(a)mar, enquanto o barro não dorme: exposição de cerâmica | António Vasconcelos Lapa

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(a)mar enquanto o barro nĂŁo dorme AntĂłnio Vasconcelos Lapa

Galeria Municipal do Montijo

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(a)mar enquanto o barro não dorme exposição de cerâmica

António Vasconcelos Lapa 15 junho a 03 agosto 2019 Galeria Municipal do Montijo

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Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; - depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar. Cecília Meirelles

Na exposição “(a)mar, enquanto o barro não dorme” de António Vasconcelos Lapa, o autor, com as suas mãos, abriu-nos o seu mar e convida-nos a todos a mergulhar nele. Com as suas mãos, de facto essenciais no processo de criação de um ceramista, materializou a fauna, a flora e até algumas das figuras fantásticas que habitam o nosso imaginário quando pensamos no mar. Na sua fantástica linguagem visual, cheia de cores, transparece a riqueza do seu universo onírico, permitindo-nos visitar memórias da nossa infância, numa fruição multissensorial. António Vasconcelos Lapa nascido em 1945, na cidade de Lisboa, onde ainda hoje, vive e trabalha. Filho do pintor Manuel Lapa, formou-se em Escultura Decorativa pela Escola António Arroio e possui também o curso de cerâmica do “Instituto Statale d’Arte per la Ceramica”, de Faenza, Itália, enquanto bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi professor de cerâmica, tapeçaria e tecelagem. Nesta exposição de cerâmica, onde todos, somos convidados a um mergulho, neste quase início de verão, são apresentadas peças inéditas que foram especialmente concebidas a pensar na Galeria Municipal do Montijo.

O Presidente da Câmara Municipal

Nuno Ribeiro Canta

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(a)mar, enquanto o barro não dorme a propósito das cerâmicas de António Vasconcelos Lapa De há uns tempos para cá, a cerâmica tem vindo a ganhar maior visibilidade nos grandes cenários da arte contemporânea. Emergindo de uma espécie de zona de penumbra na teatralidade que caracteriza a mediatização da cultura dos nossos dias, na qual a cerâmica vinha sendo associada à manualidade e proscrita por espartilhos pseudo-conceptuais primários, ela evidencia-se recentemente iluminada pelos projetores de cena, parcialmente redimida de preconceitos afinal transmissores de velhas dicotomias (artes liberais/mecânicas, eruditas/populares, nobres/decorativas). Anthony Gormley, Ai Wei Wei, Grayson Perry, entre muitos outros, exemplificam diversamente essa reabilitação. Em muitos casos de hoje, a cerâmica assume a artesanalidade mediante um politicamente correto desfazer de fronteiras entre high e low, desde que salvaguardando que, na maioria das vezes e em nome do tal política ou conceptualmente correto, o artista não suje as mãos na cadeia processual que, ao fim de contas, lhe sustenta uma posição cimeira, senão mesmo quase aristocrática, na hierarquia da criação, do trabalho (e da mais valia). Ora, o trabalho de António Vasconcelos Lapa afirma-nos precisamente uma outra coisa que, de certo modo, é coerente com o percurso peculiar do autor. Filho do artista Manuel Lapa, António Vasconcelos Lapa cursa escultura na Escola António Arroio e, após uma marcante interrupção de estudos para serviço militar obrigatório na guerra colonial em Angola, retoma a prática artística no convívio familiar e, já numa via de afirmação personalizada e alternativa aos meios académicos convencionais, dedicase a uma formação específica em cerâmica, em Itália, apoiada pela Fundação Gulbenkian. De 1971 em diante, é docente de Educação Visual e Tecnológica no Ensino Básico do 2.º ciclo durante trinta anos e ensina cerâmica no IADE até 1989, desenvolvendo em paralelo trabalho artístico atestado por dezenas de exposições e intervenções. Com a sua manualidade livre de cuidados, sensual e vibrante, a obra de António Vasconcelos Lapa distingue-se assim dos jogos cénicos que refiro atrás, para descobrir um caminho próprio, sem receio do sujo do pó e da argila, do calor extremo dos fornos, da transformação quase alquímica da matéria, do saber que esta requer e desafia. Agora, mais especialmente, instaura um teatro próprio de objetos e formas de coisas que, entre o lado adormecido do barro e a sua forma e cor final depois da cozedura, despertam uma essência expressiva que é mais forte, no seu caso, quando menos visível: a presença humana. E, com ela discretamente elidida nessa espécie de sono, oferece uma prova de vida que envolve e supera as formas que assume pois, a haver um lado teatral no seu trabalho, ele acontece quando acorda em nós, espectadores, os atores que somos nesse espetáculo, as figuras humanas que o revelam, dispensando outras. Por outro lado, se é connosco principalmente que o barro acorda, outra prova de vida reside no modo como as cerâmicas de António Vasconcelos Lapa testemunham a história da própria arte cerâmica, ecoando voluntária ou involuntariamente objetos e nomes que estão presentes no seu adn criativo. A lista de casos da sua família genética poderia encher páginas, mas basta destacar pelo menos Jorge Barradas, Querubim Lapa e Jorge Vieira e, sem esquecer Picasso ou a cena internacional reativada principalmente depois de 1965, referir de passagem Maria Keil, Cargaleiro ou, mais recentemente, Virgínia Fróis, Noémia Cruz, Elsa Gonçalves e Pedro Fortuna (este não apenas com discreta mas excelente obra artística em processos cerâmicos como também investigador do tema nas suas vertentes contemporâneas). E, além 7


de outros nomes mais novos ainda, que aqui não cabem por agora, ou do eixo popular pontuado por Rosa Ramalho e pelos bonecos de Estremoz, não há como esquecer no espaço nacional os mais antigos Jorge Colaço e Rafael Bordalo Pinheiro e, sobretudo, a magnífica tradição da azulejaria portuguesa – embora esta, tal como as sardinhas devoradas em fevereiro, venha sendo abusada como imagem de marca para os cardumes do turismo desenfreado. Também é certo que, independentemente disso, a cerâmica tem história e qualidades de plasticidade mais do que suficientes para sustentarem a recuperação e vitalidade do seu lugar hoje; o barro é, afinal, um dos materiais ancestrais mais ricos de potencialidades expressivas e, possivelmente, até resiste como adequado em termos ecológicos (pois se a argila é terra extraída, também a ela se devolve, apesar das transformações a que é sujeita com a cozedura). Além disso, nessa sua plasticidade, que ultrapassa o domínio da visualidade (confirmando como o termo “artes visuais” é redutor), o barro associa-se ao trabalho das mãos e, por essa via, à relação com o corpo humano, fazendo da obra um testemunho factual e, de novo, potente veículo da nossa presença enquanto matéria, enquanto corpo que se revê e dialoga na condição física: na pele e noutras carnalidades, na respiração ou no pulsar cardíaco, na viagem dos impulsos neuronais, em consciência, vigília ou sono profundo. O barro que simplesmente se risca ou o barro que se modela fixa, sempre, um registo primordial do gesto, uma marca do contacto, do toque – e até quando isso se faz mecanicamente não se ilude essa relação, mesmo que seja “diferida” para uma outra forma de vida, mesmo que durma enquanto seca, antes de se metamorfosear na cozedura. Tudo isso nos remete, pois, para provas de vida. Mas, mais ainda, isso acontece e não é só porque as formas das cerâmicas de António Vasconcelos Lapa são intensamente manuais, corpóreas, demonstrando uma presença física com gesto e escala humana, mas também porque evidenciam na produção (e reprodução) dessa presença o convite a uma experiência comum, de natureza física, táctil. A dinâmica construtiva, tridimensional e colorida das peças, a sua colocação e leitura no espaço real exigem, desde logo, deambulação, visionamento móvel. As suas peças com elementos articulados com arame ou encaixes, por exemplo, sugerem ao primeiro olhar, quando oscilam subtilmente, a promessa de maior mobilidade e, assim, abrem-se à possibilidade de manipulação, desafiam-na mesmo. E, com esse gesto atrevido ou tímido a que o leitor não resiste, enceta-se um jogo teatral de relacionamento, que a escala acessível favorece. O leitor torna-se ator, ou seja, parte da obra, para que esta se complete. Ao mesmo tempo, as peças impõem-se na singularidade de cada uma e também de cada sua componente, pois destacam-se inúmeros pequenos constituintes que são sempre diferentes na repetição aparente, por vezes num contágio formal sob uma espécie de displicência algo humorística. Mas, se essa repetição nos seduz pela diversidade em cada fragmento construtivo que perfaz um todo coerente em cada uma das obras, estas também saem reforçadas pela sua apresentação em grupos, acentuando pela proximidade as afinidades e diferenças, as dinâmicas conotativas de um todo constituído por partes que se torna, então, paisagem. No caso desta exposição e das peças que a integram, suspeita-se que cada objecto não apenas narra mas antes desencadeia uma história que nos inclui então, num universo marinho ou aquático de um mundo familiar e, contudo, inusitado. E entende-se ainda melhor o título com que o autor nomeia a exposição – (a)mar. Na ação nele contida indicia, lucidamente, uma forma de vida (estranha, diria Amália): uma história que se adivinha, bastando para tal um simples gesto sensível, bastando, descuidadamente, acompanhar o despertar do barro. 1 de maio de 2019, Isabel Sabino 8


