3 minute read

teatro do parque

Você consegue imaginar um grande complexo de diversões em plena Rua do Hospício? Quando se mudou para o Recife, o ambicioso comerciante português Bento Luiz de Aguiar trouxe consigo o desejo de construir aqui um parque de diversões nos moldes do seu país de origem, e, durante a sua vida, trabalhou incansavelmente para materializar o seu sonho.

O pontapé inicial do projeto foi a construção do Hotel e do Bilhar do Parque em 3 de abril de 1915. Constando de três pavimentos, a edificação em estilo eclético abrigava no seu piso térreo as atividades do Bilhar; já nos seus pisos superiores, acessíveis por uma escada ao lado da edificação, eram dispostas as acomodações e uma sala de refeições com vista para o parque que fazia parte do complexo.

Advertisement

(*) visualização no mapa: item 20.

Em 24 de agosto de 1915, sob vários holofotes, foi inaugurada a segunda etapa da ambiciosa iniciativa de Aguiar, que se tratava do tão esperado Teatro do Parque (*), situado quatro edificações após o Hotel e os Bilhares do Parque. Sua entrada se dava a partir de um lote estreito, que logo se expandia e dava vista não só para o teatro, como também para a área ajardinada de grandes dimensões que integrava o empreendimento. As suas instalações surpreendiam os visitantes pela sua imponência e os espetáculos em cartaz brindavam os espectadores com os maiores nomes nacionais e internacionais do teatro, da dança e da música.

Teatro do Parque e seu jardim. 2021.

Seis anos mais tarde, o teatro inaugurou o seu projeto Cine-Parque com os filmes “A Filha do Tigre” e “Agarra-me”, ambos produzidos pela Fox, o que o introduziu à rede de cinemas de rua locais e reforçou o seu status de equipamento multicultural da cidade.

Juntos, o Hotel, o Bilhar e o Teatro do Parque agitavam a vida noturna do bairro e se retroalimentavam, uma vez que as companhias que se apresentavam no teatro, muitas vezes, se hospedavam no hotel e faziam uso das suas dependências, bem como atraíam personalidades locais interessadas em desfrutar do célebre equipamento que recebia tantas figuras importantes.

Apesar disso, com a morte do idealizador do complexo de diversões em 1929, a empresa arrendatária separou o hotel do teatro, o que levou cada um deles a seguir caminhos distintos. O hotel entrou em declínio enquanto o teatro entrou em uma nova fase após ser arrendado por Severiano Ribeiro, proprietário de uma próspera rede de cinemas, que deu ênfase às projeções cinematográficas do cine-teatro e o inseriu no circuito de filmes falados do país.

Todavia, essa transformação acabou colocando a oferta de espetáculos em segundo plano, o que desagradou frequentadores e integrantes da classe teatral e, consequentemente, os levou a pressionar pela manutenção das atividades cênicas, uma vez que equipamentos como aquele já se encontravam em escassez na cidade. Essa articulação acarretou na posterior desapropriação do Teatro

do Parque e na atribuição da sua gestão ao poder público, que realizou uma série de reformas e reorientou o foco do empreendimento para as artes cênicas.

Dando continuidade às transformações, a partir da década de 70, o Teatro do Parque passa a ser exemplo de equipamento público de caráter popular. Foi nesse momento em que ele se tornou o primeiro cinema educativo permanente do Brasil, passando assim a apresentar filmes que não eram exibidos em cinemas convencionais. Depois, políticas como o Projeto de Popularização do Cinema e o famoso Projeto Seis e Meia garantiram o acesso ao equipamento por classes menos favorecidas economicamente, além de estreitar o vínculo entre a população e o teatro, o qual assumiu um lugar especial dentro do imaginário dos seus visitantes.

Eu frequentava muito o Teatro do Parque também, tinha filmes, shows...O Seis e Meia, era um projeto muito bonito de cinema nacional, era uma vez na semana, preços ótimos, um real, eu também era muito frequentadora dele.

Mulher idosa, moradora do bairro da Boa Vista

Infelizmente, em 2010, o teatro precisou passar por novas reformas, que perduraram por muitos anos. Nesse meio-tempo, diante da incerteza do futuro, vários grupos da sociedade civil fizeram demonstrações em sua defesa, a exemplo da Virada Cultural do Teatro do Parque, um dos

eventos recentes que revelaram a importância do equipamento para a população e a postura firme da mesma em relação à exigência de reabertura do teatro.

Após dez anos marcados por muita pressão popular, o Parque foi novamente devolvido ao público, assim permitindo que as atuais e novas gerações desfrutem desse equipamento público que é símbolo da vida cultural, das inovações tecnológicas e da resistência local.

This article is from: