Aldeia Gallega nas Vésperas da República - As Eleições Municipais de 1908

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Aldeia Gallega nas Vésperas da

República

.

As Eleições Municipais de 1908



Aldeia Gallega nas Vésperas da República . As Eleições Municipais de 1908

NOTA INTRODUTÓRIA Assistia-se, nos primórdios do século XX, a um franco progresso económico e social, na então vila de Aldeia Galega do Ribatejo, actual cidade do Montijo. Com cerca de 10.000 habitantes, estaria entre as mais populosas vilas da margem esquerda do Tejo, pertencendo, mesmo, a um reduzido número de localidades do país onde se poderiam encontrar unidades industriais. Às tradicionais actividades de carácter industrial, como as da cerâmica ou da produção de vinho e azeite, juntam-se, ainda na primeira década do século XX, as novas indústrias corticeira e de transformação da carne de porco. A fábrica de Isidoro Maria de Oliveira, só para citar um dos casos de maior sucesso empresarial do concelho, já estava a laborar, nos primeiros dias do ano de 1908, na transformação de carne de porco, e pudemos mesmo testemunhar a exportação dos seus produtos para o Brasil. Idêntica actividade industrial e de exportação, desta feita para África, mantinha, em Outubro de 1907, a empresa Maximiano António da Silva & Irmão, igualmente sediada na vila de Aldeia Galega. São indícios de que o ramal de caminho-de-ferro de Pinhal Novo a Aldeia Galega, inaugurado no dia 4 de Outubro de 1908, e glória da última vereação monárquica, antes de causa, já fora consequência do desenvolvimento verificado na vila. Por todo o país, as ideias republicanas germinaram nos meios urbanos da alta e média burguesia, entre comerciantes, industriais, empresários e profissionais liberais. Na margem sul do Tejo, o concelho de Aldeia Galega do Ribatejo, tal como os de Almada, Setúbal, Seixal e Barreiro, reunia as condições de expansão do ideal republicano. Particularmente após a fundação, em 1906, do Centro Republicano de Aldeia Galega, sucedem-se os eventos de propaganda republicana, com a presença assídua das mais altas figuras do Partido Republicano Português, entre as quais António José de Almeida, Afonso Costa, Bernardim Machado e Agostinho José Fortes. 03


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Um clima de exaltação republicana instala-se na vila: instituições como as Misericórdias do concelho elegem, a partir de 1908, provedores republicanos – Francisco Freire Caria Júnior, por Aldeia Galega, e Manuel José Salgueiro, por Canha; o único jornal da vila, O Domingo, é dirigido por José Augusto Saloio, um dos mais fervorosos adeptos da República, que, apesar de andar a contas com a justiça, em processo crime movido, no ano de 1907, por ter “levantado gritos subversivos”, não deixa de promover no seu jornal, em 1908, uma subscrição pública de apoio à família do regicida Manuel Buíça. As eleições que, em 1 de Novembro de 1908, deram uma maioria esmagadora ao Partido Republicano nos destinos da vereação da Câmara Municipal da então Aldeia Galega do Ribatejo, actual Montijo, foram a consequência lógica do ambiente que se vivia. Dos 1742 eleitores recenseados no concelho (1448, na Freguesia do Espírito Santo de Aldeia Galega do Ribatejo, 212, na Freguesia de Sarilhos Grandes, e 82, na Freguesia de Canha), 760 votaram na lista do Partido Republicano Português e, apenas, 24 na lista monárquica. Razão teria António José de Almeida para, na sessão da Câmara de Deputados de 11 de Agosto de 1909, ter classificado a vila de Aldeia Galega do Ribatejo como a terra mais maciçamente republicana de Portugal. Francisco Correia Historiador Local

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AGRADECIMENTOS A Câmara Municipal de Montijo agradece à Junta de Freguesia de Montijo, à Banda Democrática 2 de Janeiro, à Senhora D. Maria João Gouveia Vitorino da Mota Boavida, à Senhora D. Maria Helena Vasconcelos da Cruz Ramalho, e muito reconhecidamente aos Herdeiros da Senhora D. Maria Júlia Ferreira Giraldes pela doação do espólio pessoal do Senhor Manuel Ferreira Giraldes, primeiro Presidente da Câmara Municipal de Aldeia Gallega eleito pelo Partido Republicano Português, a gentileza que tiveram ao cederem peças, possibilitando assim a realização desta exposição.

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Um longo caminho até à República Maria Alice Samara*

Algumas localidades da margem sul do Tejo anteciparam-se aos republicanos da capital, conseguindo hastear a bandeira republicana a 4 de Outubro. Esta antecipação na margem sul não foi acidental, podendo ser explicada pelo trabalho que vinha a ser levado a cabo nestas localidades. Podemos reconstituir as linhas de força do republicanismo1 e reconstruir a organização e a propaganda em Almada, na Costa da Caparica, na Cova da Piedade, Sesimbra, Seixal, Aldeia Galega, Alcochete, Barreiro, Moita, etc. Podemos conhecer, em alguns casos, duas gerações de “combatentes”. Nestas localidades, a luta republicana contou com a colaboração do mundo operário e dos trabalhadores, estabelecendo-se convergências e alianças. A rede montada incluía centros, escolas e colectividades, mostrando assim que o republicanismo não era só um projecto político e social, mas também cultural. O Partido Republicano Português (PRP) nasceu em 1876, um ano depois do Partido Socialista. No entanto, entendido numa forma mais lata, enquanto ideia, aspiração e esperança, o republicanismo antecedeu a formação do PRP e sobreviveu à queda da República, em 1926. Ou seja, podemos fazer referência à geração republicana de 1848, traçando a partir deste momento a genealogia do republicanismo, e podemos encontrar, depois da queda da I República, um património político republicano, ao longo do século XX. A ideia republicana não morreu no 28 de Maio de 1926, pelo contrário, pegou em armas contra a ditadura, foi oposição no Estado Novo e permaneceu viva. O reviralho2, activo até finais dos anos 30 do século XX, pretendia restaurar a “República Democrática”. O liberalismo *Investigadora do Instituto de História Contemporânea. Veja-se O Mundo, final de 1910, inícios de 1911. 2 Veja-se FARINHA, Luís, O Reviralho. Revoltas republicanas contra a ditadura e o Estado Novo. 1926-1940, Lisboa, Estampa, 1998. 1

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republicano, mais tarde apropriado pela corrente socialista, foi um dos grandes inimigos do Estado Novo. A fundação do partido é uma das datas chave de uma longa luta que chegou a bom porto com a implantação da República em 1910. No entanto, foi na década de oitenta do século XIX que o movimento conseguiu alcançar uma outra consistência. Assim, há a salientar as celebrações do Centenário de Camões em 1880 como evento catalizador do início do crescimento do republicanismo. Este movimento ganhou espaço político e conseguiu começar a chegar às massas populares, nesta comemoração com um fundo nacionalista e patriótico. Alguns observadores3 quiseram ver aqui o ponto de partida no processo de queda da monarquia, já que o movimento republicano, que capitalizara a sua presença na organização dos festejos, ao contrário do Estado e da monarquia, começara a ganhar raízes. Fernando Catroga4 matizou esta ideia, procurando outras causas para a génese do partido republicano, como a luta contra o tratado de Lourenço Marques e as Comemorações Pombalinas. O caminho trilhado por estes republicanos não foi isento de altos e baixos, de vitórias, mas também de derrotas. Um dos episódios políticos mais marcantes foi o “31 de Janeiro”. No contexto da crise do Ultimatum (Janeiro de 1890), com um ambiente político ao rubro depois do que foi considerado como uma humilhante imposição inglesa, frustrando os projectos africanistas do “mapa cor de rosa”, o movimento republicano, inicialmente apanhado de surpresa, capitalizou o descontentamento, aproveitando a seu favor uma conjuntura política de crise, na qual se exacerbavam os sentimentos nacionalistas. Para parte da historiografia actual, esta conjuntura foi pensada como o princípio do fim da monarquia. É importante realçar que o republicanismo sempre soube capitalizar as crises políticas ou criar eventos políticos, de modo a ciclicamente arrebatar os ânimos da opinião pública. As dificuldades do Estado português como potência colonial foram apenas uma pequena 3

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SANTOS, Francisco Reis, “O movimento republicano e a consciência nacional” in Montalvor, Luís de (dir), História do regimem republicano em Portugal, Lisboa, Ática, 1930-32. 4 CATROGA, Fernando, O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910, Lisboa, Editorial Notícias, 2000, 2.ª edição.


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parte das críticas que se alargavam ao jovem rei D. Carlos I, aos partidos, ao regime monárquico. Neste ambiente anti-inglês e anti-monárquico, parte do movimento republicano lançou-se numa tentativa revolucionária para derrubar a monarquia. Chegaram a içar a bandeira de um centro republicano, ao som de A Portuguesa, letra e música nascidas precisamente no contexto da crise do Ultimatum e que seria o hino 5

oficial depois de 1910 , e a proclamar a República, mas a defesa da monarquia levou a melhor nesta primeira partida. Embora sendo uma derrota, a memória desta revolta, sempre lembrada, passou a fazer parte da história

do movimento e, de alguma

maneira, transformou-se num estímulo. Ano após ano era comemorado o “31 de Janeiro”, não deixando esquecer que chegaria a hora

Alegoria ao “31 de Janeiro” - Pormenor - Casa Museu Leal da Câmara

da República. Durante esses tempos de combate e de propaganda, desde a formação até ao “5 de Outubro”, o PRP caminhou lado a lado com outras forças que se pensavam progressistas e modernas, nomeadamente os socialistas, anarquistas e livre-pensadores. As relações entre estes diferentes campos políticos não foram sempre fáceis, discordando, por vezes, em questões de princípios, de táctica ou estratégia. Partilhavam ideias, mas podiam discordar de prioridades, nomeadamente entre a questão política e a social. 5

Veja-se a descrição em RÊGO, Raúl, História da República, Círculo de Leitores, 1986-1987, pp. 191 e seguintes. 09


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Muito embora se possa utilizar a data de criação do PRP como marco para balizar esta conjuntura, o republicanismo foi muito mais do que um partido político. Mas visto neste prisma, foi uma organização com uma chefia colectiva – o Directório – , constituída por uma rede de organizações (centros) com relativa autonomia. Não foram raros os desentendimentos e os dissídios entre diferentes facções ou grupos dentro do PRP, patentes desde a fundação do partido até às vésperas da República e depois do 5 de Outubro. Em 1912, o velho partido estava já dividido no Partido Democrático (que herdou a “máquina” do PRP), de Afonso Costa, no Partido Unionista, de Brito Camacho, e no Partido Evolucionista, de António José de Almeida. No pós-guerra, o campo político-partidário não estabilizou, assistindo-se, pelo contrário, tanto a fusões como a cisões, nomeadamente no seio do Partido Democrático. No entanto, ao longo do período de propaganda, o PRP lutou sempre pela unidade e pela organização, procurando harmonizar as diferentes vozes no seu seio. Quando se olha para a chefia do partido, encontramos um conjunto de vultos de grande importância nacional, como por exemplo Afonso Costa, António José de Almeida, Brito Camacho, Magalhães Lima, João Chagas, Bernardino Machado, para citar apenas alguns e, numa análise mais fina, encontramos vários líderes locais e regionais que têm uma importância central para o desenvolvimento do partido numa determinada localidade ou região. Estes republicanos “locais” fizeram um trabalho de grande importância, pouco referido pela historiografia, mas essencial para o fortalecimento da ideia republicana. O republicanismo foi um movimento plural, feito a várias vozes, procurando convergências e alianças, aprendendo e experimentando formas de luta. No quadro geral, e necessariamente incompleto, do que significou a ideia republicana, o republicanismo tende a ser simplificado para efeitos descritivos. Mas nunca existia apenas uma sensibilidade ou facção republicana; estas variaram diacrónica e sincronicamente. Várias foram as “gerações” (aceitando aqui um conceito que merece aturada discussão) de republicanos e díspares as maneiras de pensar a República e as formas de a realizar. Dentro deste campo político são sugeridas divisões como republicanos jacobinos 10


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(Teófilo Braga), radicais (Teixeira Bastos) e independentes (Basílio Teles). No entanto, António Pedro Mesquita, que propõe esta classificação, considera que “De um modo geral, todo o pensamento é jacobino (...)” E adianta ainda: “ Ora, vista desta perspectiva, a República não é senão a consagração do ideal jacobino de 1820, permitindo superar as ambiguidades e contradições da monarquia representativa e vindicar o primado, de ora em diante absoluto, do princípio democrático, quer dizer, o primado da soberania nacional.”6 Cumpre salientar que em qualquer das correntes republicanas, o positivismo assume um lugar de grande centralidade, bem como o historicismo e o cientismo. Outra das divisões sugeridas diz respeito à acção política: depois dos fundadores (Elias Garcia) a geração “doutrinária” (Teófilo, Arriaga) cederia o passo a uma geração “combativa” ou do Ultimatum. Ou podemos ainda encontrar, como antitéticas, as linhas gradualistas e legalistas, por um lado, e a revolucionária, por outro. Não existia monolitismo no interior deste campo político. Bastaria analisar as diferentes posições quanto à implantação da República, com uma clivagem em torno da via legal e da via revolucionária. Se esta era um desiderato comum, a maneira de a realizar, quem o faria e qual a melhor altura eram questões que abriam dissensões dentro do Partido Republicano Português. O que se pode dizer com alguma segurança é que nos diferentes períodos existiram sensibilidades hegemónicas, que influenciaram o campo do pensamento e acção republicanas. Há lutas de poder entre diferentes sub-grupos deste mesmo campo político. Mais do que uma realidade, a unidade do republicanismo é uma construção dos próprios republicanos. O republicanismo foi, também, um movimento cultural que associava livre-pensadores, anti-clericais, socialistas, feministas, pacifistas, liberais, progressistas, um vasto caudal de homens e mulheres que se pensavam como cidadãos e, assim, procuravam um espaço de actuação política.

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MESQUITA, António Pedro, “O Pensamento Social e Político” in CALAFATE, Pedro (dir.) e PIMENTEL, Manuel Cândido, (Coord.), História do Pensamento Filosófico Português, Volume IV. O Século XIX, Tomo 2, Lisboa, Editorial Caminho, 2004. 11


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O movimento republicano era constituído pelo partido, pelas associações de classe, pelas escolas que fundavam, por algumas lojas maçónicas, pela Carbonária, pelos jornais, pelas bandas de música, pelos grupos de teatro, pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, pela Associação Promotora do Registo Civil, pelo Livre-Pensamento, para referir apenas alguns exemplos. Ou dito de outra forma, o republicanismo, desde a formação do PRP até à proclamação da República na varanda dos paços do concelho de Lisboa em 5 de Outubro, foi uma galáxia de organizações e de grupos mais ou menos informais, trabalhando tanto para a concretização dos seus objectivos específicos como para os comuns. Destes é importante fazer referência a dois, que se prendem com a questão política e a questão religiosa: lutava-se contra a monarquia, vista como a raiz de todos os males na vida política de então, e contra o peso da igreja católica, muito especialmente dos jesuítas, obstáculo a uma almejada transformação do súbdito em cidadão. O denominador comum que unia todos estes grupos e agentes era essencialmente político e cultural, não deixando,

As eleições para a vereação municipal de Lisboa Pormenor - Museu da Cidade Lisboa

contudo, de se registar a existência de preocupações sociais. Muito embora uma parte do movimento republicano desse prioridade à questão política, existiu sempre um grupo que desejava uma sociedade pautada pela dignificação do mundo do trabalho. Há um republicanismo com preocupações sociais, designadamente o Grupo Republicano de Estudos Sociais (criado em 1896). Discípulo de Teófilo Braga, Teixeira Bastos, por exemplo, assimilou aspectos do programa socialista operário. 7

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CATROGA, Fernando, O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910, Coimbra, Faculdade de Letras, 1991.


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A questão política detinha a centralidade no discurso propagandístico republicano, em detrimento de outras como a económica e a social, ao contrário das correntes socialistas. Isto 7

não significa que estas preocupações estivessem ausentes. Fernando Catroga explica que nalguns sectores se verificou a fusão da ideia republicana e socialista e mesmo a republicana e anarquista. Não se separava a questão do regime e a questão social (Teixeira Bastos, Felizardo Lima, Heliodoro Salgado, Boto Machado). Algumas das ideias do republicanismo social e progressista eram caras à intelectualidade ligada ao movimento operário. No período de assalto ao poder, de conspiração e de revolução, os republicanos, não sem receios, apelavam para a participação popular, inflamavam as audiências nos seus comícios, fazendo crer que feita a República a sua vida iria melhorar substancialmente. E os trabalhadores não deixaram de sonhar com essa nova existência, não deixavam de se entusiasmar com a ideia de revolução. Muitos deles abandonaram os seus “grémios profissionais e políticos”, motivados pelo entusiasmo e “confiança cega” nos republicanos e numa determinada ideia de República. Foi o “bloco social do 5 de Outubro”, que continha o radicalismo urbano e o mundo do trabalho, que viabilizou a revolução. Para os republicanos, na fase de propaganda, a República era vista como a salvação da Pátria, o ideal, a possibilidade de atingir um estádio de maior perfeição. Com optimismo de base positivista, consideravam que a República seria uma realidade inelutável. O advento da República “(...) era sentido como uma consequência inexorável de um destino inscrito na 8

própria evolução cósmica (...)”