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António Vasconcelos Lapa www.avlapa.com Exposições individuais 2019 Galeria Monumental, Lisboa. 2018 FRUTOS, Galeria de Arte Periférica, Lisboa; Viagem ao Barroco no Jardim Botânico da Ajuda, Lisboa. 2017 BICHOS na Galeria Arte Periférica, Lisboa. 2016 Jardim Dr. Santiago, Moura. 2015 Museu de Olaria, Barcelos. 2014 Jardim Botânico Tropical - Palácio dos Condes da Calheta, Lisboa; CONVERSA, Jardim Botânico de Lisboa, Lisboa; ENCONTRO COM HISTÓRIAS, Jardim Botânico Univ. Porto, Porto; VOANDO, Abrantes. 2013 Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, Lisboa; Fundação Portuguesa das Comunicações, Lisboa; 2012 CAMINHOS na Casa de Santa Maria, Cascais; Museu de Alberto Sampaio, Guimarães. 2011 Museu Rafael Bordalo Pinheiro, Lisboa. 2009 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa; Galeria Municipal de Abrantes. 2004 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa. 2002 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa. 2002 Galeria Municipal de Abrantes. 2000 Embaixada de Portugal, Bruxelas. 1999 Fábulas de La Fontaine, atelier, Lisboa. 1997 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa. 1997 Alice no País das Maravilhas, Galeria de S. Francisco, Lisboa. 1996 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa. 1995 Cerâmica, no seu atelier, Lisboa. 1992 Galeria de S. Francisco, Lisboa; Museu do Traje, Lisboa. 1990 Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, Matosinhos. 1989 Câmara Municipal, Moura. 1986 Tapeçaria, inauguração das novas instalações da livraria Barata, Lisboa. 1984 Galeria S. Francisco de Holanda, Beja.

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Fichas Técnicas Ficha Técnica [catálogo]

Exposições Colectivas 2015/16 PERCURSOS, Estufa fria. António Vasconcelos Lapa e Bárbara Assis Pacheco, Lisboa. 2012 Arquivos Secretos, Arquivo Municipal de Lisboa – fotográfico; Angelorum, no âmbito da capital europeia da cultura no Museu de Alberto Sampaio, Guimarães; Cerâmica, Monte de Fralães. 2011 Flores do Cabo. 2006 III Exposição Internacional de artes Plásticas, Sesimbra. 2005 II Exposição Internacional de artes Plásticas, Sesimbra. 2005 VII Bienal Internacional de Cerâmica, Aveiro. 1994 Cerâmica, Câmara Municipal, Vila Velha de Ródão. 1991 Cerâmica, Galeria de Correio-Mor, Sintra. 1986 Cerâmica e fotografia, 10.º aniversário da Linguacoop, Lisboa; Tapeçaria e cerâmica, com Francisco Janeiro, Hotel Penta, Lisboa. 1985 Tapeçaria e cerâmica, Galeria Varandinha de Alfama, Lisboa; Cerâmica, Cooperativa Árvore, Porto. 1960 Azulejos para capela, integrando a exposição comemorativa do IV centenário da cidade do rio de Janeiro, Brasil. Colecções Está representado em diversas colecções privadas com trabalhos de tapeçaria e cerâmica em Portugal, França, Holanda, Itália, Alemanha, Espanha, Brasil, Suíça e EUA. Ilustração 2000 Livro “O Peixinho Folha-de-Água”, Virgílio Alberto Vieira (Edições Caminho). Obras Públicas 1999/2000 Tapeçaria para o Palácio da Justiça, Coruche. 1971 Concepção, por encomenda do Ministério das Obras Públicas, de azulejos de padrão para a Estação Fronteira de Marvão; azulejos para o restaurante da mesma, com base em maqueta de seu pai, pintor Manuel Lapa. 1971 Azulejos de padrão para a Companhia de Seguros Império, Lisboa. 1968 Desenhos gravados em pedra, Hotel dos Templários, Tomar.

Título (a)mar, enquanto o barro não dorme: exposição de cerâmica | António Vasconcelos Lapa Edição Câmara Municipal do Montijo Autor Câmara Municipal do Montijo Organização Galeria Municipal do Montijo Texto introdutório Isabel Sabino Fotografia Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Projeto gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Divulgação Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Tiragem 350 ex. ISBN 978-989-8122-62-9 Impressão Espírito de Papel Depósito Legal 457542/19

Ficha Técnica [exposição] Produção e Organização Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Design Gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montagem Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Divisão de Obras, Serviços Urbanos e Ambiente Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montijo, junho 2019 Realizada em parceria com a Galeria Arte Periférica

Galeria Municipal do Montijo Rua Almirante Cândido dos Reis, 12 • 2870-253 Montijo Telefone: 21 232 77 36 E-mail: cultura@mun-montijo.pt Horário: 2.ª a Sábado das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 www.mun-montijo.pt

www.facebook.com/cmmontijo

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