www.santacecilia.com.br - ano 3 - Nº 5 - maio/junho de 2009
Entrevista O Inventor de Imagens, com Manoel de Barros
Conhecendo as profissões Mundo dos livros e seus desdobramentos
O mundo é o limite Cidadão do mundo
Expediente Colégio Santa Cecília Direção Ir. Eulalia Maria Wanderley de Lima
Coordenação de Comunicação Ivan Guimarães
Coordenação Editorial e Redação Janaina de Paula
Projeto Gráfico e Diagramação Francisco Dantas Damião (Tchêsco)
Revisão Aristene de Castro
Colaboração Gustavo Pinheiro
Fotografia Thiago Gaspar Audiovisual do Colégio
Jornalista Responsável Janaina de Paula – Mtb: CE01218JP
Tiragem 3.000 exemplares
Av. Senador Virgílio Távora, 2000 – Aldeota Cx. Postal 52728 – CEP 60151-970 Fortaleza/CE Fone: (85) 3064.2377 – Fax: (85) 3064.2367 Site: www.santacecilia.com.br e-mail: scecilia@santacecilia.com.br
Editorial O mundo é o limite Artigos
Estamos por dentro Evangelizando Mundo da Arte
Reportagem
Conhecendo as profissões
Diga Lá
Estamos no jogo
Entrevista
Estamos em sala Espaço Damas Nos corredores
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Você está recebendo um novo Interatividade, porque o Santa Cecília está sempre em movimento, em mudança. Acompanhamos o dinamismo das crianças e jovens, isso sem dizer do mundo, que não para, e não pode mesmo parar. As matérias desta edição são diversificadas e ricas em conteúdo. São vários projetos desenvolvidos em todas as áreas que nos levam a descortinar novas possibilidades. Nesta edição, o educador ganha destaque pelo trabalho diferenciado e envolvido. Aqui percebemos a importância do afeto, da criatividade, da imaginação, da inventividade e do se arriscar em produzir e em propor. Também fomos presenteados neste número com a linda entrevista do escritor Manoel de Barros feita pelas crianças da Escola. Assim é o Interatividade, uma envolvente publicação que nos prende pela leveza, pelo design e pela participação de todos: alunos, educadores, pais e colaboradores.
Ir. Eulalia Maria W. de Lima Diretora do Colégio Santa Cecília
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o mundo é o limite
CIDADÃO DO MUNDO A segurança e a firmeza na voz passam ao largo dos falsos mitos envolvendo mulheres de origem árabe. Amira Oka Al Houch (1º ano do Ensino Médio), filha de sírio, é a própria personificação de que culturas diferentes podem, sim, viver em harmonia. “Os preconceitos são fruto da desinformação. Meu pai é rígido como a maioria dos pais. Não gosta que eu use roupas curtas e saia muito, mas é uma pessoa aberta ao diálogo. Aqui nunca senti discriminação, ao contrário da Nova Zelândia, onde fiz um intercâmbio e o fato de ser brasileira e de origem árabe era motivo para duplo preconceito”, lembra Amira. Na Escola, ela encara os comentários de que é “prima de Bin Laden” como pura brincadeira. Em casa, a família não abre mão de alguns costumes como a culinária, as danças, roupas coloridas, presentear com joias e sempre sentar à mesa juntos. “Sempre que meu pai vai à Síria traz joias e roupas coloridas, e adoro viajar para lá. As pessoas são muito alegres e festeiras. A única dificuldade é a língua, que é muito difícil”, afirma. Agustin Ignacio Massera (1º ano do Ensino Fundamental) não saberia precisar o que lhe falta e o que mais lhe agrada. Recém-chegado ao Brasil, o menino argentino ainda passa por aquela delicada fase de adaptação à cidade e à escola. Ele se queixa por não conseguir se comunicar plenamente, mas abre um sorrisão quando lembra que mora perto do mar e pode se divertir naquelas águas que vão e vêm. “Na Escola o que mais gosto é do parquinho”, diz. A portuguesa Madalena (7º ano do Ensino Médio) é quase uma cidadã do mundo. Ela vê as mudanças como coisa muito natural. Nascida em
Portugal, já morou dois anos em São Tomé, um ano em Cabo Verde e desde o ano passado reside em Fortaleza. “Às vezes mudar muito fica um pouco chato porque você perde amigos. Mas cada lugar tem suas características e é bom conhecer novas culturas, saber mais sobre o mundo. Aqui as pessoas são muito diferentes. Logo que cheguei, virei o centro das atenções e aquilo me pareceu muito estranho. Agora, estou bem adaptada e o que mais gosto é de ir ao cinema e estar com os amigos”. As Viagens Pedagógicas, promovidas pelo Santa Cecília, tornam, sem dúvida, os nossos alunos mais abertos ao novo e ao diferente. “O homem moderno é um ser de horizontes abertos capaz de apreciar todo o eclético naipe de possibilidades que este planeta mestiço, multifacetário e colorido possa lhe fornecer. É um ser fincado na própria cultura e identidade, mas igualmente voltado para as mais diversas manifestações artísticas e culturais que os povos do mundo possam produzir. E, caso não seja capaz de encontrar valor nos valores dos outros, também não há problemas, sempre há a saída da tolerância. Tolerar é apenas tolerar. Não atirarei bombas no outro porque ele crê numa outra modalidade de divindade. Não porei fogo no outro porque ele segue uma outra vertente política. Já seria vantagem demais! Já seria uma evolução! Afinal, somos todos da mesma raça e feitos da mesma matériaprima (leia texto na íntegra no site do C o l é g i o ) ” , o p i n a M a x R o g e r, coordenador de Viagens Pedagógicas do Santa Cecília.
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ADOLESCENTE EM MOVIMENTO *Priscila Gadelha O projeto Adolescência em Movimento pretende ser um espaço de debate plural sobre temas atuais e pertinentes à adolescência, mediado por profissionais convidados pela Escola e que tem como tônica uma metodologia interativa. O projeto é voltado para os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio e já teve sua primeira versão em 2008, quando os alunos do 7º ano ao Ensino Médio tiveram um encontro com o Dr. Almir Neves, especialista em adolescência, que passeou por temas diversos como sexualidade e relação pais e filhos. Em 2009, o projeto contemplará também os alunos do 6º ano e acontecerá no dia 7 de maio, abordando temas específicos para as diversas faixas etárias, que serão escolhidos a partir de uma consulta aos alunos. Na adolescência se é interpelado por um corpo em transformação, assim como por uma nova forma de ser visto e de se relacionar com o outro. Uma das saídas da adolescência seria a de criar ideologias e palavras que lhe deem consistência. Daí a necessidade de os adolescentes estarem permanentemente em contato entre si para que possam forjar a construção de uma nova identidade. O adolescente está imerso em um contexto de intensas e rápidas transformações culturais, que implicam em novas formas de sociabilidade, de interação com o outro e de percepção de si mesmo. Alvos fáceis das pressões e dos imperativos de uma sociedade extremamente competitiva, consumista e hedonista, que impõe padrões rígidos de estética e comportamento, o que pouco contribui para as necessidades inerentes a esse momento evolutivo. O projeto Adolescência em Movimento acredita que a escola pode ser um espaço de discussão sobre o que perpassa as novas exigências sociais que recaem sobre os adolescentes, assim como um lugar em que a fala sobre como é ser adolescente hoje pode se fazer presente. Acreditamos que, assim, estamos contribuindo para a construção de referenciais mais críticos e criativos, que impulsionem os adolescentes nessa rica e árdua tarefa de crescer e descobrir a si mesmos.
