Revista Domínio FEI - ed. 35 | Rota 2030 incentiva indústria automobilística

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Publicação do Centro Universitário FEI

Ano XI | Nº 35 | Set/Dez 2019

Rota 2030 incentiva indústria automobilística FEI É A ÚNICA INSTITUIÇÃO PRIVADA A PARTICIPAR DO NOVO PROGRAMA DO GOVERNO FEDERAL

ECONOMIA CIRCULAR ESTIMULA O USO MAIS EFICIENTE DE RECURSOS NATURAIS



EDITORIAL

PROTAGONISTAS NA FORMAÇÃO PARA O FUTURO

A

s mudanças que estamos vivenciando e co-criando nestes tempos de transformação digital e inovações tecnológicas nos induzem a estarmos atentos aos fatos, às tendências e aos avanços. Articulações entre diferentes atores sociais, neste contexto, são fundamentais para que estejamos em diálogo constante e profundo sobre as tendências técnico-científicas e mercadológicas, tendo como premissa que nenhum avanço se justifica se não estiver a favor de uma vida melhor e mais digna para todos. Instituições universitárias e de pesquisa são protagonistas deste processo de co-criação do futuro, na medida em que formam recursos humanos bem preparados e geram conhecimento estruturante para a construção do mundo que almejamos. Nesta edição da Domínio FEI apresentamos algumas atividades que refletem nossa inserção neste processo, seja por intermédio de eventos científicos, como o Workshop de Visão Computacional, seja pelo Congresso de Inovação e Megatendências 2050, que nos permite trazer, para dentro do Centro Universitário, altos executivos, pesquisadores, especialistas e representantes do Estado para discutirem temas relacionados às megatendências, estimulando nossos alunos e professores a pensarem no amanhã e nos impactos que as mudanças trarão no médio e longo prazo. Vislumbramos o futuro também a partir do olhar de ex-alunos e dos nossos estudantes – os jovens da geração Z –, visando compreender suas habilidades e dificuldades, incentivando a pesquisa por meio dos programas de iniciação científica e tecnológica, ou organizando eventos como o TEDx, que dá a eles a oportunidade de troca de experiências com jovens e­ mpreendedores. Outro destaque desta edição é a participação da FEI no Programa Rota 2030, que envolve uma rede de universidades e de empresas do setor automotivo em um modelo organizado pelo governo federal que visa, entre outros fatores, a busca de soluções tecnológicas apropriadas às potencialidades do Brasil, com perspectivas de inserção de pequenas e médias empresas do setor no ecossistema de inovação com foco na maior competitividade do País em nível global. Nossos pesquisadores também mostram que o trabalho em rede, fundamentado no diálogo entre empresa e comunidade, pode ter como foco a busca de soluções para demandas sociais. É o conceito de Licença Social para Operar (LSO), que visa a redução de impactos socioambientais das mineradoras. A diversidade de olhares e de conhecimentos, gerados dentro e fora da academia, traz uma enormidade de significados. E, em meio a tantas oportunidades, pela primeira vez a FEI faz parte de um projeto ainda mais inovador com a Sociedade Rosas de Ouro, uma tradicional escola de samba da cidade de São Paulo. Essa parceria que nos desafia a trabalhar a tecnologia em um ambiente gerador de cultura popular, sem dúvida, trará para nosso Centro Universitário novos elementos baseados na manifestação criativa única que é o Carnaval e, a partir daí, alunos e professores terão ainda mais inspiração para praticar o que é o escopo de uma universidade de tecnologia e gestão. A diversidade de olhares é um forte elemento a favor da comunidade universitária aberta ao novo, apta a soluções tecnológicas criativas, propositora de novos modelos. É a universidade (católica) sendo “centro incomparável de criatividade e de irradiação do saber para o bem da humanidade” (de Ex corde Ecclesiae, constituição apostólica, do Sumo Pontífice João Paulo II)

Professora doutora Rivana Basso Fabbri Marino Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias

A diversidade de olhares é um forte elemento a favor da comunidade universitária aberta ao novo, apta a soluções tecnológicas criativas, propositora de novos modelos.

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FEIANOS EM DESTAQUE O Centro Universitário FEI recebe quase diariamente informações sobre ex-alunos de relevância no mercado, que assumem posições de destaque em grandes empresas que impactam diretamente a evolução do País. É um grande orgulho saber que Feianos são CEOs, COOs, presidentes, diretores, gerentes, entre tantas outras posições de relevância, em companhias de todos os setores. Este espaço foi criado para valorizar esses ex-alunos e desejar a todos muito sucesso!

O grupo Evonik Industries, com sede na Alemanha e um dos líderes mundiais em especialidades químicas, anunciou seu novo diretor presidente para a região América Central e do Sul. Elias Nahssen de Lacerda, formado em Engenharia de Produção Química pela FEI e até então CFO e vice-presidente de Negócios da área de ‘Nutrition and Care’ para a América Central e do Sul, substituiu o também Feiano Weber Porto, que conclui sua trajetória de quase 36 anos na Evonik e 17 anos como presidente da região.

A AGCO, fabricante e distribuidora mundial de equipamentos agrícolas, anunciou seu novo diretor de Compras América do Sul. Carlo Martorano, formado em Engenharia de Produção Mecânica pela FEI, assume as responsabilidades da definição e execução da estratégia de compras globais e América do Sul.

Fotos: Divulgação

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) nomeou Níveo Maluf como presidente do Conselho Diretor. Graduado em Engenharia Mecânica Automobilística e em Engenharia de Produção pela FEI, o executivo também é diretor de Relações Institucionais & Sustentabilidade da Bunge South America, desde 2011, e diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Nº 35 | SETEMBRO A DEZEMBRO 2019 | ANO XI Uma publicação do Centro Universitário FEI

EXPEDIENTE

Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3.972, Bairro Assunção – São Bernardo do Campo – SP CEP 09850-901 – Telefone: (11) 4353-2900 Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688 – Liberdade – São Paulo CEP 01525-000 Telefone: (11) 3274-5200 Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello

COM A REDAÇÃO 4 DOMÍNIO FEI

Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profa. Dra. Rivana Basso Fabbri Marino

Produção editorial, diagramação e design Companhia de Imprensa – Divisão Publicações

Conselho editorial desta edição Profa. Dra. Rivana Basso Fabbri Marino Prof. Dr. Renato Giacomini Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco Prof. Dr. Ricardo Belchior Torres

Edição e coordenação geral de redação Adenilde Bringel (MTB 16.649)

Diretor de Marketing Michael Lopes

Fotos Arquivo FEI, Ilton Barbosa e acervo pessoal das fontes

Coordenação geral Thais Fukasawa Comunicação e Divulgação

Design gráfico Silmara Falcão

Supervisão geral Fabricio Bonfim Comunicação e Divulgação

A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Envie sua mensagem via e-mail para redacao@fei.edu.br.

Reportagem Adenilde Bringel, Deh Oliveira, Elessandra Asevedo e Fernanda Ortiz

Tiragem 1,5 mil exemplares e versão on-line no endereço: fei.edu.br/revistas Impressão Edições Loyola

As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas antecipadamente à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br


ENTREVISTA

SUMÁRIO

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PERSONA

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O engenheiro Fábio Nossaes, formado em Engenharia Mecânica pelo Centro Universitário FEI em 1997, assumiu no início deste ano a presidência da GE Grid Solutions para a América Latina com o desafio de conquistar novos mercados, consolidar os já existentes e investir em energias renováveis

O engenheiro eletricista Fábio Napoli é diretor de TI do Itaú Unibanco

EM PAUTA

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Licença Social para Operar é um dos grandes desafios das mineradoras

16 Geração Z é tema da Semana da Qualidade na FEI 19

PESQUISA E TECNOLOGIA 26

Workshop de Visão Computacional reúne pesquisadores de Brasil e Portugal

EM PAUTA

O conteúdo completo do Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2019 terá uma publicação exclusiva que circulará em janeiro de 2020

24 DOMÍNIO FEI

COM

MAIS DE 1,3 MIL

40 DEPALESTRANTES MAIS DE 30 EMPRESAS GLOBAIS

PARTICIPANTES

10

RODAS-VIVAS

MAIS

DE

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EDIÇÃO 2019

SUCESSO O coordenador da Plataforma de Inovação FEI e do Congresso, professor doutor Gustavo Donato, ressalta a importância desse espaço de reflexões por estimular a capacidade de prospectar e aprender sobre o futuro. “A cada ano o evento ganha mais expressão, com resultados que vêm superando nossas expectativas, o que mostra que estamos seguindo um caminho virtuoso e focado na excelência. É gratificante ver a mudança de mentalidade de alunos e docentes quanto às visões de futuro, combinada a novas ideias, projetos e articulações empresa-universidade-governo”, comemora. O tema da 5ª edição do Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2050, a ser realizado em outubro de 2020, será Energia e Mobilidade – Vida em Sociedade. Todas as palestras e apresentações da quarta edição estão disponíveis no https://congressodeinovacao.fei.edu.br.

MAIS

EXPOSIÇÕES

FEI

CONGRESSO

MAIS DE

DE INOVAÇÃO E MEGATENDÊNCIAS 2050 ACESSO EM

35

20

DE MIL VISUALIZAÇÕES PELO STREAMING

MAIS DE

ATIVIDADES

Universitário, professor doutor Fábio do Prado, afirma que o tema é fascinante, complexo e assustador por seu surpreendente impacto social e econômico, que já está inserido em diversos aspectos no dia a dia das casas e das organizações. “E não é exagero afirmar que, no futuro próximo, ter sucesso significará conviver, trabalhar, colaborar e coexistir com inteligência artificial”, acentua.

PAINÉIS DE DISCUSSÃO

GRANDES EXPOENTES DA ACADEMIA E DO MERCADO

50

MAIS DE

71 MIL

VISUALIZAÇÕES

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Inteligência artificial e o ser humano é tema do Congresso FEI de Inovação

24 Engenheiros de Segurança são fundamentais nas indústrias

MAIS DE

150

MIL PESSOAS

IMPACTADAS NAS

REDES SOCIAIS

6,5 MIL

MAIS DE

D

esde a fundação, o Centro Universitário FEI se destaca pela postura empreendedora e excelência na formação de recursos humanos nas áreas de tecnologia e gestão. Para reforçar o perfil inovador da Instituição foi criada, em 2016, a Plataforma de Inovação FEI, cujo foco é preparar profissionais capazes de solucionar problemas mal estruturados com criatividade, visão e inovação. Desde 2016 a FEI realiza anualmente o Congresso de Inovação e Megatendências 2050. O objetivo é provocar e inspirar estudantes, docentes e convidados a entenderem o futuro e acompanharem as transformações. Neste ano, o tema foi ‘Inteligência Artificial e o SER do humano: complementariedade ou competitividade para aprender, inovar e viver?’. O encontro promoveu uma reflexão a respeito do futuro e de como a IA irá coexistir com o ser humano em todas as suas dimensões. “A faísca da racionalidade é o grande desafio. É a pergunta e é a resposta. O nosso tema contribui para o aprofundamento do diálogo entre a fé, a ciência e a tecnologia”, reflete o Padre Theodoro Peters, S.J., presidente da Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros. Durante o Congresso foram abordadas inúmeras questões relacionadas à inteligência artificial. O reitor do Centro

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PAÍSES

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O IMPACTO NO SER HUMANO

PARTICIPAÇÕES DE ALUNOS, PROFESSORES, COLABORADORES E FORMADORES DE OPINIÃO

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NO HOTSITE

SESSÕES TÉCNICAS

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GESTÃO E INOVAÇÃO

32 Economia circular visa uso mais eficiente de recursos naturais pelas empresas

Capa: iStockphoto/Filip_Krstic

NOTÍCIAS

Centro Universitário FEI participa de um dos programas prioritários do Rota 2030, iniciativa do governo federal que visa estimular a pesquisa e o desenvolvimento da indústria automobilística brasileira

35 Café com Engenharia aborda a Indústria 4.0 no setor químico 36 SICFEI estimula o conhecimento científico e a pesquisa 38 TEDxFEI envolve empreendedores de vários segmentos 40 Concurso Travessia desafia os alunos a construírem pontes 41 Encontro com ex-alunos para rever colegas e matar saudades

ARTIGO

42 Estudantes de Engenharia em projeto com escola de samba DOMÍNIO FEI 5


ENTREVISTA – FÁBIO NOSSAES

EM BUSCA DE SOLUÇÕES NO SETOR DE ENERGIA

A

GE Grid Solutions, líder global em soluções, produtos e serviços para transmissão e distribuição de energia, opera em mais de 80 países com tecnologias que equipam 90% das empresas no mundo. Presente em sete países da América Latina e há 100 anos no Brasil, a companhia foca no desenvolvimento e na fabricação de produtos para as redes de energia. Em abril deste ano, o engenheiro Fábio Nossaes, formado pelo Centro Universitário FEI em 1997, assumiu a presidência da GE Grid Solutions para a América Latina com o desafio de conquistar novos mercados e consolidar os já existentes. O executivo de 45 anos, que escolheu a Engenharia Mecânica porque gostava de motores e acabou se encantando pelo mercado de energia, é responsável por um negócio que movimenta de US$ 500 a US$ 750 milhões por ano. O senhor assumiu a presidência da GE Grid Solutions com o desafio de liderar a organização para posicionar o negócio, estabelecer e manter relações produtivas com clientes visando o crescimento. Como pretende atingir essas metas? A GE do Brasil está comemorando 100 anos em 2019 e já estamos muito bem estabelecidos na América Latina, com presença em sete países – Brasil, Chile, Colômbia, Argentina, México, Panamá e Peru – e aproveitando para entrar, oportunamente, em países onde ainda não temos uma base instalada, como a Costa Rica, por exemplo. Temos nossas raízes muito fortes na região, com ti-

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mes operacionais, clientes e uma longa lista de projetos executados e em execução. Nosso primeiro objetivo na região é crescer e, para isso, focamos no desenvolvimento de produtos e de tecnologias, além de atrair e desenvolver talentos, acompanhando os mercados emergentes de geração e transmissão por esses principais países da América Latina. Brasil e México são as nossas principais unidades; Chile e Colômbia são o segundo grupo; Argentina e Peru estão no terceiro e os demais países apresentam ainda pequenos volumes de negócios e projetos pontuais. Qual é a importância da América Latina para o negócio global da empresa? Hoje, a América Latina representa em torno de 10% das vendas mundiais. Vendemos produtos na região que são fabricados no Brasil e em todas as nossas outras unidades no mundo. A importância da América Latina está relacionada à venda e alavancagem do negócio, assim como em fornecer produtos e tecnologias para outros mercados. Produzimos equipamentos para redes elétricas e, assim como importamos para os projetos locais, exportamos projetos para fora da América Latina. Temos três fábricas no Brasil – Canoas, perto de Porto Alegre; Itajubá, em Minas Gerais; e uma fábrica de automação em Florianópolis. Como está o mercado e quanto pode crescer nos próximos anos para que a Grid Solutions atinja as metas? O mercado da América Latina, se pen-

sarmos apenas em transmissão e distribuição, representa algo em torno de US$ 4 bilhões. Estamos conseguindo uma boa fatia disso, mas esperamos crescer ao complementar a parte de geração com nossas soluções de Grid. Agora que fazemos parte da GE Renewable Energy e temos, além de grid (transmissão de energia), os negócios de geração de energias renováveis como eólica, hidrelétrica, solar e híbridos, temos oportunidade de crescer ao lado desses negócios sempre que tenham novos projetos na América Latina. Antes, fazíamos parte da GE Power – focada em geração térmica – e, por isso, também acompanhamos todo projeto novo desse segmento com solu­ ções e produtos, cobrindo a parte de transmissão de energia. Acompanhamos os leilões e os grandes reforços desenvolvidos nas linhas de transmissão, partes do setor elétrico nas quais estamos muito bem posicionados. Como é o negócio da Grid Solutions? A Grid Solutions vende desde produtos ‘mais simples’, como relés de proteção, disjuntores e chaves seccionadoras, até os mais complexos, como grandes transformadores de potência. Também fazemos projetos completos, chamados de turn-key, que incluem engenharias básicas e executivas, além da espe­ cificação e o fornecimento de equipamentos e sistemas. Podemos fazer um projeto turn-key que inclui toda a nossa Engenharia e todos os nossos produtos, quando nos associamos a uma empresa de obra civil e montagem. Portanto, vendemos desde um relé de US$ 2 mil


até um contrato de projeto t­ urn-key de US$ 100 mil. Temos de 2,5 mil a 3 mil transações por ano. E qual é a importância dos leilões de energia para os negócios da Grid? Acompanhamos os leilões com foco no Brasil, mas também temos interesse nos leilões de outros países como Chile, Colômbia e México. Temos dois tipos principais de leilões no setor de energia: um focado na geração e outro na transmissão. Nossa solução de subestação de energia não é o core da parte de geração, mas ainda assim podemos fornecer essa solução para a geradora que vai participar do leilão, para que possa se conectar à linha de transmissão. Já na parte de transmissão, ficamos com o core do leilão e nos associamos a alguns clientes para apresentar nossas soluções de Engenharia e de turn-key, dando suporte no desenvolvimento e no investimento que irão fazer. Não fazemos a parte de linhas de transmissão; nosso foco são produtos e turn-keys subestações. O leilão de transmissão movimenta mais de 50% da nossa operação no Brasil. O governo faz dois leilões por ano e são pontos muito importantes para o nosso crescimento no País. Os próximos já estão marcados e a grande discussão é qual será o volume, quantas oportunidades serão ofertadas e em quantos lotes estarão divididos. Acreditamos que, com as reformas que o Brasil necessita, voltaremos a ter um crescimento mais condizente com um país emergente. Quais são os principais clientes da Grid Solutions? Trabalhamos focando principalmente no Brasil, mas alguns desses clientes também estão em toda a América Latina. Atendemos empresas privadas e públicas tanto na área de geração, como Companhia Hidro do Rio São Francisco (Chesf), Furnas, Eletronorte e Engie Brasil Energia, quanto clientes focados só na parte de transmissão, como Isa Cteep e Taesa, por exemplo.

