Reencontros 20 anos 1999 -2019 Marcelino Vespeira Fernando de Azevedo JoĂŁo Vieira Nikias Skapinakis Rolando SĂĄ Nogueira Galeria Municipal do Montijo
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Reencontros 20 anos 1999 -2019 Marcelino Vespeira Fernando de Azevedo JoĂŁo Vieira Nikias Skapinakis Rolando SĂĄ Nogueira
30 novembro 2019 a 11 janeiro 2020 Galeria Municipal do Montijo
Fichas Técnicas Ficha Técnica [catálogo] Título Reencontros 20 anos: 1999-2019: Marcelino Vespeira, Fernando de Azevedo, João Vieira, Nikias Skapinakis e Rolando Sá Nogueira Edição Câmara Municipal do Montijo Autor Câmara Municipal do Montijo Organização Galeria Municipal do Montijo Textos Texto Introdutório: Cristina Azevedo Tavares Biografias: Marcelino Vespeira: Maria Jesús Ávila - MNAC; Fernando de Azevedo: Cristina Azevedo Tavares; João Vieira: Leonor Oliveira - MNAC; Nikias Skapinakis: Arquivo RTP; Rolando Sá Nogueira: Fonte - www. cordeirosgaleria.com/artistas Fotografia Obras: Galeria Valbom/ GCRP - CMM Artistas: Marcelino Vespeira - cedida pela família; Fernando de Azevedo - http://ensina.rtp.pt/artigo/fernando-azevedo/; João Vieira - Luís Ginja; Nikias Skapinakis - https://pt.wikipedia.org/wiki/Nikias_Skapinakis; Rolando Sá Nogueira - https://www.cps.pt/Default/pt/Artistas/Artista?id=3140 Projeto gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Divulgação Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Tiragem 350 ex. ISBN 978-989-8122-65-0 Impressão Espírito de Papel Depósito Legal 464584/19
Agradecimentos Doutora Cristina Azevedo Tavares, Professora da FBAUL, pela cedência dos quadros de Fernando de Azevedo e pela autoria do texto desta exposição. Manuela Vespeira de Almeida pelo apoio prestado.
Ficha Técnica [exposição] Produção e Organização Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Design Gráfico Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montagem Divisão de Cultura, Bibliotecas, Juventude e Desporto/ Galeria Municipal Divisão de Obras, Serviços Urbanos e Ambiente Gabinete de Comunicação e Relações Públicas Montijo, novembro 2019 Galeria Municipal do Montijo Rua Almirante Cândido dos Reis, 12 • 2870-253 Montijo Telefone: 21 232 77 36 E-mail: cultura@mun-montijo.pt Horário: 2.ª a Sábado das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 www.mun-montijo.pt
www.facebook.com/cmmontijo
Realizada em parceria com a Galeria Valbom
Parabéns!! 20 anos!! Parabéns à nossa Galeria Municipal!! 20 anos a promover, a divulgar e a valorizar a arte moderna e contemporânea, dando particular destaque à portuguesa, nos seus diferentes domínios! 20 anos! As instituições culturais e artísticas constituem elementos fundamentais para a construção de identidades e representações das comunidades. As transformações económicas, sociais e políticas que ocorreram nas últimas décadas determinam um contexto em que a dimensão cultural ganha cada vez mais importância nas políticas urbanas, enquanto fator de diferenciação da cidade-região. As políticas locais apostam cada vez mais na cultura, com vista a um reforço da atratividade necessária à captação de fluxos de pessoas, bens. Por tudo isto, voltar a receber na nossa Galeria Municipal, artistas plásticos com a dimensão que Marcelino Vespeira, Fernando de Azevedo, João Vieira, Nikias Skapinakis e Rolando Sá Nogueira têm, é a mais condigna evocação e homenagem à história deste espaço, que é de todos nós! Autores que, na década de 50 do século passado, “participaram” num movimento inovador que transformou a nossa pintura, trazendo “um novo entusiamo abstracionista” como é o caso de Marcelino Vespeira e Fernando de Azevedo, a par da “neo-figuração de raiz lírica” de Sá Nogueira ou Nikias Skapinakis, tendo João Vieira, já no final da década, sido um dos fundadores, em Paris, do grupo KWY (Ká Wamos Yndo), (1958-64). Todos eles deram o seu contributo para que, nos anos 60, se configurasse um “alargamento de tendências que auguravam uma abertura estética” com “contribuições individuais cada vez mais diversas”, culminando nos anos 70 com as mudanças trazidas pela Revolução de Abril. São parte da história da arte portuguesa e são parte da história da nossa Galeria Municipal!
