Com o "batôn" nos dentes: desenho e pintura | Paula Sousa Cardoso e Isabel Sabino

Page 1

PAULA S O US A CARDO S O IS ABEL S ABINO D ES EN H O E P I N T URA



E

X

P

O

S

I

Ç

Ã

O

P A U L A S O U S A C A R DO S O E I S A B EL S A B I N O DE S E N H O E P I N T U R A

7 MARÇO A 24 ABRIL 2020 GALERIA MUNICIPAL DO MONTIJO

ENCERRAMENTO DO CICLO COMEMORATIVO



“Um forte impulso da produção artística no feminino é um bom sintoma da luta emancipadora das mulheres e da aproximação à igualdade de direitos e oportunidades entre os sexos.“ Vítor Serrão

Quando visitamos museus, com um olhar mais atento, percebemos que a presença feminina nestes espaços nos surge muito mais como objeto de arte, do que como produtora. Esta ausência de obras de autoras femininas “e é importante tentar entender a razão porque tal acontece”, decorre de “barreiras impostas pela sociedade” que, ao longo da História, “impediram as mulheres, não apenas de enveredar pelo caminho da arte, mas também de serem reconhecidas nesse domínio”. Esta situação tem vindo a reverter-se e a Mulher é cada vez mais “o sujeito da produção artística”. Por tudo isto impõe-se que, neste mês de março, que se pode considerar o mês da Mulher, a Galeria Municipal dê visibilidade a duas extraordinárias artistas plásticas: Isabel Sabino e Paula Sousa Cardoso. Ambas já nossas conhecidas, voltam à nossa cidade para encerrar o Ciclo de Exposições Comemorativas dos 20 anos da Galeria Municipal, não ficando de fora a temática da Mulher. A primeira, professora da área de Pintura da FBAUL, com um amplo currículo académico e artístico e, a segunda, vencedora do Prémio Vespeira em 2002, na VII Bienal de Artes Plásticas Cidade do Montijo. Bem-vindos! O Presidente da Câmara Municipal

Nuno Ribeiro Canta


PA U LA S O U S A C A RD O S O


Um sorriso perfeito manchado de batôn... Uma sociedade pautada pelo belo, estético, intangível... e o seu reverso oculto ou escancarado rudemente. A mulher, o seu interior, o seu exterior, o seu espaço (lar), os seus anjos e demónios, é diariamente confrontada com desafios alucinantes que se confundem e a agridem, fazendo-a questionar-se sobre a sua verdadeira natureza: menina, mãe, modelo (de referência para)... mulher. Ao longo do meu percurso tenho vindo a conciliar/sobrepor um universo que remete para imagens esteticamente agradáveis, belas, porém, marcadas de alguma forma por elementos perturbadores e, de certa forma, agressivos. As telas e desenhos que agora apresento sugerem, sem qualquer dúvida, que para lá da harmonia se escondem sentimentos como ansiedade, medo (em última instância, da morte), insegurança. Como a obra “Until then we have to live with ourselves” indica, até ao momento final vivemos connosco próprios e assumimos diferentes papéis, enfeitando-nos e decorando os nossos espaços e as nossas vidas. Um sorriso aberto e expressivo, revelando uns dentes perfeitos, é um sorriso ridículo se manchado de batôn... é um sorriso considerado “imperfeito” pela sociedade.

Paula Sousa Cardoso fevereiro 2020


Until then we have to live with ourselves Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


Entering the Parking Lot Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


Wallpaper Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


The Housekeeper Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


Inside. Outside. Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


Tamed Jungle Ă“leo sobre tela 100x85 cm 2020


De Amor e Luxúria Lápis de cor, tinta permanente e óleo sobre papel 150X200 cm 2018


