Johnny ghost do outro lado da vida

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Johnny Ghost Do outro lado da vida

C.R.Moraes

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Agradecimento: Agradeço minha filha Samantha, por sempre ter tido mais juízo que o pai. E meu Deus, por nunca ter desistido de mim.

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Índice Chegando pag 5

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Johnny Ghost – O João Fantasma pag 9

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O Umbral ou Purgatório pag 16

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O esquadrão Johnny Ghost pag 22 A Preparação pag 25 Prontos pag 31

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Nossa missão: Resgate de um suicida pag 39

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Minha primeira ronda sozinho pag 48

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A Loira do Banheiro pag 55

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A noiva da estrada pag 63

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Momentos de separação pag 77 -4-


Prólogo O objetivo do autor é trazer aos leitores, em forma de narrativa, a vida do outro lado, vista por um garoto de 15 anos que já fez sua passagem pelo planeta Terra. Como todo adolescente, Johnny vai conhecer outros jovens e abordar assuntos sérios, como umbral, purgatório, drogas, depressão, reencarnação, lendas urbanas, com uma narrativa muito simples e divertida. O mais importante aqui, não foi se prender a dogmas ou preceitos religiosos, mas sim narrar de forma intensa, como os pensamentos negativos influenciam na vida terrena e depois dela. Johnny Ghost é o garoto curioso que vive em todos nós, que quer saber, quer perguntar sobre assuntos que poucas pessoas falam com clareza, quer buscar sua evolução como ser humano, quer ajudar, mesmo com seus medos, indecisões, defeitos e qualidades como qualquer um de nós. Com a visão do mundo como de um garoto comum, Johnny Ghost e seu grupo vão encontrar as tão faladas lendas urbanas como a LOIRA DO BANHEIRO e A NOIVA DA ESTRADA e viver outras aventuras no mundo espiritual. Uma viagem fascinante pelo desconhecido. -5-


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1- Chegando

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iz minha passagem, de uma vida para outra, quando ainda era muito adolescente, sofria muito, eu era muito magro, e em um desses tratamentos, tantas idas e vindas do hospital com uma família que me amava, acabei pegando uma tuberculose muito forte, que primeiro me afastou do convívio da minha família, e depois me libertou de um corpo frágil. Mas, algo sempre me dizia que não era a toa que eu tinha vindo aqui para o outro lado, da vida, claro, porque para mim, aqui eu tinha vida, podia correr pular, voar que aqui eles chamam de volitar, e fazer amigos. Mas, não pense você que aqui é só festa, tem uma série de obrigações do mesmo jeito e do mesmo modo que é a vida na terra. Quando chegamos aqui, vindos de uma doença da infância ou da adolescência, sem ter convivido demais com as maldades humanas, -7-


então somos, primeiro tratados em um hospital de aparência muito igual, aos de vários que eu havia passado na vida terrena. Mas neste hospital, as enfermeiras são seres especiais, elas transitam de um quarto para o outro volitando para não fazerem barulho, existem médicos também com equipamentos muito semelhantes aos da terra, mas aqui nosso principal sinal vital é nossa energia, medido por um aparelho, que mede a luz que emana de nosso corpo, a frequência desta luz, e o grau de tristeza e de rancor no coração, e que permitem um diagnóstico médico preciso. Outro dia perguntei a uma enfermeira, o que era isso, diagnóstico pela energia, ela me respondeu que o grau de tristeza associada ao rancor e a mágoa, é o que faz na terra, nossa energia ficar cada vez mais densa e menos sutil, aparecendo então às doenças psico somáticas e que muitas, levam o encarnado a fazer sua passagem. Uma pessoa com grande mágoa no coração, por causa de outro irmãozinho da terra, que sente que foi traída ou humilhada, ou qualquer destes sentimentos de rancor, percebe o coração pulando fraco, a vontade de chorar constante. Até ai, o tratamento neste hospital se faz com um fluido fortificante, como se fosse -8-


uma água energizada, mas quando a mágoa é muito forte, e os pensamentos não conseguem ser quebrados por amor ou por transmissão de energia, a pessoa é levada a um tratamento intensivo. O tratamento intensivo aqui é diferente, não são como dos hospitais da terra, para tratar a maioria dos problemas espirituais, trata-se primeiro a mágoa e o rancor que aqui são como o câncer na terra, a ala de tratamento intensivo é um local de forte energia, com vibrações vindas em forma de canto gregoriano, gotas de orvalho que caem, segundo elas, as enfermeiras que me ensinaram, diretamente do criador. Nas camas não existem colchões, é uma energia sutil, como uma nuvem, que mantêm os pacientes, sempre voltados para uma espécie de altar. Existem sim palestras, e também liturgia, mas ninguém te força a nada, é como se um fone de ouvido ficasse ao seu lado, e você só coloca se quiser, a escolha é sua. Se você entrar em crise, como chorar ou começar a gritar, tem uma série de outras enfermeiras, essas são diferentes, a luz é mais resplandecente, vem em teu auxilio. Mas, tudo isso tem um tempo, se os pensamentos seus não reagem, na força da ação e reação -9-


pelo amor, o que significa despertar da letargia e você não deixar de lado ressentimentos e mágoa que te trouxeram para cá, a reação vai provocar um quebra de vibração de tudo o que te rodeia, e na mesma hora, uma força negativa densa como uma nuvem, é assim que eu via no inicio, te leva dali, para fora dos muros do hospital e da nossa vila. E as pessoas que eu vi, sendo levadas, sequer esboçam reação, pois seus pensamentos continuam tão fortes na auto piedade, na revolta, na mágoa, que sequer sentem que estão sendo indo para a região de trevas. Mas existe choro sim, cada vez que essa energia ngativa levava alguém, essas enfermeiras choravam pelo irmãozinho que saia do cuidado delas. E para onde iam quando eram levados dali? Bem isso é parte da história que vou contar a vocês.

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“A Alma

nunca morre”

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2- Johnny Ghost, O João Fantasma

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u morava em São Paulo, no Bairro da Lapa, nasci com o nome de João, adorava ler, ir à escola, adorava futebol, mas tinha que me contentar em ver as outras crianças jogando bola, porque qualquer coisinha já me cansava muito. Depois que vim pra cá, tantos anos só de cama de hospital, eu cheguei aqui pálido como um fantasma, e o Lauro, um amigão um pouco mais velho que eu, quando resolveu fazer amizade comigo, me colocou esse apelido, Johnny Ghost, o João Fantasma. O Lauro e eu éramos, companheiros inseparáveis, se eu tinha aquele corpo franzino de 15 anos, ainda abatido por tudo o que havia me acontecido, o Lauro já não, ele aparentava ter de 18 para 19, porte mais atlético, falava forte, e como ele estava aqui há mais tempo que - 12 -


eu, acabou me ensinando todos os caminhos e respondendo muitas das respostas que eu me sentia envergonhado de fazer aos mentores. Mentores, são pessoas, que prestam serviço nos alojamentos que moramos, os adolescentes, que chegam aqui, são agrupados nestes alojamentos chamados de lar e identificados com as cores. Cor aqui é muito mais intensa do que na terra, aqui o laranja brilha, o azul é profundo, o verde ilumina, e por ai vai. Nós morávamos no lar laranja segundo andar, no primeiro ficavam os mais jovens que nós, crianças mesmo. Aqui não se fala muito do motivo que nos trouxe deste lado, mas certa vez o Lauro me disse que ele havia sofrido um acidente de moto. O Johnny Ghost, era uma maneira engraçada e carinhosa de lembrar que eu não estava mais no mesmo convívio com os mortais, mas também que ali, com toda aquela energia sutil, aquele amor, o cheiro intenso vindo do mato, tudo levando a paz, também tínhamos aquela coisa de brasileiros, que adora a alegria de ser feliz, e a mania de por apelido em tudo. Então quando eu ia para o hospital, nas man- 13 -


hãs de sol, eu preferia muito caminhar, porque fiz muito pouco isso na terra, derrepente passava alguém do meu lado me cumprimentando e chamando de Johnny Ghost. Bom, virei o Johnny Ghost. Eu sorria ás vezes por dentro, lembrando do desenho do Gasparzinho, onde os fantasmas usavam um lençol para assustar. Bem eu era tão pálido quando cheguei que não precisava do lençol, mas as coisas já estavam mudando pro meu lado, eu me sentia o novo Gasparzinho. Eu estava ficando mais corado a cada dia, adorava jogar bola com o Lauro, sabem que do lado de lá também conseguimos “plasmar” uma camisa da seleção brasileira, a gente usava escondido dos preletores, que tinham por regra, não deixar fomentar nenhum tipo de rivalidade, que lembrasse as coisas ai da terra. Certa vez um preletor, nos pegou e adivinha quem estava com a camisa da seleção brasileira, o Johnny Ghost, eu é claro. Pensei comigo: “Agora vai vir uma bronca do outro mundo” O Preletor me segurou pela camisa, e disse aos outros, - De quem foi a idéia? Silêncio Total - 14 -


