Revista Interatividade - Ano 5 - Edição nº 10

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ed editorial

É uma mistura de emoção, satisfação, responsabilidade e alegria, extrema alegria de fazer parte deste centenário. Esta edição comemorativa fala de encontros. Prováveis, improváveis, necessários e desejados. Como foi prazeroso o encontro com a família de Dona Almerinda Albuquerque. Mulheres encantadoras, educadas e firmes. De uma memória invejável e uma saúde impressionante. lembrar-nos de cada uma das nossas queridas Irmãs Damas de tantas gerações. Gratidão, gratidão, gratidão. Encontro com os nossos colaboradores e alunos. Onde vocês estiverem saibam que tudo que o Santa Cecília é e será tem muito de vocês, de cada um em especial. Sintam-se amados por todas nós, Damas da Instrução Cristã. Do mais antigo ao atual, em todos os tempos, esta festa é nossa. Olhamos agora para o futuro, ele é motivador. Alegrem-se, sonhem e mantenham sempre a esperança. Duc in Altum!

Ir. Eulalia Maria W. de lima Diretora do Colégio Santa Cecília

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sa saudade

“Estudamos em

Era 1961. Uma Escola nova abria caminhos no ainda pouco povoado Bairro Aldeota. Maristela Menescal lima tinha apenas cinco anos quando entraria para a história do Santa Cecília, ao compor a primeira turma de meninas da nova sede. “Minhas melhores lembranças? Ah, são muitas. O pomar do Colégio, eu adorava! E o jeito maternal das Irmãs com todas nós. Elas me carregavam nos braços como se eu ainda fosse um bebê”. Franzina, a pequena Maristela era das mais comportadas e observadoras. Ainda hoje ela descreve precisamente cada detalhe do cotidiano: “O sino tocava e nós nos postávamos em fila, cantávamos o hino, rezávamos e íamos para

família”

a sala. E sempre que alguém cruzasse com uma religiosa, a mãozinha ia para trás e, com reverência, desejava-se um bom-dia ou uma boa-tarde”. Madres Balbina, Verônica, Teresa Maria, Inês, Josefa... É grande a lista de religiosas da Congregação Damas da Instrução Cristã que marcaram a trajetória da então menina. O figurino é capítulo à parte. Maristela se lembra do avental com nome bordado usado no Primário (ela ainda guarda o bolso como recordação) e do fardamento vistoso das ginasiais: saia de tergal marinho com pregas minuciosamente passadas, suspensórios, blusa de algodão de mangas compridas, gravatinha de laço em gorgorão; e na farda

de gala o algodão dava lugar à seda, luvas brancas e boina de feltro. Pura elegância exposta só em datas festivas como a Coroação de Nossa Senhora. Picolé de grapete, caroço de pipoca, boletim, fotografias, recibos, festa de São João, cerveja choca para armar os cabelos, coleção de santinhos da 1ª Comunhão... A memória é um caleidoscópio. Maristela vai puxando pelo fio histórias de uma vida em família. “O trecho do hino que mais marcou a todas nós é o que diz que estudamos em família. É pura verdade. Nós acompanhamos a construção deste Colégio. No ano em que eu saí estava sendo construído o auditório, e eu me orgulho de ter de algum modo contribuído para isto”.

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Uma Diretora de Uma Escola que faz 100 anos tem muito a contar a todos nós. Era hora de ouvir a Diretora, Irmã Eulalia, uma pernambucana, agora cidadã de Fortaleza (ela acaba de receber o título concedido pela Câmara Municipal), que há mais de 20 anos está à frente deste grande projeto de educação, o Santa Cecília. Mas quem a conhece sabe que Irmã Eulalia não é muito

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ideais

chegada a formalidades, nem a rapapés, e se desdobra para estar sempre perto do alvo preferencial de sua missão: os alunos. São eles, aliás, que a encontram para um bate-papo saboroso. Alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio. Cada um saca da cartola uma pergunta, a que quiser, e lança à Diretora, que, mais uma vez, nos brinda com sua franqueza e simplicidade.

Maria Clara (1º ano - EF) – Como você se sente sendo a Diretora dos 100 anos do Santa Cecília? Irmã Eulalia – Muito feliz e honrada de estar celebrando esta festa de 100 anos. Ao mesmo tempo, me sinto na responsabilidade de trazer no meu coração as emoções de todas as Irmãs que foram diretoras desta Escola, desde a fundadora, Dona Almerinda, e de todas as Irmãs, como Madre Bernadete, Madre Julieta, Madre Verônica, Madre Marie Gabrielle, Irmã Teresa Maria, Madre Chantal, Irmã Jeanne, Irmã Glória e muitas outras que também assumiram esta missão em Fortaleza. Então, eu trago a minha emoção, mas também a recordação dessas grandes batalhadoras, mulheres empreendedoras e ousadas que fizeram parte desta história. Clara (Infantil 4 - EI) – Você gosta do Santa Cecília? Irmã Eulalia – Eu gosto muito do Santa Cecília, sobretudo do nome, que expressa uma docilidade, uma harmonia, uma singeleza e está ligado também à pessoa de Santa Cecília, que foi uma mártir do cristianismo, considerada a patrona dos músicos. Então, ela simboliza arte, harmonia, beleza. Luciana e Ana Clara (4º ano EF e TISC) – Do que a senhora


al alegria

mais gostou nos seus anos de Diretoria? Irmã Eulalia – Primeiro, foi o grande acolhimento que recebi de toda a comunidade educativa do Santa Cecília, tanto dos educadores como das Irmãs e dos alunos. E depois, a equipe com a qual trabalho, que é muito ousada, criativa, compromissada e enxerga muito à frente. Isso ajuda muito a Direção da Escola a refletir, a se guiar nos grandes projetos. E tenho um amor muito grande também aos alunos, que são muito educados, alegres, receptivos. Sinto-me muito gratificada quando estou em outros espaços da cidade e muitos vêm a mim, me abraçam, cumprimentam. O buzinar de um carro, em qualquer lugar, ou, às vezes, até fora, quando muitas vezes eu ainda nem os reconheci e eles chegam na maior alegria. A grande recordação que eu tenho do Santa Cecília é esta permanente parceria com uma equipe comprometida e saber que posso contar com estes alunos, com a grande capacidade e criatividade deles, o que se vê refletido em muitas atividades como a SICE, os projetos sociais de evangelização, as olimpíadas culturais. Isso tudo renova a nossa vida de educadora. João Ricardo (5º ano - EF) – Eu sou uma pessoa meio séria. Por favor, não se assustem com a minha pergunta. Irmã Eulalia,

em um mundo tão corrupto como o de hoje, com políticos tão corruptos e mulheres e homens desobedecendo as

“O maior desafio de uma Direção de Escola é esta realidade que encontramos hoje, adaptar-nos à sociedade, com famílias que pensam de maneira diferente, sabendo dialogar, enfrentar, escutar e responder à multiplicidade de situações que nós temos hoje no nosso mundo.” leis de Deus e as dos homens, como a senhora se sente sendo uma pessoa direita? Irmã Eulalia – A sua pergunta se situa na Missão que nós temos. Como mulher consagrada, minha missão de educadora é acreditar que é possível o mundo se tornar diferente, desde que pessoas queiram mudar a sociedade. A educação traz este objetivo de formar as pessoas integralmente e de podermos com as nossas atitudes e com a nossa vida dizermos que é possível acreditar, sonhar. Os jovens, tão cheios de ideais, têm um papel fundamental. E claro que

há também os políticos sérios, como em todas as profissões, que lutam por uma sociedade melhor. Quando temos um projeto de vida e o vivemos na integridade, é possível mudar as coisas. O jovem de hoje pode ser um agente de transformação na sociedade. João Luis (9º ano - EF) – Qual o maior desafio e prazer de dirigir o Santa Cecília? Irmã Eulalia – O maior desafio de uma Direção de Escola é esta realidade que encontramos hoje, adaptar-nos à sociedade, com famílias que pensam de maneira diferente, sabendo dialogar, enfrentar, escutar e responder à multiplicidade de situações que nós temos hoje no nosso mundo. Então, o desafio é apresentar valores em uma sociedade que muitas vezes não quer esses valores. E o prazer maior de ser Diretora é, para mim, a juventude, quando eu os percebo nessa dimensão de estudos, descobertas, criatividades, realizados em suas profissões. A nossa maior alegria é acompanhar isso e também ver os nossos educadores realizados e acolhidos pelos jovens. Então, a maior alegria é fazer parte de uma comunidade que corresponde ao projeto de educação que nós temos. Bianca (1º ano - EM) – Nos últimos dias, a gente esteve muito centrado no ENEM. Foi

