundo em que vivemos. Como tema da primeira edição da revista Ecco!, estamos abordando o movimento construtivista, cujo objetivo era a construção de uma nova sociedade através da arte. O movimento surgiu na Rússia durante a segunda década do século XX, influenciado pelo ideal socialista, mas logo se espalhou para o resto da Europa, vindo a influenciar importantes escolas, como a Bauhaus, na Alemanha. A partir da Europa o movimento se espalhou e influenciou principalmente a arquitetura, as artes plásticas, e o cinema de diversos países ao redor do mundo. Nessa edição da revista você passará a conhecer um pouco mais sobre as influências tanto do contrutivismo russo, do neoplasticismo holandês e da Bauhaus no mundo moderno. E vai se surpreender ao ver que a influência dessas três vertentes do mesmo movimento no seu mundo pode ser maior do que você pensa.

ECCO! ANO 1 Nº 1 tiragem: 5.000 Produção Editorial Cléderson Matheus Rien Perez Francine Rossetti Maximiliano Laube de Souza Oliveira Victor Mozzaquattro Colaboradores Lucio Agra Hallan Batman Rodrigues Joubert Castro Perez Maria Regina de Souza Oliveira Editora Prumo Rua Casa do Ator 340 São Paulo, SP sala 541 http://www.prumo.com prumo@gmail.com

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sumario

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editorial entrevista enquanto isso... turning point kino pravda a utopia tatlin bauhaus mondrian opini達o s達o paulo construtivista contexto

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ENTREVISTA

Nada sE UltRAPASSA POR DECRETo Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Lucio Agra é o autor dos livros ‘Selva Bamba’ e ‘História da Arte do Século XX - Idéias e Movimentos’ e de diversos artigos sobre design, arte e semiótica. Tem experiência nas áreas de comunicação, artes e design, com ênfase em semiótica das artes, atuando principalmente nos seguintes temas: poesia, poética, novas tecnologias, performance, artes do corpo, poesia eletrônica e digital, tecnologia e vanguardas. Fale-nos um pouco mais sobre quem é você e quando você se interessou pela arte do século XX: Tanto quanto posso me lembrar, o interesse é muito antigo. Sem querer parecer besta, essas coisas acontecem, eu tinha seis anos ou sete e me interessava pelos verbetes da Enciclopédia Abril (lá por volta de 1967, 68) que falavam sobre estranhas coisas como música concreta, teatro do absurdo, cinema expressionista alemão etc. Muitos anos depois, no Mestrado em Comunicação e Semiótica da PUC,resolvi mergulhar no assunto e descobri o universo das vanguardas alemãs dos anos 20 (do qual tinha umas poucas referências) e das vanguardas russas da mesma época. Este último tema acabou me envolvendo completamente, transformando-se em parte substancial da minha dissertação de Mestrado e depois também do Doutorado. Ao mesmo tempo, desenvolvi trabalhos em performance que dialogam até hoje com essas referências. ECCO!

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A arte russa no começo do século XX viu o surgimento de vários movimentos de vanguarda figurativos e não-figurativos. Qual foi a importância da exibição 0,10 (1915) para definir qual seria a arte da década a porvir? Fundamental, porque esta exposição (também conhecida como “última exposição futurista”) foi a ocasião do lançamento do movimento Suprematista, encabeçado por Kasimir Malevitch, com seu “Quadrilátero Negro sobre fundo branco”, um marco de uma nova era na pintura, antes apenas entrevista por outro russo, Kandinsky. Era a entrada para o que Malevitch chamava de universo “não-objetivo”, idéia que animou várias das boas cabeças da época. Em meio a esse cenário, surgiu o construtivismo. O que foi esse movimento?


Qual era a sua proposta? De certo modo, o construtivismo situou-se como oposição ao Suprematismo, sobretudo quando, já a partir dos primeiros anos da década de 20, radicalizou suas posições em direção ao produtivismo. Na verdade, era o nascimento do que hoje conhecemos como Design (gráfico e de produtos). Entretanto, um dos maiores nomes do Construtivismo fazia uma “ponte” (como assinalou Patrícia Railling) entre construtivismo e suprematismo. Esse artista foi El Lissítzky, ex-discípulo de Chagall que, embora ligado aos Construtivistas, mantinha sua formação suprematista do início da carreira. Às vezes, nessa época, no desejo de construir aquela que seria, supostamente, a grande interpretação do futuro, os artistas digladiavam-se por coisas que hoje consideraríamos irrelevantes. Por outro lado, Malevitch sempre lutou contra o caráter “utilitário” que os construtivistas traziam para a obra de arte. Entementes estes, entre cujos líderes destacava-se a figura de Vladímir Tatlin, nem estavam mais interessados em fazer arte e sim em produzir objetos para a nova sociedade. Construtivismo (palavra possível, desse mesmo modo, em russo) queria dizer a possibilidade de erigir uma nova sociedade, construir um novo mundo. Além também de se basear numa leitura materialista da arte, isto é, voltada para sua materialidade física e o controle racional dos meios para atingir objetivos definidos. Qual foi o momento-chave na história que catalisou o surgimento do movimento construtivista? Eu não diria que isso existiu, mas certamente a Revolução – sobretudo no período da Guerra Civil – impulsionou. Tanto quanto depois reprimiu, barbaramente. Em seu livro, Construtivismo, Rickey de-