- Tudo bem continuou, mas se por acaso eu pegar alguém com a camisa da Argentina, eu coloco o engraçadinho na hora, para fora do muro da colônia, Tá entendido? E continuamos com o futebol. As aulas do outro lado da vida. Nas palestras, aprendíamos muito com os preletores sobre a vida espiritual, tínhamos aulas, nessas aulas que eram realizadas em galpões grandes, que lembravam os anfi teatros da terra, ás vezes estávamos em 100 ou 200 pessoas. Diferentes das escolas, nas aulas, não éramos separados por idade, era comum encontrar nessas preleções, pessoas que guardavam a última fisionomia, como mais idosas e experientes e outras mais jovens que nós. Os temas eram selecionados antecipadamente, e apresentados a nós em uma tela, projetados todos os domingos nas reuniões litúrgicas. E ai, nós nos preparávamos conforme o tema para assistirmos. Eu sempre era empurrado pelo Lauro, mesmo ele sabendo mais do que eu, fazia força, para me levar em temas que ele já havia assistido, dizendo, “Isto você precisa aprender”. - 15 -


O Lauro, praticamente me conduzia pela mão rumo ao meu aprendizado e evolução. Foi assim que aprendi a volitar, com muita tranquilidade. No inicio é como andar de bicicleta, depois que você cai algumas vezes, pronto, literalmente, sai voando. E a sensação, é fantástica, de liberdade, o ar passa mais rápido, um sentimento tranquilo de paz toma conta da alma e, olha é tanta paz, que não dá para sair aprontando nada. O volitar aqui é uma necessidade, quase como andar, nossos corpos, embora ainda guardem nessa etapa a última fisionomia que tínhamos na terra, é formado por uma energia sutil, chamada éter, temos peso, o mesmo peso de nossa alma, algumas gramas. Aqui podemos engordar, sim, é por isso que nos tratamos à base do fluido energético, só que engordar aqui é compreendido de três formas. Se você foi gordo, e é assim que você se via antes de sua passagem, é assim que vai se ver aqui, você pode mudar sua forma física, a resposta também é sim, para qualquer tamanho, me ensinaram, aliás, uma frase que se ouve muito por aqui, Tanto no céu, como na terra, seus pensamentos controlam suas formas. - 16 -


A outra forma, aqui, do outro lado, você encontra pessoas que te ensinam como fazer isso, é malhar, mas quem vai para a academia, são seus pensamentos, e na terceira forma de engordar, o fluído energético ao te fortificar, sempre acaba somando alguma massa a sua energia vital. Não existe passe de mágica por aqui, do tipo de balançar uma varinha e aquilo se transformar na hora, como um passe de mágica, aqui tudo segue seu tempo e o tempo de cada um é respeitado com muito amor por quem está do lado Juntou-se ao nosso grupo, por exemplo, o Antenor, um menino que parecia que tinha uns 15 anos e uns cem quilos, do tipo bolão mesmo. O Antenor, com seu jeito bonachão, e eu com minha franzinidade, jogávamos bola e volitávamos do mesmo modo, a disposição por aqui, só existe na intensidade de sua vontade. Para quem não sabe, aqui nós somos iluminados durante o dia, pelo mesmo sol que brilha na terra, e a noite, a lua é a mesma, porque nessa primeira etapa, logo após deixarmos a terra, continuamos muito próximos, até fisicamente. A evolução não dá saltos, esse primeiro estágio, pode durar para alguns dias, para outros séculos, se equivalêssemos ao tempo da terra. Mas todos passam por aqui, até mesmo o mestre Jesus passou três dias aqui, não nesta colônia, mas neste estágio, quando também fez sua pas- 17 -


sagem pela terra. Quando chega o momento de ir embora, quando sabemos? Quando nosso corpo se torna radiante em luz, e por mais que se queira não se consegue mais caminhar, Este é o ponto mais lindo da evolução humana, a passagem de um ser para um corpo glorioso, As barreiras da corporeidade física não existem mais. Não fica mais limitado às fronteiras do espaço e do tempo. Move se com uma liberdade nova, desconhecida na terra, nesse momento é hora de ir para um local mais evoluído e continuar o aprendizado. Mas, tudo por aqui é lindo e maravilhoso? A RESPOSTA É NÃO. Como aqui é o primeiro estágio, em todas as colônias, existe um muro que separa nosso pequeno mundo, com o mundo do lado de fora da colônia. Do lado de fora é a região do umbral.

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3 – O Umbral ou purgatório

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assando o muro, que é selado por portões altos, existe um lugar onde a luz não chega, então, não se tem nenhuma noção de tempo e espaço. Este local tem estreita relação com certos locais da terra, quem está lá, não volita por causa da densidade de seus corpos, mas conseguem andar normalmente. Quando pensamentos terrenos os atraem de volta ao planeta, perambulam errantes pelo meio dos encarnados. A ligação de lá com a Terra é muito forte, um cheiro muito intenso de vela queimando e ovo podre pode ser sentido perto do portão. Do mesmo que todas as colônias são caminho obrigatório para a evolução ou a reencarnação, o túnel que todo mundo passa quando sai da terra, para ali, em frente ao portão, sem adentrar por ele. A densidade dos pensamentos de quem chega, é que os faz entrar ou ficar do lado de fora. - 19 -


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Claro, quando chega um novo grupo de recém desencarnados, vindos da terra para a colônia, TODOS AQUI se mobilizam, da equipe médica aos mais antigos, todos correm para o portão. Quando vem o aviso, que vai chegar alguém próximo de quem já está aqui, um filho, filha, neto, parente com laços próximos, esse antepassado com laços de família, é o primeiro na frente do portão. Todos querem que logo após o túnel, o recém chegado encontre braços abertos esperando por ele, para que ele consiga decidir entrar. Eu me esqueci de um detalhe, no momento da chegada, todos os recursos para que este novo irmãozinho entre, são disponibilizados, mas ele tem que, ou cruzar o portão com suas próprias pernas, ou pedir ajuda a equipe médica. Do contrário, o portão se fecha novamente, e como não existe luz, o espírito é iluminado apenas pela chama de seus pensamentos de seu último quadro mental. Explico isso, se em vida, esse espírito falava que ia pro inferno, ou que tinha medo de ir, então é assim que ele vai moldar a sua nova realidade, sentindo-se atormentado pela figura de lagos de fogos, demônios, sofrimento constante. Ai, quando o portão se fecha, ele vai fugir, por entre - 21 -


as sombras, e tudo o que passar do seu lado, pode ser alucinação. Quando não aceitam então que morreram, acabam subindo e descendo por um buraco que tem por ali, como se fosse um túnel negro como um elevador que os liga de volta ao planeta, onde passam por momentos de estarem, ora na terra, ora de volta ao umbral. E como o aprendizado é constante, com o passar do tempo, esses espíritos também aprendem a conviver, ora com os encarnados, ora com os desencarnados. A ponto inclusive de várias vezes, tentarem buscar seguidores na terra, esperando-os chegar do outro lado. Mas, como falei anteriormente, perto do final do túnel dos recém chegados, onde pelo amor divino do criador, as almas chegam da terra, ainda atordoadas e amedrontadas, mas precisam querer entrar, esses espíritos do umbral são barrados de ficarem próximos à chegada, por uma luz divina, que os mantêm, assim como seus desejos e pensamentos, sem poder de influenciar na decisão de quem chega. Seres atormentados. De todas as aventuras que tive do outro lado, que daqui a pouco vou narrar não me lembro - 22 -


de ter visto o demônio por lá não, pelo menos aquela figura caricata que aprendi na igreja, chifres, rabo, tridente na mão. Mas lembro-me sim, de ter visto outros espíritos muito mais atormentados do que outros, cuja força do pensamento é tão poderosa, que acabam formando legiões de outros seres atormentados que os seguem. Essas legiões, muitas vezes recebem até honrarias que vem da terra para elas, e ai se sentem mais poderosas ainda, capazes de atraírem mais atormentados e mandarem que aborreçam mais seres humanos encarnados. Já encontrei, encabeçando essas legiões, homicidas frios e calculistas, matadores em série, estupradores de crianças, mas, sobretudo existem seres que na terra dominavam a palavra, que foram ex religiosos, ex políticos inescrupulosos, estudados, que quando se acostumam com o local onde estão, continuam fazendo as mesmas coisas que faziam no pla neta terra, manipulam o pensamento de outros irmãos, por orgulho e poder. Ainda não fiz essa pergunta aos meus preletores, mas, com todas essas qualidades reunidas em um lugar só por seres humanos, como será que eu Johnny Ghost, imagino, estar fal- 23 -


tando algo para formar a figura do demônio que eu aprendi no catecismo. São seres humanos tão demoníacos em suas intenções, que são piores que o diabo que aprendi na igreja onde eu estudava catecismo. Sempre me falaram em ser cozido, dia e noite em um caldeirão, de fogo eterno, o que eu vi é pior, os seguidores desses espíritos de trevas, são fritos no óleo da palavra, levados de volta a terra para sugar a energia vital de gente boa, enviados para trabalhos de magia negra, fazem festa e participam da festa de políticos que fazem rituais insanos em seus nomes. Eu acho, que se o Diabo existe, por aqui ele não apareceu, pois a concorrência é muito grande. Mas tudo o que esses espíritos desencarnados fazem aqui em cima, é o mesmo que faziam ai embaixo, vez ou outra, vejo um deles sendo acorrentado na corrente de amor da reencarnação, muitas vezes a única forma de libertar, e assim, terem uma nova chance. A reencarnação vem para a vida dos espíritos, pelo amor de querer aprender e resgatar suas diferenças, ou pelo amor de Deus, em tentar provocar naquele espírito ignorante um pouco - 24 -


de aprendizado. Deus, não é ruim por ter criado uma região de trevas, só fez isso por amor ao ser humano, porque, como tenho dito, entrar para a luz ou para as sombras, a escolha é sua.

Purgatório Rezai e Rezai blogspot Nota: O termo umbral ganha os sentidos conotativos de “penumbra” e “escuridão”, como na frase: “Antes de abrir as cortinas, a sala era um umbral”. No espiritismo de Chico Xavier, a palavra foi exata para designar “estado ou lugar transitório por onde passam as pessoas que não souberam aproveitar a vida na Terra”. É interessante notar que o sentido kardecista guarda os dois sentidos anteriores: primeiro por se tratar de uma dimensão que está “entre” a dimensão material (ou física) e a dimensão espiritual.

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4- O esquadrão Johnny Ghost

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omeçou no final de uma daquelas preleções que falei, o preletor pediu vo luntários para formar um novo grupo de socorristas, que pudessem fazer excursões pelo umbral, para resgatar espíritos sofredores que quisessem ajuda. Do mesmo modo que muitas vezes, aquela energia densa que retira do nosso hospital, os espíritos que não querem abrir os olhos, nós também, fazemos incursões constantes pelo umbral, tentando ajudar aqueles irmãos mais fracos que desejam ajuda para sair dali. Essas equipes, chamadas de socorristas, são formadas por normalmente grupos de três ou quatro pessoas, que se juntam e formam grupos maiores, que partem com a ajuda de ministros do amor e irmãos muito evoluídos para as - 26 -


missões de resgate. O Lauro levantou o braço – Nós nos oferecemos mestre. No inicio eu não imaginava que o nós, eram O Lauro, Eu e o Antenor, por isso, quando vi a reação dele, me veio um pensamento na cabeça “Um dia, quem sabe, terei a mesma coragem”. - Qual o nome de sua equipe meu filho? Perguntou o preletor – a identificação é uma forma de lembrar o jeito que as gincanas eram feitas na Terra. - É... deixa ver....Esquadrão Johnny Ghost. Bom, além de corar, eu não sabia bem o que fazer, se eu corria ou me escondia. Verdade mesmo? Eu estava morrendo de medo. (Se é que eu podia morrer) - Venha aqui na frente meu filho – disse o preletor chamando o Lauro – quem são os demais? Percebi que Lauro lançou para mim aquele olhar de cumplicidade. - O Johnny Ghost e o Antenor. O Antenor, também nunca havia participado dessas incursões, quando ouviu o nome dele incluído, percebi que o menino também ficou corado e não sei se foi ou não impressão minha, mas me pareceu que ele inflou feito um balão e - 27 -


volitou sentado, mesmo da poltrona onde estava. - Posso participar da equipe também professor? Era uma menina, que esticou a mão, ela já havia me cumprimentado aqui pelas ruas da vila, mas nunca tínhamos conversado. - Qual seu nome filha? – Perguntou o preletor. - Voiron, professor. Voiron era uma menina que lembrava assim uns 16 anos de fisionomia, magra também, cabelos castanhos claros cacheados e usava óculos que lhe dava uma impressão de NERD. Muito tempo depois fiquei sabendo que o motivo dela ter feito sua passagem muito cedo, foi devido a uma crise de anorexia muito intensa. Bom estava formado o esquadrão Johnny Ghost e ai começam nossas aventuras.

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“Resgatar almas é trabalhar no céu e na terra ao mesmo tempo”

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5- A preparação

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grupo depois de formado, recebe instruções intensas de mestres professores, aqui de nossas colônias e depois, de preletores encarnados, em casas espíritas. A primeira vez que participei de uma sessão espírita, nunca tinha ido a uma na terra, não sabia o que acontecia lá. Engraçado eu tinha medo de espírito, agora era um deles. Quando chegamos, fomos recebidos pelo guia espiritual da casa, que saudou nosso professor, e nos acomodou em nossos lugares. Feliz por estarmos lá. Nosso preletor nos deu instruções claras, apenas para assistirmos a tudo, sem influenciar em nada. Nosso grupo se instalou em uma espécie de - 30 -


camarote, logo acima de quem estava lá assistindo. Podíamos perceber de onde estávamos, que encarnados, alguns em especial, nos cumprimentavam e acenavam para nós. Havia outros encarnados que assistiam também as reuniões, sem participarem da mesa formada, muitos chegavam acompanhados por seres desencarnados, assim como nós, que estranhamente pelo menos para mim, andavam como se fossem sombras, com expressões fortes no rosto, e não nos enxergava. A porta deste local onde fomos, lembrava muito os portões da colônia, uma luz intensa iluminava as portas que permaneciam abertas. Alguns desencarnados não recebiam permissão para entrar e ficavam do lado de fora. Enquanto a casa, enchia se de uma atmosfera de amor, uma onda calor gostoso, tomava conta de nós quando o preletor encarnado lia partes do Evangelho, e depois explicava o que estava lendo. Vi durante a leitura do Evangelho, muitas daquelas almas que andavam nas sombras, serem puxadas por uma corrente de amor e serem arrastadas para próximo da mesa onde - 31 -


estavam os médiuns. Uma tela de projeção mental, que apenas nós desencarnados podíamos enxergar, projetava a imagem de Jesus Cristo pregando o evangelho. Quando eram chamados os nomes de quem estava na audiência, um irmão espiritual da casa, com uma espécie de aparelho, que se assemelhava a um tablet, recebia a imagem e os dados da pessoa chamada, e apenas sob sua permissão, aqueles espíritos que estão ao lado da mesa, incorporavam os médiuns, trazendo suas aflições que estavam impregnadas em suas faces. Muitas vezes, quem estava do lado de fora, quando ouviam o nome de quem estava na assistência, e posteriormente a autorização da incorporação, tentava emanar fluidos de uma energia negativa forte, uma nuvem escura, que não conseguia penetrar pela porta de luz, que funcionava como escudo. Nosso preletor explicou, que muitos do que estavam lá fora, eram seres do umbral que não queriam perder aquela alma atormentada nem queriam que ela fosse resgatada. Um fato me chamou a atenção, esses serem encarnados que participavam ativamente dessas - 32 -


reuniões, os médiuns, eram também socorristas, só que encarnados, e tanto quanto nós, sua missão era resgatar esses irmãos que estavam nas trevas e os levarem de volta ao convívio de amor em uma das várias colônias que existiam. E o resgate meu caro, é uma guerra, por isso nosso esquadrão tinha que ser bem treinado. Se nos hospitais da colônia, os pensamentos ruins te puxam para o Umbral, sem que haja interferência no livre arbítrio, o outro lado interfere e muito nos pensamentos de escolha, procurando emanar uma série de ondas de energia contrária, mas não menos poderosas, que bloqueiam os pensamentos de amor. Vi, como se houvesse um cordão umbilical escuro, com os espíritos sofredores, ligados pela cabeça. Pedi explicação ao preletor sobre o que eu estava vendo, ai, ele pacienciosamente me explicou. Aqueles que estão ao redor da mesa, e tiveram permissão de entrar, são espíritos que ignoram que fizeram sua passagem, quando foram para o umbral, foram sugados novamente por aquele túnel, voltando diretamente á terra, ficando perto de seus entes conhecidos. Aqueles que mais se angustiam, ou choram a - 33 -


perda, são aqueles que formam uma energia que se assemelha a um poderoso imã magnético, atraindo de volta o irmão que sofre. Só que lá no umbral, no momento em que você chega, você já é de alguém, que se liga com o seu sofrimento através de dívidas não perdoadas da vida atual ou de vidas passadas, ou resgate cármico. Então quando o sofredor está na terra se ligando aos pensamentos de um irmão, mesmo que sejam por pura ignorância que já não faz parte do mesmo mundo, esses mais esclarecidos do umbral, da mesma forma que em nossas colônias, nosso professores iluminam nossos pensamentos com amor, deturpam mais ainda os pensamentos destes irmãos sofredores, com inveja, ciúmes, ódio, rancor e sobretudo vingança. Os pensamentos negativos formam uma teia de aranha, que arrastam tudo, até sentimentos de vidas passadas, enquanto o amor se expande como uma luz de vela, o ódio consegue levantar chamas maiores. O amor é energia sutil, que leva a uma sensação de paz e calma, que induz o individuo a pensar positivamente, enquanto o ódio e a ving- 34 -


ança são energias densas, que atingem primeiro o perispírito ou o corpo energético, depois como uma infecção, toma conta da mente, chegando em seguida ao corpo físico, causando doenças psico somáticas, podendo levar a depressão, doenças terminais, loucuras e a derradeira passagem de um plano para outro.

Espírito entre pessoas encarnadas

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6 – Prontos

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ra à hora de nossa primeira jornada pelo umbral, fomos acompanhando um grupo já mais experiente do que nós.

