A Cidade Por Eddie Van Feu
Era uma cidade como outra qualquer. Havia uma moça que chorava o amor perdido, um rapaz que amava a moça, um padre que tinha segredos, uma vizinha que sabia de tudo. Havia um médico com medo de morrer e um jovem com medo do escuro, um cachorro preto que sabia sorrir e um velho que esqueceu como fazê-lo. E foram muitas coisas que aconteceram naquela cidade como outra qualquer! A moça descobriu o amor no rapaz que lhe emprestou o ombro, a vizinha contou os segredos do padre, o padre falou sobre os perigos do inferno em seu sermão, o cachorro preto ensinou o velho a sorrir... Mas não foi só isso! O médico ajudou o jovem com medo do escuro, mas isso não o impediu de morrer. No entanto, ele já não tinha mais nenhum medo. E o jovem que tinha medo do escuro não dormia mais de luz acesa. Porém, havia um sentimento estranho naquela cidade. Era como uma nuvem, ou uma neblina, mas o céu estava azul e tudo era claro. Era como um medo, uma ansiedade. Ela ia se apossando de todos ali, dia a dia. As coisas iam acontecendo, e aquele sentimento estranho parecia mais poderoso. As pessoas sentiam uma espécie de urgência, mas não sabiam de quê. Tinham medo, mas não sabiam por quê. Esse sentimento estranho continuou por algum tempo, meses, anos. A vida continuou, mas todos sabiam que havia algo errado, algo triste, algo que seria perdido e eles não sabiam o que fazer a respeito. Até que um dia, o Sol brilhou na cidade e todos sentiram seu calor com alívio. Os segredos do padre voltaram a ser mistério, a vizinha fofoqueira esqueceu o que sabia, o rapaz voltou a ter medo do escuro e o doutor que tinha medo de morrer e morreu, reviveu. E ninguém se lembrava que o tempo estava meio louco ali, indo e vindo como se fosse uma coisa normal. Não importava. O que importava é que o sentimento terrível que os acometia tinha finalmente ido embora. A cidade ainda vivia seus dramas, mas sabia que suas histórias não seriam esquecidas. Sabiam que a partir daquele momento, viveriam para sempre. Sorrindo, chorando, aprendendo e errando, cada um dos habitantes daquele lugar sabia que suas vidas seriam lembradas e que eles, mesmo que morressem, voltariam à vida e viveriam novamente. Em uma outra cidade igual a tantas outras, um jovem escritor teve uma ideia. Pegou uma caneta e um caderno e rabiscou alguma coisa. O som da caneta no papel era como uma música animada para ele, que sentia o corpo se encher de um êxtase que só artistas que recebem a visita da musa sabem. Ele rabiscou, e escreveu, e desenhou, e virou a página, e seu coração batia acelerado. Quando terminou, ele colocou a caneta na boca e sorriu distraído, relendo as palavras apressadas. “Era uma cidade como outra qualquer. Havia uma moça que chorava o amor perdido, um rapaz que amava a moça, um padre que tinha segredos, uma vizinha que sabia de tudo. Havia um médico com medo de morrer e um jovem com medo do escuro, um cachorro preto que sabia sorrir e um velho que esqueceu como fazê-lo. E foram muitas coisas que aconteceram naquela cidade como outra qualquer! A moça descobriu o amor no rapaz que lhe emprestou o ombro, a vizinha contou os segredos do padre, o padre falou sobre os perigos do inferno em seu sermão, o cachorro preto ensinou o velho a sorrir... Mas não foi só isso! O médico ajudou o jovem com medo do escuro, mas isso não o
impediu de morrer. No entanto, ele já não tinha mais nenhum medo. E o jovem que tinha medo do escuro não dormia mais de luz acesa.” E o jovem escritor abriu um grande sorriso, acreditando que tinha criado um novo universo, enquanto sem querer dava vida a pessoas numa outra cidade, dava cores ao céu e sabor às tortas e bolos, acentuou o aroma do café e garantiu que aquelas pessoas e aquela cidade jamais fossem esquecidas e, não sendo esquecidas, não morressem jamais. ******* Eddie Van Feu é jornalista por formação, escritora de nascença e fanática por livros desde criancinha. Escreveu histórias como Lua das Fadas, O Portal, Alcateia, O Trono Sem Rei, Crônicas de Leemyar e Uma Guerra de Luz e Sombras, sendo também conhecida pela Série Wicca, há dez anos nas bancas e atualmente no número #63. Eddie adora viajar nas histórias e ouvir os comentários dos leitores sobre suas visitas aos mundos que ela traduz em seus livros. Você pode mandar um e-mail pra ela no eddie@eddievanfeu.com e visitá-la nos blogs www.eddievanfeu.com e www.omundodeeddie.com. Ela também está no facebook com postagens diárias: www.facebook.com/eddievanfeuoficial