*Priscila Gadelha é coordenadora do Núcleo de Apoio Psicopedagógico do Santa Cecília
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UM HOMEM QUE VIVEU PELOS POBRES *Ir. Elda Lembrar Dom Hélder é lembrar as minhas próprias origens, sentir saudades de meu pai e de seus ensinamentos éticos; é uma volta à minha infância e às escolhas que fiz na vida. Quando eu estava prestes a nascer, meu pai disse a minha mãe: “se for homem, vai se chamar Hélder e, se for mulher, será Elda. Nasci em Surubim, uma pequena cidade do sertão pernambucano onde Dom Hélder era considerado profeta. A admiração que o povo de Pernambuco tinha por ele não era de graça. Ele tinha o dom da palavra, a sabedoria de traduzir sua linguagem e se fazer entender pelos mais humildes e uma escolha clara e radical pelos pobres. As notícias de sua bravura corriam por toda parte: ele enfrentava o coronelismo, a ditadura militar, os poderosos e não tinha medo de perder a vida por uma causa justa. A primeira vez que estive com ele, contei do meu nome e ele perguntou: “Você gosta do seu nome?” Eu disse: “Amo meu nome e ainda mais porque foi uma homenagem de meu pai aos seus ensinamentos”. Nesse período eu já tinha clara a minha vocação, fazia os votos temporários, em Recife, e nunca esqueço o que ele me disse: “Em Deus não existe o acaso”. Outra lembrança que me vem à cabeça é da humilde casa onde ele vivia, muitos livros, espaço pequeno. Estive lá algumas vezes para conversar, saber como ele estava e levar algumas frutas. Dom Hélder estava sempre pronto a acolher quem chegasse, tinha sempre as portas de sua casa e de seu coração abertas. Foi assim até seus últimos dias. O que trago em mim dessa experiência e tento pôr em prática na vida religiosa é a coragem, a confiança, a experiência de oração e o amor à palavra de Deus. Neste ano em que se comemora o centenário desse grande homem, temos que aprender todo dia com seus ensinamentos e sua simplicidade. *Irmã Elda é coordenadora do Serviço de Orientação Religiosa do Santa Cecília
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E SUA LEITURA, COMO VAI?
Esta inusitada vontade de compartilhar a minha experiência veio da necessidade de desmitificar a visão que tinha, assim como a maioria das pessoas têm, de que o hábito de ler origina-se da “aptidão” ou da habilidade que se nasce para o português. Acompanhando os projetos do Santa Cecília com a Oficina de Escrita, Sala de Leitura, Criações Literárias e até mesmo na descrição que os alunos fazem durante os relatórios no laboratório de Ciências é que se percebe o espaço que é oferecido para propiciar a quebra de tais rótulos e concluir que não é bem assim. Através desses projetos, os estímulos, a direção, o foco... Tudo envolve o aluno e o coloca em um processo natural de gosto pela leitura e escrita. Envolve-o para expor graficamente o que acontece, extrair de livros a sua essência, ter vontade de escrever... Envolvida neste clímax, senti a necessidade de fazer algo para compartilhar as ideias e daí ocupar o espaço no Interatividade.
*Irani Meireles Como participei desta experiência de incentivo à leitura e à escrita? Vendo os trabalhos dos professores, comungando do sentimentos dos alunos quando suas produções eram escolhidas para o livro Criações Literárias (quão orgulhosos ficam, ficamos!), observando a clareza e objetividade nos relatórios, percebendo a maturidade nas ideias. Isto não vem de graça. Sempre brinco: as universidades devem nos agradecer, pois o aluno chega prontinho. Já sabem realmente descrever uma hipótese, definir objetivos, escrever o que pensam... Não foi esta a minha experiência e de muitos colegas de faculdade. O interesse por escrever neste espaço vem das descobertas e desejos originados de uma boa leitura, não queria ficar só comigo. Essa é a magia! E por que não começar por um livro produzido por um de nós, do clã Santa Cecília? Em meus encontros com a leitura, deparei-me com o livro “O Confessor”. Numa tarde, um ócio e um anseio por fazer alguma coisa gostosa e sem compromisso me fizeram pegar o livro, comecei a folheá-lo. Entre um capítulo e outro, a trama foi-me envolvendo de tal modo que, mesmo antes de terminar o livro, senti a necessidade de compartilhar as ideias que estavam se formando e a minha impressão. Coisa que nunca tinha feito antes, só que desta vez foi diferente e eis aqui o meu comentário. O que se pode falar sobre um livro cuja leitura lhe instiga a cada capítulo? Assim é “O Confessor”, envolve você em tramas de emoções. Desde uma intrigante ansiedade em querer quebrar preconceitos, de que o bem vença o mal, até uma emocionante viagem de detalhes geográficos que nos faz sentir em diversos lugares descritos, de Fortaleza às cidades europeias... Sem falar na riqueza de um olhar sobre a arte, história e até mesmo biologia... um banho de cultura. Finalizo dizendo que o livro nos traz uma daquelas experiências de leitura que, quando se começa, até o telefone que toca para você causa raiva por não querer ser interrompido... é um não querer parar, chegar ao fim e, mesmo o almoço de final de semana, é um incentivo para olhar o relógio e sentir que está se aproximando a hora e você querer continuar... Comentando com uma colega, que também estava lendo o livro, da dificuldade de parar por causa dos afazeres diários, ela me perguntou como eu conseguia, pois ela não interrompia... É assim que a gente se sente ao ler este livro... Não quer parar... embriaga-se com diferentes prazeres, sentimentos... Que bom ter passado por esta experiência! Aí está a minha primeira dica. E você, como vai sua leitura? *Irani Meireles é professora do Laboratório de Ciências
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AFETO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Dia de aniversário na sala da professora Estela Chagas ganha outra rotina. Além dos “convencionais” presentes, do bolo, das velinhas, os aniversariantes se concentram para receber dos colegas um bem ainda mais precioso: orações, desejos de felicidade, de paz, abraços... Isso é só uma das muitas formas de se trabalhar o afeto na Educação Infantil. “Na sala de aula, a afetividade perpassa todos os momentos. Na hora de ensinar a tarefa, de lanchar, no exercício de escuta diário. Mas é importante salientar que o afeto não nega a frustração, o dizer não. O afeto e a firmeza caminham juntos e fazem parte do crescimento”, salienta Estela, que ressalta ainda a importância do trabalho de corpo na afetividade com os exercícios de dramatização, as músicas, a imitação dos animais etc. São 15 anos de experiência com crianças de três a quatro anos. A auxiliar de sala Sandra Gonzaga sabe como poucos decifrar sentimento através do gesto. Só pela forma como os pequenos se comportam, ela sabe interpretar o que passa pelo coração. “As crianças são muito diferentes, algumas são mais mimadas; outras, mais carentes, pela ausência dos pais; outras, muito alegres. Mas todas elas se expressam para ter carinho e atenção. Não troco essa fase dos três anos por nenhuma outra: é quando estão querendo conhecer tudo, fazendo suas próprias descobertas, são curiosas”, diz Sandra, que também reconhece no limite uma forma de carinho. São muitas as histórias que ela saca da memória. Ela se orgulha de esbarrar nos corredores com as crianças já crescidas, mas que conservam o mesmo carinho.