Iríamos resgatar as pessoas que estavam na zona da avareza. Esta área era reservada para desencarnados que não conseguiam se livrar de seus bens terrenos, quando faziam sua passagem, e o pensamento de mesquinhez e avareza arrastavam- nos para o umbral, não seguiam e nem eram influenciados por oradores, não queriam saber de ninguém que pudesse representar ameaça a suas posses. A mesquinhez gera em muitas pessoas, tal apego á matéria que não conseguem se libertar, normalmente são seres altamente desconfiados de tudo e de todos, mas geralmente vivem de forma solitária. Suas vidas foram moldadas por não perderem - 36 -


um único tostão, mas também por cobrar em seus negócios aqueles que lhe deviam com rigidez e sem piedade. Sabem aquela parte da oração... ”perdoai as nossas dívidas...eles não conhecem esta parte”. Na morte não é diferente. Eles possuem consciência ou semi consciência que fizeram a passagem, mas, isto para eles não é importante. Plasmam muitas vezes porções amórficas de éter, e dizem ser seus milhões. Outros andam de um ponto ao outro, simulando que estão tirando a carteira e contando dinheiro, guardam-na no bolso, depois volta em questão de segundos a pega-la novamente, e contar de novo, não tendo fim. Quando, pelos pensamentos de parentes ou por orações dirigidas a eles, aprendi que sempre há na terra alguém que se lembra de nós em orações, conseguem olhar pelo túnel que liga a terra, e vêem suas posses sendo usufruídas por parentes que ficaram ai se tornam mais perturbados ainda, sem querer dividir nada, ficam entre o éter plasmado de seus milhões e a sombra daqueles que por herança, assumiram seus bens. - 37 -


Ao chegarmos lá, cada novato recebeu a companhia de um veterano, do meu lado a professora Dana Lu, agradabilíssima de voz doce e paciente, me disse “João, ao chegarmos nesta região, não deixe que a ilusão de sua visão perturbe seus pensamentos” Não entendi direito a principio, mas chegando lá, me dei conta da dimensão de suas palavras. A maioria possuía a forma de esqueletos, que viviam de forma paupérrima, sentados em cima de pedras. Esqueletos ou semi esqueletos de ossos com músculos em estado de putrefação, vestindo aqueles ternos de enterro, me lembravam muito a figura de ZUMBIS. “E são” – lendo meus pensamentos – Dana Lu me completava e ensinava, essa é a aparência deles a onde estão hoje e também na terra, quando podem ser vistos por alguém de sensibilidade. Porque o apego a matéria é tão grande, que a libertação total de seus corpos, nunca vai acontecer, quando todo o conjunto de tecidos e músculos estiver apodrecido, ai só sobram os ossos, as unhas e os cabelos e mesmo assim, muitas - 38 -


vezes o desapego a matéria não acontece. Chamam essas “pedras“ de sua fortuna, estão em constante sofrimento e preocupação de serem roubados, estes sim Johnny, são figuras fantasmagóricas reais, fantasmas que no passado se diziam que arrastavam correntes. As correntes eram a forte união deles a matéria. Vamos tentar o resgate daquela ali sentada na pedra. Dana Lu, possuía aquele mesmo aparelho semelhante ao tablet onde toda a história da pessoa aparecia. Nome dela é Janeth, fez a passagem com 84 anos, sempre guardou seu dinheiro embaixo do colchão, quando os filhos descobriram o esconderijo da mãe e na ânsia de ajudá-la abriram o colchão, depararam com um monte de cédulas e moedas que não possuía mais valor nenhum. Como no Brasil, o dinheiro passou por vários planos do governo, e as moedas foram mudando ao longo dos anos, tudo o que ela ajuntou não possuía valor algum. Isso foi o fim para ela, mesmo assim, não deixou jogarem o dinheiro fora. Mas entrou em uma depressão profunda, parou de comer, continuou dormindo em cima de - 39 -


sua fortuna, e quando percebeu que iria fazer a passagem, pediu ao filho mais velho que fosse enterrada com os bens que acumulou a vida inteira. Morreu pobre, na mais completa miséria da alma, mas deitada sobre as moedas e cédulas que acumulou a vida inteira. “Olá Janeth”- cumprimentou Dana- como vai o dia hoje? - Mais ou menos, tenho que guardar esse dinheiro, porque o homem do banco disse que iria passar aqui e jogar tudo fora, porque não valia mais nada. Janeth só tinha fisionomia de um lado do rosto, do outro eram apenas os ossos da face. -Então você não acha que já está na hora de ir embora? - Sabe o que é... Dona Dana, eu até que iria, mas se eu sair daqui os outros vão me roubar. - Janeth querida, você já não faz mais parte do mundo que precisa de ouro e prata para sobreviver, aqui a gente vive do amor de outro irmão e pela grandeza do amor de Deus. - É, mas quanto custa isso, sempre me cobraram e caro, sempre achava que eu fosse mil- 40 -


ionária, eu sempre escondi, muito bem minha fortuna dos olhos dos outros. - Minha querida Janeth, isso só custa de você o reconhecimento do estado que está vivendo e a sua vontade de querer mudar. A mulher deu um pulo de onde estava e saiu dando as costas, e dizendo alto; “E VOCÊ ACHA ISSO BARATO”, me deixa vocês ai do resgate, vira e mexe vem me perturbar, eu acho é que vocês estão querendo me roubar, não preciso da ajuda de vocês não, ajuntei a vida inteira um dinheiro para quando eu precisasse, e ainda não preciso de ninguém, VÃO EMBORA , eu sei muito bem me virar sozinha. Dana Lu me surpreendeu, quando virou me e disse, vamos Johnny, não temos mais nada a fazer aqui. -Mas não viemos resgatá-la? -Sim, mas não podemos influenciar jamais no livre arbítrio de ninguém. Janeth já está aqui por muito tempo, e ainda vai ficar por outro bom tempo, ás vezes são necessários séculos para terminar com essa escravização, ou ainda o amor de alguém lá debaixo. Lá de baixo Dana? Não seria de cima. - 41 -


Não de baixo mesmo, um filho ou um marido que reconheça que não fez por ela o que deveria ter sido feito, e pede uma nova oportunidade, pode traçar, mesmo sem saber, um plano de reencarnação para si, que a envolva. E ai, o que acontece? – perguntei Ai, nós socorristas, preparamos os dois espíritos, para que isso aconteça quem pediu uma chance de resgate com base na reencarnação, normalmente precisa estar muito mais evoluído do que ela, sabendo que vai receber de novo em seu convívio, uma pessoa despreparada espiritualmente. E ai ela larga o apego pela matéria? – Perguntei - Claro que não, ela só aceita voltar, porque tem a plena consciência, que vai trocar sua fortuna por outra ainda maior e que vai ter tempo de não errar desta vez. - Nossa- pensei - Mas a história ainda não acabou Johnny – Dana explicava- quando alguém resolve pedir uma nova oportunidade para outro alguém através da reencarnação, isto é mérito da pessoa que se ofereceu para voltar em sua escala de evolução e aprendizado, para dar uma nova - 42 -


oportunidade à outra pessoa. Esse mérito não é representado aqui por medalhas no peito, se toda a lição que procuramos ensinar neste plano é o perdão e o amor, esse que ofereceu o resgate, quando voltar ao plano espiritual, irá passar muito pouco tempo entre nós, já sendo levado para planos mais evoluídos imediatamente.

- E se mesmo voltando a Janeth não aprender a lição e cometer os mesmos erros? - Se apesar de toda a instrução recebida pelo espírito que pediu a nova oportunidade dela, que normalmente volta como um pai ou marido, que vai tentar dar a ela uma nova cultura desde criança, ela não aprender, volta para o - 43 -


mesmo ponto de onde estava. -Por isso te disse, essas são as pessoas mais difíceis de serem resgatadas, porque a cultura delas levou gerações para serem moldadas. - E quanto tempo ainda, podem permanecer por aqui? - Tempo meu filho- sorriu Dana, aqui nós estamos na eternidade.

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7- Nossa missão: O resgate de um suicida

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omo já disse, no umbral existem muitos esconderijos e passagens interligados com o planeta terra.

Colônias, existem várias espalhadas por vários continentes geográficos do planeta terra, onde as pessoas são atraídas pelo grau de afinidade. Mas depois de certo tempo por aqui, é possível se transitar entre as diversas colônias e se transferir para outra onde estão laços fortes de vibração afetivos. Mas tudo isso, segue uma ordem e um grau de organização, em geral a escolha por esta ou aquela colônia, acaba com o tempo te reunindo próximo aos laços vibracionais de antigos antepassados que, se mais evoluídos, te ajudam também em seu processo de evolução e aprendizado. Aqui, embora falamos normalmente como fa- 45 -


lávamos no planeta, não há mais a barreira da linguagem, todos se entendem, porque aqui, a formação do pensamento é que forma a linguagem, isso é o que nos torna compreendidos. Na terra acontece à mesma coisa, primeiro pensamos antes de pronunciar, depois nossos pensamentos são traduzidos em fonemas que se transformam em palavras. Aqui, tudo é mais simples, tipo “Eu penso, logo existo”, então nossos pensamentos são à base de nossa existência. Enfim, nosso grupo foi chamado para uma missão singular desta vez, o resgate de uma irmã que havia se suicidado. Como do outro lado da vida, são nossos pensamentos, bons ou ruins que nos aproximam, também são eles que nós afastam do convívio de outros. Uma pessoa que escolhe desencarnar por conta própria, mesmo quando o sofrimento do corpo e da mente são grandes, está sofrendo de um profundo mal em sua auto estima, depressão e solidão. Assim, o resgate de um suicida, não se dá em um lugar comum na região do umbral, se dá em locais particulares, como se fossem mundos particulares, plasmados pelos pensamentos do - 46 -