“Segundo Teófilo, todos os problemas da nação, positivamente todos, teriam resolução definitiva e pronta com o advento da República.”9 Para além de uma campanha política, existiu um empenho numa campanha doutrinária, científica, pedagógica, cívica. Pretendia-se fazer uma “revolução cultural”, para que fosse possível levar a bom termo um processo evolutivo para um estádio civilizacional e societal 8

CATROGA, Fernando, O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910, Coimbra, Faculdade de Letras, 1991. Citado in MESQUITA, António Pedro, “O Pensamento Social e Político” in CALAFATE, Pedro (dir.) e PIMENTEL, Manuel Cândido, (Coord.), História do Pensamento Filosófico Português, Volume IV. O Século XIX. Tomo 2, Lisboa, Editorial Caminho, 2004.

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superior. A fundação do PRP – e a do Partido Socialista – deu-se numa conjuntura de viragem na sociedade portuguesa. Portugal, no contexto finissecular, ainda era um país atrasado, pobre, rural e com uma enorme percentagem de analfabetos, sobretudo entre as mulheres e fora dos centros urbanos. Mas alguma coisa começava a mudar, registando-se um tímido arranque industrial e um paulatino crescimento das cidades, designadamente Lisboa. Assim sendo, a acção conjugada da industrialização, da terciarização e da urbanização transformava a sociedade. E ao fazê-lo, diferentes grupos sociais ganhavam peso e visibilidade, designadamente o mundo operário e a pequena e média burguesia das cidades. Mais do que o 10

peso do número, já de si significativo, no caso do operariado , a sua visibilidade advém da concentração em “bolsas industriais” e da sua progressiva organização e capacidade reivindicativa. A política começava, assim, a ser pensada por grupos e actores que até então se viam excluídos do acesso ao poder e a cidade foi o palco privilegiado destas nascentes forças políticas e sociais. Ou dito de outra forma, começou a ser contestado o regime, considerado elitista e exclusivista no que tocava ao acesso ao poder. Desenhavam-se várias alternativas ao liberalismo monárquico, de entre as quais o republicanismo, entendido como tendo um cariz democratizante e querendo reformar a sociedade, moralizar a administração e regenerar a pátria, para a fazer trilhar um caminho que se desejava de fomento e de progresso. Os republicanos diziam ser os representantes do povo, conceito fluído e pouco definido, que estava excluído da arena da luta política, num jogo que se acreditava ser de elites. Para os dirigentes republicanos soara a hora de procurar afirmar as suas vozes – que consideravam ser as do povo –, as suas ideias e as suas propostas. Para além de ser o tempo da entrada das “massas” na política, o final do século XIX inícios

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Bento Carqueja, utilizando o censo geral da população de 1900, apreciando o desenvolvimento da indústria nacional através de um dado indirecto – a população operária – escreveu que consagram a sua actividade à indústria 455.296 indivíduos, 59124 dos quais em Lisboa. Veja-se CARQUEJA, Bento, O Capitalismo moderno e as suas origens em Portugal, Porto, Livraria Chardron, 1908

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do século XX era percepcionado, por muitos dos homens e mulheres que viveram nesta conjuntura, como um tempo de crise para o qual era imperioso uma regeneração, uma renovação e mesmo uma revolução. Uma obra emblemática deste sentimento

é, sem

dúvida, o Finis Patriae de Guerra Junqueiro.11 Portugal estava em crise e, para os republicanos, a solução passava necessariamente pela substituição do regime constitucional monárquico. O pano de fundo, pintado a traços largos, era o da crise económica dos anos 90 do século XIX, a par de uma onda crescente de reivindicações sociais. Politicamente, o rotativismo monárquico (alternância no poder e nos cargos públicos de dois partidos, o Regenerador e o Progressista) parecia ser

Alegoria à República; col. António Pedro Vicente

um modelo que já não garantia a estabilidade do sistema. Muitos governos não conseguiam levar uma legislatura até ao fim e os republicanos aproveitavam todos os “escândalos” políticos e financeiros como arma de arremesso contra a monarquia. A chamada de João Franco ao poder, em 1906, não resolveu a situação política, abrindo, ao invés, um período de grande crispação. Depois do regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908, a “Monarquia Nova” de D. Manuel enfrentou crescentes críticas e a oposição do 11

JUNQUEIRO, Guerra, “À mocidade das escolas. Finis Patriae”, Horas de Luta, Porto, Lello & Irmão, 1965. 15


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republicanismo. No campo monárquico não se conseguiu realizar uma união em torno do jovem rei, com um desfilar de diferentes governos. O republicanismo, que registou uma dinâmica de crescimento assinalável sobretudo nos anos imediatamente anteriores à República, não era uma ideia partilhada pela maioria da sociedade. A sua implantação variava geograficamente e socialmente. Podemos encontrar algumas linhas de força que esquematizam a sua penetração. O republicanismo era um fenómeno maioritariamente urbano, cercado pelo que já foi chamado de um vasto oceano de ruralidade. As suas vertentes anti-jesuítica e anti-clerical alhearam uma parte da população, nomeadamente as massas rurais e elites católicas, sobretudo no Norte do país. Pela geografia eleitoral dos anos anteriores a 1910 podemos constatar uma maior implantação do republicanismo no sul de Portugal e, claro está, nos centros urbanos. Analisando o “cerco social e político” da alternativa liberal-republicana, Fernando Rosas, na linha de Vasco Pulido Valente, considerou que “Fenómeno pequeno-burguês e esssencialmente urbano, a República, mais do que triunfante, sobretudo no meio rural – a vasta maioria do país –, é passivamente consentida, mercê da situação particular de quase isolamento em que se encontrava o regime monárquico.”12 A definição clássica do republicanismo considera que este é um fenómeno essencialmente das classes médias, de pequenos funcionários, comerciantes, oficialidade menor, profissões liberais, com um vasto campo de apoio na “plebe urbana”. Esta corrente política conseguiu, de igual modo, a adesão de parte do socialismo e do anarquismo, que viam no fim do regime monárquico e na implantação da República um primeiro passo para a sociedade que idealizavam, ou, de uma forma mais prosaica, esperavam a melhoria das condições económicas e sociais. Por outro lado, as mulheres mais politizadas depositaram as suas esperanças no novo regime, almejando a igualdade. 12

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ROSAS, Fernando, Pensamento e Acção política. Portugal século XX (1890-1976), Lisboa, Editorial Notícias, 2004, pág. 33.


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Não era um fenómeno maioritário, certamente. No entanto, o republicanismo revelou um enorme dinamismo político e cultural, uma inaudita capacidade de mobilização de massas – vejam-se as fotografias dos comícios republicanos em Lisboa –, a capacidade de seduzir parte do campo cultural e de congregar as expectativas e aspirações de um largo espectro de tendências políticas do campo dito progressista. Não era maioritario, mas conseguiu ter uma força capaz de ultrapassar a inferioridade numérica. Mas se nem todos eram republicanos, também existiam sectores pouco abertos para a vida política que não estavam dispostos a derramar o seu sangue pela monarquia. O constitucionalismo monárquico perdia a sua capacidade de atracção e o republicanismo conseguia ter “devotos”, homens dedicados e activos. O início da fase de grande desenvolvimento do movimento republicano começou a partir de 1906 e acelerou depois de 1908, num crescendo até 1910. Nascem centros republicanos, fundam-se escolas, a Carbonária ganha novo alento e intensifica-se a propaganda. Imediatamente antes de 1910, dentro do PRP e no campo republicano coexistiam várias correntes. Estas diferentes formas de luta não se anulavam, correndo paralelas. Por vezes, são os mesmos homens que combatem em várias frentes. A primeira corrente, decidida a continuar uma luta legalista, eleitoralista e ordeira, pretendia afirmar o PRP como capaz de governar. Afastava-se a imagem do revolucionário para apresentar a do político competente, capaz de fazer boa administração. Os republicanos queriam ser vistos como homens de estado. A conquista da Câmara Municipal de Lisboa, bem como várias outras, nas eleições de 1908, deve ser entendida como a peça central desta estratégia de credibilização. A linha “ordeira”, mais gradualista, acreditava que a República se acabaria por impor ao cidadão esclarecido e educado, sem necessidade de violências revolucionárias. Continuava a lutar pelo voto, no Parlamento e fazendo uma administraçãomodelo nas municipalidades conquistadas. De facto, a votação republicana foi crescendo sempre durante este período, sendo que em 1910 aumentara significativamente o número de 17


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deputados republicanos. A segunda corrente, mais radical e revolucionária, era protagonizada pela Carbonária. Esta funcionou como um grupo de pressão sobre o Directório e o partido, para que tomassem medidas mais enérgicas. Boa parte dos republicanos tem algumas dúvidas, em primeiro lugar quanto à real influência da Carbonária, mas sobretudo quanto à conveniência de a deixar tomar a dianteira do processo de implantação da República. Assim, uma outra linha de um republicanismo mais “burguês”, ainda que adepto do recurso à acção subversiva, advogava a necessidade de impedir a “rua” de tomar a iniciativa revolucionária, fazendo um “seguro” golpe militar.

A Proclamação da república Portuguesa Banda Democrática 2 de Janeiro

Tinham, contudo, acabado os dias de propaganda. Chegavam os dias de tomada do poder. O congresso republicano efectuado em Setúbal, em 1909, é a primeira vitória da corrente revolucionária, que contou com o auxílio dos republicanos carbonários, fazendo criar um comité civil e um comité militar para se preparar a revolução. Foi uma vitória quase simbólica já que a linha legalista ainda mantinha poder e influências suficientes para opor resistência e obstruir o processo. Para desespero dos mais radicais nada de muito importante se fará. Em Abril de 1910 novo congresso e nova investida dos radicais, com mais sucesso: reorganiza-se uma comissão revolucionária. Apesar do alento dado à linha legalista pelo sucesso eleitoral de Agosto de 10, os revolucionários ganhavam poder. A comissão militar revolucionária, onde pontificavam várias figuras carbonárias, de entre as quais Cândido dos Reis, passava a dinamizar o movimento. Longamente esperada, a revolução foi decidida na noite de 2 de Outubro de 1910, e sairia à rua à 1 hora da madrugada de 4. Dia 5 seria proclamada em Lisboa, dia 6 no Porto e nos dias seguintes pelo resto do país. Terminara uma longa luta para implantar a República. Outros combates esperavam os republicanos. Era preciso consolidar o regime e lançar o país na tão desejada senda do progresso. 18



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Aldeia Gallega nas Vésperas da República “As Eleições Municipais de Novembro de 1908” Joaquim Baldrico*

A evidência dos ideais republicanos em Aldeia Gallega remonta de uma forma mais visível ao ano de 1881, quando apareceu em vários arraiais uma banda de música que se distinguia pelo facto de usar nos bonés uma fita vermelha com as iniciais “B.R.”, que significava Banda Republicana e que tocava sistematicamente “A Marselhesa”1. Neste mesmo ano e segundo notícia inserta no jornal O Século, foi fundado em fins de Março um Centro Republicano em Aldeia Gallega que contou logo de princípio com cerca de 31 elementos apelidados de “…soldados da Luz, firmes e dedicados á santa causa da emancipação do povo …”2. Assim, os 21 elementos reunidos em Assembleia-Geral no dia 27 de Março cotizaram-se para adquirir a mobília e instalar o referido Centro Republicano, tendo apurado uma quantia superior a vinte mil reis. Faziam parte do Centro Republicano entre outros, António Máximo Ventura, António Victorino Rodrigues, Miguel José Silvestre, Francisco Vidal Soeiro, José Luís Figueira, Francisco da Veiga Neves, Joaquim Pereira da Silva e José de Sousa Rama. José de Sousa Rama destacava-se pelo facto de, desde novo sempre ter defendido a causa e os ideais republicanos na localidade, isto mesmo se pode deduzir pela leitura de uma sua carta publicada no jornal O Século. Dizia ele nessa missiva que, em 1870 com 22 anos, ao fazer a divulgação dos ideais republicanos em Aldeia Gallega em conjunto com um amigo “…os homens sérios, os experimentados na politica, os monarchicos, enfim, lançavam-nos um sorriso de desdém e chamavam-nos creanças!”3. Afirmava também que com a criação do Centro Republicano a localidade “…alistando-se no grande exército dos que trabalham pela república, honrou-se e deu às povoações do Riba-Tejo um exemplo digno de ser imitado”4. *

Câmara Municipal de Montijo/Departamento Sócio-Cultural Nova Gazeta, 15 de Outubro de 1999, nº 481, Ano X, pág. 11. 2 O Século, 2 de Abril de 1881, nº 72, Ano 1, pág. 3. 3 O Século, 23 de Abril de 1881, nº 89, Ano 1, pág. 3. 4 Idem, ibidem. 1

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No entanto, embora de curta duração, a vida deste Centro Republicano foi pautada por diversas actividades pontuais extinguindo-se por fins de 1884, embora ainda neste ano tenha participado no cortejo cívico de homenagem à revolução de 1820 e a Manuel Fernandes 5 Tomás . Segundo Fernando Catroga o Partido Republicano Português aproveitou-se da boa conjuntura política e social existente na década de oitenta do século XIX e fundou entre 6 1881-1884 a génese do movimento republicano futuro , neste contexto Lopes d'Oliveira afirma também que por esta altura “…o partido republicano engrossa as suas fileiras, forma os seus quadros dirigentes, concentra todas as suas forças [...] tornando-se um verdadeiro 7 partido político” . Embora o Centro Republicano de Aldeia Gallega não tenha vingado deixou marcas nas mentalidades locais em termos de futuro, contribuindo também para demarcar a existência de significativos focos de republicanismo que vieram mais tarde a originar o ressurgimento do ideal na localidade. Daí em diante as manifestações republicanas de carácter propagandístico conheceram altos e baixos, mas nunca deixaram de acontecer, até que no dia 17 de Março de 1901, em reunião, foi decidido que a direcção da Comissão Municipal Republicana ficaria composta pelos seguintes elementos: Presidente, César Fernandes Ventura; Vice-Presidente, Francisco Rodrigues Pinto; Secretário, José Pereira Fialho; Vogais, Francisco Freire Caria Júnior, 8 Bernardo Cardeira, Joaquim Freire Caria, José Luís Gouveia e Manuel da Costa Bello . Posteriormente, já em 1910, César Fernandes Ventura, Francisco Rodrigues Pinto e José Luís Gouveia tinham renegado o Partido Republicano, pelo que seriam nessa ocasião 9 indicados como inimigos da República segundo notícias insertas no jornal O Domingo . Durante o mês de Maio de 1902, apareceram e foram distribuídos pelas ruas da vila panfletos nos quais se podia ler; “Abaixo o Convénio! Viva a República! Acabemos de vez com

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O Século, 17 de Agosto de 1884, nº 1106, Ano 4, pág. 1. Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da Formação ao 5 de Outubro de 1910, 2ªed., Lisboa, Editorial Noticias, 2000, pág. 35. 7 Lopes d'Oliveira, História da República Portuguesa. A Propaganda na Monarquia Constitucional, Lisboa, Editorial Inquérito Limitada,1947, pág. 37 8 O Domingo, 22 de Março de 1908, nº 349, Ano VIII, pág. 1. 9 Idem, 20 de Março de 1910, nº 454, Ano X, pág. 2. 6

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os coveiros da Pátria! ” . Um desses panfletos foi colocado na porta da redacção do jornal O Domingo, com uma carta onde era solicitada a publicação de um artigo intitulado “O Convénio”, o que não se chegou a efectuar por a missiva ser anónima. 11 A 10 de Dezembro de 1904, o drama em três actos intitulado “Expiação” , da autoria de Manuel Ferreira Giraldes foi levado pela primeira vez à cena no armazém de José António dos Reis, em Aldeia Gallega. Os republicanos participam assim, nos meios culturais da vila, usando todas as formas para chegarem ao povo na expansão das suas crenças. No pressuposto da divulgação e difusão dos ideais republicanos, elege-se, em 17 de Setembro de 1906, a Comissão Municipal Republicana, e na mesma ocasião é proposta a criação de um Centro Republicano em Praça Serpa Pinto, actual Praça da República [c. 1900-1910] Aldeia Gallega. Para esse efeito, reuniramse nessa segunda-feira, pelas 20h00m, num prédio sito na Rua do Tavares, pertença de Adriano Tavares Mora, Celestino de Almeida, António Rodrigues Caleiro, José Cipriano Salgado Júnior, João da Silva Telo, Pedro Piloto, Álvaro Valente, Luís Ramos, Jacinto Tavares Ramalho, Dr. Pereira da Cunha, António Futre, Aurélio João da Cruz, Avelino Marques Contramestre e Henrique Augusto de Vasconcelos. Manuel Ferreira Giraldes não compareceu por se encontrar doente. A mesa da reunião foi presidida pelo Dr. Celestino de Almeida e secretariada por António Rodrigues Caleiro e José Cipriano Salgado Júnior. Aberta a sessão foi pelo presidente da mesa pronunciado um empolgante discurso “…sendo por bastas vezes interrompido com enthusiasmo pelos seus correligionários com applausos e vivas aos srs. António José 12 d'Almeida, Bernardino Machado, Affonso Costa, Manuel d'Arriaga ….” .