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muito comentado que na véspera do exame, ao contrário de muitos colégios que ainda passavam provões, o Santa Cecília fez uma tarde de reflexão, de preparação. Eu queria saber a importância que o Colégio dá à formação dos alunos como seres éticos. Irmã Eulalia – Você focalizou bem o que é o nosso Projeto Pedagógico. Na SICE, foram apresentados os quatro pilares que sustentam o Santa Cecília: a espiritualidade, o conhecimento, a formação artística e esportiva. Então, essas quatro dimensões da vida curricular da Escola são de suma importância, porque você não pode dar ao jovem de hoje somente conhecimento, sem que esteja

da Escola e isso ajuda na formação do conhecimento. Se estou feliz, aprendo melhor, vivo a espiritualidade, as artes de uma forma bem diferente. Essas dimensões da Escola oportunizam aos alunos, aos educadores e aos pais terem um projeto diferente. O resultado maior é este aluno confiante e respeitoso com os outros, que vive em solidariedade e conhece um mundo que não é só o seu. Natasha (2º ano - EM) – O Santa Cecília vivia muitos desafios quando a senhora assumiu a Direção. Hoje vejo como uma fase de colher os frutos desse processo, desse cuidar, desse ousar, desse celebrar

aliado a uma dosagem de espiritualidade, de valores, para que ele possa ver o mundo de uma forma diferente. Esse é o diferencial do Santa Cecília. A afetividade perpassa todas as instâncias

que vem com os 100 anos. Como está sendo agora colher esses frutos? Irmã Eulalia – A evolução do mundo, da sociedade, da educação implica em mudanças. O próprio lema que está na lo-

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gomarca da farda de vocês diz bem: Duc in Altum, que quer dizer avancem para águas mais profundas. Então a educação tem que se adaptar ao mundo de hoje, sem perder o que é próprio, o que é essencial da sua base filosófica, do seu projeto pedagógico. E a educação está em constante transformação, por isso estamos sempre nos avaliando, buscando nos adaptar ao novo sem perder a essência. Thais (3º ano - EM) – Para nós que estamos no último ano bate muito uma sensação de saudade, de sentir falta de uma coisa que realmente fez parte das nossas vidas, pelo menos para mim, que estudei aqui durante 10 anos. Eu gostaria de saber da senhora, além dessa sensação de saudade, o que a senhora espera do Santa Cecília no futuro? Irmã Eulalia – Essa sensação de saudade é comum a todos nós. O 3º ano traz sempre essa marca de filhos que foram gerados e que agora lançamos para o mundo. São as asas que são cortadas. Para mim, ver os alunos do 3º ano sair da Escola a cada ano é dizer assim: cumprimos o nosso papel, mas vamos ficar de longe acompanhando, apoiando para que eles possam realizar as suas missões de profissionais comprometidos com a ética e com a esperança. E para o futuro, o que nós queremos é que a Escola possa crescer nesta dimensão de oferecer uma educação adaptada ao mundo de hoje, dentro das tecnologias, mas sem perder o


que é fundamental nosso, ou seja, inovar com fundamentação, segurança e certeza da nossa coerência. Gustavo (3º ano - EM) – Tem uma pergunta que é na verdade uma curiosidade de todo mundo. Como a senhora decora o nome de todos os alunos? (risos gerais) Irmã Eulalia – Acho que foi um dom que Deus me deu. Tenho uma facilidade muito grande de memorizar, tenho uma memória visual muito boa. Aqui no Santa Cecília não sei todos, devido à quantidade de alunos, mas vou gravando, e graças a Deus vou conhecendo cada um pelo nome, sobrenome. Para mim é uma alegria, muito importante conhecer as pessoas pelo nome, é a identidade de cada um. Não é o número um, o dois, é o nome

da pessoa que é importante na vida dela. Quando eu entrei na vida religiosa, mudava-se o nome das Irmãs e a minha preocupação era como seria para os meus pais deixarem de

“A afetividade perpassa todas as instâncias da Escola e isso ajuda na formação do conhecimento. Se estou feliz, aprendo melhor, vivo a espiritualidade, as artes de uma forma bem diferente.” escutar o meu nome, porque para eles era super importante, pois eles deram a mim o nome de minhas duas avós. Graças a Deus no ano em que eu passei a ser religiosa isso mudou.

Então, conhecer cada um pelo nome é super importante. Gabriela (6º ano - EF) – Qual é a mensagem que a senhora dá a gente? Irmã Eulalia – Que vocês sejam jovens que tenham ideais, porque sem eles a nossa vida não será feliz. Temos que ter ideais, sonhos e metas que possam perdurar e fazer a nossa felicidade e a dos outros, porque ideal não pode ser só para si, tem que ser compartilhado, aberto para que outras pessoas possam usufruir. Não parem de sonhar, acreditem no potencial que vocês têm e em tudo o que é oferecido a vocês. Quantos jovens não gostariam de ter o que vocês têm. Pensem que são construtores do mundo e poderão contribuir para que o mundo seja bem melhor.

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si

simplicidade

O Interatividade promoveu mais um encontro inusitado para nos brindar neste período de comemorações. O Coordenador Max Roger realiza uma entrevista com outro veterano da Escola, o Professor Bosco. Confiram o resultado deste bate-papo entre personalidades, as quais, mesmo parecendo ambivalentes, têm muita coisa em comum, como, principalmente, o amor pela marca Santa Cecília e pelas inúmeras histórias interessantes a contar.

Uma vida de boas histórias

Max – Quem é o professor Bosco? Bosco – Uma pessoa simples, profissional e que não gosta muito de entrevista. Max – Ótimo, por isso que a gente veio incomodar. Formado em quê? Nasceu onde? Bosco – Nasci aqui mesmo em Fortaleza, na década de 1940. Estudei em Escola Confessional Católica, o Colégio Cearense, até terminar o Ensino Médio. Fiz vestibular em 1970 para a UFC, Curso de Direito. Fui aprovado e cursei Direito até 1975. Enquanto estudava Direito, também fiz um Curso de Especialização em Pedagogia. Na época para dar aulas era preciso ter especialização na área em que você fosse trabalhar. Como eu trabalhava com História, Sociologia, OSPB e Moral e Cívica, procurei essa área e fiz o curso na UECE. Com isso, fui

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chegando nas escolas e vendo que a minha vocação seria levar a Justiça para dentro da sala de aula. Ser professor, mas tendo como meta distribuir a Justiça, o que não é muito fácil. Max – Quando você veio para o Santa Cecília, como era o Colégio daquela época? Bosco – Foi em 1977. O Santa Cecília era uma escola de elite. Nessa época os dois colégios de ponta eram o Batista e o Santa Cecília. A clientela que frequentava o Santa Cecília era filha de grandes industriais, grandes comerciantes, profissionais liberais. Era uma escola feminina. Eu cheguei um ano antes de se tornar um colégio misto. Max – Como era o Colégio fisicamente? Bosco – Era o que é hoje, sendo todo térreo. Não tínhamos estas construções mais recentes

como ginásio de esportes, prédio do 3º ano. As quadras cobertas não existiam, foram chegando à medida que a Escola ia crescendo. Era uma escola plana, com cerca de 800 alunos. Fato interessante: o engenheiro do Colégio dizia que tinha projetado o Santa Cecília para crescer para o alto. Max – E o perfil dos alunos, como era? Bosco – O aluno do Santa Cecília de um modo geral não dá trabalho. Eu sempre digo que quem dá muito trabalho na comunidade educativa somos nós, os adultos, os professores, os coordenadores, os pais. Mas os alunos hoje são mais afáveis, mais amorosos. Naquela época a nossa relação não era muito de afeto. Existia uma distância muito grande entre aluno e professor. Havia também mais respeito, só não sei se conquistado ou imposto.


