Capítulo
1
1. Profissão: Estudante de Engenharia “Quem tem ouvidos que ouça...”. Novo Testamento
1.1.
Introdução Nem todos os estudantes que ingressam nos programas de engenharia são
bem-sucedidos nos seus estudos. Alguns não são capazes de se adaptar ao rigor da vida acadêmica e desistem de forma voluntária ou involuntária. Alguns estudantes mesmo que esforçados, não conseguem alcançar as demandas da vida acadêmica e nem atingem o nível máximo da suas capacidades. O sistema educacional não é preparado para produzir estudantes bemsucedidos, embora o governo e os diretores das escolas de educação básica digam que sim. O seu diploma do ensino médio não é uma garantia de sucesso nos seus estudos de graduação.
Como regra geral, as universidades públicas somente admitem o
ingresso de estudantes com boa preparação através de uma seleção que pode predizer o posterior sucesso na carreira. Não é o caso geral das universidades privadas, que não recebem auxílio dos governos e que geralmente têm vagas sobrando nos cursos de engenharia. Nessas últimas, a seleção pode ser menos rígida, embora a possibilidade de admitir alunos com pouca ou nenhuma aptidão seja bastante elevada. Apesar disso, as escolas de ensino básico e as universidades desejam que os seus estudantes tenham sucesso, aprendam, passem nas provas e exames, e finalmente se graduem. O estudante de engenharia que deseja ser bem-sucedido, rapidamente tem que tirar proveito das instalações da biblioteca, dos laboratórios de informática, e outros. Ele também deve tirar proveito de outras facilidades oferecidas aos alunos para melhorar os seus níveis de aprendizagem como as monitorias, aconselhamentos e
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planejamento de carreira, educação física, apresentações culturais, apoio financeiro, dentre outras. Apesar do forte desejo das universidades de que o estudante tenha sucesso e da existência de um forte esquema de apoio e ajuda, oferecido por elas, é o próprio estudante que determina o seu sucesso ou o seu fracasso.
O segredo do sucesso
acadêmico requer motivação e dedicação às tarefas. É necessário um forte exercício de autocontrole durante o tempo de adaptação ao novo ambiente e ainda de ter que tomar decisões entre demandas conflitantes. Existem vários fatores que podem influenciar o seu desempenho na escola de Engenharia.
É conhecida como triste, a estatística que demonstra que somente a
metade dos ingressantes de engenharia de primeiro semestre continua estudando no segundo, e a metade desses últimos continuam no terceiro. Se você fizer a analogia de que num suposto ingresso de 100 estudantes, somente 50 restarão no próximo semestre, e ainda desses, 25 são os que realmente acabarão se formando, ficará no mínimo assustado. Os motivos para isso acontecer são bastante complexos e interligados, tais como problemas econômicos, pouco tempo de dedicação, problemas de relacionamento com professores e colegas, desconhecimento da engenharia, métodos inadequados de estudo, inaptidão devido às deficiências do ensino fundamental e médio, dentre muitas outras. Se você for um estudante calouro de engenharia, este provavelmente será o capítulo mais importante para o seu futuro e, se bem aproveitado, permitirá você sobreviver a um dos cursos de graduação mais exigente.
O que está aqui descrito
provém da minha pequena experiência como professor, mas principalmente da minha longa experiência como eterno estudante. Tome as recomendações como sendo um conselho de estudante para estudante, de quem conhece os dois lados da moeda. Neste capítulo trataremos os assuntos considerados mais importantes, incluindo a habilidade de estudar, de trabalhar em equipe, a pesquisa de informações, comportamento e outros assuntos gerais.
1.2.
A Natureza da Aprendizagem A aprendizagem é um processo contínuo que dura a vida toda.
Nós
experimentamos várias formas de aprendizagem em vários momentos e de várias maneiras. Uma das mais simples e básicas formas de aprendizagem é a conhecida como condicionamento. O condicionamento é a aquisição de padrões específicos de comportamento na presença de um estímulo bem definido.
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O condicionamento clássico foi descoberto pelo fisiologista russo Ivan Pavlov que descobriu que os cachorros podem ser treinados para salivar ao som de uma campainha um pouco antes de serem alimentados.
A reação (salivação) pode ser
transferida para outro tipo de estímulo que normalmente não provoca essa reação. Um tipo diferente de condicionamento é o conhecido como condicionamento operante e ocorre quando um comportamento voluntário desejado é premiado ou estimulado, enquanto os comportamentos indesejados são ignorados ou castigados. Os especialistas da aprendizagem reconhecem que o comportamento humano é fortemente influenciado por estímulos secundários cujo valor é aprendido através da associação com outros estímulos. O dinheiro, por exemplo, é um estímulo secundário (devido a sua associação com comida, roupas e outros estímulos primários) é reconhecido pela maioria das pessoas como sendo uma recompensa poderosa. Hoje em dia, os psicólogos reconhecem que a aprendizagem é muito mais do que uma determinada forma de comportamento. Muito da aprendizagem não envolve o condicionamento clássico ou operante.
Nós aprendemos não somente da nossa
experiência direta (i.e. condicionamento), mas também aprendemos olhando o que acontece com outras pessoas ou simplesmente ouvindo sobre algum assunto.. Esta é a natureza da maior parte da aprendizagem que ocorre na escola de Engenharia. Nós também aprendemos com as experiências de outras pessoas e a nossa aprendizagem pode ser influenciada por estímulos simbólicos, tais como: afeto, elogio e atenção para com os outros.
1 .2 .1 . A Memória e o Processamento da Informação Nós recebemos a informação através dos nossos sentidos: ouvido, olhos, tato, paladar e olfato. A Figura 1-1 ilustra como os estímulos provenientes dos sentidos chegam aos nossos registradores sensoriais onde a informação é retida por poucos segundos.
Se nada mais acontecer, a informação será esquecida.
Em geral, a
informação proveniente do registrador sensorial visual se desvanece lentamente ou é substituída, ou apagada por uma nova informação visual.
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Repetição
Estímulo
Registrador Sensorial
Memória de Curto Prazo
Processamento Inicial
Estudo, Memorização e Codificação
Esquecimento
Recuperação da Memória
Esquecimento
Memória de Longo Prazo
Figura 1-1 – Modelo da seqüência do processamento da informação
O bloco de dados que entra no registrador sensorial deve ser processado para entender o seu significado.
A forma exata de como ocorre este processo não está
totalmente entendida. Uma possibilidade é que nós comparemos a informação que chega com um conjunto de modelos armazenados na nossa memória de longo prazo. Alguns especialistas acreditam que nosso cérebro faz uma aproximação com modelos mais grosseiros armazenados na memória de longo prazo e decide a relevância e significado dessa nova informação.
Outros acreditam que temos detectores de
padrões que possibilitam processar e entender a nova informação.
1 .2 .2 . Fatores Determinantes da Aprendizagem Eficiente A eficiência da aprendizagem pode depender de muitos fatores.
Os fatores
considerados principais são: 1. 2. 3.
A matéria a ser aprendida O estado psicológico do aprendiz A estratégia da aprendizagem
Em geral, quanto mais significativa for a matéria a ser aprendida, mais fácil será a aprendizagem.
A matéria que pode ser relacionada com alguma coisa já
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conhecida é mais fácil de ser lembrada que fatos não significativos. Os professores podem tornar a matéria mais significativa apresentando os novos assuntos em estágios subseqüentes, tendo certeza de que os alunos tenham aprendido um estágio, antes de introduzir o próximo. Alguns estudos mostram que assuntos novos da matéria podem também melhorar o processo da aprendizagem. Um nível de ansiedade moderado é benéfico na aprendizagem, porém níveis muito baixos ou extremamente altos podem prejudicar o desempenho do estudante. Os estudantes com medo de falhar têm desempenho tão baixo nos seus exames quanto os colegas pouco motivados. Embora as estratégias de aprendizado difiram de estudante a estudante, existem certas técnicas conhecidas que são bastante efetivas. Uma das estratégias mais populares é o estudo por repetição. Em geral, quanto mais o estudante estudar, melhor o seu desempenho. Na preparação para os exames, muitos estudantes acham conveniente a organização da matéria de estudo de várias maneiras: fazendo listas, resolvendo problemas, preparando resumos e escrevendo respostas a questões, a perguntas que podem cair na prova. Alguns estudantes estudam falando em voz alta ou escrevendo, estimulando outros sentidos como a audição e a visão.
