Brincar Naturalmente Descobrir, Aprender e Brincar na Natureza
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Brincar Naturalmente Descobrir, Aprender e Brincar na Natureza
Autores Ana Paula da Conceição Andrade Azevedo Maria Isabel Nunes Bessa Maria Manuela Ribeiro e Rocha de Magalhães Susana Isabel Dias Barbosa
Ilustrações Afonso Alves Carolina Costa João Alves Margarida Costa Matilde Azevedo
14 de dezembro 2021
Arouca, Paredes, São João da Madeira, Vila Nova de Gaia
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Era uma vez . . . . Uma terra, onde os pais das crianças passavam muito tempo a trabalhar, onde os pais tinham muito medo de que algo de mal acontecesse aos seus filhos, onde as crianças não ficavam nem um segundo sozinhas. Passavam os dias na escola, com tantas atividades que, simplesmente, não tinham tempo para brincar. Nesta terra, há muito que as crianças não brincavam livremente e em contacto com a natureza. Dificilmente saltavam grandes e difíceis obstáculos, não trepavam às árvores, nem sequer podiam molhar e sujar a roupa, as meias e os sapatos. Viviam num mundo com cores berrantes, com muitas formas geométricas e plásticos, e outros materiais igualmente de aspeto artificial.
Até parecia que não se divertiam verdadeiramente. . .
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Os recreios das escolas eram muito pequenos, os pisos eram praticamente todos
cinzentos,
construídos com materiais como o cimento, a pedra, o plástico e onde, muito raramente, materiais
se
viam
naturais
e
confortáveis.
Nessa terra, chamada Arouca, brincava no recreio da escola, uma criança com um ar muito triste e desligado.
Muito próximo dali, em S. João da Madeira, uma outra criança brincava nas mesmas condições e com os mesmos sentimentos de tristeza. 4
Qual não é o espanto, quando, mais ou menos pela mesma altura, uma outra criança, numa terra chamada Vila Nova de Gaia, brincava num outro recreio, muito parecido com os primeiros, sem terra, água, árvores, flores e outros seres vivos.
Mas como em todas as histórias, uma desgraça nunca vem só! Numa outra terra um pouquinho mais longínqua, Paredes, algo do género estava também a acontecer. . .
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As crianças brincavam de forma controlada, vigiada e superprotegida por uns adultos, que às vezes eram os professores, os auxiliares ou encarregados de educação.
Estas crianças até corriam, jogavam ao futebol e à apanhada, mas, no entanto, faltavalhes alguma coisa.
As suas caras não tinham expressões tranquilas e até pareciam às vezes, infelizes.
Havia um problema muito grande naquelas escolas e nas suas crianças!
Para tentar refletir sobre o assunto, juntaram-se em grupo quatro adultos das quatro terras onde os meninos não eram felizes nos recreios.
Tinham como objetivo criar uma solução para ajudar a resolver esta triste situação. Depois de muitos dias a reunir, estudar e discutir, o grupo chegou a uma conclusão: Os recreios das escolas não estavam bem concebidos, desenhados e construídos!
As crianças não tinham plena liberdade quando brincavam. 6
Estavam constantemente a ser vigiadas e chamadas à atenção, não havia locais secretos, refúgios, longos percursos para correr, árvores altas para trepar, água gelada para chapinhar, terra para amassar, folhas e flores para fazer bonitos colares. As brincadeiras eram sempre muito parecidas, maçadoras,
limitadoras
e
até
pouco
saudáveis!
Mas, o que é que se poderia fazer para dar a volta aos espaços e tornar as nossas crianças mais alegres, felizes e até mais saudáveis?
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Continuaram os estudos, as reuniões, as discussões até que um dia … algo mudou.
Em Arouca, um grupo de pessoas importantes da terra, entre as quais a Sra. Presidente da Câmara, o diretor da escola, um arquiteto, um engenheiro, um médico do Centro de Saúde, um representante da associação de pais, e outras pessoas, igualmente com aspeto importante, foram à escola. Levavam uma surpresa que mostraram a todos os meninos, professores e auxiliares: a maquete de um novo recreio, que, pensavam eles, poderia tornar mais alegre a vida das crianças.