Max – Quais foram as evoluções mais notáveis na Escola da década de 70 para cá? Bosco – Acho que a Escola começou a cuidar muito do seu profissional, dando a ele um sentimento afetivo que, em regra geral, ele não tinha. Isso é uma conquista de muito tempo. Há também uma preocupação com a formação acadêmica do profissional. Outra coisa é a própria Instituição como comunidade religiosa. Desde que cheguei aqui, percebi que as religiosas do Santa Cecília têm um traço muito comum entre elas, que é a alegria. Como trabalhei em outras escolas confessionais, eu sempre comparava. Além disso, a gente nota que há um empenho de trazer ao Colégio novos equipamentos. Acredito que esses avanços foram muito bem pensados, as coisas nesta Escola não acontecem do nada, são muito bem pensadas, muito bem discutidas e por isso funciona bem hoje. As transformações no Santa Cecília são sólidas. Por isso, o nosso aluno sai da Escola para a vida profissional, mas depois retorna trazendo para cá os seus filhos, netos, como se nada tivesse mudado. Max – Existe um espírito “siciliano”, um caráter que é só nosso? Bosco – Eu acredito que sim. É uma escola ímpar. Eu não a vejo como empresa, mas como um estabelecimento de educação, de formação, embora haja a conotação empresarial. Mas a Escola procura se arraigar aos seus valores, e as marcas do Santa Cecília são indeléveis. Max – Como foi a transição de sala de aula para coordenação? Bosco – Trabalhei um ano como professor e fui convidado na época pela Superiora Madre Marie Gabrielle e pela Irmã Jeanne Marie para trabalhar na coordenação do Santa Cecília, com cuidado especial aos rapazes. Recebemos uma grande quantidade de alunos

e durante algum tempo precisamos usar uma peneira para ficar só com os bons, e realmente foi um trabalho muito duro. Max – Foi a partir daí que começou a se criar o “mito Bosco”? Bosco – Acredito que sim. Tentávamos trazer para o Colégio o que era melhor. Se você não tira o joio, o trigo não floresce. Então era preciso vez ou outra fazer uma poda e, como eu não tinha compromisso com nenhum partido político, só com a direção da Escola, eu assumi este papel de levar para mim este rótulo. Enquanto algumas pessoas permaneciam simpáticas, precisava existir alguém que ficasse com essa missão mais difícil. Mas não eram problemas graves, eram mais problemas de convivência, de temperamento. Max – Você conseguiu ser maior do que o serviço, tornou-se uma espécie de entidade. Hoje é bem menos, mas a frase “faça silêncio senão eu lhe mando para o Bosco” funcionava muitíssimo. Como é que você vê isso? Bosco – Hoje você tem coordenadores que assumem muito bem as salas que coordenam. Naquela época não era missão deles. Então as brincadeiras em sala de aula, situações de falta de respeito tinham a pessoa certa para tratar. Os pais já vinham conversar comigo sabendo que a situação não era muito fácil, que o menino seria punido. Mas isso são outros tempos, muitos desses meninos que frequentaram a minha sala como alunos e tomaram alguma punição por uma bobagem que fizeram depois se tornaram pais de alunos. E eles diziam em casa, “quando estudei no Santa Cecília, eu era chamado”; e os meninos já chegavam na Escola querendo saber quem era a figura. Mas isso foi passando. O que eu posso dizer é que, em todo este tempo que eu exerço a minha atividade, sempre procurei ter a

maior paciência ao ouvir a defesa dos alunos. Antigamente o garoto para se defender contava a história do mundo, hoje em dia não, ele só conta o fato, é mais objetivo, e nós também. Max – O mesmo aluno que foi suspenso ou advertido por você pode chegar aqui na porta e dizer “eu quero dar um abraço no Bosco”. Isso não é um antagonismo? Bosco – Quando a gente aplicava uma punição no aluno, não era só por aplicar. A gente conversava com ele e o fazia entender as razões. Ele acabava descobrindo a bobagem que tinha feito, a falta de atenção na sala de aula... A punição nunca foi dada à revelia. Quando ele sai da Escola, lembra-se das pessoas que fazem parte da história da vida dele e muitos pensam que querendo ou não aquela pessoa acabou lhe ajudando. De uma coisa eu tenho certeza: eu não perdi nenhum aluno que passou por esta Escola. Todos eles voltam com uma história de alegria, de sucesso. No momento em que o jovem é jovem não entende muito, mas depois vem o sentimento de gratidão. Max – Para finalizar, você que viveu quase 40 anos dentro do Colégio Santa Cecília, como enxerga estes 100 anos e os próximos 100? Bosco – É lamentável não estarmos presentes para comemorar os próximos 100 anos. O Santa Cecília é uma Instituição que soube construir cada ano destes 100 anos. Esta Escola teve um alicerce fundado em honestidade, em sabedoria, em amor. Dona Almerinda teve a felicidade de passar esta Instituição a outras mulheres que acreditam nos jovens. O nosso trabalho hoje é sedimentar cada uma destas novas conquistas do Colégio até quando Deus permitir. O meu sentimento neste momento é de muita alegria.

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es esperança

Cidadão do mundo

Cidadão do mundo

“Sempre aluno” poderia ser um verbete próprio do Santa Cecília reunindo os que estudaram aqui e, no entanto, nunca se desligaram. E olhe que são milhares! Um bem-querer que não respeita fronteiras. Há muito o ex-aluno Chiquinho Furlani atravessou o Oceano. Escolheu como carreira o Direito Internacional e hoje atua na Unidade de Estabilização Comunitária da ONU (Organização das Nações Unidas), percorrendo países marcados pela tragédia. Não há nenhum exagero ou afetação de Furlani ao narrar suas experiências em países como o Sudão e o Haiti, este devastado pelo terremoto. Ao contrário, ele se concentra na vida que continua a brotar nesses cenários de destruição. Apesar da distância geográfica e temporal, Chiquinho não perde as referências, inclusive aquelas que marcaram seu tempo de Santa Cecília. Ele é um típico “sempre aluno”. “Muito do que eu vivi aqui levo comigo, e nunca perdi o contato com a Escola e com os amigos que fiz”. Santa Cecília – Vamos começar pela sua escolha profissional. Você se formou em Direito e se especializou em Direitos Humanos, área que no Brasil não é tão valorizada. Por que essa escolha? Chiquinho – Eu optei pelo Mestrado em Direitos Humanos. Era um tema em que eu tinha bastante interesse porque estava diretamente relacionado a Direito Internacional. Aqui no Brasil essa formação ainda está muito distante. As pessoas privilegiam concurso pú-

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blico, advocacia e nem se dão conta que podem seguir uma carreira internacional no Direito. Terminei a graduação em Direito em Coimbra. No último ano, tinha que escolher uma área para me aprofundar um pouco mais. Eu escolhi Jurídico-Publicista e fiz uma especialização em Direito Internacional. Quando eu me formei, passei um ano em Pizza, na Itália, fazendo o Mestrado. Na parte prática do Mestrado, cada um tinha que buscar o seu estágio, e consegui na ONU. Daí veio a primeira viagem. Foram seis meses no Sudão, uma época bastante

complicada, bem difícil, porque foi logo depois do acordo de paz. Depois me chamaram para ir para o Chile e continuar na ONU. SC – Como foi esse primeiro contato com uma realidade como a do Sudão, onde as violações de direitos humanos são explícitas? Chiquinho – Quando eu cheguei, me impressionou bastante, principalmente pela falta de estrutura. Não tem uma rua, um sinal, um poste de eletricidade. Não tem nada, nada. Eventualmente você precisava parar


o carro para fazer alguma coisa e o pessoal se aglomerava para se olhar no espelho. Gente armada o tempo todo, terra de ninguém. Você não tem nada, não tem a quem recorrer e por isso a presença internacional chega.

sua família. Tenta ficar mais próximo possível, e o momento dos encontros são muito mais importantes. Como você sabe que pode complicar, passa a viver intensamente aqueles bons momentos com as pessoas de quem você gosta.