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“É através do afeto que estabelecemos as primeiras relações com a criança e com os pais. Cada criança merece um olhar diferenciado, exige uma forma de conquista e o desenvolvimento afetivo se dá de muitas maneiras: através dos jogos, das brincadeiras simbólicas, da ludicidade, das intervenções pedagógicas”, ensina Lilia Rios, professora do Infantil 3. A cara de menina não esconde a segurança no discurso e a empolgação ao definir no avanço, no desenvolvimento das crianças a sua maior recompensa. “Nunca uma aula de Educação Infantil é a mesma. Tem sempre uma descoberta, vem sempre algo novo e a gente nunca volta para casa do mesmo jeito”.
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CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2009 Com o lema “A paz é fruto da justiça”, a Campanha da Fraternidade 2009 põe em evidência um dos mais delicados problemas sociais do Brasil. A CNBB, de forma ousada, instiga-nos a refletir sobre as causas e efeitos da violência e como sociedade e poder público vêm tratando a questão. O Santa Cecília mergulhou na discussão que nos acompanha em vários projetos do SOR. “Nos projetos a gente está sempre buscando vivenciar o que a campanha propõe. A segurança pública é uma questão de justiça social, justiça para todos”, é categórico o professor Gilson, que foi buscar nas nossas origens de colonizados e miscigenados as explicações para tamanha desigualdade. “É preciso mergulhar nas causas que nos levam a tanta insegurança e as soluções são muito mais profundas do que aumentar o muro de casa”, diz. Estratégias para pôr fim aos abismos. No Serviço de Orientação Religiosa, o SOR, alguns projetos colocam nossos alunos em contato com realidades bem diferentes da deles. É o caso do Geração, projeto no qual alunos passam a conviver com outras crianças e adolescentes atendidos em instituições. “Quando visito um lugar de crianças carentes, dou mais valor a todas as oportunidades que tenho. Procuro levar a eles o meu carinho porque eles são muito carentes de afeto. Eu entendo que é preciso contribuir e se envolver porque direitos e deveres devem existir para todo mundo”, diz Amanda Girão (9º ano B). “É a partir de pequenos gestos que a gente pode viver em um mundo mais justo. Tenho aprendido a aceitar as pessoas do jeito que elas são, sem discriminação, sem importar a classe social”, reforça Raissa Corrêa (9º ano B). Lições que já devem ser aprendidas na infância. As crianças do 3º ano traduziram em singelos desenhos as suas visões de paz. “Os desenhos são resultado de uma reflexão mais ampla que eles fazem a partir da Campanha da Fraternidade. Em seus traços eles apresentam suas ideias de transformação para que se viva em um mundo melhor e são saídas que passam pelo coletivo”, diz a professora Luciana de Souza, de Ensino Religioso.
Raissa Corrêa - 9º ano B
Amanda Girão - 9º ano B
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o mundo da arte
CENTENÁRIO DO PATATIVA DO ASSARÉ
Cadê aquele cabra do sertão?/ Aquele que ali vivia? O que tinha uma enxada na mão/ e que fazia poesia? O verso do poema de Maria Clara Fernandes (8º D), um dos vencedores do Concurso de Poesia, na categoria Versos Livres, vai no coração. O nosso “poeta-passarinho”, nascido em Assaré, no sertão cearense, imortalizou-se pela grandiosidade de seus versos e pelo amor ao sertão. No ano em que se comemora o centenário do Patativa do Assaré, o Santa Cecília tira o chapéu e se curva ao poeta que cantou a dureza e a beleza da vida agreste. “Todo ano a Semana da Poesia é dedicada a um poeta, para que ele seja homenageado e os alunos possam se aprofundar na sua obra. Na categoria Versos Livres deste ano, eles tiveram que pesquisar vida e obra do Patativa e compor poemas que trouxessem essa história de vida. Na categoria Desenhando a Poesia, o desafio era ‘traduzir’ os versos em imagens, a partir dos desenhos”, detalha Sâmia Araújo, coordenadora da área de Língua Portuguesa. Ressalte-se que a escolha de imagens e versos seguiu o maior rigor. Os vencedores das poesias só foram conhecidos pela própria comissão julgadora depois da seleção final e, nos desenhos, além de se bater o martelo pelo site, o critério não era a técnica, e, sim, a melhor representação do poema de Patativa, a capacidade de imaginação. São essas imagens que ilustram esta página.