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O Domingo, 4 de Maio de 1902, nº 42, Ano II, pág. 2. Idem, 11 de Dezembro de 1904, nº 178, Ano IV, pág. 2. 12 Idem, 23 de Setembro de 1906, nº 271, Ano VI, pág. 2. 11

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Foram oradores nessa mesma sessão Pedro Piloto, Álvaro Valente, António Luís Ramos e, muito aplaudido, José da Silva Telo. Álvaro Valente propôs na ocasião um voto de louvor ao Dr. Celestino de Almeida, ao que o visado se opôs “…dizendo que se alli tinha ido, que não fizera mais do que o dever de republicano convicto, e que por conseguinte não podia 13 aceitar” . Foi muito aplaudido e da rua se fizeram ouvir vivas à República. Procedendo-se à eleição da Comissão Municipal Republicana, ficou a mesma composta da seguinte forma: Fernando dos Santos Calado, Presidente; António Luís Ramos, Tesoureiro; António Rodrigues Caleiro e José Cipriano Salgado Júnior, Secretários, e Jacinto Tavares Ramalho, Tesoureiro. Em Novembro de 1906 é posto a circular pela Comissão Republicana, por toda a localidade, e pelas outras povoações do concelho pelo Partido Republicano Português o seu 14 manifesto “Ao Povo do Concelho de Aldeia Gallega” . 15 Nesse mesmo mês mas a 25, Agostinho Fortes profere, pelas 14h30m, uma conferência na sede da Comissão Municipal Republicana, que se situava na rua Santos Oliveira, e onde se realizou novamente, no dia 6 de Dezembro, uma nova conferência de propaganda do partido. Agostinho Fortes vinha de Alcochete acompanhado pelo Dr. Celestino de Almeida, que, ao chegar a Aldeia Gallega, lhe disse “Vamos entrar em Aldegallega para dar início ao caminho 16 da liberdade” . Na sala da Comissão Municipal Republicana, Fernando dos Santos Calado apresenta o orador e nomeia para presidir à sessão Celestino de Almeida que por sua escolha, ficou a ser secretariado por António Luís Ramos e José de Assis Vasconcelos. O orador principal foi muito aplaudido no final da sua intervenção, tendo a sessão terminado por volta das 16h15m. Retirou-se depois para a vizinha vila de Alcochete onde ia proferir outra conferência acompanhado de muitos populares. Por esta altura a Comissão Republicana de Aldeia Gallega tinha na sua sede uma escola para os associados e os seus filhos, e realizava regularmente conferências com Fernando Ramos, Paulino Gomes e Álvaro Valente como oradores. 13

O Domingo, 23 de Setembro de 1906, nº 271, Ano VI, pág. 2. Idem, 11 de Novembro de 1906, nº 278, Ano VI, pp. 1-2. 15 Idem, 25 de Novembro de 1906, nº 280, Ano VI, pp. 1-2. 16 O Domingo, 2 de Dezembro de 1906, nº 281, Ano VI, pág. 2. 14

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No dia 29 de Dezembro de 1906, o Dr. Celestino de Almeida, influente republicano residente em Alcochete envia uma carta ao Dr. Afonso Costa onde se pode ler que: “…os nossos correligionários de Aldegallega – terra popular e importante, a 4ª ou a 5ª do país e em vias de completa republicanização – preparam para o dia 6 um Comício de protesto ainda contra a expulsão dos nossos deputados do Parlamento, e de apreciação da intervenção do paíz e nossa attitude em face d'ella. O comício deve realizar-se ao meio-dia em ponto, devendo procede-l'o um almoço ás 10 da manhã. A partida de Lisboa para Aldegallega é ás 8 da manhã, n'um vapor que sahe do Caes do Sodré a essa hora, e o regresso a Lisboa tem lugar ás 2 da tarde, devendo estar de volta a Lisboa ás 3 e meia da tarde. Os nossos correligionários d'Aldegallega anceiam por que o Affonso tomme parte no comício e eu faço calorosamente 17 meus os seus desejos. Pode o meu amigo satisfazer este nosso desejo? …” . Na mesma missiva Celestino de Almeida confirmava também a presença de António José de Almeida, e o convite que fora feito a João de Meneses para participar no referido comício. Contudo, lamentavelmente, o Dr. Afonso Costa não pôde aceder ao convite que lhe foi feito e assim comparecer no domingo, dia 6 de Janeiro de 1907, ao comício que teve lugar na Praça de Touros e que contou com a participação de António José de Almeida, Celestino de Almeida, Ramos da Cruz e José de Castro intitulados, segundo a imprensa local, “…quatro apóstolos 18 da liberdade, quatro portugueses de lei …” . No referido domingo, o povo da localidade afluiu em massa ao cais dos vapores para embarcar nos vapores Lusitano e Minho, que tinham sido fretados para a ocasião, para que assim pudessem esperar os conferencistas a meio do rio, onde pequenas embarcações apinhadas de populares aguardavam também pelos ilustres republicanos. Ao avistarem o vapor Lusitano, que vinha de Lisboa com os oradores para o comício, os populares, que os esperavam nos barcos e Vapor “Rio Tejo” utilizado nas carreiras que escoltariam o Lusitano até ao cais, Montijo-Lisboa-Montijo [Inicío do Séc. XX] 17

A.H. de Oliveira Marques Org, Correspondência Política de Afonso Costa. 1896-1910, Lisboa, Editorial Estampa, 1982, págs. 261-262. O Domingo, 13 de Janeiro de 1907, nº 287, Ano VII, pp. 1-2.

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lançaram muitas dúzias de foguetes e deram muitos vivas. Os ilustres conferencistas vindos de Lisboa foram recebidos efusivamente pelas cerca de 3000 pessoas que os esperavam na ponte dos vapores, encontrando-se a rua do Cais completamente cheia de populares. Na Ponte dos Vapores encontravam-se também os membros da Comissão Municipal Republicana que, acompanhados pelo Dr. Celestino de Almeida, Manuel Fernandes da Costa Moura e Cunha e Costa, depois de cumprimentarem os correligionários da capital, os encaminharam por entre as alas da multidão para o hotel Ribatejo, onde lhes foi ser servido o almoço que a Comissão e alguns sócios lhes ofertaram. Ao entrarem na sala onde seria servida a refeição encontraram a mesma ricamente decorada com “…ricas colchas de damasco e bandeiras tricolores: encarnada, branca e azul, quadros com retratos de republicanos, etc. e ao centro a mesa com lindos bouquets de flores 19 naturaes …” . Nas ruas que circundavam o hotel os populares não arredaram pé e davam esporadicamente vivas a António José de Almeida e até à República, o que fez com que as autoridades interviessem e detivessem Carlos de Sousa Fortunato. No entanto apesar dos ânimos muito exaltados imperou o bom senso e o detido foi rapidamente posto em liberdade. Ao saber do sucedido António José de Almeida assomou a uma das janelas do hotel e pediu à multidão “… que se conservasse serena, que guardasse a sua energia para quando ella fosse 20 reclamada, pois que esse dia não viria longe …” , o que foi recebido pelos populares com entusiásticos vivas. Terminado o almoço pelas 12h30m o cortejo dirigiu-se para a praça de touros. O percurso efectuou-se pelas ruas do Caes, Direita e da Graça, que se encontravam embandeiradas e com ricas colgaduras pelas janelas e varandas, onde senhoras envergando bonitos vestidos encarnados despejavam sobre os passantes pétalas de flores. Findo o comício António José de Almeida deslocou-se a casa do seu prezado amigo Manuel Ferreira Giraldes, que se encontrava retido por motivo de doença. Após esta visita António José de Almeida partiu para a vizinha vila de Alcochete. Emocionado com a recepção que tinha tido em Aldeia Gallega, António José de Almeida 19

O Domingo, 13 de Janeiro de 1907, nº 287, Ano VII, pág. 1 Idem, ibidem.

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enviou posteriormente a António Luís Ramos o seguinte telegrama: “António Luiz Ramos – Aldegallega: - Na sua pessoa agradeço republicanos Aldegallega maneira amável com que nos receberam. A todos saúdo e felicito pelo enorme espírito democrático que os anima. 21 – (a) António José d'Almeida” . O êxito deste grandioso comício cedo fez eco nos jornais da capital, nomeadamente nos de grande tiragem, o que incomodou o executivo monárquico da Câmara Municipal de Aldeia Gallega do Ribatejo, Rua José Maria dos Santos que reuniu em sessão extraordinária no dia actual Avenida dos Pescadores [Início do Séc. XX] 11 de Janeiro de 1907, pelas 11h00m da manhã. Nesta reunião foi aprovada, por aclamação, uma moção onde a determinada altura se podia ler que “… este concelho é, e foi sempre monarchico constitucional, desde que o systema que nos rege se implantou no paíz, e que os habitantes de Aldegallega, possuídos de 22 nobre orgulho, repelem a acção de visinhos que pretendem guia-los para o mal.” , mais foi decidido fazer três cópias desta acta para que fossem enviadas ao Presidente do Conselho de Ministros, ao Governador Civil de Lisboa e ao Par do Reino José Maria dos Santos A 3 de Março, foi a vez de Afonso Costa visitar Aldeia Gallega com a finalidade de, pelas 15h00m, inaugurar o Centro Eleitoral Escolar Republicano a que se pôs o nome de “Celestino de Almeida”. O ilustre republicano era esperado a meio do rio pelos vapores Tigre e Lusitano que apinhados de populares acompanharam o vapor Atalaia até ao Cais dos Vapores, no meio de enormes vivas e palmas. Perante este cenário, Afonso Costa “…agradecia comovidíssimo as demonstrações de 23 affecto d'aquelle bom povo que assim mostrava o seu dedicado amor à causa republicana” . Durante a sua permanência na vila onde foi recebido em delírio, “andava por assim dizer, ao 24 colo dos manifestantes” . 21

O Domingo, 13 de Janeiro de 1907, nº 287, Ano VII, pág. 2. Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Montijo (AHCMM), Acta da Sessão Extraordinária de 11 de Janeiro de 1907. 23 O Domingo, 10 de Março de 1907, nº 295, Ano VII, pág. 1. 24 Idem, ibidem. 22

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Este Centro era “… mais um baluarte republicano que além da união das nossas forças, é 25 onde adquire instrução o que d'ella carece a troco d'uma pequena mensalidade como sócio” , conforme noticiava a imprensa local na sua edição de 3 de Março. O partido não perdeu tempo, visto que, logo depois de inaugurado o Centro Escolar, publicava no jornal O Domingo, do dia 17 do referido mês, uma notícia onde dizia já estarem abertas as inscrições para as matrículas de alunos no período diurno e nocturno. Para estas inscrições era “… facultada a admissão a todas as creanças do sexo masculino orphãs de pae 26 …” e a “… matricula é só para creanças de 6 a 13 annos” . Implantada que estava a estrutura republicana na sede de concelho importava agora expandir a mesma para as restantes freguesias que o compunham, ou seja, Sarilhos Grandes e Canha. Assim, na segunda-feira, dia 25 de Março, realizou-se pelas 15h30m, na freguesia de Sarilhos Grandes, uma sessão de propaganda para eleição e instalação da Comissão Paroquial 27 Republicana daquela localidade . Ao acto assistiram o Dr. Celestino de Almeida membro do directório, e os elementos da Comissão Municipal Republicana. Aberta a sessão, foi a mesa presidida por António Rodrigues Carvalho secretariado por António Rodrigues Caleiro e Estevam Nunes de Alcochete. Intervieram como oradores Celestino de Almeida, Cunha e Costa, António Luís Ramos e Manuel Luís Dias, tendo todos sido muito aplaudidos. Foram eleitos membros da Comissão Paroquial Republicana de Sarilhos Grandes, António de Carvalho, Presidente, José da Silva Lino Vareiro, Secretário, Manuel Constantino Carvalho, Secretário, e Jacinto de Almeida, Júlio Gomes Braziel e João Ferreira dos Santos, como Vogais. Após a eleição e o término da sessão, foi oferecido pelos membros da Comissão, aos oradores à Comissão de Aldeia Gallega e aos representantes da imprensa, um jantar em casa de António de Carvalho, tendo durante os brindes sido dados muitos vivas ao Partido Republicano. Em Abril deslocar-se-ia a Aldeia Gallega, Bernardino Machado o “…venerável caudilho

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O Domingo, 3 de Março de 1907, nº. 294, Ano VII, pág. 3. Idem, 17 de Março de 1907, nº 296, Ano VII, pág. 2. 27 Idem, 31 de Março de 1907, nº 298, Ano VII, pág. 2. 26

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da democracia …” segundo a imprensa local, para proferir uma conferência de propaganda republicana no Centro Escolar Republicano. Na sexta-feira, dia 6 de Abril, realizaram-se as eleições para as direcções do Centro Escolar Republicano “Celestino de Almeida” e para a Comissão Municipal Republicana, foi então eleito Presidente da direcção do Centro, Manuel Ferreira Giraldes e Presidente da direcção da 29 Comissão Fernando dos Santos Calado . Por esta altura a escola do Centro Escolar Republicano “Celestino de Almeida” tinha cerca de 150 alunos, na sua maioria adultos, e era seu professor Pedro António Nunes de Almeida. Depois de Sarilhos Grandes era a vez de Canha eleger a sua Comissão Paroquial Republicana, tendo-se – para esse fim – deslocado à localidade o Dr. Celestino de Almeida e o Dr. Cunha e Costa. Assim, no domingo, dia 7 de Abril, reuniram-se num amplo celeiro em Canha os republicanos e os seus simpatizantes locais. Na ocasião, Celestino de Almeida informou os presentes de que não se iria proceder à eleição da Comissão Republicana da localidade, não comprometendo por razões políticas, a promessa das autoridades monárquicas do concelho 30 referentes à construção de uma estrada que ligasse aquela vila com a sede de concelho . Na vizinha povoação do Samouco elegeu-se a Comissão Paroquial Republicana no domingo, dia 14 de Abril, numa sessão que contou com a presença de Celestino de Almeida em representação do directório, António Luís Ramos, Manuel Paulino Gomes, Álvaro Valente, França Neto, Francisco Rafael Rodrigues, Manuel Luís Dias e Manuel António do Carmo. Largo do Chafariz actual Praça Gomes Freire de Andrade [Início do Séc. XX] Todos os oradores foram muito aplaudidos e os populares presentes deram muitas vivas à República. 28

O Domingo, 17 de Março de 1907, nº. 296, Ano VII, pág. 3. Idem, 14 de Abril de 1907, nº 300, Ano VII, pp. 1-2. 30 Idem, ibidem. 29

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A Comissão Paroquial ficou sendo constituída por José de Jesus Mendes, Presidente, Pedro Ferreira Louro Tesoureiro, Carlos Augusto Fernandes Ervedoso Secretário e Manuel 31 Bernardo, Joaquim Ferreira Batata e Ruben de Jesus Mendes Vogais . As hostes republicanas não desarmavam na divulgação dos seus ideais e todas as ocasiões eram propícias à divulgação das acções do partido e do intercâmbio político entre os vários núcleos de republicanos espalhados na cintura industrial da capital. E foi dentro desses princípios que se deslocaram a Aldeia Gallega no dia 9 de Junho, representantes do “Centro Escolar Fernão Botto Machado” e do “Centro Escolar Democrático de Santa Isabel”, vindo o primeiro acompanhado pela sua Tuna e o segundo pela 32 banda da Associação Concentração Musical 24 de Agosto . Os referidos Centros deslocaram-se da capital para esta localidade em excursão de recreio, forma encontrada para mascarar a acção de propaganda que se efectuou no Centro Republicano da vila. Foram oradores Fernão Botto Machado, Augusto José Vieira e Júlio Berto Ferreira que, na partida para Lisboa, foram acompanhados até ao cais por um grande número de pessoas. Na sequência do que tinha ficado estipulado no Congresso do Partido Republicano Português realizado em Lisboa nos dias 28 e 29 de Abril, o jornal O Domingo publicitava, na sua edição de 11 de Agosto de 1907, o valor da quantia que tinha sido apurada no peditório realizado em Aldeia Gallega e Sarilhos Grandes a favor do cofre do Directório do partido, que 33 atingiu o valor de 100$720 réis . Realizou-se uma tourada a 1 de Setembro em benefício da Escola Republicana Dr. Celestino d'Almeida, tendo assistido António José de Almeida “… a quem os espectadores 34 fizeram uma estrondosa manifestação, quando entrou no camarote…” . Embora constasse na localidade “… que haveria chacina na praça de touros, procurando-se amedrontar o ânimo 35 fraco das mulheres e afastar a assistência …” , a corrida decorreu num ambiente bastante sossegado. Após a sua conclusão saiu o ilustre convidado da praça acompanhado por um

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O Domingo, 21 de Abril de 1907, nº 301, Ano VII, pág. 2. Idem, 16 de Junho de 1907, nº 309, Ano VII, pág. 1. 33 Idem, 11 de Agosto de 1907, nº 317, Ano VII, pág. 1. 34 Idem, 8 de Setembro de 1907, nº 321, Ano VII, pág. 3. 35 Idem, ibidem. 32

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grande número de populares que o conduziu à Ponte dos Vapores onde iria apanhar o barco para Lisboa, não se tendo escapado pelo caminho de ser “… erguido por diversas vezes nos 36 braços do povo e aclamado com todo o delírio e phrenesi” , que dessa forma exprimia os seus sentimentos pelos ideais republicanos. Na tarde de 1 de Fevereiro de 1908, ao regressarem de Vila Viçosa D. Carlos e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe, são assassinados no Terreiro do Paço; Alfredo Costa e Manuel Buiça, decapitavam assim a monarquia portuguesa, colocando no trono D. Manuel. O novo Rei, pouco preparado e sem capacidade nem margem de manobra para gerir uma situação política explosiva, via-se assim guindado a gerir os destinos do País. Em Aldeia Gallega, o executivo monárquico da autarquia reuniu dois dias depois pelas 11h00m da manhã em sessão extraordinária para lavrar um voto de pesar “…por tão dolorosa 37 perda para a Nação…” e enviar um telegrama de pêsames à família real. Na ocasião o Presidente informou também os vereadores de que “…logo que teve conhecimento hontem de tão fatal desastre, ordenara immediatamente que se cobrissem de crepes as corôas dos edifícios municipais e se collocasse a bandeira do Edifício dos Paços do Concelho a meia haste como 38 signal de consternação” . Do lado das hostes republicanas, o jornal O Domingo” promovia uma subscrição a favor dos filhos do regicida 39 Buiça e ao mesmo tempo circulava na localidade um abaixo-assinado para que se procedesse à substituição do nome do Conselheiro João Franco, que tinha sido dado a António José de Almeida discursando num comício na Praça de Touros de Aldegallega uma rua. Na sequência desta movimentação republicana 40 a rua em causa passa a denominar-se João de Deus . A 16 de Fevereiro do referido ano, António José de Almeida “…o devotado apóstolo da 41 liberdade...” volta a Aldeia Gallega para presidir a um comício que tem lugar mais uma vez

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AHCMM – Acta da Sessão Extraordinária de 3 de Fevereiro de 1908. Idem, ibidem. 39 O Domingo, 9 de Fevereiro de 1908, nº 343, Ano VIII, pág. 3. 40 Idem, 12 de Abril de 1908, nº 352, Ano VIII, pág. 2. 41 Idem, 16 de Fevereiro de 1908, nº344, Ano VIII, pág. 2. 38

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na Praça de Touros. Em Março, no dia 22, realizam-se duas conferências no Centro Republicano local. A primeira, pelas 12h00m, teve como interveniente Fernão Botto Machado, e na segunda, às 20h00m, foi orador o Dr. José Evangelista Soares da Cunha e Costa que era irmão do Dr. João 42 Evangelista Soares da Cunha e Costa médico muito estimado na terra . A esta conferência afluiu grande número de populares que rapidamente encheu o recinto do Centro Republicano situado na rua Santos Oliveira, pelo que essa artéria e as ruas das Taipas e do Clube se encontravam cheias de pessoas. Terminada a conferência, o povo, que se encontrava em grande número, quer no interior do salão, quer nas ruas limítrofes, acompanhou o orador até à residência do irmão na rua Tenente Valandim tendo-se ouvido pelo caminho “… vivas constantes à liberdade, à democracia e aos vultos mais Praça 1.º de Maio [C. 1920-1930] 43 eminentes do partido.” Depois de já ter entrado na residência do irmão, o Dr. José Evangelista teve que se assomar a uma das janelas da mesma para agradecer a enorme manifestação de carinho e republicanismo fervoroso que o povo lhe manifestara, tendo-se recolhido entre enormes vivas à democracia portuguesa. No entanto, como os populares continuavam sem arredar pé do local, o Dr. Manuel Fernandes da Costa Moura, Subdelegado de Saúde da vila e republicano convicto, teve de vir à janela pedir que a multidão dispersasse. Em Sarilhos Grandes realizou-se, no dia 28 de Março de 1908, pelas 21h00m, uma conferência de propaganda eleitoral republicana onde usaram da palavra alguns dos membros 44 da Comissão Municipal Republicana . Estes ao chegarem a Sarilhos Grandes foram recebidos por grande número de habitantes que acompanhados da filarmónica local os conduziram ao sítio do comício por entre inúmeros vivas ao partido republicano. Após o comício foram os oradores para casa do regente da filarmónica, tendo sido servido um jantar animado por muitos brindes em prol dos bons resultados eleitorais do partido. 42

O Domingo, 29 de Março de 1908, nº 350, Ano VIII, pág. 1. Idem, ibidem. 44 O Domingo, 29 de Março de 1908, nº 350, Ano VIII, pág. 2. 43

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No regresso para Aldeia Gallega foram os membros da Comissão Municipal Republicana acompanhados pelo povo e pela filarmónica até à saída de Sarilhos Grandes. A 20 de Abril Manuel Ferreira Giraldes e Francisco Freire Caria Júnior são eleitos 45 delegados ao Congresso do Partido Republicano Português, realizado em Coimbra . Depois da máquina propagandística republicana estar definitivamente instalada na zona ribeirinha do concelho, restava ainda a sua expansão para a zona rural do mesmo, o que até então não tinha sido conseguido em pleno. Para obviar a essa situação, na terça-feira, 5 de Maio, partem para a vila de Canha, António Rodrigues Caleiro, José Cipriano Salgado Júnior e José Augusto Saloio que, acompanhados por António Gomes de Carvalho Presidente da Comissão Paroquial Republicana de Sarilhos Grandes e António da Costa Coelho, conhecido e estimado comerciante de Canha, ali chegam pelas 13h00m. Na estrada que leva à entrada da vila eram esperados por um grupo de populares, que assim que os avistaram lançaram grande número de foguetes e lhes ofereceram flores, tendo-se ouvido muitos vivas à liberdade e ao partido republicano. Após a chegada do Dr. João da Cunha e Costa, pelas 17h00m, a Canha, na sua motocicleta, António da Costa Coelho convidou todos para um jantar na sua residência, que terminou pelas 19h30m. Às 20h00m, no Salão do Teatro Infantil, reuniu a comissão provisória composta por Manuel José Salgueiro, na qualidade de Presidente, secretariado por António Gomes de Carvalho e Artur de Jesus Oliveira. Na ocasião usou da palavra António Rodrigues Caleiro que fez a apresentação aos presentes do Dr. João da Cunha e Costa. Este, no uso da palavra, “… começou por frisar a forma leal e correcta como procederam há um anno os republicanos de Aldegallega, não querendo, por uma propaganda intensa, dar pretexto para que os espertalhões que andavam a iludir o povo, se desculpassem da não realisação das suas 46 pretensões n'uma conjunctura de miséria extrema que elle então atravessara …” . Referia-se o orador à promessa constante – repetida há já cerca de vinte eleições - de que a construção de uma estrada que ligaria a sede do concelho a Canha seria uma realidade brevemente. 45

O Domingo, 26 de Abril de 1908, nº 354, Ano VIII, pág. 3. Idem, 10 de Maio de 1908, nº 356, Ano VIII, pp. 2-3.

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Terminada a intervenção do Dr. Cunha e Costa e uma vez que não existiam mais inscrições para usar da palavra, foram pelo Presidente da mesa nomeados João Rodrigues e José Caetano Correia escrutinadores, para se dar início à eleição da Comissão Paroquial Republicana. Contudo devido ao adiantado da hora foi sugerido por alguns dos presentes que a referida Comissão fosse nomeada pelo Presidente da mesa e depois posta à aprovação das pessoas que se encontravam no recinto, o que efectivamente veio a acontecer. A Comissão Paroquial Republicana da vila de Canha ficou composta da seguinte forma: António da Costa Coelho, Presidente; José Martins, Tesoureiro; Artur de Jesus Oliveira, Secretário; e José Correia Louro e Manuel Dias, Vogais. Depois da Comissão ter sido eleita foram dado muitas vivas ao Partido Republicano, à liberdade, ao Dr. Cunha e Costa e a António Rodrigues Caleiro, tendo a reunião terminado pelas 22h30m. Finalmente Canha tinha a sua estrutura local republicana organizada e o concelho de Aldeia Gallega encontrava-se perfeitamente integrado na estrutura organizativa do Partido Republicano Português com todas as células montadas. A 10 de Maio realizaram-se pelas 21h00m eleições no Centro Republicano de Aldeia Gallega. A estrutura directiva manteve-se sofrendo somente alterações no Conselho Fiscal para onde entrou como Presidente Francisco Freire Caria Júnior e foi também eleito um novo 47 Secretário, que passou a ser José António da Silva Júnior . No domingo, 7 de Junho, foi organizada uma tourada em benefício da escola do Centro Republicano “Celestino de Almeida”. Os oradores, vindos de Lisboa, foram obsequiados com um lanche oferta da Comissão, no hotel Ribatejo. Após a tourada promoveu-se um comício, tendo sido utilizada para o efeito a casa de António Luís Ramos de onde – a partir de uma janela - discursaram Bernardino Machado, Estevam de Vasconcelos e Celestino de Almeida. Neste comício estiveram presentes também António José de Almeida e Anselmo Xavier. Após o término do comício dirigiram-se os oradores para a Ponte dos Vapores com “… muito povo a acompanhá-los dentro da maior 48 alegria …” , e embarcaram no vapor que partiu para Lisboa às 19h30m.

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O Domingo, 17 de Maio de 1908, nº. 357, Ano VIII, pág. 2. Idem, 14 de Junho de 1908, nº 361, Ano VIII, pág. 1.

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O Centro Republicano Rodrigo de Freitas acompanhado da Banda da Concentração Musical 24 de Agosto, deslocou-se a Aldeia Gallega no domingo 12 de Julho para mais uma excursão comício de divulgação dos ideais republicanos. Para esse efeito no Centro Republicano “Dr. Celestino de Almeida”, Manuel Ferreira Giraldes presidiu à sessão solene onde foram oradores Augusto José Vieira, o Dr. Macedo de Bragança e o Dr. Cunha e Costa. Na ocasião foi posto à discussão e aprovada a seguinte moção “O Povo republicano de Aldegallega, reunido em sessão pública para apreciar a questão dos adeantamentos, que representa a mais clara demonstração da immoralidade e corrupção do regimem, protesta altivamente contra esse monstruoso latrocínio, e applaude enthusiasticamente a attitude 49 enérgica, elevada e digna, dos deputados republicanos no parlamento” . Os visitantes regressaram à capital pelas 13h00m sendo acompanhados de grande número de populares até ao cais de embarque, que os aplaudiram entusiasticamente pelo caminho. No jornal O Domingo do dia 12 de Julho informava-se os leitores de que a Comissão Paroquial Republicana de Canha tinha obtido a anuência do Dr. Afonso Costa para que o seu nome fosse dado ao Centro Escolar local. Afonso Costa enviou então à Comissão Republicana de Canha em resposta ao seu pedido, o seguinte telegrama “ Meus caros correligionários – Accedo do melhor grado à proposta que me fazem, e agradeço-lhes a attenção que a sua idea traduz. Queiram sempre dispor do correligionário e amigo 50 dedicado. – (a) Affonso Costa” . No dia 9 de Agosto de 1908, o citado periódico noticia que em Canha se tinha Edifício da Estalagem Caleças, Praça Serpa Pinto (actual Praça da República), mais tarde intalações da Tóbom, reunido em sessão extraordinária a hoje desactivadas [Início do Séc. XX ] Comissão Paroquial Republicana para preparação dos festejos que se iam realizar em benefício do Centro Escolar Eleitoral 51 Republicano Dr. Afonso Costa . Sob a responsabilidade de Manuel José Salgueiro, principal 49

O Domingo, 19 de Julho de 1908, nº 366, Ano VIII, pág. 1. Idem, 12 de Julho de 1908, nº 365, Ano VIII, pág. 2. 51 Idem, 9 de Agosto de 1908, nº. 369, Ano VIII, pág. 1. 50

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figura republicana da localidade, a Comissão Republicana de Canha pretendia assim arranjar fundos para abrir o mais rapidamente a escola. Aproximando-se a data das futuras eleições municipais e com vista à conquista da Câmara Municipal de Aldeia Gallega do Ribatejo, a Comissão Municipal Republicana da vila reúne no dia 23 de Outubro numa sala do Centro “Dr. Celestino de Almeida” para apresentar a lista de candidatos a vereadores. Assim, foram aprovados em reunião e de acordo com“… 52 O disposto nos nº 5 e 10 do art. 25 da Lei Orgânica do Partido Republicano Portuguez …” os seguintes candidatos: “Francisco Freire Caria Júnior, Commerciante e Proprietário; Manuel Ferreira Giraldes, Pharmaceutico; José Cypriano Salgado júnior, Proprietário; Álvaro 53 Tavares Mora, Proprietário; José d'Assis Vasconcellos, Proprietário” . Eram estes pois os homens que seriam os concorrentes pelo Partido Republicano Português à Câmara de Aldeia Gallega e teriam de enfrentar as vicissitudes que a sua vitória traria, uma vez que a importância do movimento republicano na vida local vai ganhando relevo nos últimos anos da primeira década do século XX, tendo nas eleições de 1908 o seu primeiro ponto fulcral pelo significado que as mesmas encerram para a vida política da localidade. Ainda no mesmo ano, a 31 de Outubro, Feio Terenas profere uma conferência no Centro Republicano e “Milhares de pessoas, à luz dos archotes, acompanham, na rua o ilustre 54 visitante” , segundo noticia a imprensa local. Feio Terenas deslocou-se depois para a localidade vizinha de Samouco acompanhado por cerca de 400 pessoas onde proferiu, com Celestino de Almeida, uma conferência no Clube Samouquense finda a qual foi obsequiado com um jantar em casa de José Luís Rodelo. A 1 de Novembro de 1908 realizam-se eleições municipais por todo o país. Os cidadãos eleitores dirigem-se às urnas; em Aldeia Gallega, a exemplo do que acontece por toda a parte, os eleitores vão votar, mas desta vez as eleições revestem-se de um significado especial. Ao acto concorre uma lista do Partido Republicano Português, onde pontificavam as figuras gradas do partido na localidade, que acaba por vencer as eleições para a Câmara 55 Municipal, obtendo 760 votos contra os 24 votos da lista monárquica . Aldeia Gallega passa 52

O Domingo, 25 de Outubro de 1908, nº 380, Ano VIII, pág. 3. Idem, ibidem. 54 O Domingo, 31 de Outubro de 1908, nº. 381, Ano VIII, pág. 2. 55 Idem, 8 de Novembro de 1908, nº 382, Ano VIII, pág. 2 53

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assim a ter o seu primeiro executivo republicano ainda durante a vigência do regime monárquico. No caso do vizinho Concelho de Alcochete a vitória republicana salda-se por uns escassos 15 votos uma vez que a lista monárquica alcança 333 votos e a republicana obtém 56 57 348 e no Concelho da Moita os monárquicos são derrotados por cerca de 130 votos . Ombreando com a capital que também passou para as mãos dos republicanos, a vitória dos mesmos nesta zona é referida na missiva que o Presidente do Conselho de Ministros, Almirante Ferreira do Amaral, enviou a Sua Majestade o Rei D. Manuel II no dia 2, onde se citava também Alcochete por ter também passado para o lado republicano, devido, segundo ele, à influência do médico ali colocado, que era nem mais nem menos que 58 o Dr. Celestino de Almeida . Na quinta-feira, 26 de Novembro, reúne-se a Comissão Municipal Republicana sob a presidência de Manuel Ferreira Giraldes para a apresentação e eleição dos futuros candidatos à Junta de Paróquia. Foram, então, eleitos por unanimidade, os candidatos António Vicente Marques, lojista; Joaquim Duarte Pereira Rato, negociante; Joaquim Maria Gregório, 59 empregado do comércio e José António Paulada, negociante . As eleições para as Juntas de Paróquia realizaram-se no domingo dia 29, tendo as listas republicanas obtido a vitória em todas as freguesias. Em Sarilhos Grandes foram eleitos Domingos Pratas Póvoas e Joaquim Gomes Carvalho e em Canha José Correia Louro, Mário José Salgueiro, Lourenço E. da Fonseca e Manuel Dias, que derrotaram por uma diferença de 32 votos João Mendes Ferreira, José António Encontrão, Matias Boleto Ferreira de Mira e Jacinto Mendes Edifício dos Paços do Concelho, actual Galeria Municipal {Início do Séc. XX} Martins, os candidatos monárquicos, sendo 56

O Domingo, 8 de Novembro de 1908, nº 382, Ano VIII, pág.2. Idem, ibidem. 58 Documentos Políticos. Encontrados nos Palácios Riais depois da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, Lisboa, Imprensa Nacional, 1915, pp. 40-42. 59 O Domingo, 29 de Novembro de 1908, nº 385, Ano VIII, pág. 1. 60 O Domingo, 6 de Dezembro de 1908, nº. 386, Ano VII, pág. 3. 57

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o resultado nesta localidade considerado “…a derrota do thalassismo e a victória da 60 República…” . Assim, e de acordo com o resultado obtido nas urnas, o executivo republicano de Aldeia Gallega toma posse numa segunda-feira, dia 30 de Novembro; em Alcochete a vereação 61 republicana tomou posse a 7 de Dezembro, pelas 13h00m . Nessa manhã de Inverno, pelas 12h00m, na Sala das Sessões da Câmara Municipal de Aldeia Gallega, Manuel Ferreira Giraldes, Francisco Freire Caria Júnior, José Cipriano 62 Salgado Júnior, José de Assis Vasconcelos e Álvaro Tavares Mora prestam juramento e, de entre eles, elegem o açoriano Manuel Ferreira Giraldes Presidente do executivo, que se viu deste modo guindado ao mais alto cargo da governação local, ocupado, pela primeira vez, por 63 um republicano . A partir desta data, jamais o Partido Republicano deixa o comando dos destinos da localidade. O Farmacêutico Ferreira Giraldes é de novo reeleito em 1909, fazendo assim com que, ao aproximar-se a data da revolução republicana, Aldeia Gallega continuasse convicta do seu novo ideário, de alma e coração. Esta vitória do Partido Republicano na localidade é fruto do intenso movimento que os republicanos tinham na vila. Desde os primeiros anos do século XX que os mais influentes membros do partido aqui se deslocavam como já foi referido, fazendo com que a nível local o trabalho de propaganda não esmorecesse, não só na sede do Concelho, mas também nas restantes freguesias que o compunham. Veja-se então o exemplo de Canha, onde a Comissão Paroquial Republicana tinha sessões nas quais dava a conhecer as famosas Cartas Políticas escritas na altura por um dos maiores vultos da propaganda republicana a nível nacional, o escritor e jornalista João Chagas. Este facto levou mesmo o insigne propagandista republicano a dedicar uma dessas cartas – 64 pertencente à 1ª Série e datada de 8 de Fevereiro de 1909 – à referida Comissão Paroquial na qual tece elogios à louvável atitude tomada pela mesma, na divulgação dos ideais

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Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Alcochete (AHCMA) – Acta da Sessão da Tomada de Posse da Câmara Municipal do Concelho de Alcochete em 7 de Dezembro de 1908. AHCMM – Auto de Juramento e Posse deferida á nova Vereação eleita para servir no triénio de 1908 a 1910. 63 AHCMM – Acta da Sessão de 30 de Novembro de 1908. 64 João Chagas, Cartas Politicas – 1ª Série, Lisboa, Ed. Autor, Imp. 1908, pp. 145-148. 62

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republicanos por entre as camadas da população iletrada da localidade. Não nos podemos esquecer que na altura só cerca de 25% da população nacional sabia ler e escrever, daí a elevada importância política em termos de divulgação dos ideais republicanos que esta acção possuía. Assim, não seria de estranhar que António José de Almeida, um dos maiores vultos do republicanismo e justamente denominado como o orador inflamado da República, tenha 65 classificado Aldeia Gallega como “a terra mais massiçamente republicana” do país. A 2 de Maio, realiza-se na Praça de Touros um comício republicano com a presença de Bernardino Machado, Celestino de Almeida, Leão Azedo e os deputados pelo Círculo, Estêvão de Vasconcelos e Feio Terenas, sendo todos os oradores apelidados de “… os grandes 66 apóstolos da liberdade…” . Em 1 de Julho publicou-se em Canha um jornal de cariz republicano intitulado A Vitória, cuja receita proveniente da sua venda se destinava a ser aplicada em fins de benemerência. Três dias depois reunia-se pelas 21h00m a Comissão Municipal Republicana para, de acordo com as directrizes do Directório, proceder à eleição das futuras Comissões local e distrital. Assim, o Presidente cessante, António Luís Ramos, depois de fazer um pequeno balanço da actividade da sua gerência, propôs que a constituição da mesa eleitoral fosse presidida por José Augusto Saloio, tendo como escrutinadores Jacinto Tavares Ramalho e Francisco José Rodrigues e como secretários José Cipriano Salgado Júnior e Joaquim Maria Gregório. Após a votação os resultados ditaram a constituição da nova Comissão que ficou sendo constituída por Francisco Freire Caria Júnior, Presidente; António Luís Ramos, Vice-Presidente; José Cipriano Salgado Júnior e José Augusto Saloio, Secretários; António Joaquim de Jesus 67 Calado, Tesoureiro . Estava assim, pois, eleita a última Comissão Municipal Republicana, antes da revolução que se aproximava inexoravelmente e para a qual teria de contribuir com o seu trabalho na localidade e na ajuda necessária ao movimento revolucionário na margem sul do estuário do Tejo. 65

Arquivo Histórico Parlamentar – Câmara dos Senhores Deputados, 44ª Sessão, Em 10 de Agosto de 1909, pág. 7. O Domingo, 2 de Maio de 1909, nº. 408, Ano IX, pág. 3. 67 Idem, 11 de Julho de 1909, nº 418, Ano IX, pág. 1. 66

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Em 5 de Setembro de 1909, realizou-se uma tourada em benefício da escola do Centro Republicano. Antes Miguel Bombarda foi orador no comício anti-clerical que se realizou pelas 13h00m num vasto recinto propriedade de António Carlos Barreiros, situado na rua do Norte, onde foi aprovada por unanimidade a seguinte moção: “O povo do concelho de Aldegallega, hoje reunido em comício público com representantes dos concelhos visinhos, reconhecendo quanto a Vista da zona do Cais das Faluas tirada do rio de forma a a entender reacção jesuítica e fradesca é prejudicial ao progresso a quantidade de embarcações que por alí se movimentavam [C.1950] material e moral do paiz, resolve: apoiar entusiasticamente a representação que a Junta Liberal de Lisboa entregou no dia 2 de agosto último no parlamento”68. No dia 12 de Dezembro o jornalista João Chagas foi o conferencista no Centro Republicano “Dr. Celestino de Almeida”69. A 10 de Março de 1910 foi constituído em Aldeia Gallega o Grupo Republicano Agrícola cujos estatutos postos à discussão foram elaborados por Manuel Ferreira Giraldes70. No dia 19 de Maio a revista Alma Nacional publica um artigo intitulado “UNIÃO”, assinado por António José de Almeida, no qual a propósito do comício realizado na Cova da Piedade no dia 15, e sobre a implantação dos ideais republicanos na margem sul do Tejo, se pode ler que estes lugares constituem uma “… indomável, embora calma e reflectida substância revolucionária que faz o substracto da alma das populações de Aldeia Gallega, Alcochete, Moita, Seixal, Almada, etc., de toda esta vasta e altiva borda de água em que os corações pulsam com indómita bravura e os espíritos se abrem em confiadas esperanças”71. Em 26 de Julho no Salão Nobre dos Paços do Concelho pelas 15h30m Bernardino Machado profere uma conferência onde explana sobre “A Educação Nacional”72.

68

O Domingo, 12 de Setembro de 1909, nº. 427, Ano IX, pág. 1. Idem, 19 de Dezembro de 1909, nº. 441, Ano IX, pág. 2.

69 70

Idem, 13 de Março de 1910, nº 453, Ano X, pág. 2.

71

Alma Nacional, Lisboa, 19 de Maio de 1910, nº 15, pp. 236-237. O Domingo, 26 de Junho de 1910, nº. 468, Ano X, pág. 3.

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Carlos Oleiro é o conferencista do dia 14 de Agosto, seguindo-lhe, a 18 do mesmo mês Fernando Costa. Ambas as conferências tiveram bastante êxito pelo que se deduz da notícia inserta no jornal local: “Como de costume o enorme salão do Centro Republicano, que 73 comporta para cima de mil pessoas encheu-se em ambas as noites” . No dia 5 de Setembro de 1910, o Pároco de Canha, Manuel Pedro de Mira, escreve uma carta ao Administrador do Concelho de Aldeia Gallega informando este que “… no próximo domingo, 11 do corrente, pretendem os republicanos d'esta freguesia ridicularizar a religião, 74 efectuando um cortejo em que tencionam apresentar um andor …” pelo que pedia que fossem tomadas providências para que tal não acontecesse uma vez que, segundo ele “ …o Snr. regedor d'esta freguesia não dispõem de recursos para fazer cumprir uma prohibição 75 d'esta natureza, ou obstar ao tumulto que a prohibição occasione” . No princípio do século XX, Aldeia Gallega ombreava com Almada, Setúbal e Seixal em 76 termos de crescimento, adquirindo assim um certo ambiente urbano . Desta forma e com tão grande entusiasmo político-partidário não será de estranhar que ao aproximar a data da revolução republicana em Lisboa, as movimentações em Aldeia Gallega tenham começado mais cedo do que na capital do reino. Dentro destes pressupostos não seria de estranhar que, na segunda-feira, dia 3 de Outubro de 1910, o vapor da carreira que aportava a localidade, e que tinha partido da capital pelas 08h10m da manhã, trouxesse o Dr. Ernesto Carneiro, Secretário da Câmara Municipal, que, após desembarcar, imediatamente procurou o Presidente da Câmara Municipal e o Presidente da Comissão Municipal Republicana. O Dr. Ernesto Carneiro Franco, que enquanto estudante se tinha destacado na greve 77 académica de 1907 , foi nomeado Secretário da Câmara Municipal de Aldeia Gallega, por 78 unanimidade do executivo, na sessão ordinária realizada no dia 7 de Março de 1910 . 79 Bacharel em Direito e membro da Carbonária , foi nomeado pelo Directório do Partido

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O Domingo, 21 de Agosto de 1910, nº. 476, Ano X, pág. 3. AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Correspondência Recebida Ano de 1910, Oficio da Junta de Paroquia de Canha de 5 de Setembro de 1910. 75 Idem, Ibidem. 76 Vasco Pulido Valente, O Poder e o Povo. A Revolução de 1910, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999, pág.47. 77 Alberto Xavier, História da Greve Académica de 1907, Coimbra, Coimbra Editora Limitada, 1962, pág. 281. 78 AHCMM – Acta da Sessão de 7 de Março de 1910. 79 As Constituintes de 1911 e os seus Deputados, Lisboa, Livraria Ferreira 1911, pp. 92-93. 74

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Republicano Português para chefiar o movimento revolucionário que deveria eclodir na margem esquerda do Tejo, chefiando as operações nos Concelhos de Aldeia Gallega, Barreiro e Moita80. Também foi responsável pela coordenação das movimentações revolucionárias efectuadas pelos civis que, em conjunto com os elementos republicanos militares da Escola de Torpedeiros instalada em Vale de Zebro, deveriam tomar conta da mesma81. Carneiro Franco era uma personalidade influente na organização política e revolucionária do Partido Republicano Português, pelo que, na manhã do dia 5 de Outubro, encontrava-se entre os presentes que da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa ouviram José Relvas82 e Eusébio Leão83 anunciar à população a proclamação da República Portuguesa. A entrega da coordenação do movimento revolucionário a um carbonário não é de todo estranha, uma vez que existiam núcleos carbonários em plena actividade “...em toda essa linha Aspecto da zona da Boavista (Calçada) [c. 1910-1920] que enfrenta Lisboa…”84 e que era constituída pelas localidades de Palmela, Moita, Barreiro, Almada, Cacilhas, Alcochete e Aldeia Gallega. Dentro deste contexto Raul Rego destaca também Almada e Aldeia Gallega como as terras da margem sul mais importantes no seu contributo para a revolução republicana nesta zona85. Assim, o farmacêutico Manuel Ferreira Giraldes, na sua qualidade de edil, foi informado pelo Secretário da Câmara que chegado de Lisboa, trazia as orientações do Directório do Partido Republicano Português para que a revolução se iniciasse no dia 4, pela 01h00m da madrugada. Francisco Freire Caria Júnior, que era o Presidente da Comissão Municipal Republicana, não foi avisado por se encontrar ausente da localidade. No entanto, para obviar a esse facto, 80

Machado Santos, A Revolução Portuguesa 1907/1910, Lisboa, Assírio e Alvim, 1982, pp. 117-118. António Maria da Silva, O Meu Depoimento. Da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, Vol. I, Lisboa, Editora Gráfica Portuguesa, 1974, pág. 354. 82 João Medina (dir.), História Contemporânea de Portugal, Vol. II, Tomo I, Lisboa, Multilar, 1990, pág. 87. 83 Idem, pág. 375. 84 Luís de Montalvôr (dir.), História do Regímen Republicano em Portugal, Vol. II, Lisboa, Empresa do Anuário Comercial, 1935, pág. 242. 85 Raul Rêgo, História da República, Vol. II, Lisboa, Círculo de Leitores, 1986, pág. 135. 81

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logo se enviou um emissário à estação ferroviária do Pinhal Novo onde este se encontrava, esperando o comboio para se deslocar a uma propriedade sua no sítio das Fontes. Ao tomar conhecimento das situações, Francisco Freire Caria Júnior regressa de imediato a Aldeia Gallega, uma vez que na sua qualidade de maçon era o chefe dos revolucionários civis locais. Trata de reunir com os restantes membros da Comissão Municipal Republicana, onde foi combinado aquilo que se iria fazer na madrugada do dia 4, conforme o estipulado nas directrizes recebidas, após o sinal que deveria ser recebido nessa altura da capital do reino. Francisco Freire Caria Júnior é citado no relatório que Machado Santos escreveu mais tarde sobre a revolução republicana, como um dos “irmãos”86 que ajudaram Carneiro Franco nas operações revolucionárias na margem sul. Ao receber a notícia do assassinato do Dr. Miguel Bombarda a população da vila, entristecida com tão nefasto acontecimento, não esmoreceu, visto que o ânimo para a revolta ainda mais se acendeu no espírito destes cidadãos, pelo que as ruas da vila se encontravam com bastante movimento de populares, para quem a revolução era o despertar e a redenção do país. Ao anoitecer do dia 3 de Outubro, o povo da vila concentrou-se nas ruas do Cais, Mártir de Montjuich e Calçada, uma vez que estas artérias comunicavam com o cais de embarque para Lisboa, com a estação do Caminho de Ferro e com o posto telefónico, sendo por isso zonas consideradas sensíveis do ponto de vista dos revolucionários locais. Por essa razão evitaram-se quaisquer comunicações que as autoridades monárquicas pudessem fazer com a capital, pelo que os revolucionários locais decidiram cortar as linhas telegráficas e telefónicas, optando pelo derrube dos postes das mesmas. Pelas 11h00m da noite chegaram a esta zona cerca de dez carros que seriam utilizados para transportar o grande número de homens que se juntaram nesta parte da localidade com o intuito de se deslocarem para Vale de Zebro, e que rapidamente foram tomados de assalto pelos populares que ali se encontravam. Eram quase 24h00m quando embarcaram com destino a Vale de Zebro cerca de 70 revolucionários, de que se destacavam entre eles, por pertencerem ao escol do Partido Republicano local, António Rodrigues Caleiro Júnior, José Cipriano Salgado Júnior, Francisco Freire Caria Júnior, António Ramos, António Marques 86

Machado Santos, ob. cit., pág. 118. O Domingo, 9 de Outubro de 1910, nº. 483, Ano X, pág. 1.

