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As pequenas coisas do dia a dia

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Márcia e Ritinha relatam os mais de 30 anos de convivência no Colégio Medianeira

Por Milena Campos

Quando pensamos em trabalho, queremos o melhor lugar possível, idealizamos um espaço onde empatia, acolhimento e crescimento sejam as palavras-chaves. Márcia Zonneveld e Rita Malucelli – ou Ritinha, como é conhecida – encontraram e ficaram por mais de 30 anos no Colégio Medianeira, tempo em que puderam construir muitas narrativas, experiências, vivências e aprendizagens.

As histórias das duas começaram quase ao mesmo tempo. Márcia entrou no Colégio Medianeira em 1982, quando uma tia insistiu para que viesse conhecer e, quem sabe, conseguir uma vaga. Márcia vinha todos os dias fazer estágio não-remunerado, acompanhava e auxiliava as professoras da Educação Infantil. Foi no final do mesmo ano que teve seu contrato assinado, mas só em 1983 conseguiu o cargo de professora nos Jardins 1 e 2.

Depois de um longo período com os pequenos, Márcia começou a lecionar para a 1ª série, o que chamamos hoje de 1º ano do Ensi- no Fundamental 1. No começo, ela se questionava muito sobre essa transição do Infantil para o Fundamental, pois mudanças assustam, mas como nada era capaz de pará-la, não só aceitou a responsabilidade como também começou a lecionar para a segunda série.

Em 1983, Ritinha chegou ao Medianeira. Ela que era da cidade de Palmeira, município dos Campos Gerais do Paraná, mudou-se para Curitiba com o sonho e a vontade de trabalhar em uma escola. Passou por cima dos seus medos, pegou o dossiê onde tinha todos os seus planejamentos, levou para o Colégio e apresentou na esperança de que gostassem. E não é que conquistou os olhos da coordenadora da época?

Igual Márcia, Ritinha começou como estagiária, mas logo depois, ainda no mesmo ano, foi contratada para assumir a turma da antiga 1ª série. Após alguns anos, assumiu o laboratório de acompanhamento de aprendizagem, porque notavam nela uma pessoa que conseguia enxergar as potencialidades dos estudantes, que não es- tavam conseguindo aprender a ler e escrever no formato tradicional.

Criatividade para potencializar a educação

Desde que entraram para o Medianeira, Márcia e Ritinha sempre foram grandes colegas e amigas, e uma coisa que as duas tinham em comum era o formato com que escolhiam trabalhar as suas aulas. Já imaginavam o uso e o aproveitamento dos 142 mil m² para gerar aprendizagens de excelência. Ambas inovaram e reinventaram o jeito de ensinar e aprender, enxergavam uma oportunidade de cativar as crianças com os espaços verdes e arborizados, utilizando o mesmo espaço para atividades, lanchar e brincar.

A primeira emoção de Ritinha quando viu o Colégio pela primeira vez foi o fascínio com o tamanho dele, logo, teve uma explosão de ideias sobre como poderia aproveitar o pátio, o bosque, o campo, o lago, aplicar e replicar diversas dinâmicas com os estudantes, sobre como realmente curtir os espaços. “Teve uma vez que trouxemos tela, cavalete, tinta e pincel para que eles pudessem pintar a paisagem que estavam observando. Nesse dia, tivemos a felicidade de ver uma garça, que chegou e pousou em uma das árvores, praticamente na frente dos quadros. Nossa, foi tão bonito e emocionante, as crianças adoraram retratar isso nas suas artes”, relembra Rita.

Outro espaço disputado pelos pequenos era o parquinho. Um local fechado e com horário para entrar e para ficar. Lá existia uma tal de roda-gigante manual onde diariamente no recreio as crianças formavam uma fila gigantesca para brincarem. Na época, o

Irmão Bruno Kuntzler, que esteve no Colégio Medianeira entre os anos de 1975 a 1981, e assumiu a missão de Ministro da Casa dos Jesuítas e outros serviços gerais, sempre que podia ia cantar e girar o brinquedo para as crianças, mas está enganado(a) quem achou que brincar nesse espaço era concorrido somente no momento do intervalo.