1.3.
O Estudo e a Aprendizagem O método de estudo é um dos itens principais que podem influenciar no seu
desempenho num curso de engenharia, especialmente nos primeiros semestres, quando ainda não se percebeu totalmente a diferença entre o colégio e a universidade. As minhas recomendações para ter um melhor aproveitamento nas avaliações são descritas a seguir.
1 .3 .1 .
Na Sala de Aula
Reserve um caderno especial para cada disciplina. Escreva tudo o que puder na aula sem comprometer a sua concentração no que o professor fala. Escreva nele tanto o que está posto no quadro, quanto o que o professor falar. Escreva rápido. Não perca tempo com canetas coloridas e réguas para tentar deixar o caderno bonito. Nunca falte à aula. Embora você vá aprender mesmo estudando fora da aula, a aula é a introdução ao assunto. Se você faltar a duas ou três aulas no semestre, você tem grande chance de entrar nas estatísticas de reprovados. Se você for faltar à aula, fale com o seu professor e justifique. Dê importância às aulas de laboratório. As aulas práticas servem para complementar as aulas teóricas. O que se aprende numa aula teórica depende do posterior estudo, entretanto, o que se aprende numa prática de laboratório nunca mais se esquece. Durante as aulas não converse com os colegas sobre outros assuntos que não estejam relacionados ao tema da aula. Utilize os intervalos para isso.
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Sente sempre na frente. Alguns estudantes têm a falsa impressão que sentando no fundo da sala estão isolados e que podem fazer o que bem entendem. A realidade funciona ao contrário. O professor normalmente presta mais atenção nos alunos que estão mais distantes, pois se preocupa com que o processo da comunicação das suas idéias chegue adequadamente até os fundos da sala. Ironicamente, assim, ele presta menos atenção aos alunos que sentam na frente que aos que sentam no fundo. Efetuei alguns estudos sobre o desempenho de alunos nas minhas salas de aula e os resultados mostraram que os alunos que sentam mais perto do locutor conseguem em média aproveitamentos 30% maiores que os que sentam mais afastados. Esteja sempre alerta na sala de aula. Ouça atentamente e demonstre interesse na matéria. Se estiver com muito sono, vá ao banheiro e lave o rosto com bastante água fria. Participe das aulas. Pergunte e questione o seu professor. Não seja impertinente nas suas colocações. Não tenha vergonha de fazer uma pergunta ridícula. Não esqueça que o professor está também aprendendo com você. O método é simples: você tem alguma dúvida? Pergunte! Provavelmente muitos dos seus colegas também têm a mesma dúvida, mas têm medo de perguntar. Lembre que você está aí para aprender e o professor está aí para responder às suas perguntas (se ele souber, é claro). Se o estudante não tiver dúvidas, então não precisa de professor! Nunca pergunte sem pedir a palavra ao professor. Levante a mão. É importante manter a ordem em grupos grandes. Não chegue tarde. Muitos professores acham que as ausências e a falta de pontualidade são demonstrações de que o estudante tem pouco interesse na sua disciplina. Isso pode prejudicar a sua avaliação. Programe-se para chegar antes do horário. Chegar sempre atrasado é um comportamento lamentável e o pior é que cria hábito. Quando você chega atrasado a um compromisso, esse comportamento gera vários sentimentos negativos a quem o está esperando. Chegando atrasado você expressa que o seu tempo é mais importante. Expressa também que você é mais importante, e que não está muito interessado no que vai ouvir. O mínimo que se pensará se chegar atrasado a um compromisso é que você é desorganizado e desrespeitoso. Essa recomendação deve servir para a sua vida! Antecipe a leitura antes da aula. Não deixe que a matéria da aula seja um descobrimento para você. A aula se torna muito mais interessante se você já sabe do que se trata. O aproveitamento do conteúdo obtido numa aula é avaliado em 20%. I.e., se você assistir a uma aula de 4 horas de duração, você deverá aproveitar somente uma hora. Aquelas outras três horas ficarão no esquecimento. Você vai aprender mesmo é estudando. Se você ler o conteúdo antes da aula, você pode aumentar o seu aproveitamento para 60% ou mais. Este, provavelmente, é o ponto que mais pode influenciar no seu aproveitamento. Se você se acostumar a fazer isto desde o início, você terá uma relativa facilidade em ter sucesso na sua graduação.
1 .3 .2 .
Fora da Sala de Aula
É fora da sala de aula que a aprendizagem irá acontecer. A forma com que você estudará vai definir de forma direta a sua aprendizagem e indiretamente o seu desempenho nas provas e avaliações. Algumas recomendações vão a seguir:
Crie um ambiente adequado para o estudo. Ambientes cômodos, isolados e silenciosos são os mais adequados e melhoram a sua eficiência na captação de conhecimentos. O período da manhã é o mais eficiente na aprendizagem, seguido pelo período da tarde, depois das catorze horas. Algumas pessoas acham que a noite é o seu melhor período, mas isso pode ser uma reação
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psicológica de quem não gosta de acordar cedo (normalmente os preguiçosos). O ser humano tem um padrão de comportamento de acordo com a posição da terra em relação ao sol. Isso é genético, embora a psique possa influenciar o nosso sistema biológico. Um pouco de música pode ser útil para esconder o ruído externo. Prefira ouvir músicas gravadas em CDs ao rádio. Prefira as músicas clássicas ao rock. As letras das músicas ou propagandas podem lhe distrair durante o estudo. Estude sempre dos livros. Evite apostilhas, fotocópias incompletas, e anotações no caderno. Essas últimas são úteis para – depois de ter lido o livro – você faça um rápido resumo mental e escrito dos conteúdos. Faça um grupo de estudos. Isso é uma prática que pode ter dois resultados totalmente diferentes. Se alguns membros do seu grupo somente quiserem fazer festa, provavelmente todo o grupo sofrerá as conseqüências, inclusive aqueles que querem estudar. Se todos estiverem comprometidos, uns ajudarão os outros, respondendo e discutindo questões, comparando resultados de exercícios e suprindo deficiências anteriores. É importante que antes de fazer as reuniões de estudo, todos os componentes do grupo tenham já lido os capítulos do livro correspondentes. Não é produtivo fazer uma reunião onde uns ficam olhando para os outros e ninguém sabe o que devem fazer. As reuniões devem ser feitas para discutir as dúvidas e para resolver exercícios. Consiga as provas anteriores. Sempre é bastante revelador conhecer a metodologia de avaliação do professor e da disciplina antes de encarar uma prova. Depois de ter lido os livros, tente resolver as provas antigas. Os alunos veteranos podem emprestar para vocês. Antecipe a resolução dos exercícios. Não deixe para última hora. Se você não tem tempo de resolver agora, depois terá menos tempo ainda. Evite dar desculpas sem fundamento depois para o seu professor. Isso cria hábito! A televisão não é o mundo real. Fique longe desse aparelho. O mesmo vale para os sítios de internet que não servem como locais de pesquisa. Guarde sempre os seus cadernos e provas em locais adequados. Eles podem ser necessários no futuro em disciplinas posteriores e até ainda depois de formado! Acostume-se a ler textos e livros em inglês. Hoje em dia a habilidade de se comunicar em língua inglesa é pré-requisito obrigatório até para as secretárias. Imagine então para um engenheiro! O idioma técnico adotado mundialmente é o inglês. Um colega meu me disse um dia o seguinte: “... o estudante de engenharia deve conhecer no mínimo uma língua estrangeira, sem contar com o inglês, que hoje a pessoa tem que nascer sabendo, nem o espanhol, que é considerado gíria. Daí recomenda se aprender algum dialeto chinês, o alemão ou o francês..”.
“Professor, eu não tenho tempo para estudar fora da sala de aula, pois eu trabalho todo o dia...” Se você for um gênio, não terá maiores problemas. Agora se você não for gênio, bem... É muito provável que você terá sérios problemas. Ou você organiza a sua vida para ter tempo para os estudos fora de aula ou talvez fosse melhor pensar em mudar de carreira. Conheço dois tipos de estudantes:
o “Estudante que Trabalha” e o
“Trabalhador que Estuda”. A Engenharia não foi feita para o segundo caso. Você deve perceber que ser um estudante-trabalhador, ou trabalhador-estudante, é uma questão
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de atitude própria. Se você estiver estudando para obter tão somente um diploma, então você está na profissão errada. Talvez uma carreira relacionada mais apropriada fosse um curso técnico médio ou técnico superior. Noventa e cinco por cento (95%) das desistências dos cursos de Engenharia são dos estudantes que têm a atitude do Trabalhador que Estuda. Agora, se você encara o trabalho como um meio para se tornar um engenheiro, daí você tem boas chances de atingir o seu objetivo. O Trabalhador que Estuda poucas chances tem de ter sucesso num curso de Engenharia. Tenha pena deles.
