Padre Rodrigo - O menino que nasceu na noite de Natal

Page 1

– O
DE NATAL
PADRE RODRIGO
MENINO QUE NASCEU NA NOITE
Era uma vez um bebé chamado Rodrigo...
F E S T I V A L D E E S C R I T A C R I A T I V A

FestivaldeEscritaCriativa

PadreRodrigo–OmeninoquenasceunanoitedeNatal

Era uma vez um bebé chamado Rodrigo, que tinha a idade do Menino Jesus, porque nasceu na noite de Natal. Depois, com os anos, essa criança foi crescendo, crescendo e, conforme as boas sementes lançadas à terra, deu frutos em abundância; fez-se homem e sacerdote – ou seja, padre.

Portanto, se o Rodrigo nasceu na noite de Natal, é muito fácil calcular o dia e o mês em que a mãe o trouxe ao mundo, de mão dada com a luz divina. Foi em 1936. Nessa altura do século XX, não havia luzinhas elétricas nos pinheirinhos; as prendas eram uns brinquedos de madeira, umas bonecas de pano e, pouco mais do que isso, alguns rebuçados. Porém, o Menino Jesus, só por si, era a luz do mundo, porque nos fala de paz e amor, como hoje e sempre, em todos os tempos da vida humana.

Nessa ocasião, tinha rebentado uma guerra civil, em Espanha – aqui, mesmo ao lado de Portugal –, que durou três anos seguidos...

2

Quando se diz “rebentar uma guerra” é porque, antes desse acontecimento, há mal-entendidos e muito ódio no coração das pessoas, que deixam Jesus muito triste – muito triste mesmo! E quando se diz “guerra civil” quer dizer que esse conflito não é apenas entre militares, homens vestidos de farda que dormem nos quartéis ou nos acampamentos. Essa guerra é também entre pessoas que nunca foram à tropa, vestidas à paisana, que dormem em casa ou fogem para qualquer lado – por exemplo, pelas ruas, avenidas, por baixo das pontes, pelos campos e montanhas –, umas atrás das outras, de armas na mão e com sede de vingança. Que horrível, nosso Deus!

Esta guerra terminou em 1939. O Rodrigo, que fora da idade do Menino Jesus, tinha agora 3 aninhos. Mas, mal tinha acabado este confronto civil, outro conflito começava, muito pior ainda – foi a II Guerra Mundial, de âmbito militar, que durou seis prolongados anos. Sim, mundial. O holocausto espalhou-se por vários países, destruiu cidades, ceifou milhões e milhões de pessoas, pôs em perigo a vida de toda a humanidade e até foram criados campos de concentração, nos quais foram presos e mortos homens, mulheres e crianças –pobres inocentes!

3

Graças a Deus, a guerra mundial não chegou a Felgueiras nem a outro concelho de Portugal, mas o povo português vivia muito mal, devido às consequências negativas desse conflito militar. Havia muita falta de alimentos; muitas pessoas passavam fome.

ntes de o Rodrigo ter nascido, a Mãe de Jesus pedira na Cova da Iria, para que todas as pessoas rezem pela paz no mundo. Foi em 1917. ais de 100 anos, muitos peregrinos correspondem a este pedido, muita Fé junto à Capelinha das Aparições e praticam a sua devoção a sua paróquia, em casa, estejam sós ou em família, e até mesmo no u na rua – são pessoas piedosas, que amam o Senhor e toda a humanidade. No entanto, a grande maioria dos filhos de Deus não falam com Ele – e, agora, dizei vós: qual o pai que fica contente quando os seus filhos não Lhe falam? E muitos dos que falam, apenas Lhe fazem pedidos. Apesar disso, não há progenitor que abandone os seus filhos, mesmo quando eles não lhe são amáveis e justos. De igual modo, Deus – nosso querido Pai –, está sempre à nossa espera e, ao mesmo tempo, está sempre do nosso lado, presente em todas as horas, nos momentos mais fáceis da vida e nos momentos mais difíceis.