SOU CABRA DA PESTE... O centenário do Patativa também é matéria-prima para as boas invencionices do professor de Artes Ferreira Junior. Os alunos do 1º ano do Ensino Médio vivenciaram obras do poeta e, como culminância, produzirão um filme (Movie Maker) com a poesia “Sou Cabra da Peste, sou do Ceará”, em parceria com o Laboratório de Informática. “As equipes importaram imagens e músicas para compor seus filmes, que serão apresentados numa programação que contará ainda com um Recital inspirado na poesia que serviu de tema para a montagem do filme”, diz Ferreira. Quer mais detalhes? Leia o artigo do professor Ferreira que está disponível no site do Colégio. Antônio, um nome comum Mas com talento igual ao seu Não se viu homem nenhum Um nordestino com orgulho, com amor Um assíduo defensor do lugar que o criou Quando pequeno tinha memória de elefante, Fazia seus versos e não os esquecia um só instante. Débora Tomé de Sousa – 2º ano B do Ensino Médio
Patativa fez muitos livros, como “Cante lá que eu canto cá” Também fez poemas, como “Vaca Estrela e boi Fubá”. Infelizmente faleceu aos 93 anos, só não podemos esquecer que o centenário vai completar. Pedro Soares Magalhães – 7º ano G
DA TEORIA À PRÁTICA
Imaginem uma cena impensável (ou pouco provável): crianças da Educação Infantil, de diferentes idades, reunidas em um auditório de escola, absolutamente concentradas em uma apresentação na qual quem dá as ordens é a poesia. Mais precisamente, os versos de Cecília Meireles. Depois, pense em um adolescente tecendo
elogios à funcionalidade da geometria espacial. Com um pouco mais de esforço, você poderá visualizar o frisson em sala diante de uma aula sobre zootecnia, sobre a política dos organismos internacionais, sobre características paisagísticas, sobre a variação pluviométrica na cidade de Fortaleza. Tem também adolescente apaixonado pelos versos de Augusto dos Anjos. Do que estamos falando, afinal? De uma pedagogia que se faz dinâmica, sensível à conjuntura, à velocidade dos fatos, às demandas de um mundo em constante transformação. Nas páginas que se seguem vamos contar um pouco das experiências do Santa Cecília que escapam dos muros da Escola, invadem nossos cotidianos e fazem de nossos alunos sujeitos críticos e transformadores deste lugar que habitamos.
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ATENTOS A UM
Foi-se o tempo em que se debruçar sobre um livro de geografia era decorar os afluentes, trazer na ponta da língua os Estados da Federação, era citar os limites geográficos... Geografia, história, ciências hoje são conteúdos que se fazem de forma dinâmica e crítica. Estudar, por exemplo, os países desenvolvidos sem pensar no papel da União Europeia, nas crises econômicas e nos movimentos migratórios e o preconceito com os imigrantes é tarefa impensável. “Os livros didáticos que adotamos, como Geografia Crítica, já não trazem o paisagismo como principal; as questões sociais ganham relevância, o que torna o conhecimento muito mais dinâmico e contextualizado”, explica Robério Menezes, professor de Geografia do 9º ano ao Ensino Médio. Nesse sentido, estudar Geografia Geral é refletir sobre questões físicas, humanas e econômicas. É pensar a política e seus organismos internacionais e se implicar na gravidade das questões ambientais. “É impossível você não crescer participando de bons debates. Começamos falando dos recursos naturais e acabamos na intransigência de alguns países que não querem abrir mão das energias sujas. Claro que isso tem implicação na nossa vida e no nosso cotidiano!”, é enfática Camila Pessoa, aluna do 3º ano do Ensino Médio, uma das mais engajadas nas discussões políticas e ambientais. O meio ambiente, por sua vez, é matéria interdisciplinar e alcança diferentes níveis na Escola. Enquanto no Ensino Médio o professor Robério traz ao centro dos debates questões como o uso do biodiesel, os transgênicos, a agricultura familiar, os combustíveis limpos... no Ensino Fundamental I, os pequenos viram agentes do clima. Diariamente, dois “meteorologistas” do 4º ano saem da sala para fazer a medição do tempo, utilizam-se do pluviômetro, preenchem o calendário do tempo e vivenciam, na prática, as mudanças climáticas. “As aulas são bem divertidas porque somos nós que registramos os milímetros de chuva, observamos e pensamos nas consequências se chover muito ou se não chover nada para as pessoas que moram em lugares sem segurança”, explica melhor Maria Eduarda Pontes (4º A). “Além de instigar o conhecimento científico dos alunos sobre a crise ambiental a partir de reportagens e textos científicos, a gente procura trabalhar com eles soluções simples que envolvem mudanças de hábitos como trocar o ar-condicionado pelo ventilador e diminuir o consumo”, ensina Alexandra Mara de Lima, professora do 4º ano.
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MUNDO EM MUTAÇÃO VIAGEM PELAS HISTÓRIAS “A melhor forma de viajar e conhecer o ser humano é pela literatura”. Assim, a professora de Literatura do Ensino Médio Aída Medeiros inicia a nossa conversa sobre o indescritível mundo dos livros e o que ele pode nos abrir de possibilidades. “Não podemos esquecer que, ao mergulhar em um personagem, estamos adentrando na realidade e nas subjetividades humanas, independente de época ou lugar”, continua a professora, uma apaixonada pela literatura universal e que, entre os nossos, cita Clarice Lispector, Lima Barreto e Augusto dos Anjos como os mais assíduos em sua cabeceira. Uma paixão que contagia. Daniel Monte (2º D) não titubeia quando indagado sobre o seu autor predileto. “No momento, Augusto dos Anjos. Estou lendo ‘Eu e outros poemas’ e a sua obra tem sido de grande importância para mim. Acho que é pela sua irreverência”, diz. Daniel acredita que a literatura é também uma janela para se conhecer os costumes, o estilo e o pensamento de uma época. “A gente entende melhor como a sociedade se comportava”. Aída testemunha que, ao contrário do senso comum, a maioria dos alunos gosta de ler e ela se cerca de algumas estratégias para que eles se envolvam ainda mais nesse universo. “Antes de entrar em uma obra, estudamos o autor, o período em que viveu, as influências literárias, a sua própria realidade, porque ninguém fala daquilo que não viveu.
E como não esqueci que fui adolescente, tento me aproximar ao máximo do momento que eles estão vivendo”, entrega o segredo. E se entregar aos personagens não é deleite exclusivo de jovens e adultos. É através da literatura infantil que as crianças se transformam, ampliam seus pequenos repertórios, constituem-se como indivíduos e leitores. “A literatura provoca mudança de comportamento, as crianças passam a exercitar a escuta, a criticidade e a construir novos valores”, depõe a professora da Sala de Leitura da Educação Infantil, Nice. Para tirar melhor proveito da experiência com poemas, contos e outras narrativas, Nice se uniu a duas outras áreas de formação que, aparentemente, não teriam muita relação: Ensino Religioso e Educação Física. “Foi um encontro perfeito para trabalhar os poemas de Cecília Meireles. Eu estou focada mais no texto; a Adriana (Ensino Religioso), na questão do cuidado, dos valores e das virtudes e a Ana Karla, da Ginástica Artística, na expressão através do corpo”.
