CARDUME
DESENHO JORGE LEAL
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CARDUME
DESENHO JORGE LEAL
13 Janeiro a 10 Fevereiro 2018 Galeria Municipal do Montijo
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S/ TĂtulo, tinta da China sobre papel, 42x30 cm, 2017
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Efetuamos num jogo simbólico a “exteriorização da personalidade”, como referiu Piaget, para
realizar a livre satisfação das necessidades subjetivas. A arte é, de facto, a representação simbólica do mundo, transmitida pelo olhar do artista, que utiliza a sua criatividade para exteriorizar a sua perceção da vida na obra que realiza.
“Cardume” é o título da exposição de Jorge Leal, onde o artista evoca a “perfeição do movimento do cardume, essa natural inclinação para a harmonia do conjunto”, como disse, e, ao mesmo tempo, revela-nos, com liberdade total, a natureza no máximo esplendor.
A exposição “Cardume” mostra-nos através do desenho a harmonia do supersistema, composto
necessariamente por subsistemas ou indivíduos, que em conjunto alcançam maior integridade e aumentam o valor de sobrevivência.
A Câmara Municipal do Montijo ao abrir, no início de um novo ano, as portas da Galeria Mu-
nicipal com uma das mais simples formas de expressão: o génio do desenho de Jorge Leal,
procura manter uma visão ampla e diversificada da expressão artística, buscando uma posição de vanguarda.
O Presidente da Câmara Municipal
Nuno Ribeiro Canta
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© Iana Ferreira
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Nos programas de televisão sobre a natureza a que assistimos com o fascínio de nerds ou com a leve sonolência de uma qualquer tarde de domingo, os cardumes são elegantes massas de peixes completamente em sintonia entre si e com o aqui e o agora da sua existência, num assomo de consciência colectiva.
Esta espécie de mindfulness vamos também encontrá-la no centro da obra de Jorge Leal, per-
versamente aplicada - ao contrário do que é prescrito pelo budismo meditativo - num mergulho
de cabeça na voragem da realidade em que estamos permanentemente imersos, acolhendo
todo o ruído que supostamente deveria tentar calar. É nas vertiginosas correntes que nos empurram e conduzem pelo extraordinário e colossal repositório do imaginário colectivo da nossa espécie que é a internet que o artista alimenta o seu (e nosso) apetite voraz por todos os interes-
ses imagéticos que encontramos na sua obra: a paisagem, a natureza, o corpo humano, objectos, iconografias de origem variada. É dos lugares comuns retirados do mais comunal dos (não-)
lugares da actualidade que o corpo da sua obra se apropria, contribuindo não menos para essa cadeia alimentar outras apreensões pelo olhar (as de livros, da observação directa de corpos, objectos e situações) e a transfiguração de tudo isto a que chamamos imaginação.
“The age demanded an image/Of its accelerated grimace/Something for the modern stage, /
Not, at any rate, an Attic grace” escrevia Ezra Pound em 1920 e é em resposta a este queixume/ repto do poeta modernista e obedecendo à exigência nele enunciada que Jorge Leal verte da poderosa torrente de informação dos nossos dias para a sua obra os topoi acima mencionados
declinando-os por exemplo em architecture/ruin porn; em corpos de postura mais ou menos
clássica e/ou de um erotismo crú; revisitações de alguma cultura popular (sobretudo dos anos 1980) ou do memento mori; plantas (ou formas que se lhe assemelham) aves e animais (um par
de fofinhos gatos na exposição anterior a esta) ou comentários textuais de um humor frequentemente ácido acerca da (sua) prática artística associados a imagens (vulgo memes). Humor, sarcasmo, ironia (também no sentido teórico lyotardiano) e invectiva são as correntes mais ou menos turbulentas que definem a relação do artista com os inúmeros objectos da sua obra.