1.4.
As Provas Dentre todos os métodos de avaliação escolar, a prova é o método mais temido
pelos estudantes e o mais amado por muitos professores (que na sua época de estudantes também foram avaliados dessa forma). Se você obtiver boas notas nas provas, provavelmente você terá aprovação nas disciplinas. Você não deve esperar obter notas altas nas disciplinas de engenharia como pode ter acontecido no passado nas suas notas no colégio, onde se podiam tirar notas tais como 9 ou 10. As coisas são um pouco diferentes na escola de engenharia. Não se assuste se começar a tirar notas como 4 ou 5, ou até 1 ou 2, nas primeiras provas, isto é considerado até “normal” em determinadas disciplinas.
As avaliações na
universidade são mais exigentes e rígidas. Costumo falar para os meus alunos que as faixas de notas das engenharias seguem o seguinte critério: “... zero é para quem não compareceu e dez é para Deus. Então se trabalha na faixa de 1 a 9; de 7 a 9, você teve um desempenho excelente; de 4 a 6, você é uma pessoa “normal”; e de 1 a 3, você está com algum problema que tem que ser resolvido logo...”. Mas cuidado! Notas altas não são garantia de que você será um bom engenheiro.
Os melhores engenheiros são
aqueles que atingem certo equilíbrio emocional. Há muitos engenheiros que somente tiravam notas acima de nove quando estudantes, mas por ter sérios problemas de relacionamento não conseguem manter o emprego.
O aspecto físico não deve ser
esquecido. Jogue o seu futebol semanal, caminhe no parque, faça ioga, natação ou algum outro exercício físico. Isso dá uma força extra para a hora do estudo, apesar de que alguém possa achar que isso irá cansar o seu corpo, a atividade física renova a alma. Você quer ir às festas com seus amigos? Para isso você terá quatro meses de férias ao ano. O semestre é para estudar. Existem alguns métodos simples que podem melhorar o seu desempenho nas avaliações em geral: 4.
Leia a prova com atenção antes de começar a escrever. Tenha cuidado com o que vai falar em voz alta na primeira impressão da prova. Mesmo que você ache que o seu professor ficou louco ao preparar essa prova, não se manifeste de forma
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negativa. Se você não conseguir manter o autocontrole, você não é apto a ser um engenheiro. Mantenha sempre a racionalidade e o diálogo. Se você estudou muito e ainda a prova parecer difícil para você, também o será para os seus colegas. A perda do autocontrole pode prejudicar você psicologicamente no decorrer da prova. 5. Seja organizado e prolixo na prova. Tente usar somente um lado da folha. Responda somente uma questão em cada folha, e ao entregar, organize as mesmas na ordem do questionário. Coloque o seu nome em todas as folhas. Escreva com caneta. No caso de cálculos de engenharia, faça a lápis, exceto os comentários e as respostas, que devem ser feitas com caneta preta ou azul. Se usar uma folha de rascunho, entregue-a também com o título RASCUNHOS. Tente não usar canetas na cor vermelha, amarela, rosa, dourada ou outras cores não convencionais. Sempre leve duas canetas e lápis, além de folhas brancas, borracha, calculadora e pilhas de reserva. Leve para a prova todo o material relacionado com a disciplina, tais como livros, cadernos, exercícios resolvidos, etc., embora não seja permitida a sua consulta, é um apóio psicológico, e às vezes o professor pode decidir por permitir consulta na última hora. Distribua o tempo corretamente. Ao ler as questões, faça uma estimativa do tempo necessário para resolver cada questão. Avalie os pesos. Defina em minutos o tempo de resposta. Comece a resolver as questões que levam menor tempo, sempre controlando para não ultrapassar o tempo pré-estabelecido para aquela questão. Se o tempo passar, pule para a próxima questão. Nunca tranque numa questão, passe para a seguinte imediatamente. Se sobrar tempo, você volta. Lembre que, como regra geral, o tempo nunca será suficiente para acabar a prova. Responda um pouco de cada questão. É melhor responder 10% de cada questão numa prova de 10 questões, do que somente uma questão completa e nove não respondidas. Não deixe nenhuma questão em branco. Demonstre pelo menos que você teve a intenção de resolver, mas não conseguiu por causa do tempo. Escreva rápido. O cérebro pensa quatro vezes mais rápido que a nossa capacidade de escrita. Tente escrever o mais rápido possível, porque escrever distrai o cérebro. Escrevendo mais rápido sobra mais tempo para pensar. Não coma durante a prova. Beba água se necessário. Sinta-se um verdadeiro gladiador. Se sobrar tempo, revise as suas respostas. Acontece muito freqüentemente a falsa impressão de que estudamos tanto que “sabíamos tudo” daquela prova e que por isso, acabamos a prova na metade do tempo. Por isso não precisamos revisar, vamos entregar e nos livrar disso de uma vez. Nesses casos surge a sensação de que obteríamos no mínimo uma nota 9, mas depois a vida nos defronta com notas inferiores a 5, por ter feito bobagens e distrações, e não acreditamos no que fizemos. Vá fazer a prova, mesmo que você não tenha estudado nada. Nunca falte a uma prova. Nelas se aprende muito. Tenha vergonha de não ter estudado, mas demonstre ao seu professor que você tem coragem de encarar o problema e que o fato não irá mais acontecer. Tente organizar o seu tempo para o estudo de forma que você possa evitar ficar a noite anterior à prova acordado estudando.
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1 .4 .1 . Sobre as Deficiências do Ensino Fundamental e Médio Sempre haverá alguma deficiência do ensino fundamental ou médio. Ela pode ser ocasionada pelo programa da escola freqüentada, por algum professor em particular ou pela falta de interesse do próprio aluno. Está em moda a aprovação de 100% ou mais1 das turmas no ensino fundamental e médio impulsionada por várias justificativas “pedagógicas” criadas até com certo pedagogismo2. Quanto menor reprovação, menos turmas, e menor custo final.
Isso é um prato cheio para os políticos de plantão, que vivem pregando a
redução de custos para sobrar mais dinheiro para os seus projetos pessoais. A minha opinião pessoal é que esse “oba-oba pedagogístico” de que todo mundo deve aprovar nas disciplinas tende a gerar um número cada vez maior de pessoas frustradas. O mundo real é dos responsáveis e esforçados, e principalmente dos vencedores. Nem todos nós somos vencedores natos, mas qualquer um pode aprender a ser responsável e esforçado.
Apesar disso, gosto muito do trabalho dos muitos profissionais da
pedagogia com que tive a oportunidade de conhecer e trabalhar. Mas assim como em todas as profissões, existem pedagogos e pedagogos, se é que você me entende. Existe um ditado popular que alguns dos meus colegas usavam para se vingar dos professores que dizia: “Quem sabe faz. Quem não sabe ensina..”. Isso servia como se fosse uma válvula de escape da pressão psicológica. Tentando denegrir a imagem do professor, querendo dizer que ele não é um bom engenheiro, que se assim o fosse, estaria projetando na firma dele, mas que por não ser bom, tem que dar aulas para sobreviver. Alguns anos depois ouvi um ditado parecido numa palestra sobre educação proferida por um engenheiro que dizia: “Quem sabe faz. Quem não sabe ensina. Quem não sabe fazer nem ensinar, ensina a ensinar”. Aí eu disse: “pronto! Agora colocaram os pedagogos na parada”. Agora temos um ditado usado por professores que às vezes não compreendem as regras e sugestões definidas pelos profissionais da filosofia e pedagogia. Ambos os ditados são bastante negativos, pois tentam denegrir a imagem de um determinado conjunto de profissionais, mas quem mais sofre com tudo isso é o ego. O ego é um assistente bastante útil em tempos de sobrevivência, ele é o nosso lado animal e instintivo. Por outro lado, é um estorvo para auto-realização pessoal. A primeira coisa que um ser intelectual superior deve treinar é o autoconhecimento. O autoconhecimento leva ao discernimento do sentido da vida e conhecendo-se a si 1
Existem casos onde alguns alunos ingressam na metade do ano e mesmo assim obtém “aprovação” no ano letivo. De acordo com o dicionário Aurélio, aqui se descreve o pedagogismo na sua terceira acepção como: “Aplicação indiscriminada de doutrinas pedagógicas, sem base experimental ou científica”.