PAULA SOUSA CARDOSO

Versão abreviada

N. Santarém, 1974. Estudou na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa onde se licenciou em Artes Plásticas-Pintura (1998) e realizou o Mestrado em Pintura (2003). Individuais De várias exposições individuais destacam-se: These are Flowers, not Poems (2019), Galeria Municipal de Alcanena; De Amor e Luxúria (2018), Galeria Arte Periférica, Centro Cultural de Belém, Lisboa; The Next Picture (2014), Galeria Municipal de Montijo; Of Love and Chaos (2013) e You Promised Me Poems (2012), ambas na Galeria Arte Periférica CCB, Lisboa onde expõe desde 1999. Coletivas Tem participado em diversas exposições coletivas, destacando as seguintes: Talking with Masters (setembro 2017) e A Possible Breeze – Whispers (novembro 2017), em Dunhuang e Pequim, China, respetivamente, no âmbito de uma parceria entre o Ministério da Cultural Chinês, a Fundação Oriente e a Galeria Arte periférica; Periplos - Arte Portugués de Hoy no Centro de Arte Contemporáneo de Málaga. Coleções Está representada em diversas coleções particulares em Portugal e no estrangeiro, tais como a Benetton Foundation, CAC Málaga, Banque Privée Edmond Rothschild Europe, Museu da Cidade – Lisboa.

ISABEL SABINO

Versão abreviada

N. Lisboa, 1955. Lic. em Artes Plásticas-Pintura (ESBAL, 1978); estágio do MEC (1979); agreg./equip. Dout. (ESBAL 1992); agreg. Univ. (U. Lisboa 1999). Docente no E. Secundário (1976-1982), em Belas Artes (ESBAL/ FBAUL), desde 1982, atualmente professora catedrática. Membro do Centro de investigação Cieba (FBAUL), i2ads (FBAUP) e da ANBA (Academia Nacional de Belas Artes). Exposições desde 1977. Seleção recente: Individuais Lido com ela (2019, G. Artur Bual, Câmara Municipal de Amadora); Ela (2019, Salão da SNBA, Lisboa); Four seasons, please! (2019, G. Arte Periférica, Lisboa); Talvez bombons (2014, G. Arte Periférica, Lisboa); E os rios nascem no mar (2015, Lugar do Desenho/Fund. Júlio Resende); A menina (não) fica em casa (2016, Museu Militar, Lisboa). Coletivas JustLx (2019, Lisboa, com G. Arte Periférica); Diálogos Iberos (2016, Galeria da UFES, Vitória, Brasil); ArteMadrid (com G. Arte Periférica, Madrid, 2017 e 2018); A possible breeze. Portuguese Modern Art (2017. Minsheng Museum of Contemporary Art, Beijing, China); Belas Artes da Academia. Uma coleção desconhecida (2018, Centro Cultural de Cascais); We Are Europe (2018, Lodz Academy of Fine Arts, Poland).

Mais em: http://umbrapicturae.blogspot.pt Textos: http://orcid.org/0000-0002-9514-5952

http://www.isabelsabino.com


IS AB EL S A B I N O


Nem sempre, nos desenhos aqui presentes (e em pinturas da mesma série), as presenças femininas têm imagem própria. Umas surgem retratadas, outras não estão visíveis. Nos pequenos formatos há imagens fotográficas de uma sala de cinema que foi muita coisa (cineteatro, centro comercial, discoteca e igreja) até um incêndio o tornar ruína e ícone de todas as memórias que dali se riscam até nós. Novamente, passam filmes possíveis também nesta galeria, em papéis maiores nos quais a imagem desenhada é a aparição possível de sinais de diferentes proveniências, como a voz, presente nos títulos que, por sua vez, replicam em versão mais curta as legendas. E estas, como nos filmes donde provêm as figuras femininas e as situações invocadas, são uma tradução da palavra dita para a palavra visível, do discurso oral para uma forma escrita. Aliás, o desenho é escrita constituída por fragmentos legíveis visualmente, uns icónicos e outros mais abstractos, ou seja, uns apelando ao reconhecimento cultural, outros à sua qualidade expressiva ou até meramente formal, sugerindo um todo cuja ordem é ditada por nexos racionais e sensíveis, em traduções consecutivas. Os filmes, esses são eleitos pelas situações e personagens que me interessam como “modelos” de mulheres, entre muitas hipóteses descartadas por menos significativas. Por exemplo, torturada pelo vento que não se ouve mas que se sente fortemente no filme mudo (The wind, Victor Sjöström, 1928), Letty é uma mulher sujeita a violência (doméstica? please...).


