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ruas de são gonçalo e de santa cruz

Enquanto importante referência entre os bens culturais da Boa Vista, as ruas de São Gonçalo e de Santa Cruz surgiram com o crescimento da população inicial do bairro. Essas ruas são complementares e se tornaram o eixo mais movimentado do conjunto antigo, registradas nos mapas desde o século XVIII.

Sempre muito habitadas, ambas as ruas eram ambientes de moradia de mercadores, pessoas que, apesar de não serem senhores de engenho, exploravam o sofrimento de negras e negros escravizados, por terem alto poder aquisitivo. A história desse caminho demonstra que pessoas de pele escura, vindas do continente africano, viviam na rua para serem escravizadas nas casas térreas e sobrados. Já nos anúncios de jornais para empregos, exigia-se que o candidato fosse homem e português.

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O conjunto de casas estreitas e justapostas é movimentado por diferentes cores, as bancas de frutas se misturam com a entrada de borracharias, com os vizinhos que ainda sentam na calçada. Andar nessas ruas é uma viagem no tempo. A dinâmica que remete aos séculos passados, pode ser sentida com a movimentação de ar de cidadezinha, a multiplicidade de cores, a vizinhança, todo mundo se conhece.

A sensação de volta ao passado nem sempre tem um lado positivo: apesar de pessoas negras não poderem ser mais exploradas pela escravidão, mesmo depois de tantos anos, ainda são carregadas as heranças vistas em anúncios de

jornais. Os mercadores ainda são brancos de descendência portuguesa, as pessoas que fazem o trabalho pesado ainda são as pessoas pretas. É importante lembrar que essa triste memória acontece não somente nessas ruas cheias de boas histórias, pois tornou-se uma herança estrutural em toda a sociedade do Recife.

(*) visualização no mapa: item 81.

Mesmo assim, as características existentes são coisas que nos restam para uma reinvenção da nossa relação com os lugares. Lembrar da riqueza que é a proximidade da conversa, dos vizinhos, da amizade, de uma rua que transborda história, é um dos mais importantes atributos dessa área. Considerado uma expressão da Boa Vista, o senso de vizinhança está sempre presente nas ruas de São Gonçalo e de Santa Cruz.

Além disso, atualmente e desde sempre, as ruas carregam a grande marca da dinâmica da Boa Vista. Têm mercearia, padarias, lojas de materiais de construção, farmácias, posto de saúde, residências e o emblemático Mercado da Boa Vista, um dos corações do bairro. Ocorre um efeito quase que pulsante, cujo coração é o Mercado, e as lojas vizinhas. Esses estabelecimentos ocupam casas de cores de tons pastéis, muitas de primeiro andar, algumas com azulejos e ornamentações ainda fiéis às suas características históricas. As cadeiras nas calçadas estão presentes na frente das casas, ocupadas por moradores e vendedores que conversam com seus vizinhos. As árvores, que não são muitas, se concentram em frente ao Mercado da Boa Vista, que transborda seus usos e aspectos para além dos muros, sendo, de fato, um dos mais importantes marcos da rua.

A Rua de Santa Cruz carrega os mais importantes símbolos da Boa Vista. Além do Mercado da Boa Vista, é nela que fica a clássica Padaria Santa Cruz (*). Não se sabe ao certo sua data de fundação, mas, no final do século XIX, existiam

anúncios de jornais que citavam uma padaria da Santa Cruz em local próximo de onde ela está atualmente. Embora não se possa afirmar que se trata do mesmo estabelecimento, desde a referida época conhecia-se uma padaria onde se vendiam pães, salgados e outros quitutes diversos.

Salgados e doces da Padaria Santa Cruz. 2021.

Espaço de memória afetiva dos sentidos, esta padaria, através de suas receitas, carrega um saber importante da Boa Vista. Quando perguntado quais cheiros e sabores o bairro tem, as delícias dessa padaria foram prontamente memoradas. As sensações que a Padaria Santa Cruz provoca são importantes referências do bairro, pois são símbolos das experiências nas quais é possível sentir na Boa Vista.

Sabor incrível do sonho de goiabada da Padaria Santa Cruz

Mulher de meia-idade, frequentadora do bairro da Boa Vista

Cheiro do Pastel de forno da Padaria de Santa Cruz

Mulher jovem, frequentadora do bairro da Boa Vista

Pão de Ló da Padaria de Santa Cruz

Homem jovem, frequentador do bairro da Boa Vista

Pão de mel da Padaria de Santa Cruz

Mulher Jovem, moradora do bairro da Boa Vista

Pão da Padaria de Santa Cruz

Mulher jovem, frequentador do bairro da Boa Vista

A Padaria Santa Cruz que é um pecado, aquelas torradinhas.

Mulher de meia-idade, moradora do bairro da Boa Vista

Tem a Padaria de Santa Cruz, que quando eu conheci ela era na rua do Aragão, e se chamava padaria cristal, depois eles compraram três prédios e fizeram a padaria em baixo e moradia em cima.

Mulher de meia-idade, moradora do bairro da Boa Vista

Não há quem passe pela Rua de Santa Cruz e não sinta vontade de entrar na padaria de mesmo nome. O cheiro sedutor convida a tomar um café e a desejar todos os pães e doces da vitrine. A Boa Vista tem cheiro de Padaria Santa Cruz. Os valores da Padaria Santa Cruz mais sinalizados pelos (co)Memoradores da Boa Vista foram o afeto que ela representa e o seu uso da prática culinária dos seus pães, massas e doces! É irresistível passar por ela e não sentir o desejo de experimentar seus pães e bolos.

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