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Sendo um artista que se apropria de escolhos, dejectos e tesouros que andam à deriva pela realidade mediada/observada, Jorge Leal espelha também de outra forma na sua obra o efeito nivelador que a existência da internet tem sobre toda a produção de imagens da contemporaneidade como da História concluindo que a sua práctica artistica, independentemente da va-
riedade de técnicas e suportes (e por consequência das categorias de importância e valor em que possam ser inseridas) são unicamente e sempre desenho de há uns anos para cá. Com um único gesto (e como o gesto é importante quando se fala de desenho…) o artista provoca o co-
lapso de todas as divisões, taxonomias, hierarquias e categorizações artísticas, acolhendo sob uma mesma designação obras em tinta-da-china, aguada, lápis colorido, carvão, óleo, em papel
branco ou impresso e reutilizado, cartolina colorida, tela, cadernos. Embora nesta exposição nos apresente unicamente desenhos sobre papel, desse colapso de categorização, importância e valoração que a sua decisão implica tem vindo a emergir a opção de expor a sua obra sob a
forma de um cardume de peixes díspares, cada um deles único, mas em relação estreita com os
outros e todos juntos formando um corpo sólido, que se alimenta de e alimenta o materializado
stream of consciousness da contemporaneidade, fazendo prova de um princípio enunciado por Wolfgang Tillmans, um outro artista visual contemporâneo: If one thing matters, then everything matters (se uma coisa tem importância, então todas as coisas têm importância). Paulo Guimarães
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S/ TĂtulo, tinta da China e acrĂlico sobre papel, 80x58 cm, 2017
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S/ TĂtulo, tinta da China e acrĂlico sobre papel, 72x58 cm, 2017
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S/ TĂtulo, tinta da China e acrĂlico sobre papel, 57x80 cm, 2017
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S/ TĂtulo tinta da China e acrĂlico sobre papel 51x73 cm 2017 12
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S/ TĂtulo, tinta da China sobre papel, 65x50 cm, 2017
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S/ TĂtulo, tinta da China sobre papel, 65x50 cm, 2017
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S/ TĂtulo, tinta da China e acrĂlico sobre papel, 65x50 cm, 2017
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S/ TĂtulo, tinta da China e acrĂlico sobre papel, 65x50 cm, 2017
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S/ TĂtulo, carvĂŁo sobre papel, 76x57 cm, 2017
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S/ TĂtulo, carvĂŁo sobre papel, 70x50 cm, 2017
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S/ Título, carvão sobre papel, 30x42 cm, 2017
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S/ Título, carvão sobre papel, 30x42 cm, 2017
Jorge Leal Lisboa, 1975
jrgleal@gmail.com
www.flickr.com/photos/jorgeleal
www.facebook.com/jorgelealartist
www.instagram.com/jorgelealartist Formação
2012-2017, doutorado em desenho com o tema “Da Presença do Desenho na Pintura: A Linha Transformadora”, FBAUL, Lisboa
2002-2004, curso livre de pintura e desenho, Ar.Co, Lisboa 1993-2000, licenciado em arquitetura, FCTUC, Coimbra Exposições Individuais (seleção)
2017, LIBERDADE, Museu das Artes de Sintra
2017, O PINCEL QUE RI, Galeria Águas Livres 8, Lisboa 2017, MISTÉRIO, A9))))/Célula & Membrana, Leiria 2017, ESPERANTO, Museu Municipal de Faro
2017, D DE DESENHO, Centro Cultural de Lagos
2017, CASA, Galeria da Faculdade de Belas Artes de Lisboa