O Presidente da Câmara Municipal
Nuno Ribeiro Canta
“REENCONTROS” evoca cruzamento, encruzilhada, trocas de experiências que aqui confluem nas obras de cinco pintores: Sá Nogueira (1921, Lisboa-2002 Lisboa), Fernando de Azevedo (1923, Vila Nova de Gaia- 2002, Lisboa), Marcelino Vespeira (1925, Samouco-2002, Lisboa), Nikias Skapinakis (1931 Lisboa) e João Vieira (1934, Vidago-2009, Lisboa). Evoca ainda um novo encontro, um renovado encontro de artistas plásticos que ao longo dos anos foram homenageados pela Câmara Municipal do Montijo. Embora este reencontro seja ocasional, na realidade não o é. Em primeiro lugar, porque quatro destes cinco pintores pertenciam à mesma geração e conheciam-se como artistas do mesmo ofício. O tecido da atividade artística e da crítica de arte era um meio pequeno sobretudo antes da Revolução de Abril de 1974, e inúmeras vezes se foram cruzando em iniciativas comuns e instituições diversas, o que forjou companheirismo e amizades ao longo dos anos. Noutra perspetiva todos, sem exceção, se distinguiram e marcaram a produção artística nacional, e se quisermos utilizar a expressão de José-Augusto França, corporizaram a “terceira geração modernista”, se bem que João Vieira já não se integra nela. Todos, exceto João Vieira participaram nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (1946-1956, S.N.B.A.). Sá Nogueira apresentou-se pela primeira vez na 2.ª GAP, onde os surrealistas Azevedo e Vespeira expuseram pela última vez, e Nikias Skapinakis muito jovem então, esteve representado pela primeira vez na n 3.ª GAP em 1948, tendo continuado a participar. Por sua vez , Sá Nogueira estudante de pintura, pertencia à Comissão Juvenil do Movimento de Unidade Democrática da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Estes pintores ao integrarem estas iniciativas manifestavam-se contra o fascismo de Salazar que isolava Portugal do resto mundo, aumentando a censura e a perseguição política, fechando os olhos à modernização e mantendo o país na miséria. Se a cultura e as artes exultaram antes, através da ação inteligentemente ideológica de António Ferro, não foi no seu todo, pois entretanto murchavam à sombra de um modernismo falso e patrioticamente obsoleto. Por outro lado, na geração de João Vieira vários artistas saem de Portugal que dificilmente aceita o gesto da contemporaneidade. O “Grupo KWY” surge em 1958 e está em atividade até 1964, bem antes das promessas da “Primavera Marcelista”, reunindo um conjunto de artistas que integrou João Vieira, Costa Pinheiro, Lourdes de Castro, René Bertholo, José Escada, Gonçalo Duarte, o búlgaro Christo e o alemão Jan Voss. Sediado em Paris o grupo dava conta da sua atividade publicando uma revista de serigrafia artesanal que atravessava fronteiras, e que se caracterizava pela experimentação, contando com o apoio de Jorge Martins e Raymond Haine. O “KWY” desenvolvia as novas práticas artísticas e deu conta em Lisboa do que ia fazendo numa exposição que teve lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes (1960). Neste contexto é bem visível que estes artistas assumiram um papel de resistência ao Estado Novo, relembremos o ativismo de Sá Nogueira e de Nikias Skapinakis que foi sempre um defensor da liberdade, publicando desde os começos da sua vida profissional textos de intervenção e de crítica.