2
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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mesmo, conhece-se o próximo.
Com relação ao “saber” ou “não saber”, realmente
nada se sabe. Podemos até acreditar que sabemos tudo sobre um assunto, mas isso nada é mais do que uma ilusão psicológica para nos dar certa segurança. Há pessoas que acreditam que por conhecer as últimas tecnologias, por ter tido sucesso em ciências na fronteira do conhecimento, ou por ter estabelecido solução numérica para equações analíticas monstruosas, têm alcançado o conhecimento de um deus. Quando isso acontece, elas se colocam acima das outras pessoas e se acham seres superiores – elas saem da realidade e entram no campo da fantasia (e este não é um bom lugar para praticar a engenharia).
Baseado em que nada sabemos, alterei o
ditado para transformá-lo do sentido negativo para um sentido positivo e construtivo, e diz assim: “Quem sabe faz. Quem não sabe ensina. Quem não sabe fazer nem ensinar, ensina a ensinar. Quem se deu conta de que não sabe fazer, ensinar, nem ensinar a ensinar, aprendeu a aprender”.
Finalizei o ensino médio com muitas deficiências e estou pensando seriamen seriamente em ingressar ingressar numa escola de engenharia. Que posso fazer?... Se você for o tipo de pessoa que gosta de desmontar coisas e depois remontálas, também é bastante curioso por saber como as coisas funcionam, e pensa seriamente em continuar os estudos, você pode tranqüilamente encarar o desafio. A pergunta é: você pode encarar diretamente as disciplinas da engenharia sem sanar as deficiências trazidas da sua escola do ensino médio...?
Por que você teve essas deficiências na educação básica? Algumas respostas de alunos (espero que estas não se apliquem a você): “... era muito difícil...”. Minha resposta: Se você achou difícil o ensino médio, então a universidade parecerá o inferno. “... o professor não ensinava direito...”. Minha resposta: Por que você não estudou dos livros? “... não tinha tempo, era muita festa...”. Minha resposta: Bem, neste caso para aproveitar a sua experiência, talvez uma profissão mais adequada para você fosse “administrador de salão de festas”.
Obviamente, esses diálogos se desenvolveram na forma de diálogos e brincadeiras, mas englobam algumas verdades. Para aumentar a sua chance de sucesso, você poderá cursar cursos básicos de ciências e matemática para equiparação, oferecidos pela sua escola de Engenharia, ou através de cursos intensivos oferecidos por alguma outra escola. Algumas escolas de
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engenharia oferecem programas de pré-engenharia.
Após ter sanado as suas
deficiências, você poderá encarar as aulas regulares, no mesmo nível dos outros calouros.
O SUPLETIVO O Supletivo é uma forma legal que alguns governos inventaram para tentar comprovar legalmente que uma pessoa recebeu a educação básica adequada sem realmente ter tido formação nenhuma. O ser humano precisa de tempo para assimilar conteúdos e relacionar informações. De pouco ou nada serve fazer o ensino básico em um ano de estudo intensivo. Vamos tratar o assunto com relação à engenharia em geral.
Se para quem
cursou onze a doze anos de ensino básico, o curso de engenharia já é difícil; imagine para alguém que fez supletivo em um ano! Lamentavelmente, existe um preço a ser pago para quem fez o supletivo e quer se tornar um engenheiro, que é o preço que ele deixou de pagar ao não fazer o básico como deveria. Supõe-se que a pessoa que fez supletivo abriu mão de qualquer estudo formal posterior em profissões que precisam de um elevado nível de preparação intelectual. Talvez as profissões técnicas sejam as mais apropriadas para essa pessoa, onde a quantidade de conhecimento intelectual e raciocínio abstrato não seja o mais importante. Mas não desanimemos! É claro que se você fez o tal de supletivo e ainda insiste em cursar engenharia, muita coisa ainda pode e deve ser feita. A grande vantagem é que a capacidade do ser humano é impressionante, e qualquer um pode se tornar um engenheiro se tiver verdadeira vontade para isso.
Se esse é o seu caso talvez seja
recomendável que você curse as disciplinas dos dois primeiro semestres dos cursos de Matemática e de Física da sua universidade.
Apesar de também serem cursos tão
difíceis quanto à engenharia, eles tratam novamente assuntos que na engenharia se presumem já conhecidos. Algumas universidades oferecem cursos de nivelamento gratuitos, mas em geral eles não são muito úteis para quem cursou o supletivo. Poderá até parecer aula de grego para você, apesar de ser uma revisão do ensino médio. De qualquer maneira, converse com o diretor ou coordenador de curso sobre o assunto, não fique apanhando num canto sem contar para ninguém!
1 .4 .2 .
Os Trabalhos em Grupo e em Equipe
É comum que muitas disciplinas da engenharia possuam pelo menos um trabalho em grupo como item de avaliação de conhecimento dos assuntos vistos na
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mesma. Uma das habilidades do engenheiro deve ser a de poder trabalhar em grupos e equipes de forma eficiente. Existe uma diferença básica entre o trabalho em grupo e o trabalho em equipe, e, às vezes, há certa confusão entre os dois tipos. Trabalho em grupo
Trabalho em equipe
Existe um líder que dirige o grupo
A liderança é compartilhada pela equipe
O líder toma as decisões
As decisões são tomadas por consenso
Existe compromisso formal com o grupo, derivando
Existe compromisso pessoal de todos os membros
deste um sentimento de pertença
e um alto sentido de pertença
O método mais produtivo é o trabalho em equipe, mas para isso é preciso um grande sacrifício e responsabilidade. O trabalho em grupo é o mais fácil, e o trabalho em equipe é um processo mais evoluído e inteligente. Alguns problemas comuns nos trabalhos em grupo e equipe é o abandono ou desinteresse de um dos membros. No dia da apresentação do trabalho, você não pode chegar ao professor e dizer: “... essa parte era do fulano, e ele não apareceu...”. Daí você está ralado... Se isso acontecer no mundo real da profissão, tanto o seu colega que não cumpriu a sua obrigação quanto você mesmo, vão passar o resto da semana no “olho da rua”, olhando para as páginas classificadas. Ninguém do grupo ou equipe pode deixar a “peteca cair”.
Lembre que você também será responsável pelo
desempenho da equipe. Se o desempenho for ruim, mesmo que você não tenha sido o responsável direto pelo resultado, irá arcar com as conseqüências como se fosse principal responsável.
Cada um dos componentes da equipe deve assumir a
possibilidade de ter que carregar todo o trabalho do grupo nas costas se for necessário.
1.5.
O Tempo de Estudo O quanto você estuda, como você estuda e a sua estratégia na elaboração das
provas determinarão em grande parte o quão bem você se dará nos seus estudos. O estudo, nos cursos de engenharia, nunca parece ser o suficiente. Uma velha regra que tem sido útil para muitos engenheiros bem-sucedidos, quando estudantes, é de reservar uma, duas ou três horas para estudos fora de aula para cada hora de aula, dependendo da complexidade da matéria.
Veja a tabela
abaixo do primeiro semestre de um curso Engenharia hipotético: Disciplina
Horas
Horas de estudo "extra-aula"
Total de horas
semanais
recomendadas
semanais
Cálculo I
4
8
12
Física I
4
8
12
Geometria Analítica
4
4
8
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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Metodologia Técnica e
4
4
8
Introdução a Engenharia X
4
4
8
Engenharia, Ambiente e
2
2
4
2
2
4
Científica
Sociedade Comunicação e Expressão em Engenharia Total
24
32
56
A programação da maioria dos currículos de engenharia pressupõe que você é um estudante de tempo integral e que você possui o embasamento necessário para cursar a primeira disciplina matemática requerida, que normalmente é o Cálculo I. Se você tiver dificuldades com a matemática, é altamente recomendável que você faça um curso de matemática básica como disciplina eletiva ou ainda como optativa fora do currículo. De nada adianta você ter deficiências básicas e reprovar no cálculo duas ou três vezes, especialmente nas universidades pagas. A matemática é a linguagem da engenharia, de maneira que se você não tiver aptidão em matemática não pode ir em frente e tentar fazer as disciplinas técnicas da engenharia sem resolver esse problema básico e fundamental. Voltando ao assunto tempo, se você somente se dedicar aos estudos não terá problemas em distribuir essas 56 horas semanais de forma conveniente de domingo a sábado.