suicida. Resgatar um irmão que tirou sua própria vida, sempre vai significar, você sintonizar sua rádio na mesma frequência que a dele, do contrário, ele sequer vai perceber sua presença. A vibração de um suicida é perigosa até para nós, pois corremos o risco de sermos envolvidos de tal forma, de não conseguirmos mais voltar a vibrar em nossa frequência normal. Assim esse tipo de resgate, precisa ser feito em equipe, e sempre monitorado a distância pelo centro de controle das operações de socorro. Primeiro, fomos chamados ao centro de controle, onde foi nos passado o caso. Era uma senhora, que havia sido abandonada pelo marido, depois de 27 anos de casamento, foi se fechando cada vez mais para o mundo, embora os filhos se esforçassem para que ela reagisse, ela se afundava cada vez mais, se entregando ao vício da bebida, depois de remédios para dormir, até que em uma noite se dirigiu ao banheiro e cortou o pulso, tanto que a mão chegou a ficar pendurada pelo tendão. Nosso centro de controle recebia essas missões - 47 -


de várias formas, esta, especificamente havia sido recebida em oração, que atingiu nosso centro, vinda dos filhos que choravam sempre por sua morte. Uma missão recebida em oração, é diferente de uma missão de rotina, soa para nós como uma ordem direta do criador, de trazer esta pessoa novamente para compartilhar da luz de Deus. Jamais duvide do poder de uma oração. Voiron foi à frente, com Antenor eu e Lauro ficamos um pouco mais atrás. Passar volitando pelo Umbral é uma necessidade, ninguém quer tocar na energia densa que se espalha pelo chão, a luz dos pensamentos da oração, é que nos guiava o caminho até o espírito suicida. Quando chegamos, pudemos perceber que o ambiente ali era diferente do lugar por onde passamos, não havia cor, apenas o preto, o branco e os vários tons de cinza dominavam o ambiente. Chegamos em frente a uma casa, porta e janelas trancadas, um quintal cinza, onde ainda se via um balanço de crianças. - 48 -


Entramos pela casa, um silêncio gelado cortava nossa alma, Voiron entrou primeiro e chamou por ela: - Dona Cordélia, Dona Cordélia, onde a senhora está? Do quarto, vinha um som, como uma cantiga de ninar antiga; “... Eu mandava, eu mandava ladrilhar... com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante... para o meu...” Quando eu e Lauro entramos no quarto, fomos atacados por uma série de porta retratos com asas de morcego, eram as fotos dela com o ex marido. As lembranças eram tão fortes que nos expulsava Antenor, quando entrou saiu no mesmo instante, expelindo pela boca algo muito semelhante a um vômito, foi Voiron, quem conseguiu entrar e ficar. Cordélia estava sentada no leito abraçada por uma jibóia gigante, a parte de cima do corpo estava separada da parte de baixo, e a cabeça de Cordélia formava a terceira parte separada do corpo, segurada pela boca da jibóia. Quanto mais alto Voiron falava com ela, mais - 49 -


“O suicida plasma seu próprio mundo”

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alto ela cantava, fechando completamente os ouvidos para nós, tínhamos que fazer algo. Quando voltamos os três em socorro de Voiron, a jibóia já segurava nossa amiga pela cauda. Foi quando me deu um estalo, e eu gritei “FOGO, está pegando Fogo na casa, nós somos os bombeiros Cordélia, vai pegar fogo em todas as suas fotos”. Estranhamente, isso surtiu efeito, e ela gritou “SALVEM AS MINHAS LEMBRANÇAS” Foi neste momento que a cobra desapareceu e soltou Voiron, reaparecendo enorme do meu lado. Meus três amigos companheiros, começaram a aplicar passes energéticos em Cordélia, enquanto eu senti que aquela cobra não era exatamente apenas plasmada pelos pensamentos de Cordélia. O monstro se materializou do meu lado, arregaçou aqueles dentes afiados, exalando o tão temível bafo de Jibóia, e dizendo “ELA É MINHA, CAIAM FORA DAQUI” Amigos, não tive exatamente tempo para - 51 -


lembrar que eu já estava desencarnado, o medo me provocou a mais terrena das emoções, me virei para correr, enquanto a jibóia vinha atrás de mim, com toda a carga. Meus outros amigos, continuavam o trabalho energético com Cordélia, para tentar acordá-la de um sono profundo, enquanto eu corria do lado de fora da casa, com aquela cobra enorme atrás de mim. Derrepente, naquela cena toda, começou a garoar, eu pensei comigo, não tem como piorar mais. Comecei a perceber, que a chuva tinha gosto, o mesmo de nossos fluídos energéticos lá da colônia, e o que eu de inicio ouvia como sendo um trovão, foi tomando forma em meus ouvidos; “Sanctus Michael Archangele, defende nos in proelio, contra nequitiam et insidias diaboli esto. Modi Deum obnixe postulo, et Tuque princeps militiae caelestis, in virtute Dei, Satanam aliosque spiritus malignos, qui ambulant in infernum conjecti sunt in mundo animarum. Amen” Era a oração de São Miguel Arcanjo, e a chuva - 52 -


era água benta, quando Cordélia baixou a vibração e a freqüência, devido aos passes energizantes de meus amigos, ela conseguiu também, deixar que as várias missas pedidas pelos filhos, chegassem até seus ouvidos. As gotas, que caiam pelo céu daquela cena, borravam a imagem como se ferissem os tons de cinza, transformando-os em gotas de aquarela colorida. Bastou algumas gotas caírem em cima da jibóia, para ela se transformar em uma poça de tinta do meu lado. Quando Cordélia definitivamente recebeu algumas gotas daquele amor todo em sua fronte, ela ergueu a cabeça para Voiron e pediu por ajuda. Neste instante, nós quatro nos vimos na frente do portão da colônia, Cordélia enfim foi amparada pelas enfermeiras e médicos de nossa colônia. Cordélia só conseguiu ajuda, depois de muita missa e orações, constantes de seus filhos queridos. Assim que portão se fechou novamente, meus três amigos riam de se esborrachar de mim. - 53 -


“Vocês viram, como o herói aqui dominou a cobra, sozinho? - dizia o Lauro” “Meu herói – falava Voiron” Eu apenas sorri e me senti muito feliz, por ter ajudado, e por estar perto de amigos tão importantes como esses três.

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8- Minha primeira ronda sozinho

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epois de estar certo tempo por aqui, a gente se acostuma e quer resgatar cada vez mais almas do Umbral, obtive a permissão para fazer rondas por cemitérios, normalmente porque, eu imaginava ser um local de paz, sem muita atividade acontecendo. Quando solicitei isso ao meu preletor, de querer aproveitar meus horários, mesmo quando o grupo não se reunia, mas que fosse então tarefas mais simples como vigiar o cemitério, ele riu muito antes de permitir. “Você quer fazer rondas por lá, porque crê que seja um lugar tranquilo?” – e ria muito – “Eu autorizo, disse ele porque são campos santos e sempre existe em cada cemitério um anjo de fogo zelando pelo local, pode ir, vá curtir momentos de tranquilidade” Não entendi nada, a risada, anjo de fogo, aliás, - 55 -


eu nunca vi nenhum fazendo vôo rasante por aqui. Quando me falavam na terra sobre anjos, minha visão era a dos querubins ao lado do trono de Deus, expressões Angelicais, claro que eu conhecia as orações à São Miguel Arcanjo, e já tinha visto o poder das orações do outro lado da vida. Enfim rumei para meu destino e quando lá cheguei, entendi o porquê de tanta risada. O Cemitério à noite, está longe de ser um lugar tranquilo, me lembrava mais um shopping, aonde várias entidades, vem em busca dos sentimentos negativos e de tristeza que passaram por aqui durante o dia. Os corpos, ainda frescos, emitem para a nossa freqüência, um barulho muito alto de gases explodindo, com muitas luzes que são os gases de muitos remédios e drogas químicas quando entram em contato como o oxigênio da atmosfera. Normalmente as almas dos que fizeram sua recém partida, não estão aqui, saíram do corpo horas atrás, lá no hospital ou em casa amparados por seus familiares, e de lá sobem pelo túnel de luz em direção das colônias. Podem voltar pra cá sim, quando não aceitam - 56 -


a morte, ou quando são atraídos pelo cheiro de seus pertences que foram enterrados junto com o corpo, como no caso da Janeth, ou não se deram conta que o mundo espiritual, é tão real quanto o mundo da matéria. Mas tem outros espíritos, chamado de errantes, que estão por aqui há tanto tempo, que mesmo sendo chamados para viverem na espiritualidade, preferem seguir uma rotina de encarnados, saem andando pelos muros do cemitério, visitam o lugar onde frequentavam e depois retornam, como se seguissem uma rotina insana fazem isso toda a noite. Estão tão densos ainda, que um pouco de ectoplasma causado pelo medo de quem visita o cemitério e tem medo de espíritos, os torna visíveis. São espíritos que muitas vezes, por vaidade, se recusam a aceitar que morreram Jovens e mulheres extremamente vaidosas. Estas se arrumam muito, plasmando a última roupa que gostavam, perfumes e maquiagem e frequentam seus locais de noite preferidos, voltando antes, do dia amanhecer. Certa vez, eu vi ninguém me contou uma delas descendo de um taxi. Não era um taxi do mun- 57 -


do astral não, um desses normais de frota amarela, percebi que o motorista acendeu a luz do banco de passageiros, acho que para cobrar, e espírito não tem dinheiro, nem plasmado, nisso ela saiu da porta do carro, de mini saia, simplesmente atravessando. Saiu calma e caminhando tranquilamente rumo ao muro do cemitério. Só me lembro de ouvir o desespero do motorista, tentando ligar o carro e sair em disparada com o veículo. Ela chegou alta, bonita, vestido brilhante, deitou-se em seu túmulo, e eu claro, fui lá para conferir. Em sua lápide estava escrito “Suzana R., saudade dos seus amigos queridos”. Pelo que calculei, ela deixou o planeta com cerca de 30 anos de idade. Homens são mais difíceis de serem vistos nesta situação, pois o que os ligava a matéria, não era a vaidade, mais a materialidade. Outro dia, tinha um por aqui, atrás do seu relógio ROLEX, advogado eu presumi, pois ele dizia; - Vou entrar com uma ação contra essa institu- 58 -


ição,

Roubaram o meu Rolex!