SC – Tem uma convivência com a morte muito próxima... Chiquinho – Nesse terremoto do Haiti em 2010 morreram 230 mil pessoas em um dia. Não tem onde enterrar, não tem caixão, os corpos eram jogados na frente dos hospitais. Quando você passava, via aquelas fileiras amontoadas porque não tinha o que fazer. Nesse tipo de atuação, você tem que trabalhar com quem teve perdas muito grandes. Isso pede sensibilidade na condução do trabalho.

SC – O que lhe move a fazer um trabalho como esse, em situações de guerra, catástrofes naturais? Chiquinho – Duas coisas: primeiro, a possibilidade de trabalhar em um contexto multicultural. Você convive com ingleses, indianos, sul-africanos, noruegueses e, nessa convivên-

SC – Em relação a sua segurança pessoal? Como você lida com o medo? Chiquinho – O medo faz parte. O que você tem que fazer é tentar reduzir os riscos seguindo exatamente as normas de segurança. Tem que andar com o rádio, então ande com o rádio... Se você seguir as regras, menor é a possibilidade de que algo ruim aconteça. Bom, se você convive com essas realidades, acaba se acostumando. Claro que tolhe um pouco a liberdade de sair, de passear, tem eventualmente um toque de queda que não pode passar da meia-noite, não pode sair antes das cinco da manhã... SC – Essa relação tão próxima com situações de tragédias coletivas mudou a sua relação com as pessoas, com a vida? Chiquinho – Você valoriza mais cada vez que vê, encontra com seus amigos e com a

“Nesse tipo de atuação, você tem que trabalhar com quem teve perdas muito grandes. Isso pede sensibilidade na condução do trabalho.” cia, você acaba aprendendo muita coisa de culturas diferentes. Depois, a possibilidade de trabalhar com Direito Internacional, área que eu gosto muito, nessa mobilidade, sempre mudando de país, conhecendo coisas novas, dentro de outros contextos. SC – Você está trazendo outras possibilidades para esses lugares onde o senso comum só imagina destruição... Chiquinho – Realmente, destruiu tudo, mas ali tem gente que vive, tem gente que estudou, que se casou, que tem a sua família. Eu cheguei, claro, três semanas depois do terre-

moto. O pessoal estava assustado, eu também, aquela confusão, militares nas ruas, mesmo assim vi um casamento. Ou seja, as pessoas seguem as suas vidas. A vida continua. Você vive dentro desses contextos. Hoje eu trabalho na unidade de estabilização comunitária, onde tenho contato com os líderes comunitários. O intuito é mapear as necessidades mais urgentes e tentar alocar recursos. Em Genebra tem um departamento de operações de emergência que recruta e desloca os profissionais, vai depender do contexto, da sua experiência. SC – Como é a sua relação com o Santa Cecília? Chiquinho – Eu sempre estudei aqui, nunca passei por outro colégio, e muita coisa que você vive nesta Escola leva para a vida inteira. As viagens, por exemplo, como a EURO, abrem os horizontes porque você vai ver outros lugares. E tantas outras como a que eu fiz para São Raimundo Nonato, para mim, muito interessante. Esse tipo de experiência abre a cabeça e você começa a ter uma perspectiva diferente. Durante a SICE a gente tinha a experiência da feira de ciências na qual tentávamos construir e apresentar um projeto. Tudo isso está diretamente ligado com a universidade, com a ideia de reunir, pesquisar, apresentar os resultados... Muito do que eu vivi aqui levo comigo, e nunca perdi o contato com a Escola e com os amigos que fiz aqui. É muito marcante, diariamente a gente está aqui, seja seguindo pelo Facebook, pela internet. Acho que nunca se desliga totalmente.

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Quando a

história

se encontra com a

emoção Há encontros que são verdadeiros acontecimentos. Únicos e improváveis de serem reproduzidos, mesmo narrados. Vinte e um de outubro de 2011. A sala de reunião da Direção da Escola foi cenário de um encontro, por assim dizer, histórico. Senhoras distintas, de finíssimo trato, legítimas herdeiras de uma mulher à frente de seu tempo, Almerinda de Albuquerque, fundadora do Santa Cecília, diante das não menos destemidas religiosas

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que hoje conduzem a Escola centenária. A história da fundação do Santa Cecília resvala da memória, ressoa nos afetos, mistura-se às histórias pessoais e diz muito do que somos hoje. O ano era 1911, quando a família Albuquerque resolveu fundar em Maranguape a Escola que levaria por 100 anos o nome da Santa Padroeira da Música, alcunha escolhida pelo então patriarca, um apreciador das harmonias e melodias. No

começo, o comando era de Etelvina, irmã mais velha de Almerinda. Esta, uma quase menina com menos de 15 anos, assume a direção depois da morte prematura da irmã. Estaria selado o destino de uma educadora que se notabilizou pelo tamanho de sua generosidade. Foram 50 anos à frente da Escola. Antes de 1933, a Instituição era mista. Meninos e meninas dividindo os bancos da sala de aula. Depois se tornou espaço exclusivo de meninas.


af afeto

De Maranguape para o Centro. Do Centro para o Benfica. A mansidão da Chácara dos leões deu lugar ao entra e sai eletrizante de meninas, às aulas de francês, ao piano de cauda, à Alameda das Pitangas, a um frescor típico da mocidade e a um universo de conhecimento que abriu caminhos impensáveis para moças que, muitas vezes, não tinham acesso à educação formal que levasse a uma escolha profissional. Almerinda alternava majestosamente seu rigor e disciplina de educadora com uma doçura maternal. Ela não casou, partiu muito cedo (com apenas 63 anos), mas formou uma leva incontável de meninas e meninos, muitos notáveis em suas profissões. Almerinda Albuquerque não media esforços nem temia o peso da tradição. As salas de aula abrigavam meninas da elite cearense e outras tantas: órfãs, filhas de mães

solteiras, de classes sociais menos favorecidas. Ela as recebia enquanto muitas escolas tradicionais cerravam suas entradas. A mistura era a marca de sua generosidade, portas abertas ao infortúnio e a transformação de muitas vidas. Foram mais de 500 meninas formadas de graça. Almerinda não aceitava o preconceito de classe, de raça, de religião. A educadora destemida e acolhedora, por outro lado, levava a educação com mão de ferro: os educadores eram todos oriundos de instituições como o liceu do Ceará, homens e mulheres cultos, eruditos, muitos com teses publicadas. Dona Almerinda dizia que o importante em uma escola é o aluno. Era para ele que ela voltava sua energia, suas atenções, depositava um olhar sensível, acolhia com crença

no futuro. Década de 50, a Escola é transferida para a Congregação Damas da Instrução Cristã. Entregar o Colégio era uma preocupação muito grande para ela, que já não gozava de boa saúde. Preocupação com a continuidade da visão de religião e de mundo. Fim do encontro na manhã de 21 de outubro. Fazer 100 anos é também se deparar com o novo e o inusitado. Nesse dia, Afonsina, lorna, Ivone, Tereza, Adília e Jacques, herdeiros de Dona Almerinda, para quem rendemos todas as nossas homenagens, brindaram a Escola com preciosas histórias. “Esta ligação histórica, a importância de ir às origens, isto é de um enriquecimento muito grande para todos nós. Foi um dia maravilhoso, um marco”, encerra Irmã Eulalia.