Ou o caso de Fernando de Azevedo e Vespeira, amigos de sempre, que no contexto surrealista não aceitaram a censura feita aos artistas expositores das Gerais de Artes Plásticas iniciada em 1947, ou, ainda o Grupo Surrealista de Lisboa (fundado em1947) que dois anos depois, coloca a cruz a lápis azul na capa do catálogo da exposição simbolizando a censura instaurada, acrescendo ainda neste mesmo catálogo a exortação ao voto em Norton de Matos... Outras lutas se seguiriam, e pós Revolução dos Cravos os encontros ocorridos no seio do Movimento Democrático dos Artistas Plásticos haviam de preparar o evento da realização da pintura do 10 de Junho de 1974, onde 48 artistas participaram e que haveria de originar o famoso painel pintado ao vivo e oferecido pelo artistas ao Movimento dos Capitães. Nesse dia memorável, Sá Nogueira, Azevedo, Vespeira, Nikias e João Vieira estiveram novamente juntos. O conjunto de artistas que referimos são figuras de vulto no panorama das artes plásticas portuguesas, Sá Nogueira que frequentou o curso de arquitetura muda para o de pintura (1942), o mesmo acontecendo com Nikias, e vai estudar para Londres na década de sessenta interessando-se pela colagem e pela pop; Fernando de Azevedo e Vespeira, na defesa dos ideais de liberdade criativa do surrealismo abraçam o abstracionismo, tal como ocorreu com Fernando Lemos que emigra para o Brasil em 1952. Relembrando as palavras de Rui Mário Gonçalves, Nikias Skapinakis surge na fronteira da “década do silêncio” atravessando a década de cinquenta para os anos sessenta, e rompe precisamente com esse silêncio ao propor o ressurgimento de uma figuração outra, dita “nova-figuração”- onde também revemos Sá Nogueira - não radicada apenas nas sementes plantadas pelo neorrealismo, mas numa leitura plástica da paisagem citadina estruturada em volumetrias e manchas cromáticas e propondo a renovação do retrato naquilo que foi entendido como o “expressionismo presencista”, que o conduzirá mais tarde a inúmeras séries em que desenvolve a invenção da figura. E depois é a vez de João Vieira que inicia o seu percurso abordando o território experimental da expressão em si mesmo, do gesto, da caligrafia, da pintura como escrita, também desdobrada no ato performativo (happening) - extensiva ao filme - em que as letras se materializam através de espuma de nylon manipuladas pelo corpo. Na pintura essa linguagem do gesto irá progressivamente abandonar a letra para se fixar na forma abstrata. O que podemos ver nas obras de Sá Nogueira, Azevedo, Vespeira, Skapinakis e João Vieira, para além do quadro em si, são ecos destes singulares percursos de vida, onde a experimentação, a invenção, a resistência e a luta pela liberdade estão presentes. Nalguns casos é possível olhar obras antigas e perceber o lugar onde tudo começou, noutros tal não acontece. Mesmo assim, é possível perceber o humor de Vespeira na invenção dos títulos dos quadros, herança das práticas surrealistas dos jogos automáticos que igualmente se refletem nas colagens de Azevedo; ou, a experimentação entre a figura e o elemento abstrato na obra de Skapinakis, tal como o rompimento da gestualidade pura em João Vieira, e a formulação plástica jogando a figura “intimista” com a mancha em Sá Nogueira. Cristina Azevedo Tavares, 2019
Marcelino Vespeira Alcochete , 1925 – Lisboa , 2002 Entre 1937 e 1942 estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, ano em que se matricula no curso de Arquitectura da Escola de Belas-Artes, que abandonará no primeiro ano. Dedica-se às artes gráficas e à decoração, trabalhando para o ETP (Estúdio Técnico de Publicidade). Nestes anos participa nas reuniões do Café Hermínius, e frequenta as tertúlias da cidade, organizando com outros colegas da Escola António Arroio uma exposição, em 1943, num quarto alugado para este efeito. As inquietações políticas e as esperanças levantadas pelo resultado da Segunda Guerra Mundial levam-no a intervir politicamente, através da produção plástica com trabalhos enquadrados dentro do Neo-Realismo, recebendo as influências de Portinari e dos muralistas mexicanos. Em 1945, colaborou na página Arte do jornal portuense A Tarde, dirigida por Júlio Pomar, e nos dois anos seguintes nas Exposições Gerais de Artes Plásticas. Em 1947 afasta-se do Neo-Realismo, movimento de que foi uma das principais figuras, junto de Pomar, e aproxima-se do Surrealismo, sendo um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa. A partir de 1952 abandona a produção surrealista, para se entregar à Abstracção, que começava a dominar o panorama artístico. Continuou o desenho de cartazes, logótipos e montras iniciado no ETP, destacando-se o seu trabalho para as capas de livros da editora Ulisseia (1957–1960), e o seu papel como director gráfico da revista Colóquio (1962–1966). Teve um papel destacado nas acções que se seguiram ao 25 de Abril, integrando a Comissão Central de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA.
