de 21 de abril a 3 de junho 2017 Câmara Municipal do Montijo
«Vamos apresentar-nos. Somos bonecas no (e do) mundo que almejaram sempre alegrar a vida da pequenada, em particular, das meninas. Assim, somos muitas e divertidas.
Família portuguesa, 1956
Lisboa, 1960
A partir dos anos de 1960 começámos a brincar com os meninos mas na condição “viril” de GI Joes, astronautas, cowboys e super-heróis – não fossem os papéis sociais atribuidos aos dois géneros ficarem de pernas para o ar. Ah pois... esta questão do mundo feminino e do mundo masculino tem muito que se lhe diga. Os preconceitos e os estereótipos culturais são muito poderosos e, para a maioria dos seres humanos um menino a vestir uma boneca ou uma menina a brincar “às guerras” com um boneco vestido de soldado não são bem vistos. Desta forma, vamos ficar no limbo tradicional. Nós somos feitas (os) de porcelana, de pano, de borracha ou de plástico e pertencemos a vários colecionadores e “ajuntadores” de brinquedos os quais têm muito gosto em nos apresentar ao público. Alguns de nós foram intervencionados por José Vítor e por Ondina Pires, que não só são nossos amigos como demonstram um grande sentido de humor; os outros ficaram “a olhar para o boneco” bem protegidos nos seus casulos de vidro.
Meninas francesas, 1902
Menina e as suas bonecas, 1911
Crianรงa com carros, s/ data
Meninas francesas, 1902
As nossas proveniências são igualmente diversificadas. Viemos de Espanha, Brasil, Angola e Portugal. Por exemplo, as nossas irmãs de pano sairam das mãos das laboriosas “fadas” Maria de Fátima Lourenço (Pinhal Novo) e de Janete Barros (Brasil) e já estão prontas a calcorrear o mundo de lés-a-lés. Muitas de nós foram encontradas em lojas que fecharam portas e nunca tiveram o privilégio de brincar “aos jantarinhos” ou de servir de conforto emocional às crianças. Outras tiveram a sorte de brincar e passaram, inclusive, por grandes “tormentos” – cabelos e rosto pintados, mãos roídas e trinta por uma linha! Estas últimas têm muitas estórias para contar...mas isso fica para outra ocasião. Meninas na praia
Nós, bonecas, somos a metáfora do ser humano. Podemos “nascer” em berço de ouro ou em casas muito humildes, tão modestas que não somos mais do que bonecas doadas no Natal. Muitas vezes, passamos das mãos de meninas e meninos ricos para as mãos de crianças remediadas, e depois, na última escala social, já um pouco gastas, vamos para as mãos dos mais pobres. Quando totalmente gastas, terminamos a nossa existência na lixeira municipal, uma espécie de cemitério para brinquedos. Com muita sorte, podemos “ressuscitar” como obras de arte e brilhar tenuamente numa galeria de arte ou num museu. Depois desta breve apresentação, pensamos que é maravilhoso estarmos aqui presentes e prontas a sermos observadas e admiradas. Faznos muito bem ao (L) ego.
Fotografia de Helena Caldas Roma, Itália, 2016
Hospital de Bonecas, Lisboa
Fiquem ainda com este encantador poema do poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918).
A Boneca Deixando a bola e a peteca, Com que inda há pouco brincavam, Por causa de uma boneca, Duas meninas brigavam. Dizia a primeira: “É minha!” – “É minha!” a outra gritava; E nenhuma se continha, Nem a boneca largava. Quem mais sofria (coitada!) Era a boneca. Já tinha Toda a roupa estraçalhada, E amarrotada a carinha. Tanto puxaram por ela, Que a pobre rasgou-se ao meio, Perdendo a estopa amarela Que lhe formava o recheio. E, ao fim de tanta fadiga, Voltando à bola e à peteca, Ambas, por causa da briga, Ficaram sem a boneca...
Título Bonecas no Mundo Textos e Conceito Ondina Pires Colecionadores e “ajuntadores” de brinquedos Ondina Pires, Sylvia Freitas, Fernanda Moreira, Carolina Ferreira, Pedro Jesus, Graça Ferreira, Tilia Gualui, Maria de Fátima Lourenço, Janete Barros, Xavier Maltez, Joaquim Mira, Rosângela Soares, Carla Pacheco, José Vítor, Carlos Anjos Fotografia Ondina Pires, Hospital de Bonecas (Lisboa) Eduardo Martins (GCRP) Montagem Ondina Pires, Fernanda Pinho Design Duarte Crispim (GCRP) Agradecimentos Câmara Municipal do Montijo, Hospital de Bonecas - Manuela Cutileira
Museu Municipal - Casa Mora Horário de funcionamento: de terça a sábado // das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30
www.mun-montijo.pt
www.facebook.com/cmmontijo