Jornal Corrida 14 - CAPA

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CORRIDA WWW.JORNALCORRIDA.COM.BR / NÚMERO 14

SEGREDOS PARA UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL

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RECEITA DE BOM HUMOR

Alimentos que ajudam a combater o estresse e a ansiedade

GUERREIRAS Fernanda Ferraresi Fernandes na Maratona de São Paulo 2013

Quatro mulheres contam suas histórias de superação e paixão pela corrida

EVENTOS - COMPRAS - TREINAMENTO - GENTE - SAÚDE - NUTRIÇÃO


DESTAQUE

gUERREIRAS! ULTRADESAFIO! 6 / NÚMERO 14 / WWW.JORNALCORRIDA.COM.BR


Mulheres corajosas, cada uma com sua história, mas com algo em comum: a corrida de rua e a superação.

INSPIRAÇÃO PARA A CIDADE

A artista plástica Celeste Galvão nunca encarou provas na neve ou no deserto, mas sempre teve o esporte presente em sua vida. “Comecei a andar com 7 meses, sinal de que a pressa já era grande, desde pequena”, brinca. Praticante de mountain bike em Taubaté (SP), Celeste chegou à corrida como uma alternativa de treinamento para pedalar melhor. Em 2011, depois de uma queda enquanto pedalava, o que parecia um simples hematoma do tombo foi diagnosticado como câncer de mama. Durante um ano de tratamento, Celeste passou por sessões de radi-

créditos imagens: arquivos pessoais

Nem sempre o que há por trás de passadas firmes é o desejo de diminuir minutos ou aumentar quilômetros. Muitas vezes, a motivação que – literalmente – empurra alguns corredores está além de superar os tão falados “RPs” (recordes pessoais). Esse é caso de Monica Otero, de Celeste Galvão e de Renata Monte Alegre. Três mulheres, três guerreiras, que resgataram com a ajuda da corrida de rua aquilo que existe de mais precioso: a vida, o prazer de viver com qualidade e saúde. Eram meados dos anos 1990, quando a paulista Monica Otero foi diagnosticada com câncer de intestino. “Perdi tudo: peso, cabelo, vontade de viver”, conta. Depois de cinco anos de tratamento e três cirurgias, Monica se viu livre da doença. “Durante todos esses anos que lutei contra o câncer, a única coisa que me restava era a capacidade de pensar. E eu pensava muito. Alimentei a convicção de que, quando tudo terminasse, minha vida seria diferente.” Após receber alta, Monica procurou colocar em prática um desejo antigo: ser peregrina, sair andando pelo mundo. Começou pelo Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha; de 2002 a 2005 fez várias “peregrinações” pelo Brasil. Até que numa das vezes que fazia o “Caminho do Sol”, pelo

interior de São Paulo, tomou conhecimento do mundo das ultramaratonas. A convite do atleta Manuel Mendes, participou da primeira edição da BR 135 e acompanhou uma equipe brasileira na Badwater, a mais temida das ultramaratonas do mundo. Foi aí que, apesar de se dizer peregrina e não corredora, Monica se tornou ultramaratonistas. A partir de 2007, ela marcou presença nas principais provas pelo planeta afora. Fez a Badwater (217 kms pelo Vale da Morte, na Califórnia, nos EUA), a Sahara Race, a Arrowhead (sob um frio de 50 graus negativos no norte de Minnesota, nos EUA), a etapa da Nepal da Race in the Planet, entre outras provas nacionais e internacionais. Foi em 2008, ao se sentir mal quando “peregrinava” em uma prova pelos EUA, que veio o alerta. Com vários casos de diabetes na família, Monica descobriu que não tinha fugido à regra. Mas nem o diabetes, nem um problema grave no joelho – que resultou em uma cirurgia realizada em 2012 – pararam a ultramaratonista. “Tenho 58 anos, sou avó e já passei por tanta coisa. Hoje a corrida é para mim qualidade de vida, uso ela para equilibrar o diabetes e não precisar de insulina. Acho que vai chegar uma hora que vou ter que parar com as ultras, mas com certeza vou morrer peregrina”, diz Monica, que já tem a agenda lotada para 2014 – a BR 135 em janeiro e 250 km pela ilha da Madagascar, em agosto.