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Estatuto do Collegio Santa Cecília

“O Colégio Santa Cecília, instituto de instrução e educação para o sexo feminino, tem por objetivo proporcionar às alunas, a par de uma esmerada educação, uma sólida instrução, para que elas bem possam compreender as grandes obrigações da vida.” O pequeno trecho é porta de entrada do provável primeiro Estatuto, que caiu em nossas mãos como presente. Uma gentileza de uma das doces herdeiras, a lorna. A Escola (internato – semi-internato e externato) oferecia cursos Primário, Complementar, Normal e de Artes (piano, datilografia, pintura, flores e prendas domésticas). Regras rígidas: visitas às internas apenas aos domingos, de pessoas autorizadas; saídas apenas dois domingos ao mês e as correspondências das alunas eram devidamente fiscalizadas pela Diretora. Um item do Estatuto define Recompen-

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sas e punições. “As transgressoras serão admoestadas pela Diretora, tendo como castigos: privações de recreios, notas más, lançadas nos livros de partes diárias e impedimento de saída”. Tome nota do enxoval: além das saias azul-marinho e blusas brancas, entre outros itens, era preciso levar combinações, chapéu, véu, saco para roupa servida, sombrinha e caixinha de costura. O documento levava a assinatura da Diretora, Almerinda Albuquerque.

A MENINA DE DONA AlMERINDA A cearense radicada em São Paulo é dona de muitas histórias de Dona Almerinda, tia que Afonsina Albuquerque tinha como mãe: “Ela disse a minha mãe: ‘a menina é minha’, e eu fui dela. Tudo que eu tive foi a Titia que me deu”, recorda a senhora culta, museóloga e historiógrafa que durante dez anos trabalhou no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A memória prodigiosa reserva muitas histórias de Dona Almerinda, que, de bonde, descobriu a sede do Benfica, onde hoje funciona o Museu de Arte da UFC e o Curso de Arquitetura e Urbanismo. A Escola, um sonho, foi construída no espaço de uma chácara ampla, arejada, rodeada de fruteiras, mangueiras e muito espaço físico. Dona Almerinda pediu autorização à Prefeitura e, para o local, levou uma vaca para dar um leite bom. “Ela era muito protetora, tinha uma ética formidável. Não conheço em Fortaleza uma pessoa que não tivesse respeito por ela. A Titia era uma mulher que eu chamo decente, ela nunca incorreu numa falta”, derrama-se Afonsina. A bravura da Diretora ganhou notoriedade. “Ela conhecia cada aluna pelo nome, independente de classe social. Era muito difícil educar.


Lembro que o Ceará era um Estado muito tradicional. Você dizia ‘vou casar’ e vinha logo a pergunta: ‘com qual família?’ Outra valentia da Titia: ela quase vendeu a Escola, mas, quando soube que era para um grupo da Igreja Batista, declinou. Ela dizia que ninguém tiraria o nome Santa Cecília”. Afonsina ainda se lembra com certo pesar do dia em que, logo depois do nascimento da primeira de suas duas filhas, chegou em casa e ouviu de um parente de seu marido: “Afonsina, faleceu uma pessoa de sua família. Eu ouvi pelo rádio: morreu Almerinda de Albuquerque”. “Fiquei toda arrepiada, foi o pior dia da minha vida. Eu tinha uma ligação tão grande com ela que, mesmo a distância física, não nos afastou”.

Uma herdeira à altura

Tereza Rocha é dessas mulheres que encantam pela firmeza e delicadeza. Abriu a porta de sua casa, em um primeiro momento, depois orquestrou o encontro com as outras herdeiras de Almerinda na própria sede do Colégio. Ela era neta de primos de Almerinda, mas sua mãe, órfã aos 10 anos, foi mais uma que caiu nas graças da educadora. Tereza era também afilhada de batismo e as afinidades se estenderam por muitos assuntos. “A madrinha antecipou Paulo Freire, o aluno era a coisa mais importante para ela. A educação era muito rígida naquela época; a distância era muito grande entre o aluno e o professor. Toda aquela reverência que existia e ela, no entanto, ficava cada vez mais cúmplice da nossa juventude. Nós a considerávamos uma mãe, mãe de todos nós. Toda a família foi acolhida por ela, até a minha geração, que foi

a última. Peguei a transição em 1950. Já fiz o 2º Ginasial sob a Direção das Damas”, lembra Tereza. Almerinda, uma vocacionada, tornou-se o horizonte como educadora para muitas dessas meninas. Tereza Rocha se destacou, virou Superintendente de Ensino no Ceará. Nesse período, ela conheceu todos os municípios do Estado e em cada um deles encontrou ex-alunas do Santa Cecília. “A educação desta Escola esteve presente no Ceará todo, influenciou a visão de mundo de muitas mulheres”, testemunha. “A madrinha Almerinda me inspirou. Lembro muito bem, perto de ela morrer, eu não fui ao Colégio, resolvi ficar com ela. Me disse: ‘Tereza, por que você está perdendo aula?’ Respondi: ‘para ficar com a senhora’. E ela: ‘não, minha filha! Você vai ser uma grande educadora. Vá para o Colégio, não perca aula’. Nunca esqueci isso”.

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Um

mestre em essência

Em comum, uma bagagem abarrotada pela experiência, o pioneirismo e a bravura. O encontro entre a coordenadora do Ensino Médio, Lúcia Elizabeth, e o professor mais antigo do Santa Cecília, Ocelo Raulino, é desses momentos que ficam na história. História pessoal dos dois que tantos caminhos percorreram juntos; do Santa Cecília e sua comunidade, este lugar dos afetos por excelência; e na história do próprio encontro, uma sutil troca de afabilidades e respeito mútuo. “Saiba que você inspirou várias vezes a minha vida, com sua perseverança, seu modo de ser sempre estudioso e sábio”, confessa Lúcia, diante do tímido professor de

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Matemática, um craque nos números e mestre na simplicidade. “Se pensou nesta entrevista porque você é uma referência para este Colégio, sabia?”, interroga ela. Ocelo, modesto, deixa entrever sua importância na fala generosa: “Eu digo a eles, aos meus alunos: venho satisfeito dar esta aula para vocês, muito feliz. Não tenho nenhum aborrecimento, podem perguntar o que quiserem, que eu respondo”. Lucia Elizabeth – Para começar, queria dizer da alegria de ter sido escolhida para dividir este momento com você, porque nós temos uma história de caminhada muito bacana aqui. Gostaria de saber

como foi a sua chegada aqui no Colégio Santa Cecília? Ocelo Raulino – Eu dava aulas no Colégio Integral quando fui convidado inicialmente para dar aulas no 1º e 2º ano do Ensino Médio. Irmã Jeanne pediu pra que eu assumisse também a 8ª série. Foi em março de 1977. Passei por quatro Diretoras: a primeira foi a Irmã Jeanne, depois Madre Chantal, Irmã Gloria e Irmã Eulalia. Lucia Elizabeth – Quais os desafios que você viveu aqui como professor? Ocelo Raulino – Passei por muitos desafios porque sempre procurei ser um educador que queria dar aulas com compromisso, embora os meninos às vezes não tivessem muita ma-


am amizade

turidade e acabassem levando mais para o lado da brincadeira. A dificuldade foi essa. Lucia Elizabeth – E hoje, como você se sente depois de 35 anos como educador do Santa Cecília? Ocelo Raulino – Estou dando estas aulas aqui porque me aposentei no Estado e não queria parar de ensinar. Resolvi manter as aulas no Santa Cecília porque é uma escola que me recebeu e acolheu. Não tinha interesse em dar aulas em outro lugar. Apareceram muitos convites de outros colégios, mas não tenho interesse. O desafio no 3º ano é fazer uma coisa mais elaborada, um problema mais trabalhoso, para que o aluno não fique acomodado só com o ENEM e tenha uma abrangência maior. São alunos muito bons, não tive nenhum problema nas específicas. Estou muito feliz. Lucia Elizabeth – Nessa caminhada, você educou os seus três filhos, não é mesmo? Ocelo Raulino – Meus três filhos estudaram aqui e ficaram até concluir o Ensino Médio. O Marcelo jogava muita bola e queriam levá-lo para outros colégios, mas eu nunca permiti. Todos três passaram no vestibular da UFC de primeira. O Marcelo passou em Economia, na UFC, em primeiro lugar, e depois fez Direito. O

Márcio fez Engenharia Civil e passou no concurso da Caixa Econômica e está se preparando para outros concursos. Marcos fez Direito também.

