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praça maciel pinheiro

Largo do Aterro, Largo da Matriz, Largo da Conceição... Esses foram alguns dos títulos atribuídos à praça Maciel Pinheiro (*) ao longo da sua história. Eles fazem alusão e revelam a associação da praça a marcos físicos da paisagem como o Aterro da Boa Vista, a Igreja Matriz da Boa Vista e a antiga capela de Nossa Senhora da Conceição, respectivamente. Em relação a essa última, foi a sua presença e a inauguração da Ponte da Boa Vista que levaram o antigo povoado a se expandir em direção à praça e ocupar o seu entorno.

No ano de 1831, o então Largo da Conceição passou a ser chamado de Praça da Boa Vista. Algum tempo mais tarde, recebeu um monumento conhecido como Chafariz Imperial, que celebrava as possibilidades trazidas pela recém-instalada rede de distribuição de água. Esse chafariz não é o

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(*) visualização no mapa: item 19.

mesmo encontrado hoje, mas ele também impressionava os antigos frequentadores da praça com a sua imponência e o espetáculo proporcionado pelos seus jorros d’água.

Em 1870, após o fim da Guerra do Paraguai, recebeu a denominação de Praça Conde d’Eu, em tributo ao príncipe francês Conde d’Eu e às demais pessoas que lutaram na guerra durante seis anos. Não muito tempo após a renomeação da praça, uma articulação popular refletiu sobre a importância de existir um marco que representasse o fim da guerra e a vitória do Brasil na mesma, o que, posteriormente, resultou na instalação de um novo chafariz, o qual é apreciado até hoje pelos frequentadores da praça. Nele são vistas figuras como leões, ninfas, máscaras e, no seu topo, uma mulher indígena munida de arco e flecha representando os povos originários do país.

Finalmente, em 1889, a praça recebeu a sua designação atual, que é uma homenagem ao jornalista Luís Ferreira Maciel Pinheiro, que, no decorrer da sua vida, defendeu ideais abolicionistas de liberdade e igualdade junto a Joaquim Nabuco, José Mariano e outras figuras importantes do cenário político local. Dentro desse contexto de manifestações políticas, a Praça Maciel Pinheiro assumiu um papel importante de lugar de encontros, discussões e trocas entre essas personalidades da política pernambucana.

Igualmente importante foram os intercâmbios culturais ocorridos entre os mais diversos grupos sociais que por lá passaram, como os imigrantes de origem judaica, que, no

século passado, se instalaram nas ruas adjacentes à praça e imprimiram práticas vividas até hoje. Entre eles estava Clarice Lispector, que morou na casa de número 347 (*) durante a sua infância e que, no presente, encontra-se representada na escultura situada ao lado do chafariz da praça. O sobrado onde ela cresceu ainda existe e nas suas paredes podem ser vistas artes e mensagens de saudade a Clarice, e votos de que no futuro seja atribuído à edificação um novo uso que homenageie e rememore a trajetória da escritora, revertendo o triste estado de abandono atual.

Praça Maciel Pinheiro. Abdias Júnior, 2013. (*) visualização no mapa: item 25.

Hoje, embora passe por um momento doloroso marcado pela ocupação do seu entorno pela população em situação de rua, a praça Maciel Pinheiro ainda é associada a diversas impressões positivas, como o fascínio pelos seus aspectos físicos, a exemplo o célebre chafariz, o qual é valorizado a partir da disposição das árvores e palmeiras na praça, que o emolduram e reforçam a sua verticalidade. Observando a partir de outro sentido, percebe-se que essa vegetação também destaca a Igreja Matriz da Boa Vista, e o formato triangular da praça parece convergir para ela, estreitando assim a relação entre arquitetura e espaço público.

Outra característica importante é a relação afetiva dos frequentadores com as atividades cotidianas - como a presença de vendedores ambulantes, que, durante a manhã, marcam a área com o cheiro de frutas frescas e o som das vozes que disputam a atenção dos transeuntes, e que, assim que o sol se põe, dão vida a um dos pontos de boemia do bairro –, as festas de Carnaval e os grandes eventos religiosos - a exemplo da saída da procissão da Via Sacra -, que, junto a outros episódios passados, revelam o grande poder de agregação da praça e explicam por qual motivo ela foi entendida como um dos mais importantes símbolos do bairro.

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