heroínas da vida. Monica Otero (pág. ao lado no alto e acima), Celeste Falcão (pág. ao lado/esquerda) e Renata Monte Alegre (pág. ao lado/direita)

MARATONA DE EMOçãO E PERsEVERANçA “Corra quando puder, ande se precisar, arrastese caso seja necessário,mas nunca desista.” (Dean Karnazes, ultramaratonista) Nos 42.195 metros da última Maratona de São Paulo, levei ao pé da letra essa frase. Foram horas de superação e força que eu não sabia que tinha. Voltei a correr há dois meses com alguns quilos a mais. Depois de três meses sem atividade física, já sabia que a batalha seria única, dolorida e pessoal. Prova é reflexo dos treinos, e eu já previa o filme a cada longão; mas me sentia confiante. Devo isso ao meu companheiro de treino, Josivaldo dos Santos, que abdicou de seu “pace” para me ajudar a treinar. Só senti a prova no quilômetro 20. Ali,escrevi a história que está no meu coração. Foram 22,19 km de determinação, fé e perseverança. Mas não me faltou a certeza de que eu chegaria. Recebi muito carinho no percurso e me lembrei de cada um que deixou recado no Facebook, de cada pessoa do Projeto Carcará by FFF, grupo relacionado a dietas e perda de peso, que mantemos na mídia social. Lembrei do que treinei, de todos a quem prometi chegar, dos que esperavam notícias e dos ansiosos me aguardando na chegada. Lembrei também de quem, apesar da boa intenção, desnecessariamente me desencorajou dias antes da luta. Consegui. Fui e venci. Cheguei. Como a prova é muito difícil, desabei em choro descontrolado na linha de chegada. Choro de vitória. Acredite e siga o coração. Meu professor do treinamento funcional, Luciano de Oliveira, diz: “Força na mente que o corpo aguenta!”. É nisso que acredito. Fernanda Ferraresi Fernandes é paulistana, maratonista e ultramaratonistas ! Ama correr e tem um blog no site Jornal Corrida. www.jornalcorrida.com.br acesse o link e acompanhe a Fernanda goo.gl/7c0oYW

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DESTAQUE oterapia, quimioterapia e uma mastectomia total. “É claro que em alguns momentos eu questionava: por que eu? Sempre fui tão saudável?”, diz a corredora, que continuou treinando e participando de provas. “Durante o tratamento, minha médica orientou: se sua imunidade cair, você vai ter que parar de correr”, conta. Na clínica, médicos e enfermeiros achavam que ela era louca. Pelas ruas e parques da cidade, recebia o apoio de outros corredores que sabiam de sua história e incentivavam. “Vai guerreira! – sempre tinha um que gritava ao me ver treinando!”. Virou um exemplo na cidade. Tanto que a clínica na qual fazia o tratamento realizará uma corrida nos próximos meses, incentivando os pacientes e população em geral a praticar esportes. “A corrida foi o melhor remédio durante a minha luta contra o câncer. Enquanto os remédios cuidavam do meu corpo, ela cuidava da minha cabeça, da minha emoção, de tudo aquilo que remédio não dá conta. Eu já amava viver. Hoje tenho a certeza de que tenho muito por fazer ainda, então, prefiro ir correndo!”, diz Celeste.