Lucia Elizabeth – Depois desse tempo todo, que lição ficou para você dessa convivência no Santa Cecília? Ocelo Raulino – Aprendi muita coisa aqui com os colegas. Sempre tive muito respeito por eles, nunca critiquei outro professor. Sempre procurei ser uma pessoa ética e aprendi muito a ser um cidadão de bem. Lucia Elizabeth – Do que mais o seu coração sente saudade? Ocelo Raulino – Saudade do tempo em que dava aulas em todo o Ensino Médio. Tinha aquela rotina, acordava cedo, ficava até mais de meio-dia. Tinha aquele costume e demorou para “cair a ficha”. Mas o tempo foi passando e fui me moldando. Lucia Elizabeth – Da velha guarda do Colégio – você, Edite, Bosco e eu –, reunindo o tempo de serviço, dá mais de 100 anos. Como você vê os mais antigos hoje? Ocelo Raulino – Eu sinto muita saudade do César, um cara muito legal também, muito amigo. Fiquei muito chateado porque fui fazer uma visita a ele na véspera de seu falecimento e ele conversou muito comigo,

disse que sabia que iria partir. Eu saí arrasado. Ele, o Bosco, você, o Paulo Wagner, que também é um cara a quem eu quero muito bem. São grandes amizades. Amizade não tem dinheiro que pague. Nunca liguei muito para essa parte financeira, mas as amizades... Viviam me dizendo para eu largar as aulas do Estado, priorizar o setor privado, mas eu nunca fiz diferença. A aula que eu dava aqui eu dava no Estado, com a mesma alegria, com o maior prazer. Quando você abraça uma profissão, é definitivo. Me chateei muito quando uma pessoa uma vez me disse que eu era um cara tão competente para escolher uma profissão tão medíocre. Fiquei muito chateado porque o País não respeita o educador. Já pensou se você não tivesse professores competentes? A educação seria ainda pior. Me orgulho de ter recebido um diploma no Estado: Professor padrão. Se eu começasse tudo de novo, seria professor do mesmo jeito. Lucia Elizabeth – Qual mensagem você deixaria ao Colégio nestes 100 anos? Ocelo Raulino – É uma felicidade para mim ver o Colégio crescer cada vez mais. É uma felicidade ouvir só elogios, isso massageia meu ego porque me sinto professor desta Escola e fico feliz.

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dv

diversidade

antologia centenária

Escrever é dar nome aos sentimentos. No ano Centenário do Santa Cecília, o Criações literárias – um dos mais importantes projetos editoriais do Colégio – comemora a data lançando sua edição anual, a de número XXII, e ainda uma bela antologia reunindo textos que foram publicados ao longo dos anos. Pequeno recorte de uma produção marcada pela diversidade e pela beleza. Para que possamos entrar no clima desta publicação comemorativa, reproduzimos aqui um dos textos, que fez parte da primeira edição, lançada no ano de 1989.

A PAZ Saí para refrescar-me, pelas ruas de minha cidade. Olhava tudo em minha volta. Estava muito tensa, pois havia brigado com meus pais. Gostava muito deles, mas o problema é que eles não me entendiam, por isso sempre havia confusão em casa. Procurava nas árvores, no cantar dos pássaros, nos raios de sol a paz que há muito não me vinha visitar. Procurei, andei, mas não a encontrei. Olhava para um lado, para outro e nada de paz. Vi a natureza com todo seu esplendor tentar me ajudar, mas era tudo em vão. O que será que falta em mim? O que será? Andei, Andei e me deparei com um palácio grande. No ponto mais alto havia uma cruz. Nossa? Era uma igreja! Resolvi entrar e, no momento em que atravessei a porta, senti uma felicidade incontrolável. Corri a igreja toda até me deparar com a linda imagem que tinha um ar sofredor e, na cabeça, uma coroa de espinho. Então, de minha boca ouvi: — Pai! Venise Bezerra Barbosa - 7ª E Criações literárias 1989

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LISTA DOS AUTORES DA ANTOLOGIA O OUVIDO DO REI LEÃO A PAZ MEU MUNDO FICOU MAIS TRISTE JOVEM SINTO ONTEM E HOJE LUAR OBSESSÃO FRATERNAL A PRINCESA CORAJOSA E O PRÍNCIPE VALENTE NO OUTRO LADO DA RUA HAVIA PESSOAS VENTANIA MEU PAÍS AMOR x DOR NATUREZA TRISTE VIELA DE ESPINHOS QUERO IMAGINAR... A PERDA A BICICLETA CRISE DE PENSAMENTOS MORRENDO AOS POUCOS LÁGRIMAS DE UM SOFRER INSPIRAÇÃO A CHUVA E A ROSA PARAR DE TE AMAR MINHA ALMA ESPELHOS PASSADO PRESENTE PALAVRAS FALTA! SONETO DO SILÊNCIO NU DESILUSÃO NÃO SEI PORTO SAUDADE AGONIA PRECISA-SE BEM MAIS... PAPEL BOBA SORRISOS UM PERSONAGEM UNIVERSAL DISTANTE SOLIDÃO FINAL DO ARCO-ÍRIS VAIDADE RABISCOS BORBOLETA AI DE NÓS VENTURA PALAVRAS... NÃO SÃO APENAS PALAVRAS AURORA VESPERTINA HEI, AMOR... A MÚSICA E O TEMPO O AMOR DESENHO DE CRIANÇA SORRIR DE SAUDADE PERDENDO O CONTROLE MELANCÓLICA BALA FALTA DE INSPIRAÇÃO EPITÁFIO DO CORAÇÃO A MAIS BELA DAS ILUSÕES LEMBRA-TE DE MIM ADEUS, CAPITÃO COISIFICAÇÃO EM BUSCA DO AMOR QUERO RELATO DE MIL SONHOS AS COISAS SIMPLES... NÃO ESPERE ÊXODO OCULTO DESEJO “DesCONHECIDO” AMOR... PERGUNTA INDISCRETA CONTABILIDADE SENTIMENTAL ALVO ESCRITORA FRUSTRADA PEIXE INQUIETUDE LITERÁRIA IRÔNICA VIDA DUETO DOS PÁSSAROS PERSONAGEM IMAGINÁRIA