Bioloib 1971 รณleo s/ tela 73x60 cm
Noviagem 1983 รณleo s/ tela 150x95 cm
S/ Título 1965 óleo s/ tela 97x130 cm
Retrovisรฃo de Simumis 1968 รณleo s/ tela 81x100 cm
Fernando de Azevedo Fernando José Neves de Azevedo (1923, Vila Nova de Gaia-2002, Lisboa), pintor, crítico de arte, ilustrador, director gráfico de edições, decorador, cenógrafo, curador e museógrafo. Nasceu a 17 de Janeiro de 1923, o pai militar, Manuel Martins de Azevedo, 2.º Sargento seleiro correeiro esteve nas campanhas em Angola (1915/17) e em seguida integrou o Corpo Expedicionário, tendo combatido em França desde Março 1917 e regressando em 1919. A mãe, Delfina Augusta Neves, cuidava dos cinco filhos, sendo Fernando o mais novo. Depois de uma vida agitada, a família Azevedo habitava um andar alto com vista para o Tejo na Travessa da Trindade ao Castelo de S. Jorge. Os dois irmãos mais velhos (Eduardo e Matilde) faleceram ainda jovens, e o José que também pintava, o Jaime e o Fernando foram companheiros de toda a vida. Estudou na Escola Voz do Operário na Escola António Arroio onde fez amizades duradouras e no ano de 1941 em que terminou, ingressou na Escola Superior de Belas-Artes, afastando-se no ano seguinte, pois era difícil conciliar o trabalho com as aulas, além de que considerava a ESBA muito antiquada. Começou a trabalhar em design (1939), ilustração, decoração em vários ateliers de publicidade (ETP), colaborou em tarefas de apoio à Exp. do Mundo Português (1940). Em 19145 envolve-se com o movimento neorrealista e integrou as Exp. Gerais de Artes Plásticas de 1946 e de 1947. Por esta altura Iniciou a sua carreira como crítico de arte (“Mundo Literário” e “Horizonte”) ao escrever sobre o envolvimento social da arte, mas é com a liberdade do surrealismo que verdadeiramente se compromete, encetando na década de cinquenta as colaborações com as revistas surrealistas “Unicórnio e Pentacórnio”. Depois das experiências de automatismos no Café Herminius é cofundador do Grupo Surrealista de Lisboa e participa na única exposição (1949), actividade que se prolonga com Lemos e Vespeira na Exposição na Casa Jalco (1952).
No mesmo ano e até 1954 expõe diversas vezes na Galeria de Março, para a qual colabora escrevendo alguns textos dos catálogos. Neste período realizou colagens (a 1.ª de 1947), cadavre-exquis, pinturas, ocultações e desenhos, e progressivamente adere ao abstraccionismo caracterizado pela espacialidade de dimensão onírica e poética. Em 1953 expõe na 3.ª Bienal de S. Paulo e nestes anos participa ativamente em inúmeras exposições com obras abstratas, ao mesmo tempo, que realiza várias pinturas murais para projetos expositivos internacionais. Mais tarde dedicar-se-á menos à pintura, e mais à colagem, assumindo o fascínio permanente pelo mundo do cinema na criação de ambientes enigmáticos, absurdos e de conotação simbólica. Dos anos sessenta em diante desempenhou funções de relevo: Presidente da Cooperativa de Gravadores Portugueses “Gravura”, Vice-Presidente da “Association Internacionale des Critiques d’Art” e Presidente da Secção Portuguesa, membro do Conselho Consultivo do IPPC, Consultor Artístico do Grupo Gulbenkian de Bailado, Director Artístico da revista “Colóquio-Artes”, Presidente da SNBA, Director do Serviço de Belas-Artes da F.C.G. Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1991). 1.º Prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da F.C.G. (1962); Grande Prémio de Amadeo de Souza-Cardoso, Museu Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante (1999); Três Exposição de Homenagem a Fernando de Azevedo (2000) no Montijo, Angra do Heroísmo e Tomar. De 2003 em diante realizaram-se várias exposições póstumas em Vila Nova de Cerveira, Pontevedra, Lisboa, Caldas da Rainha, Tomar, etc., destacando-se: “Fernando de Azevedo - Um texto Uma Obra”, Sociedade Nacional de Belas-Artes (2012); “Razões Imprevistas. Fernando de Azevedo Retrospetiva” na Fundação Calouste Gulbenkian (2013); “Fernando de Azevedo”, Galeria de Exposições Temporárias, NAC2, Tomar (2014).
