FERNANDO DIREITO pinturaDIREITO FERNANDO pintura GALERIA MUNICIPAL DO MONTIJO JANEIRO MARÇO 2016 1717 DEDE JANEIRO AA 2531 DEDE FEVEREIRO 2016 1
17 DE JANEIRO A 31 DE MARÇO 2016
2
FERNANDO DIREITO pintura
17 DE JANEIRO A 31 DE MARÇO 2016
FERNANDO DIREITO pintura GALERIA MUNICIPAL DO MONTIJO JANEIRO MARÇO 2016 1717 DEDE JANEIRO AA 2531 DEDE FEVEREIRO 2016
3
4
Ícones de nós próprios
Talvez sejam sempre as pessoas que constroem os ícones com o olhar. Talvez não existissem formas se não houvessem pessoas para distingui-las e para lhes encontrarem significados que as justificassem. Talvez. É também assim com as cores. Qualquer quadro visto com os olhos fechados tem apenas uma cor. Sem o olhar das pessoas que caminham pelas ruas, talvez as casas sejam tão impossíveis de distinguir como as cartografias que trazemos no nosso interior: as emoções invisíveis que nos edificam, os sentimentos, as certezas que não conseguimos distinguir completamente. Talvez o mundo mais real seja aquele que existe sem formas, como um ruído uniforme na forma única da sua própria ausência, como um silêncio permanente e absoluto onde as palavras são indistintas e todos os significados existem ao mesmo tempo. Se assim for, talvez o trabalho eterno da humanidade seja dar forma a cada sentido, libertar formas e libertarmo-nos com elas, nomear com formas e cores todo o silêncio que encontrámos no momento em que o mundo nasceu.
5
E tentamos perceber se somos um dos pontos que constituem esse mundo ou se esse mundo é a imagem de um dos pontos que nos constitui. Paramo-nos diante da pergunta porque sabemos que só nós podemos respondê-la. Cada quadro desta exposição de Fernando Direito é essa pergunta a ser-nos feita como se fizéssemos parte da sua enunciação e como se, simultaneamente, a pudéssemos observar exterior a nós. Somos colocados na fronteira que existe entre nós próprios e o mundo. De um dos lados da nossa pele, está o mundo onde existimos e onde somos um ponto concreto, com o mesmo tamanho e com o mesmo valor de todos os outros pontos, onde somos um caminho, uma cor que preenchemos com as nossas idades e com aquilo que soubemos viver; do outro lado da nossa pele, está o mundo onde existimos quando estamos sozinhos, quando nos lembramos de tudo aquilo que podíamos ser se quiséssemos e quando sabemos que existem cidades e labirintos dentro de nós. Depois, existe o tempo porque existe sempre o tempo. O rio que separa a noite do dia é o mesmo que divide todas as margens possíveis. Podemos decidir-nos pela estabilidade de uma ou de outra margem,
6
podemos ser levados pela corrente como se não tivéssemos vontade. Não haverá pontes se não nos determinarmos a levantá-las. Tentamos compreender a margem onde estamos, imaginamos com todas as nossas forças a margem que nunca conhecemos, avaliamos a velocidade das correntes e tudo nos diz que não haverá pontes se não nos determinarmos a levantá-las. Talvez sejam as pessoas que constroem significados para as formas e talvez essa seja uma das maneiras que utilizam para construir o mundo. Talvez os gestos, as palavras e os rostos sejam formas que procuram o seu significado nos olhares que as interpretam. Nós somos as pessoas. Há vezes em que destruímos e há vezes em que decidimos o sagrado. Distinguimos, nomeamos e interpretamos porque estamos vivos. Talvez. Talvez as pessoas se vejam sempre reflectidas nas formas que encontram. Talvez sejam sempre as pessoas que constroem ícones com o olhar.
José Luís Peixoto “in catálogo iconografias”
7
8
Empório do Meio
Os pináculos da Igreja de Santo Olavo, na tão báltica quanto hanseática Tallinn. Mas também o inconfundível azul índigo de Marraquexe (talvez o Atlas se dilua na escuridão). Ou o crepúsculo de um porto do Egeu, razão maior da penumbra que nunca chega. E, no entanto, Lisboa. Sempre Lisboa. Lisboa como ponto médio, aglutinante. A bissectriz possível — e desejável — de todas as geografias. Reúne-se num ângulo específico, “científico” talvez fosse a palavra: a janela de Fernando Direito, não essa de sentido metafórico, antes a janela física, concreta e com vistas para o Tejo que se antecipa proverbialmente à parábola. Direito pinta com linhas tortas, mas não demasiado. Se hirtas, rectas, inflexíveis, jamais abarcariam a vastidão do mundo, o que se esconde muito para lá da tíbia e ilusória linha do horizonte. Convenhamos: Lisboa também nunca aceitaria ser um oco skyline, anglicismo equívoco e redutor. Menos ainda uma varanda debruçada sobre o rio, mera contemplação luminosa de um Cristo que se diz — disse — ser Rei.
9
Ver não é necessariamente estar. Os seus braços estão bem abertos, é certo, mas é nesta margem, do lado de cá, sempre do lado de cá, tem mesmo de ser do lado de cá, que se atinge o panóptico existencial. Lisboa como Empório do Meio, esse admirável lugar-não-lugar da redenção anunciada. Um entreposto de ideias, símbolos, bens, ciência, arte. Muita arte — ao ponto de tudo parecer gravitar na sua orla, e ela própria na orla da sua orla, num tão eterno quanto colorido jogo de espelhos. O propalado aquecimento é global — mas estas telas falam espaçadamente de outro tempo. Um tempo que se acelera na justa medida da contracção do espaço. Síntese precisa-se — e ei-la. Ei-la no pináculo da Igreja de Santo Olavo. Faltam as certezas, porém. Tentar reduzir sumariamente a dissonância será sempre um assomo de autismo. Não será antes um minarete de Stone Town, essa maravilhosa pérola índica de Zanzibar, igualmente terra prometida de Simbad, o marujo trapalhão das Mil e Uma Noites? Os Jerónimos? Saboreemos a dúvida. E porque não um mastro no porto grego de Hidra, breve ilha que, a fazer fé em Zeus, encerra muitíssimo mais do que apenas água à sua volta?
10
A dúvida não tem paralelo — nem sequer longitude. A imagem é holística ao ponto de gerar um raro efeito de sucção. Engolidos? Intemporal e viajante, lança-nos num abismo saudável onde tudo é tão possível quanto o seu contrário. Umbilical? Ecuménica, por certo. O Empório por todos se faz ouvir — está no meio, não tem de gritar. Acredita inclusive na missionação da verdade filosófica do mundo e da vida. Luta contra a indiferença, não se resigna perante o que (lhe) parece antagónico. Sem desnecessária altivez. Humilde e plural, ao invés: pela tela, por todas as metamorfoseadas telas, e o tamanho é despicienda, tanto irrompem os pesados sinos de bronze da Igreja de Santo Olavo como a monocórdica chamada para a oração numa das margens do Bósforo, ali paredes meias com a Bica. E não será mesmo Hidra? Ao fundo, lá bem ao fundo, um barco apita três vezes. Normal. Costumam fazê-lo sempre que beijam — aportam?, zarpam? — uma nova cidade. E Fernando dá-nos muitas. Todas.
João Lopes Marques “in catálogo Empório do Meio”
11
12
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 89x116cm - 2007
13
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 73x110cm - 2007
14
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 73x100cm - 2007
15
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 73x100cm - 2007
16
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 73x100cm - 2007
17
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela50x65cm - 2007
18
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 92x73cm - 2007
19
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 65x92cm - 2007
20
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 60x81cm - 2007
21
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 65x81cm - 2006
22
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 60x73cm - 2007
23
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 81x100 cm - 2003
24
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 81x100 cm - 2003
25
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 65x81 cm - 2004
26
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 65x81 cm - 2004
27
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 60x73 cm - 2004
28
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 65x81 cm - 2004
29
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 100x81 cm - 2005
30
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 100x81 cm - 2005
31
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 130x195 cm - 2003
32
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 130x195 cm - 2003
33
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 130x195 cm - 2003
34
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 130x195 cm - 2003
35