4

Na verdade, o Senhor vê tudo – o bem e o mal que fazemos. Ora, quando não falamos com Ele, o que acontece? Começamos por esquecer a riqueza da Palavra divina, que é humilde e sábia, cheia de perdão e de amor. Nasce a inveja do amigo ao nosso lado, cobiçamos, por exemplo, os seus brinquedos e as suas qualidades de bom aluno ou de bom atleta – e assim o amigo deixa de ser nosso amigo, surgem mal-entendidos e guerrinhas imbecis. O mundo, os países também são assim! Tudo começa pela soberba, pela ganância e vontade de mandar nos outros – e mandar de qualquer maneira! E daí nascem os conflitos civis ou militares – ora num país; ora noutro; ora, ainda, entre vários países. Estas guerras – todas elas são injustas e muito cruéis – trazem confrontos que se prolongam por muitos anos e por décadas, irmãos contra irmãos, trazem a miséria, a fome, a falta de habitação, a doença e o fim de muita gente. Mas Deus, que é amor e esperança, não desiste e toca no coração das pessoas que provocam os desentendimentos, à espera de que se arrependam.

5

Falávamos nós do Rodriguinho... Os pais – de nomes José e Glória – eram um casal de agricultores muito pobres, com pouco terreno para cultivar e colher produtos para a alimentação da família e para venda – a comercialização era uma maneira de se arranjar algum dinheirinho, para comprar roupa, alguma mobília e coisas muito humildes. Aquele casal muit mbora pobrezinho, era feliz e nunca se queixava de nada. Marid am o terço todos os dias, conforme Nossa Senhora pedira em missa ao domingo, levando consigo os seus filhos, desde tenra i

Verdade é que o Rodrigo veio ao mundo, como dissemos, naquela noite de Natal, às 21h00, na casa dos pais. Que data tão simbólica naquela família! Aquele menino de ouro que, em adulto, haveria de levar a Palava do Senhor a muitas pessoas! O lar dos pais era uma casinha bastante modesta, na freguesia de Airães, no concelho de Felgueiras. Vejam bem que àquela hora as famílias portuguesas já se encontravam aconchegadas bem perto das lareiras e sentadas à mesa, para a Ceia do Natal. Era uma quinta-feira aquele dia 24 de dezembro.

6

Quando o Rodrigo nasceu, o senhor José e a D. Glória já tinham tido outros filhos. Durante a sua longa vida, o casal teve 12. Mas, desta dúzia de rebentos, seis adoeceram e voaram para os braços do Senhor, onde repousam na glória do Amor Infinito. As outras seis crianças que sobreviveram são: além do Rodrigo, e por ordem de nascimento, Maria, João, António, Alexandre e Amélia. O Rodrigo é o antepenúltimo rebento; a filha mais nova é a Amelinha – assim tratada por toda a gente, com carinho.

Naquele tempo, muitas crianças morriam, devido às más condições em que o povo vivia. Poucos médicos e enfermeiros, poucos hospitais e medicamentos.

A higiene das pessoas era fraquinha, o conforto nas casas não existia, os transportes eram tão poucos que a maioria das pessoas andava a pé e descalça, a roupa era tão fraca que muitos portugueses vestiam calças e casacos compostos por remendos – ou seja, bocados de pano cosidos a tapar as partes rotas das peças. Grande parte dos meninos e meninas não ia à escola e a maioria dos que frequentavam completava apenas a 3ª classe. Quase toda a população começava a trabalhar durante a infância.

7

Como podemos ver, o agregado familiar do Rodrigo era composto por oito pessoas: os pais, ele próprio e cinco irmãos. Ainda o bebé tinha poucos meses de vida, os pais decidiram mudar-se para a freguesia da Pedreira. Aqui, o casal continuou a dedicar-se às atividades agrícolas; esta mudança trouxe apenas um pouco mais de rendimento. Pode-se dizer que era uma bonita comunidade cristã, que, embora pobre em recursos materiais, nunca se queixava, havia nela o coração puro e dourado dos seus membros – cada um deles era uma semente que foi crescendo, crescendo e veio a dar bons frutos. Todos os filhos do casal ajudavam os pais no campo, conforme a robustez física de cada um. O João já tinha chegado à idade adulta, era mais velho dez anos que o Rodrigo, fazia outros trabalhos. Andava no seminário, graças às contribuições generosas de uma senhora e de um sacerdote, que ajudavam a suportar as despesas escolares.