Em sete dias, 56 horas se distribuem na média de 8 horas diárias de
atividades, incluídas as horas em sala de aula. Agora se você tem que trabalhar além de estudar, bem, é óbvio que você não poderá fazer todas as disciplinas programadas para o semestre.
Seria um grande
equívoco, especialmente se for estudante de universidade privada e que boa parte do seu salário vai para a mensalidade escolar. Pode se estabelecer que do total de 168 horas que a semana tem, usamos 70 horas para o sono, higiene e alimentação; 21 horas para deslocamentos, restando 77 horas para trabalhar e estudar.
Se
subtrairmos 40 horas de trabalho semanal, resta para os estudos e outras atividades, 37 horas. Devemos considerar também que se o corpo não funcionar bem, a cabeça também não funcionará bem.
Recomendas-se fazer exercícios de 7 a 10 horas
semanais. Dessa conta toda, restam 27 horas para se dedicar aos estudos. Se você cursar somente Cálculo I e Física I, precisaria, hipoteticamente falando, de 24 horas de dedicação semanal de acordo com o recomendado. Se você cursar mais uma disciplina, digamos Geometria Analítica (mais 8 horas), você estaria comprometendo o seu desempenho, porque faltariam 27 – 32 = -5 horas de dedicação. Como resolver esse problema? Como você já deve ter percebido, não há uma fórmula mágica para isso. Se você estiver nessa situação, recomendo conversar com o
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
21
chefe ou supervisor do seu trabalho sobre o problema, com o objetivo de solicitar algum tempo dentro do seu horário para desenvolver os seus estudos. Se você estiver mais bem capacitado técnica e intelectualmente você será muito mais produtivo para a sua empresa. Qualquer pessoa que tiver um mínimo de senso comum sabe que o importante não é o “estar” no trabalho e sim o resultado final nos tempos especificados. Outra recomendação é tentar um emprego de meio turno, isto dá um ganho de 20 horas semanais que podem ser aplicadas em mais disciplinas, embora possa haver uma redução substancial do seu salário. Outra solução é a de procurar auxílio na família; o estudo de engenharia é um bom investimento para a família. Você poderá retribuir em triplo, em no máximo quatro anos de trabalho como engenheiro. Não há aplicação financeira que tenha esse ganho. A cada semestre faça um cronograma de horários e atividades como mostra a tabela a seguir. Tabela 1-1 – Cronograma de Aulas Horas
Segunda-feira
Terça-feira
Quarta-feira
Quinta-feira
Sexta-feira
8
Sábado
Domingo
Metodologia Técnica e Científica
9
Metodologia Técnica e Científica
10
Metodologia Técnica e Científica
11
Metodologia Técnica e Científica
12 13 14 15 16 17 18 19
Cálculo I
Geometria
Física I
Analítica
Comunicação e
Introdução a
Expressão em
Engenharia X
Engenharia 20
Cálculo I
Geometria
Física I
Analítica
Comunicação e
Introdução a
Expressão em
Engenharia X
Engenharia 21
Cálculo I
Geometria
Física I
Analítica
Engenharia,
Introdução a
Ambiente e
Engenharia X
Sociedade 22
Cálculo I
Geometria Analítica
Física I
Engenharia,
Introdução a
Ambiente e
Engenharia X
Sociedade
Nos espaços em branco, você deve agora estabelecer o cronograma de estudos extra-aula. Tabela 1-2 – Cronograma de estudos extra-aula
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
22
Horas
Segunda-
Terça-feira
feira 8
Quarta-
Quinta-feira
Sexta-feira
Sábado
Geometria
Comunicação e
Física I
Aula
Analítica
Expressão em
Física I
Aula
Física I
Aula
Física I
Aula
Almoço
Almoço
Engenharia,
Introdução a
Cálculo I
Ambiente e
Engenharia X
Domingo
feira
Cálculo I
Física I
Engenharia 9
Cálculo I
Física I
Geometria
Comunicação e
Analítica
Expressão em Engenharia
10
Cálculo I
Física I
Geometria Analítica
11
Cálculo I
Física I
Geometria Analítica
12
Almoço
Almoço
Almoço
Almoço
13
Física I
Introdução a
Cálculo I
Engenharia,
Engenharia X
Almoço
Ambiente e Sociedade
14
Física I
Introdução a
Cálculo I
Engenharia X
Sociedade 15
Física I
Cálculo I
Engenharia,
Introdução a
Ambiente e
Engenharia X
Cálculo I
Sociedade 16
Física I
Cálculo I
Introdução a
Cálculo I
Engenharia X 17
Física I
Cálculo I
Introdução a
Cálculo I
Engenharia X 18
Jantar
Jantar
Jantar
Jantar
Jantar
19
Aula
Aula
Aula
Aula
Aula
20
Aula
Aula
Aula
Aula
Aula
21
Aula
Aula
Aula
Aula
Aula
22
Aula
Aula
Aula
Aula
Aula
Jantar
Jantar
Os espaços em branco podem ser preenchidos com reuniões em grupo, visitas técnicas e outras atividades. Sempre deixe uma ou duas horas de folga por dia para os imprevistos. A maioria das disciplinas terá listas de exercícios a serem resolvidas semanalmente.
O melhor é tentar resolver esses exercícios no próximo período de
atividades, após ter recebido a lista, de forma que você possa ter tempo de tirar as dúvidas com antecedência, consultando o professor ou os monitores da disciplina. Usualmente alguns professores alocam um horário específico das suas atividades para atender os seus alunos. Tente aproveitar esses horários para fazer as perguntas que você não quis fazer durante a aula. Esteja sempre atento às datas limite para o cancelamento de disciplinas. Se no início do semestre você vê que vai ficar sobrecarregado, é melhor cancelar uma ou duas disciplinas.
Isso permitirá que você se dedique melhor às restantes.
As
estatísticas mostram que pouquíssimos estudantes de engenharia se formam em 4 ou cinco anos. Os alunos que trabalham levam em média 7 a 8 anos para concluir.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
23
1.6.
A Busca da Informação Como bom estudante de engenharia, você terá que pesquisar freqüentemente
sobre assuntos relacionados com as disciplinas. O local onde você tem à disposição uma quantidade enorme de material é a biblioteca da sua universidade. Na biblioteca você encontrará livros dos mais variados assuntos, revistas técnicas, vídeos, além de acesso aos bancos digitais de artigos publicados em periódicos científicos. Sempre que você não achar diretamente o material necessário, consulte com o pessoal de apoio da biblioteca.
Esse pessoal é treinado em técnicas de busca da
informação. A Internet é um banco de dados de tamanho impressionante, com milhões de páginas de informação sobre tudo o que se possa imaginar. Você pode efetuar pesquisas usando os sítios de busca, tais como Google (www.google.com), Alta Vista (www.altavista.com), Yahoo (www.yahoo.com), Cadê (www.cade.com.br) e outros, onde a pesquisa pode ser feita por palavra-chave ou por assunto. Só que cuidado! Assim como há muita informação confiável, há muita informação errada! Por isso a Internet não é a panacéia para as necessidades de informação do engenheiro. A Internet está repleta de oportunidades e riscos para os engenheiros.
Na
Internet, informações de engenharia corretas e revisadas coexistem com conteúdos não confiáveis e não revisados, com informações mal entendidas e exageradas, e com propagandas numa sopa desordenada de informações. Qualquer um pode publicar um texto na internet, tanto uma pessoa com ensino básico incompleto, quanto uma biblioteca, fato que dificulta ainda mais a distinção entre informação e desinformação. Se você for procurar por informações de engenharia na Internet, para assegurar a confiabilidade da mesma, poderá usar o método proposto por Paul Wright3: Credibilidade: Quem é a fonte da informação? O site é bem conhecido como contendo informações confiáveis? O autor é um professor, pesquisador graduado ou profissional respeitado? Você conseguiu achar o nome do autor e as suas credenciais? Qualquer fonte séria deverá listar o nome, contato e título do autor. Exatidão: Você pode comparar a informação encontrada no site com outras fontes. Existe qualquer erro óbvio ou comentário que pareça ser exagerado ou fora de lugar? Você pode verificar qualquer informação que o site está fornecendo? Relevância: O site é relevante para o seu problema ou projeto de pesquisa? O site define claramente o escopo e o propósito? Qual é o público-alvo do site?