ACESSANDO O MUNDO É sempre o mesmo discurso: aprender outras línguas ajuda a abrir portas no mercado de trabalho. O professor Luis Ronaldo, de Inglês, adverte que é muito mais que isso. “Não há comparação em ler um texto autêntico, sem passar pelas traduções, para ficarmos no aspecto literário. E do ponto de vista da interação, nem se fala. O aproveitamento de um aluno que domina outros idiomas na EURO, por exemplo, é muito maior do que os que não conseguem se comunicar”. Sensível à mudança de metodologia que deu ênfase ao inglês instrumental, Luis Ronaldo está sempre investindo em novos recursos. Em parceria com o laboratório de Informática, os alunos do 9º ano estão criando pequenos vídeos a partir dos gêneros musicais que mais os atraem. “Eles adoram música, que nada mais é do que um texto rítmico. A interação com as letras faz com que ganhem repertório e aprendam de forma mais prazerosa”, ensina.
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QUANDO OS NÚMEROS GANHAM SENTIDO
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A questão é direta: isso tem utilidade na vida prática? O professor de Matemática do Ensino Médio, Paulo Wagner, passeia com a maior desenvoltura sobre a pergunta. Com muitos anos de sala de aula na bagagem, ele nem titubeia ao se apoderar de um copo descartável sobre a mesa e um pequeno jarrinho em tons de roxo para uma aula rápida sobre volume, que tem a ver com altura, que tem a ver com medidas... A explicação, de tão simples, parece desmoralizar o monstro de garras afiadas que é a matemática para a maioria dos mortais. “Nós estamos fazendo ou descobrindo a matemática? Estamos descobrindo quando enxergamos a matemática que há nos objetos, quando vemos a matemática que há ao nosso redor e atribuímos um sentido àquilo que estamos estudando”, diz o professor que figura entre os mais populares. Paulo Wagner é um incansável. Além de dominar os números com a maior presteza, ele não tem controle sobre sua imaginação, é um inventor de engenhocas mais impensáveis para fazer o aluno “ver” ângulos, encontros entre linhas... O que seria de nós, então, sem a matemática financeira? E o que seria das donas de casa sem uma mínima noção de geometria espacial? “Matemática é uma disciplina cansativa, mas quando você pode usar instrumentos que vão lhe levar àquele resultado fica tudo mais fácil. Parece que as coisas passam a fazer sentido”, testemunha Priscila Carvalho (2º D). Experiência vivenciada na prática. Não é de hoje que
Paulo Wagner percebe o aumento do interesse e notas mais satisfatórias que vêm a partir da experiência prática. “A criação dos objetos tem a finalidade de facilitar o conhecimento e despertar no aluno a motivação para a disciplina. Cerca de 50% dos conteúdos poderiam ser aprendidos em laboratório. Claro que nem tudo tem aplicabilidade direta no dia a dia, mas são usados como ferramentas para o desenvolvimento lógico de outras questões”, detalha Wagner. Fernanda Fernandes (2º D), uma entusiasta das experiências, credita aos objetos expostos em sala parte dos méritos pelo aprendizado. “Fica muito mais fácil de visualizar o que no desenho é quase impossível. E não podemos esquecer que para os profissionais das exatas isso é fundamental”, comenta.
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conhecendo as profissões
Nem todo mundo sabe, mas os corredores do Santa Cecília estão repletos de quem tem com a literatura uma relação muito mais “íntima”. São leitores apaixonados, é certo, mas também aventureiros na criação de suas próprias histórias. A gente pinçou por este espaço da Escola alguns dos que exercem com prazer o ato de escrever. Eles contam um pouco como isso começa e onde vai dar. Tem mais: no site da Escola você vai encontrar alguns escritos desses mestres na arte de contar histórias. “Meu nome é Marcelino, lembra mar, céu e hino. Gosto de cantar, fazer teatro e, agora, escrever. Quando era menino, adorava subir no telhado de casa e fingir ser um monte de coisa: bombeiro, super-herói... E quando chegava a hora de dormir, fechava os olhos e construía minhas histórias antes de sonhar. Depois que João Marcelo, meu filho, nasceu, continuei criando fantasia. Aí veio a vontade de publicar essas brincadeiras de palavras para que todas as crianças pudessem conhecer.” Marcelino Câmara, professor de Artes do Ensino Fundamental “O olhar inquieto insiste em não ver as coisas como a simplicidade apresenta, a essência ansiosa, a necessidade de desmantelar o óbvio, a relação passional com as letras... antes da formação acadêmica, a literatura já era motivação vital. Iniciei com poesias, depois passei por outros gêneros: romance, contos, crônicas e ensaio. Ganhei prêmio da ABL, depois sosseguei. Em 2008, retornei ao mundo da Literatura, ganhei de volta um brilho na alma há muito não sentido. Meus grandes livros estão inacabados, talvez nunca os conclua, as reticências sempre me foram mais charmosas que o ponto-final...”
“Desde criança, adoro ler. Sempre tive paixão pela leitura e isso me motivou também a escrever. Na adolescência, tomei gosto pela poesia. Minhas poesias versavam sobre as decepções amorosas da adolescência ou por paixões platônicas. Hoje escrevo poemas mais maduros, sem perder o que penso ser a essência da poesia: um retrato fidedigno das impressões de nossa intelectualidade, de nossa alma. Pretendo que seja um hábito constante em minha vida.” Fernando Luiz, professor de Física do Ensino Médio
Jefferson Peixoto, do Setor de Comunicação - Gráfica
“Acho que descobri a poesia em 2006, no meu Colégio, nas aulas de Filosofia. Estou quase sempre com um livro na mão e várias ideias na cabeça. Leio todos os tipos de livros, sempre me interessei por escrever. Até lancei um pequeno livro, fotocopiado, quando era da Educação Infantil. Depois participei de duas antologias: no Santa Cecília e no Diário do Nordeste. Meu primeiro livro publicado chama-se ‘No mundo da Lua’.” Diego Andrade (8º C)
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Equipe do Diga Lá