8

O Rodrigo, ao ver que o seu irmão iria ser padre, encheu o peito de ar como quem respira o sopro divino, foi tocado pelo Espírito: quis seguir os passos do seu querido mano, ou seja, ser também humilde servidor de Cristo. Só foi possível concretizar o sonho porque o João se comprometeu a fazer as suas doações para os encargos letivos do seu irmão. Tal como no milagre dos pães e dos peixes, mesmo em tempo de pobreza, a generosidade é fonte de abundância, numa rede de boas-vontades: assim como o João tinha sido ajudado a formar-se padre, era agora ele próprio a contribuir para a formação do seu mano mais novo. Depois de fazer o ensino básico, Rodrigo esperou dois anos para prosseguir os estudos. Ingressou no Colégio de Ermesinde e, depois, no Seminário Maior da Sé, no Porto.

Que alegria a do Rodrigo quando passou pela primeira vez a porta de entrada para o seminário! Uma imensa alegria que o arrebatou, o sonho de vir a ser padre! O aluno, recém-seminarista, mal dormiu na primeira noite; na cama virava-se para um lado, virava-se para o outro e, muito contente, muito feliz, elevava o pensamento ao Céu: “Senhor, vou ser padre! Vou ser padre, meu Deus! Obrigado!”.

9

Por essa ocasião, decorria mais uma guerra – malditas sejam as guerras, que não deixam a humanidade em paz! Um dos irmãos do Rodrigo, chamado Alexandre, foi mobilizado para esse confronto no chamado Ultramar. Era o conflito entre Portugal e as suas colónias africanas Angola, Moçambique e Guiné – estas antigas províncias queriam ser independentes do governo de Lisboa. Por outro lado, cá dentro, no nosso país, não havia liberdade e democracia, os portugueses não podiam discordar do governo – era preso quem contestasse –, as eleições não eram livres. Entretanto, o novo seminarista era muito dedicado aos estudos, transitou sempre de ano letivo, até que completou o seminário, aos 27 anos.

Foi em 1963. Rodrigo foi ordenado sacerdote a 4 de agosto, na Sé do Porto, numa cerimónia religiosa muito bonita e muito comovente, principalmente para os seus queridos pais, irmãos, outros familiares e amigos. Nessa altura, a Igreja Católica conhecera um novo Papa, Paulo VI, porque o anterior falecera em junho, que fora João XXIII. Ambos abraçaram uma nova maneira de dizer e de praticar a Fé cristã – essas ideias foram aprovadas em Roma, num concílio, conhecido por “Concílio Vaticano II”.

10

Por exemplo, a partir daí os padres deixaram de celebrar as missas de costas viradas para a assembleia dos fiéis e deixaram de as dizer em Latim, mas na língua de cada país – no nosso caso, em português. Como se vê, a vida do Rodrigo foi marcada por coincidências históricas muito importantes, como uma espécie de sinais divinos.

Sem dúvida alguma que Rodrigo tornou-se num bom pastor de Jesus Cristo, muito junto dos homens, mulheres e crianças, de forma discreta, mas sempre ao serviço de todos. Cumprimentava toda a gente com carinho, atenção e disponibilidade. Foi pároco em Amarante e em Paredes. Neste segundo concelho, foi professor de Educação Moral e Religiosa Católica. Numa manhã de abril, os alunos deram-lhe uma boa notícia: em Lisboa, um grupo de militares generosos decidiu dar liberdade às pessoas para escolherem livremente o governo do país e determinou o fim da guerra nas colónias, dando-lhes a independência como países. Nesse dia, a capital portuguesa encheu-se de cravos vermelhos e de canções, que os lisboetas distribuíam e entoavam, espalhando o júbilo ardente pelo país – Portugal acordava de uma noite escura e tenebrosa. Foi a 25 de Abril de 1974.