clara que à partir de certo momento, o termo Construtivismo passou a ser usado tanto para designar o movimento russo quanto o De Stijl holandês. Hoje usamos o termo também para definir o que era feito na Bauhaus. Quais são as semelhanças entre esses movimentos que fizeram com que todos eles fossem considerados construtivistas? Pode-se dizer que em meados dos anos 20 o construtivismo viria a ser a grande novidade artística na Europa. Em parte porque a arquitetura de Le Corbusier e o movimento De Stijl tinham traçado metas nessa direção. Em parte também porque, tendo se originado na Rússia, o movimento se espalhou pelo Leste europeu (fortes influências na Romênia, Polônia, Hungria e atual Rep. Tcheca). A Bauhaus mudou-se para o encaminhamento construtivista a partir da histórica palestra de Walter Gropius na exposição de 1923, ainda em Weimar (“Arte e tecnologia: uma nova unidade?”) Mas isto só se concretiza de fato com a mudança para Dessau em 1925 e a contratação do húngaro Lázló Moholy-Nagy, fotógrafo, artista plástico e “tipo moderno”, característico da época, que viria a substituir Johannes Itten, cujo trabalho tinha afinidades com o expressionismo. Na verdade, houve mais de uma tentativa de unificação das vertentes artísticas em torno de uma espécie de Internacional Modernista. Dois congressos tentaram isto, em 1922, reunindo desde dadaístas a construtivistas, nas cidades alemãs de Düsseldorf e Weimar. Este intento só se realizaria no começo dos anos 30, como forma também de resistência ao avanço da perseguição à arte de vanguarda (tanto na Rússia quanto na Alemanha) e se solidificaria, depois, de forma estandardizada e em certa direção, nos Estados Unidos, principalmente no campo da Arquitetura, através daquilo que conhecemos como estilo internacional (International Style). ECCO!

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ENTREVISTA

Ainda em seu livro, Rickey cita uma declaração de Mondrian dizendo que, apesar do construtivismo ter “se tornado homogêneo com o neoplasticismo [...] sempre houve diferenças no ponto de vista.” Quais eram as principais diferenças entre as vertentes construtivistas? No neo-plasticismo, houve um “racha” clássico entre Mondrian e Theo van Doesburg, esse último querendo introduzir a diagonal no siste-

design, na funcionalidade da arquitetura desenvolvida lá, ou no método de ensino adotado por seus professores. Essas influências podem ser sentidas no mundo moderno? De que forma? Nos anos 70 e principalmente nos 80, a moda do “pós-moderno” pôs a Bauhaus no limbo das coisas ultrapassadas. Mas nada se ultrapassa por decreto. Alguns dos móveis Memphis de Ettore Sottsass, visto como ápice do “pós-moderno”, são tão parecidos com os brinquedos e móveis infantis criados na Bauhaus que chegam a impressionar. Por outro lado, hoje as

cuidar dos OS ACERVOS

ma que criaram (Mondrian não aceitou). Havia vários “construtivismos” como assinala Claude Leclanche-Boulé: havia grupos de teatro ligados ao construtivismo, na União Soviética, com filosofias muito diferentes. O mesmo podendo se dizer de outras regiões da Europa. Qual é a importância do movimento construtivista no mundo moderno? Em que fomos influenciados por esse movimento? Se você. pensar que o que chamamos de Design foi, durante um bom tempo, visto de acordo com o padrão da Escola de Ulm, criada na década de 50 na Alemanha e que esta escola era, por sua vez, direta e claramente inspirada na Bauhaus; e se você. considerar que hoje tudo que se compra ou consome faz uso do design, acho que é fácil concluir. Os legados são bons e ruins: desde a desmistificação da figura do artista como gênio privilegiado até as grandes cidades de concreto carregadas de poluição. A Bauhaus inovou em muitos aspectos, seja na forma como deu importância ao ECCO!

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e

tendências neo-modernistas em arquitetura tendem a ter um comportamento regressivo e, me parece, às vezes diluidor desta herança. A Bauhaus deveria interessar lá onde deixa de ser Bauhaus e se reinventa. Veja o caso de Lázló Moholy-Nagy, por exemplo, cujo contato com os Estados Unidos provocou mudanças em seu design que passou a incorporar a curva e os desenhos orgânicos.

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Ao andar por São Paulo, ou nos objetos com os quais você interage no dia a dia; é possível enxergar a herança construtivista? Em tudo e por tudo. Infelizmente em São Paulo se destrói sistematicamente a história. A cidade é portadora de um singular acervo de construções feitas de acordo com os princípios construtivistas (a casa modernista de Santa Cruz e as demais casas do russo/brasileiro Gregori Warchavchik – anos 20 e 30 – se algumas estão bem conservadas, outras ameaçam ruir). Quem passa pela Alameda Lorena não

da


consegue mais ver a seqüência de casas projetadas por Flávio de Carvalho – todas construtivistas – que estão muito descaracterizadas. E temos um ótimo acervo art-deco, do Estádio do Pacaembu até a entrada do Túnel da Nove de Julho. A educação do olhar é fundamental para se dar valor ao patrimônio que se tem. E olha aque não falei de todos os arquitetos posteriores (Rino Levi, Artigas, Niemeyer etc, que também têm um pé no construtivismo). A “dura poesia concreta de suas esquinas” como quis Caetano Veloso, poeta influenciado por vertentes construtivistas, como a poesia concreta, tem por outro lado os traços dessa inovação na poesia, na música e na arquitetura. Um olhar atento e uma boa pesquisa flagra muitas coisas. Qual você acredita ser a maior herança construtivista no mundo moderno? Eta pergunta difícil... Bem, tenho notado que no de-

conservacao de nos mesmos.