O QUE É O DIGA LÁ Definir o Diga Lá é mais difícil do que pode parecer. Indo pela etimologia dos termos, “diga” vem do latim dicere, que significa expor. Já “lá” vem do latim illac, significando ali. Mesmo sendo esta uma conclusão bastante interessante, não é exatamente como “expor ali” que o Diga Lá pode ser definido. Muitos dos que fazem parte da comunidade do Colégio Santa Cecília já devem ter ouvido ou visto algo referente ao Diga Lá. Uma matéria aqui na Interatividade, uma cobertura exposta no site da Escola, um debate realizado por esse grupo de nome instigante... Mas, o que realmente é o Diga Lá? Semanalmente, um grupo de alunos do Santa Cecília se reúne em uma sala do Setor de Comunicação para discutir os mais diferentes temas da atualidade. Munidos de muito senso crítico e disposição, essas mentes pensantes se unem à jornalista Janaína de Paula para debater os assuntos relevantes ao mundo. Este é o Diga Lá, “uma renovação a cada semana”, como completou a ex-participante Camila Mont’Alverne, hoje do 3º ano. Talvez não seja muito fácil entendê-lo dessa forma, mas só se compreende realmente a essência do grupo ao fazer parte dele. O Diga Lá surgiu em 2004 como uma frequente reunião entre monitores de sala, mas não demorou muito a ganhar a cara que tem hoje. Sendo aberto aos alunos interessados principalmente em comunicação, o grupo é formado basicamente por gente do 9º (Ens. Fundamental), 1º e 2º ano (Ens. Médio). À medida que os anos vão passando, o Diga Lá vai se renovando com a saída dos membros mais velhos e a chegada de membros mais novos. Os próprios veteranos são responsáveis por convidar novos integrantes e, assim, manter o ciclo natural do grupo. Para Camila, que conviveu com quatro formações diferentes do Diga Lá, “é uma novidade a cada formação”. E diz ainda: “é muito satisfatório ver que fomos ganhando respeito e notoriedade do Colégio a cada renovação, afinal, não deixamos de ser um canal de interação entre o institucional e o corpo discente”. E mesmo com todo dinamismo do grupo, é inevitável a formação de laços entre os integrantes, “afinal, são aquelas pessoas
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diga lá
com quem você vai passar um tempo discutindo toda semana”, afirma Camila. Hoje, fazem parte do Diga Lá: Ana Luiza, Bruno, Cesar, Erick, Hanna, Juliana, Wendy, Rafaela, Raissa. E são esses integrantes que mantêm com desenvoltura – a exemplo do que foi feito pelas formações dos anos anteriores – seus espaços aqui na revista Interatividade, no site da Escola e no blog do grupo, sendo este último o local onde são expostos na íntegra todos os textos produzidos. Atualmente, o Diga Lá também atua como meio de divulgação dos projetos da Escola e interage com vários setores para realizar eventos interessantes à comunidade do Santa Cecília. Tentando sempre ampliar sua percepção aos acontecimentos que ocorrem em nossa cidade, o grupo também traz figuras de fora da Escola para entrevistas e discussões mais aprofundadas sobre uma temática específica, a exemplo dos debates com os candidatos ao Governo do Ceará (2006) e à Prefeitura de Fortaleza (2008). Ocorrendo paralelamente aos horários normais de aula, o projeto do Diga Lá só vem a acrescentar na formação educacional e humana dos alunos, que estimulam uns aos outros a aguçar o senso crítico e perceber o quanto se pode fazer pelo mundo. Sentar, mesmo que semanalmente, para discutir o que está acontecendo pelo globo atiça nos jovens um sentimento que há muito vem sendo sufocado, abafado por um sistema competitivo e desigual: o de lutar por um mundo melhor. E mesmo saindo do Diga Lá, o jovem leva uma bagagem incalculável, como coloca Camila: “É até doloroso falar assim de fora, mas fica a lembrança das discussões, dos eventos, o primeiro contato com o 'jornalismo' e, principalmente, a esperança de um mundo mais igualitário pela transformação das pessoas”. De nada adiantaria se as reflexões sobre os grandes temas da atualidade morressem numa mesa do setor de uma escola. É por isso que o Diga Lá converge em diferentes mídias. É por isso que o Diga Lá existe. E é por isso que o Diga Lá vai continuar existindo. Não deixe de acessar o blog do Diga Lá: www.digaaqui.blogspot.com
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estamos no jogo
ENTRE A LEVEZA E A PRECISÃO
Não há quem não prenda a respiração ou não perca o fôlego diante da precisão e do limite tênue entre um movimento perfeito e a queda que as apresentações de ginástica nos provocam. Quem nunca ficou hipnotizado diante da TV durante os Jogos Olímpicos acompanhando as piruetas de Daiane dos Santos e torcendo para que ela chegasse ao alto do pódio? Mas por trás da perfeição daqueles movimentos há muito o que saber e dizer sobre a ginástica. E é pelos grandes benefícios desses exercícios que o Santa Cecília adotou, a partir deste ano, duas modalidades de ginástica: Olímpica (artística) e Rítmica. A partir dos 7 anos, as crianças podem se matricular nas aulas de Ginástica Olímpica, que acontecem às terças e quintas (das 15h10min às 16h). “Trata-se de uma modalidade esportiva que trabalha força, flexibilidade, coordenação, consciência corporal, agilidade, reflexo, destreza e equilíbrio”, explica a professora Ana Carla Araújo, que é formada em Educação Física, tem especialização na área e já foi atleta de ginástica. Ela põe por terra alguns mitos que envolvem o esporte: o primeiro deles diz respeito à estatura. “Essa história de que o atleta da ginástica não cresce é um equívoco. Cada esporte exige um biotipo, como o vôlei pede atletas bem altos. Para executar os movimentos na ginástica, quanto menor a estatura, menor o atrito, o que facilita e por isso há uma procura maior pelos mais baixos. Mas isso é para atletas de ponta. Nos nossos treinamentos não há nenhuma interferência no crescimento dos alunos”, diz Carla. Outra preocupação comum diz respeito à segurança. Não por acaso o Santa Cecília é uma das escolas melhor equipadas e os treinos são feitos no tatame: “Trabalhamos os elementos básicos com prioridade para os exercícios de solo. Desde o início trabalhamos a concentração e a execução técnica perfeita, isso é que nos garante segurança. Além disso, os exercícios são individuais, com o acompanhamento direto dos professores. E os outros aprendem também a garantir a segurança do colega. É um esporte individual, mas com um profundo sentimento de grupo”, arremata Ana Carla.