3
Paul H. Wright - Introduction to Engineering – Wiley and Sons 2002.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
24
Data: O site está atualizado? As páginas do site apresentam vários links que não funcionam? Existe a definição na página da última data de atualização? Fonte: A página cita outras referências impressas ou eletrônicas?
A página
apresenta as referências? Provavelmente, você não achará nenhuma página que satisfaça os critérios acima, mas os engenheiros devem perguntar sempre a si mesmos se os sites estão atualizados, são confiáveis e exatos antes de usar qualquer parte da informação ali contida. O método acima fornece passos simples que os engenheiros podem usar para avaliar as fontes de informação até ganhar experiência e as suas habilidades de pesquisa fiquem mais bem desenvolvidas. Uma regra básica é não usar os sites da Web simplesmente porque parecem convenientes.
Um site, assim como as outras
fontes, deve adicionar algum valor e fornecer informações de qualidade.
1.7.
O Relacionamento Professor e Aluno A nossa vida é dirigida pelo relacionamento com as outras pessoas.
Somos
seres sociáveis e precisamos viver em grupo e nos organizar. Tem gente que diz que não precisa dos outros para viver. Eu preciso dos outros sim; preciso dos outros para costurar as roupas que visto; para plantar os alimentos que consumo; para projetar e construir o carro que dirijo; para ter energia elétrica e luz na minha casa; para ter água potável nas torneiras. Porque somos muitos, para manter a ordem criamos regras de comportamento. Se não cumprirmos essas regras, elas passam a não ter mais sentido.
Deve-se
lembrar que todas as regras foram criadas por algum motivo especial e para evitar a repetição de problemas que aconteceram no passado, por isso é importante pensar bem antes de ignorar uma norma de comportamento. Apesar da maioria dos professores de engenharia ser altamente especializada, poucos tiveram cursos formais sobre como ensinar. Os professores de engenharia que são eficientes no ensino – e não são poucos - possuem habilidades naturais ou adquiridas no trabalho de ensinar. Como nem todos possuem habilidades naturais, a metodologia de aprendizagem do professor engenheiro pode se tornar do tipo tentativa-e-erro. Por isso, os estudantes podem se deparar com uma grande variedade de tipos de instrutores. Os professores podem ser amigáveis ou chatos; raladores ou fáceis; habilidosos ou ineptos; superficiais ou formais. Isso, é claro, pode dificultar mais ainda o processo de aprendizagem e coloca demandas adicionais para os estudantes de engenharia.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
25
Enquanto estudante calouro, você irá se deparar com aulas lotadas, com até 60 pessoas ou mais. Por isso, os professores terão mais dificuldades em estabelecer relações pessoais com os seus estudantes, e você poderá considerar que o sistema é muito formal e impessoal. Os professores são pessoas comuns como você, e têm sentimentos e defeitos como todas as pessoas. Alguns professores são flexíveis, outros inflexíveis; alguns são amistosos, outros parecem ser inimigos; alguns sorriem, outros ficam nos lembrando em voz alta, o quão “burro” somos. Lembre sempre que somente um “burro” pode reconhecer outro.
Quando isso acontece pode haver uma pública expressão da
“felicidade” de achar ter encontrado o seu par. Existem professores que por portar diplomas de Doutor em Engenharia, se acham superiores aos seus alunos. Para obter esses diplomas não é necessário ser inteligente, mas somente ter uma grande quantidade de conhecimento. A obtenção de grande quantidade de conhecimento pode ser adquirida através de atividades mecânicas, sem precisar de muita inteligência. A inteligência é a forma como o conhecimento é utilizado e não a quantidade de conhecimento em si. Existem muitos Doutores que são pouco ou nada inteligentes; assim como existem analfabetos que são muito inteligentes, mais do que alguns mestres, doutores e pós-doutores que tive a “felicidade” de conhecer. Você poderá ter a oportunidade de observar diferentes tipos de professores durante o seu curso de graduação. O bom professor é aquele que gosta de você; é aquele que olha você nos olhos de forma franca e sincera; é aquele que se coloca no mesmo nível dos alunos; é aquele que acredita na capacidade que a natureza deu a você; é aquele que sempre está sorrindo, de bem com a vida; é aquele que o motiva a ser melhor do que ele é; é aquele que sorri fraternalmente quando você comete um erro idiota, mostrando como seria o correto; é aquele que tenta ajudar você a superar os seus medos e deficiências; é aquele que dá a você uma nota 2 e diz para não se preocupar com essa nota, que ele tem certeza que foi um acidente e que você vai superar isso tranqüilamente; é aquele que fala “Te vira meu!”, ou batendo com três dedos da mão no antebraço: “... isso aí tinha que estar no sangue!”, mas depois fica sentado ao seu lado para ajudar; é aquele que diz que não sabe de tudo; é aquele que diz que está aprendendo junto com você; é aquele que não dá o peixe, mas ensina a pescar; é aquele que você não sabe por quê, mas você confia nele! As pessoas são emocionalmente complicadas, gostamos de algumas e desgostamos de outras. Dentro de uma mesma turma, há os estudantes que gostam e os que não gostam do professor. A boa comunicação e a confiança entre o professor e o aluno são essenciais na aprendizagem de ambos.
Para alcançar bons níveis de
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
26
comunicação deve haver especialmente sensibilidade por parte do professor e participação por parte dos alunos. Alguns alunos acham que se ficar perguntando muita coisa ou reclamando de alguns aspectos da aula, o professor irá “marcá-lo”. Quando o aluno achar que esse pensamento inicial virou um fato, e o professor ainda agir como se fosse, acabou a confiança entre ambos, e a aprendizagem do aluno ficou comprometida. Na prática, do ponto de vista de professor, dificilmente existe a vontade de “marcar” alguns alunos, porque além das turmas serem normalmente de mais de 20 alunos, o professor se preocupa mais com o “grande grupo” do que com as individualidades. É claro que sempre há alunos (e professores) que fazem o impossível por aparecer. Na sua formação, antes de fazer matrícula, se for possível escolher, escolha os professores conhecidos como sendo os “raladores” do curso. Isto é o mais parecido com o mundo real, onde os chefes e clientes são os mais exigentes. Eles deixarão você melhor preparado para a vida. O caminho mais fácil é o caminho da fantasia; se você escolher esse caminho, será um engenheiro de fantasia; Deus tenha pena deles! Vão aqui algumas recomendações para o seu relacionamento com os professores: 1. Se você tiver dificuldades de qualquer tipo sempre fale com ele. Ele pode orientar você. 2. Nunca discuta assuntos pessoais em público com o professor. Discuta com ele sim, mas durante o intervalo. Lembre que as críticas sempre devem ser construtivas. 3. Se você precisará faltar à aula, chegar mais tarde ou sair mais cedo, fale ao seu professor. Se você não quiser explicar o motivo, não tem problema, diga que é um assunto pessoal e pronto; o professor irá compreender. Nunca pense, “eu sou maior de idade, estou pagando, e por isso faço o que quero e não tenho que dar satisfação a ninguém”. Isso não ajuda na comunicação nem na confiança. Se você faltou à aula anterior por força maior, telefone para o seu professor no dia seguinte, ou pelo menos envie um e-mail para ele. 4. Se um colega seu está incitando a uma rebelião na sala de aula, não o siga cegamente. Pense bem antes de seguir os outros. Veja se não há exageros nas reclamações. 5. Se tiver reclamações do professor, primeiro fale com ele de forma amistosa. Tente resolver o problema ou pelo menos discutir o assunto o mais detalhadamente possível. Não vá diretamente se queixar ao diretor do seu curso. O pobre diretor fica sempre dividido entre os seus alunos e os professores, especialmente quando se sabe que a maioria dos problemas é de origem sentimental e até de origem externa. 6. Pense sempre que o professor é o seu parceiro de estrada. A função dele é de orientar você. 7. Na escola você pode errar e fazer de novo até acertar. Na vida real você não pode; se você errar, pessoas podem se ferir. Quando os engenheiros erram pessoas morrem e empresas vão à falência. Aprende-se muito com o erro. Não tenha medo de errar. 8. Se você teve uma atitude errada ante a turma e o professor, peça desculpas em público. Isso promove a confiança. Todos erram alguma vez e todos os que reconhecem os seus erros merecem ser perdoados.