Adriana B. Oliveira C.L. 1989 Venise Bezerra Barbosa C.L. 1989 Camila Miranda C.L. 1989 Lana Ludmila C.L. 1993 Francélio F. Alencar C.L. 1993 Sâmia Mara C.L. 1993 Clarissa Cézar C.L. 1994 Moura Júnior C.L. 1994 Kim Fernandes C.L. 1995 Joelza de Lima Enéas C.L. 1995 Larissa Gurjão C.L. 1996 Mariusha Mansur M. Ebrahim C.L. 1997 Helaine Lima de Oliveira C.L. 1998 Camilla Lemos C.L. 1999 Bruna Lustosa Pellegrini C.L. 1999 Adalgiza Maria Ponte S. Aguiar C.L. 1999 Lara Cavalcanti Andrade C.L. 1999 Tércia Montenegro C.L. 1999 Gabriela Maia Mota C.L. 2000 Luciana Goiana Barboza C.L. 2000 Carla Renata Macêdo Cunha C.L. 2000 Ito Liberato Barroso Neto C.L. 2000 Maria Noemi Lousada G. Gomes C.L. 2000 Geórgia Carvalho Fortes C.L. 2000 Hélida Arrais Costa C.L. 2000 Lígia Maria Montenegro Lessa C.L. 2001 Rafaella Fernandes Gradvohl C.L. 2001 Amanda Michaele Linhares Miná C.L. 2002 Juliana Rocha Borges da Fonseca C.L. 2002 Regina Alice O. L. de Vasconcelos C.L. 2002 Raquel Barroso Araújo C.L. 2002 Amanda Fernandes Silva Araújo C.L. 2002 Antônio Kerty Mota C.L. 2002 Michele Maciel Falcão C.L. 2002 Felipe Lima Pinheiro C.L. 2003 Flávia Dias Silveira C.L. 2003 Deborah Macêdo dos Santos C.L. 2003 Maria Cecília Girão Veras C.L. 2003 Natália Mendes Maia C.L. 2004 Bárbara Menezes de Miranda C.L. 2004 Lucas Freitas Peixoto C.L. 2004 Nicole Pinheiro Moreira C.L. 2004 Camila Dória Mota C.L. 2004 Débora Maria Moura Medeiros C.L. 2004 Juan Silveira Maia C. da Silva C.L. 2004 Mayara Carvalho Fortes C.L. 2004 Maíra de Almeida Araújo C.L. 2004 Luana Grassi Sá C.L. 2005 Anna de Carvalho Cavalcanti C.L. 2005 Gabriela Souza Baltazar C.L. 2006 Camila Marcelo Pinto de Oliveira C.L. 2006 Sarah Pontes de Barros Leal C.L. 2006 Victor Mendes Amador C.L. 2006 Emília Shramm Duarte C.L. 2007 Breno Negreiros Pinto C.L. 2007 Carla Bianca Ximenes Mendonça de Paula C.L. 2007 Ana Beatriz de Carlos Moura C.L. 2007 Mateus Ferreira Menezes C.L. 2007 Erick Fraga Rebouças C.L. 2007 Ivna Lacerda Pereira Nóbrega C.L. 2007 Aline Memória de Andrade C.L. 2007 Victor Costa Lopes C.L. 2007 Isabela Everton da Silva Rodrigues C.L. 2007 Lethícia Pinheiro Angelim C.L. 2007 Nayara Mello Sobreira C.L. 2007 Isaías Alves do Nascimento Filho C.L. 2008 Natasha Chaves Medeiros C.L. 2008 Ivna Leite Reis C.L. 2008 Victoria Aline Linhares Miná C.L. 2008 Gabriela Medeiros Rodrigues Aguiar C.L. 2008 Jade Costa Caminha C.L. 2008 Juliana Rodrigues Andrade C.L. 2008 Letícia Maria Rodrigues Ramos C.L. 2008 Raíssa Benevides Veloso C.L. 2008 Camila Mont’ Alverne Barreto de Paula Pessoa C.L. 2008 Luana Lacerda Arraes de Alencar C.L. 2008 Beatriz Lima Adjafre C.L. 2008 Raquel Vieira de Araújo C.L. 2009 Juliana Soares Abrantes C.L. 2009 Luciana Ribeiro da Silva Câmara Vieira C.L. 2009 Isabela Rego de Sá Barreto C.L. 2010 Lia Beatriz Mattos Dourado Bezerra C.L. 2010

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de dedicação

Consagradas à juventude

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É a segunda década do novo século, 1911. Uma jovem com 15 anos, quase adolescente, passa a responder pela Direção do Colégio Santa Cecília na cidade de Maranguape, no Ceará. Firmava-se o jargão da família: uma Albuquerque. Motivo de orgulho e sinônimo de tenacidade. No vizinho Recife, o Colégio das Damas da Instrução Cristã debutava os seus 15 anos, o primeiro na América do Sul seguindo a missão da fundadora Madre Agathe Verhelle, belga de nascimento e com a alma missionária. A estrela dessas duas ins-

tituições ainda iriam se encontrar em Fortaleza, mas isso ainda seria futuro, quando as Damas receberiam dessa educadora inconteste o convite de prosseguir com o Colégio Santa Cecília. Quando as Damas se estabeleceram em Olinda, no convento de São Francisco, as primeiras aulas oferecidas pelas Irmãs foram de música. Exatamente a música, que tem como padroeira a Santa Cecília. Em 1952, as primeiras Damas aportaram em Fortaleza. Madre Bernadette, Madre Emerence, Irmã Balbina, Irmã Márcia, Irmã Claudia, Madre

Regina, Irmã Odila. E, logo depois, Madre Maria Leônia, Irmã Fabiana e Irmã Alberta somaram-se a essas fortes mulheres. Chegaram com a cultura europeia na bagagem, num tempo em que a cidade de Fortaleza ainda vivia seus últimos sonhos no desejo de ser uma Paris. As Religiosas puderam ainda desfrutar do sabor e dos contrastes culturais do centro da cidade, com seus pitorescos personagens e espaços públicos como a Praça do Ferreira, eleita pelo povo, após a segunda guerra mundial, em 1945, como o coração da cidade.

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O

tempo não podia parar

Orquestrado pela Ir. Verônica Aguiar, do sertão os olhos se voltariam agora para o mar, para a Nova Aldeota. Eram tempos de mudanças, final dos anos 50. E foi assim, sentindo o coração pulsante da cidade que o Colégio Santa Cecília foi para esse novo endereço. Seguiu seu caminho, onde mudar nunca foi um obstáculo, e sim parte da própria história da Escola. Construir naqueles tempos não era missão fácil. Com o projeto do Dr. Jaime Vieira, a obra foi iniciada. O seu filho, também Jaime, alguns anos depois daria continuidade às obras de ampliação da Escola. Dele as lembranças da Rural do seu pai sempre estacionada na obra do Colégio Santa Cecília. Rendemos as nossas mais sinceras homenagens a esse amigo e engenheiro

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competente, que faleceu exatamente no ano centenário. Missão cumprida, guardou a fé, combateu o bom combate. Foram os pais, numa ação proposta de confiança e em consonância com a direção da Escola, que colaboraram financeiramente para a construção do Santa Cecília. Através de um contrato que permitia aos estudantes cumprir todo o seu colegial, a Escola pôde antecipar receitas e assim possibilitar o término das obras.

Era 1961. De tão pouco acessível o bairro, nos seus primeiros anos, as estudantes tinham que contar com o ônibus da Escola, nas mãos seguras e atenciosas do seu Antônio, homem de palavras sempre oportunas, de trato educado e firmeza de olhar. Nos anos 90, o seu filho Adilson também atendeu como motorista da Escola, com a mesma estirpe do pai. Colaboradores do maior quilate. A Av. Estados Unidos, posteriormente Av. Senador Virgílio Távora, seria testemunha nos próximos 50 anos da Escola de muros amarelos, vendo a cidade expandir-se a sua volta. Contam alguns ex-alunos que a relação das religiosas com os pais e a comunidade era tão familiar que o cotidiano era atender a chamados de nascimentos ali, de um doente acolá, sem escolher hora nem dia. Lembranças de um tempo de muros baixos, de uma cidade com 300 mil habitantes.


