BALDINHO: DO BARRO À CERÂMICA | Manual de construção e uso

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BALDINHO:

DO BARRO À CERÂMICA

MAN UAL D E CO N STRUÇÃO E USO

Bruno Castoldi Giulia Castellani Guilherme D. Macedo Humberto Levy de Souza


Baldinho: Do barro à cerâmica. / Bruno Castoldi, Giulia Castellani, Guilherme Dias Macedo, Humberto Levy de Souza Camaquã - RS, 2021.

1. Cerâmica Experimental. 2. Forno 3.Manual


BALDINHO: DO BARRO À CERÂMICA Organização: Guilherme Dias Macedo Textos e Revisão: Bruno Castoldi Guilherme Dias Macedo Humberto Levy de Souza Ilustração: Bruno Castoldi Giulia Castellani Guilherme Dias Macedo Projeto Gráfico: Giulia Castellani


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO______________________________________________5 1. ANATOMIA DO BADINHO______________________________________6

I. BALDE...........................................................6 II. PREENCHIMENTO ISOLANTE REFRATÁRIO..............................6 III. TAMPA ISOLANTE REFRATÁRIA.....................................7 IV. CÂMARA DE COCÇÃO E COMBUSTÃO...................................7 V. GRELHA..........................................................7 VI. DIMENSÕES DO BALDINHO..........................................8

2. CONSTRUÇÃO DO BALDINHO___________________________________9

I. PREPARAÇÃO DO BALDE..............................................9 II. CONFECÇÃO DOS CONTRAMOLDES.....................................10 III. PREPARAÇÃO DA MASSA ISOLANTE REFRATÁRIA.......................11 IV. PREENCHIMENTO DO PISO E DAS PAREDES............................12 V. CONSTRUÇÃO DA TAMPA.............................................13 VI. MODELAGEM DA GRELHA............................................14 VII. QUEIMA ESTRUTURAL DO FORNO E COMPONENTES......................15

3. PREPARAÇÃO DAS MASSAS ADAPTADAS À QUEIMA A CARVÃO NO BALDINHO____16 4. NOÇÕES BÁSICAS DA QUEIMA A CARVÃO NO BALDINHO__________________17 I. COMO POSICIONAR O BALDINHO......................................17 II. COMO CARREGAR O BALDINHO.......................................17 III. COMO FECHAR O BALDINHO........................................18 IV. COMO ACENDER O BALDINHO........................................18 V. COMO CONTROLAR A TEMPERATURA....................................18 VI. COMO ENCERRAR A QUEIMA.........................................19

5. AVALIAÇÃO DOS EFEITOS PÓS-QUEIMA_____________________________20 6. CUIDADOS E PRESERVAÇÃO DO BALDINHO__________________________20 7. GLOSSÁRIO_____________________________________________21 8. ANEXOS ÚTEIS___________________________________________22 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS________________________________22


APRESENTAÇÃO Olá! Que bom que esse manual chegou até você! Nós somos o “Coletivo Baldio”, um grupo de artistas ceramistas que busca difundir o livre acesso ao fazer cerâmico, através de práticas que promovem a autonomia. Ficamos imensamente felizes de poder ter escrito e compartilhar esse trabalho com você. Nós temos amor pela cerâmica e o que vamos apresentar aqui é parte desse nosso sentimento - O BALDINHO. O Baldinho é um forno para a queima de peças cerâmicas construído dentro de um balde metálico de +/- 20 litros e que utiliza carvão vegetal como principal combustível. Sua proposta surge a partir de estudos sobre diferentes fornos cerâmicos, portáteis e fixos. Entre eles se destacam: o modelo MLÚ, da artista M. Luciana Firpo, e os diversos modelos do Instituto de Ceramologia Condorhuasi, descritos pelo professor Jorge F. Chiti. O forno de Baldinho pode ser construído a partir de materiais locais ou de baixo custo e representa uma possibilidade financeiramente acessível, de fácil construção e segura para quem deseja experimentar o fazer cerâmico. Ele é pequeno, portátil e necessita de pouco combustível, podendo ser facilmente transportado por inúmeras paisagens: da escola à casa, da rua ao parque, do terreno baldio à praça. O Baldinho é um laboratório de pesquisa colaborativa e transdisciplinar, um dispositivo de cruzamentos de saberes e de encontros afetivos. Nesse pequeno manual pretendemos apresentar o Baldinho e ensinar maneiras de construí-lo. Desejamos que esse manual alcance a maior diversidade de pessoas e espaços possíveis, popularizando cada vez mais o fazer cerâmico em sua totalidade, desde a preparação da massa cerâmica até a queima das peças. Acreditando na importância da cerâmica enquanto prática autônoma criativa, investigativa, relacional e colaborativa, as informações aqui reunidas não representam uma verdade única ou singular a ser seguida rigorosamente. Sendo assim, as metodologias, receitas e matérias-primas que propomos podem ser repensadas, adaptadas ou substituídas de acordo com suas necessidades e possibilidades individuais. Compreendendo que algumas definições técnicas específicas do fazer cerâmico possam gerar dúvidas, incluímos neste manual um pequeno glossário para auxiliar a compreender alguns desses termos próprios da linguagem cerâmica que apareceram ao longo do texto. Boa leitura e boa construção do forno de Baldinho!