S/ Título n. datado óleo s/ cartão 33x46 cm
Guerreiro e Paisagem com Espelho 1982 colagem 31x44 cm
S/ Título (cenário do Bailado Bênção de Deus na Solidão) 1985 pastel de óleo s/ papel 27x60 cm
S/ TĂtulo (cenĂĄrio do Bailado Cinco Poemas de Amor) 1980 guache s/ papel 39x64 cm
S/ Título 1950 carvão s/papel 31x24 cm
João Vieira Vidago, 1934 – Lisboa, 2009 Estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (19511953), deixando o curso incompleto, insatisfeito com o academismo e conservadorismo do ensino artístico. Juntou-se, então, a artistas e escritores ligados na tertúlia do Café Gelo (1956). Parte depois para Paris (1957), onde forma com outros artistas portugueses e estrangeiros o grupo KWY (1958-1968). Apoiado por uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian de 1959 a 1960, vai adaptar as influências abstractas, de Vieira da Silva e Arpad Szènes ao gestualismo de Dubuffet, a experiências no campo do letrismo, explorando as qualidades plásticas das letras ao mesmo tempo que procede a uma transposição de uma poética literária para o campo da pintura. A associação da abordagem estética da caligrafia a uma mensagem que o jogo de letras encerra será desenvolvida em anagramas que concretizam, assim, a transformação do texto em imagem. O autor prossegue a mesma linha de trabalho em outras linguagens artísticas como a performance e o happening, cruzando-as com a sua intervenção no campo teatral nos anos 60 e 70. Nos anos 90, regressa ao letrismo, trabalhando agora os caracteres chineses, depois de uma experiência de transposição de pinturas históricas da arte portuguesa para uma linguagem moderna. Traça um percurso artístico que granjeia rapidamente o reconhecimento da crítica e da história da arte portuguesas. Representa Portugal na Bienal de Veneza de 1980 e recebe postumamente o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.
Tu 2008 รณleo s/ tela 130x97 cm
Teoo 2008 รณleo s/ tela 130x97 cm
Z 2007 รณleo s/ tela 146x114 cm
S/ Título 1986 óleo s/ tela 116x89 cm
Rolando Sá Nogueira Nos primeiros anos da década, a sua obra evolui de um expressionismo ácido, registado na distorção das figuras e do espaço, para um conceito neo-figurativo. Este último tem afinidade com os temas e processos da Arte Pop e interpreta elementos da realidade concreta, objetos e personagens, como sinais de um código doravante liberto do ilusionismo mimético ou da convenção narrativa. Este tipo de estratégia visual a dispersão no plano dos signos visuais, figurativos ou abstratos, a conceção da tela como superfície bidimensional, as variações aleatórias na escala dos elementos iconográficos. As cores lisas e uniformes contrapondo-se às figuras modeladas concorrem ainda para reforçar o sentido de ambiguidade narrativa, como um texto parcialmente apagado e reescrito, alheio à ordem do sentido. A ideia de palimpsesto reaparecerá ciclicamente no trabalho do artista.