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9. Se o professor falar olhando para o quadro e ainda em voz baixa, peça para ele repetir a sua fala olhando para a turma, e se possível em voz mais alta.
OS PROFESSORES ESTRANGEIROS É bastante comum nos cursos de graduação e pós-graduação em engenharia a existência de professores estrangeiros no corpo docente. Alguns deles podem ter problemas de comunicação inerentes do idioma natal. É importante, nesses casos, que você como estudante não se omita de perguntar quando o professor proferir alguma frase ou oração num idioma ininteligível para você. Se o professor não se der conta que os seus estudantes não estão entendendo o que ele fala, ele vai prosseguir com a matéria sem parar. Ajude o seu professor, a você mesmo e à sua turma. Avise que o processo da comunicação está deficiente. Se ele for um bom professor, irá lhe agradecer e tentará melhorar no futuro. Se não o fizer no seu tempo, não reclame depois de reprovado dizendo que o professor é muito ruim.
1.8.
As Monitorias Os monitores são alunos veteranos de engenharia que prestam ajuda a outros
alunos mais novos. Esses monitores trabalham em disciplinas específicas já cursadas e disponibilizam horários de atendimento aos seus colegas que estão cursando a disciplina em questão. Você deve aproveitar as monitorias para tirar dúvidas sobre exercícios e sobre assuntos teóricos específicos.
Existe o mau costume de tentar
consultar o monitor no dia anterior ou até antes da prova. Em geral, você poderá ficar numa fila de espera e não ser atendido.
Os monitores, além do atendimento aos
estudantes da disciplina, ajudam o professor na preparação de aulas práticas, listas de exercícios e outras atividades. Se você cursou uma determinada disciplina, obteve um bom aproveitamento, tem bom relacionamento com as pessoas, bastante paciência e tiver tempo disponível, fale com o professor para ser o seu monitor no próximo semestre.
As monitorias
normalmente são pagas ou o monitor ganha um desconto nas suas mensalidades o que pode ajudar na sua economia mensal.
1.9.
A Iniciação Científica As escolas de nível superior para obter o status de universidade (e não de
simples faculdades), devem manter um corpo docente trabalhando em pesquisa de novos conhecimentos. Os professores precisam de colaboração dos seus alunos para desenvolver as tarefas de operacionalização das suas pesquisas. Você como aluno
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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veterano pode se candidatar a trabalhar nesses projetos. Existem normalmente bolsas de apoio aos alunos pesquisadores, mas o grande ganho é de conhecimento porque as pesquisas sempre trabalham assuntos na fronteira do conhecimento local e universal.
1.10. As Matérias da Engenharia Normalmente a estrutura curricular dos cursos de engenharia está composta de matérias de matemática e ciências básicas, tópicos de gerais de engenharia, tópicos específicos da engenharia em questão, e algumas disciplinas de ciências sociais e humanidades. Os estudos em matemática compreendem: geometria analítica; álgebra linear; cálculo diferencial e integral; probabilidade e estatística e; equações diferenciais. Pressupõe-se o domínio de aritmética, álgebra, geometria e trigonometria.
Alguns
cursos têm disciplinas de cálculo avançado e cálculo numérico. Os estudos das ciências básicas compreendem química geral e física baseada no calculo diferencial e integral. Pode haver disciplinas adicionais de ciências da vida, ciências da terra e química avançada. As ciências básicas servem como base para os estudos de engenharia.
As
matérias básicas da engenharia compreendem os estudos em mecânica dos sólidos e dos fluidos, termodinâmica, eletricidade e circuitos eletrônicos, ciência dos materiais e ciências da computação.
Essas matérias estão baseadas nos conteúdos sólidos de
ciências e matemática, fornecendo uma ponte entre os conceitos básicos e o projeto de engenharia. Alguns outros tópicos importantes na formação do engenheiro são o conhecimento das normas de engenharia e das restrições do mundo real, tais como fatores econômicos, segurança, confiabilidade, ética e impacto social e ambiental. Os ingredientes essenciais em qualquer programa de estudos de engenharia são as ciências humanas e sociais. Essas matérias podem incluir literatura, filosofia, história, economia, psicologia e sociologia.
Os cursos de humanidades e ciências
sociais ajudam o estudante a entender e apreciar os impactos do trabalho da engenharia na sociedade e no meio ambiente. Os estudantes de engenharia, usualmente, procuram treinamento em outras áreas especializadas durante o seu curso de graduação, incluindo matérias que ajudam na comunicação efetiva com clientes, funcionários e o público em geral. Muitos estudantes de engenharia cursam disciplinas eletivas de contabilidade, gestão e legislação.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
29
Em geral, os estudantes de engenharia devem desenvolver as seguintes habilidades e competências:
Habilidade de aplicar o conhecimento de matemática, ciência e engenharia em benefício da humanidade; Habilidade de analisar e projetar um sistema, componente ou processo para atingir uma necessidade específica; Capacidade de comunicação e liderança para trabalhar em equipes multidisciplinares; Entender a sua responsabilidade ética e profissional e; Habilidade para se comunicar de forma eficiente.
A educação abrangente necessária para entender o impacto das soluções de engenharia no contexto global e social inclui:
consciência da necessidade de contínua atualização profissional; conhecimento dos problemas contemporâneos e; capacidade de absorver novas tecnologias e de visualizar com criatividade novas aplicações para a Engenharia;
1.11. A Aprendizagem e o Pensamento Criativo na Engenharia 1 .1 1 .1 .
Aprendendo das Falhas
Embora
os
engenheiros
projetistas
façam
os
seus
melhores
esforços,
ocasionalmente haverá falhas nos seus projetos. Prédios que desabam; pontes que colapsam; tubulações que arrebentam; barragens que se rompem; ocasionam milhões de reais de danos à propriedade e levando vidas humanas. As falhas da engenharia podem ser atribuídas a várias causas, dentre elas[38]:
Erros cometidos por projetistas inaptos, descuidados ou negligentes. Supervisão descuidada do pessoal de operação. Imperfeições nos materiais e variabilidade de acordo com o lote. Problemas de comunicação entre gerentes, engenheiros, técnicos e operários que trabalham no projeto de engenharia. Ambientes e condições de operação muito extremas. Combinações entre os fatores acima citados.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
30
Figura 1-2- A Engenharia e as falhas.
Embora, os projetos de engenharia sejam feitos para antecipar as falhas, esses nunca alcançam a probabilidade de ter zero falha. Qualquer máquina ou estrutura de engenharia pode falhar de várias formas, desde simples peças que vão falhando de forma paulatina, até falhas catastróficas. O ser humano aprende mais das falhas do que dos sucessos, e em geral, as falhas catastróficas são dificilmente esquecidas. É irônico perceber que o sucesso acaba levando à falha. Quando um projeto de engenharia tem sucesso, surgem questionamentos dos clientes, dos burocratas da direção das empresas e até de outros engenheiros de o que “dá para tirar” do projeto para ficar mais barato. E assim, no interesse da competência, o design ou da economia, sempre há motivação para fazer projetos cada vez mais desafiantes assumindo maiores riscos e aumentando os riscos e consequentemente as chances de falha. Por outro lado, depois de acontecer uma falha, surge uma pressão para tornar os projetos mais seguros, tendendo a uma prática mais conservadora. Quando ocorrem as falhas de engenharia, normalmente se conduzem investigações independentes por especialistas para determinar as causas da falha e identificar as ações mitigadoras a serem tomadas para reduzir a chance de a falha acontecer novamente.
1.12.
A Criatividade na Engenharia Os engenheiros trabalham somente com problemas novos. Os problemas que
tenham sido resolvidos antes são normalmente entregues para sua solução aos técnicos ou inseridos num computador para a solução através de um software. Os
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novos problemas com certeza serão difíceis, desde que a maior parte dos problemas fáceis já tenha sido resolvida. Na busca das soluções, o engenheiro está em competição num ambiente bastante difícil: predecessores que tentaram e falharam e ávidos rivais que a qualquer momento estarão dedicados para resolver o mesmo problema.