sign gráfico e no de moda as vanguardas construtivistas continuam a influenciar. Há uma parte do design de interfaces de software que pode se beneficiar muito disso. Seria bom que a maior herança fosse a preservação desse imenso acervo que está sempre ameaçado pelos colecionadores mais inescrupulosos. Isso aconteceu na Rússia recentemente. Lá, como aqui, é preciso que a população e as autoridades reconheçam que cuidar dos acervos da arte – não só construtivista – é parte fundante [sic] da conservação de nós mesmos... De tão modernos, veja só, tornamo-nos conservadores... Mas num bom sentido, talvez... Muito Obrigado! ECCO!

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enquanto isso...

Victor Mozzaquattro

A Rússia se encontrava em clima de revolução em meados de 1913 e 1914. O país se encontrava sob o domínio da monarquia absolutista do Czar Nicolau II, que impunha um regime opressor e ditatorial. Grande parte de sua população (a maioria camponesa) vivia em condições lamentáveis, de extrema miséria. Além disso, o país estava envolvido na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e vinha sofrendo um número de baixas cada vez maior. Repetidas greves e manifestações populares instalavam a instabilidade e inquietavam os responsáveis pela ordem. Foi durante esse período que surgiu o construtivismo. Os inúmeros atos de abuso de poder cometidos pela monarquia e a imensa miséria em que vivia o proletariado criaram terreno favorável à disseminação dos ideais socialistas, que prometiam uma sociedade mais justa, onde os meios de produção seriam controlados pelo povo. Tanto a população quanto os artistas aspiravam pela construção de uma nova sociedade. O alcance desses ideais na Rússia acabou culminando no surgimento dos partidos socialistas, que almejavam destituir o Czar e chegar ao poder. Os dois principais partidos foram o Bolchevique, que, comandados por Lênin, reivindicava as causas da massa, e o ECCO!

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Menchevique, comandados pela burguesia. No ano de 1917 a revolução finalmente estoura. Em fevereiro, os mencheviques depõem a monarquia czarista e assumem o poder, instaurando um governo democrático, mas ainda capitalista.Ainda não satisfeitos, os bolcheviques dão continuidade à revolução e em outubro do mesmo ano tomam o poder dos mencheviques, consolidando um governo parcialmente socialista e fundando a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Mesmo depois de assumir o poder, Lênin ainda encontrou obstáculos . Logo após a Revolução de Outubro, a burguesia e a nobreza se mobilizaram e arregimentaram o chamado exército branco. Houve guerra civil. Por três anos o exército branco e o vermelho, comandado pelos socialistas, se enfrentaram nos campos de batalha. Em 1920 o exército vermelho finalmente alcança a vitória e o regime socialista é integralmente implantado no país. Durante esse período, artistas como Tatlin, Rodchenko, DzigaVertov, Eisenstein passam a fazer uma arte propagandista, que louvava o regime socialista. É a agit-prop ou a arte de agitação, que tinha como objetivo a conscientização das massas e a criação

de uma identidade popular com o novo regime. Lênin governou a Rússia desde a revolução até janeiro de1924, quando veio a falecer. Durante seu governo a arte de vanguarda floresceu, e o construtivismo foi aceito nas escolas estatais. Após a morte de Lênin, Stálin e Trotski começam a disputar o poder, sendo que Stalin prevaleceu e instaurou um governo repressor e ditatorial, que não via a vanguarda artística com bons olhos. Os artistas que não fugiram para a Europa tiveram de se adaptar às novas regras. Mas enquanto morria na Rússia, o construtivismo estava em seu auge na Europa. m ECCO!

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Matheus Perez


Sabe aquele quadro que você viu no museu que aparentemente não significava nada? Por maior que fosse o seu esforço, era impossível identificar uma árvore sequer, por exemplo. Como você deve ter percebido, alguns quadros realmente não procuram representar a realidade palpável do nosso cotidiano, mas sim nos conduzir a uma experiência diferente da tradicional através do uso de formas geométricas, cores e texturas. Apesar de não poder se dizer que tudo começou na Rússia, com certeza o país foi crucial no desenvolvimento da arte abstrata, ou seja, não-representativa. O assunto que pautava as discussões dentro do círculo artístico russo em 1914 era o futurismo, um movimento derivado do cubismo (aquele de Picasso) que, apesar de ser vanguardista, era representativo. Filippo Tommaso Marinetti, líder dos futuristas visitaria o país naquele ano. Marinetti, entretanto, achando que seria recebido como herói no país, se decepcionou, pois os russos haviam haviam se distanciado de tal forma do movimento italiano que Camilla Gray, autora do livro O Grande 
Experimento - Arte Russa 1863-1922, acredita que seria mais apropriado chamá-lo de cubo-futurismo do que de futurismo apenas. A verdade é que a arte russa já estava preparada para se distanciar ainda mais do futurismo, ou de qualquer outro movimento figurativista. Alguns artistas já experimentavam com a arte abstrata. No ano seguinte aconteceu em São Petersburgo a exposição 0,10, também conhecida como A

última exposição futurista. Nela, Kasimir Malevitch inaugurou a nova arte: o suprematismo. Numa sala da exposição, Malevitch expôs 39 obras abstratas, compostas somente por formas geométricas. O quadro mais importante – Quadrilátero Negro – se encontrava em uma das quinas da sala; uma posição reservada à imagem mais sagrada de uma igreja russa. Embora não seja possível dizer exatamente quem foi o artista que inaugurou a arte abstrata, podemos afirmar que Malevitch foi um dos pioneiros. Seu Quadrilátero Negro logo se tornou um ícone da vanguarda, pois rompeu com todos os conceitos pré-estabelecidos. Como resultado, os dois movimentos que haviam estado na periferia do cenário artístico na Rússia passaram a dominá-lo: o suprematismo e o construtivismo. A partir daquele momento, os artistas desses dois movimentos abstracionistas, passaram a batalhar pela hegemonia no meio artístico, e a discutir suas diferenças. Enquanto o construtivismo defendia o funcionalismo e o utilitarismo, o suprematismo apoiava a arte pela arte. Essa batalha só teria fim quando o construtivismo foi adotado pelo regime comunista devido à sua utilidade na causa social. Alguns artistas, entretanto, como El Lissítzky, procuraram fazer uma ponte entre o suprematismo e o construtivismo. A exposição 0.10 é um marco pois inaugurou a arte abstrata, que seria adotada no resto do mundo, chegando até nós hoje, através daquele quadro que você viu no museu.

malevitch

foi, com certeza,

um dos

primeiros artistas a criar

uma arte que não representava o real; ou seja,

a arte abstrata.

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cinema

Um novo cinema: n apenas a verdade na Max de Souza


nem drama nem ficção ada mais que a verdade Max de Souza


cinema

Após a Revolução de Outubro, o povo já não era mais o mesmo. Todos aqueles ideais revolucionários e toda a reviravolta que a revolução causou, serviram de base para artistas pensarem em um novo rumo para a sociedade. A verdade é que as coisas já não funcionavam como antes , “abaixar a cabeça” já não era tão comum, e à sociedade só restava pensar no trabalho e na chance de reconstruir ou até mesmo criar um novo país . Os artistas então passaram a discutir novos rumos para o país, e a moldar sua arte às necessidades de uma sociedade que havia acabado de

sair da I Guerra Mundial, passado por uma revolução, e logo em seguida, enfrentado uma guerra civil. Entre os artistas já não era comum se fazer a arte pela arte, ou seja a arte, que nos faz refletir nas várias interpretações possíveis, e que prima somente pela técnica e pela estética.Isso não era necessário no momento. Agora a arte deveria ter uma função apenas de suprir as necessidades do povo e contribuir para a formação cultural e moral de uma nova sociedade . A arte já não precisava ser bela, mas sim, funcional.

O CONSTRUTIVISMO NAO PROCURAVA A BELEZA, MAS SIM A FU

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No cinema, a mais moderna das artes, não foi diferente. O cinema russo dessa época se engajou no propósito de mostrar os acontecimentos cotidianos na sua forma mais natural, buscando sempre mostrar a história verdadeira; e onde se transforma em autêntico o interpretado. Na Rússia construtivista nascia uma nova forma de se fazer cinema, com uma linguagem atrelada às idéias socialistas.

O cine sm

.tudo... da . . , vi dade ao povo, Sociali

ade obtida pelos meios cinematográficos”(GERVAISEAU)

Por que as camera

ma deve cumprir se

ado graças ao cine verdade : a verd

teiro ,núcle ,ro o u papel: liber o

“Transformando o invisível em visível , e autêntico o interpret ssim,falam a verdade sem rodeios e sem dó. d a d e é t e ma , e n r r e v ed A

UNCIONALIDADE.

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cinema

Alexander Rodchenko, Sergei Einsenstein e Zevolov Pudovkin, são exemplos de roteiristas e produtores que ajudaram a criar o cinema russo. Mas foi o jovem cineasta Dziga Vertov que protagonizou um dos maiores movimentos da história do cinema mundial: o cinema verdade, ou kino pravda. Mas antes de entendermos a essência desse novo cinema é necessário conhecer o gênio por trás da obra. Dziga Vertov , sempre foi um experimentalista.Aos 16 anos estudava piano e violino, alem de escrever poesia. Em um conservatório local experimentava os sons e a poesia como maneira de se formar um caráter crítico. Teve seu primeiro contato com o futurismo em Moscou no ano de 1915. Esse contato influenciou a poesia que produzia. Foi quando na época em que começou estudar neurologia na universidade de São Petersburgo, que começou a estudar a percepção humana dos sons . Trabalhou 2 anos depois no cine jornal Kinonedelia, que abordava o cotidiano dos cidadãos soviéticos. Em 1919 produziu uma série chamada Bolchevique, divida em dois curta metragens. Em 1922 produziu outro documentário chamado Kino Pravda, nome dado em homenagem à um jornalista soviético chamado Pravda. À partir daí, após suas experiências cinematográficas, se percebeu que seu cinema estava voltado para arte. Junto de sua esposa, Elisaveta Svilova, e de seu irmão, Mikhail Kaufman, Vertov criou o grupo Kino Glaz (cinema olho), na tentativa de mostrar que a lente das câmeras era melhor que o olho humano para captar e organizar a realidade de forma imparcial . O Kino Glaz pregava a não produção da ficção, e que o drama deveria “morrer”. A arte do grupo gerava muita polêmica, mas mesmo assim , a verdade devia ser mostrada para todos.Vertov mostrou que é possível construir a verdade que ninguém vê com a mentira que todos vêem.

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A forma de fazer cinema de Dziga Vertov abriu os olhos de cineastas e telespectadores para aquilo que só se vê pela lente da câmera, que é imparcial: ela só nos mostra o que acontece. Cabe a quem vê interpretar o ocorrido. Graças à ele, hoje, muitos outros cineastas produzem filmes que seguem os princípios do cinema verdade, muito apreciado, apesar de colecionar poucos fãs .

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tRANSFORMANDO O HOJE EM AUTENTICO para despregar as verdades da parede da sociedade. José Padilha à pouco lançou o tão aclamado Tropa de Elite, que além de mostrar como funciona o Bope, aborda temas como a corrupção policial, o poder do crime, as diferenças sociais, o tráfico e o uso de drogas. O que é encenado no filme se perde com o que é verdade, quadro a quadro, o filme não parece mais ser encenado. O cineasta faz com a câmera seja apenas uma peça de um todo, parte do que está acontecendo. Além disso, a narração de Wagner Moura funciona como morfina para o telespectador.

divulgação

O cinema verdade, hoje, ainda não perdeu a essência de Vertov. Ainda se faz cinema com o formato muito próximo do real e do que era feito pelo cineasta russo. Entretanto, hoje o cinema verdade tem enredo, o que dificulta o divernimento entre o cine-olho e o drama comum. Reconhecer o cinema verdade não é tão fácil quanto na teoria. Hoje, muitos cineastas usam o mesmo enquadramento do cine-olho como um ferramenta, pois aumenta o efeito de veracidade nos filmes. Quantas vezes já não vimos filmes de terror com o uso da câmera desfocada, ou em movimento, como se o olho do personagem fosse a câmera? Ironicamente, essa técnica usada em vários filmes de ficção, foi criada por Dziga Vertov, que tanto criticou o gênero.O cine-olho da nova geração, transforma o hoje em autêntico, e faz com que o nosso cotidiano se transforme em algo único, criando a sensação de que aquilo que fazemos todos os dias não é real. Um exemplo de cinema verdade atual é o filme O Cão Sem Dono, do cineasta Beto Bran. Ele tenta mostrar a situação da juventude moderna à partir da história de dois jovens que possuem a necessidade e a vontade de tornar reais seus sonhos, mas devido à falta de perspectiva e ação, não são bem sucedidos. O filme conta com poucos atores, mas trabalha muito a intimidade dos personagens, nos fazendo refletir na juventude que nos cerca e nas respostas para questões que, até esse instante, nunca haviam sido pensadas, pois eram consideradas comuns. O filme acaba não transparecendo muita emoção mas nos mostra uma verdade imparcial, e nos transporta para dentro da sala onde o personagem resolve seus problemas. Outros cineastas como José Padilha e Michael Moore, fazem da câmera uma ferramenta

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arquitetura

a utopia Francine Rossetti

Vladimir Tatlin é o símbolo do movimento modernista e de vanguarda da arte russa. Pintor, escultor e arquiteto, nascido em 1885, em Kharkov Rússia, foi o primeiro teórico do construtivismo e grande incentivador do movimento. Em 1920, participou da publicação do Manifesto Realista, onde expunha seus princípios estéticos, um dos quais era precisamente o de “construir arte”, o que originou o termo “construtivismo”. Mais tarde, com a chegada da revolução socialista, Tatlin participou da tradução do ideal construtivista para a arquitetura, onde se inspirava a criar projetos para a nova república e a desenhar objetos para uso e comunicação das massas. No mesmo ano, com o triunfo da revolução soviética, Tatlin teve a oportunidade de traduzir suas idéias no célebre projeto ao Monumento à Terceira Internacional, organização fundada em 1919 por Lênin e pelo Partido Comunista que reunia os partidos comunistas de diferentes países. A terceira internacional tinha o propósito de lutar pela superação do capi-

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talismo, pelo estabelecimento da ditadura do proletariado, e pela completa abolição da desigualdade entre as diferentes classes socias. Esses seriam os passos de transição para a sociedade comunista e para a completa abolição do Estado. Com o fim de derrubar a burguesia internacional, defendiam que se fossem utilizados todos os meios disponíveis, inclusive armados. O ponto alto de sua obra contou com um estudo geométrico e matemático das máquinas, para que o funcionalismo fosse alcançado. Desta forma o projeto do monumento consistia em uma torre giratória de 400 metros de altura, com três grandes salas de vidro erguidas por um complicado sistema de pilares verticais em aço espiral de travessas livres. As salas seriam colocadas em cima uma das outras em diferentes formas, capazes de girar em diferentes velocidades por um mecanismo