SEM TÍTULO - Acrílico s/tela 130x195 cm - 2003
36
FERNANDO DIREITO, natural de Vila Nova de Foz Côa em 1944. Vive e trabalha em Lisboa, iniciou a sua carreira nos anos sessenta em Moçambique. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS – 2015/16 “ é de caras e outras cisas “ Centro de Artes e Espectálucos, Figueira da Foz - 2013/2014 “ é de caras e outras coisas - Galeria Valbom, Lisboa - 2009 “Fragmentos” Centro Cultural de V.N. de Foz Côa - “Fragmentos ” Museu Diocesano de Lamego, Lamego - “Fragmentos” Museu Municipal de Resende, Resende - 2008 Galeria Valbom “Empório do Meio” Lisboa – 2007 Casa Museu Bissaya Barreto “Iconografias” Coimbra – Galeria Joaquina Barreto Rosa, Sonhos de Solidão, Coimbra - 2005 Galeria Arthobler, Porto – Galeria Valbom, Lisboa – Galeria Cidiarte, ”desenhos de pequeno formato” Lisboa – 1998 Galeria 111, Lisboa – Galeria António Piné, Guarda – Biblioteca Municipal Calouste Gulbenkian, Ponte de Sor – 1992 Galeria Grade, Aveiro – 1991 Galeria 111, Lisboa – 1989 Galeria 111, Lisboa – 1987 “Fernando Direito no Algarve”, Galeria Municipal, Faro – Salão Nobre da Câmara Municipal, Portimão – Galeria Municipal de Tavira – 1984 Galeria 111, Lisboa – 1981 Galeria 111, Lisboa – 1980 Galeria 111, Porto – 1965/1975 Várias exposições em Moçambique. EXPOSIÇÕES COLECTIVAS – 2015 Colectiva - Galeria Valbom - 2014 50 anos da Galeria 111, Lisboa. - Pequeno formato, Galeria Valbom - 2013 Galeria Valbom 2012 - Galeria Valbom 2011/2010 Arte Lisboa, Galeria Valbom - 2009 “Anos 90”, Centro de Arte Manuel de Brito, Oeiras - 2008 Arte Lisboa, Galeria Valbom, Lisboa - “À Volta do Papel” 100 Artistas, Centro de Arte Manuel de Brito, Oeiras - 2007 Lisboa – Arte Lisboa, Galeria Valbom – Galeria Arthobler, Lisboa - Diversidades/Raridades, Galeria Cidiarte, Lisboa - 2006 Galeria Cidiarte, Lisboa – Arte Lisboa, Galeria Valbom – Galeria Arthobler, Lisboa – Quinta de Lemos, Passos de Silgueiros, Viseu –Lisboa – 1998 Arte Contemporânea Anos 60-90, Galeria 111 Porto - Arte Contemporânea Anos 60-90, Galeria 111, Lisboa – 1992 X Bienal Internacional do Desporto nas Belas Artes, Barcelona – 1991 Banco do Fomento e Exterior, III Exposição de Arte, Maputo – Arte com Timor, Palácio Galveias, Lisboa – 1989 Exposição de Arte Contemporânea no Balneário D. Maria II, Hospital Miguel Bombarda, Lisboa – 1988 Exposição Inaugural da Sede do Parlamento Europeu, Lisboa – Forum das Artes, Galeria 111, Forum Picoas, Lisboa – 1987 3ª Feira de Livros, Arquitectura e Artes Plásticas, SNBA, Lisboa – 1986 Colecção Frederik R. Weisman, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa – Festival das Amendoeiras, Câmara Municipal, Vila Nova de Foz Côa – 1984 Exposição Comemorativa dos 20 Anos da Galeria 111, Lisboa – Exposição Ibérica, Campo Maior – 1982 Pequeno Formato, SNBA, Lisboa – 1981 Salão de Verão, SNBA, Lisboa. COLECÇÕES – Colecção Manuel de Brito, Imagens da Arte Portuguesa do séc. XX – Colecção Frederik R. Weisman – Colecção Banco Comercial Português – Colecção Banco do Fomento Exterior – Colecção Caixa Geral de Depósitos. – Fundação Bissaya Barreto – Está representado na: Embaixada em Madrid, Paris, Atenas, Moscovo e Cidade do México. Está referenciado no Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Fernando de Pamplona.
37
Ficha Técnica [catálogo] Galeria Municipal do Montijo Título Edição Textos Fotografia Projecto gráfico Divulgação Edição on-line 38
Fernando Direito: pintura Câmara Municipal do Montijo José Luís Peixoto e João Lopes Marques Fernando Direito Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Gabinete de Comunicação e Relações Públicas 2016
39
Galeria Municipal do Montijo Rua Almirante Cândido dos Reis, 12 • 2870-253 Montijo Telefone: 21 232 83 00 E-mail: cultura@mun-montijo.pt Horário: Segunda a Sexta das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30
Catálogo online em www.mun-montijo.pt www.facebook.com/cmmontijo 40