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introdução

A Boa Vista, foco do conteúdo aqui apresentado, representa parte do coração da cidade do Recife. Sua história é muito vasta e suas memórias são diversas. O bairro está diretamente relacionado com a formação da capital pernambucana, que tem como marcos iniciais da sua ocupação urbana o Bairro do Recife, Santo Antônio, São José e Boa Vista.

A cidade do Recife foi originada em 1537, a partir do antigo Istmo que comunicava o porto, onde hoje está localizado o Bairro do Recife, à cidade de Olinda. É a mais antiga das capitais brasileiras e seu nome faz referência aos recifes de corais encontrados no litoral pernambucano. A partir do século XVII, a região do centro do Recife passou a ser cada vez mais ocupada, o que levou a cidade a se espraiar por meio de aterramentos realizados nos sentidos dos bairros de Santo Antônio e São José, Boa Vista e Santo Amaro.

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Atualmente, o Centro do Recife é composto por vários bairros, sendo alguns deles a Boa Vista, Santo Antônio e São José, que, juntos, são conhecidos e referenciados pelos pernambucanos como “a cidade”. É na cidade onde borbulha o comércio, a vida dinâmica, o “vuco-vuco” e o pólo cultural. Os limites entre os bairros da Boa Vista, Santo Antônio e São José são inexistentes sob o olhar das pessoas, que vêem esses lugares como ambientes frequentemente interligados, onde um bairro faz parte do outro.

Boa Vista, entre os três, é o bairro que, atualmente, se distingue pelo seu caráter residencial em conjunto com o

uso de comércio e serviço. O bairro preserva hábitos sociais e tradições culturais recifenses, o que contribui para uma maior vitalidade no centro histórico do Recife. Toda essa representação é de fundamental importância, para que a Boa Vista seja reconhecida, rememorada e valorizada.

No presente, parte da Boa Vista e desses bairros vizinhos são reconhecidos como patrimônio histórico e cultural da cidade do Recife. Isso significa que, de acordo com as leis de regimento da gestão da cidade, do estado e do país, é necessário proteger os aspectos de representatividade cultural desses lugares. O fato dos lugares, expressões, celebrações e saberes serem considerados como patrimônio cultural indica que eles representam as heranças culturais de determinados grupos sociais. Isso também quer dizer que os prédios antigos e as tradições são protegidos para que se mantenham o máximo de tempo possível como testemunho para o futuro, preservando a memória e a identidade cultural de uma coletividade social.

Mas o que isso significa nas nossas vidas? O que é patrimônio cultural? Por que devemos proteger alguns lugares, expressões, festas etc?

Patrimônio cultural, de acordo com as convenções da UNESCO, é:

No sentido mais amplo do termo, patrimônio cultural é tanto um produto quanto um processo que proporciona às sociedades um conjunto de recursos que são heranças do passado, criados

no presente e mantidos para o benefício das gerações futuras. Sobretudo, abrange não apenas o patrimônio tangível, como também o natural e o intangível. (Unesco Culture for development indicators, 2014, p. 130, tradução própria).

Até poucas décadas, as conversas sobre patrimônio cultural se limitavam à visão de especialistas, principalmente profissionais de história, sociologia ou arquitetura e urbanismo. No entanto, passou-se a entender que a definição do que devemos reconhecer como patrimônio cultural para um determinado grupo precisa abarcar o olhar de diversos tipos de pessoas e levar em conta aspectos materiais (construídos) e imateriais (expressões, festas, etc). Para a realização do Guia (co)Memorativo da Boa Vista, a compreensão coletiva deste sítio histórico foi o mais importante ponto de partida para o reconhecimento do que, na Boa Vista, para as pessoas, possuiu e ainda possui representatividade na memória e na sua história. O processo nos trouxe e trará alternativas de como podemos seguir no futuro conservando tais heranças, tão importantes para a identidade do Recife.

Ser patrimônio não significa nada sem a participação das pessoas, por isso, juntos, a partir de uma construção coletiva, poderemos conservar a região, pensar o seu futuro e viver ainda mais intensamente esse marco da história do Recife!

Se o patrimônio cultural é representativo para a sociedade, não há razões para que não haja o mínimo de envolvimento social nos processos de reconhecimento e conservação dos bens culturais. Conservar nossa cultura é um direito e um dever. Sem pessoas, não existirá preservação, por isso, o Guia (co)Memorativo da Boa Vista, além de ser feito a partir de um olhar coletivo, busca ampliar cada vez mais os relatos aqui trazidos. Este livro busca contribuir para a preservação através da informação sobre o que a Boa Vista representa para a sociedade.

Além dos lugares que já são protegidos como patrimônio cultural pelas leis existentes, o bairro da Boa Vista ainda é muito mais do que imaginamos. A presença de moradia contribuiu para que tradições culturais do lugar fossem mantidas e muitas outras fossem surgindo com o passar do tempo. Mesmo que ainda não sejam reconhecidas pelos órgão de preservação, são parte da memória e dos sentimentos das pessoas que se relacionam com o bairro da Boa Vista. Dessa forma, o Guia (co)Memorativo da Boa Vista tem o intuito de revelar e compreender para além do que está documentado, trazendo diferentes pontos de vista e entendendo que para ser patrimônio cultural, não necessariamente, um referido bem tenha que ser protegido pelas leis.

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