RUMO AO MURO

A jornalista paulistana Renata Monte Alegre tinha 37 anos e , até então, não havia recebido qualquer sinal de que poderia sofrer AVC (acidente vascular cerebral). Levava a vida na correria, mas nada diferente de 99% das mulheres com mais de 35 anos que se dividem entre família, trabalho, ginástica e supermercado. Até que um dia, veio o aneurisma, resultado de um problema congênito, um “defeito de fabricação”: uma veia que se rompe e causa hemorragia no cérebro. A matemática a partir daí foi pesada: quatro cirurgias, 38 dias de coma, seis semanas na UTI, 14 meses de fisioterapia. Sabe quando o computador pifa e o melhor é dar um CRTL+ALT+DEL? O que aconteceu com ela foi bem parecido, só que era o seu cérebro que precisava ser religado. No processo de recuperação, teve que reaprender tudo, até as coisas mais básicas como comer, andar, falar. E a vida que ela conhecia mudou radicalmente. Renata já corria antes de sofrer o AVC. Nunca foi do tipo atlético, mas tinha prazer em sentir o batimento cardíaco subindo, enquanto a endorfina ia tomando conta e o pensamento voava para longe. Depois do AVC, estava indo para uma consulta com o neurocirurgião, quando viu a cidade toda enfeitada para uma prova que aconteceria no fim de semana. Por isso a primeira pergunta da consulta foi: “Quando vou poder correr de novo, doutor?”. Naquela altura, ela mal conseguia coordenar os movimentos entre o lado direito e esquerdo do cérebro. Então, a resposta não poderia ser outra: “Andar já é um desafio e tanto para você, imagine correr!” “Acho que nada acontece por acaso e ter ouvido aquela sentença foi fundamental para mim”, conta a jornalista. “Eu queria ter mais prazer, alegria e

“A corrida foi a melhor aliada durante a minha luta contra o câncer. Enquanto os remédios cuidavam do meu corpo, ela cuidava da minha cabeça, de tudo aquilo que a medicação não dá conta.” bem-estar na minha vida. Quem não deseja essas coisas quando pula onda no ano-novo ou corta o bolo de aniversário? A embalagem do presente foi bem inusitada, é verdade, mas acho que o AVC me trouxe a oportunidade de recomeçar a vida focando no que realmente importa.” Ainda faltava voltar a correr. O primeiro trote veio numa praia, quase dois anos depois do AVC. Renata havia recebido alta das sessões de fisioterapia, se sentia forte e a visão daquela areia batida a encheu de energia. Mas equilíbrio e coordenação das passadas continuavam sendo um desafio. “Foi um trote rápido e curto, uns 100 m se tanto, numa linha bem irregular. Não deve ter sido uma bela visão pra quem assistiu. Mas, para mim, foi a glória!”, relembra. Na volta a São Paulo, ela começou a correr na esteira, numa academia do bairro. Aos poucos foi dando volume ao treino e, no verão seguinte, já conseguia correr 6 km. O problema ainda era o equilíbrio. Sofreu duas quedas andando na rua, que foram suficientes para não continuar ignorando a necessidade de

incorporar um treino de fortalecimento muscular na rotina. E para isso, buscou ajuda profissional. “Quem passou a supervisionar os meus treinos foi o Flávio Prajelas, que é personal e preparador físico da academia que frequento. Ao seguir a planilha de corrida, estou percebendo as vantagens de variar a intensidade, o volume e a frequência do treino. Hoje, além da supervisão técnica, Renata conta com outros pontos de apoio que a incentivam a manter o ritmo dos treinos: ter um objetivo a longo prazo (completar a maratona da Muralha da China, em maio de 2015), variar os treinos em uma planilha bem ajustada para a meta definida e, por fim, muita música tocando bem alto no mp3. “Eu escolho as novidades, monto as setlists nos dias off e fico me distraindo com o resultado durante as corridas.” Depois de um AVC e dias de UTI, Renata apostou alto no desafio: para ela, o muro é pouco, escolheu de cara a Muralha da China. “Nos treinos procuro me divertir do início ao fim, enquanto me preparo para o dia em que terei que ser maior que a muralha.”

Foco. Para alcançar a meta de concluir a Maratona da China, Renata Monte Alegre buscou ajuda profissional e faz do treinamento uma diversão

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