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Contramestre, José Augusto Saloio e Francisco Maria da Silva que armados somente de carabinas, para ali seguiram aos gritos de “vivas à Republica e ao povo portuguez”87. Devido ao número manifestamente insuficiente de carros para tão grande número de pessoas, logo houve alguém que se lembrou de utilizar algumas embarcações à vela para o transporte de todos os que quisessem ir para Vale de Zebro e que não tinham obtido lugar nos carros. Rapidamente se colocaram no Cais dos Vapores essas embarcações, que em curto espaço de tempo, também ficaram cheias de populares. Dentro destas contingências quem obteve transporte partiu para Vale de Zebro, quer por via terrestre quer por via fluvial. Os que não puderam seguir viagem, deslocaram-se para a frente do edifício dos Paços do Concelho, onde, pelas 06h00m da manhã, foi içada a bandeira verde e encarnada, por entre grandes ovações do povo ali presente e de vivas à república e à pátria livre. Naquela madrugada, que parecia não findar, ninguém se deitou ficando a deambular pelas ruas da povoação até ao amanhecer. Pela manhã foi lançado um grande número de foguetes e também disparados alguns tiros, saudações ao novo regime que se avizinhava triunfante. Durante o dia 4 de Outubro, terça-feira, a população da vila foi recebendo com alegria as notícias oriundas da capital que davam conta do triunfo eminente da revolução. Também os poucos jornais que aqui chegaram eram lidos avidamente por todos os que ansiavam por notícias dos acontecimentos Pormenor do Cais dos Vapores [Início do Séc. XX] em Lisboa. Ao chegarem a Aldeia Gallega os revolucionários que daqui tinham partido para Vale de Zebro, mal armados, mas dispostos a tudo, de forma a demonstrar quão firme era a sua crença no regime republicano, foram calorosamente recebidos por todos aqueles que tinham ficado na vila. No entanto, ao tomarem conhecimento que os regimentos da capital não tinham, na sua maioria, aderido à revolução, alguém alvitrou que, de entre a população masculina da vila que se encontrava armada, se formasse um batalhão de voluntários para ir a Lisboa apoiar as

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tropas revolucionárias até à vitória da causa republicana. O que não chegou a acontecer porque logo se deliberou que tal só se faria em último recurso, e caso a revolução perigasse em Lisboa, mas que se ficaria de prevenção face a tal eventualidade. E assim, a noite caiu sobre a localidade, tendo mais uma vez o povo de Aldeia Gallega passado a madrugada em claro, ansiando por notícias oriundas de Lisboa. Nessa mesma noite houve alguém que no calor da revolução se dirigiu ao edifício do Tribunal e Cadeia, onde se encontravam também instaladas a Administração do Concelho, a Recebedoria do Concelho e a Repartição da Fazenda, e arrombando as portas desta última, retirou de lá de dentro todos os livros aí existentes fazendo com os mesmos uma enorme fogueira junto ao referido edifício. No entusiasmo que se seguiu alguém pretendeu fazer o mesmo ao arquivo da Recebedoria do Concelho, o que não chegou a acontecer devido à intervenção dos elementos da Comissão Municipal Republicana bem como do novo Administrador do Concelho, António Luís Ramos, que na sua qualidade de Vice-Presidente da referida Comissão tinha sido nomeado para aquele cargo pelos seus colegas. Ao chegarem perto do edifício do Tribunal puderam os referido elementos constatar que a população aos gritos de “Queremos Tudo queimado! Queremos leis novas! ”88 pretendiam levar a efeito tal acto. No local encontrava-se já Manuel Ramalho tentando acalmar a turba, o que só foi conseguido com a intervenção do novo Administrador do Concelho e dos membros da citada Comissão Municipal Republicana, cujo apelo ao bom senso fez acalmar os populares que serenamente deixaram aquele lugar. Ficou de guarda à Recebedoria Caleiro Júnior, acompanhado de alguns populares, de forma a evitar possíveis complicações, que viessem a surgir. No rescaldo desta situação, alguém de entre os presentes referiu que durante o dia tinham estado na Recebedoria o Recebedor e o Fiscal dos Impostos, Manuel Braz Machado e que os referidos indivíduos tinham levado o dinheiro existente nesta repartição pública. Ora este Manuel Braz Machado não era pessoa bem vista na localidade devido ao papel por ele assumido durante as últimas eleições, pelo que rapidamente o povo pretendeu prendê-lo. A multidão deslocou-se à residência do Fiscal de Impostos levando à sua frente José Augusto Saloio e Estevam José Rodrigues, que ao ali 88

Diário de Notícias, 15 de Outubro de 1910, nº 16137, Ano XLVI pág. 5. 45


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chegarem não o encontraram, e resolveram ir a casa do Recebedor que se encontrava já deitado, mas que rapidamente acedeu a ir ao edifício do Tribunal, onde se encontrava instalada a Recebedoria, explicar à população o que tinha acontecido realmente. Ao chegar ao edifício do Tribunal onde foi informado das acusações que sobre ele pendiam, o Recebedor explicou à população que o referido Manuel Braz Machado se tinha dirigido a ele pretendendo que lhe fosse dada a quantia de 10$000 réis emprestados por conta dos seus vencimentos, o que o Recebedor recusou. No entanto, para se ver livre do Manuel Machado e das suas insistências, o Recebedor deslocou-se a casa do senhor Manuel Ramalho para pedir a este 1$000 réis emprestados para dar a Manuel Machado. Foi lhe entregue a quantia e a partir desse momento este ausentou-se para parte incerta. Disto tudo podia Manuel Ramalho ser testemunha. Confrontado com este assunto, foi pelo mesmo confirmada a versão do Recebedor, pelo que o povo ficou satisfeito com as declarações do mesmo, deixando-o regressar a casa em paz. Após este pequeno incidente, e durante o resto da noite, foram as ruas da vila patrulhadas por grupos armados de forma a garantir o sossego dos habitantes. Da mesma forma à porta do edifício do Tribunal e Cadeia Edifício do Tribunal e Cadeia, actual Câmara Municipal [Início do Séc. XX] encontravam-se alguns populares armados para garantirem o normal funcionamento da mesma, uma vez que os presos se tinham revoltado, revolta essa que foi dominada. Ao raiar da madrugada, chegou à vila um grupo de populares que tinha atravessado o Tejo de Lisboa para Cacilhas, e dali tinham encetado uma marcha a pé de forma a chegarem a Aldeia Gallega com notícias frescas dos acontecimentos na capital. Pese embora o facto de se encontrarem extremamente fatigados com tão longa caminhada, não esmoreceram pelo facto de saberem que as notícias de que eram portadores vinham alegrar todos os habitantes da terra, uma vez que a revolução estava na eminência da vitória e que a Implantação da República era um facto concreto. Também durante o dia 4 de Outubro deslocaram-se ao vizinho Concelho de Alcochete 89

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cerca de trezentas pessoas desta localidade, onde procederam, em conjunto com os revolucionários republicanos locais, ao hastear da bandeira republicana nos principais edifícios públicos daquela vila89, tendo sido nesta altura nomeado Administrador do Concelho o insigne republicano Dr. Celestino d'Almeida90. António Rodrigues Caleiro Júnior, professor do ensino livre em Aldeia Gallega, foi o cabecilha do grupo que se dirigiu a Alcochete. Este acontecimento só teve lugar devido ao facto de Rodrigues Caleiro ter falado com três Vereadores da Câmara Municipal de Alcochete que se tinham deslocado a Aldeia Gallega para saberem noticias sobre a revolução, e que lhe disseram que ainda não tinha sido arvorada a bandeira republicana naquela vila. Depois de ter sido hasteada a bandeira republicana em Alcochete, o que foi entusiasticamente aplaudido por todos os populares presentes, o grupo regressou a Aldeia Gallega. Ocupado com as movimentações republicanas no seu Concelho o executivo republicano de Alcochete só se reuniu vinte dias depois já na vigência do “…regímen republicano tão ansiosamente esperado …”91 para, a exemplo do que os seus correligionários de Aldeia Gallega já tinham feito, e “…para devidamente se prepetuar no Concelho d'Alcochete o feito heróico da revolução…”92 alterar a “…nomenclatura das seguintes ruas e largos d'esta localidade: Rua Azevedo Coutinho para Avenida Cinco de Outubro; Largo de D. Miguel Pereira Coutinho para Largo da Revolução; Largo de D. João de Alarcão para Largo de Cândido dos Reis; Largo de José Luciano de Castro; para Largo Dr. Miguel Bombarda e Largo da Praça para Largo Machado Santos…”93. Em Aldeia Gallega, o povo que aqui tinha ficado tomava conhecimento através do relato prestado pelo Manuel “do Telefone” que, deslocando-se ao Barreiro, tinha encontrado no percurso alguns militares vindos de Lisboa que lhe tinham assegurado que as tropas monárquicas se tinham rendido. Ao ouvir esta notícia, os populares, num número que andava perto dos cinco mil, começaram imediatamente a dar gritos de “…vivas à República, à Pátria, 90

O Domingo, 9 de Outubro de 1910, nº. 400, Ano X, pág.

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AHCMA – Acta da Sessão da Câmara de 24 de Outubro do anno de 1910.

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Idem, ibidem.

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Idem, ibidem.

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à Marinha, e ao Exercito…”94, tendo se deslocado a multidão para a Praça Serpa Pinto, onde parou em frente da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro, tentando que a Banda de Música saísse a tocar pelas ruas da vila em sinal de regozijo. No entanto, a intervenção de Caria Júnior e dos membros da Comissão Municipal Republicana evitaram que a banda saísse, apelando ao bom senso dos presentes que deveriam esperar por notícias fidedignas oriundas de Lisboa que confirmassem a vitória da revolução, para se dar então início aos festejos de celebração, o que foi acatado pelos populares que, mais calmos e sensibilizados com as palavras dos oradores, romperam numa grande salva de palmas e de vivas à República e a Caria Júnior. Na localidade de Canha, ao ter tomado conhecimento de que em Lisboa se desenrolava a revolução republicana, o Regedor fugiu, pelo que a Comissão Paroquial Republicana, nomeou para aquele lugar Mário José Salgueiro95, tendo a República sido proclamada nesta vila na noite de 4 para 5 de Outubro. Nessa ocasião o povo acorreu à igreja, que tomou de assalto, para tocar os sinos em sinal de júbilo com tal intensidade e durante tanto tempo, que deixaram de poder ser usados96. A posição do povo de Canha pode ser entendida como uma resposta às atitudes tomadas pelos padres da localidade que “… antes de proclamada a República, abusavam demasiadamente da paciência popular, fazendo diariamente uma barulheira infernal para mostrarem a sua superioridade contra a propaganda republicana nesse tempo aqui exercida”97. Manuel José Salgueiro era o chefe do Partido Republicano Português na freguesia de Canha, onde existia também uma Grupo de rapazes no Cais dos Vapores [Início do Séc. XX] Escola Republicana, cujo professor era tido por duvidoso, isto

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O Domingo, 9 de Outubro de 1910, nº. 483, Ano X, pág. 2. AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Correspondência Recebida Ano de 1912, Oficio do Regedor de Canha de 12 de Junho de 1912. 97 Idem, ibidem. 96

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porque as autoridades monárquicas suspeitavam de que o mesmo não possuía as habilitações necessárias para exercer tal cargo. Aproximava-se o dia ansiosamente esperado por todos aqueles que depositavam na Implantação da República a redenção da pátria que consideravam doente e moribunda. Na quarta-feira, dia 5 de Outubro, ao amanhecer, a bandeira republicana já se encontrava hasteada por toda a localidade, desde os edifícios públicos às casas particulares, dando justificação aos que consideravam Aldeia Gallega um dos mais fortes bastiões do Partido Republicano Português, nesta margem do Tejo. Via-se, pois, o pendão republicano arvorado nos mastros dos edifícios da Administração do Concelho, Associação Comercial, Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro, Grupo Musical Baltazar Manuel Valente, Associação Montepio Nossa Senhora da Conceição, Aldegalense Sport Clube, entre outras instituições e em inúmeras casas particulares. No lugar do Samouco, pertencente ao Concelho de Alcochete, o povo, ao tomar conhecimento da revolução no dia 5 de Outubro lançou um grande número de foguetes. E um grupo de rapazes formou um “só li-dó” que percorreu as ruas da mesma. Na ocasião foi nomeado Regedor da povoação Manuel Bernardo Fina98. Nesse mesmo dia, a população do Samouco dirigiu-se à igreja, para solicitar a José Lemos a entrega das chaves, que o fez muito a contra gosto99. Em Aldeia Gallega por volta das 10h00m, a multidão que se tinha concentrado junto do edifício da Cadeia, ao ouvir o rumor de que a revolução tinha triunfado, correu para junto do edifício onde se encontrava a estação telefónica a fim de confirmar a veracidade de tal notícia. Pelas 12h00m, os sócios do Grupo Musical Baltazar Manuel Valente resolveram ir buscar o estandarte da colectividade, que empunhado pelo Secretário da sua direcção, José Augusto Simões da Cunha, foi levado para a sede da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro onde foi depositado. Pouco depois deste acontecimento Francisco Freire Caria Júnior recebeu a informação oficial de que a República tinha sido finalmente implantada em Portugal.

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Rapidamente as ruas da povoação foram invadidas por inúmeras bandeiras verdes e rubras e o povo delirante aclamou o novo regime, tendo a banda de música da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro saído para a rua tocando “A Portuguesa” música que a revolução de 31 de Janeiro de 1891 tinha consagrado, acompanhada pelo seu estandarte e pelo estandarte do grupo Musical Baltazar Manuel Valente. Durante o percurso efectuado pela banda, os populares que a acompanhavam davam “…vivas à Pátria, a República Portugueza, à marinha, ao exército, etc.…”100; foi lançado grande número de foguetes em sinal de regozijo, chegando estas manifestações de júbilo a tocar “…as raias do delírio!”101. A estas manifestações populares assistiram da janela das suas habitações um grande número de senhoras “… que sem distinção de classes, davam palmas e vivas à Republica”102. À tarde, após a Filarmónica 1º de Dezembro ter regressado à sede, depois do périplo efectuado, foi desfraldado na janela da mesma o estandarte do Grupo Baltazar Manuel Valente e na janela da sede do referido Grupo podia-se ver hasteado o estandarte da Sociedade Filarmónica. Pelas 14h00m, chegou a Aldeia Gallega, vindo de Lisboa, o vapor Atalaia que fazia a primeira carreira depois do novo regime ter sido implantado e trazia já hasteada a bandeira republicana. Ao tomar conhecimento da chegada da embarcação deslocou-se para o cais grande número de pessoas que pretendia saber notícias dos acontecimentos em Lisboa, dados por António Vitorino Mirra, de alcunha o “Alcosteiro” que, assim que teve conhecimento do início da revolução, fora para Lisboa, e agora regressado da cidade podia contar ao imenso povo que o rodeava os acontecimentos revolucionários que tinha presenciado na capital. Com o entusiasmo provocado pela narrativa do “Alcosteiro”, logo os populares ocuparam o vapor com o intuito de se deslocarem para Lisboa, quando viram chegar ao cais um oficial fardado, Tenente de Engenharia que foi envolvido pela multidão, aos gritos de vivas à República, que o fez retirar a coroa que ostentava no boné, após o que todos embarcaram no vapor. Por esta altura os dois oficiais que se encontravam retidos no hotel RibaTejo à ordem da

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Diário de Notícias, 15 de Outubro de 1910, Ano XLVI, nº 16137, pág. 5. Idem, ibidem 102 Idem, ibidem. 101