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1. ANATOMIA DO BALDINHO

I. BALDE O Baldinho é construído dentro de um balde cilíndrico de metal com o volume de +/- 20 litros, que vai abrigar a estrutura do forno. Esse balde pode ser reciclado de latas de tinta, seladores acrílicos, óleos ou resinas.

II. PREENCHIMENTO ISOLANTE REFRATÁRIO A principal tecnologia do Baldinho é a composição do seu preenchimento, feito com uma massa isolante refratária, que separa peças, combustível e fogo do ambiente externo. Essa massa cria um ambiente equilibrado e capaz de isolar, guardar e distribuir as grandes quantidades de calor geradas pela combustão do carvão. Ao longo da queima, essa energia armazenada no interior do forno é gradualmente transferida para as peças de argila, transformando-as em cerâmica.

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III. TAMPA ISOLANTE REFRATÁRIA A tampa do Baldinho é feita da mesma massa isolante refratária que preenche o interior do forno, moldada dentro de um recipiente com um diâmetro igual ou maior ao do balde metálico. Sua abertura central forma uma saída de ar, que permite a liberação dos gases da queima. A entrada e a saída de ar do Baldinho devem ter o mesmo diâmetro para que se mantenha o equilíbrio entre oxigênio e gás carbônico.

IV. CÂMARA DE COCÇÃO E COMBUSTÃO A câmara de cocção e combustão corresponde ao espaço interno do forno, conformado pela massa isolante refratária, onde serão posicionados o carvão e as peças. Diferente de outros tipos de fornos cerâmicos, no Baldinho a câmara onde se realiza a cocção (cozimento) das peças é também onde ocorre a queima do combustível (carvão). As peças ficam, portanto, em contato direto com o fogo.

V. GRELHA A grelha é uma peça cerâmica especial para a montagem da queima, posicionada sobre a entrada inferior de ar. Ela é responsável por facilitar o acendimento do forno e evitar que peças ou carvão caiam durante a queima. Seu formato semi-esférico se assemelha a um domo e possui diversos orifícios por onde circula o ar.

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VI. DIMENSÕES DO BALDINHO

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2. CONSTRUÇÃO DO BALDINHO A construção do Baldinho se dá em 7 etapas: preparação do balde; construção dos contramoldes; preparação da massa isolante refratária; preenchimento do piso e da parede; construção da tampa; modelagem da grelha e queima estrutural (sem peças).

I. PREPARAÇÃO DO BALDE FERRAMENTAS:

Após remover a tampa do seu balde (caso haja), vire-o de ponta cabeça e, com fita métrica e marcador, marque o centro do fundo da lata. Com o compasso fixado no ponto, trace então um círculo de 3 cm de raio.

- Fita métrica - Compasso - Marcador - Martelo e pregos (ou, se possível, furadeira elétrica e brocas) - Serrinha para metal ou abridor de lata.

Usando o martelo e os pregos ou, se possível, uma furadeira elétrica e brocas, perfure toda a circunferência no centro da lata. Em seguida, com a serrinha de metal ou abridor de latas, realize o corte da área demarcada. Essa será a entrada inferior de ar, por onde o Baldinho será aceso.

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II. CONFECÇÃO DOS CONTRAMOLDES O Baldinho é construído a partir de 2 contramoldes cilíndricos, que darão forma ao piso e à parede do forno, sustentando a massa isolante-refratária que será aplicada dentro do balde. Talvez essa seja a etapa mais versátil da construção do forno, pois você pode utilizar diversos materiais para confeccionar esses cilindros como canos de pvc, chapas de alumínio, papelão ou papel machê, lembrando de revestí-los com fita adesiva antes de iniciar o preenchimento com a massa. Eles devem possuir as respectivas dimensões:

Contramolde do piso: Diâmetro: 6cm Altura: 8cm Contramolde da parede: Diâmetro: 20cm Altura: 50cm

III. PREPARAÇÃO DA MASSA ISOLANTE REFRATÁRIA A receita dessa massa é preparada com 3 ingredientes básicos: argila, chamote ou areia (material refratário) e serragem (material isolante).

CHAMOTE

ARGILA

SERRAGEM

AREIA 10


No caso da areia, antes de misturá-la com as argilas, é apropriado realizar 3 lavagens com água, eliminando sais ou impurezas por meio de decantação.

Você pode utilizar os mais variados tipos de argila em pó (vermelha, branca, preta, creme ou terracota), extrair solos argilo-arenosos locais da sua região ou ainda recorrer a argilas de jardinagem, vendidas geralmente em sacos de 20 ou 25 kg.

Como isolante térmico você deve usar serragem, que após ser queimada deixará poros por toda a massa e manterá o calor interno. Atenção! Não use serragem de compensado pois esse material é tóxico!

O material refratário pode ser chamote ou areia, preferencialmente de grão médio. Ambos possuem comportamento refratário e reforçam a estrutura da massa para as queimas.

OBS.: Outro possível ingrediente para a massa é a vermiculita, que pode substituir tanto a serragem como o chamote ou a areia e não precisa ser peneirada. Pequenas quantidades desse mineral podem ser adquiridas em lojas de jardinagem.

FERRAMENTAS: - Recipiente de ½ litro. - Bacia grande ou lona -Peneira ou tela mosquiteira

RECEITA(em

Primeiro vamos peneirar os materiais da massa com uma peneira ou tela mosquiteira. Usando um pote de ½ litro, transfira-os em suas respectivas proporções para uma bacia grande ou uma lona estendida no chão e misture bem todos os ingredientes, compondo uma massa homogênea. Então, com cuidado, adicione água aos poucos.

partes/volume):

6 de argila + 4 de chamote (ou areia) + 6 de serragem

O ideal é de 30 a 40% de umidade por exemplo: se você estiver preparando 10 kg de massa, adicione de 3 a 4 litros de água. Cuidado! Garanta que a massa não esteja muito molhada. Se ela estiver mais úmida do que o ideal, irá retrair e rachar durante a secagem. Se você sentir que a massa passou do ponto, deixe-a exposta em um ambiente seco por algumas horas e espere a água evaporar.

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IV. PREENCHIMENTO DO PISO E DAS PAREDES FERRAMENTAS: - Pincel - Óleo (de cozinha ou de motor), ou detergente - “Pilão” (madeira, taco ou cano de PVC com a extremidade fechada) Primeiro você deverá lubrificar os contramoldes do forno, pincelando-os completamente com óleo ou detergente para que não se grudem com a massa. Então, no fundo do balde, posicione o contramolde do piso e comece a inserir a massa. Use uma madeira, taco ou cano para “pilar” (compactar) os grãos depositados. Esse processo deve ser feito aos poucos, em camadas finas, até atingir a altura de 5 cm. Essa é a parte mais delicada da construção do Baldinho. Não tenha pressa e faça da maneira mais uniforme possível, garantindo que o preenchimento do seu forno não tenha diferentes densidades, o que pode causar esfarelamento da massa.

Feito isso, centralize o contramolde da parede e comece a compactar a massa em seu entorno, formando a câmara de cocção e combustão do Baldinho. Siga os mesmos métodos utilizados no preenchimento do piso, fazendo com calma e em camadas finas.

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Quando a massa atingir a borda do balde, o seu Baldinho estará quase pronto! O forno deverá ser cuidadosamente guardado e protegido de umidade para que a massa seque lentamente. Os contramoldes devem permanecer dentro do forno por um período de 3 a 4 semanas, quando poderão ser retirados para que o preenchimento isolante refratário continue o seu processo de secagem.

V. CONSTRUÇÃO DA TAMPA MATERIAIS: - Bacia circular (com

profundidade de 6cm e diâmetro igual ou maior ao do balde) - Copo ou pote cilíndrico (com diâmetro de 6 cm) - Saco plástico - “Pilão” (madeira, taco ou cano)

A tampa do Baldinho é feita com a A tampa será moldada usando um mesma massa utilizada no interior recipiente circular que tenha do forno, podendo ser profundidade próxima de 6 cm e o reaproveitadas as possíveis diâmetro interno igual ou maior sobras da receita produzida nas ao do balde metálico. etapas de preenchimento.

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Cubra o interior do recipiente com um saco plástico, para facilitar sua posterior retirada. Em seu centro posicione um copo ou pote cilíndrico com cerca de 6 cm de diâmetro, para uma boa saída dos gases liberados durante a queima. Essa abertura superior deve ter o mesmo diâmetro da entrada inferior do balde para que a queima aconteça em harmonia. Assim como você fez no preenchimento do forno, misture os materiais secos e adicione a água necessária antes de inseri-los no molde. Com o “pilão”, compacte os grãos em finas camadas até preencher toda a bacia. Dada a forma da tampa, ela deverá permanecer no molde por no mínimo 2 semanas para que adquira firmeza. É importante que ela seja mantida longe de umidade e que sua secagem ocorra de forma lenta, evitando rachaduras e fragilidades. Após a retirada do molde, ela pode continuar seu processo de secagem por até mais 2 semanas, quando poderá ser submetida à primeira queima do Baldinho (sem a carga de peças).

VI. MODELAGEM DA GRELHA MATERIAIS: - Objeto perfurante - ½ kg de massa cerâmica

O primeiro passo para fazê-la é modelar seu domo central. Para isso, sove uma bola de argila e comece a “ocá-la”, dando-lhe a forma uma cumbuca (domo invertido). A peça deve ter a espessura de 1 a 1,5 cm e o diâmetro interno mínimo de 6 cm.

A massa usada na modelagem da grelha deve conter entre 20 e 30% de talco, chamote ou areia (ver cap. 4).

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Concluído o formato do domo, faça um furo central no topo da peça, com um diâmetro máximo de 3 cm e, em torno deste, distribua também outros furos menores. Dessa maneira você permitirá a passagem de oxigênio para a plena queima dos carvões.

Circunde a base do domo com os rolos e una-os uns aos outros, formando uma borda com 1 cm de espessura e uma largura máxima de 6 cm. Assim, aumenta-se a área de contato da grelha com o piso do forno e ela se torna mais estável na contenção da carga de queima.

Por fim, você pode usar mais uma porção de argila para fazer alguns rolos de comprimento variado, com uma espessura de +/- 2 cm.

Após deixá-la secar por pelo menos 3 semanas, a grelha poderá ser submetida à queima.

VII. QUEIMA ESTRUTURAL DO FORNO E SEUS COMPONENTES Depois que a massa do seu forno estiver seca, você deverá realizar uma primeira queima sem a carga de peças de argila. Essa primeira queima serve para terminar a secagem superficial da massa e garantir que sua estrutura adquira maior resistência.

Espere o caulim secar e então posicione o seu forno para a queima (ver cap. 5 Como posicionar o Baldinho). Coloque a grelha no interior do forno e carregue a câmara até um pouco mais da metade do espaço interior. Tampe o Baldinho e acenda os carvões pela entrada inferior usando uma vela, a nossa chama piloto (ver cap. 5 - Como acender o Baldinho). Conforme o avanço da queima dos carvões você pode adicionar mais combustível pela abertura central da tampa do forno.

Nessa etapa, é interessante realizar uma pintura de caulim dentro do Baldinho para melhorar sua resistência mecânica e capacidade refratária. Para aplicar o caulim, dilua-o em água até que adquira uma consistência semelhante a um iogurte e, com um pincel ou trincha, aplique sobre todo o interior do forno.

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3. PREPARAÇÃO DE MASSAS ADAPTADAS À QUEIMA A CARVÃO NO BALDINHO RECEITA

(a partir do peso dos materiais secos):

- 7 e ½ partes de argila - 2 e ½ partes de areia, chamote ou talco industrial

Adicione água aos materiais e misture-os de forma homogênea, formando uma lama densa. Deixe descansar por pelo menos 24 horas e então retire a água que tiver se depositado sobre a mistura. Em seguida você deve secar a massa espalhando-a sobre panos, placas de gesso, tábuas ou tijolos. Esse processo pode levar horas ou até dias, dependendo do clima da sua região e da técnica escolhida. Por isso é importante que você acompanhe os estados da argila até que ela esteja ideal para ser modelada. Atingindo o ponto adequado, realize a sova da massa para eliminar possíveis bolhas de ar e guarde-a em sacos plásticos para que não perca sua umidade necessária.

O Baldinho pode atingir cerca de 900ºC em até 6 horas de queima. Considerando as subidas bruscas de calor e as diferenças na temperatura interna que podem ocorrer com a combustão do carvão, sugerimos que você prepare uma massa cerâmica resistente a choques térmicos. Para isso você pode adicionar areia ou chamote à sua argila. Outra alternativa é o talco industrial, que tem um preço relativamente acessível e pode ser encontrado em lojas de construção civil ou especializadas em insumos cerâmicos. Para preparar sua massa, deixe sua argila secar por alguns dias até que endureça. Após esse tempo, você poderá parti-la em pedaços pequenos com um martelo ou objeto semelhante. Esse processo é importante para que todos os materiais da massa se unam com excelência.

Concluídos os processos, sua massa cerâmica está pronta para ser modelada e posteriormente queimada no Baldinho.

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4. NOÇÕES BÁSICAS DA QUEIMA A CARVÃO NO BALDINHO I. COMO POSICIONAR O BALDINHO Para iniciar a montagem da queima instale o Baldinho em uma superfície nivelada e não inflamável. Ele será posicionado sobre alguns tijolos, de modo que se crie um vão de 10 a 15 cm de altura embaixo do forno. Esse modo permitirá a entrada de oxigênio necessária à combustão do carvão.

II. COMO CARREGAR O BALDINHO Com o Baldinho posicionado, vamos montar a carga da queima. No interior do forno irão a grelha, o combustível (carvão) e as peças de argila (futuras cerâmicas).

Sobre o combustível distribua as peças de argila. Para melhor circulação do calor, procure manter alguns carvões entre as peças.

O primeiro a ser feito é inserir a grelha no centro do Baldinho, logo acima da entrada de ar. Em seguida,coloque a primeira camada de carvão, que cobrirá a grelha. Quebre os carvões em pedaços menores, com um diâmetro médio entre 4 e 6 cm.

Sobre as peças, pode ser aplicada uma camada fina de serragem, o que ajuda a reduzir as subidas bruscas de temperatura. Cuidado! O excesso de serragem pode bloquear a entrada de ar necessária para a combustão dos carvões.

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Após colocar as primeiras camadas de peças e serragem, coloque outra camada de carvão, mais peças e serragem e assim sucessivamente, até o topo do Baldinho. Importante: a camada final deve ter pelo menos 4 cm de espessura e estar preenchida apenas pelo combustível.


III. COMO FECHAR O BALDINHO Ao terminar de carregar o forno, feche-o com a tampa e, sobre a saída de gases (furo superior), coloque um tijolo cerâmico. Usando argila, sele a junção entre a tampa e o forno. Em seguida, com mais argila, una o tijolo e a tampa, deixando apenas uma pequena abertura de uns 3 cm de largura para a saída dos gases, que será progressivamente aumentada durante a crescente subida da temperatura.

IV. COMO ACENDER O BALDINHO Depois de totalmente carregado e fechado, o Baldinho já pode ser aceso. Para isso, posicione uma ou mais velas acesas embaixo da entrada inferior do Baldinho. Certifique-se de que a chama piloto esteja próxima dos carvões, para que o combustível queime lentamente.

V. COMO CONTROLAR A TEMPERATURA As primeiras 2 horas da queima são decisivas. Com algumas telhas, tijolos ou lajotas, é interessante tampar um dos lados do vão mantido abaixo do forno, para controlar as correntes de ar e evitar mudanças bruscas de calor no início da queima. A saída de gases da tampa estará quase fechada e deverá permanecer assim durante esse estágio inicial. Você pode utilizar um espelho para observar, por debaixo do forno, se o carvão está se acendendo corretamente.

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É muito importante que a subida da temperatura seja gradual, para que a sinterização da argila ocorra de maneira uniforme e que as peças não rachem ou se quebrem. Nessas primeiras horas você notará a saída de vapores na parte superior do forno, acompanhados de um cheiro orgânico. Não se assuste com a quantidade de fumaça. Entre a metade e o fim da 3ª hora retire a argila que une o tijolo à tampa e mova-o com cuidado, abrindo ¼ da saída de gases. A partir desse momento, se poderá abrir mais ¼ da saída a cada 1 hora, dando maior passagem para o oxigênio na câmara de cocção/combustão e aumentando a potência do fogo. Nesse estágio, a fumaça liberada pelos carvões irá desaparecer, indicando uma combustão plena. Quando a saída de gases já se encontrar quase ou totalmente aberta, a chama interna alcançará a tampa e dela surgirá um fogo vivo liberado para fora do Baldinho. Isso significa que sua queima atingiu uma temperatura ideal para o cozimento das peças.

VI. COMO ENCERRAR A QUEIMA Passadas entre 6 e 8 horas de queima, quando a chama externa já tiver baixado, as entradas inferiores e superiores do forno poderão ser tampadas para que se conserve o calor interno e o resto dos carvões se consuma. Espere um período mínimo de 12 horas antes de abrir novamente o forno para que as peças esfriem completamente. Não tenha pressa em ver os resultados, isso pode te poupar de acidentes. Passadas todas as etapas, retire as peças e se divirta com suas novas cerâmicas.

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5. AVALIAÇÃO DOS EFEITOS PÓS-QUEIMA Cores e sons das peças: As diferentes atmosferas presentes na queima a carvão provocam uma variação de cores sobre as argilas, dependendo também do(s) tipo(s) que você utilizou em suas peças. Elas podem apresentar tons pretos, marrons, acinzentados, vermelhos, laranjas e/ou brancos. Ao cutucar ou bater delicadamente na cerâmica, pode-se ouvir um som de aspecto metálico, indicando uma boa sinterização (queima).

Índice de porosidade (absorção de líquidos): Submergindo as peças em água durante algumas horas ou até dias, observe o comportamento do material. Quebras, rachaduras ou outros danos que possam surgir no contato com líquidos indicam que a argila não está totalmente cozida.

6. CUIDADOS E PRESERVAÇÃO DO BALDINHO Sempre conserve o Baldinho e seus componentes em um lugar protegido de umidade, chuva e vento, elevando o forno a alguns centímetros do chão e mantendo fechadas todas as suas entradas. Evite quedas e batidas fortes. Importante: De tempos em tempos, procure refazer a pintura interna de caulim (ver cap. 3 - Queima estrutural do forno e componentes).

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7. GLOSSÁRIO ARGILA

A argila é um material natural, terroso, de granulação fina. Quando hidratado adquire certa plasticidade e pode ser modelado. É encontrada em cores e texturas diferentes, estando presente em quase todas as paisagens.

CERÂMICA

Podemos dizer que, de maneira geral, a cerâmica é o resultado da argila após um processo de queima, onde é submetida a temperaturas superiores a 600ºC.