11

Passados dois anos, o bispo do Porto D. António Ferreira Gomes – tentem saber quem foi esta grande figura da Igreja e do país – nomeou o Padre Rodrigo como nosso pároco, para substituir o Padre Urbano, que se encontrava já na terceira idade e, por conseguinte, sem forças suficientes. Foi a 3 de abril de 1976 que o novo pastor de Margaride celebrou missa na nossa igreja...

O Padre Rodrigo era, desde jovem, um ser humano de saúde frágil, com problemas de saúde que lhe tiravam o sono e o obrigavam a cuidados alimentares. Mesmo assim, foi um pastor gigante ao serviço da nossa paróquia – a sua irmã Amelinha, que residia com ele, foi o seu “braço direito” durante toda a sua missão pastoral. Ajudado por equipas de colaboradores da comunidade, o nosso querido Padre, lançou grandes obras paroquiais, que melhoraram muito as condições de acolhimento dos cristãos – crianças e adultos –, criou grupos de ação pastoral e, entre outras tarefas bem-sucedidas, fundou o nosso Agrupamento de Escuteiros. Há 40 anos! Foi a 19 de março de 1983, dia de S. José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, patrono da catequese e do trabalho.

12

Em 2005, antes de completar 69 anos de idade, o senhor Padre Rodrigo teve de deixar as suas pesadas tarefas de pároco de Margaride, por falta de saúde, mas prosseguiu a sua missão como sacerdote colaborador da comunidade e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Felgueiras. O senhor bispo D. Armindo nomeou o Padre Benjamim para nosso pároco.

Um dia, numa tarde de sábado, o bebé que nascera na noite de Natal de 1936 – e por isso tinha a idade do Menino Jesus – foi chamado pelo Pai, que, estende d S ã i i di sa, pegou nele, elevou-o ao Céu e abraçou-o com mu de Maria e de todos os familiares e amigos que tinh Foi a 4 zer seis anos.

Texto de José Carlos Pereira Ilustração de Dulce de Macedo 24 dezembro 2022

PADRE RODRIGO – O MENINO QUE NASCEU NA NOITE DE NATAL
Era uma vez um bebé chamado Rodrigo...
F E S T I V A L D E E S C R I T A C R I A T I V A
PROPOSTAS de TRABALHO

Agora, vamos todos – Lobitos, Exploradores, Pioneiros, Dirigentes, Exescuteiros e Amigos do nosso Agrupamento 694 – fazer um grande festival de escrita criativa inspirado na biografia romanceada que acabámos de ler, numa espécie de partilha dos pães e dos peixes: frases simples, poesia, prosa, pintura, desenho, fotografia, testemunhos e outras formas de expressão artística. Os Dirigentes, Ex-escuteiros e Amigos do Agrupamento podem trabalhar as partes da biografia que abordam a História do Mundo, a História de Portugal e a História da Igreja... Os Pioneiros podem procurar na Bíblia, no Novo Testamento, partes condizentes com a vida e ação pastoral do Padre Rodrigo e relacioná-las; Os Exploradores podem procurar poemas, canções, outras formas de arte e notícias dos anos 60, que foi a década de grandes mudanças culturais no mundo ocidental; Os Lobitos, com a ajuda da família, podem imitar a partilha do Rodrigo nos trabalhos no campo com os pais e outros irmãos, que era a realidade social no tempo da infância do sacerdote aqui homenageado. Construção de cartazes com desenhos, colagens, recortes e fotografias do local.

No final dos trabalhos, poder-se-á fazer uma exposição dos mesmos. A abertura da exposição poderá ser feita no dia 4 de fevereiro de 2023, dia do aniversário do nascimento do Padre Rodrigo para a eternidade, que, tal como há seis anos, coincide com um sábado. A amostra poderá prolongar-se até 2 de abril de 2023 (domingo), tendo em conta que no dia seguinte completam-se 47 anos da sua nomeação como pároco de Margaride.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.