Na pele da ilha | KIOLO

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na vastidão da alma, a ilha...


dedicatória

FERNANDO DE NORONHA POR KIOLO | EDIÇÃO LIMITADA: 0001




créditos

ficha catalográfica


LOGO PATROCINADOR LIMITE MÁX. 8 x 4 cm

Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo



introdução / introduction Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo

Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo



sumário / summary



a ilha / the island Geograficamente, Fernando de Noronha é descrito como um arquipélago vulcânico composto por vinte e uma ilhas e ilhotas oceânicas, cuja massa de terra principal leva o mesmo nome do conjunto e tem com ele, no imaginário popular, uma relação metonímica. Historicamente, há diferentes versões sobre a descoberta do arquipélago, sabendo-se que sua existência foi primeiramente registrada em uma carta náutica datada de 1500, e que sua descoberta, em 1503, teria sido obra do grande navegador Américo Vespúcio. Anteriormente conhecida como Quaresma, Ilha de São Lourenço (como lhe teria batizado Vespúcio) e Ilha de São João, o nome que se firmou é uma homenagem a Fernão de Noronha, nobre português, arrendatário na exploração de pau Brasil e primeiro donatário (nunca ocupante) desta que foi a primeira capitania hereditária do Brasil. A cultura noronhense foi forjada a partir de experiências plurais, como o desdém inicial dos lusos, os vinte e cinco anos de ocupação holandesa (séc. XVII, quando a chamaram de Pavônia) e o curto período de ocupação francesa (séc. XVIII, pelos quais foi batizada temporariamente de Isle Dauphine). Também se moldou na junção das diversas funções, majoritariamente ligadas ao sistema defensivo - como o de imponente conjunto de fortificações; presídio comum; lar para desterrados ciganos (1739), revolucionários farrupilhas (1844) e capoeiristas (1890); presídio político da União (1938); e base militar para brasileiros e americanos na II Guerra Mundial. Mas não é a rica história ou as relíquias arquitetônicas que corajosos historiadores e antropólogos buscam, em permanente luta, preservar, que explica o fascínio provocado pela ilha. Nem é a sua complexa etnografia insular ou o senso de pertencimento e solidariedade do seu povo (testado à exaustão durante a pandemia) o que a destaca como um idílio cada vez mais cobiçado por viajantes de todo o Brasil e do mundo, sobretudo após a fundação do Parque Nacional Marinho, em 1988. Tudo isso, sem dúvida, contribui para a grandeza do arquipélago e o projeta para além das latitudes do seu mapa e dos clichês turísticos. Mas é impressionante constatar que o que reluz em Noronha foi, de pronto, percebido há mais de 500 anos, quando Vespúcio aportou em suas praias: “Um verdadeiro paraíso (...) infinitas águas e infinitas árvores; aves muito mansas, que vinham comer às mãos; um boníssimo porto que foi bom para toda a tripulação”, descreveu o cosmógrafo italiano na Lettera al Soderini, célebre carta datada de 1504, em que descreve suas impressões sobre novo mundo. Sua extraordinária biodiversidade - que segue incomum, mesmo após séculos de desmatamento da vegetação original - e sua beleza, aguda e luxuriante, são magnéticas, verdadeiros imãs que trouxeram, das paragens mais distantes, desde cientistas como Charles Darwin até artistas como Jean-Baptist Debret, que cristalizou, em pintura, o Morro do Pico, em 1816. É essa onírica mistura de uma riqueza natural singular com a estética peculiar do seu relevo, tudo banhando por um mar claro, em que os tons de azul se decompõem em variações infinitas, que garantiu ao arquipélago pernambucano o posto atual de destino mais desejado pelos brasileiros e Sítio do Patrimônio Mundial Natural, tombado pela UNESCO em 2001. 1

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Informações extraídas dos sites: http://www.noronha.pe.gov.br/instHistoria_01.php


Retinas de águas verde-azuis




LIBERDADE Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade. Sophia de Mello Breyner Andresen





o encontro/ the island E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.






























a voz de um ar sonoro

















texto / text E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.


















































texto / text E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.





























texto / text E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

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texto / text E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.















texto / text E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.