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Comissão Municipal Republicana, chegaram ao cais acompanhados de alguns elementos da mesma, onde após se terem despedido, embarcaram no Atalaia e este partiu em direcção a Lisboa. À noite quase todas as casas da terra tinham as fachadas iluminadas, destacando-se (as fachadas) da Câmara Municipal, da Sociedade 1º de Dezembro, do Montepio, do Grupo Musical Baltazar Manuel Valente, do Aldegalense Sport Club e da Associação Comercial. Ao anoitecer, saiu da sua sede a Tuna do Grupo Musical tocando “A Portuguesa”, acompanhada de grande número de populares, deslocando-se por várias artérias da localidade, tendo por fim parado em frente da Câmara Municipal, em cuja Sala das Sessões o Presidente da edilidade proferiu um brilhante discurso alusivo ao novo regime implantado, após o que se ouviram ininterruptos vivas à Republica e foram lançados inúmeros foguetes. Saliente-se o facto de que embora bastante doente, acamado, o Presidente da Câmara Manuel Ferreira Giraldes, não se coibiu de se deslocar aos Paços do Concelho para ali receber os cumprimentos da Sociedade 1º de Dezembro, do Grupo Musical e dos vários populares que ali se deslocaram para o poder felicitar pelo advento do novo regime. Em seguida, deslocou-se a multidão para junto do edifício onde se encontrava instalado o Centro Republicano Dr. Celestino de Almeida, sendo nesta ocasião orador o Vice-Presidente da Comissão Municipal Republicana, que também foi muito aplaudido pela multidão. Pouco depois, o Grupo Musical Baltazar Manuel Valente deslocou-se à sede da Sociedade 1º de Dezembro onde por entre enorme ovação do povo presente foram trocados os estandartes, tendo o da Sociedade sido entregue à mesma pelo Grupo Musical, e o deste sido devolvido pela Sociedade. Após este acto saíram para a rua a Banda da Sociedade e a Tuna do Grupo Musical tocando em conjunto “A Portuguesa”. Todas estas demonstrações de júbilo pela implantação da República terminaram já de madrugada. No entanto, um piquete constituído por voluntários ficou de guarda à cadeia para prevenir qualquer eventualidade que pudesse vir a acontecer com os presos. Na freguesia de Sarilhos Grandes, assim que se soube da implantação da República realizaram-se imensas manifestações populares de regozijo103. Na quinta-feira, dia 6 de Outubro, partiram, logo de manhã, no primeiro vapor da carreira, 103

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bem como no das 09h30m, muitos populares que pretendiam ver em Lisboa os estragos provocados pela revolução, facto que se repetiu também pelas 14h00m. Devido ao enorme número de passageiros transportados pelos seus vapores que faziam a carreira Lisboa – Aldeia Gallega – Lisboa, nesse dia a Parceria dos Vapores Lisbonenses viu-se obrigada a fazer uma carreira extraordinária para trazer da Capital todas as pessoas que lá se encontravam e não tinham tido lugar nas carreiras realizadas de acordo com os horários em vigor. Neste mesmo dia, foi recebido na Administração do Concelho de Aldeia Galega um telegrama emanado do Governo Civil de Lisboa ordenando que a bandeira republicana fosse hasteada104. Embora não fosse precisa tal ordem, visto que a bandeira republicana já tremulava nos principais edifícios públicos da vila, foi em cumprimento dela que se ordenou ao Presidente da Junta de Paróquia da localidade que a bandeira republicana fosse hasteada na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo105. Na tarde deste dia foram presos na cadeia da vila 6 religiosos que pertenciam ao Convento de Brancanes de Setúbal106 e que tinham sido capturados na Estação de Caminho - de - Ferro do Pinhal Novo por uma força militar de Caçadores nº 4 e Igreja Matriz [c. 1910] conduzidos para Aldeia Gallega107. Na sexta-feira, dia 7, sucedeu o mesmo problema com o excesso de passageiros, e novamente foi organizada uma carreira extraordinária para fazer face ao enorme afluxo registado nesse dia. O vapor da carreira que aqui chegou pela manhã trouxe dois marinheiros que eram oriundos da localidade e que, ainda armados com as suas carabinas, vieram visitar as suas famílias. Eram eles João Pereira, primeiro marinheiro da guarnição do Cruzador Adamastor, e Afonso Pereira, primeiro grumete no Quartel de Marinheiros. Ao saberem da chegada destes, formou-se uma comissão de republicanos com o intuito de se lhes fazer uma homenagem. 104

AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 484. 105 AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Expedida, 1910 a 1911, registo nº 546. 106

O Século, 10 de Outubro de 1910, nº 10355, Ano 29, pág. 2.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Expedida, 1910 a 1911, registo nº 548. 52


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Começaram então a ser distribuídos pela vila uns panfletos anunciando tal intenção e pedindo a comparência da população na Praça Serpa Pinto e a iluminação das fachadas das casas particulares, das associações e das casas comerciais. De tarde, deram entrada na cadeia dois religiosos oriundos do Convento de Brancanes, capturados pelo Chefe da Estação de Caminho - de - Ferro de Pinhal Novo que os encaminhou para Aldeia Gallega. Ao anoitecer, já a Praça Serpa Pinto se encontrava repleta de populares e por essa altura, a Comissão, acompanhada da banda da Sociedade 1º de Dezembro, dirigiu-se à rua do Conde onde se encontravam - em casa de suas famílias - os marinheiros antes referidos, tendo-lhes sido prestada uma calorosa homenagem. Os marinheiros de carabina a tiracolo foram então levados a percorrer as ruas da povoação no meio da multidão que aplaudia e homenageava os heróis que “…dois dias antes se tinham exposto às balas para defenderem a República …”108. A multidão deslocou-se, depois, para o Centro Republicano Dr. Celestino de Almeida onde foi oferecido um beberete aos dois homenageados, tendo nessa altura usado da palavra várias pessoas que enalteceram o papel da marinha portuguesa na implantação do novo regime ali enaltecida na pessoa daqueles dois filhos da terra. A enorme massa de populares ocupava as instalações do Centro Republicano e as ruas circundantes do mesmo, numa noite em que eram raras as casas que não possuíam iluminações ou ornamentos nas suas fachadas. Depois de finalizadas as homenagens e o beberete, os dois heróis regressaram às suas casas acompanhados do povo que os seguiu até eles entrarem nas suas residências, após o que toda a gente dispersou pacatamente. No sábado, dia 8, foram os religiosos embarcados no vapor da manhã e conduzidos ao Governo Civil de Lisboa sob escolta de alguns republicanos da vila chefiados por António Rodrigues Caleiro. No vapor, seguiam também alguns populares que ainda pretendiam ver os estragos da revolução em Lisboa. No domingo, dia 9 de Outubro, o jornal O Domingo, que se intitulava semanário republicano independente, na primeira edição, após a instauração do novo regime, ostentava, na sua primeira página, a seguinte notícia:

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“ESTÀ, EMFIM, FEITA A REPUBLICA! VIVA A REPUBLICA! VIVA O DIA 5 D'OUTUBRO! VIVA A ARMADA E O EXERCITO! Desde as 6 horas da manhã de 4 do corrente que em todos os edifícios públicos de Aldegallega se vê hasteada a bandeira republicana. Se ainda na segunda-feira havia em Aldegallega quem duvidasse da Implantação da República, hoje não há, hoje são todos republicanos ou melhor ainda: patriotas para servirem a Nação sob o escudo da República”109. A 9 de Outubro, o executivo da Câmara Municipal de Aldeia Gallega, na pessoa do seu Presidente, enviou para Lisboa, dirigidos a diversas personalidades do novo regímen instituído, os seguintes telegramas: “Presidente do Governo da República – Lisboa – Em nome do povo de Aldegallega, o formidável baluarte da democracia, e em cuja Câmara Municipal tremulou desde o início da revolução a bandeira da República, saúdo em V. Exª. a Pátria libertada pelo esforço generoso de todos os portugueses que cooperaram na obra gloriosa da sua redenpção. – O Presidente da Câmara, (a) Manuel Ferreira Geraldes.” “Ministro da Guerra – Lisboa – Como representante legítimo do Povo de Aldegallega e em seu nome, saúdo na pessoa de V. Exª. o heróico e denodado exército português pelo feito brilhante da proclamação da República. – O Presidente da Câmara, (a) Manuel Ferreira Geraldes.” “Ministro da Marinha – Lisboa – Em nome do Povo de Aldegallega saúdo na pessoa de V. Exª. a gloriosa marinha de Guerra, que tão heroicamente se bateu pela Liberdade e pela República. – O Presidente da Câmara, (a) Manuel Ferreira Geraldes.”110 “Ministro do Interior – Lisboa – Em nome do povo de Aldegallega, saúdo na pessoa de V. Exª. a alma revolucionária da Pátria, que tão heróicamente a libertou e redimiu. – O Presidente da Câmara, (a) Manuel Ferreira Geraldes.” “Presidente da Câmara Municipal de Lisboa – O povo de Aldegallega, que ainda nas horas 109

O Domingo, 9 de Outubro de 1910, nº 483, Ano X, pág. 1. O Século, 12 de Outubro de 1910, nº 10357, Ano 29.

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mais adversas para a causa da liberdade, tão entranhadamente pugnou pelo ideal da República, saúda na pessoa de V. Exª. o grande heróico e generoso povo de Lisboa, que, com tanta abnegação e sacrifício, cooperou na obra grandiosa da redenpção da Pátria. – O Presidente da Câmara, (a) Manuel Ferreira Geraldes”. No mesmo dia Carlos Costa, que muito presumivelmente será o republicano aldeano conhecido pela alcunha de Carlos “Faz Chuva”, a título pessoal, enviou ao Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa um telegrama em que declarava “… saudar em s. exa. o admirável povo de Lisboa pelo seu heroísmo e amor à República”111. Após as manifestações locais em regozijo da implantação da República, onde participaram todas as autoridades locais, reuniu pela primeira vez no dia 10 de Outubro, pelas 14h00m, o executivo da Câmara Municipal de Aldeia Gallega na vigência do novo regime, sob a presidência do Vereador José d'Assis Vasconcelos estando presentes os Vereadores José Cipriano Salgado Júnior e José Fernandes da Costa. O Presidente, Manuel Ferreira Giraldes, não compareceu por continuar doente e acamado; faltou também a esta reunião o Vice-Presidente Álvaro Tavares Mora, bem como o Administrador Interino do Concelho, António Luís Ramos. A vereação deliberou então por unanimidade “… que a actual Praça Serpa Pinto passe a denominar-se Praça da República, que à Rua Direita se dei o nome de Rua Vice-Almirante Cândido dos Reis, a Rua da Graça passe d'ora avante a ser designada pelo nome de Rua Miguel Bombarda e ás ruas do Poço, do Conde e do Rollo se dêem respectivamente os nomes de Machado Santos, Rua Theophilo Braga e Rua Serpa Pinto”112. O Vereador José Cipriano Salgado Júnior interpretando os sentimentos da população local e os do executivo face ao novo regime instalado, fez lavrar na acta a seguinte declaração “ …a Câmara como legitima representante dos povos d'este Concelho que tão denodada e ardentemente pugnaram pela causa da liberdade, não podia deixar de exultar com o facto grandioso da implantação da República, no memorável dia 5 do corrente mez e anno. Que na manifestação do seu sentimento d'enthusiasmo e regosijo, considerava como um dever especialisar, com particular referencia, dentre todas as que cooperaram na imoredoura 111

O Século, 12 de Outubro de 1910, nº 10357, Ano 29. AHCMM, Acta da Sessão Ordinária de 10 de Outubro de 1910.

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obra da redempção nacional, os soldados heróicos de artilharia 1, Infanteria 16, assim como a armada tão tradicionalmente glorioso e os populares que, em prodígios de heroísmo, por egual affirmaram o valor da sua raça e o ardor da sua crença que um nobre ideal de justiça e liberdade animou e fortaleceu. Que, finalmente, ao iniciar-se a grande remodelação de processos políticos, sociaes e administrativos que hão-de conduzir o paiz à paz, à prosperidade e ao bem, esta Câmara, que pelo partido republicano foi eleita e que na defesa dos seus princípios se tem sempre mantido firme e enalteravelmente, continua pondo ao serviço da pátria, na convicção profunda do advento d'um futuro digno do seu passado glorioso, os mais leais, sinceros e desinteressados esforços”113. A Câmara Municipal e a população de Aldeia Gallega estavam cientes de que o nóvel regime iria conduzir o país a um novo rumo e a um futuro mais risonho em prol da causa pública. No dia 12 de Outubro, e na sequência de um telegrama emanado do Governo Civil, dando cumprimento ao decreto do dia 8114, António Luís Ramos entrega a Manuel Ferreira Giraldes os destinos da Administração do Concelho uma vez que por decisão superior tal cargo devia ser desempenhado pelo Presidente de Câmara115. Nesta mesma altura, o Administrador do Concelho demissionário informa também o seu substituto Perspectiva da rua Conde Paçô Vieira (actual Rua Miguel Pais) tirada da zona do Cais dos Vapores [c. 1910] que na cadeia da vila se encontram detidos três religiosos. António Luís Ramos ocupava interinamente o cargo de Administrador do Concelho de Aldeia Gallega desde o dia 4 de Outubro, quando foi nomeado para tal cargo pelo povo e pela Comissão Municipal Republicana da localidade. No entanto, o Presidente da Câmara que se encontrava doente, e por conseguinte impossibilitado de exercer as funções que agora lhe eram confiadas, envia ao Governador Civil de Lisboa, Eusébio Leão, um ofício onde expõe as razões da sua impossibilidade para 113

AHCMM - Acta da Sessão Ordinária de 10 de Outubro de 1910.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 488.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 490.

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exercer tal cargo. No ofício Manuel Ferreira Giraldes afirma a determinada altura “… Uma doença grave que desde há bastantes dias me retém no leito, impede-me por completo do exercício do alludido cargo. Como o cidadão a quem o concurso unânime da população d'esta terra, confiou no período agudo da revolução tão difficil missão reúne todas as qualidades de ordem moral, inteligência e illustração aliadas ainda à confiança absoluta deste povo, para ser investido nas funções de auctoridade administrativa e como nesta hora ainda incerta para a segurança e tranquilidade pública se torna indispensável que cargos d'esta natureza sejam confiados a homens que como o cidadão António Luís Ramos offereçam todas as garantias de ponderação e competência, ouso lembrar a V. Exª. a alta conveniência da sua nomeação …”116. O pedido de Manuel Ferreira Giraldes foi aceite por Eusébio Leão, visto que o Governador Civil, em resposta, envia no dia 12 um telegrama confirmando a nomeação provisória de António Luís Ramos para o cargo de Administrador do Concelho117 em substituição do Presidente da Câmara. No dia 14 de Outubro reúne em Assembleia-Geral a Loja Gestatorista da localidade, que decide, por aclamação, fazer uma récita com os sócios para angariar fundos para acudir aos feridos e às famílias das vítimas da revolução republicana. Para que a referida récita pudesse ser efectuada a empresa do Teatro Salão Recreio cedeu gratuitamente as suas instalações atendendo ao benemérito fim a que a mesma se destinava. Nesse mesmo dia, o Comandante do Distrito de Recrutamento e Reserva nº 2 oficiava o Administrador do Concelho inquirindo para que se informasse superiormente “… do facto do povo desta localidade ter assaltado a administração deste concelho e ter queimado os cadernos onde se achavam inscriptos os reservistas pertencentes a este districto afim de ser comunicado ao Comandante da Divisão”118. A Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro esteve entre as que acompanham as cerimónias 116

AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Expedida, 1910 a 1911, registo nº 554.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 490.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 493. 57


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fúnebres dos ilustres republicanos Dr. Miguel Bombarda e Almirante Cândido dos Reis, realizadas em Lisboa no dia 16 de Outubro. A 17 de Outubro, o Pároco da freguesia de Sarilhos Grandes informava o Administrador do Concelho que “… no dia 5 do corrente mez foram violentamente subtrahidas ao sacristão d'aquella freguezia as chaves da Egreja que se acha d'esde d'essa data em poder do thesoureiro da Junta de Paroquia”119. O jornal O Diário de Notícias, do dia 20 de Outubro, informava que no domingo, dia 23, o Grupo Musical Balthasar Manuel Valente iria realizar um bando precatório com o fim de angariar fundos para as vítimas da revolução republicana. Esperava o referido Grupo Musical que no domingo desfilassem a “…câmara municipal, auctoridades administrativas e todas as sociedades de socorros mútuos e de recreio, collegios officiaes e particulares”120, para o que ia oficiar todas aquelas instituições convidando-as para tal fim. Neste mesmo dia, em Canha, procedeu-se ao arrolamento e inventário de todos os bens existentes nos edifícios administrativos que pertenciam à Junta de Paróquia da freguesia. No domingo, dia 30, realizou-se também uma corrida de touros na praça de Aldeia Gallega tendo como cavaleiros Cristiano Rodrigues de Mendonça e um outro amador, e como bandarilheiros os melhores do género. Uma vez que a receita da bilheteira se destinava ao auxílio das vítimas da revolução, esperava-se que a adesão dos populares fosse enorme e a praça ficasse com a lotação esgotada. No dia 5 de Novembro de 1910, quando se comemorava a passagem do primeiro mês sobre a data gloriosa da revolução republicana, a população de Aldeia Gallega levou a efeito diversas manifestações de júbilo pela passagem da data. No dia 6 o jornal O Domingo noticiava que, a exemplo do que já tinha acontecido na sede do concelho e na freguesia de Sarilhos Grandes, os habitantes de Canha estavam a preparar “…uma representação à Câmara Municipal, pedindo-lhe para que dê ao Largo Central, Praça da República; à rua Direita, rua Affonso Costa; à rua do Castelo, rua 5 de Outubro; à rua Santa Nazareth, rua Heliodoro Salgado; à rua Santo António, rua Francisco Ferrer; rua dos Cavaleiros, rua 31 de Janeiro; rua da Estalagem, rua Magalhães Lima; rua do Almada, 119

AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Livro de Correspondência Recebida, 1910 a 1911, registo nº 497. 120 Diário de Notícias, 20 de Outubro de 1910, nº 16142, Ano XLVI, pág. 2.