GINÁSTICA RÍTMICA Exclusivo para as meninas, a partir dos 5 anos, as aulas de ginástica rítmica acontecem às segundas e quartas (das 14h às 14h50min e das 14h50min às 15h40min). “É uma atividade desportiva de infinitas possibilidades de movimentos corporais, realizados fluentemente em harmonia com a música e coordenados com o manejo dos aparelhos próprios dessa modalidade olímpica, que são a corda, o arco, a bola, as maças e a fita”, define Vera Quinheiro, professora do Colégio. Praticada apenas por mulheres em nível de competição, não há idade limite para finalizar a prática desse desporto e as competições podem ser individuais ou em conjunto (cinco ginastas ao mesmo tempo). As exigências de rendimento são altas desde as categorias menores e há um elevado grau de exatidão na realização de elementos complexos, o que obriga a ginasta a treinamentos intensos e diários. Esforço recompensado. “A Ginástica Rítmica desenvolve graça e beleza em movimentos criativos que são traduzidos através de expressões pessoais e possui uma forma artística que proporciona prazer e satisfação estética aos que a assistem”, conclui Vera. 2009 É O ANO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
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entrevista
A entrevista com o poeta Manoel de Barros foi muito mais prazerosa que se perder num parque de diversões, cair numa montanha de jujubas, que tomar banho de chuva... Um prazer que foi se dando a conta-gotas...O primeiro contato foi por intermédio de sua doce assessora, Elaine. Ele tem 92 anos! Nada mais justo que recuse os convites para as infindáveis entrevistas que lhe solicitam Brasil afora. Tínhamos uma carta na manga: nada de jornalistas, pesquisadores e afins com suas questões ditas bem elaboradas. Aqui, quem estaria com a palavra eram as crianças. E o poeta que nunca “perdeu o umbigo”, topou responder aos pequeninos. Veio a segunda etapa do deleite: meninos e meninas, entre 7 e 12 anos, em volta dos poemas, a recitar, a gargalhar, a fazer cara de ponto de interrogação. O resultado está aí, nas dez perguntinhas que se seguem e na sensação de eternidade ao testemunhar a conversa do poeta com seus pequenos leitores. Para usar das imagens de Manoel de Barros, o que senti com esta entrevista foi uma festa de carnaval rolando bem no meio da minha barriga! Santa Cecília – A sua poesia é muito estranha, confunde a gente, é sobre coisas incomuns! Por que você quis ser poeta? (Isaac Morais, 9 anos) Manoel de Barros – Eu não quis ser poeta quando ainda estava no ventre da minha mãe, de repente nasci e não me desliguei da vida uterina. Eu acho mesmo que estou poeta porque meu umbigo ainda não caiu. Eu estou a escrever um novo livro e quero dar a ele este nome: A infância da palavra. SC – Como você cria essas palavras estranhas? (Marcela Cristino, 10 anos) MB – Eu penso que escrevo alguma palavra diferente porque no ato de escrever há uma exigência rítmica e uma exigência harmônica. Então na hora em que estou escrevendo preciso completar o ritmo ou completar a harmonia. Então pode me surgir uma palavra estranha que completa tais exigências. SC – O que você sente quando está escrevendo? Como é escrever sobre coisas abstratas? (Ana Marta Vasquez, 12 anos) MB – Eu não gosto de escrever sobre coisas abstratas. Eu invento imagens. As imagens devem expressar o concreto. Por exemplo: “Eu vi a tarde correndo atrás de um cachorro”. A imagem parece abstrata, mas, se a sensibilidade ajuda, você vai ver a tarde com pernas correndo atrás do cachorro. Poesia pede sensibilidade. SC – Por que você fez um livro inteirinho sobre nada? (Roberto Cavalcante, 9 anos) MB – Eu havia lido um livro sobre o escritor francês Gustavo Flauber, e o livro que eu estava lendo falava que Flauber se mantinha só pelo estilo. Eu queria me manter só pelo estilo, mas transbordei. Meu livro sobre nada tem tudo por dentro e por fora.
Daniel: 1o lugar em Medicina na UFC - Fortaleza
SC – Quando leio as poesias, vejo o vento carregando o bêbado e a neblina rosa que sai do perfume.E você, o que imagina, o que vê quando escreve? (Lara Aguiar, 10 anos) MB – O que eu imagino você poderá imaginar. O bêbado há de ser um bêbado normal, mas como ele está bêbado quem o conduz para casa é o vento. O vento foi humanizado e assim pode pegar no bêbado e levá-lo para casa. SC - É possível você fazer para a gente uma poesia com espelho, caixa, cachorro e brinquedo? (Stella Bezerra, 10 anos) MB - “Vi um cachorro em frente do espelho O cachorro se achou feio e entrou na caixa de brinquedo. Acharam depois uma caixa que andava dentro da sala.” Não ficou bom o poema porque eu não sei improvisar.
SC - O que você acha que a gente pode fazer com a imaginação? (Tais Barroso, 7 anos) MB - Com a imaginação a gente pode fazer as imagens mais absurdas como esta: “Eu vi uma calça de vento dependurada no arame. Quando eu quis pegar a calça ela era de vento.” (isso é um despropósito da imaginação). SC - Se você morasse na cidade, suas poesias seriam diferentes? Você se sente isolado no Pantanal? (Julio e Lara) MB - Eu vivi até os nove anos no Pantanal. Depois vim estudar na cidade. Morei no Rio de Janeiro até 40 anos. Eu conheço outras cidades do mundo. SC - Você gosta de viver? Gosta de ver o mundo do jeito que você vê? (Julio Biasoli, 12 anos) MB - Não gosto. Gostaria que a gente vivesse na boa paz, sem ameaça de bomba atômica, sem pessoas doentes. Que todos fossem saudáveis e alegres. SC - Você topou dar entrevista para a gente por que a gente é criança e tem mais imaginação? (Bruno Enéas, 7 anos) MB - Acho que sim. Eu agora tenho 92 anos. Mas estou ligado à mãe-terra e à mãe-água. Sou incluso de sapo, é de águas.
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estamos em sala
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NÚMEROS
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Aula de matemática ou brincadeira infantil? Uma coisa e outra. No 4º ano do Ensino Fundamental, aprender matemática é sinônimo de diversão. Em vez da dureza dos números, os alunos se debruçam sobre as operações através de jogos e brincadeiras. A criatividade é a principal munição e os materiais de sucata dão vida aos jogos e estratégias. O bate-papo com a professora Mayre Oliveira, uma das “inventoras” da metodologia, é quase um deleite. Ela chega como uma ilusionista e vai tirando da “cartola” caixas de ovos, EVAs coloridos, tampas de refrigerante e, como num passe de mágica, vai dando sentido à tabuada, às medidas, às proporções, às quantidades. Dá vontade de voltar no tempo e aprender o que para mim sempre foi um bicho de sete cabeças. “A matemática não é estática, é viva, dinâmica, faz parte da nossa vida. Existem várias possibilidades para se chegar ao resultado de uma operação, não existe uma única forma”, empolga-se Mayre, a inquieta professora que não para de reinventar sua própria metodologia. O resultado é que todo mundo se diverte e sai com o conteúdo na ponta da língua. “Eu detestava matemática e hoje é minha matéria favorita. A gente
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aprende rapidinho quando tem uma professora que sabe simplificar as coisas”, depõe a articulada Maria Fernanda (4º ano A). “É muito bom aprender brincando. Essa visão que as pessoas têm de que é muito difícil não corresponde à realidade”, reforça André Bastos. A lição é compartilhada com os pais. A matemática foi tema de uma das edições do Projeto Participais. “Na turma em que participei, sob coordenação das professoras Dalice e Mayre, notei uma dinâmica diferente e prazerosa, de forma tal que nos meus cinquenta anos de idade ainda aprendi matemática e, o mais importante, de uma forma relaxada e brincando”, escreveu Francisco Leite. A professora Adalicinha Viana, a Dalice, que também aposta na metodologia diferenciada, ressalta a importância da parceria com a família. “A nossa geração aprendeu de uma forma mecânica, única e acabada. É importante envolver os pais, que ensinam as tarefas em casa, nessas outras possibilidades de aprendizado. É preciso ensinar acreditando nas potencialidades, vendo cada aluno como um ser único, de forma dinâmica, prazerosa e encantadora”.