“Temos nossas raízes muito bem montadas na América Latina, com times operacionais, clientes e uma longa lista de projetos executados e em execução.” Temos uma gama grande de clientes, tanto no Brasil quanto no exterior. Qual é o seu papel à frente da Grid Solutions na América Latina? Minha prioridade é ajudar a Grid a crescer na América Latina com a equipe de vendas. Também tenho como objetivo integrar todas as áreas dentro da Grid, ou seja, unir os times que atuam nas fábricas e nas áreas de negócios. Além da liderança para a América Lati­ na, a qual represento, temos líderes regionais de vendas e de execução que respondem por todas as áreas de negócios da Grid. O que se espera do cenário energético brasileiro e na América Latina para a próxima década? Há 20 anos era difícil prever tudo o que ia acontecer. Já falávamos e tínhamos uma expectativa de crescimento de eólica e de energia solar. A entrada

de toda essa parte de novas fontes de energias renováveis na área de geração, por exemplo, foi muito mais expressiva do que o esperado em todos os países. Por um lado, isso traz uma série de instabilidades para o sistema, com energia de base, mas, por outro, gera uma série de oportunidades para o fortalecimento das linhas de transmissão. Acredito que esse crescimento das fontes deva continuar, e que vamos ouvir falar ainda mais sobre geração de energia distribuída e Smart Grid. As tecnologias estão vindo cada vez mais competitivas e o grande desa­fio é regular tudo isso, acelerando a entrada de novas tecnologias. No princípio, a eólica tinha incentivo, porque o preço da energia eólica era altíssimo, mas hoje é baixo. Tivemos alguns recordes mundiais de preço de energia solar nos últimos leilões, sendo mais baixos em todo o mundo, em torno de US$ 17 a US$ 20, e temos visto novas tecnolo-

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ENTREVISTA gias chegando mais competitivas. A regulação é o um desafio que corre em paralelo com a entrada das novas tecnologias e o objetivo deve ser sempre levar energia ao melhor custo possível e com maior acessibilidade para todas as pessoas. A chegada dos carros elétricos vai alterar os negócios das empresas de energia? O carro elétrico vai mudar uma dinâmica de poder mundial que o petróleo tem, incluindo todas as questões relacionadas à energia. Carros elétricos não são uma tecnologia nova. Eu recebi um vídeo do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel – que era um visionário – indo mostrar o carro elétrico para o Silvio Santos na década de 1970! Hoje, estamos vendo vários exemplos norte-americanos e chineses sobre o custo-benefício do carro elétrico, mas ainda precisam explicar como será a eletrificação das cidades para receberem esses veículos. Se substituíssemos toda a frota que temos hoje por carros elétricos, precisaríamos de outra Itaipu só para carregar esses veículos. Na medida em que esses carros começarem a ganhar as ruas, vai haver uma demanda de energia muito maior do que já temos hoje, o que vai exigir um fortalecimento de todo o siste­ma. Imagine o que vai acontecer às 18h, quanto todo mundo estiver chegando em casa e, além de ligar o chuveiro e abrir a geladeira, começar a carregar o carro elétrico. Hoje, o sistema não está preparado para isso e, mesmo que o carro elétrico fosse grátis e todo mundo quisesse ter um, quando as pessoas chegassem em casa não iriam conseguir carregar. Portanto, isso precisa ser muito bem balanceado. Viajei por alguns países que estão mais avançados com relação a isso e espero que o carro elétrico chegue antes do carro autônomo, porque é algo em que apostamos muito, porque tem um custo­benefício interessante e é bom para o meio ambiente.

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“Outra questão que considero importante é a possibilidade de parceria entre academia e empresas, o que vai ajudar muito na formação do profissional. ” A inteligência artificial vai permear todas as áreas nas próximas décadas. Como essa tecnologia se insere nos negócios da Grid Solutions? Na companhia, toda a parte de desenvolvimento de Engenharia continua sendo manual, mas já estamos discutindo como utilizar a inteligência artificial nas áreas de sistemas de energia e segurança. Acho inevitável avaliar como e onde a inteligência artificial se aplica no nosso negócio. Hoje, não temos nenhum projeto piloto específico sobre inteligência artificial, mas temos acompanhado os desenvolvimentos pa­ra avaliar de que maneira podemos começar a conectar com o nosso dia a dia. Estamos muito focados na digita­ lização e padronização, que talvez seja uma etapa antes da inteligência artificial. Estamos desenvolvendo novas tecnologias, novas maneiras de desenvolver projetos e de otimizar custo e tempo. Hoje, nosso principal foco é a digitalização. Qual é o perfil do engenheiro que interessa para compor sua equipe? Algo que focamos na Engenharia, principalmente porque trabalhamos com centenas de empresas diferentes, é se o engenheiro tem perfil para entender o cliente. Os nossos clientes também são técnicos e têm expectativas diferentes, portanto, se estamos trabalhando para ‘engenheirar’ uma solução tem de ser junto com o cliente. Temos de saber

ouvir o cliente, debater com o cliente, convencer e aceitar a ideia do cliente. Sempre busco aqueles engenheiros que têm boa comunicação, sabem ouvir, sabem falar e sabem chegar a uma solução com o cliente, principalmente porque o nosso objeti­vo é atender esses diferentes clientes e cada um quer uma solução específica. O engenheiro que consegue valorizar e maximizar a padronização, além de fazer uma customização especial para um cliente, vai cativá-lo. Se há 20 anos olhávamos a Engenharia apenas como área técnica, hoje olhamos como parte da execução e sempre junto com nossos clientes. A academia está formando mão de obra qualificada para a área de negócios da Grid Solutions? Acho que a formação é boa, mas nunca vai ser completa. Por isso, é super­ importante ter um espaço na agenda para desenvolver uma atividade paralela. Acredito que o estágio tem profissionaliza­do muito. Outra questão que considero importante é a possibilidade de parceria entre academia e empresas, o que vai ajudar muito na formação do profissional. E devemos lembrar que é necessário ter uma formação completa, não só uma formação técnica, pensando na passagem do mundo acadêmico para o mundo profissional. Isso é muito importante. O que um engenheiro mecânico está fazendo na área de energia? Desde pequeno sempre tive uma paixão muito grande por motores. Eu andava em moto de trilha, desmontava a moto e mexia nos motores. Quando entrei na FEI, meu desejo era desenhar e desenvolver motores. Ao longo do curso fui conhecendo um pouco mais do que era Engenharia Mecânica, e algo que na FEI me agradou muito foi ter uma ideia geral do curso nos primeiros dois anos para depois optar pela área. Entrei na Engenharia Mecânica, saí como engenheiro de produção e acabei tendo uma afinidade muito gran-


FÁBIO NOSSAES de com a área de gestão e de gerenciamento de projetos. Penso que começamos a carreira com algumas ambições, alguns desejos, e vamos ajustando ao longo do caminho. Uma das ambições era chegar ao posto que o senhor ocupa hoje? Não, nunca foi. Acho que nunca tive nenhum plano de carreira em médio e longo prazo. Quando comecei na ABB, sempre buscava encontrar alguém em quem pudesse me espelhar dentro da organização. E tinha um diretor na época que havia estudado na FEI, depois fez especialização em Administração e MBA. É uma pessoa que respeito muito, íntegro, inteligente, um bom gestor de pessoas, muito bem visto dentro da organização. Espelhava-me muito nele profissionalmente e acreditava que era esse o caminho que queria seguir. Assim, fiz especialização em Administração, depois MBA, virei diretor e dividi essa ideia com esse gestor. Nunca tive um plano de longo prazo, ao contrário, meus objetivos sempre foram de curto prazo. As oportunidades iam aparecendo, eu avaliava se coincidiam com o que gostava de fazer e, assim, fui aproveitando algumas oportunidades, desenvolvendo competências e a carreira, e acabei chegando onde estou hoje. Entrei como estagiário em uma das áreas da ABB que foi vendida para a Alstom Energia, que depois foi vendida para a GE. Portanto, estou há mais de 20 anos na mesma companhia. Mas, quando comecei a trabalhar entendi que, mesmo estando no mesmo lugar, é difícil ficar fazendo a mesma coisa o tempo todo. Desde que entrei na ABB, já morei em três continentes diferentes, mudei de casa oito ou nove vezes e, a cada dois ou três anos, começava a desenvolver uma tarefa nova. Por mais que estives­se debaixo do mesmo guarda-chuva, da mesma empresa, não me lembro de ter trabalhado na mesma área mais do que três ou quatro anos. Acho que essa é uma oportunidade que grandes empresas nos propiciam. Tra-

sempre me perguntava por que eu havia escolhido estudar a 50 quilômetros de distância! Mas essa era uma parte do desafio de estudar na FEI. Como a maioria dos alunos cursava Engenharia, todo mundo pensava igual e queria a mesma coisa e, assim, formamos uma turma grande pensando igual. Os dois primeiros anos foram os mais difíceis, mas depois fiquei na mecânica porque era realmente o que eu queria ver e, no final, o último ano de produção para mim foi muito bom devido à liberdade que dava. Tenho boas lembranças da FEI.

“A minha principal expectativa é que o Brasil volte a crescer, mas que seja um crescimento de forma consistente, de forma íntegra e sustentável.” balhei em áreas de negócios diferentes, em merca­dos diferentes, em posições diferentes, e acredito que é assim que conseguimos aprender. Quando aparecem novas oportunidades devemos avaliar se estão alinhadas com aquilo que gostamos de fazer e mergulhar. Por que o senhor resolveu cursar Engenharia Mecânica na FEI? Sempre gostei dos desafios mais difíceis e, quando estava no cursinho, tive uma noção de até onde poderia ir. Na época, diziam que era fácil de entrar na FEI e difícil de sair! Pensei: se é assim mesmo, é para lá que quero ir! O senhor tem boas lembranças dessa época de faculdade? Para mim era difícil, porque eu morava a 50 quilômetros da FEI. Era uma viagem! Tinha uma faculdade a cinco quilômetros da minha casa e meu pai

O que o senhor projeta para o seu futuro profissional? Sempre desejei para a minha carreira ter uma experiência internacional, que permitisse me desenvolver profissionalmente e pessoalmente fora do País. E tive a oportunidade de morar em dois lugares diferentes. Decidi voltar para o Brasil porque, a cada oportunidade, temos mais possibilidades de desenvolver a carreira. Estou como líder da Grid Solutions desde o começo deste ano e espero continuar liderando a divisão pelos próximos cinco anos, pelo menos, porque temos investido hoje para ter resultados lá na frente. Portanto, nos próximos anos espero estar no mesmo endereço, dando suporte tanto para a GE como para os colaboradores crescerem. Qual é a sua expectativa em relação ao Brasil? A minha principal expectativa é que o Brasil volte a crescer, mas que seja um crescimento de forma consistente, de forma íntegra e sustentável. Esse é o nosso principal objetivo e está muito alinhado com o que fazemos, com o porquê de fazermos. O maior desafio no Brasil, assim como nos outros países da América Latina, é essa gangorra de altos e baixos, e não acho que isso vá mudar. Mas aprendemos a criar experiências no passado para nos ajudar a lidar com isso.

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PERSONA

A TECNOLOGIA INVADE OS BANCOS ENGENHEIRO ELETRICISTA FORMADO PELA FEI, FÁBIO NAPOLI É DIRETOR DE TI DO ITAÚ UNIBANCO E TRABALHA DIRETAMENTE COM AS FERRAMENTAS PROPORCIONADAS PELA INOVAÇÃO

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ados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indicam que, em 2018, R$ 19,6­bilhões foram aplicados em tecnologia pelas instituições financeiras brasileiras com o objetivo de melhor atender às necessidades dos clientes. Os recursos investidos pelos bancos em segurança cibernética, ferramentas de inteligência analítica ­(analytics)­e inteligência artificial visam adequar os serviços à rápida transformação tecnológica que o mundo vivencia e sair na frente da concorrência, cada vez mais acirrada. A tendência neste segmento é que os investimentos sejam ainda maiores nos próximos anos, porque os consumidores querem mais acesso a serviços de qualidade, com a agilidade e o dinamismo que o mundo contemporâneo exige. O Itaú Unibanco, com quase 91 anos de história e maior banco privado do País, é pioneiro em tecnologia e tem investido fortemente em diferentes ferramentas, como analytics, blockchain (tecnologia de registro que visa a descentralização como medida de segurança), chatbots (atendentes virtuais) e inteligência artificial para tornar-se cada vez mais moderno e levar qualidade aos seus 60 milhões de correntistas. Embora as cifras não sejam divulgadas, entre 2017 e 2019 a quantidade de tecnologias desenvolvidas na instituição aumentou 293% e o investimento na área teve acréscimo de 60%. Atualmente, a área de Tecnologia da Informação (TI) é protagonista – juntamente com o segmento de negócios – e ambos trabalham de forma integrada. “Na instituição, a área de Tecnologia da Informação desenvolve e viabiliza soluções de negócios, dá suporte e mantém o funcionamento de sistemas por meio de monitoramento, medição da performance e satisfação do cliente”, explica o diretor de TI do Itaú Unibanco, Fábio Napoli, engenheiro eletricista formado pelo Centro Universitário FEI no ano de 2001. O matemático londrino especializado em ciência de dados Clive Humby afirma que ­‘data is the new oil’ (dados são considerados como o novo petróleo, em tradução livre), devido ao valor comercial das informações que são ge-

radas no dia a dia, em volume cada vez maior. Isso porque é a análise dos dados gerados por correntistas que colabora com a tomada de decisões dos bancos, direciona os negócios e permite entender o mercado para alavancar as instituições financeiras. “E aqui entram novamente ferramentas como big data e analytics, que nos ajudam a fazer esse trabalho”, pontua o engenheiro. A inteligência artificial é outra ferramenta tecnológica que faz uso de dados e colabora para a redução de custos, aumenta a produtividade e permite o acesso a conclusões mais rápidas sobre os correntistas. Aproveitando o novo contexto de mercado gerado pelas fintechs ( financiamento rápido para pequenas empresas), o Itaú Unibanco idealizou, em 2015, o Cubo Itaú, que conecta em um só lugar empreendedores, empresas, investidores e universidades para discutir sobre tecnologia, inovação e novos modelos de negócios. O Centro Técnico Operacional (CTO) do banco também passou por uma reformulação, na qual a tecnologia financeira é vista com muita responsabilidade, modernidade e leveza, com o objetivo de atrair a juventude para fazer parte do time. “Antes, para o desenvolvimento de novos projetos ou negócios era necessário muito investimento, como data centers, mas, atualmente, a tecnologia está permitindo trabalhar com um sistema enxuto e na nuvem”, esclarece o engenheiro Fábio Napoli. Em breve, o Itaú Unibanco lançará o 'iti', uma plataforma de pagamento e cobrança que permitirá pagamentos por meio de QR Code, sem o uso de máquina e cartão físico. Por ser uma plataforma 100% digital e desvinculada do atendimento em agências, o 'iti' permite uma redução significativa das taxas cobradas pelas transações dos lojistas. A ideia é fazer pagamentos utilizando o aplicativo do celular, novidade que vai ao encontro das necessidades e aspirações dos clientes mais tecnológicos. “Na nossa instituição, o contato com o banco é feito na sua maior parte por canais digitais (­mobile e internet), e isso se dá pela confiança que o aplicativo do banco tem, tanto que sempre recebe prêmios pela excelência”, ressalta.


FORMAÇÃO SÓLIDA PERMITIU CARREIRA DE SUCESSO Os engenheiros ocupam cada vez mais posições na área financeira, pois são profissionais que utilizam muito o raciocínio lógico e sabem lidar com os problemas devido ao conhecimento científico, econômico, social e prático que adquirem durante a formação superior. “E isso ocorre especialmente com os engenheiros formados pela FEI porque, durante todo o curso, aprendemos as responsabilidades que devemos ter para nos tornarmos excelentes profissionais. Lembro que no primeiro dia de aula de Física o professor colocou na lousa, em 40 minutos, toda a matéria que aprendi nos três anos do Ensino Médio. Foi naquele momento que entendi que deveria aprender a estudar”, acentua o engenheiro Fábio Napoli. Além de seguir carreira na área de Engenharia como o pai – Sylvio Tobias Napoli Júnior que, na época, era professor e subchefe do Departamento de Enge-

nharia Têxtil da FEI – Fábio Napoli cursava Física paralelamente, na Universidade de São Paulo (USP), até que conseguiu estágio na Ericsson, maior empresa de telecomunicações do mundo na época, e passou a se dedicar exclusivamente à Engenharia. Na empresa, onde ficou por 10 anos, o engenheiro participou do processo de privatização da Telebras e teve e oportunidade de morar na Suécia, Alemanha e nos Estados Unidos. Aos 28 anos, como especialista II, observou que não conseguiria chegar à gerência e, em 2008, aceitou o cargo de gerente de TI na consultoria italiana Value Team, comandando uma equipe de sete pessoas. “Troquei de emprego mesmo com um salário mais baixo e com menos benefícios, porque sabia que daria um passo para trás, mas 10 para frente. Em um ano, já gerenciava 40 pessoas e entregava um faturamento 10 vezes maior”, relembra. Ainda buscando novos desafios, em

2010 aceitou trabalhar como gerente na TecBan e, em dois anos, virou superintendente com responsabilidade de cuidar de toda operação de TI da empresa. Em 2016, o Itaú Unibanco o convidou para participar de um processo seletivo que incluiu entrevistas com 12 diretores e um vice-presidente, quando conquistou o cargo de superintendente em TI. No início de 2019 foi promovido a diretor. Hoje, a área demanda uma estrutura com 1,3 mil profissionais e ainda há muito para evoluir. “Me vejo daqui a cinco anos um profissional mais completo e com maior capacitação. Também é possível dar outros passos dentro da empresa e essa é minha meta”, afirma. O diretor de TI incentiva os estudantes de Engenharia a seguirem seus sonhos, mesmo sendo difíceis os anos de graduação, porque o resultado valerá a pena. Além disso, garante que todos os alunos da FEI são sempre bem-vindos no Itaú Unibanco.