MATERIAL ISOLANTE

Nesse caso, nos referimos a materiais porosos que são incluídos na massa interna de um forno cerâmico para melhorar seu isolamento térmico (por exemplo: serragem ou vermiculita). Ou seja, esses materiais atuam impedindo a saída de calor interno na queima e bloqueando a entrada de ar frio vindo do ambiente externo.

CONTRAMOLDE

Molde interno ou forma invertida do objeto que se deseja obter. Para fazer o Baldinho são usados 2 contramoldes, posicionados centralmente um sobre o outro dentro do balde. Nesse caso, o molde externo é a própria lata e os contramoldes servem para determinar o espaço interno onde serão aplicadas as camadas de massa isolante refratária (que irão compor o piso e as paredes do forno).

CAULIM

Minério rico em alumínio. Altamente resistente ao calor, atua como importante material refratário.

CHAMOTE

Argila queimada e triturada, pode ser obtido por meio da quebra de tijolos ou mesmo de peças e cacos cerâmicos não-esmaltados. Confere estabilidade e estrutura às pastas cerâmicas, sendo também utilizado na composição de isolamentos refratários.

MATERIAL REFRATÁRIO

Matéria-primas capazes de resistir a altas temperaturas, sem sofrer grandes danos estruturais (por exemplo: caulim, chamote e areia). Na massa interna de um forno cerâmico, esses materiais reforçam sua estrutura e também ajudam na distribuição do calor interno.

SINTERIZAÇÃO

Processo pelo qual a argila, por meio da queima, perde sua matéria orgânica e tem sua estrutura alterada em escala microscópica, resultando em um mineral sólido e poroso - a cerâmica.

SOVA

Ato manual de amassar a massa de argila, com a finalidade de retirar possíveis nódulos ou bolhas de ar e ajustar sua umidade para a modelagem. Esse processo evita rupturas na peça, tanto na secagem como na queima.

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8. ANEXOS ÚTEIS Tabela de relação entre a cor interna do forno e os patamares de temperatura, proposta por David Harvey: TEMPERATURA

COR

0 - 470° C

Nenhuma cor visível

470 - 550° C

Primeira cor visível, vermelho muito escuro

550 - 800° C

Vermelho cereja

800 - 900° C

Vermelho cereja claro a vermelho alaranjado

900 - 1050° C

Vermelho alaranjado a amarelo alaranjado

1050 - 1200° C

Amarelo alaranjado a amarelo palha

1200 - 1300° C

Amarelo palha a branco amarelado

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHITI,

Jorge

Fernández.

Hornos

cerámicos.

Ediciones Condorhuasi. Buenos Aires. 1992.

HARVEY, David. Cerámica Creativa. Editora Ceac. Barcelona. 1978.

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AGRADECIMENTOS Gostaríamos de deixar nossos calorosos agradecimentos para cada pessoa que, à sua maneira, contribuiu para que essa publicação se tornasse realidade. Ainda que nossos corpos estejam distantes, seguimos juntes, compartilhando as experiências que nos conectam em torno da cerâmica e mantendo viva essa grande fogueira!



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BALDIO

O Coletivo Baldio é composto por um grupo de artistas, educadores e pesquisadores das áreas das Artes e da Arqueologia que atuam na região do extremo sul do Brasil, tendo como foco principal a pesquisa do fazer cerâmico através de práticas colaborativas de caráter multi e transdisciplinar. Apresentamos o manual "BALDINHO: DO BARRO À CERÂMICA" convidando você a conhecer, construir e manusear o forno cerâmico de Baldinho! Por meio desse material, buscamos propagar metodologias de livre acesso, alimentando a criação de uma rede de diálogos sobre os procedimentos práticos da cerâmica, que contribua para uma realidade de formação cultural acessível e de qualidade na sociedade em que vivemos. Reforçando as tradições manuais de expressão artística, nossa proposta também busca resgatar e valorizar a ancestralidade cerâmica de modo a atualizar e ressignificar esse fazer milenar no contexto social atual.

Projeto Criação

executado através do Edital e Formação - Diversidade das Culturas, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc n° 14.017/20.


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