Foi pensando nisso, que com muita sagacidade, Márcia e Ritinha, como uma forma de incentivo para que as crianças realizassem as atividades, usaram a seguinte estratégia: fizeram um combinado de que quem terminasse o exercício poderia ir brincar no parquinho. A sala de aula ficava localizada no final do corredor onde antigamente tinha a enfermaria, a sala dos professores e a cozinha, o que facilitava para as educadoras poderem olhar tanto quem estava dentro quanto fora de sala.

O Colégio tem diversos espaços para explorar e incentivar a criatividade e aprendizagens. Antigamente, existia a famosa sala 25, um ambiente dividido em quatro áreas temáticas: logo na entrada, o canto da leitura, com livros, almofadas, pufes, tudo como forma de motivar a leitura da literatura; depois passava pelo canto da educação artística, com tintas, pincéis, colas e papéis, para incentivar a criação; o terceiro canto era o lúdico, que tinha jogos de montar, quebra-cabeças, tabuleiros, para fomentar a parte estratégica; e, por último, e não menos importante, era o canto cênico, com um espelho e uma mala cheia de roupas, sapatos, maquiagens e assessórios, esse era um espaço em que as crianças ficavam fantasiadas e extravasavam na imaginação.

Lembrar desse ambiente especial fez com que Márcia recordasse sobre como cada canto proporcionava uma experiência diferente. “Ao mesmo tempo que era um espaço muito divertido, era um local com as aprendizagens em seus diversos formatos. Além disso, explorávamos a importância de deixar cada área sempre organizada e limpa para a próxima turma. É claro que nós professoras ficávamos de olho para garantir que estivesse nos ‘conformes’, mas, era mais que isso, era uma forma de aprenderem sobre organização, respeito com o próximo e trabalho em equipe”.

Metodologias de um olhar apurado

A semana de Márcia e Ritinha não terminava na sexta-feira. Na época, realizavam reuniões todos os sábados, das 7h30 às 14h, focadas em elaborar o planejamento. As professoras se dividiam em grupos, reuniam todo o material e a equipe responsável datilografava todo o conteúdo.

No início dos anos 2000, ambas ajudaram o projeto pedagógico de alfabetização. Estudaram muito, planejaram e desenvolveram um documento que fosse um guia para que um(a) novo(a) professor(a) soubesse por onde começar a alfabetizar no Medianeira. Esse material tem a parte teórica sobre alfabetização, a parte de aprendizagem, sobre as pró - prias dificuldades que as crianças podem ter no processo e sugestões de estratégias para trabalhar nas diversas situações.

Ritinha relembra que precisou pedir autorização para aplicar suas metodologias nesse documento, pois várias das estratégias desenvolvidas não estavam em nenhum planejamento. “O Medianeira sempre me proporcionou cursos, palestras, seminários e congressos, para entender e melhorar tudo o que envolvesse alfabetização e as dificuldades de aprendizagens. Por isso, sempre pesquisei e estudei muito”, e complementa: “às vezes, tinha dificuldade para dormir, pois ficava ansiosa para chegar no Colégio e colocar em prática tudo aquilo que estava na teoria. Olhar os meus pequenos aprendendo a ler e a escrever era mágico!”. Era por meio desse olhar mais apurado, de Márcia e Rita, que sempre foi possível trabalhar com todas as crianças, mesmo aquelas que tinham mais dificuldade.

Ritinha recorda com carinho dessas dinâmicas. “Eu gostava e colocava músicas do tempo da discoteca e era alto porque eu queria mesmo, colocava todo mundo para dançar nos momentos que eles estavam pintando ou desenhando, ou até mesmo em momentos de vivência”.

Parceria dentro e fora da sala de aula

Conforme os anos foram passando, as trajetórias das duas foram desenvolvendo-se. Enquanto, no dia a dia, aplicavam diversas formas de aprendizagens para os estudantes, elas também puderam ver o próprio crescimento pessoal. Ritinha expressa que sua caminhada no Medianeira foi uma história de amor, e, para Márcia, viver 36 anos no Medianeira, significou uma vida de muita aprendizagem, trabalho, convivência e amizades.

A amizade de Márcia e Ritinha foi além dos muros do Colégio. Elas e mais alguns educadores criaram os grupos “NaftaLindas” e “Sempre Amigos”, no WhatsApp, como uma maneira de manter o contato. Além disso, é uma forma de relembrarem das turmas e compartilharem fotos antigas. Outra forma de recordar e reencontrar os Sempre-Alunos Medianeira são os eventos, como a Festa Julina do Medianeira.

Ambas contam como ficam impressionadas em ver os estudantes crescidos, com famílias constituídas e nas mais diversas profissões. “Quando vim na Festa Julina desse ano, encontrei um sempre-aluno que é médico cardiologista e fiquei pensando: ‘até ontem estava o ensinando-o a ler e a escrever, e hoje é médico’. É gratificante saber que de alguma forma contribuímos com a caminhada deles. Gosto desse reencontro, saber a carreira que escolheram seguir, conhecer a família que constituíram”, expressa Márcia.

Até mesmo no dia a dia, as professoras encontram seus ex-alunos e conseguem ver na prática a evolução pessoal deles. Ritinha lembra que foi a um congresso de alfabetização, em Vitória (ES), para ver uma Sempre-Aluna apresentar um artigo sobre o tema, e se emociona ao recordar um momento tão importante e que marcou essa trajetória. É possível perceber como o Medianeira é um símbolo tanto para as pessoas que trabalham quanto para as famílias que passam por aqui.

Encerramento de um ciclo e início de outro

Ritinha, que sempre fez parte da alfabetização das crianças do Medianeira, conta como o seu último dia foi especial e um marco nessa trajetória: “Uma educadora, profissional da limpeza foi na minha sala se despedir e conversar comigo, falar que a filha não estava conseguindo aprender a ler e a escrever. Isso já era final da tarde, estava quase indo embora, e disse que iria ajudar a filha dela. A criança veio e se sentou do meu lado e, em algumas horas, eu alfabetizei. Nunca vou esquecer do quanto a educadora, com os olhos cheios de lágrimas, agradeceu, e o quanto a pequena ficou encantada. Não tem coisa mais linda, ensino mais saboroso do que ver uma criança conseguindo ler e escrever, e não tinha maneira melhor de encerrar o meu ciclo no Colégio do que esse”.

Para Márcia, o fechamento do seu ciclo foi um pouco diferente, mas também registrou um marco na sua jornada. “Além de professora eu era fonoaudióloga, trabalhei por anos conciliando os dois trabalhos, mas parando para ver toda a minha trajetória, por mais que eu me considerasse mais professora, eu vi como ser fono me ajudou a entender o desenvolvimento da criança. Não vou dizer que é fácil, são anos e anos de rotina e dedicação, então, quando acaba, é como se passássemos por um tipo de luto. Contudo, sinto-me realizada, pois sempre fiz o que podia e procurando fazer o melhor. Sensação de dever cumprido e sempre levando o Medianeira com muito carinho no meu coração”. comente este artigo: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br

As vidas de Márcia e Rita não pararam quando o ciclo Medianeira se encerrou. Ritinha, que se considera uma pessoa simples e alegre, continua ajudando os demais, procura estar o máximo de tempo possível com a família, adora viajar, andar de moto e bicicleta. Márcia, por outro lado, está em uma fase mais caseira, gosta de cuidar das flores do seu jardim, considera-se uma ótima jardineira, ama cuidar do seu gato, de ler, de bordar, de assistir a um filme ou uma série, mas também adora dirigir, principalmente quando o destino final é encontrar as pessoas que ama. Elas têm histórias e hobbies diferentes, tendo em comum como o Colégio Medianeira foi um marco para ambas, mas é possível perceber como as duas professoras partilham de um mesmo sentimento, o de serem gratas e felizes pelas pequenas coisas do dia a dia.

Milena Campos é formada em Jornalismo pela Universidade Positivo (UP). Ganhou 1º lugar no Intercom Sul 2021 na categoria Website com a reportagem multimídia Então Poliniza! Atualmente, trabalha como jornalista e assessora de imprensa do Colégio Medianeira.

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