TATLIN especial, o superior de forma cilíndrica, gira durante um dia, reservado para serviços de informação, jornal e manifestos informando o proletariado internacional, o do meio em forma de pirâmide, leva um mês; preparado aos executivos e órgãos administrativos e o inferior, de forma cúbica, um ano, destinado a assembleia legislativa. A torre, embora tenha sido concebida para desempenhar funções práticas, é portadora - sobretudo pela sua estrutura em espiral - de valores simbólicos, exprimindo-se globalmente na fórmula mais típica e caracterizadora do construtivismo: utilitarismo e representatividade, e não passou de uma utopia tecnológica. Muitas fontes foram procuradas para a origem da forma e estilo do monumento, uma das mais óbvias é a Torre Eiffel, um poderoso símbolo da modernidade, com cerca de 320 metros de altura e, aproximadamente, 10 mil toneladas de metal, que Tatlin conheceu em uma viagem a Paris em 1914. Projetada pelo engenheiro francês Gustave Eiffel, foi construída em 1889 para representar o desenvolvimento tecnológico durante a Exposição Mundial e para comemorar os cem anos da Revolução Francesa. O projeto que foi erguido em poucos meses e teve seu custo relativa-

mente baixo, é oco, sem paredes, toda feita de aço, formada por três pavimentos dispostos numa armação de ferro, vidro e cristal em forma de um triângulo pontiagudo, espichado para cima, mede 318 metros de altura e pesa cerca de 7.300 toneladas. A sua estrutura é composta por 18.038 partes de ferro presas por 2.500.000 rebites. Desde a sua construção, até 1930 foi o edifício mais alto do mundo. Em 1916 foi colocada uma antena que permitiu o primeiro serviço de telefone de rádio através do Atlântico, e em 1957 serviu como emissor para a Televisão Francesa. O seu topo, quando sopram ventos fortes, pode mover-se até 12 cm. EmboraTatlin tenha projetado seu monumento para ser mais grandioso do que a torre Eiffel, seu propósito nunca foi alcançado devido à falta de tecnologia e dinheiro. A crise econômica que a Rússia sofria no início do regime socialista impediu que a maioria dos projetos arquitetônicos construtivistas nunca fossem de fato realizados.

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arquitetura

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Ao andarmos por São Paulo, podemos fruir o até os ornamentos de seu interior seguiriam um prazer de ver prédios de diversos estilos arquit- mesmo estilo. O ArtNoveau, no entanto, é muito etônicos espalhados pela cidade. É fácil notar que diferente do que consideramos moderno, pois alguns prédios possuem mais detalhes e ornamen- caracterizava-se por linhas curvas e tinha caráter tos do que outros. Sabemos que as edificações que ornamental. possuem mais ornamentos freqüentemente apreCom o tempo, alguns arquitetos, inquietos sentam um projeto arquitetônico que pertence a com o excesso de ornamentação presente no um período posterior ao que vivemos. Pense, por ArtNoveau, passam a criar projetos mais racionais, exemplo, na riqueza e ostentação de uma igreja baseados no funcionalismo. Para eles, a arquitetudo período barroco, com todas as suas escultu- ra deveria apelar não apenas ao figurativo, como ras, pinturas e detalhes em ouro, em convinha acontecendo na arquitetura. Em outtraste com o despojamento de um ras palavras, eles não acreditavam edifício comercial moderno, que a arquitetura moderna Embora a geralmente quadrangular deveria ser mais bonita do Alemanha não estivesse e coberto de concreto que a antiga, mas que passando por uma revolução, e vidro. A diferença é ela deveria funcionar mais do que apenas melhor. Resolver como havia acontecido na notável. Rússia, o fim da monarquia e a racionalmente os Foi durante a reconstrução do país após a derrota problemas da habirevolução industrial tação, do trabalho sofrida durante a I Guerra Mudial que essas diferene da diversão. Entre também inspiraram arquitetos e ças começaram a esses arquitetos, esartistas a buscar a construção tava o alemão Walter surgir. A possibilidade de uma nova sociedade de usar materiais que Gropius. nunca haviam sido usados, Fazia pouco tempo através da arte. como o aço e o vidro, desque a Alemanha havia sido pertou a imaginação de vários derrotada na I Guerra Mundial, arquitetos. O primeiro movimento a e o país, sob seu primeiro governo reperceber que esses materiais poderiam ser usa- publicano, encontrava-se mergulhado em acentuados para conferir formas inimagináveis até então da crise econômica. Impunha-se a necessidade de às construções foi o ArtNoveau (final do século reconstrução. Assim como havia acontecido na XIX), surgido da necessidade de conferir beleza Rússia durante a revolução, muitos viram nesse aos produtos industrializados. Um dos arquitetos cenário a oportunidade de se criar uma nova somais importantes desse período foi William Morris. ciedade e Gropius foi um deles. Ele acreditava que os artistas deveriam desenhar A Alemanha já possuía escolas de artes e ofíe criar seus objetos, dissolvendo assim a barreira cios que eram remanescentes das guildas – corque havia entre artistas e artesãos. Além disso, porações de ofício – medievais. Em 1919, Gropius Morris defendia que a arquitetura e as demais for- reuniu alguns artistas e arquitetos em Weimar, mas de arte deveriam estar unidas; assim, o edifí- que era, então, a capital da República, e propôs a cio como um todo, desde o projeto arquitetônico criação da Staatliches Bauhaus (que significa, literalECCO!