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O novo espaço, funcionaria como um parque verde, onde não faltaria a terra, água, equipamentos de madeira, pedras, troncos, árvores, animais e onde em cada dia, se improvisaria novos brinquedos e brincadeiras, deixando a criatividade e a energia ao sabor do que a Natureza tivesse para dar.
Os meninos adoraram a ideia!
A reformulação do recreio transformou e revolucionou toda a escola.
A curiosidade foi rainha, tendo a escola destas crianças passado a ser notícia no jornal local, no Facebook da Câmara, e imaginem, na SIC, no Porto Canal e até na CMTV!
Fizeram-se reuniões regulares, formação para os professores e funcionários, e até os pais foram todos convidados a assistir a conferências e teatros divertidos sobre o processo de reformulação que se ia iniciar no recreio. 9
Alguns adultos ignorantes não queriam que o espaço fosse alterado, diziam que era perigoso, provocava doenças e até, que não seria seguro. Imaginem que no início, até alguns pais foram mesmo contra o projeto.
No entanto a maioria das pessoas já estava rendida.
Foi altura de meter mãos à obra.
As crianças foram pesadas e medidas de alto a baixo. Passou a ver-se, com frequência, técnicos de saúde e da área do ambiente, na escola, começando a criar-se uma grande expetativa no reformulado e ampliado recreio!
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O dia da inauguração foi um dos dias mais felizes da vida daqueles meninos. Naquele dia, voltaram à escola as mesmas pessoas importantes que tinham vindo mostrar o projeto, e muitas outras mais! Até a Banda de Música atuou à entrada do novo recreio, que agora era grande, verde e maravilhoso.
Tinha muitas e variadas árvores, e algumas até já tinham laranjas, outras eram ainda magrinhas, mas já muito altas, outras davam até para subir. Também havia várias casinhas de madeira, umas para brincar, outras como abrigos de animais, havia até um pequeno charco com rãs a coaxar e a saltar, além de muitos caminhos para correr. Tinha até esconderijos fixes! 11
A Dona Laurinda, da sala 2, e a Professora Fátima da Turma C, no princípio, não gostaram muito da ideia,
estavam
mesmo
muito
chateadas e não deixavam as crianças
brincar
sossegadas
e
sozinhas. Quando regressavam do recreio, havia muitas vezes chatices com a Dona Laurinda.
Mas, com o decorrer do tempo tudo mudou.
Os meninos passaram a levar para a escola uma muda de roupa e calçado, lavavam as mãos antes de entrar nas salas e a Dona Laurinda acabou mesmo por dar os parabéns ao Tiago, que agora corria muito, e estava muito mais elegante e bonito.
A Teresinha também estava muito mais sorridente e até já corria com os amigos para o esconderijo da Camélia Branca.
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Com a ajuda dos professores, auxiliares e pais, todos passaram a cultivar parte do recreio, colher flores e frutos. Alguns até serviram para o almoço na cantina!
Batizaram árvores e animais. Aprenderam a dar de comer e beber aos coelhos brancos e cinzentos, visitar os ouriços cacheiros, e até chegaram a fazer serões na escola para tentar ver os novos amiguinhos: morcegos e pirilampos, que só apareciam de noite.
Estavam todos muito agradecidos, mais felizes e também mais criativos. Alguns mais elegantes e mais saudáveis, outros nem chegaram a ficar constipados ou doentes durante todo o ano!
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No primeiro aniversário dos recreios, em Arouca, S. João da Madeira, Vila Nova de Gaia e Paredes, juntaram-se todos e escreveram cartas de agradecimento ao grupo de pessoas que tomaram a decisão de melhorar a vida destas crianças.
Uma dessas cartas dizia que o projeto tinha ficado muito barato, comparado com o bem que já era visível em toda a comunidade escolar. Os meninos eram mais felizes e saudáveis, e o Ambiente muito mais puro!
A Ana, do 2ºB, ficou um pouco confusa, porque a Mãe dizia-lhe sempre que se tivessem 50.000 € seriam ricos!
Mas a verdade e o mais importante, é que os adultos investiram na felicidade das crianças e no meio ambiente, terminando esta história com um final feliz.
Vitória, Vitória, acabou-se a história!
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