O sucesso de um
engenheiro depende da habilidade de conceber uma nova idéia, técnica, processo ou material. Em outras palavras, ele depende da sua criatividade. A ênfase nos novos métodos, numa atmosfera competitiva, faz da engenharia uma profissão excitante. A dificuldade dos problemas, a necessidade de pensamento abstrato, e a ênfase na predição do comportamento futuro fazem da engenharia uma profissão desafiadora.
A satisfação, que provém da solução com sucesso de um
problema difícil de ser resolvido, faz da engenharia uma profissão prazerosa, particularmente para o indivíduo criativo.
INGREDIENTES DA CRIATIVIDADE A inovação consiste em organizar elementos de forma que eles se relacionem entre si de uma nova maneira. O resultado da criatividade é um projeto original, uma teoria não predita, um único padrão, ou uma nova configuração. A criatividade pode ser o nosso maior recurso natural.
Quais são os ingredientes da criatividade? A criatividade é um processo mental onde é requerido raciocínio abstrato, que está fortemente associado com a habilidade intelectual. Mas a inteligência4 de por si só não é suficiente.
As pessoas que possuem os maiores índices, nos testes de
inteligência, em geral, não são as mais criativas. Aparentemente, todas as pessoas com inteligência acima da média (i.e. estudantes de engenharia e outros) são criativas em certo grau. O segundo ingrediente da criatividade é o conhecimento. O conhecimento dos fatores e processos envolvidos num problema, usualmente, é resultado da experiência. O terceiro fator essencial é a motivação, o forte motivo ou desejo de encontrar a solução para um problema desafiante e complicado. Contribuindo com a motivação, está o estímulo fornecido pelo grupo de pessoas treinadas, inteligentes e motivadas, que fazem parte do grupo do projeto, ou que são encontradas nos laboratórios de pesquisa. 4 Não deve ser confundida a “inteligência” com “quantidade de conhecimento”. O grau de inteligência de um indivíduo demonstra a “habilidade de utilização” do conhecimento para um determinado fim. Por exemplo, os computadores digitais binários, pode-se dizer, possuem somente dois conhecimentos, o 0 e o 1 lógicos. O software, criado pelos humanos, manipula estes dados para dar à máquina certa inteligência, que dependerá da complexidade dos algoritmos, que pode resultar no triunfo da máquina sobre os humanos, num simples jogo de xadrez.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
32
DESENVOLVENDO A SUA CRIATIVIDADE Existe evidência convincente que a inovação é um comportamento que se aprende, e que as habilidades criativas podem ser desenvolvidas e melhoradas. No lugar de ser uma aptidão inerente, a criatividade provavelmente reflete uma atitude, e as atitudes podem ser mudadas.
Algumas universidades oferecem cursos de
pensamento criativo, embora o seu próprio programa de desenvolvimento original possa ser mais efetivo. A seguir algumas sugestões gerais:
Aprenda um pouco mais sobre criatividade. Interesse-se neste assunto intrigante, leia sobre ele e fale com outras pessoas sobre o mesmo. Exponha a você mesmo idéias fora do seu próprio interesse especial, discutindoas com os outros. Jogue com as idéias, deforme-as, vire-as do avesso, sacuda-as um pouco. Tome o seu tempo para pensar serenamente, para contemplar, para sonhar acordado. Suspenda a ação, e demore o julgamento, dê às suas idéias a chance de se incubar. Desfrute da satisfação que vem das novas inspirações e discernimentos. Coloque você mesmo num modo de solução de problemas, faça perguntas a si mesmo, dispa-se dos detalhes sem importância, atravesse as barreiras convencionais e tente definir o assunto central. Force a você mesmo a obter uma nova visão de questões antigas. Acima de tudo, aprecie o fato que você possui um potencial criativo muito maior do que até hoje tenha utilizado. O desenvolvimento deste potencial merece uma cuidadosa atenção, desde que a sociedade, da qual você faz parte, valorize-a e compense-a de forma generosa. Ainda mais importante, a inovação é uma função humana de alto nível, e uma fonte de grande prazer e satisfação.
O INDIVÍDUO CRIATIVO Uma grande quantidade de tempo e esforço tem sido gasto para determinar como a criatividade pode ser desenvolvida ou melhorada. Um método é estudar as características pessoais de indivíduos que são criativos.
A seguir é colocado um
retrato das características pessoais de inovadores típicos5.
Compare as suas
características particulares com as destas pessoas, possivelmente você irá perceber que possui algumas delas.
5
Sensível aos problemas; bem informado sobre como as coisas realmente são; não impressionado com os símbolos de prestígio; independente e sempre diz o que pensa. Aceita a incerteza, a ambigüidade, o conflito e as mudanças; agüenta frustrações e fracassos; aberto a sugestões; se esforça para mudar a sua forma de pensar, e para voltar a mudar novamente. Inteligente, curioso e hábil em tratar com abstrações; hábil em transformar idéias em novos pensamentos; gosta de brincar com as idéias e com conceitos.
Note que os homens e mulheres realmente criativos, não são pessoas típicas.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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Hábil em integrar, colocar as coisas juntas, em sintetizar, em perceber padrões e em extrapolar experiências anteriores para as novas situações. Dita o seu próprio rumo e é altamente motivado; zeloso e agressivo; possui determinação, perseverança e energia.
EXEMPLOS DE CRIATIVIDADE A imaginação e a inovação, quando acompanhada com motivação e baseada no conhecimento, levam ao avanço na ciência e na tecnologia. A seguir são colocados exemplos onde estas habilidades resultaram em conhecimentos e benefícios para a humanidade.
Ajuda para um Coração Cansado A habilidade do engenheiro no desenvolvimento de equipamentos, tais como bombas, válvulas, controles e sistemas de comunicação, tem sido usada para resolver problemas de doenças e de órgãos humanos desgastados. A substituição por partes sintéticas ou próteses é fato comum em certas situações, sendo que os rins e as válvulas cardíacas artificiais são amplamente utilizados hoje em dia. Os problemas, em colocar um dispositivo com duas câmaras, capaz de bombear 7 litros de sangue por minuto, dentro da cavidade peitoral, e mantê-lo em operação de forma confiável por tempo indefinido, são enormes.
Os materiais
utilizados devem possuir especiais propriedades mecânicas, químicas e elétricas, desde que estes não sejam rejeitados pelos mecanismos de defesa do corpo humano. Como elemento essencial do processo vital, um dispositivo protético deve ser completamente confiável. O marca-passo representa uma solução bem-sucedida de um problema complexo de controle, complicado ainda pela possibilidade de corrosão, e pela necessidade de ter uma fonte de alimentação infalível. Os impulsos elétricos gerados pelo marca-passo e transmitidos para o coração através de eletrodos implantados nos tecidos musculares estimulam o coração defeituoso numa contração rítmica, sessenta vezes por minuto.
Os implantes de marca-passo se constituem hoje em dia, como
uma operação de rotina, permitindo que milhares de pessoas continuem suas vidas normalmente.
Engrenagens a partir de Disparos com Armas de Fogo As engrenagens metálicas são fabricadas pela remoção de material, para formar os dentes, numa operação de fresagem. A velocidade com a qual este material é removido é limitada pelo calor gerado na crescente resistência ao corte. Em muitas situações, as forças de atrito tendem a aumentar rapidamente a medida que a
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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velocidade de corte aumenta, e existe um limite máximo de remoção do metal nos métodos convencionais. Apesar disso, os engenheiros russos do Instituto de Pesquisas da Sibéria desenvolveram uma máquina com altíssima velocidade de corte.
Num dos seus
experimentos iniciais, eles dispararam uma arma de fogo contra uma engrenagem ainda não trabalhada.
Atrás desta estava um anel com ferramentas de corte.
Surpreendentemente, eles encontraram que acima de 100 metros por segundo a resistência mecânica ao corte, diminui com o aumento da velocidade.
Para
velocidades acima de 750 metros por segundo, o desempenho da ferramenta em materiais duros cai somente 1.5 % do valor usual.
1.13. 1.
Exercícios Faça o cálculo de quantas horas semanais você poderá reservar para os seus estudos.
2.
Faça uma estimativa do número de disciplinas que você pode cursar por semestre, de acordo com as recomendações dadas, e projete o ano da formatura.
Engenharia - Uma Breve Introdução – Parte IV
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