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mercado da boa vista

(*) visualização no mapa: item 01.

Tendo a ordem de construção de 1823, o Mercado da Boa Vista (*), desde o início de sua existência, foi uma importante referência de lugar, celebração e saber no dia a dia dos moradores do bairro. Seja de forma positiva ou não, o mercado sempre foi citado e reconhecido como importante referência da Boa Vista. Entre os vários episódios vividos pelo Mercado da Boa Vista, moradores e comerciantes apontam que, antes de existir, o território já foi cemitério anexo à Igreja de Santa Cruz e também foi local de venda de negras e negros escravizados. Este último fato, evidenciado nos jornais do século XIX, precisamente nos diversos anúncios de venda de pessoas negras para escravidão, representa uma cicatriz na memória de muitos.

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Marquei aqui no Mercado de Santa Cruz várias coisas...carnaval, música, arte, nostalgia, gastronomia, saudade, memória. Eu fico lá no Mercado da Boa Vista viajando como era o comércio de escravos. Ali também já foi um estábulo, um cemitério. quando eu vou lá eu me sensibilizo com esses eventos que tinham lá.

Homem de meia-idade, morador do bairro da Boa Vista

Antes de abrigar a construção do mercado, a área na qual ele se situa e seu entorno eram conhecidos como Ribeira da Boa Vista. Nas suas proximidades, encontravam-se várias atividades comerciais, tanto na rua, como nas casas. Nesse

sentido, a existência dessa dinâmica despertou, naquela época, a intenção da construção de um mercado a fim de ordenar o comércio de frutas, verduras, carnes e afins que acontecia nas ruas. Após construído, o equipamento caiu nas graças da sociedade recifense e passou a fazer parte do seu cotidiano. Nas últimas décadas do século XIX, houve intenções de mudança de sua localização e de sua estrutura arquitetônica, porém, para as pessoas que fazem uso do mercado, ele sempre foi de importância no seu dia a dia, e por isso, apenas demandavam melhorias estruturais pela sua permanência.

Cena vista a partir do exterior do Mercado da Boa Vista. 2021.

Ao longo dos anos que se passaram, o Mercado da Boa Vista permaneceu com seu uso, com pequenas mercearias, com carroças de frutas e verduras, além da venda de objetos utilitários. O mercado era o lugar de feira, do dia a dia, de compra e venda, de negócios. Antes da ascensão da Avenida Conde da Boa Vista, era no Mercado da Boa Vista e proximidades onde acontecia a dinâmica comercial do bairro. Hoje, para muitos, o mercado ainda é o local de compra de frutas, verduras e ervas. Não há morador antigo da Boa Vista que não tenha frequentado este mercado histórico.

Tem também as festas no mercado, mas eu não costumo ir não porque não bebo e nem fumo e lá é muita bebedeira. Eu conheço esse mercado quando era feira, que tinha aqueles sacos de feijão de açúcar, vendia charque, carne de sol, bode, tinha aqueles sacos de farinha, vendia retalho.

Mulher de meia-idade, moradora do bairro da Boa Vista

Foi principalmente no período de Jõao Paulo (anos 2000) que começou a ter mais incentivo de cultura, e começou a ter mais gente frequentando. Aqui antes era muito diferente, o meu pai tinha um box aqui, que era uma mercearia. No pátio era tudo banca de feira, tinha peixaria, muitas mercearias, tinha cobal, tinha o café beberibe moído na hora.

Homem de meia-idade, morador do bairro da Boa Vista

Sim. Eu tinha muitos amigos que tocavam violão, gostavam de recitar poesias, e começou a ter eventos aqui. E então comecei a botar voz e violão, e começou a ter happy hour, assim foi evoluindo. Começou a ter, com o apoio da fundação de cultura, muitos eventos aqui, de violeiros, tinha o Sarau da Boa Vista. tinha muitos poetas e muitas atrações. Foi passando o tempo e foi decaindo esse movimento cultural. O pessoal foi desgostando e foi abrindo cada vez mais bares e não tem mais esses palcos dos eventos.

Homem de meia-idade, morador do bairro da Boa Vista

Considerada o símbolo da Boa Vista pela maioria dos entrevistados, a construção nas cores rosa claro e terracota mantém grande parte de suas características físicas até hoje e o pátio interno arborizado é contornado pelos seus pequenos boxes e frequentado por todo tipo de gente. Não somente a construção é de relevância, mas principalmente as atividades que são realizadas nelas, seus produtos de venda, os costumes, e expressões.

A partir dos anos 2000 o Mercado da Boa Vista, coração do bairro, começou a receber atividades culturais que fizeram esse lugar ser palco da boemia recifense. Muitas mercearias se converteram em bares para dar conta do samba que tomou espaço aos sábados e domingos. O espaço que antes tinha apenas o uso de mercado de frutas e verduras,

passou a ser tomado pelas mesas de bar e caixas de isopor com cerveja gelada.

E as comidas dos botecos da Boa Vista? São sabores que marcam o bairro. Tem gente que diz que a Boa Vista tem “sabor de desarrumadinho com flor de jambo do Bar do Vizinho”. O Mercado da Boa Vista é, portanto, além de um marco célebre do bairro, o ambiente que acolhe referências culturais como a expressão da boemia, dos saraus e dos blocos de carnaval, além do saber da culinária dos botecos tradicionais com seus pratos regionais.

As comidas do Mercado da Boa Vista, como o pirão de queijo coalho, são bem marcantes para mim. E as mercearias/ boxes do próprio mercado também acredito que são expressões peculiares.

Homem jovem, frequentador do bairro da Boa Vista

As memórias sobre Mercado da Boa Vista são diversas! O mercado, que é um dos espaços mais frequentados do bairro, representa a ressignificação constante deste território que já passou por tantos olhares.

Me remete ao gosto da salada de fruta que eu comprava no mercado da boa vista, cores vivas, cheiro de tapioca quentinha.

Homem jovem, ex-morador do bairro da Boa Vista

Quando eu nasci eu já andava de cueca ali no mercado da boa vista... aquelas estátuas me fascinavam, eu queria subir em tudo. [...] Até hoje quando eu vou tomar uma cervejinha no mercado e fico lombrando, viajando na arquitetura dos prédios antigos.

Homem jovem, morador do bairro da Boa Vista

Frequentado pela turma do PT.

Mulher de meia-idade, moradora do bairro da Boa Vista

Comércio do Mercado, compras no açougue. Palco de festas de Carnaval, é um símbolo da Boa Vista;

Homem de meia-idade, morador do bairro da Boa Vista

O movimento em torno do mercado da Boa Vista, nas sextas-feiras à tarde, com as bandas que tocam desde Pink Floyd à Reginaldo Rossi, é bem único e particular no bairro. Ao menos faz parte da minha memória afetiva!

Mulher de meia-idade, frequentador da Boa Vista

Memória afetiva em ir comprar feijão verde quando pequeno e passeando com a minha mãe.

Homem jovem, morador do bairro da Boa Vista

O Mercado da Boa Vista é referência por ser histórico, simbólico, cultural, artístico e, claro, afetivo. Este edifício

se expande para além de seus muros: nas suas imediações sente-se o cheiro de feijão verde sendo debulhado, dos tomates maduros, do queijo coalho, e claro, da boemia que se manifesta das mais diversas formas.

Fachada do Mercado da Boa Vista. 2021

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