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espaço damas
A situação pode estar difícil, mas o cearense sempre encontra uma piada. Naquela fila longa do banco em que qualquer pessoa se aborreceria, o cearense solta aquela piada. Todos vão às gargalhadas, o tempo passa e a vida vai ficando mais leve. É assim, de braços abertos e sorriso largo, que o Colégio Santa Cecília receberá o VI Seminário Damas de Educação. O encontro acontecerá em 2010, entre os dias 21 e 23 de janeiro, no Centro de Convenções, reunindo participantes das escolas e faculdade Damas de todo o Brasil. Os palestrantes trazem, sobretudo, experiências essenciais em educação. Vão deixar caminhos, sonhos, embalando-nos com esperança de uma educação engajada com os valores e com a excelência. Durante o Seminário Damas, o Ceará vai ser universal. A terra dos mestres da cultura, de Seu Lunga (personagem popular sempre com respostas desconcertantes), dos caranguejos às quintas-feiras, da noite festiva, da jovialidade, de um povo realmente hospitaleiro, terá sua alegria patenteada por cada um dos participantes. O Ceará é assim, como canta o Fagner, terra de Iracema dos lábios de mel, de lindas praias, das velas do Mucuripe, da serra de Guaramiranga ao sertão, com seu povo valente, eternizado por Patativa do Assaré, que revela a sua terra como ninguém, para tornar-se global como a Sorbone de Paris. Assim como o Ceará, receptivo ao circo tupiniquim, às novas experiências na arte, na comunicação, na dança e na literatura, o Colégio Santa Cecília abre-se à troca de conhecimentos sobre educação, em um momento muito especial: a abertura do ano de preparação do seu centenário. É com esse evento divisor de águas na educação que o Santa Cecília começa sua caminhada rumo ao seu centenário em 2011. Façam suas malas e venham. Venham e estiquem suas férias. Sejam todos bem-vidos ao Ceará! Ivan Guimarães - Coordenador do Setor de Comunicação
PROGRAMAÇÃO 21 de janeiro Noite: Abertura do evento, às 19h, no Centro de Convenções de Fortaleza 22 de janeiro Manhã Palestra: Escola e convivência democrática Palestrante: Ulisses Araújo Local: Centro de Convenções Tarde Saberes Docentes: Relatos de experiência Local: Colégio Santa Cecília 23 de janeiro Manhã Mediação dos Conflitos Conferencista: Valéria Arantes de Araújo Local: Centro de Convenções Tarde Ciclo de Conferências Local: Centro de Convenções Educação e Espiritualidade Conferencista: Carlos Tursi Virtudes Intelectual e Vivencial Conferencista: Custódio Almeida Sensibilizando olhares Conferencista: Lourdes Macena Motivação/Relacionamentos Interpessoais Conferencista: Cláudia Buhamra Celebração de Encerramento
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nos corredores
EM QUE COMUNIDADE EU NAVEGO? Cada vez mais, constatamos que as novas tecnologias de comunicação transformaram o espaço que conhecemos e também as estruturas da sociedade. Nesse processo, a Comunicação Mediada por Computador (CMC) contribui com um número grande de modificações para o meio. Em função disso, o conceito de comunidade foi transferido para os novos fenômenos sociais, principalmente os agrupamentos que acontecem no ciberespaço. É importante ter claro que as comunidades virtuais são um processo de comunicação bastante utilizado no ciberespaço, desde o seu início na década de 70, como grupos de discussão que simulavam as que conhecemos hoje, as salas de bate-papo, chats, páginas pessoais. Esses processos de comunicação são fontes importantes de sociabilidade na internet. Através delas é possível transmitir uma grande quantidade de palavras, imagens e sons. Antes de nos determos nas comunidades virtuais, vamos entender um pouco a forma mais comum de troca de mensagem no ciberespaço: o e-mail. Esse mecanismo de comunicação eletrônica permitiu uma comunicação mais rápida e com uma linguagem informal, de acordo com cada tribo, como também podendo ser escrito de forma mais elaborada, mais formal, por exemplo: memorandos, cartas, solicitações de serviços etc. O termo comunidade passou por várias evoluções. Ele vai desde o ideal de família, as pequenas comunidades rurais, chegando a integrar um maior grupo de humanos. A modernidade e a urbanização tiram de cena as comunidades rurais, dando lugar às grandes cidades. Com o surgimento do computador, da rede mundial de computadores – a internet, também denominada de ciberespaço, possibilitou o surgimento do que conhecemos como comunidades virtuais. Autores como Manuel Castells nos lembram que: As novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A comunicação mediada por computadores gera
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uma gama enorme de comunidades. Para muitos autores, o termo comunidade virtual apresenta várias definições, mas todos têm um ponto em comum, a comunidade virtual necessita de uma base no ciberespaço, um lugar onde a maior parte das interações acontecem. Não esperem que as comunidades virtuais sejam um lugar frio, sem emoção. Nas relações on-line, as emoções fortes estão sempre presentes. Raramente a comunicação na Grande Rede substitui os encontros com contatos físicos, ao contrário, elas funcionam como um provocador de novos encontros, um complemento ou um adicional às relações no universo real, tendo como universo de realização o ciberespaço A interatividade e instabilidade de membros demonstram que a comunidade necessita ser composta por vários integrantes que gerem trocas entre si. Há a necessidade da permanência, a existência em um plano de tempo, para que seus membros possam aprofundar suficientemente suas relações para constituírem uma comunidade. As pessoas precisam sentir que fazem parte de um determinado grupo para que possa ser definido como comunidade. Esse sentimento de pertença é o que caracteriza uma comunidade, uma tribo, uma turma ou uma rede de relacionamento virtual ou não, o que em muitos momentos parece transpassar os limites virtuais do ciberespaço e as relações que foram geradas dentro do universo virtual. Nossa relação com o mundo é interativa, na qual as ações variadas correspondem a retroações mais diversas e essa interação fundamenta toda a vida em sociedade. Porém, ainda não se tem uma resposta unânime sobre os efeitos do uso da internet nas relações sociais. Algumas pesquisas relatam que são positivos, outras que o efeito é negativo. Portanto, em alguns momentos as comunidades virtuais podem levar ao isolamento e o internauta é o principal ator nesse monólogo interativo. Francisco Dantas Damião (Tchêsco) Designer do Setor de Comunicação
Foto: Thiago Gaspar