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rua Luiz de Camões; rua da Mizericordia, rua Gomes Freire; rua de Traz, rua da Esperança”121. E a 13 do referido mês, segundo o mesmo jornal a “ Subscripção a favor das victimas da gloriosa revolução de 5 de Outubro”122 conseguiu reunir na localidade donativos no valor de 441.290$00 réis dos quais 59.140$00 foram donativo de uma Comissão de Senhoras, verba esta entregue na Câmara Municipal para que este organismo lhe desse o destino mais conveniente. A solidariedade da população republicana do concelho para com as vítimas da revolução conseguia verdadeiros prodígios financeiros atendendo ao fraco poder económico da maioria dos contribuintes. No entanto a situação laboral, pós revolução, era pouco estável, uma vez que as reivindicações por melhores retribuições salariais sucediam-se um pouco por toda a parte. Neste pressuposto e uma vez que corria o boato em Lisboa de que os trabalhadores da firma corticeira Bucknal & Scholtz iam fazer greve, o Governador Civil de Lisboa, Eusébio Leão, envia um telegrama ao Administrador do Concelho, a 23 de Novembro, onde se podia ler o seguinte “ Urgente – Proteja-se por todos os meios ao seu alcance Bucknal Scholtz sua fabrica cortiça evitando assim qualquer atentado …”123. Esta atitude das autoridades republicanas ao solicitarem a intervenção do Administrador do Concelho junto dos grevistas evitando dessa forma qualquer perturbação laboral na firma Bucknal & Scholtz sugere duas interpretações de forma a explicar a mesma: ou as autoridades republicanas não estavam interessadas em que uma indústria que vinha a obter um peso estratégico na economia nacional fosse alvo de perturbações políticas no campo laboral tendo em conta que os montados de sobro ocupavam uma área que rondava entre os 350.000 e 400.000ha e a sua produção anual atingia um valor entre as 70.000 e as 80.000 toneladas de cortiça das quais 90% eram destinadas à exportação; ou – interpretação mais plausível – os capitais estrangeiros da firma em causa, de origem britânica, podiam por razões políticodiplomáticas provocar alguns problemas institucionais ao recente governo republicano. Na sequência destes pressupostos, é provável que as razões que levaram Eusébio Leão a 121

O Domingo, 6 de Novembro de 1910, nº 487, Ano. X, pág. 3. Idem, 13 de Novembro de 1910, nº. 488, Ano X. pág. 2. 123 AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Correspondência Recebida Ano 1910, Telegrama recebido em 23 de Novembro de 1910. 122

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tomar tal atitude, dentro da conjuntura revolucionária em curso, tenha a ver com a grande importância que a manutenção da paz social possuía para a consolidação do novo regime. No entanto, convem não esquecer que as relações entre o Governo Britânico e o Governo da República Portuguesa não eram as mais famosas nesta altura: o monarca deposto, D. Manuel II, tinha obtido exílio em Inglaterra e a coroa britânica não observava com agrado a violenta transformação política sofrida em Portugal, o seu velho aliado na Europa. A 5 de Dezembro de 1910, a Câmara Municipal de Aldeia Gallega reunida em sessão ordinária delibera a pedido da Junta de Paróquia da freguesia de Sarilhos Grandes que a “Avenida de S. Jorge passe a ser denominada Rua Almirante Cândido dos Reis, a Praça do Mercado fique sendo designada pelo nome de Avenida 5 de Outubro, e as Ruas da Piedade, Direita e Arieiro fiquem respectivamente designadas pelos nomes de Dr. Miguel Bombarda, António José de Almeida e Machado Santos …”124. Em 8 do mesmo mês o Administrador do Concelho de Aldeia Gallega recebia um ofício datado do dia 6 e emanado da 2ª Repartição do Governo Civil de Lisboa que informava da necessidade da “… manutenção e conservação dos cruzeiros e pelourinhos …”125, pelo que se solicitava os bons préstimos dos administradores para tal fim. A exemplo do que aconteceu por todo o País durante esta altura, em virtude da vaga iconoclasta republicana, tal preocupação não veio a sortir grande influência nos destinos do Edifício dos Paços do Concelho, actual Galeria Municipal saliente-se a existência já da Rua Agostinho Fortes [c. 1910-1920] Cruzeiro da Atalaia que chegou aos nossos dias com as imagens decapitadas, embora existam fotografias anteriores à revolução que comprovam que o cruzeiro tinha as referidas imagens completas antes de 1910. O mesmo se pode aplicar aos destinos da coroa – hoje inexistente – que encimava as armas reais existentes no retábulo do altar-mor da Igreja do Santuário Mariano de Nossa Senhora de Atalaia. A 14 de Dezembro de 1910, pretendeu-se nomear o Vereador José de Assis Vasconcelos, 124

AHCMM – Acta da Sessão Ordinária de 5 de Dezembro de 1910. AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Correspondência Recebida Ano 1910, Oficio do Governo Civil de Lisboa de 6 de Dezembro de 1910. 125

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que interinamente exercia as funções de Presidente da Câmara, para o cargo de Administrador do Concelho. José de Assis Vasconcelos declina tal cargo, pelo que informa o Administrador do Concelho em exercício de tal decisão por carta datada do mesmo dia, e o Governador Civil 126 de Lisboa por telegrama enviado na mesma altura . Cerca de dois meses depois de implantada a República em Portugal encontravam-se as instituições político-institucionais em vias de alcançar a estabilidade necessária ao seu bom e normal funcionamento. Mas o país só alcançaria tal objectivo com a eleição da Assembleia Constituinte, que viria a dotar o novo regime do seu documento fundamental, a Constituição da República, em 1911.

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AHCMM – Fundo da Administração do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo, Correspondência Recebida Ano 1910, Oficio nº 180 da Câmara Municipal do Concelho de Aldeia Gallega do Ribatejo.

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Peças em Exposição


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1 1-Bandeira Nacional (República) rectangular bipartida de verde e vermelho, ocupando o verde dois quintos de largura e o vermelho os outros três, centrado na divisão o brasão de armas da república, constituído pelo escudo sobreposto a uma esfera armilar cujo diâmetro é igual a metade da altura da bandeira. 310cm (comp.), 227cm (alt.) MMM 2156

3 - Estandarte da Câmara Municipal de Aldeia Gallega, em seda bordada com as armas nacionais do tempo da monarquia, ostentando ao centro um escudo oval de prata com cinco escudetes de azul em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes do campo em cruz, bondadeira de vermelho carregada de sete torres de ouro. Ladeado por motivos vegetalistas com coroa real de ouro, com cordões, borlas e franjas do mesmo metal; tem a legenda “Câmara Municipal de Aldegallega”, também bordada a fio de ouro. 100cm (larg.), 150cm (alt.) MMM 1432

2 2 - Bandeira Nacional (Monarquia) rectangular bipartida de azul e branco, ocupando o azul um terço e o branco os restantes dois, centrado na divisão um escudo de armas da monarquia, constituído pelo escudo encimado por uma coroa. 202cm (comp.), 132cm (alt.) MMM 2157

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4 - Fotografia de Manuel Ferreira Giraldes, fotografia a preto e branco, Photo Vasques, Lisboa, 1909. Cedência: Herdeiros Maria Júlia Ferreira Giraldes. 66cm (alt.), 55cm (larg.) 5 - Fotografia de Manuel Ferreira Giraldes, reprodução fotografia a preto e branco. 76,5cm (alt.). 67,5cm (larg.) MMM 1568 6 - Fotografia de Afonso Costa, fotografia a preto e branco. Cedência: Banda Democrática 2 de Janeiro. 43cm (alt.), 37cm (larg.) 7 - Fotografia de Bernardino Machado, fotografia a preto e branco. Cedência: Banda Democrática 2 de Janeiro. 43cm (alt.), 37cm (larg.) 8 - Fotografia de José de Sousa Rama, reprodução de fotografia a preto e branco. 69,5cm (alt.), 60cm (larg.) MMM 1601

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9 - Jornal O Domingo, Sábado, 31 de Outubro de 1908, nº 381, VIII Anno, página 1 10 - Jornal O Domingo, Domingo, 29 de Novembro de 1908, nº 385, VIII Anno, página 1 11

11 - Jornal O Domingo, Sábado, 31 de Outubro de 1908, nº 381, VIII Anno, página 2 12 - Jornal O Domingo, Domingo, 9 de Outubro de 1910, nº 483, X Anno, página 1

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13 - Jornal O Século, Segunda-feira, 3 de Fevereiro de 1908, VIGÉSIMO OITAVO ANNO, nº 9:383, página 1 14 - Jornal O Século, Domingo, 9 de Fevereiro de 1908, VIGÉSIMO OITAVO ANNO, nº 9:389, página 1

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15 - Peça de teatro, Preconceitos, original em três actos, acto primeiro, por Manuel Ferreira Giraldes, c. 1900. 33 fls., 30cm (alt.), 20cm (larg.), 1cm (prof.) Cedência: herdeiros de Maria Júlia Ferreira Giraldes 16 - Peça de teatro, Expiação, original em três actos, por Manuel Ferreira Giraldes, c. 1900. 75 fls., 27cm (alt.), 21cm (larg.), 1cm (prof.) Cedência: herdeiros de Maria Júlia Ferreira Giraldes 17 - Certificado de Exame de pharmacia como alumno de 2ª classe emitido pela Escola MédicoCirúrgica do Porto, 1888 1 fl., 30cm (alt.), 20cm (larg.) Cedência: herdeiros de Maria Júlia Ferreira Giraldes 18 - Assento de Baptismo de Manuel Ferreira Giraldes, nascido a 15 de Janeiro de 1868, em Angra do Heroísmo; certidão emitida em 1888. 1 fl., 29,5cm (alt.), 20cm (larg.) Cedência: herdeiros de Maria Júlia Ferreira Giraldes

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19 - Acta da Sessão de 30 de Novembro de 1908, Livro de Actas das Sessões da Camara Municipal de Aldegallega do Ribatejo. 35cm (alt.), 26,5cm (larg.), 5cm (prof.) AMM B/A/1//Lv14

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20 - Busto da República em gesso pintado de cor bronze, busto de mulher, com um barrete frigío, cabelos soltos com uma coroa de louro, blusa de cordões afrouxados que deixa entrever o peito. Símbolo das quinas e inscrição “5 de Outubro de 1910”. Cedência: Junta de Freguesia de Montijo. 22cm (comp.), 12cm (larg.), 30cm (alt.) 21 - Estátua da República, representação da República, figura alegórica de uma mulher usando um gorro frígio (representação da liberdade). Estátua de vulto inteiro vidrado polícromo que tem na mão direita uma espada e na mão esquerda uma bandeira nacional. 40cm (larg.), 110cm (alt.) MMM 1433 (depósito) 21

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22 - Busto da República em gesso pintado, busto de mulher com perfil levemente para a esquerda, com um barrete frigío e cabelos soltos, envolta na bandeira nacional. Cedência: Banda Democrática 2 de Janeiro. 39cm (comp), 23cm (larg.), 49cm (alt.) 23 - Peanha em gesso pintado, com as armas nacionais sobre um fascio ladeado por motivos vegetalistas. Cedência: Banda Democrática 2 de Janeiro. 17,5cm (comp.), 14,5cm (larg.), 24cm (alt.)

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24 - Prato em fainça, pintado à mão, com uma representação da imagem da República, uma mulher jovem com uma bandeira na mão e um leão ao lado, e a imagem da monarquia, um idoso com um pau na mão e amarrado ao chão, por detrás encontra-se a imagem do clero. Tem a inscrição “Viva a Republica Portuguesa, 510-1910” 24cm (diâm.) MMM 1396

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25 - Quadro “A Proclamação da República Portugueza”, quadro alusivo à proclamação da República, onde se vê a imagem da República ao centro com uma bandeira, em frente à imagem dos Paços do Concelho do Município de Lisboa. Por baixo, ao centro, a imagem dos membros do directório do Partido Republicano; do lado direito e esquerdo imagens das barricadas da rotunda. Ao centro, do lado direito a imagem de um grupo de sacerdotes escoltados por um grupo de militares, do lado esquerdo a imagem de militares com a população. Em cima, do lado direito a imagem do bombardeamento do Palácio das Necessidades, do lado esquerdo a imagem do embarque da família real na Ericeira. Em rodapé pode-se ler “Principais acontecimentos em Lisboa a 5 de Outubro de 1910”. Cedência: Banda Democrática 2 de Janeiro. 60cm (alt.), 75,5 (larg.)

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26 - Escrivaninha composta por bandeja oval, três tinteiros, três areeiros, um porta-penas de forma oval e campainha semi-esférica, apresentando todas as peças a mesma inscrição incisa “CAM.RA D'ALDA .GAL.A DO R. TEJO”. Data 1817. Ourives António Firmo da Costa. 28,5cm (comp.), 10,4cm (alt.) MMM 1427 27 - Par de castiçais de base hexagonal, haste em forma de balaústre com bocal em forma de cálice e arantela circular fixa. Predominantemente lisos, apenas tendo a base recortada com a seguinte inscrição “Câmara de Aldeia Gallega do Ribatejo”. Data 1817. Ourives António Firmo da Costa. 20,5cm (alt.), 9cm (diâm.) MMM 1425

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28 - Faixa de Vereador em seda branca e azul, com a inscrição a fio de ouro “Vereador”. Encontra-se dobrada, tendo no anverso um remate em laço e em cada ponta da faixa pendentes com franjas, também em branco e azul. Cedência: Maria João Boavida. 98cm (comp.), 9,5cm (larg.) 29 - Livro de Registo de Visitantes Ilustres, com capa em couro de cor castanha, aplicação de uma coroa e a inscrição “Câmara Municipal de Aldegallega do Ribatejo – Visitantes”, ambas em prata. 35cm (comp.), 26,3cm (larg.), 8cm (alt.) MMM 1428

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Executivo eleito em 1908*

Presidente 30 - Manuel Ferreira Giraldes (Farmacêutico) nasceu em Angra do Heroísmo a 15 de Janeiro de 1868, filho de Manuel Ferreira Giraldes e de Maria Clara Vidigal Giraldes foi casado com Júlia Pires Fernandes Ferreira Giraldes, e faleceu em Aldeia Gallega do Ribatejo a 10 de Maio de 1916. Vice - Presidente 31 - Francisco Freire Caria Júnior (Comerciante e Proprietário) nasceu em Aldeia Gallega do Ribatejo a 1 de Outubro de 1861, filho de Francisco Freire Caria e de Maria da Conceição Caria, e faleceu em Montijo a 23 de Novembro de 1939.

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Vereador 32 - José de Assis Vasconcelos (Proprietário) nasceu em Aldeia Gallega do Ribatejo a 4 de Novembro de 1862, filho de José Maria Vasconcelos e de Maria Bárbara Vasconcelos, foi casado com Maria da Conceição Xavier Vasconcelos, e faleceu em Montijo a 3 de Julho de 1952. Vereador 33 - Álvaro Tavares Mora (Proprietário) nasceu em Aldeia Gallega do Ribatejo em 8 de Novembro de 1882, filho de Manuel Justiniano Mora e de Maria Antónia Tavares Mora, foi casado com Arminda da Conceição Pereira Moutinho Mora, e faleceu em Montijo a 11 de Junho de 1962. Vereador * José Cipriano Salgado Júnior (Proprietário) nasceu em Aldeia Gallega do Ribatejo no ano de 1848, filho de João Gouveia e Maria Barbara Gouveia, foi casado com Ana da Conceição Salgado, e faleceu na mesma localidade a 27 de Junho de 1914. Não foi possível obter fotografia deste vereador.

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Ficha Técnica Título - Catálogo da Exposição

“Aldeia Gallega nas Vésperas da República. As Eleições Municipais de 1908” Organização

Câmara Municipal de Montijo/Departamento Sócio-Cultural Coordenação Científica

Rosa Bela Azevedo, Alexandre Arménio Tojal Concepção e Execução

Joaquim Baldrico, Micaela Casaca Sécio ©Textos

Maria Alice Samara, Joaquim Baldrico Design

Rita Rebelo Fotos

Carlos Rosa Edição

Câmara Municipal de Montijo, Outubro de 2008 Tiragem 500 Exemplares Impressão

Divulgação DIRP ISBN 978-989-8122-12-4 Depósito Legal

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