Gelsomina (La strada, Federico Fellini, 1954) sofre também os maus tratos do companheiro a quem foi vendida pela própria mãe e, apesar disso, na sua tocante sensibilidade e falta de maldade, ela é uma luz que vê e dá cor à vida cinzenta que a rodeia. Se, no seu caso, a mulher redime a história como um anjo, no caso de Marion, de partida do circo, ela mesma encanta um anjo que, por ela, desce à terra (Der himmel über Berlin/As asas do desejo, Wim Wenders, 1987), lugar onde, afinal, todos estão de passagem. Diferentes realidades dialogam na ficção das histórias de Diouna que prefere o suicídio a perder a face (La noire d’Afrique, Ousmane Sembene, 1966) ou da elegante e misteriosa Su Li-zhen (In the mood for love, Kar-Wai Wong, 2000) ou, finalmente, de Ada (O piano, Jane Campion, 1993) cuja identidade artística é um reduto inegociável. Quanto a Saba, é mesmo real a história que conta (Girl in the river: The price of forgiveness, Sharmeen Obaid-Chinoy, 2015), pois acaba por perdoar aos pais e irmãos que tentaram matá-la, no fim afirmando a sua vontade de ter uma filha que venha a ser forte. Claro que um documentário pode, na perspectiva que escolhe, ficcionar o real. Mas também a ficção assumida nos pode oferecer verdades sobre as coisas. A pintura e o desenho sempre fizeram isso. Porque não continuar? Já desenhei com batôn num vidro de um carro. E, provavelmente, todas nós já o fizemos no vidro de um espelho, por vezes com o batôn nos dentes ou, até, com ele entre os dentes. Isabel Sabino fevereiro 2020


Su Li-Zhen: You notice things if you pay attention TĂŠcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 150x150 cm 2019


Diouana: Jamais plus, enlève tes chaussures! TÊcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 150x150 cm 2019


Marion: I only have to lift my eyes and once again I become the world TĂŠcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 150x150 cm 2019


Letty: Without words, with wind TĂŠcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 150x150 cm 2019


Gelsomina: Io ho piantato pomodori TĂŠcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 150x150 cm 2019


Saba: I hope it’s a girl so that she can be brave TÊcnica mista de tinta da china, aguadas, grafite e pastel, s/ papel 154x154 cm 2019


Lido com personagens 3, Lido com personagens 13, Lido com personagens 14, Lido com personagens 15, Lido com personagens 17, Lido com personagens 21, Lido com personagens 8, Lido com personagens 10, Lido com personagens 19 TĂŠcnica mista s/ papel, 16x16 cm, 2019


Fichas Técnicas Ficha Técnica [catálogo] Título Com o batôn nos dentes: desenho e pintura | Paula Sousa Cardoso e Isabel Sabino Edição Câmara Municipal do Montijo Autor Câmara Municipal do Montijo Organização Galeria Municipal do Montijo Textos introdutórios Paula Sousa Cardoso e Isabel Sabino Fotografia Cedidas pelas Autoras Projeto gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Divulgação Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Tiragem 350 ex. ISBN 978-989-8122-67-4 Impressão Tipografia Belgráfica, Lda. Depósito Legal 468304/20

Ficha Técnica [exposição] Produção e Organização Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Design Gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montagem Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Divisão de Obras, Serviços Urbanos e Ambiente Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montijo, março 2020

Realizada em parceria com a Galeria Arte Periférica

Galeria Municipal do Montijo Rua Almirante Cândido dos Reis, 12 • 2870-253 Montijo Telefone: 21 232 77 36 E-mail: cultura@mun-montijo.pt Horário: 2.ª a Sábado das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30

ENCERRAMENTO DO CICLO COMEMORATIVO



mun-montijo.pt /cmmontijo

/municipiodomontijo


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.