Nas rondas, os socorristas são como vigilantes que oferecem apoio sem intimar, procuram levar estes espíritos para nossos hospitais da colônia, onde são amparados pela equipe de recuperação. Atrás de uma sepultura um choro baixo, cortado, lembrando o choro de uma criança; - O que você faz aqui? – perguntei – era uma menina que chorava muito. - Fui morta pelo meu namorado de 15 anos, por ciúmes. Ele vem aqui todos os dias pedir perdão, mas ainda não consigo perdoar. - Jéssica, este era o nome dela, enquanto você não tentar, não conseguirá se livrar da matéria e continuar sua evolução. - Não sei como fazer isso. Eu comecei a contar pra ela sobre o mundo espiritual, o que eu vi logo que cheguei lá, como fui recebido e amparado, o amor que existe por lá. Ela foi me ouvindo, se acalmando, aceitou mi- nha ajuda, mas em troca me disse que não sairia dali, até saber se ele estava mesmo arrependido e enfim poder perdoá-lo. Então vamos te ajudar, você disse que ele vem todos os dias, pois bem amanhã vou pedir - 59 -


ajuda a meus amigos e estaremos com você, na mesma hora que ele chegar, por enquanto você vem conosco para o pronto socorro, se tratar e se fortalecer. Dia seguinte, estava lá o ex namorado, o Pablo, só que o tempo havia passado e ele não tinha mais 15 anos, beirava agora uns 50 e poucos, com uma única rosa branca em suas mãos, orando ao lado da sepultura. A menina ficou ao lado de Voiron, eu, Lauro e Antenor, cruzamos as mãos por trás do ombro de Pablo. Lauro começou a projetar em sua mente, seus próprios pensamentos, descortinando novamente as cenas que haviam acontecido entre ele e a menina Jéssica. Voiron, ao lado de Jéssica soprou essas palavras que foram carregadas pela brisa, com o cheiro de Jéssica perto dele; - VOCÊ SE ARREPENDE? Ele desatou a chorar, Voiron soprou novamente e o vento despetalou a rosa, deixando apenas uma pétala, entre sua mão direita em forma de concha. Ai eu disse a irmãzinha Jéssica, diga que o perdoa, e que a partir de hoje seus sentimentos se separam. Ela dobrou os joelhos, deu-lhe um lindo beijo - 60 -


“não vejo pecado em ti, por me amar demais” - 61 -


na fronte, e disse: - Não vejo pecado em ti por me amar demais, vai, se liberta dessa culpa e vai viver tua vida. Neste instante, dentro dele saiu um morcego enorme de 3 metros de altura, uma criatura medonha, bateu as asas negras e saiu voando. Mas o milagre físico que eu vi, e acredito que Pablo também, aquela pétala branca em suas mãos, tingiu-se de vermelho, ele levantou e beijou, e como se procurasse ver alguém por perto. -“Obrigado meu Deus, por me dar uma prova que está cuidando bem da minha menininha” No rosto, Pablo recebeu um facho de luz, que somente nós víamos, saindo de uma nuvem, e sua face resplandecia de alegria. Ela o havia libertado, pelo amor. e pelo perdão. Jessica seguiu conosco para o mundo espiritual, Pablo continuou seu caminho e sua história.

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“A loira do Banheiro e os vampiros por drogas�

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9- A loira do banheiro

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continuo, em minha missão de resgatar almas sofredoras, naquela nova ronda pelo cemitério, eu que somente há pouco tempo também descobri e aceitei que tinha feito minha passagem, sabia que um socorrista, quando sai em missão, apesar de nunca estar sozinho, muitas vezes é aterrador. O aterrador aqui, geralmente não é encontrar outros fantasmas, afinal sou um deles, o que mete medo aqui é ver o sofrimento, que os próprios encarnados, fazem a si mesmo. Você pensa que deste lado também não existe o livre arbítrio? Existe sim, como já falei você só pode ajudar alguém que esteja disposto a receber ajuda. Assim, é comum passar por aqui e ver aquelas legiões de drogados e viciados que misturam encarnados e desencarnados, os que estão ainda vivos, pulam o muro do cemitério a noite - 64 -


para consumirem drogas sem serem incomodados pela policia. Alguns, quando está frio, colocam fogo nos latões de lixo para se aquecerem, mas ao lado deles, como seria bom se pudessem ver o que eu vejo, outra legião de desencarnados se reúnem com eles, para se viciarem também, com o fluído etéreo que sai do corpo deles. A miséria da alma humana é a visão mais aterradora que do próprio umbral. Os viciados desencarnados são chamados de vampiros de cemitério, além de continuarem se drogando através dos viciados, drogam-se também com os gases, que emanam do fluído dos corpos em decomposição. Nestes fluidos, que escorrem do corpo de todos os que desencarnam, existe muita medicação, muita droga, que pesada demais ao espírito, entorpece só com o cheiro. Eles, os vampiros, com a mão em forma de cuia, tomam desses líquidos levando à boca e ao nariz, mas isso corrói com sua estrutura ectoplásmica, então muitos apresentam apenas ossos e músculos expostos na região que logo abaixo do Nariz. E porque o Anjo de Fogo do cemitério permite - 65 -


que eles andem por aqui? Pelo mesmo motivo que existem abutres e ratos na natureza, esses seres só vão encontrar a paz depois de muita oração que os permita ver a real condição de seus espíritos. Afastei-me deste grupo volitando, quando ouvi um pedido de socorro, bem baixinho. Era uma moça loira, pelos cabelos eu diria que tinha uns 17 anos quando desencarnou. Ela me disse “Me ajuda” - Ta tudo bem irmã, do que precisa? - Eu não quero mais ficar aqui, estou presa neste limbo há muito tempo, no inicio até achava divertido, mas agora eu não quero mais, não tenho forças para me libertar. - Quer me contar sua história? – Perguntei No inicio, quando dei conta que eu tinha morrido, adorava assustar, aparecia em banheiros de escolas, atrás de fluidos frescos de jovens menstruadas. - Perai - Completei - Você era a loira do banheiro? Ela continuou sua história -Eu aparecia nos banheiros, porque muitas - 66 -


jovens, quando ficavam menstruadas e com medo expelem drogas, pelo sangue. Você ficaria impressionado com a quantidade de uma droga chamada êxtase que elas conhecem como ba linha, rola nas escolas antes delas saírem para as baladas. - Mas porque no banheiro das escolas e não no banheiro das baladas? – Perguntei.

- Porque nas escolas elas ainda estão frescas e sem álcool, quando chegam à balada, é tanto vampiro que não tem espaço. Mas agora eu quero ir embora daqui. Por isso comecei a volitar próximo a ela e conversar. - Mas porque você não recebeu ajuda quando fez sua passagem? Chorosa, relembrando o passado de anos atrás, ela me disse: - 67 -


“-Eu era uma jovem cheia de vida, tinha 15 anos, mas ainda gostava de brincar com minhas bonecas e meus ursinhos de pelúcia, meus pais... ah meus pais, quantas saudades, me amavam demais, eu era filha única sabe. Mas derrepente, nessas coisas de adolescente naquela época, eu me apaixonei por um menino, apaixonei muito mesmo, éramos inseparáveis dois adolescentes sem juízo. Lembro-me, como flashes do passado, lembro que estávamos fazendo amor, quando o Brasil foi tri-campeão de futebol. Depois disso, descobri que minha menstruação não vinha mais. - Minhas colegas de escola, - continuou- amigas mesmo, se distanciaram de mim, eu era a vergonha da turma. O menino com medo, ele tinha uns 17 anos coitado, trancou a matrícula, sumiu da cidade, foi morar com os tios em outro estado do Brasil, e eu nunca mais vi. Todo mundo da escola sabia, que eu estava grávida, menos meus pais. Entre o ódio de minhas colegas e o medo de meus pais, comecei a - 68 -


usar drogas, e ai me sentia bem quando usava. Em uma dessas vezes, no banheiro da escola, comecei a cheirar muito, lembro que o sangue começou a sair pelas narinas, eu escorreguei bati a cabeça, depois disso só me lembro de estar neste lugar, sempre procurando por mais e mais drogas, e vira e mexe , nem sei quanto tempo passou, vou atrás de drogas no banheiro das escolas, e olha encontro muita “ – finalizou.