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arquitetura

“Criemos então uma nova corporação de artesãos, sem a distinção de classes que forma uma arrogante barreira entre artesãos e artistas! Desejemos, concebamos e criemos juntos o novo edifício do futuro, que combinará arquitetura, escultura, e pintura em uma única forma. E irá, um dia, alçar aos céus das mãos de milhares de trabalhadores como um símbolo cristalino de uma nova e vindoura fé.”

mente, casa estatal de construção). A escola teria como objetivo “construir o futuro” e, para a realização desse objetivo, Gropius adotou os ideais de Morris de que não deveria haver diferença entre as diversas formas de arte. Artesãos, arquitetos e demais artistas deveriam estar unidos na busca do mesmo ideal: um edifício. Ironicamente, embora acreditasse que a arquitetura fosse a expressão máxima da arte, pois reuniria todas as demais artes, a Bauhaus não construiu um único prédio durante a maior parte de sua história devido à escassez de materiais e recursos. A produção arquitetônica da escola só foi impulsionada em 1925, quando a escola se muda para Dessau, para um prédio projetado pelo próprio Gropius. Lá os alunos puderam desenvolver projetos arquitetônicos que, seguindo o conceito proposto por Gropius e outros arquitetos, eram caracterizados por linhas retas e despojadas, grandes áreas de vidro que permitissem entrada de luz solar, além de uma melhor interação entre o interior do prédio e o ambiente que o cercava. A Bauhaus acabou, de certa forma, resolvendo uma das maiores discussões no meio artístico da época entre os defensores da industrialização e os da execução manual. Gropius considerou tanto a execução manual quanto a industrialização como ECCO!

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Walter Gropius

partes de um mesmo processo. O artífice deveria criar, fornecer as idéias, ao passo que a indústria se encarregaria de fabricar em grande escala o que havia sido criado,. O arquiteto italiano Leonardo Benevolo, em seu livro Introdução à Arquitetura, diz que isso significou a aceitação dos artistas no ciclo econômico de produção. Pouco antes da Bauhaus haver sido fechada pelos nazistas, a escola foi dirigida pelo arquiteto Ludwig Mies Van de Rohe. Foi Van de Rohe quem primeiro criou edifícios cobertos de vidro, tão comuns hoje em dia. Quando, finalmente, a escola cerrou suas portas, muitos de seus professores mudaram-se para os Estados Unidos. Lá o estilo arquitetônico desenvolvido na Bauhaus tornou-se a base do estilo internacional, adotado nos anos consecutivos por arquitetos no resto do mundo. Oscar Niemeyer, por exemplo, foi muito influenciado pelo Estilo Internacional. E apesar de a arquitetura pós-moderna considerar a herança construtivista da escola alemã ultrapassada, o papel da Bauhaus na história da arquitetura está com certeza garantido. Até porque, como disse Lucio Agra na entrevista que concedeu à revista Ecco! (p. 6), “nada se ultrapassa por decreto” e muito da arquitetura contemporânea é uma reinvenção da herança nos deixada pela Bauhaus.


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Não foi só na arquitetura que a Bauhaus deixou sua herança. O design de produtos é também herança dessa escola. Dois fatores a transformam num marco no design moderno. O primeiro diz respeito ao fato de não ser ela uma escola de arquitetura exclusivamente. Sim, Gropius acreditava que a expressão máxima da arte era a arquitetura, mas justamente porque a arquitetura seria a junção de todas as artes. Por isso a escola tinha diversas oficinas e classes. Pintura, escultura, artes gráficas, tipografia, olaria e criação de móveis eram apenas algumas delas. Outro fator era justamente que a escola via a industrialização como parte do processo de criação. Logo, os artistas criavam um objeto, e a indústria se encarregava de produzir aquela criação em grande escala. Produtos similares aos criados na Bauhaus como, por exemplo, as cadeiras de aço tubular, podem ser encontradas até hoje em algumas lojas.

ECCO!

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arTES

MONDRIAN Victor Mozzaquattro


Piet Cornelis Mondrian (1872-1844) foi mais um dos grandes gênios do mundo artístico, que através de suas criações inovadoras mudou a forma de se fazer e ver a arte. Holandês e calvinista, Mondrian, seguiu a carreira de pintor mesmo enfrentando resistência, principalmente de seu pai. Formouse na Academia de Belas Artes de Amsterdã, e, influenciado pelo cubismo criou o neoplasticismo ou De Stijl (nome da revista neoplasticista que fundou com um grupo de amigos em 1917). Com sua arte influenciou e influência muitos pintores, publicitários, designers e principalmente arquitetos na Europa e em várias outras partes do mundo. Foi a partir de uma viagem que fez à França em 1912, que Mondrian se deparou com o cubismo analítico, que exerceu sobre ele influência decisiva para o desenvolvimento de seu novo estilo de fazer arte, o chamado Neoplasticismo (batizado pelo próprio Mondrian) ou também denominado como De Stijl.