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EM PAUTA

O GRANDE DESAFIO DAS MINERADORAS DIÁLOGO COM A COMUNIDADE É DETERMINANTE PARA A CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO DE PROJETOS MINERAIS BASEADOS NA LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR

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atividade extrativista tem uma grande contribuição para a economia global, uma vez que quase todos os produtos e serviços oriundos da mineração são considerados essenciais. Para alguns países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a atividade tem papel central na construção do Produto Interno Bruto (PIB) e nas exportações. No Brasil, dados de 2018 indicam que o setor gera 180 mil empregos diretos, representa 4% do PIB e é responsável por 25% do saldo comercial. A última pesquisa ‘10 Business Risks Facing Mining and Metals’, realizada pela consultoria Ernst & ­Young, apontou a Licença Social para Operar (LSO) como o principal desafio enfrentado pela área de mineração no mundo. Elemento complementar aos mecanismos formais de controle das empresas, a LSO é fundamentada no conceito de que a comunidade pode apoiar ou recusar a instalação e operação de projetos minerais, tendo como discussões centrais gestão de riscos, transparência dos processos, impactos econômicos, sociais e ambientais e diálogo permanente com a comunidade do entorno. A abordagem da LSO surgiu a partir dos conflitos e como elemento determinante nos debates acadêmicos e nas práticas relacionadas às indústrias extrativistas. No entanto, os modelos existentes falham em cumprir o prometido, especialmente em países em desenvolvimento, porque falta um equilíbrio que atenda aos dois lados do processo. Com o

objetivo de criar estratégias em torno da redução dos impactos socioambientais da atividade mineradora, viabilizar a contribuição econômica e o desenvolvimento local, ampliar o diálogo entre os atores envolvidos e fortalecer o controle social dos projetos que impactam as comunidades e os contextos de vulnerabilidade, o Centro Universitário FEI mantém, desde 2014, o Grupo de Pesquisa sobre Licença Social para Operar – o primeiro a ser formalizado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2016. Coordenado pelo professor doutor Jacques Demajorovic, do Programa de Pós-graduação em Administração, o projeto envolve um grupo de nove pesquisadores, divididos em trabalhos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pósdou­torado, além de parceiros da Universidade de Alicante, na Espanha, e da University of British C ­ olumbia, do Canadá, que vêm trabalhando em diversas frentes. “A proposta do grupo é o desenvolvimento de uma metodologia e a busca pela base teórica para organizar e entender melhor a LSO. Queremos criar um novo modelo, mais eficiente, que entenda quais são os fundamentos e a aplicabilidade da LSO e se atende à vulnerabilidade e aos impactos causados nas comunidades”, enfatiza o coordenador. O primeiro resultado desse trabalho foi a tese de douto­ra­ do de Ana Lúcia Frezzatti Santiago, com dupla titulação – FEI e Universidade de Alicante. Inédito no País, o estudo com-

COMITÊS PARTICIPATIVOS DE MONITORAMENTO AMBIENTAL Conflitos envolvendo as mineradoras e as comunidades sempre existiram – sejam as do entorno da extração mineral ou aquelas afetadas pela infraestrutura de empreendimentos de transporte ou pela deposição de rejeitos. Desde a instalação até o fechamento de uma mina, o processo de extração mineral provoca contaminações, transformações das relações sociais e econômicas e alteração do ambiente natural. Neste sentido, é fundamental organizar comitês de

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monitoramento ambiental para criar amplo diálogo com os atores envolvidos, que são comunidades, empresas e demais órgãos. O novo colaborador do grupo de LSO da FEI, professor doutor André Xavier, da University of British Columbia – que tem amplo conhecimento em comitês na América Latina – afirma que parte da lógica desses comitês é entender o contexto social, como os conflitos surgem e de que forma podem ser gerenciados.


leiros, e continua produzindo artigos já publicados em congressos nacionais e internacionais que, posteriormente, serão enviados para periódicos. Um deles trata de um olhar crítico da LSO a partir de uma revisão sistemática de 22 anos de publicações (1996 – 2018) na base WOS Web of Science®. O grupo tem trabalhado no projeto ‘Fatores determinantes da licença para operar e desenvolvimento de métrica de avaliação do nível de aceitação social por parte das comunidades locais’, que foi vencedor do Edital Vale de Pesquisa e Inovação, tem duração de quatro anos e envolve bolsas de mestrado, doutorado, pós-doutorado, pesquisador visitante e bolsa produtivi­ dade. O projeto está dividido em três etapas: avaliação do impacto social, fatores determinantes da LSO e desenvolvimento de métricas de aceitação social a partir de estudos de caso em unidades operacionais da Vale, em Parauapebas, no Pará – a maior mina de minério de ferro do mundo.

“Definidos como um processo colaborativo de coleta, análise de dados e comunicação de resultados, esses comitês se caracterizam como uma ferramenta de gestão social que busca trabalhar com os interesses para obtenção de acordos”, explica. Na perspectiva da sociedade civil, os comitês são uma oportunidade de aprendizado, entendimento sobre procedimentos administrativos e avaliações de impacto ambiental. Para as empresas, permitem identificar tensões e

BALANÇO Os resultados obtidos pelo grupo de pesquisa (leia mais na página 14) e as ações sobre o fortalecimento do controle social dos projetos em torno das comunidades em contexto de vulnerabilidade foram apresentados, em agosto, durante a 4ª mesa-re­donda­ sobre o tema. A professora doutora Rivana Basso Fabbri Marino, vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias da FEI, afirma que pensar em alternativas para o desenvolvimento tecnológico-científico com justiça social, qualidade de vida e preservação do meio ambiente corrobora com a importância de criar meios para a harmonia entre o setor de mineração e o bem-estar­das comunidades. “O amadurecimento das discussões evidencia a importância da contribuição acadêmica, através da pesquisa, para o fortalecimento das relações entre os atores envolvidos, com foco em projetos de desenvolvimento econômico de mínimo impacto social”, enfatiza.

problemas que podem ser resolvidos por mudança de procedimentos ou novos processos de tecnologia. Líder nessas iniciativas e com 97 conflitos ativos, o Peru foi o primeiro país a criar um comitê, impulsionado principalmente pelas preocupações com a contaminação da água – uma vez que 70% das minas ativas, das seis maiores empresas do mundo, estão em área de estresse hídrico. Entre os cases de sucesso, o destaque é o Grupo

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preendeu a análise de relacionamen­ tos e conflitos entre empresas de mineração e comunidades, assim como a organização dos critérios em torno das concessões para a LSO. “Por meio de pesquisas surge uma análise crítica para que a LSO atenda às necessidades das comunidades, para entender a vulnerabilidade social em que o Brasil está inserido, criar uma postura clara de gestão de impactos e responsabilidade social e ressignificar uma metodologia para a nossa realidade”, descreve. Entre outros trabalhos do grupo está a dissertação de mestrado de Juliana Campos Lopes, que trouxe um novo olhar sobre o caso da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais que, em 2019, resultou no artigo ‘The Samarco dam disaster: a grave challenge­­­to LSO discourse’, publicado no prestigioso periódico Resources Policy. Além disso, o grupo ofereceu um curso de extensão em 2017 sobre LSO e Avaliação de Impacto Social que atraiu profissionais de quatro estados brasi-


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EM BUSCA DE NOVOS MODELOS E MÉTRICAS

As principais frentes de trabalho do grupo de pesquisa da FEI visam entender a LSO e suas implicações, assim como melhorar os modelos e as métricas. O objetivo é avaliar os impactos da LSO nas comunidades e nas empresas, combater a vulnerabilidade dos modelos em vigência e atender às demandas da comunidade. Sabe-se, por exemplo, que companhias como a Samarco e a Vale foram, durante muito tempo, líderes em práticas sustentáveis na América Latina. Mas, em contrapartida, também foram responsáveis por duas das maiores tragédias na área de minera­ ção no Brasil, em Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais. Portanto,­

é preciso trabalhar questões para entender como o processo de silenciamento dos riscos ocorre e como empresas com alta licença social e reputação com a comunidade puderam gerar tais situações. Segundo o professor Jacques Demajorovic, se os riscos são silenciados nos relatórios de sustentabilidade, cujo licenciamento é aprovado pelo Poder Público, é impossível prevenir e prever quanto determinada comunidade poderá ser impactada. “É fundamental que a empresa tenha transparência sobre suas operações e riscos, aumentando a confiança e garantindo a segurança de todos”, acentua. Na opinião do pesquisador da Uni-

versidade de Alicante, professor doutor Antônio Aledo Tur, para a criação de um novo modelo de LSO é preciso entender o contexto local, incorporar a visão de impacto social – inevitável na atividade – e a gestão de riscos por meio de uma abordagem construtivis­ta, na qual a avaliação do impacto determinará não apenas os riscos sociais da mineradora, mas a forma de gerenciá­ los corretamente. O pesquisador, que publicou o livro Evaluación de Impacto Social: teoria, métodos y casos prácticos, afirma que a EIS pode ser instrumento importante para minimizar impactos negativos das atividades de mineração e maximizar seus benefícios. “Desta forma, será possível inferir nos processos mais resilientes e menos robustos, identificar e direcionar os impactos, mesmo que diferentes ao olhar de cada ator, maximizando o que for positivo e minimizando os pontos negativos, o que certamente resultará em um entorno estável e com menores riscos para todos”, avalia. O docente argumenta, ainda, que o setor acadêmico tem o dever moral e ético com a comunidade, trazendo-a para as discussões, recebendo suas demandas e trabalhando com todos os atores pelo bem comum. Todo o trabalho definido pelo grupo da FEI está pautado nesse novo olhar para a LSO para que a avaliação seja aplicada para empresa e comunidade. “É fundamental para o nosso trabalho olhar criticamente esse contexto social

COMITÊS PARTICIPATIVOS DE MONITORAMENTO AMBIENTAL de Diálogo de Desenvolvimento Sustentável da Mineração que, junto com o governo daquele país, auxilia a comunidade a entender as demandas e buscar nova capacitação. “Mesmo com desafios de estruturação e recursos foi possível criar uma rede de comitês que promovia, entre outras ações, encontros com comunidades, empresas, universidades e governo para discutir sobre riscos e impactos. Essa foi a primeira vez que, em um painel de agências de governo, discutia-se

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o papel dos comitês de maneira institucional e estruturada”, comenta o professor André Xavier. A partir daí foi possível realizar nove estudos de caso em quatro países da América Latina: Argentina, Bolívia, Panamá e Peru, onde foram investigadas iniciativas de monitoramento ambiental participativo, com a coleta de dados e análise comparável publicadas posteriormente em artigo científico. Para a criação de um comitê é preciso atender às dimensões que


CONSISTÊNCIA

Grupo de pesquisa da FEI se reuniu com especialistas da área de LSO para abordar os resultados obtidos nas pesquisas e as ações sobre o fortalecimento do controle social dos projetos em torno das comunidades em contexto de vulnerabilidade

no qual a empresa está inserida, assim como avaliar a gestão de impactos dos riscos em todo o ciclo, da instalação ao fechamento de uma mina, e não apenas na aprovação de um projeto”, comenta a doutoranda e mestre em Sustentabilidade pela FEI, Viviane Pisano Motta Gemignani. Na primeira fase do projeto para a Vale, o grupo realizou um levantamento de informações sobre indicadores ambientais, sociais e econômicos de Parauapebas, que se caracteriza como um caso simbólico por ser a maior mina de minério de ferro do planeta e por concentrar, em um único núcleo, os empregados que vieram de diversas localidades. Definidos os stakeholders, foram realizadas 63 entrevistas presenciais e on-line em seis regiões selecionadas: APA do Gelado, Palmares I, Palmares II, Nova Carajás, Jardim Tropical e região central do município. “Dentro da metodologia construtivista, e com uma ferramenta participativa de múltipla análise, identificamos

os impactos junto à comunidade e qualificamos os dados que, por fim, foram apresentados em oficinas para analisar os impactos apontados pela comunidade e os que mais preocupam os envolvidos”, relata a mestranda Maria Gisela Gerotto, cuja pesquisa está focada na avaliação de impacto social no setor mineral. Com a metodologia aplicada, o grupo não tem por objetivo a avaliação de impacto social linear – que é a grande dificuldade para as empresas –, mas entender as relações causais. O levantamento, a análise e o cruzamento das informações resultaram em uma ferramenta multiuso que permite à comunidade apontar os maiores conflitos, quais são reversíveis, os riscos reais e os benefícios proporcionados pela atividade mineradora. Para a empresa, a ferramenta possibilita utilizar os dados na percepção de impactos anteriormente não identificados e em ações que podem ser desenvolvidas em curto, médio e longo prazo.

envolvem meio ambiente, governança, processo de aprendizagem e questões socioeconômicas por meio de organização da equipe, visão de monitoramento, comunicação e acompanhamento, ciclo que permite analisar resultados, ajustar e avaliar os impactos. “Existem diversos desafios e oportunidades dentro do espaço da mineração e os grupos de diálogo têm papel fundamental. Identificar o contexto em que estão inseridos é fator determinante, mas o financiamento deles

Para a construção de um novo modelo de métricas que permita avaliar o nível de aceitação social das comunidades em diferentes estágios é preciso mensurar o nível de LSO na mineração e entender como determinada empresa e operação se comporta junto à comunidade. Na literatura há três modelos bem definidos: pirâmide, que avalia o conceito de LSO por meio da identificação psicológica, aceitação, diálogo e aprovação; aceitação social, que amplia a questão do relacionamento e aumenta a confiança e aceitação de acordo com o saldo de benefícios e impactos econômicos e sociais; e métodos de avaliação do desempenho e da percepção dessas comunidades em relação à atividade. “Não há modelo que consiga abranger todo o contexto local, por isso, buscamos desenvolver um que possa medir amplamente aceitação, confiança, benefícios e impactos socioambientais e econômicos”, explica o engenheiro de produção e aluno de mestrado da FEI, Adriano Pimenta. A co-orientadora do mestrando, professora doutora Maria Tereza Saraiva de Souza, do Programa de Pós-graduação em Administração da FEI, diz que estudos quantitati­vos que tratem de métrica de avaliação de aceitação social por parte das comunidades ainda são pouco explorados. Essas­ lacunas justificam a proposição de novos modelos teóricos que ampliem os já existentes, incluindo determinantes que influenciam na confiança da comunidade e na aceitação da mineradora.

e uma legislação que apresente possibilidades ainda são os principais entraves”, analisa o pesquisador. As expectativas de médio prazo são incorporar uma visão ecossistêmica que reflita as complexidades locais, capacite a formação de profissionais com vistas ao desenvolvimento sustentável e envolva o setor acadêmico neste processo. Embora o monitoramento não evite os conflitos sociais, possibilitará processos de governança mais amplos com transparência e confiança.

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EM PAUTA

A GERAÇÃO Z EM DEBATE

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PROJETOS PEDAGÓGICOS REFORMULADOS PERMITEM O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E A FORMAÇÃO ADEQUADA DOS ALUNOS DO SÉCULO 21

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geração Z, formada por jovens que nasceram depois de 1995, é nativa digital, cresceu em um ambiente com smartphones e internet de boa qualidade e pode ser caracterizada pela autoconsciência, autossuficiência, persistência, tolerância e, sobretudo, autenticidade. Pesquisa realizada pelo Grupo Cia de Talentos identificou, ainda, que esses jovens querem menos rótulos e mais diálogo, pois se permitem mudar de opinião com frequência e são mais plurais. Além disso, em geral são mais ativistas e mantêm uma maior preocupação com questões sociais e ambientais. Ao chegarem às instituições de Ensino Superior e ao mercado de trabalho, esses jovens trazem novos desafios para educadores e empregadores, que precisam estar preparados para ensinar e aprender com uma geração que traz novas visões do mundo. A vida profissional e pessoal também está mais interligada, com o crescimento do trabalho em home office e com horário flexível, uma vez que esses jovens buscam na empresa a coerência com os desejos pessoais. A diretora de desenvolvimento do Grupo Cia de Talentos, Sandra Cabral,

lembra que esses profissionais respeitam a liderança, têm coesão e, em geral, quando saem de um emprego não reclamam da empresa, mas de seus líderes. “São pessoas que nasceram em um mundo volátil, no qual o futuro é tão próximo quanto o fim de semana, e querem ser felizes agora. Para essa geração, o ‘nós’ é maior do que o ‘eu’ e, embora tenham interesse no resultado financeiro, também estão muito preocupados com o social”, complementa. A carreira desses jovens é aberta para vivenciarem e experimentarem, e há uma busca constante pela disrupção, diferentemente da estrutura antiga de gerações que valorizavam a segurança no emprego e o tempo de permanência na empresa. Por esse motivo, segundo Sandra Cabral, a tendência é procurarem trabalho em organizações que estejam alinhadas com o mundo e o impacto que trazem para a sociedade, com base na verdade e na transparência, e que tenham coerência entre o que falam e fazem. “Eles também desejam um trabalho que seja atrelado ao futuro e, se não for uma relação verdadeira, vão embora”, argumenta. A busca pelo melhor acolhimento e formação dessa nova gera-

VÍCIO NA INTERNET E EXPECTATIVAS DE VIDA As redes sociais também geram sentimentos de inadequação e muitos adolescentes se sentem perdedores quando comparam a vida que têm com os êxitos publicados por amigos ou personalidades, pois não sabem que essas pessoas, aparentemente sempre bem-sucedidas, também fracassam – uma vez que fracassos geralmente não são divulgados na rede. “A autora denomina a interação com a internet como um vício e fala de ‘câmaras de eco’, nas quais os jovens acabam discutindo apenas o que interessa. Não falam de temas diversos e, por esse motivo, entram em ciclos viciosos. São situações que geram expectativas perigosas e precisamos ouvir o grito de socorro da iGen. Felizmente, esses pontos vão ao encontro do que temos discutido nos últimos anos e da missão da FEI, que deve prezar pelo acolhimento, pela inspiração e formação humanista para além da técnica”, acentua o professor doutor Gustavo Donato, coordenador da Plataforma de Inovação FEI e docente do Departamento de Engenharia Mecânica. A psicóloga também argumenta que, ao mesmo tempo em que é uma geração mais inclusiva e conectada com a política, os jovens iGen se relacionam mais virtual do que pessoalmente. E este isolamento social faz com que sejam menos propensos a atitudes mais arriscadas, além de estarem des-


ção deve levar em consideração, ainda, a forte conexão com o mundo virtual, a pluralidade, o ativismo e a colaboração. A chegada dessa nova geração na educação superior foi tema de debate durante a Semana da Qualidade no Ensino, na Pesquisa e Extensão, realizada semestralmente com docentes e lideranças do Centro Universitário FEI, em parte com base no livro iGen, da psicóloga norte-americana Jean M. Twenge – o termo foi cunhado pela autora e a letra i faz alusão à internet. A publicação, lançada em português com o intertítulo ‘Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas p ­ ara­­a idade adulta’, é resultado de uma investigação baseada em pesquisas e entrevistas com 11 milhões de jovens e traz uma ampla reflexão sobre a geração nascida de 1990 até 2012, que teve acesso a celulares e contas nas redes sociais antes de começar o Ensino Médio e não se lembra do mundo antes da internet. O livro iGen mostra, por exemplo, que a cada 19 segundos os jovens mudam a tela do computador, o que indica que não há aprofundamento do que está sendo pesquisado. E é esse hábito de clicar no próximo link em segundos que faz com que livros, revistas, jornais

Educadores do Centro Universitário discutiram o perfil dos jovens que chegam ao Ensino Superior com objetivo de entender suas demandas e formá-los adequadamente, atendendo aos seus anseios e preparando-os para o futuro

e outras publicações não sejam mais interessantes por demandarem atenção. “Na pesquisa feita pela doutora Jean M. Twenge, mais de 75% das janelas dos computadores ficavam abertas por menos de um minuto. E sabemos que lidar apenas com mensagens de texto e postar em redes sociais, em vez de leituras mais elaboradas, compromete o poder de compreensão de textos e de redações acadêmicas”, alerta o professor doutor Fábio do Prado, reitor da FEI. A Semana da Qualidade abordou outros pontos relacionados ao perfil desses jovens e a influência nos estudos, como o tempo em que permanecem on-line, que já chega a seis horas por dia, e a rápida perda de interesse por

preparados para a independência. “Os pontos refletem a problemática da saúde mental. Por isso, o primeiro desafio dos educadores é ter uma relação empática com os jovens, rompendo tabus, e que tenham conhecimento sobre transtornos mentais”, orienta a professora mestre Rita Barbeta, do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas. A meta é trabalhar na formação de cada indivíduo, física, social e psiquicamente, para que tenha um olhar próprio para as demandas que surgirem e, ao longo da vida, busque diferentes fontes de inspiração. A professora doutora Melby Karina Zuniga Huertas, do Departamento de Administração, acrescenta que, embora a escritora mostre uma visão mais preocupada acerca dessa geração, é preciso ver o lado positivo e criar a consciência das atitudes. Um bom exemplo é, em vez de abolir o celular em sala de aula, ensinar a esses alunos como fazer bom uso dessa ferramenta para aprender.

assuntos em geral. O objetivo do encontro foi aprofundar a compreensão sobre essa geração para acolher e formar adequadamente os jovens, atendendo aos seus anseios e preparando-os para as demandas futuras. “Temos o propósito de acolher a juventude, inspirá-la e transformá-la por meio da educação, e precisamos ter um maior diálogo com essa geração. A FEI está em busca de respostas para atender a essa nova demanda por meio de um ambiente pedagógico adequado”, enfatiza o reitor, ao lembrar que os novos projetos pedagógicos dos cursos de Engenharia estabelecem um itinerário formativo eficaz para o trabalho em equipe e o contato com problemas reais da sociedade.

O professor mestre Adriano Nicola Rios, do Departamento de Matemática, lembra que alguns conceitos do ensino da Engenharia são os mesmos desde o século 17 – a exemplo de cálculo –, mas os professores precisam reinventar a forma de ensinar para despertar o interesse e a atenção da geração Z. Este é um momento de grande oportunidade para os educadores tornarem o aprendizado ainda mais interessante. Mas, para atingir esse objetivo, será necessário que saibam entender os jovens e individualizá-los, fazendo com que saiam do universo virtual e se encontrem no mundo físico. “O aluno não quer ficar sentado na sala de aula de forma passiva, por isso perde o foco. Podemos utilizar vídeos curtos ou aplicativos para despertar o interesse, assim como atividades em grupo, como as esportivas, para manter o espírito de comunidade”, sugere o professor doutor Rudolf Theoderich Buhler, do Departamento de Engenharia Elétrica.

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FORMAÇÃO POR COMPETÊNCIA Desde o início de 2019, os currículos de Engenharia da FEI estão baseados na formação por competência, que leva em consideração os passos do processo criativo, as demandas de mercado e as tendências do futuro. Os currículos contemplam questões éticas, sociais e ambientais, e permitem ao egresso desenvolver-se para enfrentar e solucionar problemas complexos e desafios que surgirem ao longo da vida profissional. O professor doutor Marcelo Antonio Pavanello, vice-reitor de Ensino e Pesquisa da FEI, explica que o objetivo é renovar o ensino da Engenharia e tornar a Instituição uma referência, bem como apresentar aos alunos os desafios do futuro com um olhar mais atento para as megatendências. Para isso, os cursos passaram a considerar o aspecto de colaboração entre estudantes e os projetos têm integração de diferentes áreas. “Os novos projetos pedagógicos levam o aluno a aprender de modo mais consistente desde o primeiro ano, fazendo com que a formação seja uma experiência diferenciada no ensino da Engenharia no Brasil”, complementa o professor doutor Roberto Baginski, chefe do Departamento de Física. A transição do Ensino Médio para a vida universitária é outro desafio para os jovens da geração Z que, em geral, querem se sentir seguros e protegidos contra transtornos emocionais, o que inclui evitar experiências ruins, situações potencialmente desconfortáveis e pessoas com ideias diferentes. A aluna do primeiro ano de Engenharia, Talita Martins Vacco, relata que, embora a transição para o Ensino Superior tenha sido bem diferente do que imaginava, não passou por grandes dificuldades de adaptação. “Em Sociologia, por exemplo, a metodologia busca a responsabilidade do aluno, a resolução de problemas, a negociação e o raciocínio lógico, tudo o que um bom profissional deve ser e ter. E esse aprendizado será, sem dúvida, muito importante para o nosso futuro”, argumenta. Além das novas diretrizes pedagógicas, as mudanças na FEI incluíram a inserção de novos formatos para a avaliação do aprendizado. As disciplinas de Física I e II, por exemplo, testam a aprendizagem dos alunos por meio de projetos e atividades diversas e frequentes. “No início ficamos ansiosos, mas, com as atividades semanais e a união de teoria com o uso de laboratórios, percebemos que devemos ter conhecimento do conteúdo sempre, não apenas para passar de ciclo”, pontua João Vitor Cato Pansiera, do primeiro ano de Engenharia. As atividades práticas das disciplinas no primeiro ciclo também são bem avaliadas e vão ao encontro das facilidades que essa geração tem para utilizar a tecnologia. Para Karina da Costa Oliveira Espindola, do segundo semestre de Engenharia Química, o destaque é o laboratório de Matemática onde, por meio da resolução de problemas, é possível melhorar o raciocínio lógico, aproveitando essa habilidade para outras matérias. Já Wallace Albert Antonio, do mesmo ciclo e curso, ressalta a disciplina de Introdução em Computação, que permite o aprendizado de uma determinada linguagem na aula teórica e, no laboratório, possibilita colocar em prática o conhecimento por meio da resolução de problemas reais. O professor Gustavo Donato (à direita) conversa com alunos de Engenharia, de diferentes ciclos, durante a Semana da Qualidade

ENGENHEIROS DO CONHECIMENTO Os estudantes mais envolvidos e com mais autonomia são os ‘engenheiros do conhecimento’, por isso, o novo plano pedagógico da Engenharia passou a priorizar a integração curricular permitindo projetos que combinam diversas disciplinas, bem como a avaliação por meio de conhecimento e habilidades. A professora doutora Patricia Matsuda, do Departamento de Administração, explica que os alunos que trabalham em grupo para desenvolver projetos multidisciplinares passam a ‘pensar fora da caixa’ e colocar mais ‘a mão na massa’. “Nas disciplinas Práticas de Inovação I e II que ocorrem ao longo do primeiro ano, por exemplo, sentimos o retorno positivo em pouco tempo e temos a aprovação de mais de 90% dos participantes”, destaca. Esse protagonismo é reforçado pelo aluno do segundo ano de Engenharia de Automação e Controle, Guilherme Nicolau Marostica, idealizador de uma startup que possibilitou o trabalho com diferen­ tes processos, ainda no primeiro ciclo do curso, e por João Pedro Santos Giarrante, do primeiro ano de Engenharia que, com um kit de sensores e atuadores recebido da FEI, conseguiu criar um carrinho e um app que o controla via bluetooth. “Receber o retorno positivo é gratificante, por isso, vamos continuar trabalhando de modo eficiente para o melhor aproveitamento dos alunos. Assim como em outros cursos, na Engenharia Elétrica e na de Automação e Controle estamos fazendo o aluno escolher antecipadamente disciplinas optativas e definir seu percurso formativo na FEI, além de discutir as possibilidades de carreira”, acentua o professor doutor Renato Giacomini, coordenador dos cursos.


FEI SEDIA WORKSHOP E REÚNE ESPECIALISTAS EM VISÃO COMPUTACIONAL DE VÁRIAS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA

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visão computacional, inicialmente restrita à produção de lentes, câmeras profissionais e smartphones para captação de imagens, ganhou um upgrade tecnológico e já começa a superar a capacidade da visão humana. Com sistemas que simulam a cognição, hardwares e softwares avançados possibilitam que as máquinas enxerguem, processem e interpretem a realidade à sua volta com possibilidades de atuação no monitoramento e na análise de processos em diversas áreas, como segurança, medicina, transporte, produção industrial, consumo e entretenimento, entre outras atividades. Impulsionada principalmente pelo uso da inteligência artificial e aplicação do conceito de redes neurais, a área cresce e torna-se demanda estratégica em todos os países, inclusive no Brasil, que precisa investir no desenvolvimento da tecnologia e na ampliação do seu uso. Por trás de qualquer desenvolvimen­ to tecnológico estão muitos outros fa­ tores, entre os quais a formação profis-

sional de recursos humanos, o fomento à pesquisa de ponta, a geração de empregos e a movimentação da economia. “Obviamente, além de todos os benefícios, a área traz desafios e demandas. As próximas gerações de especialistas terão a missão de combater acessos mal intencionados, visão indesejada de dados, ataques cibernéticos, controle excessivo e até mesmo entulho tecnológico, que poderá impactar o meio ambiente”, avalia o professor doutor Paulo Sérgio Rodrigues, coorde­nador do Immersive LAB do Centro Universitário FEI e docente de Ciência da Computação. Por esse motivo, a capacitação de recursos humanos e a pesquisa na área de visão computacional no Brasil precisam ser fortalecidas e estendidas aos limites do conhecimento, para que assumam o protagonismo das novas soluções tecnológicas nessa área. Com esse objetivo é realizado, há 15 anos, o Workshop de Visão Computacional (WVC), único evento científico do Brasil voltado especificamente para a área, que reúne pesquisadores, especialistas, professores e alunos de universidades e centros de pesquisa para impulsionar a geração de ideias, ampliar as discussões, trabalhar pela promoção da ciência, da tecnologia e do progresso do setor. “O foco dos trabalhos tem mudado ao longo das edições, mas sempre com a alta performance

esperada. Semelhante ao que ocorreu na última edição, a deste ano teve a atenção voltada para o uso de técnicas de deep learning em problemas de visão computacional, mais especificamente no emprego de redes neurais convolucionais. É importante ressaltar que os trabalhos apresentados nos auxiliam a visualizar uma gama cada vez maior de problemas em que essas técnicas, aliadas aos métodos de visão computacional, podem ser aplicadas”, avalia o professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Mauricio Escarpinati, presidente do Comitê do WVC. Sediada e organizada pela primeira vez no Centro Universitário FEI, a 15ª edição do WVC, realizada de 9 a 11 de setembro, teve atividades destinadas a disseminar a área no contexto nacional e internacional. Para o reitor da FEI, professor doutor Fábio do Prado, é fundamental que as instituições contribuam com o aprofundamento do conhecimento na área, por meio de partilha das boas práticas e das novas descobertas. “É um privilégio abrir as portas do campus a esse seleto fórum de pesquisadores com o objetivo de discutir e partilhar o que já é produzido nacional e internacionalmente, fortalecendo a pesquisa no Brasil, suas aplicações, os impactos na sociedade e, evidentemente, a formação de recursos humanos qualificados”, enfatiza.

DOMÍNIO FEI 19

iStockphoto/fpm

PROCESSAMENTO DE IMAGENS


PESQUISADORES O encontro reuniu pesquisadores e alunos de graduação, iniciação científica, mestrado e doutorado de várias instituições

TRABALHOS DE DESTAQUE Para o professor Paulo Sérgio Rodrigues – que após o evento passou a integrar o Comitê Nacional do WVC – ao reunir o que há de mais recente em pesquisas no âmbito nacional em visão computacional, esta edição do workshop cumpriu sua missão de compartilhar conhecimento, possibilitar trabalhos conjuntos e pensar ações que impulsionem os avanços no Brasil. Entre todos os trabalhos submetidos e aprovados, 10 foram do Centro Universitário FEI (a maioria), principalmente na área de reconhecimento de padrões: machine ­learning. Dois dos artigos merecem notoriedade, pois, na avaliação – que é anônima – foram julgados como trabalho sênior, mesmo sendo de conclusão de curso e iniciação científica, respectivamente. “Esse resultado é reflexo do trabalho desenvolvido pelo Departamento de Ciência da Computação e, evidentemente, uma vitória pessoal dos alunos, que produziram conteúdo inédito e com aplicação inovadora”, ressalta. O trabalho de conclusão de curso de Murillo Bouzon propõe uma metodologia para reconstruir superfícies de imagens 3D não estruturadas de cirurgias minimamente invasivas em tempo real, substituindo o uso de câmeras estereoscópicas por uma única câmera monocular, combinando visão computacional com técnicas de inteligência artificial. Os experimentos resultaram em um método capaz de reconstruir estruturas de imagens médicas com taxa de acerto entre 63% e 68%, a depender do número de limiares utilizado na segmentação, sendo superior ao método clássico. Outro destaque foi o trabalho de iniciação científica de Lucas Fontes Buzuti, com orientação do professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Engenharia Elétrica da FEI. O estudo teve como proposta investigar um autoencoder profundo (deep autoencoder) para análise de padrões em imagens faciais comparando dois tipos de camadas: Totalmente Conectada (Fully-Connected Layer) e Convolucional (Convolutional Layer). Tais redes neurais profundas contêm múltiplas camadas não lineares, tornando-as modelos adequados para aprender relações complexas entre entradas e saídas de imagens faciais. Pela segunda vez, o WVC realizou o concurso de teses e dissertações, com oito trabalhos selecionados. No mestrado, o estudo vencedor de Rafael S. Bressan, da Universidade Tecnológica do Paraná (UTPR), propõe a utilização de estratégias de aprendizado ativo para classificação e recuperação de imagens, selecionando amostras mais informativas e minimizando a interação do especialista durante o processo de aprendizado. Além disso, novas estratégias de aprendizado ativo são propostas para as tarefas de classificação e recuperação de imagens baseadas em conteúdo. No doutorado, o prêmio foi para Tiene Filisbino, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), cujo trabalho teve por objetivo desenvolver métodos de análise discriminante para problemas de classificação multiclasse, combinando N classificadores para formar uma função discriminante global que permita ordenar os componentes do espaço de acordo com a importância de cada característica. Para isso, foram utilizados hiperplanos computados por SVMs lineares (Support Vector Machine) ou definidos por uma superfície de decisão gerada pelo Kernel SVM (Kernel Support Vector Machine), através da metodologia AdaBoost.M2, que combina classificadores lineares fracos.

20 DOMÍNIO FEI

O coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Engenharia Elétrica da FEI, professor Carlos Eduardo Thomaz, desenvolve métodos de reconhecimento de padrões que detectam expressões faciais relacionadas à sensação de dor em recém-nascidos, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A iniciativa, que surgiu da dificuldade enfrentada por profissionais da saúde em unidades de terapia intensiva neonatais para reconhecimento e avaliação do nível de dor dos bebês, foi apresentada pela professora doutora Ruth Guinsburg, titular da disciplina de Pediatria Neonatal do Departamento de Pediatria da Unifesp. Desenvolvido com base na escala Neonatal Facial Coding System (NFCS) – utilizada no reconheci­ mento dos movimentos faciais de dor –, os mecanismos do software começaram a ser concebidos em 2009, após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unifesp. “A decodificação da dor, mesmo com o uso dessas escalas, é altamente subjetiva. Portanto, a busca por ferramentas diagnósticas que possam oferecer medidas objetivas deve ser o objeto da pesquisa continuada”, comenta a médica. Destaque no Brasil em pesquisas na área de visão computacional, o professor doutor Mario Montenegro Campos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou alguns dos trabalhos desenvolvidos pela equipe do Laboratório de Visão Computacional e Robótica (VeRLab), com destaque para o Semantic ­Hyperlapse, liderado pelo professor doutor Erickson Nascimento, cujo desafio é tornar vídeos egocêntricos, em primeira pessoa, de longa duração e com conteúdo não edita-


EM PAUTA

do, mais adequados para visualização. Para este trabalho, o grupo desenvolveu­o MIFF (Multi-Importance Fast­ Forward,) metodologia automática pa­ra acelerar vídeos que, por meio do processo de aprendizado e baseado nas preferências do usuário, define as informações semânticas que devem ser utilizadas. Os resultados mostram que o método proposto mantém três vezes mais conteúdo semântico do que o simples avanço rápido de última geração, e valida as técnicas desenvolvidas para estabilização do vídeo – que utilizam algoritmos que estimam a instabilidade para acelerar ou reduzir o tempo de exibição de frames do vídeo. Outra linha de pesquisa apresentada pela UFMG foi a Three-Dimensional Reconstruction from Large Image Datasets, que propõe uma aborda­ gem eficiente baseada em técnicas de reconstrução de estrutura a partir de movimento (SfM) e estéreo com múltiplas visualizações (MVS) para gerar automaticamente modelos 3D a partir de imagens. O aprendizado de máquinas interpretáveis para visão computacional foi a temática apresentada pelo professor doutor Jaime dos Santos Cardoso, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), de Portugal. O recente progresso no aprendizado de máquina (ML), em especial o chamado ‘aprendizado profundo’, está sendo adotado rapidamente no cotidiano das pessoas. No entanto, a maioria desses sistemas de ML, principalmente modelos de ensemble e deep learning, permanecem complexos, o que significa que sua lógica e funcionamento internos estão ocultos para o usuário. “Novas regulamentações e domínios tornaram obrigatória a auditoria e a verificabilidade das decisões, levando a um ressurgimento do interesse pela

explicabilidade dos sistemas de inteligência artificial e revivendo uma área de pesquisa que remonta à década de 1970”, esclarece o docente. AVALIAÇÃO CRITERIOSA Avaliados e selecionados pelo comitê técnico do evento, dos cerca de 70 trabalhos inscritos de diversas universidades do País, 41 foram sele­ cionados para apresentação oral ou pôster. O destaque entre os trabalhos orais ficou com o artigo ‘Citrus Tree ­Classification­­from UAV Images: Analysis­­­ and ­Experimental Results’, de Felipe ­Kobayashi, Andrea Britto Mattos e Maysa Macedo, do Laboratório da IBM Research Brazil. O estudo apresenta experimentos com imagens de uma fazenda com plantações de árvores de citrus, obtidas por um veículo aéreo não tripulado (VANT), com o objetivo de classificar regiões de acordo com a característica do plantio. As imagens foram capturadas durante o monitoramento de uma fazenda localizada no município de Santa Cruz do Rio Pardo, no Estado de São Paulo. De acordo com os estudos, nenhum trabalho prévio explorou uma quantidade tão elevada de experimentos para endereçar a tarefa abordada. No futuro, o grupo pretende utilizar modelos baseados em deep learning e avaliar se é possível a obtenção de melhores resultados em comparação com os modelos empregados. Todos os trabalhos em inglês apresentados

no WVC serão publicados e indexados no IEEExplore da IEEE – maior instituição profissional técnica do mundo dedicada ao avanço da tecnologia –, e em português na plataforma SBCOpen Lib, ambas com visibilidade internacional. “Além de permitir a identificação através do Digital ­Object Identifier (DOI), um identificador único para artigos e demais produções científicas, tais publicações aumentam a visibilidade dos trabalhos aceitos pelo congresso para a comunidade científica, evidenciando a contribuição de seus respectivos autores para o desenvolvimento da pesquisa tecnológica”, enfatiza o professor doutor Guilherme Wachs, do Departamento de Ciência da Computação da FEI e responsável pelas publicações desta edição.

iStockphoto/da-kuk

MOSTRARAM PROJETOS INOVADORES


EM PAUTA

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O IMPACTO NO SER HUMANO

D

esde a fundação, o Centro Universitário FEI se destaca pela postura empreendedora e excelência na formação de recursos humanos nas áreas de tecnologia e gestão. Para reforçar o perfil inovador da Instituição foi criada, em 2016, a Plataforma de Inovação FEI, cujo foco é preparar profissionais capazes de solucionar problemas mal estruturados com criatividade, visão e inovação. Desde 2016 a FEI realiza anualmente o Congresso de Inovação e Megatendências 2050. O objetivo é provocar e inspirar estudantes, docentes e convidados a entenderem o futuro e acompanharem as ­transformações. Neste ano, o tema foi ‘Inteligência Artificial e o SER do humano: complementariedade ou competitividade para aprender, inovar e viver?’. O encontro promoveu uma reflexão a respeito do futuro e de como a IA irá coexistir com o ser humano em todas as suas dimensões. “A faísca da racionalidade é o grande desafio. É a pergunta e é a resposta. O nosso tema contribui para o aprofundamento do diálogo entre a fé, a ciência e a tecnologia”, reflete o Padre Theodoro Peters, S.J., presidente da Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros. Durante o Congresso foram abordadas inúmeras questões relacionadas à inteligência artificial. O reitor do Centro

O conteúdo completo do Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2019 terá uma publicação exclusiva que circulará em janeiro de 2020

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Universitário, professor doutor Fábio do Prado, afirma que o tema é fascinante, complexo e assustador por seu surpreendente impacto social e econômico, que já está inserido em diversos aspectos no dia a dia das casas e das organizações. “E não é exagero afirmar que, no futuro próximo, ter sucesso significará conviver, trabalhar, colaborar e coexistir com inteligência artificial”, acentua. SUCESSO O coordenador da Plataforma de Inovação FEI e do Congresso, professor doutor Gustavo Donato, ressalta a importância desse espaço de reflexões por estimular a capacidade de prospectar e aprender sobre o futuro. “A cada ano o evento ganha mais expressão, com resultados que vêm superando nossas expectativas, o que mostra que estamos seguindo um caminho virtuoso e focado na excelência. É gratificante ver a mudança de mentalidade de alunos e docentes quanto às visões de futuro, combinada a novas ideias, projetos e articulações empresa-universidade-governo”, comemora. O tema da 5ª edição do Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2050, a ser realizado em outubro de 2020, será Energia e Mobilidade – Vida em Sociedade. Todas as palestras e apresentações da quarta edição estão disponíveis no https://congressode inovacao.fei.edu.br.

MAIS DE 1,3 MIL

PARTICIPANTES

10

RODAS-VIVAS

MAIS DE

150

MIL PESSOAS

IMPACTADAS NAS

REDES SOCIAIS


MAIS

25

COM

GRANDES EXPOENTES DA ACADEMIA E DO MERCADO

EXPOSIÇÕES

PALESTRANTES DE MAIS DE

DE

EDIÇÃO 2019

30 EMPRESAS GLOBAIS

MAIS

FEI

CONGRESSO

MAIS DE

40

DE

DE INOVAÇÃO E MEGATENDÊNCIAS 2050 ACESSO EM

35MIL

20

VISUALIZAÇÕES

PAÍSES

17

PAINÉIS DE DISCUSSÃO

MAIS DE

MAIS DE

6,5 MIL

PARTICIPAÇÕES DE ALUNOS, PROFESSORES, COLABORADORES E FORMADORES DE OPINIÃO

ATIVIDADES

PELO STREAMING

50

MAIS DE

24

71

MIL

VISUALIZAÇÕES

NO HOTSITE

SESSÕES TÉCNICAS

DOMÍNIO FEI

23


PREVENÇÃO EVITA PERDAS

iStockphoto/Zog

O

ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO É FUNDAMENTAL PARA CONTER O NÚMERO DE ACIDENTES EM AMBIENTE LABORAL

Brasil figura entre as nações que mais registram mortes decorrentes de acidentes de trabalho, ficando atrás de Estados Unidos, Tailândia e China. Segundo dados do site Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, do Ministério Público do Trabalho, em 2018 foram contabilizados 623.786 ocorrências com trabalhadores com vínculo formal, resultando em 2.022 mortes em todo o território nacional. Os números mostram uma alta nos dois indicadores, depois de cinco anos consecutivos de trajetória descendente na quantidade de acidentes e óbitos. Além das perdas humanas e dos impactos decorrentes das más condições no local de trabalho, o problema acarreta prejuízos aos cofres da Previdência Social. O Observatório, que faz o monitoramento desde 2012 e atualiza os dados em tempo real, mostra um montante de mais de R$ 86 bilhões gastos com auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente, desde o início da coleta. A redução dessa estatística é complexa e exige um trabalho integrado dos profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), responsáveis por atuar de maneira preventiva ao mapear potenciais riscos e elaborar medidas de proteção, assim como orientar empregados e colaboradores sobre quais medidas devem ser adotadas para evitar acidentes. Além dos problemas físicos mais imediatos, faz parte da atribuição desde a análise de níveis de ruído, luminosidade e temperatura até a avaliação de possíveis impactos à saúde mental dos tra-

balhadores. “Os profissionais de Segurança do Trabalho deveriam participar da concepção de todos os projetos de Engenharia, sejam produtos, processos, instalações ou serviços, garantindo que a prevenção de acidentes seja considerada onde os investimentos são menores e os resultados mais eficazes. Mesmo os equipamentos de proteção individual (EPI) devem ser um serviço de Engenharia, para definição das características necessárias a cada atividade”, avalia o engenheiro João Alberto Cepaluni, sócio da empresa MedZin de Segurança e Saúde do Trabalho, que é formado em Engenharia Elétrica pela FEI e pós-graduado em Segurança do Trabalho pela Instituição. O Brasil tem um mercado amplo na área e com potencial de crescimento, uma vez que menos de 5% das empresas se enquadram na legislação que obriga a instalação de equipe de Serviços Especiais de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Segundo o engenheiro João Alberto Cepaluni, a maior parte dessas empresas precisa atender aos padrões das matrizes internacionais e selos de gestão integrada, o que demanda equipe superior à definida pela Norma Regulamentadora 4 ­(NR-4). Ao atuar com prevenção, o engenheiro de SST evita danos ao trabalhador e a outras pessoas expostas no ambiente e no entorno das empresas, assim como prejuízos econômicos. “Em ordem de prioridade, a atuação deve seguir a eliminação de riscos, medidas de proteção coletiva, medidas administrativas e, por último, equipamentos de proteção individual”, enumera.

INCLUSÃO DIGITAL EM SST É FUNDAMENTAL PARA A GESTÃO DE DADOS As transformações da era digital impactam nas relações de trabalho, no surgimento de novas funções e na reformulação de normas regulamentadoras. Por isso, é necessário que profissionais e empresas façam a inclusão digital também na área de SST com a utilização de inteligência artificial para a gestão de grandes volumes de dados, enquadramento às características da Indústria 4.0 e efetivação da governança de segurança e saúde. A avaliação é do engenheiro químico e de Segurança do Trabalho, Eduardo Milaneli, ex-professor

24 DOMÍNIO FEI

da FEI. “Nossa cultura trata a gestão de SST como um problema dos profissionais da área, mas isso precisa ser mudado, pois a governança tem de começar na alta direção da empresa. Isso ficou claro após a tragédia em Brumadinho, quando o presidente da Vale afirmou que ninguém vira CEO por causa de SST e Sustentabilidade, mas deixa de ser CEO por culpa delas”, destaca, uma vez que o executivo perdeu o cargo em razão da tragédia. A maior experiência relacionada aos desafios da era digital atual-


EM PAUTA ESPECIALIZAÇÃO DIRECIONADA A ENGENHEIROS

Para o engenheiro João Alberto Cepaluni, os profissionais de SST deveriam participar da concepção de todos os projetos

A advogada Ágata Brenda Mendes diz que é comum encontrar decisões judiciais responsabilizando profissionais da área

Dentre as ferramentas usadas para ela­ borar ações de prevenção a acidentes de trabalho destaca-se, ainda, o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), destinado à orientação sobre possíveis riscos em cada setor, definido pela NR-9. O Brasil possui mais de 30 normas regulamentadoras, com destaques para NR-5: formação de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); NR-6: uso de Equipamentos de Proteção Individual; ­NR-7: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); e NR-17: análise ergonômica. Essas diretrizes p ­ assam por processo de atualização para serem aperfeiçoadas e se adequarem ao dinamismo da realidade dos ambientes laborais. RESPONSABILIDADE O rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro, trouxe à tona o tema da responsabilização civil e criminal de todos os profissionais envolvidos na segurança

dos empregados. Com a tragédia, considerada o maior acidente de trabalho da histó­ ria do Brasil, a Justiça decretou a prisão de oito empregados da mineradora Vale, responsável pela barra­gem. Entre os profissionais estavam engenheiros, geólogos e outros com funções relacionadas à gestão da segurança do local. Segundo a advogada­Ágata Brenda Mendes, especialista em Direito do Trabalho, é comum encontrar decisões judiciais responsabilizando profissionais da área de SST por acidentes do trabalho. “Não é possível prender a pessoa jurídica, então, a responsabilidade recai sobre os profissionais que assinaram docu­ mentos atestando a segurança do local”, ressalta. A advogada adverte os engenheiros­e técnicos de SST para que evitem assi­ nar documentos que não elaboraram ou ceder a pressões para ocultarem potenciais riscos, pois, em caso de acidentes, a responsabilidade, tanto civil como crimi­nal, pode recair sobre o profissional da área.

mente na área é o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), que visa reduzir a burocracia por meio da transmissão unificada de informações de forma digital. “O projeto é a maior oportunidade de viralizarmos a governan­ça de SST, já que temos uma das melhores normativas do mundo, porém, muito pouco conhecida nos processos de

trabalho”, detalha. As dificuldades, os desafios e as possibilidades da área foram abordados durante o 1º Congresso de Saúde e Segurança do Trabalho, realizado em 29 de agosto no campus São Paulo da FEI. O objetivo foi despertar maior interesse pela área, permitir o networking e reunir profissionais de Medicina do Trabalho, Enfermagem, Engenharia e Direito, entre outros.

O curso de pós-graduação lato sensu em Engenharia de Segurança do Trabalho do Centro Universitário FEI objetiva fazer com que engenheiros aumentem os conhecimentos com relação às práticas de gerenciamento de riscos. A especialização prepara o profissional para atuar com as características funcionais e operacionais dos recursos materiais de processos e serviços, e para desenvolver estratégias de conformidade apoiando as estratégias empresariais e prevenindo a ocorrência de acidentes de trabalho. Além disso, visa desenvolver no profissional a percepção para que as práticas preventi­ vas de manutenção estejam alinhadas às estratégias da empresa. A seleção é feita por análise do currículo do candidato pela coordenação do curso, e eventual entrevista. O pré-re­ quisito é que os candidatos sejam graduados em Engenharia, em qualquer modalidade, ou Arquitetura. Mais informações pelo e-mail iecatsp@fei.edu.br.

O engenheiro Eduardo Milaneli destaca a importância de partilhar a gestão de SST

DOMÍNIO FEI 25


PESQUISA E TECNOLOGIA

ROTA 2030 VISA COMPETITIVIDADE DO Divulgação

Arquivo pessoal

O CENTRO UNIVERSITÁRIO FEI PARTICIPA ATIVAMENTE DE UM DOS PROGRAMAS PRIORITÁRIOS QUE INTEGRAM A INICIATIVA DO GOVERNO FEDERAL

A

indústria automobilística pode ser apontada como uma das que mais tem se transformado ao longo dos últimos anos em todo o mundo. O prognóstico de esgo­ tamento dos estoques mundiais de pe­tróleo, a busca constante por maior eficiência energética e pela redução de emissões, e a necessidade de aumento da segurança veicular têm fomentado a pesquisa e o desenvolvimento de inovações e alternativas viáveis para o futuro na área, que parece estar cada­vez mais próximo com a chegada dos veículos elétricos, autôno­mos, conectados e híbridos, que já são realidade em diversas partes do mundo. Para ampliar a inserção global da indústria automotiva brasileira por meio da exportação de veículos e auto­peças, estimular o investimento em pesquisa aplicada e o desenvolvi­mento de tecnologias, e incentivar novas tecnologias e processos nas próximas décadas, o governo federal criou o Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística. Sucessor do ­­­­Programa Inovar-Auto,­­encerrado em 31 de dezembro de 2017 – do qual a FEI também fez parte participando do Comitê de Auxílio Técnico –, o Rota 2030 busca apoiar o desenvolvimento tecnológico, a compe­ ti­ti­vidade, a inovação, a segurança veicular, a proteção ao meio ambiente, a eficiência energética e a qualidade de automóveis, caminhões, ônibus, chassis com motor e autopeças produzidos no Brasil. Afinal, o mercado mundial

26 DOMÍNIO FEI

Ricardo Zomer, do Ministério da Economia: programa pretende propiciar aumento da competitividade

automobilístico, pautado pela globali­ zação, tem exigido das empresas uma velocidade de ação jamais vista, de modo a atenderem às necessidades e preferências de consumo dos mais variados mercados. Esse novo cenário é um desafio enorme para a indústria auto­motiva, que tem ciclos longos de desenvolvimento de produtos. A indústria nacional de autopeças, por exemplo, é composta em sua maioria por empresas pequenas e médias que não conseguem, por questões variadas, mobilizar os recursos necessários para inovar. Por isso, a realização de parcerias propostas pelo programa será uma estratégia importante para qualificar a participação do setor neste importante ecossistema de inovação. “O Programa Rota 2030 pretende propiciar as condições para aumento da competitividade da indústria automotiva, com foco na transformação dos produtos fabricados no País ao mesmo padrão exigido nos principais mercados globais”, explica Ricardo Zomer, coordenador do setor automotivo no Ministério da Economia.

Presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes destaca a importância de injetar recursos a quem sabe investir

Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em um momento em que as inovações e os ganhos de competitividade se fazem urgentes e os recursos financeiros são escassos, é muito importante direcionar mais de R$ 1 bilhão a quem sabe e quer investir. O vice-presidente da entidade, Antonio Megale, acrescenta que o Rota 2030 é um marco muito importante para toda a cadeia automotiva, porque é um programa de longo prazo com essência na valorização da Engenharia nacional, da pesquisa e do desenvolvimento no País. “A indústria automobilística brasileira está extremamente satisfeita e otimista com o lançamento do Rota 2030, porque é a oportunidade de ter mais previsibilidade para tomada de decisões e investimentos do setor e para ampliar a competitividade perante o mundo”, ressalta, ao lembrar que os próximos anos serão de enormes transformações. A estimativa é de um montante de R$ 200 milhões por ano ou R$ 1 bilhão para o primeiro ciclo de cinco anos do


Antonio Megale, vice-presidente da Anfavea, ressalta que programa é um marco para toda a cadeia do setor

Professor Fábio do Prado enfatiza a importância de a FEI coordenar uma das linhas prioritárias do Rota 2030

Rota 2030. Os recursos serão depositados diretamente pelas montadoras e fabricantes de autopeças nas contas dos seis Programas e Projetos Prioritários (PPPs) aprovados. O Centro Universitário FEI participou ativamente da elaboração e faz parte da Coordenação Técnica da Linha V dos PPPs, sob coordenação da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (­ Fundep) – leia mais na página 28. Cada instituição coordenadora receberá recursos para o desenvolvimento do programa e financiamento de projetos tecnológicos dentro de um escopo específico. O Comitê Técnico terá a responsabilidade de selecionar as propostas de projetos submetidas aos editais e pelo acompanhamento da execução técnica dos projetos. “Este é o reconhecimento técnico e científico da qualidade da pesquisa que reali-

zamos no Centro Universitário. A coordenação de uma das linhas prioritárias do programa e o trabalho em rede com grandes instituições de pesquisa nos confirmam em uma posição privilegiada no cenário tecnológico automotivo do País”, pontua o professor doutor Fábio do Prado, reitor da FEI.

NOVAS SOLUÇÕES Atualmente, a indústria automotiva nacional é marcada pela baixa competitividade, defasagem tecnoló­ gica, capacidade ociosa, perda de inves­timentos e pelos riscos de transferência das atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para outros polos. “Estamos fazendo parte de um programa que vai definir o futuro e contribuirá para a criação de uma nova estrutura da indústria automotiva nacional, que deverá atenuar as deficiências do setor. Trata-se de uma grande rede de conhecimento e o Centro Universitário FEI é a única instituição privada a fazer parte desse programa, o que é mais um motivo de orgulho”, enfatiza o professor doutor Ronaldo Gonçalves dos Santos, do Departamento de Engenharia Química da FEI, que coordena o Programa Desenvolvimento de Tecnologias em Biocombustíveis, Segurança Veicular e Propulsão Alternativa à Combustão do Programa Rota 2030 (leia mais na página 29). iStockphoto/Tramino

Divulgação

MERCADO AUTOMOTIVO BRASILEIRO


PESQUISA E TECNOLOGIA

iStockphoto/3alexd

Arquivo pessoal

Os recursos provenientes dos 2% do imposto de importa­ção de autopeças sem simi­lares nacionais têm como destino seis Programas e Projetos Prioritários voltados para alavancar a indústria automotiva, fortalecendo as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação do segmento. Os PPPs estão em cinco linhas de atuação, e cada uma possui uma instituição escolhida pelo Conselho Gestor para administrar a aplicação dos recursos previstos pelo Regime de Autopeças Não Produzidas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econô­mico e Social (BNDES) é responsável pela linha PD&I e Engenharia para a Cadeia Produtiva do Setor Automotivo; a Empre­sa Brasileira de ­ Pesquisa e Inova­ ção Industrial ­(Embrapii) pelo Programa P&DI para ­Mobilidade e Logística; a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)­­­é responsável pelo Programa FINEP 2030; o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) atua com o Programa Ala­vancagem de Alianças para o

Divulgação

CINCO LINHAS DE ATUAÇÃO PARA OS PPPs

Adriana Regina Martin: recurso aportado tem como finalidade desenvolver projetos pré-competitivos

Setor Automotivo; e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa de Minas Gerais­­(Fundep) será responsável pelo Programa Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas e pelo Progra­ ma Desenvolvimento de Tecnologias em Biocombustíveis, Segurança Veicular e Propulsão Alternativa à Combustão.

Edson Orikassa, da AEA, diz que o sucesso está no entendimento das empresas sobre o processo

As empresas podem escolher, dentre os programas, qual receberá o recurso proveniente dos 2% do Ex-tarifário. O recurso aportado no programa tem a finalidade de desenvolver projetos de PD&I com objetivo de levar benefício para toda a cadeia automotiva. Além disso, quando possuir uma demanda

PROGRAMA DEVE BENEFICIAR TODA A INDÚSTRIA O Rota 2030 prevê três grandes aspectos. O primeiro esta­be­lece requisitos obrigatórios para a comercialização de veículos novos produzidos no Brasil ou a importação de veículos 0km, que incluem a adesão a programas de rotulagem veicular de eficiência energética e segurança, redução do consumo de combustível médio dos veículos novos em pelo menos 11% até 2022, e antecipação da disponibilização de itens de segurança veicular­previstos na Resolução Contran 717, de 30 de novembro de 2017. O segundo está relacionado à redução de im­posto­de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido para empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento. A empresa que se habilitar ao programa poderá deduzir 10% do total dos dispêndios realizados em PD&I no Brasil do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Os investimentos poderão ser realizados sob a forma de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e de programas prioritários de apoio ao desenvolvimento industrial e tecnológico para o setor automotivo e sua cadeia. A empresa que realizar investimentos em itens considerados estratégicos poderá ter dedução adicional do IRPJ e CSLL, podendo chegar a 12,5%. São considerados dispêndios estratégicos com PD&I aqueles relativos a manufatura avançada, conectividade, sistemas estratégicos, soluções estratégicas


AUTOMOBILÍSTICA para a mobilidade e logística, novas tecnologias de propulsão ou autonomia veicular e suas autopeças, desenvolvimento de ferramental, moldes e modelos, nanotecnologia, pesquisadores exclusivos, big data, sistemas analíticos e preditivos (data analytics) e inteligência artificial. O terceiro aspecto refere-se à isenção fiscal para aquisição de peças importadas sem produção equivalente no País, que hoje possui alíquota reduzida de imposto de importação em 2%, dentro do regime Ex-tarifário. As empresas terão a alíquota reduzida a zero, mas, esses 2% serão utilizados nos PPPs destinados ao desenvolvimento industrial e tecnológico da cadeia de fornecedores do setor, desde que credenciados pelo Ministério da Economia após seleção do Conselho Gestor.

O PAPEL DA ACADEMIA Arquivo pessoal

tecnológica, as empresas que depositam o valor podem sinalizar para as instituições responsáveis pelos PPPs. “Assim, as instituições poderão abrir editais permitindo a submissão de propostas e projetos para resolver o problema da demanda”, explica Adriana Regina Martin, diretora do Departamento de Apoio à Inovação da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Economia. Todas as propostas enviadas serão analisadas por um Comitê Consultivo formado por representantes da instituição coordenadora, do setor produtivo, da academia, do Ministério da Economia e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), para escolher a que melhor soluciona o problema e gera a evolução tecnológica. O projeto escolhido receberá a verba necessária para o andamento da pesquisa. “O sucesso está no entendimento das empresas de como funciona o processo e de que a verba depositada será utilizada para solucionar problemas e, consequentemente, para que haja pesquisa e inovação. Por isso, estamos atuando fortemente e programando workshops explicativos, pois acreditamos que, se o mercado não se atualizar, estamos fadados a apenas importar e não ter competitividade”, pontua Edson Orikassa, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).

O professor Tárcio André dos Santos Barros, da Unicamp, acredita em novas soluções locais

O Programa Desenvolvimento de Tecnologias em Biocombustíveis, Segurança Veicular e Propulsão Alter­ nativa à Combustão, que tem coordenação da Fundep e corresponde à Linha V do edital do Rota 2030, teve a proposta elaborada pelo Centro Universitário FEI, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual do Ceará (UECE). A proposta ficou sob coorde­nação técnica do professor doutor Ronaldo Gonçalves dos Santos (FEI), juntamente com os professores doutores Tárcio André dos Santos Barros e Ludmila Corrêa­de Alkmin e Silva (Unicamp), e a professora doutora Mona Lisa Moura de Oliveira ­(UECE), e recebeu a colaboração de pesquisadores de outros institutos de ciência e tecnologia do País. “O Brasil possui diversos fatores, como matriz energética, aspectos ambientais, bioenergia e estrutura viária que devem ser levados em conta no desenvolvimento de novas tecnologias. Com o Programa Rota 2030 é possível criar soluções para aspectos locais e até mesmo

O docente da FEI, Ronaldo Gonçalves dos Santos, integra o Conselho Técnico

fornecer tecnologias para outros mercados automobilísticos”, acentua o professor Tárcio André dos Santos Barros. Além de participar ativamente da elaboração do programa, o professor Ronaldo Gonçalves dos Santos integra o Conselho Técnico que será responsável pela seleção das propostas submetidas aos editais e pelo acompanhamento da execução técnica dos projetos. Junto com os representantes da Unicamp e da UECE, da Fundep e de empresas do setor automotivo, o docente da FEI irá contribuir na definição dos critérios para seleção de projetos, de forma a atender às demandas do mercado e às tendências de futuro, seguindo as regras estabelecidas na legislação pertinente ao Programa Rota 2030. “O poder de decisão está se direcionando para especialistas, que ajudarão a definir os rumos da indústria nacional automotiva. É extraordinário a FEI fazer parte de um programa dessa envergadura, que vai criar novas tecnologias brasileiras”, comemora o professor doutor Vagner ­Barbeta,

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A professora Mona Lisa Moura de Oliveira, da UECE, salienta o aumento da integração do setor no Brasil

diretor da Agência FEI de Inovação ­(AGFEI). A diretora do Departamento de Apoio à Inovação da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação, Adriana Regina Martin, ressalta que o poder de decisão não está saindo da mão do governo federal, e sim sendo decidido em conjunto, por meio de especialistas do governo, da academia e do setor empresarial. A Linha V do programa foi dividida em três eixos principais: Biocombus-

O professor da FEI, Maurício Assumpção Trielli, diz que o agente motivador é aproximar academia e indústrias

tíveis, que está relacionado ao desenvolvimento e à aplicação de tecnologias, motores e componentes ligados a biocombustíveis; Segurança Veicular para o desenvolvimento de tecnologias que preservem a integridade física dos ocupantes de automóveis e aumentem a segurança e a eficiência dos veículos; e Propulsão Alternativa à Combustão, com foco no desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente sistemas e componentes voltados para veículos elétricos, híbridos e célula a combustível, considerando dinâmica veicular, eficiência energética e dirigibilidade em territórios brasileiros. De modo geral, o Programa Prioritário tem como objetivo principal oferecer ao mercado opções tecnológicas para aumento da eficiência energética em veículos automotivos através da eletrificação do powertrain, da aplicação de biocombustíveis para propulsão veicular e da adequação da infraestrutura da cadeia automotiva nacional, aumentando sua compe­titividade frente ao mer­cado global. O programa tem foco no desenvolvimento da indús-

tria nacional, na redução do custo de manufatura e da emissão dos gases de efeito estufa, e na melhoria da segurança veicular. “É oportuno salientar, também, que o Rota 2030 promoverá um aumento da integração entre o setor produtivo e a academia, sobretudo através da formação de recursos humanos e inovação na capacitação de profissionais do setor de tecnologia automotiva”, enfatiza a professora da UECE, Mona Lisa Moura de Oliveira. As instituições envolvidas estão esperançosas, porque o governo federal está sinalizando para uma direção que parece óbvia: usar a vocação nacional e produzir tecnologia com a identidade brasileira. O professor Ronaldo Gonçalves dos Santos destaca que a FEI entende que o Brasil tem um viés muito forte no setor agro, e pode aproveitar as competências existentes para desenvolver outras tecnologias que serão amparadas pelo conhecimento que possui, bem como desenvolver ainda mais a área. “Claro que não vamos menosprezar o que está sendo produzido em outros países, como Alemanha, que está na ponta de tecnologias inovadoras e usa a energia de forma sustentável. No entanto, temos de adaptar essas tecnologias para a nossa realidade”, ressalta. Para o professor doutor Maurício Assumpção Trielli, do Departamento de Engenharia Mecânica da FEI, o grande agente motivador do Rota 2030 é o fato de estabelecer uma relação mais estreita entre a indústria e a academia, criando uma objetividade mais adequada para resolver os problemas que as empresas enfrentam e nacionalizar os produtos, pois a indústria automobilística brasileira só abriga filiais de multinacionais que buscam resolver os problemas regionais, deixando o Brasil sem competitividade. “Os problemas que temos por aqui são peculiares e diferentes dos enfrentados em outros países, dificultando a inclusão de aspectos culturais da utilização do produto”, acredita.

Montagem a partir das imagens: iStockphoto/RudyBalasko e bgfoto

Arquivo pessoal

PESQUISA E TECNOLOGIA


PROGRAMA DÁ OPORTUNIDADES PARA DIFERENTES ÁREAS NA FEI Além do aumento da competitividade da indústria nacional, o Programa Prioritário referente à Linha V do Rota 2030 visa fomentar competências técnicas, capacitando profissionais da indústria, professores e alunos e, inicialmente, projeta que 25% da verba – cerca de R$ 50 milhões por ano – deve ser destinada para formação de recursos humanos. No entanto, o Conselho Gestor tem autonomia para aumentar esse percentual, uma vez que a formação de competências é fundamental para o País. “Ter um programa que traga no seu bojo a possibilidade de apoiar o desenvolvimento de novos cientistas focados no desenvolvimento de novas tecnologias é muito importante para o Brasil”, pontua o professor Vagner Barbeta, diretor da AGFEI. As universidades e os institutos de ciência e tecnologia poderão submeter projetos aos editais que serão lançados pelas instituições coordenadoras e, no caso da aprovação, a verba recebida contribuirá também para a geração de expertise nacional em diversos níveis acadêmicos, atuando na formação de graduados, mestres e doutores. O Centro Universitário FEI está participando ativamente da Linha V do Rota 2030 por meio do Departamento de Engenharia Química, que vem desenvolvendo pesquisas na área de biocombustíveis há alguns anos, abrangendo principalmente compostos derivados de biomassa. Esse tema faz parte de uma linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da FEI (PEQ-FEI) e a experiência dos pesquisadores na área resultou no convite para que o Departamento de Engenharia Química integrasse o consórcio internacional Brasil/Comunidade Europeia (BioValue) para o desenvolvimento de biocombustíveis de alto desempenho para aviação. Dentre as instituições brasileiras, a FEI participa do consórcio com um grupo de quatro pesquisadores do Departamento. “A experiência adquirida nesses anos, motivada com a nossa participação no BioValue, foi fundamental para a elaboração de uma proposta inovadora para participarmos do Rota 2030. O nosso objetivo é inserir a FEI na vanguarda do desenvolvimento tecnológico de biocombustíveis para a indústria automobilística brasileira na próxima década”, enfatiza o professor doutor Ricardo Belchior Torres, chefe do Departamento de Engenharia Química. No caso do Rota 2030, o Departamento atua no sentido de ampliar o uso de biocombustíveis, melhorar sua eficiência em motores convencionais e habilitar o seu uso em novas tecnologias de propulsão, tais como veículos híbridos e elétricos. Os demais departamentos de ensino da Instituição também têm competências para submeter projetos e contam com um quadro de professores, pesquisadores e infraestrutura que permite trabalhar com os eixos Segurança Veicular e Biocombustíveis. Um exemplo é a área de Engenharia Elétrica, porque muitas das evoluções recentes dos produtos automotivos recaem sobre sis-

temas eletrônicos e de automação, e grande parte dos recursos das montadoras para PD&I se dá em sistemas ativos de segurança, controlados eletronicamente. “A eletrificação dos veículos também implica assuntos relacionados aos departamentos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Automação e Controle. Conforme formos migrando para os veículos autônomos, mais e mais sistemas eletrônicos serão necessários nos carros e na infraestrutura de mobilidade”, acentua o professor doutor Renato Giacomini, coordenador dos dois cursos na FEI. A área de segurança veicular também é foco de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da Instituição, que desenvolvem pesquisas em sistemas automotivos e assuntos relacionados. “O Departamento de Engenharia Mecânica tem muito a contribuir, considerando sua reconhecida competência e tradição na área automobilística. Na área de segurança veicular, em particular, temos linhas de pesquisa e atuação com envolvimento de alunos tanto em segurança ativa quanto passiva. Trata-se de uma área fortemente multidisciplinar, com grande potencial de integração entre os diferentes departamentos e programas de pós­ graduação da FEI”, reforça o professor doutor Marko Ackermann, coordenador do curso de Engenharia Mecânica. A professora doutora Adriana Martinelli Catelli de Souza, coordenadora do Departamento de Engenharia de Materiais, ressalta que os docentes e pesquisadores da área também poderão contribuir com o Rota 2030, afinal, para qualquer desenvolvimento tecnológico ou novo produto é necessária a seleção do material adequado. “Também desenvolvemos novos materiais e processos de produção que permitem materializar ideias, nunca esquecendo o apelo ambiental e a sustentabilidade”, pontua. Apesar de todas as oportunidades na FEI, o Programa Rota 2030 vai além da participação interdepartamental do Centro Universitário, pois preconiza a participação conjunta de diferentes instituições brasileiras, aproveitando as suas diferentes competências, e foca em produtos que atendam às demandas e especificidades da indústria nacional.

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ECONOMIA CIRCULAR E SUSTENTABILIDADE

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GESTÃO E INOVAÇÃO

NOVO MODELO ENGLOBA COMPARTILHAMENTO, MANUTENÇÃO, REUTILIZAÇÃO, REMANUFATURA E LOGÍSTICA REVERSA

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iferentemente do modelo linear que envolve produção, consumo e descarte, a economia circular se caracteriza pelo uso mais eficiente de recursos naturais, preconizando que o setor industrial tenha como foco a sustentabilidade para a conservação de negócios e não apenas como estratégia ambiental. Segundo recente pesquisa realizada com 1,2 mil companhias brasileiras pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apesar de 70% das empresas não saberem o que é economia circular, 76,4% delas já adotam alguma iniciativa que se enquadra neste conceito, seja pela busca de eficiência operacional, oportunidade de novos negócios, demanda de clientes e acionistas ou para atender às conformidades legais.

Considerado uma tendência mundial que engloba ações como compartilhamento, manutenção, reutilização, remanufatura e logística reversa, esse novo modelo é uma alternativa para redefinir o crescimento com foco em benefícios para toda a sociedade. A economia circular repensa as práticas econômicas com objetivo de manter produtos, componentes e materiais em circulação, tirando proveito do máximo de valor e utilidade entre ciclos técnicos e biológicos. “A ideia ultrapassa o conceito dos três R, de reduzir, reutilizar e reciclar, pois reúne um modelo sustentável com o ritmo tecnológico e comercial do mundo atual”, descreve o professor doutor Hong Yuh Ching, chefe do Departamento de Administração do Centro Universitário

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CIC

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FEI. Ao reconhecer que funciona em qualquer escala, seja para empresas, organizações ou indivíduos, local ou globalmente, esse novo modelo não se limita a ajustes para reduzir os impactos negativos da economia linear – em que os materiais estão fadados a percorrer uma via de mão única –, mas representa uma mudança sistêmica que gera oportunidades econômicas

Arquivo pessoal

ESTUDO AVALIA A CADEIA DE VALOR DOS PRODUTOS DE

O engenheiro Marcos Tavares Barderi desenvolveu um trabalho de mestrado sobre o tema na FEI

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Na economia circular, toda a cadeia de valor do produto é levada em consideração, desde a extração de matéria-prima, conversão, fabricação, distribuição, uso e, por fim, a gestão do final de vida, que inclui reuso, reciclagem e recuperação energética, dentre outros meios. É, portanto, um modelo que não se baseia no consumo, mas no uso restaurativo, tendo ferramentas como a remanufatura para atingir tal finalidade. Conhecendo o conceito de economia circular, o engenheiro de qualidade ambiental Marcos Tavares Barderi buscou, durante o mestrado no Centro Universitário FEI, em 2017, analisar como a abordagem de circularidade de materiais poderia ser aplicada na estrutura de uma empresa fabricante de veículos comerciais, no caso o caminhão. Realizado em uma multinacional alemã que fabrica veículos comerciais e é a maior fabricante de caminhões e ônibus da América do Sul, o estudo ‘Aplicação dos Princípios da Economia Circular em uma Indústria de Veículos Comerciais’ considerou toda a cadeia de valor dos produtos e teve como principal objetivo analisar as práticas adotadas pela companhia que correspondem aos princípios da Economia Circular na cadeia de valor do caminhão. “Por meio de pesquisa qualitativa descritiva utilizei, como fonte de evidência, documentos, referências secundárias, publicações do site da empresa, dados de sustentabilidade, manuais da Associação Nacional dos Fabricantes de


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SU MO

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SO S O e de negócios, proporU E & R cionando benefícios sociais,

econômicos e ambientais. O modelo é fundamentado por princípios descritos pela Ellen ­MacArthur Foundation, organização que, desde 2010, tem como missão acelerar a transição de uma economia circular que inclui eliminar resíduos e poluição, manter produtos e materiais em ciclos de uso e regenerar sistemas naturais. “Ca-

da um desses princípios está voltado para diversos desafios relacionados a recursos estruturados que a economia industrial enfrenta”, comenta o docente da FEI. O ciclo começa pela desmaterialização dos produtos e serviços, controlando estoques e equilibrando fluxos de recursos renováveis. Na sequência, faz com que produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade tenham circularidade. Por fim, exclui fatores negativos, o que inclui a redução de danos a produtos e serviços dos quais os seres humanos precisam, como alimentos, mobilidade, habitação, educação, saúde e entretenimento, assim como a gestão de externalidades, como uso da terra, ar, água, poluição sonora, liberação de substâncias tóxicas e mudança climática. Em um dos capítulos que produziu para o livro Administração da ­Produção e Operações, o professor Hong Yuh Ching destaca iniciativas como a plataforma TriCiclos, da Braskem Labs, cujo foco é a gestão do lixo. “A empresa criou e opera os pontos de recepção voluntária de materiais recicláveis, que são centros de coleta e triagem para até 20 tipos de materiais (como, por exemplo, polietileno, PET e vidro) que, após a coleta, são transportados para reciclagem”, detalha. O objetivo é buscar soluções para a redução na geração

Professor Hong Yuh Ching: ideia reúne um modelo sustentável com o foco no ritmo do mundo atual

de resíduos, fazendo uma gestão mais sustentável do ciclo de uso dos produtos. Outra experiência exitosa vem da Loop Industries, do Canadá, que desconstrói plástico de materiais descartados em monômeros, separados das impurezas por um processo químico e recombinados para criar um novo PET, de qualidade idêntica à da resina virgem e que pode ser reutilizado em diversos tipos de embalagens. Tal técnica permite reinserir como matéria-prima, inclusive, plásticos abandonados no ambiente.

MULTINACIONAL ALEMÃ Veículos Automotores (Anfavea) e registros em arquivos”, enumera. Além disso, obteve informações por meio de observações e entrevistas com gestores e colaboradores, realizadas durante visitas em diversos processos dentro das unidades da empresa. Durante a análise dos dados foram identificados, como elementos de economia circular, programas com foco na prevenção que aumentam o tempo e o valor de utilidade do produto e, portanto, a circularidade do material. “O grande diferencial do estudo de caso foi o processo de remanufatura, que incentiva o retorno de produtos. Por exemplo, motores e câmbios usados pelo cliente retornam para a fabricante, que realiza a remanufatura. Neste processo, os produtos são restaurados e retornam para seu ciclo de uso, reduzindo impactos ambientais provenientes tanto da extração de matérias-primas para a fabricação de novos produtos quanto do descarte de resíduos devido ao sucateamento de materiais”, explica o engenheiro.

Para os especialistas, é fundamental o relacionamento entre os diversos setores da cadeia de valor para a plena aplicação da economia circular no ambiente industrial. A economia circular não existe sem diálogo e trabalho conjunto entre as áreas de desenvolvimento, possibilitando novos componentes a partir da reutilização de uma peça; se o setor de vendas não captar a demanda do cliente e sem produção atrelada a essas perspectivas. O engenheiro diz que o grande desafio é fazer com que a economia circular não seja desenvolvida de maneira isolada ou vista como onda de sustentabilidade. “É fundamental que os setores privado e público trabalhem pela criação de incentivos que viabilizem sua aplicação e todos os benefícios relacionados. Não adianta um departamento isolado da indústria ter uma perspectiva de circularidade por meio da reciclagem; é preciso o envolvimento de toda a cadeia de valor, de forma a se criar um design para a circularidade envolvendo todos os stakeholders”, enfatiza.

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iStockphoto/petovarga

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GESTÃO E INOVAÇÃO

INDÚSTRIA 4.0 COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL O desenvolvimento das novas tecnologias digitais no contexto industrial, baseadas na automação do trabalho, na robótica, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT), otimizam a capacidade da cadeia produtiva, adicionam valor ao produto, racionalizam o uso dos recursos e customizam soluções mais eficientes. Isso possibilita­ rá que empresas tenham cadeias de produção totalmente conectadas com o mundo digital, com controle de dados desde a entrada dos insumos até a entrega ao consumidor final, dando grande velocidade à produção seriada ou flexibilidade com alta variabilidade de produtos. Além do salto tecnológico impulsionado pelo avanço da Indústria 4.0 – permitindo que processos sejam gerenciados de forma integrada por meio de sistemas ciberfísicos com a função de estabelecer essas intercomunicações –, acompanhar essa evolução será determinante para que as empresas se mantenham competitivas e melhorem a sustentabilidade. Para o professor doutor F ­ ernando Cezar Leandro Scramim, do Departamento de Engenharia de Produção, autor do capí­ tulo Indústria 4.0 no livro Administração­­­ da Produção e

­Operações, somente com o investimento em novas tecnologias e ferramentas será possível implementar e adequar as empresas para a Quarta Revolução Industrial. “Para tornar a Indústria 4.0 uma realidade será fundamental a adoção gradual de inovações tecnológicas nos campos de automação, controle e tecnologia da informação, conectividade, inteligência artificial, dados nas nuvens, big data e robotização, entre outras, que aceleram o crescimento do mercado e acentuam a concorrência”, acredita. Além de gerar ambientes de manufatura altamente flexíveis e autoajustáveis, esse processo demandará investimentos e pesquisas em cibersegurança, condição fundamental para garantir a segurança da informação em todos os ciclos da cadeia produtiva. A Indústria 4.0 também deverá revolucionar o processo produtivo das empresas, o que significa maior rapidez na resolução de problemas ou falhas, implantação de operações integradas e maior tempo das equipes de projetos para o trabalho estratégico, entre outras transformações. Para que isso ocorra de maneira sustentável, as empresas precisam estar conscientes das questões ambientais e sociais

O docente Fernando Cezar Leandro Scramim é autor de capítulo no livro Administração­­­da Produção e Operações

envolvidas. “Uma política sustentável relaciona os riscos ambientais, sociais e econômicos. Não há como falar de ambientes inteligentes se não houver preocupação com os efeitos da atividade industrial em toda a cadeia produtiva e seu ecossistema”, ressalta o professor. As grandes fábricas e os negócios têm muito a ganhar com essa nova configuração, tornando-se também empresas sustentáveis por utilizarem cadeias limpas com mais recursos tecnológicos e reduzindo, portanto, o desperdício dos recursos naturais.

QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES DAS EMPRESAS Os professores doutores Hong Yuh Ching e Fábio Gerab, coordenadores dos departamentos de Administração e Matemática da FEI, respectivamente, examinaram a qualidade das informações divulgadas nos Relatórios de Sustentabilidade de empresas brasileiras do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (Bolsa de Valores), com objetivo de analisar as práticas sustentáveis. O resultado desse levantamento foi o artigo ‘Assessment of the Sustainability Reports: Evidence from Brazilian listed Companies’, a ser publicado na Encyclopedia of the UN Sustainable Development Goals. “Com uma sequência de trabalhos sistemáticos que cobre um período de sete anos de apurações e envolve diversas métricas, criamos indicadores que apontam, em um conjunto de 218 relatórios, que a melhoria na qualidade destes relatórios atua como um sinal importante para gerar transparência, valor e confiança”, avalia o professor Fábio Gerab. Entre os dados analisados evidenciou-se que a comunicação sobre responsabilidade social corporativa e a qualidade dos relatórios é impusionada principalmente pela sociedade, que exerce pressão pela divulgação de ações e dados detalhados.

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O professor Fábio Gerab é um dos responsáveis pelo levantamento dos Relatórios de Sustentabilidade


NOTÍCIAS

PRODUÇÃO MAIS RÁPIDA E EFICIENTE CAFÉ COM ENGENHARIA QUÍMICA ABORDOU A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO SEGMENTO

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m um futuro muito próximo, a Indústria 4.0 permitirá que bilhões de máquinas, sistemas e sensores em todo o mundo se comuniquem e compartilhem informações. Essa revolução tecnológica vai permitir que as empresas tornem suas produções mais eficientes e dará a flexibilidade necessária para se adequarem aos novos requi­sitos de mercado. Com transformações contínuas e dis­ruptivas, a digitalização dos processos e o melhor aproveitamento das tecnologias disponíveis – Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem, inteligência artificial, sistemas em robótica, impressão 3D, advanced analytics e big data – são oportunidades de melhoria na produtividade e já vêm transformando todos os setores. Toda a produção industrial, incluindo o setor químico, já se adequa ao potencial da Indústria 4.0, que impactará positivamente em novos investimentos, na eficiência dos processos e na competitividade. Com grande capacidade para absorver as transformações movidas pelas novas tecnologias, a indústria química de ponta já vem investindo na digitalização de processos e possui, principalmente nas companhias de óleo e gás, departamentos exclusivos ligados à Indústria 4.0. Segundo o professor doutor Song Won Park, professor assistente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), os impactos não se limitam à automação e aos sistemas de informação mais robustos, mas no aumento de desempenho de todos os processos de manufatura, vendas e marketing, pesquisa e desenvolvimento. “Quando se pensa na implementação das novas tecnologias o desafio é fazer com que a empresa não seja apenas uma fábrica, mas toda uma cadeia com objetivos bem definidos, e que esteja preparada para integrar projetos, processos, decisões, indicadores econômicos, menores níveis de consumo e energia, manutenção efetiva e qualidade dos negócios”, destaca. As transformações que já impactam a indústria química são reflexos de um cenário ainda mais abrangente, no qual a conexão entre sensores, transmissores, sistemas, dados governamentais, informações de fornecedores e clientes é uma tendência com significativas implicações para várias áreas, incluindo óleo e gás, mineração e agronegócio. Este grande banco de dados virtual em diversas etapas do processo e atualizado em tempo real – big data – é uma fonte de oportunidades para decisões operacionais e de negócios mais ágeis e responsivos às mudanças no mercado e, ao mesmo

O professor doutor Song Won Park, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, diz que a indústria química de ponta já vem investindo na digitalização de seus processos

tempo, um desafio quando a segurança dessas informações passa a ser fator determinante. “Garantir a segurança digital da informação é um dos grandes gatilhos da Indústria 4.0, que demandará investimentos e tecnologias específicas de processamento e armazenamento que garantam a confidencialidade dos dados”, comenta. Segundo o docente, na indústria química, assim como em outras áreas, alguns fatores são determinantes para atender a essa demanda como, por exemplo, interoperabilidade, digital twin, edge ­computing, cyberphysical ­systems, IoT, machine learning, realidade virtual e aumentada, impressão 3D, big data e analytic­­ visual. FUNDAMENTAL Impactado pelas transformações digitais, o engenheiro químico deverá acompanhar de perto as inovações e melhorar seus níveis de habilidade e competência, adequando-se às evoluções a serviço dos processos químicos mais eficientes, com maior rentabilidade, segurança e sustentabilidade. “Essa é uma fase de oportunidades e a gestão de recursos humanos é fundamental. Claro que os conhecimentos técnicos tradicionais e de gestão continuam a ser importantes, mas as habilidades computacionais para novas tecnologias são as principais características dos novos talentos que toda a cadeia produtiva e industrial demandará”, avalia. O docente acrescenta como perfil de competências a necessidade de saber mais sobre gestão de processos, projetos e pessoas, assim como ter aptidão para gerenciar crises. O professor foi o convidado do Café com Engenharia Química, realizado em setembro no campus São Bernardo do Campo da FEI.

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NOTÍCIAS

INCENTIVO AO CONHECIMENTO PROGRAMAS DE INICIAÇÃO ESTIMULAM O PENSAMENTO CIENTÍFICO, CRÍTICO E CRIATIVO

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proposta dos programas de iniciação é estimular o desenvolvimento do pensamento científico, crítico e criativo, além de despertar a vocação dos estudantes de graduação para a pesquisa com foco no conhecimento estendido, na maturidade intelectual, na resolução de problemas e nas possibilidades futuras, tanto acadêmicas como profissionais. Esses alunos participam da construção do conhecimento e aprimoram as qualidades desejadas em um profissional de nível superior. Além de oferecer vantagens nas seleções para programas de pós-graduação, a pesquisa acadêmica mostra-se relevante para quem ingressa no mercado de trabalho, porque estimula o desenvolvimento pessoal. Para fomentar o interesse e valorizar a pesquisa, o Centro Universitário FEI promove, desde 2011, o Simpósio de Iniciação Científica, Didática e de Ações Sociais de Extensão (SICFEI), que reúne projetos desenvolvidos por alunos em diversas áreas do conhecimento. Desde a primeira edição, o SICFEI tem sido uma experiência importante

para toda a comunidade acadêmica, especialmente por colocar em evidência a produção científica dos alunos e dos professores orientadores. “A socia­ lização do conhecimento e a visibilida­ de do que é produzido revela o auto­ conhecimento dos alunos, amplia suas habilidades, valoriza produtos e processos de competências e metodologias que, efetivamente, contribuem para o crescimento acadêmico, para a formação por completo e, ainda, como referência para futuros profissionais mais qualificados”, avalia a professora doutora Carla Andrea Soares de Araújo, coordenadora do Programa de Ações Sociais de Extensão (PRO-­BASE). Um dos resultados do incentivo é a crescente participação de alunos e professores nos Programas de Iniciação da FEI e, consequentemente, na apresentação dos projetos de pesquisa no SICFEI que, nesta edição, foram 202. O período de vigência dos trabalhos inscritos muda a cada ano. Esta edição compreendeu as pesquisas produzidas entre junho de 2018 e abril de 2019, sendo 159 de Iniciação Científica, 20 de Iniciação Didática, 15 de Ações Sociais de Extensão e 8 de Iniciação Tecnológica e de Inovação. “A ideia foi trazer as pesquisas que já chegaram pelo menos à metade do cronograma de desenvolvimento do projeto, e que contam com

resultados mais adiantados para apresentação no SICFEI”, explica a professora doutora Michelly de S­ ouza, coordenadora dos programas de Iniciação Científica (PIBIC), Iniciação Didática (PROBID) e Iniciação Tecnológica e de Inovação (PBITI). Todos os trabalhos submetidos foram encaminhados a membros do Comitê Avaliador, formado por docentes e pesquisadores da FEI, professores convidados de outras instituições, entre as quais a Universi­ dade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), e especialistas de empresas – muitos deles ex-alunos da FEI –, que avaliaram os artigos de acordo com sua área de atuação. Com notas que vão até 50, cada trabalho contou com o parecer de dois avaliadores. Neste ano, todos os projetos atingiram bom desempenho e foram aprovados para apresentação no SICFEI no formato de pôsteres, quando novamente são analisados por outros dois avaliadores. Os programas de iniciação promovem o aprendizado, e a pesquisa permite a esses alunos aprofundarem o conhecimento de interesse para além do que a graduação oferece. “Através da metodologia científica, os estudantes desenvolvem novas habilidades e competências, aprendem a elaborar proje-

OPORTUNIDADES PARA ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO Pelo segundo ano consecutivo, o SICFEI contou com a submissão de um trabalho do Ensino Médio, fomentado pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que concede bolsas de Iniciação Científica Junior para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, sob a orientação de professor do Ensino Superior. Para Kawane dos Santos Paiva, aluna da ETEC Lauro Gomes e bolsista do projeto, essa é uma oportunidade única que permite vivenciar a cultura da pesquisa disseminada pela FEI. “Tem sido uma experiência incrível de aprendizado. Vejo essa oportunidade como

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um projeto de inclusão, que amplia minhas expectativas em relação ao futuro acadêmico, aumenta meu conhecimento, me apresenta a metodologia científica e ensina a ser mais focada, determinada, organizada e proativa”, enumera. Mais segurança e capacidade de explanar sobre um tema, novas possibilidades de atuação e vivência com outros pesquisadores e especialistas são alguns dos benefícios de participar dos programas de iniciação, segundo a aluna Gabriela Fernandes Sarmento, do 10o semestre de Engenharia Civil. A estudante desenvolveu o trabalho em


tos, buscar fontes confiáveis, coletar, analisar e interpretar dados, produzir relatórios e artigos, assim como ampliar a capacidade crítica de resolver problemas e buscar soluções”, acentua a professora Michelly de Souza. A pesquisa também permite uma constante troca de informação, pois amplia o contato com professores e alunos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado, assim como pesquisadores e especialistas de outras instituições, centros de pesquisa e empresas. A coordenadora lembra que o aluno que ingressa nos programas de iniciação desenvolve espírito investigativo e se torna mais criativo e arrojado, o que acaba sendo um diferencial em qualquer processo seletivo ou carreira. O estudante também adquire outras características importantes para a vida pessoal e profissional, como maturidade intelectual, proatividade, responsabilidade com prazos, capacidade de aprimorar conhecimento, discernimen­ to para enfrentar dificuldades e pensar em soluções fora do modelo tradicional, tornando-se um profissional mais

bem qualificado para o mercado de trabalho. “A missão da universidade é promover o conhecimento e desenvolver indivíduos capazes de buscar e encontrar respostas para os problemas que permeiam a sociedade”, enfatiza. AÇÕES SOCIAIS DE EXTENSÃO Apesar de não ter característica essencialmente científica, o Programa de Ações Sociais de Extensão tem despertado o interesse de alunos de diversos cursos. Com objetivo de incentivar atividades de formação humanista por meio de projetos que visem a promoção social, o PRO-BASE propõe uma mudança de cultura através de seus projetos de pesquisa. Para a professora Carla Andrea Soares de Araújo, o grande diferencial está no perfil dos estudantes, dispostos a oferecer sua contribuição à sociedade promovendo ações para o bem comum. “Nossos alunos são organizados, proativos, com espírito de liderança, com sede de conhecimento e aprendizado. Além disso, são capazes de desenvolver senso de empatia e metodologias de aplicação de processos,

parceria com uma empresa do segmento de concreto, o que possibilitou extrapolar a teoria e participar de reuniões técnicas e de desenvolvimento que resultaram na implantação da sua pesquisa dentro da indústria. “Além de melhorar meu currículo, a pesquisa possibilita me inserir como agente transformador capaz de mudar o mundo. É, sem dúvida, um ganho de aprendizado profissional e pessoal”, avalia. Com uma pesquisa relacionada a um trabalho de mestrado desenvolvido na FEI, Leonardo Ferreira, do 8º semestre de Engenharia de Automação e Controle, ressalta que a pesquisa é uma ferramenta

colocando suas competências a servi­ ço da construção de uma sociedade mais justa”, descreve. Mesmo depois de formados, muitos levam a experiência para fora do campus, multiplicando a cultura de boas práticas de responsabilidade social, seja na comunidade ou na empresa na qual estão inseridos. Um des­taque do PRO­-BASE é o Cursinho FEI, ‘projeto guarda-chuva’ que agrega várias linhas de pesquisa, algumas submetidas ao SICFEI. A iniciativa teve início em 2013 e tem a proposta de auxiliar alunos do 3º ano do Ensino Médio de escolas públicas de São Bernardo do Campo a se prepararem para o ENEM ou os vestibulares. “Com orientação de professores da FEI, as aulas são ministradas gratuitamente por cerca de 20 alunos do PRO-BASE de diversos ciclos e cursos, envolvidos em todo o processo, do conteúdo às meto­ dologias aplicadas em sala de aula. Mais do que agregar valor à formação acadêmica dos integrantes do projeto, a participação promove autonomia, comunicação mais efetiva e formação do senso crítico”, acentua a coordenadora.

de desenvolvimento de aprendizado dos processos de teoria e prática. O estudante, que está na segunda iniciação científica, afirma que o aprendizado de elaborar relatórios e desenvolver programas abre inúmeras possibilidades de atuação acadêmica e é um diferencial no mercado de trabalho. “Com a orientação de professores e pesquisadores, e por meio da pesquisa, criamos o hábito de pensar criti­ camente e aprendemos a aprender sozinhos, examinando soluções, experimentando processos e corrigindo erros, sempre em busca dos melhores resultados e do sucesso das nossas aplicações”, comenta.