E é na encruzilhada do sonho com o desejo que nasce o encontro de Kiolo com Fernando de Noronha. Uma das marcas da fotografia de Kiolo é a da utilização da câmera fotográfica como um dínamo para sua pulsão de vida, para esse flerte permanente e vital com um Eros que afirma o desejo como filosofia, como caminho para o autoconhecimento, como transcendência que nos salva das limitações do cotidiano. Seu domínio de uma luz que desnuda o sublime estético de detalhes menosprezados ou imperceptíveis, seus enquadramentos únicos, sua capacidade de perceber texturas e propor as combinações imagéticas mais insuspeitas, tudo em Kiolo aponta para uma fotografia que não tem medo de lidar com o desejo. Muito ao contrário, compulsando as imagens de muitos lugares e cenas que ele já captou, é nítido que sua arte sabe, ultima ratio, que ela existe para despertar a fúria dessa força que nos salva do tédio, da morte, da banalidade, da anestesia dos sentidos. Dessa força que nos redime da suprema pobreza de uma vida sem imaginação. Em Kiolo, sonho e desejo são elementos permanentes e autofágicos, desejo e sonho são alimentos que empurram tudo que seu olhar-radar capta para além das fronteiras do que se convencionou que uma imagem está autorizada a ser. ”Na pele da ilha” é o resultado maduro e luminoso dessa fotografia que se compreende, a cada frame, como materialização de sonho, como gatilho de desejo e como afirmação da função primeva da arte, aquela que mais a aproxima do divino incrustado em cada grão de areia: a função de (re)criar o mundo. Há incontáveis imagens do arquipélago espalhadas à mancheia. E há Noronha como você nunca viu, com a qual sempre sonhou e cujo desejo bruto de experienciar você vai sentir pulsar na pele, em cada página desse livro.



















posfácio / afterword Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo

Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo







o artista / the artist Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo

Quando eu aportei em Noronha pela primeira vez, num outubro daquele sombrio 2020 - ano em que a terra parou - tocava nos meus fones de ouvido uma canção do sujeito que é, para mim, a expressão máxima da elegância na música brasileira: “não sou eu quem me navega/quem me navega é o mar”, cantava, macio, Paulinho da Viola. Fui tomado, então, por uma avassaladora emoção, pois nada poderia traduzir melhor aquele momento. Desde que a fotografia me encontrou, tenho deixado o mar me conduzir para onde soprar o vento, e eu só ajusto o leme da câmera para que os assombros de cor, de forma, de textura, de beleza, de melancolia, de alegria, as partículas de visual poesia que tenho encontrado espalhadas por aí, na poeira luminosa dos meus (des)caminhos. Não tenho duvidado da inexatidão das minhas direções e a coragem de percorrer, sem bússola, a cartografia dos meus dias, tem me brindado com lugares, pessoas e momentos com os quais eu sonhei, e com outros que nunca imaginei poder um dia viver. Noronha é um desses sonhos que se concretiza. Para alguém fascinado pelo mar e por tudo que o envolve, é óbvio que esse era um destino aguardado. Mas, confesso, não era um destino prioritário. E isso não tem relação com o lugar: é que Noronha é um sítio tão fotografado, tão retratado áudio-visualmente, que cheguei a duvidar da minha própria capacidade de me comover e de me conectar com a ilha, e minha arte depende, visceralmente, dessa capacidade. E é aí que entra a música de Paulinho, embalando minha chegada ao arquipélago e me mostrando que, mais uma vez, o mar me trouxe, na hora certa, para onde eu deveria estar. Noronha não apenas me comoveu. A ilha se tornou, em poucos dias, uma certeza de reconexão com algo muito profundo, uma imersão na energia criadora do universo, um diálogo mudo, com essa força que só a potência da natureza preservada e quase selvagem pode significar. O resultado imagético inicial dessa experiência, que sei que se desdobrará por toda a minha vida, eu quis dividir, com vocês, nesse livro. Espero que mergulhem, como eu mergulhei. É de areia, pedra e água marinha o meu (re)batismo Kiolo



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