Ela era um vampiro sofredor, mas antes de ajudá-la de uma vez, ela precisava compreender sua condição, tudo o que estava acontecendo com ela, senti que iria precisar de ajuda, então telepaticamente comecei a chamar por meus amigos. Nós então a convidamos para vir conosco a uma reunião espírita, intuídos que fomos por nosso mestre espiritual. E assim fomos, Antenor e Voiron, a seguravam um em cada braço. Na reunião, a menina descobriu quantos anos se passaram desde sua passagem, teve a oportunidade de pedir perdão a tantos que ela assustou. - 69 -


Mas, mais que isso, foi apresentada a ela uma tela mental de quantas vezes sua mãe chorou sua morte, e acendia uma vela, dizendo que não iria se importar de ter sido avó. A menina caiu em prantos, amparada por mim e Antenor, meu colega. Quando voltou a si, depois de Voiron e Lauro trabalharem firme em passes de energização, para seu espanto e alegria, quem estava lá em espírito também, de braços abertos esperando por ela... sua mãe. Sua mãe, que também já havia desencarnado, nos disse: “Eu sempre implorava à Deus, todos os dias para vocês resgatarem minha menina, agora, ela está aqui, em meus braços, de volta pra casa OBRIGADA MEU DEUS” Derrepente, um novo milagre, vimos o rosto da menina se transformar, daquela criatura medonha, para uma menininha com uma expressão quase infantil de 15 anos. Abraçou sua mãe com um misto de riso e lágrimas ao mesmo tempo, se aconchegando nos braços como um gatinho carinhoso.

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Nem precisa dizer como essa histĂłria terminou, nĂŁo ĂŠ mesmo?

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10- A noiva da estrada

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ela manhã, ainda estávamos todos reunidos em nossas aulas matinais, ouvindo sobre a imortalidade da alma. Nosso professor explicava lindamente, por quantas e tantas vezes um espírito escolhe reencarnar para evoluir. Evolução, é um tema que escutamos por aqui toda hora, é tanto que se fala em evolução, que outro dia, na aula eu estava pensando nos dinossauros e nos homens das cavernas.

- “Eles não co habitaram a terra ao mesmo tempo Johnny” – meu professor dirigindo a palavra a mim me dizia. Eu havia esquecido, que nossos professores, podem ouvir nossos pensamentos e questionamentos mentais.

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Dando um pulo, levantei, me ajeitando de novo na poltrona. - Como professor? – uma pergunta de quem é pego desprevenido, meio sem lenço, sem documento. -“Sua observação foi muito interessante Johnny, o homem só começou a falar em espiritismo muito recentemente, quando o Prof. Hyppolité, começou a investigar fenômenos sobrenaturais e codificar a doutrina espírita.” - Mas, antes disso, continuava – a reencarnação era um fato aceito normalmente, constava na bíblia, mas foi retirada após o 2º Concílio de Constantinopla, atual Istambul, Turquia em 556 dC, por ordem do Imperador de Roma Oriental Justiniano, a pedido de Teodora, sua esposa. - Teodora – continuava – era atormentada pelo pensamento de um dia voltar a terra como uma escrava igual às suas. - Mas na época das cavernas, o homem não era atormentado por virar comida de Dinossauro, eles existiram no planeta em épocas muito distantes. - Mas era atormentado sim, por seus próprios pensamentos, Quem Eu sou? De Onde vim? - 73 -


Para onde vou? -Mesmo nesta angústia, -continuava- o homem sempre buscou a Deus sem conhecê-lo, primeiro na natureza, depois pelos fenômenos da natureza. Mesmo sem conhecer a jornada da evolução do espírito, muitas tribos quando matavam seu adversários queriam se encher do espírito deles, e o espírito de um guerreiro sempre foi respeitado pelos adversários.” - Lembre-se Johnny- dizia meu professor- que os Índios da Sibéria, muito antes de conhecer a civilização, já tinham conhecimentos espirituais sobre os antepassados, e essas pessoas que tinham esse contato com os espíritos eram especiai, os Xamãs. Voiron completou – No Brasil isto também acontecia com nossos índios, usavam o espírito para curar. -Mas isso Voiron – continuava o Mestre – acontece até nos dias de hoje, os índios brasileiros se transformaram nos poderosos Caboclos da Umbanda, e continuam sua maravilhosa obra espiritual e, nunca leram em vida as obras do Prof. Hyppolité, também conhecido como Allan Kardec. - 74 -


A discussão se mantinha muito animada, mas era chegada à hora de nossas outras atividades, o professor terminou a aula, prometendo voltar ao tema em breve. Mais tarde fomos chamados ao centro de comando das operações de resgate, uma nova Mega Blitz estava sendo planejada, e o esquadrão Johnny Ghost estava escalado. Desta vez a missão seria resgatar almas sim, mas não no Umbral, seria na Terra, era uma Blitz em uma estrada brasileira. - Mas não somos policiais rodoviários – protestava Antenor – que vamos fazer em uma estrada? -” Existem lugares no Planeta Terra, Antenor – explicava nosso comandante da operação – que são assolados por muita energia negativa vinda do subsolo, uma energia telúrica, devido a uma infinidade de fatores que não vale a pena abordar agora, nesse caso específico, todas as nossas equipes de Socorro, em conjunto com outras de outras colônias, iremos percorrer os 1.181km da rodovia Fernão Dias, aquela estrada que começa no estado do Espírito Santo, atravessa Minas Gerais e chega à cidade de São - 75 -


Paulo. Essa rodovia é conhecida como estrada da Morte, muitos irmãos e irmãs desencarnaram em acidentes lá, e continuam sem aceitar que fizeram sua passagem, causando novos acidentes, numa espiral sem fim. Muitos ficam por lá, no acostamento chorando, e quando o desespero é muito grande, sua matéria fica mais densa e acabam sendo vistos por outros motoristas. Principalmente caminhoneiros, que insistem em dirigir com sono ou tomando anfetaminas, mergulham em ondas mentais que atingem o subconsciente, um estado de vigília, ou quase sono, neste estado podem sim ver energias mais sutis como o corpo mais denso de alguns sofredores desencarnados. Daí, para ver um vulto, se assustar e provocar mais acidentes e mais irmãos mortos e feridos, amaldiçoando ainda mais aquele trecho da rodovia em local de sofrimento, é apenas uma consequência esperada. Por isso, vamos em blitz, cada equipe ficará com um determinado trecho e fará o possível para resgatar almas que sofrem. Todos entenderam? Então mãos à obra, e que Deus acom- 76 -


panhe a todos.” Logo que atravessamos os portões da colônia, já caímos direto em nosso trecho da estrada, estava muito escuro, eu, Lauro e Voiron nos vimos juntos, mas Antenor tinha ficado um pouco atrás. Foi quando, vimos aqueles dois faróis, de um caminhão enorme buzinando e passando por cima do Antenor. O menino foi transpassado pelo caminhão, mas como nosso corpo é etéreo, só sentimos o susto do repentino. - Ufa, Ufa, - gemia Antenor enquanto nós ríamos. E ai Antenor, quase que você morreu de novo? - Eu não estava esperando, pô. -respondeu o menino. Depois do episódio engraçado, começamos a andar dois de cada lado no acostamento da estrada, em silêncio, quando começamos a ver uma luz estranha que vinha da próxima curva. A lua cheia iluminava aquela parte da estrada, refletindo no chão.

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No acostamento nós quatro vimos uma mulher vestida de branco que pedia carona aos caminhoneiros, alguns buzinavam, outros se benziam. Nos posicionamos, nos juntando as costas da mulher, pudemos perceber algo em suas mãos, sem conseguir definir o que era. Nós aproximamos mais, e ela se virou, com certeza ela era tão espírito quanto nós, usava um vestido de noiva plasmado, sujo de sangue. Em suas mãos havia um maço de rosas brancas. - Quem são vocês?- Ela perguntou- Se vieram para o casamento, esqueçam. A festa acabou. A cena era de por medo em qualquer mortal, mas, para nós quatro, despertava um sentimento de compaixão profunda. -“Nós somos seus amigos, viemos te ajudar – respondeu Lauro” - Não preciso de ajuda, de um bando de moleques, estou à procura de um noivo, e vocês são crianças de mais para mim- ela dizia.

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- Irmã - disse Voiron- não estamos aqui para o seu casamento, nem para te arrumar um noivo, viemos para conversar. Ela, mostrando um ar de desconfiança forte, sentou-se em um tronco ao lado da estrada e nos disse; “Vá lá, mas sejam breves, meu casamento é sábado e eu ainda não arrumei um noivo”. Nós posicionamos de novo de forma estratégica, com Voiron à frente prendendo a atenção dela, enquanto eu e Antenor formávamos uma corrente energética. Lauro por sua vez esperava para projetar seus pensamentos conforme eles fossem brotando. - Moça, qual seu nome – perguntou Voiron. - Meu nome é Katherine - Bonito nome, diferente aqui para o Brasil - Minha mãe sempre foi muito fã de Katherine Hepburn, aquela atriz de Hollywood, conhece daquele filme bonequinha de luxo... ela era linda.. Ela falava muito, quase não dava tempo de con- 80 -


versar, Voiron tinha que cortar seu discurso, várias vezes. -... o filme, bom, eu não achei tanto assim... - Katherine –Falando com poder interrompeu Voiron- Preste atenção em mim, você não acha estranho uma noiva com casamento marcado, ficar pedindo carona na estrada a essas horas da madrugada? A moça emudeceu, percebemos que sua energia havia mudado, seus olhos procuraram o chão, como querendo que ele se abrisse em um grande buraco para ela sumir. - Katherine- continuou nossa amiga- me ouve, você não pertence mais a este mundo, tanto quanto nós, só que estamos aqui para ajudá-la, nos conte sua história. Novamente o silêncio, agora somente cortado pelo som dos caminhões em sua jornada, que não viam mais o vulto da moça, sua vibração havia mudado. -Está bem, concordou ela, com uma voz chorosa, afinal de contas, nunca ninguém quis saber minha história. “Eu estava cursando faculdade e tinha uma - 81 -