2016, É TUDO DESENHO, Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim 2016, DESENHO, Edge Arts - Espaço Amoreiras, Lisboa
2015, WITHOUT DRAWING A DAY IS LOST, Galeria Mute, Lisboa 2015, DESCASCAR, Centro de Artes e Cultura, Ponte de Sor 2014, P=D, Galeria Bangbang, Lisboa
2014, DOC, Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada 2012, AR, Centro Cultural do Cartaxo, Cartaxo 2011, JUMPSTART, Galeria Má Arte, Aveiro
2010, APPROXIMATELY EIGHTY KILOS OF MATTER IN THE UNIVERSE, Galeria Sopro – Projecto de Arte Contemporânea, Lisboa
2010, SACHSENHAUSEN, UM DOMINGO (curadoria de João Pinharanda), MAAT, Lisboa 2008, CALL CENTER, Galeria Sopro – Projecto de Arte Contemporânea, Lisboa 2007, LA BOCA PLENA DE POLS, Distrito Quinto, Barcelona, Espanha 2007, MATIAS, Vanity Land, Caldas da Rainha
2007, THE REVOLUTION IS A SOFT EXPLOSION, Galeria Casa do Pelourinho, Óbidos 2006, DRAWING, Cirurgias Urbanas, Porto
2006, AUTOBAHN, Quarteirão das Artes, Montemor-o-Velho
2005, AO FUNDO DAS ESCADAS, CEJ – Centro de Estudos Judiciários, Lisboa 2005, CHÃO, edifício particular, Coimbra
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Fichas Técnicas Ficha Técnica [catálogo] Exposições Coletivas (seleção)
2017, IL PITTORE E LA MODELLA, Assab One, Milão, Itália
2017, QUOTE/UNQUOTE: ENTRE APROPRIAÇÃO E DIÁLOGO (curadoria de Gabriela Vaz-Pinheiro e Ana Anacleto), Galeria Municipal do Porto
2016, CHEIA #5, Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim
2016, IL PITTORE E LA MODELLA, Galeria Má Arte, Aveiro 2015, MUTE 1 ANO, Galeria Mute, Lisboa
2014, HOMEWORK, Galeria Bangbang, Lisboa
2013, SILLY SEASON #1, Galeria Bangbang, Lisboa
2012, ARTE DE BOLSO MOD.2012, Galeria Sete, Coimbra
2010, MEMÓRIAS (curadoria de Ana Luisa Barão), Centro das Artes do Espectáculo, Sever do Vouga, Portugal
2010, MEMÓRIAS (curadoria de Ana Luisa Barão), Residência
Senhorial dos Condes de Castelo Melhor, Santiago da Guarda/ Ansião, Portugal
2010, MEMÓRIAS (curadoria de Ana Luísa Barão), Convento dos Frades, Trancoso, Portugal
2009, ARTISTAS PORTUGUESES LÁ FORA (curadoria de João Pinharanda), MAAT, Lisboa
2008, Arte Lisboa, Galeria Sopro – Projecto de Arte Contemporânea, Lisboa
2008, ARTISTAS PORTUGUESES LÁ FORA (curadoria de João Pinharanda), Edifício Fernando Távora, Viana do Castelo Coleções
Fundação EDP/MAAT, Coleção Figueiredo Ribeiro, Câmara
Municipal de Óbidos, Câmara Municipal de Ponte de Sor, CENTA, Centro de Estudos Judiciários (CEJ), Quarteirão das Artes de Montemor-o-Velho, coleções particulares (Portugal, Espanha,
Título Cardume: desenho | Jorge Leal Edição Câmara Municipal do Montijo Autor Câmara Municipal do Montijo Organização Galeria Municipal do Montijo Texto Paulo Guimarães Fotografia Cedidas pelo autor Projeto gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Divulgação Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Tiragem 300 ex. ISBN 978-989-8122-49-0 Impressão Gráfica, Lda. Depósito Legal 435950/17
Ficha Técnica [exposição] Produção e Organização Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Design Gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas
Montagem Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Divisão de Obras, Serviços Urbanos e Ambiente Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montijo, janeiro 2018
França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Brasil)
Galeria Municipal do Montijo Rua Almirante Cândido dos Reis, 12 • 2870-253 Montijo Telefone: 21 232 77 36 E-mail: cultura@mun-montijo.pt Horário: 2.ª a Sábado das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 www.facebook.com/cmmontijo 22
www.mun-montijo.pt
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