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avenida conde da boa vista

(*) visualização no mapa: item 36.

Os centros urbanos normalmente possuem pelo menos uma grande avenida, onde se concentram os principais usos e circulam a maior quantidade de pessoas e transportes da região e, no caso da Boa Vista, não é diferente. A famosa “Conde”(*), como é popularmente mencionada pelos recifenses, é uma das avenidas mais movimentadas do bairro da Boa Vista e da cidade do Recife. Com 1,6km de extensão, a Avenida Conde da Boa Vista recebe, diariamente, uma circulação de cerca de 300 mil pessoas. O local onde hoje está a Avenida Conde da Boa Vista já foi uma área de mangue, considerado um lamaçal intransitável, que, posteriormente, foi incluída nos planos de aterramento do bairro coordenados pelo Conde da Boa Vista, o governador Francisco do Rego Barros, no século XIX.

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Entre os atores sociais entrevistados, a Conde foi bastante mencionada, sendo um dos bens culturais mais enaltecidos sobre o bairro da Boa Vista. Além da sua importância urbana, a Avenida Conde da Boa Vista está relacionada a muitos outros bens reconhecidos como patrimônio pelos recifenses, tanto através de edifícios como Cinema São Luiz e o Shopping Boa Vista que estão localizados na própria Conde, quanto dos eventos, celebrações e expressões culturais que ocorrem neste importante eixo da cidade. Uma destas é o Galo da Madrugada, grande bloco carnavalesco que, durante o Carnaval, substitui o cenário diário da avenida, caracterizado pelo intenso fluxo de veículos, por confetes, serpentinas e muitos foliões.

Depoimentos sobre a Avenida Conde da Boa Vista costumam reconhecer um importante valor de uso e a sua forte presença comercial na cidade, além da frequente assimilação de um valor simbólico da Conde, como elemento importante para o bairro da Boa Vista. O recifense já frequenta a Boa Vista desde criança, acompanhando pais, mães e outros familia em passeios ao centro do Recife para fazer compras ou resolver alguma pendência, tendo a avenida como principal rota de chegada e saída do bairro, sendo ótima também para caminhar. Se você estiver preparado para o barulho do comércio, o fluxo de transportes e pedestres, sempre tem bastante movimento por lá.

Quando morei no centro, eu andava todo dia pela Conde da Boa Vista só pra ver o que tava acontecendo; um protesto; uma coisa interessante.

Mulher jovem, ex-moradora do bairro da Boa Vista

O bairro da Boa Vista é bastante identificado pelos atores sociais como um lugar de amplas possibilidades, de liberdade, de descobertas, porque promove um encontro de culturas. Local que além de cuidar do acesso das pessoas, também se torna palco para manifestações culturais e políticas.

Eu me lembro do barulho, os estudantes, os protestos, então a Conde da Boa Vista é esse movimento aí: barulho e agito.

Homem idoso, morador do bairro da Boa Vista

O público estudantil faz parte de um dos principais grupos sociais que ocupam a Boa Vista desde o século XIX, com a transferência da atual Faculdade de Direito do Recife em 1854, que possuía sede na cidade de Olinda, e com a construção do Ginásio Pernambucano, em 1855. No início do século XX, com as expansões e o crescimento do centro, outras instituições de ensino se estabeleceram na Boa Vista, como é o caso do saudoso Colégio Marista, fundado em 1924, mas que teve sua sede transferida para a Zona Norte do Recife e hoje sobrevive apenas a fachada do antigo prédio.

Com a mesma facilidade que os atores sociais pensam na Conde da Boa Vista como via urbana, lugar de protestos, centro de compras e caos, a avenida está bastante relacionada às festividades de carnaval recifenses. O bairro possui vários blocos de carnaval que se manifestam em diferentes polos, mas a Conde é sempre afetada pelo espírito festivo, seja nas mudanças de rotas, nas decorações de carnaval ou até mesmo na folia acontecendo na própria Conde, como no sábado de Zé Pereira, dia que a nossa majestade, o Galo da Madrugada, acolhe o recifense para o começo da grande festa.

Eu acho a Conde da Boa Vista a rainha de todas, ela se destaca com certo requinte sabe? Ela é central, tem os desfiles de sete de setembro, de carnaval, os protestos...

Mulher idosa, moradora do bairro da Boa Vista

Do alto dos prédios modernos que tornam a Conde da Boa Vista ainda mais imponente como avenida no centro do Recife; às pontes e ruas que se conectam com a Conde e distribuem o fluxo de pessoas e comércio no centro; do barulho dos ônibus e comerciantes fazendo a vida urbana do centro, às marchinhas de carnaval e atos políticos, a Conde da Boa Vista é um grande palco da cultura pernambucana.

O eixo da Avenida Conde da Boa Vista tem identidade própria pra mim, pauta-

da essencialmente em sua efusividade e caráter comercial.

Homem jovem, frequentador do bairro da Boa Vista

Vista da Avenida Conde da Boa Vista a partir do Shopping Boa Vista. 2021.

(*) visualização no mapa: item 91.

Importa lembrar que é na esquina da Rua do Hospício com a Avenida Conde da Boa Vista onde acontecia a conhecida Batalha da Escadaria (*) desde o ano de 2008. Reconhecida como celebração cultural da Boa Vista, o evento é uma batalha de rap que ocorreu, até março de 20203, com a periodicidade de 15 em 15 dias. A Batalha da Escadaria é conhecida nacionalmente, já recebeu artistas como Criolo

3. A Batalha está momentaneamente suspensa, no momento da realização deste livro, em razão da pandemia de COVID-19.

(SP) e Inquilinos (PE), tendo como princípio um ambiente de pleno respeito às pessoas pretas, aos que se identificam enquanto LGBTQIA+ e ao feminismo. O evento é livre, gratuito e ocorre na calçada. No dia em que há a batalha a área fica tomada por pessoas. O público e os participantes vêm de todo o estado de Pernambuco e outras regiões do Brasil. A batalha em si possui jurados e os concorrentes têm 45 segundos em cada fala. Observado como um evento de resistência e ocupação dos grupos menos favorecidos na sociedade, a Batalha da Escadaria simboliza identidade, inclusão e multiplicidade, assim como a avenida e toda a área dinâmica da Boa Vista.

Batalha da Escadaria. Ramon Ribeiro, 2017.

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