Muitas Irmãs aqui deram sua juventude, sua maturidade e sua velhice. Deram-se. Todas que aqui chegaram, ontem e hoje, foram acolhidas e acolheram o povo cearense com um sorriso largo. Madre Maria Matilde, Irmã Maria Clarice, Irmã Miriam Marta, Irmã Maria Berckmans, Irmã Flaviana, Irmã Françoise, Irmã Tarcísia Maria, Irmã Ana Margarida, Irmã Berta Maria, Irmã Maria da Natividade, Irmã Eulalia Maria, Irmã Leopoldina, Irmã Roberta, Irmã Elda, Irmã Patrícia, Irmã Edenice, Irmã Conceição, Irmã Andréa e Irmã Andressa. Silenciosas lembranças de tantas histórias. Guardam gestos generosos, superação de grandes dificuldades e a simplicidade de saber que não há como conter as mudanças. Gerações de alunos e educadores que, mesmo sem perceber, foram marcados por estas colunas de fé e fidelidade à missão.

Entre os anos 60 e 70, numa efervescência de comportamento, aqui, no Brasil, vivia-se ainda tempos de ditadura militar. Lutava-se para se ter voz. Lá fora lutava-se por paz, liberdade e expressão em todas as dimensões. Curiosamente, duas religiosas viveram nessa época no Santa Cecília, em anos distintos, Irmã Teresa Maria e Irmã Jeanne Marie, mulheres de pensamento ligeiro, olhos vivos, gestos decididos que, com dinamismo, firmeza, sensibilidade, proporcionaram essa vazão de emoção e desejos. Nas excursões, fardas coloridas, movimentos estudantis, como a JEC, mesmo sem saber, ou tudo sabendo, houve uma sintonia com os desejos locais e globais. Um tempo de abertura se apresenta, teimando em nascer, são os anos 80. Para guiar o barco nesse tempo de transição não haveria uma religiosa melhor do que Madre

Maria Chantal. Como não ficar totalmente envolvido por seu carisma, sua suavidade, sua doçura e sua clareza de onde se quer chegar. Com o talento de descobrir talentos, lançou educadores que até os dias atuais permitem a ligação entre presente, passado e futuro. Enfrentou o novo com diplomacia e a capacidade de se fazer ajudar. A sociedade viveria um novo recomeço político, econômico e social. Frágil democracia, necessária democracia. Uma década de três diretoras: Madre Chantal, Irmã Glória Maria e Irmã Eulalia Maria. Cada uma cumpriu um papel. Irmã Eulalia Maria assume a Escola em 1989, um período em que as escolas confessionais deixam de ser hegemônicas. Tudo novamente está mudando, velozmente mudando. Seus traços de pessoa estendem-se para sua forma de dirigir: participativa, colaborativa e alegre.

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As Damas da Instrução Cristã assumiram o Santa Cecília após os 41 anos de direção da Dona Almerinda Albuquerque. Algumas Mestras Gerais, outras Superioras e outras como hoje chamamos de Diretoras. Foram elas:

Madre Bernadette (de janeiro/1952 a dezembro/1956) - SUPERIORA Madre Julieta Maria (de janeiro a junho de 1957) - SUPERIORA Madre Maria Emanuel (de julho/1957 a dezembro/1958) - SUPERIORA Madre Maria Francisca (janeiro a dezembro 1959) - SUPERIORA Madre Verônica Aguiar (janeiro/1960 a dezembro/1968) - SUPERIORA Madre Julieta Alves (dezembro/1968 a janeiro/1971) - SUPERIORA Madre Marie Gabrielle (fevereiro/1971 a janeiro/1981) - SUPERIORA Ir. Jeanne Marie (de fevereiro/1971 a dezembro/1981) - MESTRA GERAL e em 1981 DIRETORA Madre Maria Chantal (janeiro/1981 a dezembro/1986) - SUPERIORA Ir. Glória Maria (janeiro/1987 a dezembro/1988) - DIRETORA Ir. Eulalia Maria Wanderley de Lima (a partir de janeiro de 1989...) - DIRETORA

Muitas religiosas Damas, como Madre Regina, Madre Maria Leônia, Madre Teresa Maria, Ir. Maria do Carmo, Ir. Maria Elza, Ir. Giovanna, Ir. Sílvia, somam-se a mais de uma centena que marcaram o Colégio Santa Cecília, com sua dedicação, sua generosidade, sua diplomacia, sua fé, sua caridade, seu conhecimento... Foram dias, noites, anos... Todo o Ceará diz obrigado. Afinal, quando o amor invade, não precisamos saber exatamente em qual direção chegou. Apenas chegou. Que bom que chegou! Estamos no ano centenário, muitas datas importantes a comemorar: 188 anos da fundação das Damas da Instrução Cristã, 115 anos do Colégio Damas, nossa casa-mãe no Brasil, 100 anos do Colégio Santa Cecília, o jeito de ser Damas na terra dos Verdes Mares bravios de Iracema, e 50 anos da atual sede do Santa Cecília no bairro Aldeota. Duc in Altum!

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Cem anos

vividos, bem vividos

Chovia naquele dia. Era inverno. Um caminhão estava estacionado entre as mangueiras. Com todo o cuidado, os móveis da mudança eram colocados um a um. As internas ajudavam a limpar e encaixotar enquanto, na cozinha, era preparado um delicioso cozido. Naquele casarão já haviam se passado 30 anos. Era uma mistura de saudade e ansiedade. Como não se lembrar das alunas retirando as frutas e deixando-as sobre o baixo telhado para amadurecer. Claro que muito discretamente para as Irmãs não perceberem. Eram sapotis, siriguelas, goiabas, narra com voz suave Irmã Maria Clarice. As idas à Igreja do Patrocínio, ali próximo, as visitas às famílias aos domingos e até mesmo os castigos por não tirar boas notas e bom comportamento, tudo tinha um sabor de despedi-

da. Com o passar do último caminhão pelos belíssimos portões do Colégio, uma época se encerraria. No Benfica, Dona Almerinda dirigiu, até 1951, com senso de justiça e humanidade, o Colégio Santa Cecília, missão bem continuada pela Irmãs Damas naquela sede até 1960. Construíram assim uma referência de excelente educação na sociedade cearense. Com muitos sonhos, as Irmãs Damas e setenta das internas seguiriam para o bairro Nova Aldeota. Lá um terreno cercado de arame servia de varal para as comunidades vizinhas. As primeiras salas já estavam construídas. A Escola poderia começar um novo ano. Blocos bem projetados, com singelas colunas de cano branco servindo de apoio para o telhado. Era o possível para as finanças. Madre Verônica Aguiar, de capacidade empreendedora, ao

chegar na nova sede, firmou um propósito: só deixaria a Escola quando todas as religiosas tivessem os seus quartos. Sim, porque naquele tempo as Irmãs dormiam nas salas de aula. Cumpriu a sua promessa. Quem tiver hoje a oportunidade de visitar a residência das Irmãs verá ainda um lindo piso com formas geométricas desse período, apresentado pela diretora e aprovado por todas as religiosas contemporâneas, que chegaram a ser, naquele período, cerca de vinte e cinco. Eram professoras, catequistas, cozinheiras. Mulheres incansáveis e batalhadoras. Três poços foram perfurados para atender as religiosas, estudantes, internas, educadores e a comunidade vizinha, que vinha abastecer os seus garrafões e baldes. Dois deles ainda servem à comunidade. Nos primeiros anos algumas Irmãs seguiam todas as manhãs com um jovem motorista buscando as alunas que moravam na Av. Treze de Maio, Santos Dumont e no Centro da cidade. Ir. Miriam Marta, no Santa Cecília desde 1957, conta que as antigas fardas azuis davam elegância às meninas, ressaltavam a sua beleza. As mudanças nessa nova fase foram se seguindo sempre orquestradas por mulheres de fibra e fé: Ir. Jeanne Marie, Madre Maria Chantal, Ir. Glória Maria e, atualmente, por duas religiosas que se complementam, numa soma de diplomacia e energia, participação e ação, alma e coração: Ir. Eulalia Maria Wanderley de Lima e Ir. Ana Margarida. Neste dia 22 de novembro de 2011 fez sol, iluminando o abraço de tantos que amam este Colégio. E agora estamos para celebrar esta história.

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