Mondrian criou uma arte radical, que, apesar de explorar conceitos presentes na arte clássica, como por exemplo a busca pela perfeição das formas, era abstracionista. O artista utilizava em suas obras as cores primárias (amarelo, azul e vermelho) em contraste com o branco e o preto, juntamente com o uso de retas verticais e horizontais, formando retângulos e explorando a redução abstrata das figuras. O intuito de Mondrian era desenvolver obras não-figurativas, com formas desiguais, mas que ao mesmo tempo fossem equilibradas, contínuas e harmoniosas, para alcançar a “realidade” através de uma arte “pura”, seguindo as leis da natureza. Após o surgimento do Neoplasticismo, Mondrian fundou juntamente com Theo Van Doesburg e alguns outros amigos, a revista De Stijl (O Estilo), com o objetivo de levar este novo movimento de vanguarda para toda a Europa. As suas primeiras tiragens se deram em 1917. Foram pequenas, é certo, mas sua circulação serviu como eixo de ligação para que as idéias e teorias da nova vanguarda chegassem até os artistas da época, ganhando assim novos adeptos e influenciando cada vez mais artistas nos mais variados campos da arte.


opiniao


Matheus Perez

O construtivismo prova a inventividade artística, pois todas as três de suas principais vertentes - o construtivismo russo, o De Stijl, e a Bauhaus - tiveram características únicas, apesar de possuírem um objetivo em comum

Atualmente, tanto o construtivismo russo quanto o De Stijl holandês, a Bauhaus e o estilo internacional, são considerados parte do movimento construtivista. Parte disso se deve ao fato de que os movimentos surgiram quase que simultaneamente com o objetivo de construir uma nova sociedade através da arte. Além disso, todos os três movimentos romperam com os conceitos artísticos da época ao adotar o abstracionismo. Segundo Mondrian, entretanto, sempre “houve diferenças no ponto de vista.” A Bauhaus foi o ramo do construtivismo que melhor sintetizou os elementos presentes tanto no neoplasticismo (De Stijl) como no movimento russo. Os motivos desse harmonização podem ser notadas ao se estudar a história da escola alemã. Quando foi fundada, a Bauhaus possuía um enfoque expressionista, mas isso mudou em meados de 1923 devido a vários fatores. O primeiro deles pode ser considerado a mudança de Theo van Doesburg para Weimar, em 1922. Doesburg havia, juntamente com Mondrian, fundado o De Stijl, mas era muito mais ativo do que ele em espalhar suas teorias artísticas pela Europa. Ele tentou lecionar na Bauhaus, mas foi rejeitado por Gropius. Doesburg então se mudou para uma casa próxima da escola e passou a oferecer cursos livres aos

alunos da Bauhaus. Gropius tentou, sem sucesso, controlar os efeitos que as idéias neoplasticistas estavam tendo na produção da escola. No ano seguinte dois importantes artistas passam a lecionar na Bauhaus: Vassily Kadinsky e Lázló Moholy-Nagy. As teorias de Kadinsky haviam influenciado tanto o suprematismo quanto o construtivismo na Rússia. E o húngaro MoholyNagy havia sido fortemente influenciado pelo construtivismo russo, que havia se espalhado pelo leste europeu. Ainda em 1923 Gropius, em sua palestra Arte e Tecnologia: uma nova unidade, admite o poder da indústria e o papel da arte em prover inventividade aos projetos industriais. Esse discurso coloca o design e o funcionalismo como bases da produção da Bauhaus. É possível afirmar que o que foi produzido na Bauhaus é uma releitura do construtivismo russo e do De Stijl. Quando a Bauhaus foi fechada pelos nazistas e, mais tarde, durante a II Guerra Mundial, muitos artistas se mudaram para os Estados Unidos, lá puderam influenciar muitos outros artistas e por eles foram influenciados,de forma que surgiu o estilo internacional, uma releitura do construtivismo. E assim também é hoje. Releituras e reinvenções continuam a fazer da arte algo sempre inovador.

ECCO!

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criacao

Hallan Batman

Sao Paulo ConstRutivista

ECCO!

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Matheus Perez

A arte construtivista buscava reduzir-se à formas elementares e cores primárias, o que acabou resultando na arte abstrata. Mas para tal era necessário desconstruir a paisagem ao redor e ser capaz de ver as formas presentes nas cenas cotidianas. Nesta seção, embora não tenhamos procurado alcançar a arte abstrata, procuramos mostrar um pouco de São Paulo da mesma forma como a cidade poderia ter sido observada pelos construtivistas.

ECCO!

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ECCO!

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Hallan Batman

Hallan Batman


Max de Souza

Matheus Perez

M u s e u d e a r t e d e s 達 O p a u l o

ECCO!

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contexto

Lulalá O construtivismo russo foi marcado pelo agit-prop, a arte de agitação, propaganda da revolução e do regime socialista. Para trazer essa faceta do construtivismo para o mundo atual, decidimos imaginar como seria a propaganda da época no contexto em que vivemos. E nada mais em pauta do que a possibilidade do terceiro mandato de Lula.

ECCO!

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A seção contexto tem como objetivo traduzir um dos conceitos do movimento tema da edição da revista e aplicá-lo ao contexto moderno. Os conteúdos dessa seção podem não expressar necessariamente a opinião dos editores da revista Ecco!


prumo


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