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rua da imperatriz
Antes conhecida como Aterro da Boa Vista, ou também como Rua Nova do Aterro da Boa Vista, a Rua da Imperatriz Teresa Cristina (*) é uma das primeiras ruas do Recife construídas sobre áreas alagadas pelos mangues. No antigo mapa de 1759, já podem ser observadas algumas casas ao longo da rua. Em 1808, de acordo com registros do mapa da cidade do Recife, esta rua já estava inteiramente ocupada. O fluxo de pessoas na Boa Vista, que antes se intensificava nas áreas próximas à Rua de Santa Cruz, passou a ser cada vez mais dividido com a Rua Imperatriz à medida que o número de casas e lojas aumentava.
A Rua da Imperatriz possui uma forte relação com a existência da Ponte da Boa Vista, pois, quando esta passou a ser a única passagem entre a Boa Vista e os outros bairros do centro antigo do Recife, deu-se uma valorização desta rua. O casario da rua é composto por sobrados de primeiro e segundo andar pintados das mais diversas cores e desenhados de acordo com vários estilos arquitetônicos. Seus pavimentos térreo eram destinados ao comércio, enquanto os superiores, à moradia. Durante o século XIX, a Rua Imperatriz era a área mais valorizada do Recife e, ao longo do tempo, se tornou um dos principais corredores de compras da cidade do Recife.
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Nos antigos jornais, encontram-se diversos anúncios de lojas, moradores e eventos que ocorriam nesta rua. A oferta de transporte público, que passava pela rua em direção à Ponte da Boa Vista, com os bondes do final do século XIX e
(*) visualização no mapa: item 22.
início do século XX, intensificaram ainda mais a frequência de pessoas nessa área da Boa Vista, eram teatros, lojas de luxo, consultórios médicos, restaurantes, cafés, padarias, etc.
A Rua da Imperatriz manteve sua intensidade de fluxo de pessoas por muitas décadas, até momentos recentes. Na segunda metade do século XX já não apresentava toda a luxuosidade do século anterior, mas os pavimentos superiores das casas passaram a abrigar muitos estudantes vindos do interior de Pernambuco para estudar no Recife, que continuavam a dar vida ao casario histórico. A formosa Rua da Imperatriz é tida pelas pessoas como um dos símbolos mais importantes da Boa Vista, sendo lugar de acontecimentos históricos e abrigando importantes estabelecimentos na memória afetiva das pessoas.
A Rua da Imperatriz era um lugar que servia como habitação para estudantes e pessoas que vinham de fora. No térreo, predominavam as lojas. Imperatriz, Duque de Caxias e Rua Nova no bairro de Santo Antônio, essas ruas eram o antigo shopping da cidade.
Mulher de meia-idade, ex-moradora do bairro da Boa Vista
Foi no sobrado de número 147 da Rua da Imperatriz, em agosto de 1849, onde nasceu o abolicionista e monarquista Joaquim Nabuco. Vindo de uma família de alto poder aquisitivo, o abolicionista foi eleito deputado pela província de
Pernambuco, deixando como marca sua trajetória a favor do abolicionismo, fazendo campanhas ao longo da década de 1880. Nabuco é autor do livro “O Abolicionismo” (1884), o qual teve importância significativa no processo histórico nacional para a libertação das pessoas escravizadas. O antigo deputado, por possuir alto prestígio familiar e político, teve espaço para demonstrar as vantagens da abolição para o desenvolvimento do país, não se tratando, porém, de uma ação benfeitora, mas conveniente para os processos políticos daquela época. Joaquim Nabuco também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, com sua importância política e reconhecimento. A casa onde nasceu permanece como testemunho de sua memória na Rua da Imperatriz, demonstrando o contexto de sua formação social.
Para além de personalidades importantes, na memória afetiva de muita gente está a existência da Padaria Imperatriz. Suas receitas são um importante saber da Boa Vista e estão associadas aos cheiros e sabores do bairro. Inaugurada em 1897 e comprada na década de 1970 pelo atual dono, o estabelecimento histórico possui um vasto cardápio, e, entre os pratos mais lembrados pelas pessoas estão o pão em formato de tartaruga e a clássica pizza de mussarela.
Os sabores marcantes da Boa Vista são o pão da Padaria Santa Cruz e a pizza da Padaria Imperatriz, que sempre me atraem para dar uma passada por ali.
Fachada da Padaria Imperatriz. 2021.
Os cheiros marcantes são o da pizza da Imperatriz e do Rio Capibaribe.
Mulher jovem, ex-moradora do bairro da Boa Vista
(*) visualização no mapa: item 85.
A parada na Padaria Imperatriz (*) após horas de andanças pelo centro da cidade é uma das sensações mais prazerosas que se pode ter na Boa Vista. A padaria e suas receitas são conhecidas como símbolos autênticos da Boa Vista, e, a elas, são atribuídos valores afetivos, da memória e da cultura. Este estabelecimento se reinventou e, hoje, mistura as receitas clássicas dos padeiros, com os lanches atrativos para os que andam apressados pelo centro no dia a dia. Consegue agradar crianças, adolescentes, adultos e
idosos e tem quitutes de todo tipo, dos clássicos bolos de rolo e Souza Leão aos pães com hambúrguer.
Eu, como morador da Boa Vista, sou bem clichê mesmo, vou na Padaria da Imperatriz para dizer que vou na padaria da Imperatriz para comer a pizza da Imperatriz.
Homem jovem, morador do bairro da Boa Vista
Tenho memória afetiva de comer um retalho de pizza com a minha mãe quando pequeno.
Homem jovem, morador do bairro da Boa Vista
Pizza de queijo mussarla da Padaria Imperatriz. 2021.
A tão famosa pizza da Padaria Imperatriz, é feita nos sabores mussarela ou calabresa, é simples, com poucos ingredientes, porém marcante e inconfundível ao paladar e olfato de quem a experimenta. Saborear esta pizza é uma das sensações mais verdadeiras de se estar na Boa Vista.
Atualmente a tão simbólica Rua da Imperatriz ainda está muito presente no imaginário de quem vive ou viveu o centro do Recife. No entanto, nos últimos anos, se tem visto um esvaziamento progressivo dos seus sobrados históricos. Muitas lojas que foram rememoradas pelas pessoas que participaram do processo de construção deste livro, não mais existem e deram espaço a imóveis vazios; o luxo, o “vuco-vuco” e a alegria não são mais tão presentes nesta rua. No entanto, é preciso reconhecer que alguns símbolos e lojas antigas resistem na Rua da Imperatriz, como é o caso da Padaria Imperatriz, da Livraria da Imperatriz e dos vendedores ambulantes que nunca deixaram de estar presentes e de movimentar a rua com suas performances e saberes de venda. É preciso reinventar a partir do que ainda existe, é preciso reconhecer os significados e memórias afetivas tão presentes e essenciais para a Boa Vista, para ressignificar esta rua tão importante para o bairro.
Tem outros lugares símbolos mas que não existem mais, era um loja na Rua da Imperatriz chamada Ele e Ela, era uma boutique chiquérrima.