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NOTÍCIAS

TEDxFEI RECEBE EMPREENDEDORES DE

Diego Barreto, CFO do iFood

REALIZADO PELA PRIMEIRA VEZ NA INSTITUIÇÃO, O EVENTO ABORDOU TEMAS COMO INOVAÇÃO, TECNOLOGIA, COMPORTAMENTO, LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO

Luiz Quinderé, fundador do Brownie do Luiz

C

onsiderada mundialmente como uma forma inovadora de compartilhar conhecimentos e experiências sobre diversos assuntos para diferentes públicos, a conferência TED (Tecnologia, Entreteni­ mento e Design) tornou-se um dos modelos mais utilizados nos últimos anos devido ao seu formato, caracterizado por uma série de palestras com duração máxima de 18 minutos e sem fins lucrativos. O TEDx tem como foco estimular as ideias que merecem ser compartilhadas para as comunidades locais em todo o mundo. Em geral, os eventos incluem palestrantes ao vivo e conversas gravadas. Atento às inovações e a essas tendências, o Centro Universitário FEI, por meio do Clube de Negócios e Empreendedorismo, trouxe ao campus São Bernardo do Campo, no dia 17 agosto, a primeira edição do TEDxFEI. Exclusivo para alunos da Instituição, o evento recebeu empresários consi­

Sarah Almachar, CEO da Solve

derados referências em empreendedorismo: Diego Barreto, CFO do iFood; Luiz Quinderé, fundador do Brownie do Luiz; Sarah Almachar, CEO da Solve; Maurício Villar, COO da Tembici; Dre Guazzelli, produtor musical e DJ; e Altay de Souza, do podcast Naruhodo!. Também participaram os professo­res Carla Andrea Soares de Araújo e Flavio Tonidandel, coordenadores dos departamentos de Ciências Sociais e Jurídicas e Ciência da Computação da FEI, respectivamente. A programação contemplou temas como Empreendedorismo e Comportamento, Mobilidade Urbana, Liderança, Inteligência Artificial, Colaboração e Autocontrole. A organizadora do evento e recém-formada pela FEI, Marina Teles, diz que o TEDxFEI teve como objetivo promover o aprendizado e a inspiração dos alunos por meio do compartilhamento de novas ideias e experiências. “Contamos com a participação de mentes brilhantes para promover uma gama de assuntos relacionados à tecnologia, inovação, ao comportamento e empreendedorismo”, destaca. Um dos assuntos do encontro foi o


DIVERSAS ÁREAS

Maurício Villar, COO da Tembici

novo modelo de empreendedorismo, em que o sucesso do negócio não se mede mais pela classe social, cor ou gênero do empreendedor, mas pela meritocracia do seu empenho e talento. Ao abordar o tema, o CFO do iFood, Diego Barreto, ressaltou que o TEDx na FEI é uma grande oportunidade de unir o mundo acadêmico com a prática, ampliando o conteúdo que os alunos aprendem diariamente em sala de aula por profissionais que estão no mercado vivenciando as inovações e transformações. “Desta forma, é possível estimular os alunos a serem ainda mais criativos. Precisamos fomentar a realização do TEDx nas universidades”, sugere. A CEO da Solve, Sarah Almachar, acentua que a qualificação dos novos líderes passa pela capacidade de lidarem com o ser humano em sua totalidade. Para a executiva, a boa liderança está na capacidade de escutar e entender o outro, saber a hora certa de acelerar e de frear. E foi justamente a importância das pessoas que Luiz Quinderé, fundador do B ­ rownie do Luiz – considerado um dos 30 empreendedores de sucesso mais jovens do mundo, segundo a revis-

Dre Guazzelli, produtor musical e DJ

ta Forbes – abordou ao contar sobre a sua trajetória. “Existem duas situações em comum entre os empreendedores. Uma é o fracasso, pois é nele que você cresce. E a segunda é a determinação. Em todos esses momentos é essencial que possamos contar com pessoas que estejam dispostas a estar conosco e a sonhar junto”, argumenta. SUCESSO MUNDIAL O TED surgiu em 1984 como uma conferência anual na Califórnia, Esta-

A docente Carla Andrea S. de Araújo, de Ciências Sociais

Altay de Souza, do podcast Naruhodo!

dos Unidos, e já teve entre os palestrantes Bill Clinton, Bill Gates, Isabel Allende, Bono Vox, Al Gore, Michelle Obama, Philippe Starck, Elizabeth Gilbert e Jaime Lerner. Com o passar dos anos e a popularização, a temática ampliou-se para assuntos como ciência, educação, negócios e cultura. Em 2009 foi criado o programa TEDx, que contempla uma série de palestras locais e organizadas de maneira independente, mas que também reúne pessoas para compartilhar experiências ao estilo TED.

O professor Flavio Tonidandel, de Ciência da Computação

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NOTÍCIAS

TRAVESSIA DESAFIA ESTUDANTES 11ª EDIÇÃO TEVE PARTICIPAÇÃO DE 59 EQUIPES DO ENSINO MÉDIO E DE ENGENHARIA DA FEI

A

o serem desafiados a construir uma ponte de 1,60m utilizando apenas palitos de sorvete, cola, barbante e clipes de papel em apenas quatro horas, estudantes do Ensino Médio e dos cursos de Engenha­ ria da FEI recebem estímulo para o desenvolvimento de raciocínio lógico, planejamento, estratégia de execução, trabalho em equipe, cooperatividade e aplicação dos conceitos da área de Exatas, como Matemática, Química e Física. Sucesso em número de participantes há 11 edições, o Concurso Travessia deste ano teve 59 equipes – 14 de escolas participando pela primeira vez. A determinação dos alunos é fator preponderante para a longevidade do desafio, pois, mesmo com as dificuldades, respeitam as regras, chegam com criatividade, espírito de competição e determinação, e são estimulados para entregar os melhores projetos. “A adesão de novos colégios mostra­a força da proposta e do nível de exigência da competição, despertando o interesse e a vivência da Engenharia por completo”, comemora o professor doutor Kurt André Pereira Amann, do Departamento de Engenharia Civil, um dos organizadores do concurso. A cada ano, a competição apresenta um novo desafio para aumentar o nível de exigência e de qualidade na execução das pontes. A novidade desta edição foi a utilização de um gabarito-modelo usado previamente ao ensaio. Além de agilizar os testes de resistência e aumentar o grau de dificuldade de planejamento, a proposta é que as equipes que encaixassem as pontes no gabarito chegassem ao topo da classificação.

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O professor de Matemática e coordenador de Exatas do Colégio Canadá, de Guarulhos, Alexandre Messias Pagani Amaral, afirma que o Travessia reforça a cooperação, interação, estratégia de tempo, o desempenho e a autonomia dos alunos que, sozinhos, realizam um projeto bem organizado, estruturado e eficiente, do planejamento à execução final. Participando pela quarta vez consecutiva e com resultados acima das expectativas, a equipe foi definida a partir dos resultados de uma competição de produção de pontes interna no colégio, realizada com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e 1º do Ensino Médio, segundo as regras do Concurso Travessia. A professora de Matemática da E.E. Doutor João Firmino Correia de Araújo, de São Bernardo do Campo, Anneliese de Oliveira Lozada – ex-aluna da FEI – destaca a tenacidade, a vontade de melhorar a cada novo desafio e a sede por conhecimento que essas iniciativas despertam nos alunos. “A FEI realiza um trabalho incrível com o Travessia, pois aproxima os estudantes dos conceitos da Engenharia e traz uma nova perspectiva de aprendizagem de maneira desafiadora”­, acentua.

O DESAFIO A resistência dos protótipos é testa­ da com uso do equipamento Pondemobilator com um trem-tipo, acionado manualmente pelos membros da equipe. A cada travessia, o trem-tipo deve parar por cinco segundos no centro do comprimento da ponte para leitura da carga suportada. Com tempo de travessia entre 15 e 30 segundos, as equipes podem ser penalizadas em caso de demora ou velocidade excessiva. A cada passagem, adicionam-se cargas constituídas de massas de 10kg – 5kg em cada extremidade da viga de transferência de carga –, até que ocorra ameaça de instabilidade da estrutura, perda de apoio ou deformação vertical excessiva no centro dos vãos. O ensaio é finalizado quando ocorre ruptura da estrutura em qualquer ponto ou peça da ponte, ou quando a mesma toca parte do equipamento que não sejam os pontos de apoio. A classificação é baseada no Coeficiente de Eficiência Estrutural (CEE), que avalia a capacidade de resistência em relação à quantidade de material usado na produção da ponte. Aspectos de cooperação e limpeza também compõem a pontuação final.


BOAS HISTÓRIAS PARA SEREM LEMBRADAS genharia ou em outras áreas, alguns na ativa e outros aposentados, morando próximo ou distante, o fato é que Allyson­ ­Christofolli, Antonio Castro, Arthur Gomes, Carlos Benedetti, Carlos Soeiro, Carmine Pellegrino, Djalma Domingues, Edson, Eduardo Elias, Eduardo Pierucci, Francisco Piraja, Gerson Martin, Helder Boccaletti, João Marcos, Luis Henrique, Reinaldo Fernandes, Roberto Nakai, Silvio Satto, Takashi Iha, Valter Rodello, Carlos Elmadjian e Marcelo Ribeiro trilharam caminhos de sucesso. Com a missão de buscar os seis ‘colegas perdidos’, o grupo já está se preparando para a próxima reunião. Outro desejo é visitar o campus da FEI, para verem o quanto cresceu e relembrar com carinho dos anos da graduação.

MEIO SÉCULO DE FORMAÇÃO Para festejar os 50 anos de formatura, parte da turma de 1969 também se reuniu em um animado almoço no dia 26 de outubro, em São Paulo. Organizada pelos amigos Vilien Soares, Mario Loberto Filho, Wilson Lazarini e Augusto Ricardo Setti, que faziam parte da comissão de formatura, a confraternização reuniu 31 dos cerca de 120 egressos dos cursos de Engenharia Industrial Mecânica, Elétrica e Química, além de familiares. As três turmas – primeiras a ocupar as instalações do campus São Bernardo do Campo da FEI, na épo-

ca ainda em construção –, costumam se r­ eunir várias vezes no ano, inclusive na FEI, e sempre preparam algo especial para as datas mais significativas, como o Jubileu de Ouro. Além de música, boas lembranças e muitas risadas, os organizadores prepararam uma surpresa para o grupo. “Durante o encontro, projetamos um vídeo com fotos antigas da turma e do campus, e com uma mensagem gravada pelo reitor Fábio do Prado, que gentilmente falou sobre a contribuição dos ex-alunos para o desenvolvimento da FEI, a importância de mantermos laços com a Instituição e as transformações ocorridas no campus ao longo dos anos”, comenta o engenheiro industrial Vilien Soares. Outro momento memorável foi a homenagem feita para a única mulher do grupo, a engenheira química Opázia Chaim Féres, presenteada com uma joia. “Na época, as mulheres eram minoria nas universidades, porém, sempre houve uma relação mútua de respeito e admiração. Agraciar nossa colega pela amizade, contribuição e por sua trajetória profissional impecável era o mínimo que poderíamos fazer”, ressalta Vilien Soares. O engenheiro conta que o encontro foi um sucesso, repleto de casos divertidos e contatos retomados, e com direito à trilha sonora que incluiu a canção We are the champions cantada em coro.

Fotos: Arquivo pessoal

Risadas, moda de viola, churrasco e muitas lembranças dos bons tempos de república, do campus, do centrinho, das aulas, dos amigos e professores, das festas e de uma fase de muito aprendizado. Com esse enredo, a turma de 1984 do curso de Engenharia Metalúrgica do Centro Universitário FEI se reencontrou, no fim de julho, para um fim de semana de comemoração pelos 35 anos da formatura. Dos 26 formandos, 20 conseguiram organizar as agendas para o encontro, realizado em Igaratá, interior de São Paulo. Para registrar os momentos, além de um ­banner com a foto da festa de formatura, os engenheiros fizeram camisetas e canecas personalizadas com o mesmo símbolo utilizado no convite da colação de grau. Reunidos na casa de Allyson Christofolli,­ o grupo levou livros, revistas, objetos da época e o álbum de formatura para fazer uma exposição e matar saudades. “Foi ótimo relembrar tantas histórias. A sensação era de que havíamos nos encontrado uma semana antes, pois o tempo não apagou tantos momentos incríveis”, comenta Edson Teixeira Filho, um dos organizadores do encontro. Para o ex-aluno, esses momentos ficam guardados no coração, resgatam boas memórias, fortalecem as amizades e podem, ainda, possibilitar novas parcerias profissionais. Com trajetórias distintas, seja na En-

Encontro reuniu 20 formandos de Engenharia Metalúrgica de 1984

Egressos de três turmas de 1969 festejaram os 50 anos de graduação em outubro

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ARTIGO

ENGENHEIROS NO SAMBA

O Professor doutor Renato Giacomini Coordenador dos cursos Engenharia Elétrica e Engenharia de Automação e Controle Centro Universitário FEI

O envolvimento dos alunos da FEI no projeto Carnaval tem objetivos maiores, derivados da própria missão institucional, que busca ‘proporcionar conhecimento aos seus alunos por todos os meios necessários, visando a construção de uma sociedade desenvolvida, humana e justa. 42 DOMÍNIO FEI

que faz um estudante de Engenharia em um ambiente como o barra­ cão de uma escola de samba? A reação quase instintiva aponta para ‘tudo, menos aprender’. Afinal, certamente não há aulas formais de Física ou Matemática naquele ambiente e o ensino tradicional de Engenharia foca fundamentalmente as Ciências Exatas. Mesmo na FEI, onde as Ciências Humanas têm destaque em comparação a outras escolas, samba parece demais, muito além do adequado. A especialização do conhecimento iniciou-se no século XVIII (Santos, 2007) e se passou cada vez mais a acreditar que, retalhando o conhecimento e especializando mais profundamente as pessoas, haveria maior progresso da humanidade e maior desempenho nas carreiras profissionais. Essa tendência e a necessidade de oferecer cada vez mais conteúdos à formação em Engenharia expurgaram dos cursos os assuntos atribuídos a outras áreas. O movimento não impediu a contribuição óbvia das conquistas das engenharias e Ciências Exatas às demais áreas da produção humana, inclusive nas artes, o que viabilizou a fotografia, o cinema, as gravações de música, a televisão e o streaming de vídeo via internet. Também não impediu o uso de seus modelos e representações (Isabel Afonso Melo, 2007), como fez Jacques Lacan, psicanalista contemporâneo que, a partir de conceitos matemáticos, subverte-os para falar de seu próprio campo: a psicanálise. Essa transferência instrumental, de certa forma, poderia justificar a presença dos alunos do Centro Universitário FEI no barracão da Sociedade Rosas de Ouro, uma escola de samba fundada em 1971 na cidade de São Paulo. Os estudantes poderiam estar oferecendo algum conhecimento técnico ou realizando projetos de estruturas ou, ainda, propondo o uso de uma nova tecnologia nos desfiles, mas, se fosse apenas isso, talvez uma empresa estabelecida, com engenheiros formados, fizesse melhor papel. O envolvimento dos alunos da FEI no projeto Carnaval tem objetivos maiores, derivados da própria missão institucional, que busca ‘proporcionar conhecimento aos seus alunos por todos os meios necessários, visando a construção de uma sociedade desenvolvida, humana e justa’. Objetivos maiores porque, mesmo que a arte popular não dissesse respeito à Engenharia, diria respeito ao estudante de Engenharia como ser humano. No momento em que o mercado de trabalho cobra habilidades comportamentais e que a busca pela inovação exige diversidade de pensamento, os estudantes estão tendo a oportunidade de interagir com integrantes de uma instituição de entretenimento, mas que também é geradora de cultura, recursos e trabalho remunerado para a comunidade do entorno, de um movimento popular que gera material para a mídia e que os coloca em destaque. E de pertencer a um grupo explicitamente movido pela paixão, como deveria ser toda atividade humana. Também porque o tema proposto pelo diretor de arte, André Machado, foca justamente o resgate do aspecto humano na tecnologia e promove a ideia de usar o avanço tecnológico como instrumento para realçar nossa essência. O barracão da Rosas será, por alguns meses, nosso laboratório avançado para aprendermos um pouco mais sobre nós mesmos, os seres humanos engenheiros. Referências: Santos, M. S. (2007). Integração e Diferença em Encontros Disciplinares. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 22(65), 51-60 | Isabel Afonso Melo, M. a. (2007). Lacan e a Topologia: Um Retrato da Matemática Sob o Olhar da Psicanálise Lacaniana. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado - UFRJ .



QUEM FAZ PÓS NA FEI APARECE PARA O MERCADO ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO

INSCREVA-SE: FEI.EDU.BR/POS

PÓS-GRADUAÇÃO


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