Rolando Sá Nogueira estudou Pintura na Escola de Belas-Artes da capital, expondo pela primeira vez em 1947, na II Exposição Geral de Artes Plásticas, organizada sob a égide do Movimento de Unidade Democrática, em reação contra a política cultural do Estado Novo. É dentro da expressão social e combativa do Neo-Realismo que começa por se afirmar. Presente em algumas importantes exposições coletivas da década de 50, Sá Nogueira parte para Londres, onde frequenta a Slade School of Art (1961-1964). O contacto com a realidade artística britânica proporcionou-lhe uma compreensão atualizada do valor semiótico dos elementos iconográficos, permitindo-lhe superar, a breve trecho, a convenção pictórica a que se mantivera, até à data, mais ou menos fiel.
Sá Nogueira, nomeadamente através da colagem, mas, sobretudo, a combinação de pintura com técnicas de reprodução mecânica da imagem, através da impressão fotográfica sobre tela. As cenas eróticas são parcialmente ocultadas na mancha de cor ou desfiguradas no contraste da imagem em negativo, transferidas para a tela. Sá Nogueira estabelece uma espécie de inventário, em réplicas sucessivamente transfiguradas (na cor, no contorno, na sombra), de uma mesma figura feminina reduzida a um sinal abstrato. Nos trabalhos dos anos 80 e 90, recupera a linguagem expressionista num modo novamente mais pictural, com as escorrências, os esboços parcialmente apagados e redesenhados, as manchas informes de cor, na série de óleos, guaches e desenhos dedicada ao pintor holandês do século XVII, Jan Steen. Para além de pintor, Rolando Sá Nogueira foi também professor na Escola de Belas-Artes do Porto e na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, tendo realizado numerosos trabalhos no âmbito do design (na conceção de tapeçarias, vitrais e azulejos), da cenografia, da ilustração e da gravura.
S/ TĂtulo sem data Ăłleo s/ madeira 40,5x32,5 cm
S/ Título 1996/7 óleo s/ tela 97x130 cm
S/ TĂtulo 1982, guache s/ papel 68x48 cm
Nikias Skapinakis Lisboa – 1931 De ascendência grega, frequentou o curso de arquitetura, que abandonou para se dedicar à pintura, atividade que manteve regularmente até aos dia de hoje. Começou por expor em 1948, nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, e, desde então, realizou diversas exposições individuais e participou em numerosas coletivas em Portugal e no estrangeiro. Além da pintura a óleo, como atividade dominante, dedicou-se à litografia, à serigrafia e à ilustração de livros. Entre outras obras, ilustrou “Quando os Lobos Uivam” de Aquilino Ribeiro (Livraria Bertrand, 1958) e Andamento Holandês, de Vitorino Nemésio (Imprensa Nacional, 1983). Executou litografias para o Congresso de Psicanálise de Línguas Românicas (1968) e para o Cinquentenário do Banco Português do Atlântico (1969). Executou serigrafias para Kompass (1973) e realizou um painel em cerâmica para o Metropolitano de Lisboa (2005). No ano seguinte, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva apresentou a série de pinturas Quartos Imaginários relativa a quartos de dormir e a ateliês de diversos pintores e poetas. Em 1985, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian realiza uma exposição antológica da sua pintura; em 1996, o Museu do Chiado apresenta uma retrospectiva de retratos (1955-1974); e em 2000, o Museu de Arte Moderna da Fundação de Serralves também apresentou uma exposição antológica Prospectiva 1966-2000. Obteve a Bolsa Malhoa da Sociedade Nacional de Belas Artes no ano de 1963. Em 1976-77, foi-lhe concedido um subsídio para investigação pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2005, foi-lhe atribuído o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Em 2006, recebe o 1.º Prémio do Casino da Póvoa de Varzim e em 2013, a Sociedade Portuguesa de Autores atribui-lhe o Prémio de Artes Visuais. Tem publicados textos de intervenção crítica em diversos jornais e revistas. Vive e trabalha em Lisboa.
S/ TĂtulo sem data Ăłleo s/tela 80x100 cm
S/ Título 1996 óleo s/ tela 140X98 cm
S/ Título 1989 óleo s/tela 100x73 cm
S/ Título 1990 óleo s/tela 100x73 cm