vida absolutamente normal, trabalho, escola, amigas e ainda arrumava tempo para me dedicar a meu namorado.” Agora sim, enquanto a jovem falava, Lauro ia projetando em sua frente as cenas de sua história. - Quando estava terminando de cursar meu último semestre, - Continuou Katherine - decidi ficar noiva e marcar a data do meu casamento para o ano seguinte. O semestre terminou, e eu me dedicava somente ao trabalho e aos preparativos de meu casamento que se aproximava. Eu queria casar na Igreja de Santo Antônio, em um sábado. Faltavam apenas alguns meses para realizar meu grande sonho. Naquele dia, que não gosto de lembrar, tirei folga do trabalho, pois precisava ver os últimos detalhes para a cerimônia. Passei na casa de minhas amigas para que fossem comigo fazer as provas do vestido de noiva. A casa da costureira ficava na cidade vizinha, maior que a cidade onde eu morava, mas para - 82 -


chegarmos até lá, tinhamos que passar pela rodovia Fernão Dias. Por isso decidi, levaria as amigas para ajudá-la escolher os detalhes do modelo do vestido, e depois combinei com elas para tomarmos sorvete no shopping, que na nossa cidade não tinha, assistir um filme e depois voltarmos para casa. Minhas amigas estavam muito contentes com meu casamento, no próximo final de semana já faríamos o meu chá de panela. - Chá de Panela?- interrompeu Voiron. - E como chamamos aqui em Minas, quando uma moça se casa, as amigas se reúnem, brincam e cada uma leva um presente para compor a cozinha. - Continua Katherine, desculpe interrompe-la. -“Eu coloquei minha música preferida no som do carro e fomos direto para a casa da costureira, experimentei os modelos, escolhi os detalhes que eu queria, e para que ficasse perfeito em meu corpo precisaria ainda de alguns ajustes, que seriam feitos dentro de mais alguns dias. Saímos todas sorridentes, felizes e de bem com a vida e fomos ao Shopping, primeiro no cinema, e depois resolvemos passar na lanchonete - 83 -


para comer alguma coisa. Mas nós demoramos mais que o previsto, e no retorno, com medo de tomar bronca do meu pai, acelerei mais do que devia, quando tentei fazer uma curva dei de frente com um caminhão que deixou meu carro completamente destroçado. Depois disso, “não me lembro de mais nada, ela disse” - Mas você precisa ver o que aconteceu depois disso Katherine, olha para a tela mental que está em sua frente, dizia com a voz muito doce minha amiga Voiron, que continuou a narração da história, para a moça ouvir agora. Voiron narrava, não porque conhecia a história, mas porque nossa corrente energética despertava as lembranças que a moça havia apagado, e estas eram projetadas na tela mental que Lauro projetava à sua frente.

“Na hora da colisão, com o choque sua amiga que estava no banco da frente, sem cinto foi arremessada para longe do carro. Logo depois, cerca de alguns minutos depois do acidente chega o resgate, para socorrer suas amigas, que, mesmo muito machucadas sobrevivem ao - 84 -


acidente. Mas infelizmente você, Katherine não sobreviveu ao impacto, e faz sua passagem ali mesmo no local do acidente, aliás, este local, é logo ali, está vendo aquela cruz enterrada na curva? Tem o seu nome.

Você ficou tão machucada, que no velório seu caixão teve que ser lacrado. Mas seus familiares em respeito a seus sentimentos, correram até a costureira e lhe enterraram com o vestido de noiva, que sempre foi o seu grande sonho. Apenas uma foto sua foi exposta na tampa do caixão para que os amigos e parentes pudessem

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dar seu último adeus. E você Katherine enquanto acontecia seu velório, chegava às portas de nossa colônia, quando os portões abriram para você entrar, você não aceitou sua passagem e saiu correndo, mentalizando novamente essa curva onde tudo aconteceu e imaginando que só não se casou, porque seu noivo não quis mais. Então você, insistentemente pede carona aos caminhoneiros e por quem passa na estrada, aqueles que são mais sensíveis, ou estão em um grau maior de sensibilidade pelo sono ou por causa de alguma droga, vêem seu vulto e se assustam, agora olhe para aquele outro lado Katherine e veja quantas cruzes, indicando outros locais de acidente com mortos existem.” - Eu não queria – balbuciou a moça. - Nós sabemos disso, por isso queremos que você venha conosco- complementei. - Mas e o meu Casamento? – vai ter docinhos...... Com todas as dificuldades, ainda assim ela nos acompanhou, deixando para trás os caminhoneiros assustados que a chamavam de Noiva da Estrada.

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11- Momento da separação

E

stávamos todos vivendo nossas vidas, quer dizer, felizes por estarmos aprendendo muito em nossa jornada espiritual, além de contribuir com o resgate de outros irmãozinhos que podiam ter agora a mesma chance que nós. Mas ainda havia muito trabalho a ser feito, o esquadrão Johnny Ghost agora era conhecido de toda a colônia, como um grupo de jovens bacanas, que não escolhiam missão ou trabalho. Estávamos sempre juntos, os quatro, o amor entre nós era fraterno, como se tivéssemos todos nascidos como irmãos em um mesmo lar. Mas também tínhamos nossas vidas individuais, Voiron gostava de ajudar também no Centro de comunicações, enviando e recebendo - 87 -


mensagens de amor que chegavam aos moradores da colônia. Antenor adorava ajudar no auxilio dos doentes no hospital, conversava com eles, levava-os a passear em cadeiras de rodas, era só amor e dedicação. Lauro, o mais velho dos quatro, se encontrava mais no Centro dos transportes, conversando com os responsáveis pela manutenção dos transportes entre uma colônia e outra. Eu, no meu tempo livre adorava ler e lia muito, gostava de passar na biblioteca do Centro de comunicações, pegar um livro, uma fruta vermelha que nasce nas árvores por aqui, muito semelhantes à maçã, sentar na sombra de uma árvore e passar horas e horas me deliciando com a leitura. Existem escritores do lado de cá também, aliás, muitos, que escrevem romances maravilhosos, quem disse que só de doutrina vive um espírito? Naquela tarde, como outras, fiz a mesma rotina, mas enquanto eu lia, percebi a aproximação de Voiron. - Johnny, Johnny Ghost, meu querido e melhor - 88 -


amigo, eu preciso muito conversar com você. - Claro, Voiron o que te incomoda, diz. - Johnny, meu tempo no convívio com vocês está chegando ao fim, eu vim me despedir de você. - Como assim? – Eu reagi dando um pulo do lugar onde estava - Aqui Johnny, todos temos nosso tempo, é nossa escolha estarmos preparados para ascender a um novo patamar ou voltar e reencarnar, e eu escolhi que vou voltar ao planeta para resgatar minhas vidas passadas. - Mas Voiron, nós formamos um time, eu, você o Antenor e o Lauro... “- Pois é, meu irmãozinho mais querido de todos, eu vou ter que desfalcar o time eu preciso regressar. Poucos aqui conhecem meus motivos, procuro falar pouco sobre isso, mas, fiz pessoas sofrerem com minha passagem e, o meu orgulho feriu muitas pessoas que tinham laços de amor comigo. Eu sinto que meus atos na terra, que acabaram gerando minha passagem, impediram o crescimento espiritual de muitas outras pessoas - 89 -


amadas. Hoje, depois de tanto aprender com os preletores e tudo que já vi no Esquadrão do Johnny Ghost, sinto que estou preparada... - Eu vou sentir sua falta – interrompi. - Eu também querido amigo, do seu lado voltei a sorrir enquanto trabalhava, quis me esforçar muito para ficar a altura de todos, e Johnny, eu só acho eu estou preparada por causa de tudo o que nosso grupo aprendeu. - Mas, e como que eu fico sem minha querida irmãzinha? - Johnny na vida, ou depois dela sempre temos que estar pronto para partidas, somos espíritos de luz, iluminados pelo criador. Quanto mais luz adquirimos, mais luz precisamos expandir, e um dia quando formos apenas energia pura, não importa onde estejamos, estaremos sempre juntos. Ela se afastou em direção aos mentores que a levariam novamente de volta a encarnação, eu não conseguia ainda aceitar a separação. - Eu vou esperar você voltar Voiron, todos os dias, vou te mandar mensagens, lembre-se de - 90 -


não me esquecer. - Nos vamos nos ver de novo Voiron? Algum dia? Ela sorriu novamente em minha direção e fez o que costumava fazer sempre, deu um beijo em suas mãos, e soprou na brisa em minha direção. O grupo que a esperava, preferiu caminhar ao invés de volitar, enquanto ela ainda dava um último adeus em minha direção. Agora, éramos três, a continuar nossa missão do outro lado da vida.

FIM

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C.R.Moraes Jornalista, profissional de marketing, palestrante,professor por vários anos em Ciências e área de Saúde, Pesquisador do mundo espiritual, amante da evolução do espírito e criador do tema Neuro Motivação.

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Créditos:

Capa e Fotomontagens: C.R. Moraes Fotos utilizadas nas fotomontagens: Do banco de imagens do autor Direitos autorais mundiais : Do autor Proibida a utilização de trechos ou parte desta obra sem a devida anuência do autor. Inspirada na obra Nosso Lar de Chico Xavier Lendas urbanas – Loira do Banheiro e Noiva da estrada, são parte das lendas urbanas do Brasil. Escreva para o autor : revistamagia.br@gmail.com - 93 -


Johnny Ghost Do outro lado da vida

Junho 2013

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