ECONOMIA BRASILEIRA
ECONOMIA BRASILEIRA Análise Conjuntural Avançamos ainda cercados por incertezas nos primeiros meses de 2022, um ano para o qual não tem sido fácil traçar um cenário otimista. Os desafios que as economias – especialmente a brasileira – deverão enfrentar são significativos. Com a inflação mais alta que o esperado em todo o mundo, os juros voltaram a subir, e os anos de “dinheiro barato” devem ficar para trás. Tal conjuntura tem consequências importantes para a economia mundial e para mercados específicos, como o segurador. Um cenário de inflação em alta convivendo com ameaças relevantes para a atividade econômica – até mesmo no campo geopolítico, como atestam as tensões entre o Ocidente e a Rússia na Ucrânia é um pesadelo para os formuladores de política econômica, pois os riscos apontam em direções opostas, exigindo um ajuste fino. Manter os estímulos excepcionais por mais tempo pode perpetuar a inflação alta, afetando ainda mais as expectativas de longo prazo. Retirá-los cedo demais, por ouro lado, pode derrubar taxas de crescimento e prejudicar economias que ainda lutam para se recuperar do choque da pandemia que, entre o fim do ano passado e o início de 2022, gerou novos impactos com a emergência da variante Ômicron, ainda que não tenha havido aumento de internações e mortes na mesma proporção do número de casos. A solução para muitos dos gargalos nas cadeias de produção globais que, em um caminho pavimentado pelos estímulos econô-
SUMÁRIO
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micos excepcionais, alimentam a inflação, também demora mais que o esperado. A noção de que o “pior já passou”, que estimulou cenários mais otimistas para a economia global em meados do segundo semestre do ano passado, dissipou-se. Não sem alguma dose de ironia, os Bancos Centrais das maiores economias têm se mostrado menos sagazes em lidar com esse cenário do que as autoridades monetárias de países emergentes, onde esses tipos de choque, amplificados pelas taxas de câmbio e maior instabilidade política, são mais comuns. Os principais Bancos Centrais do mundo têm um corpo de economistas excelente, mas que, na prática, aperfeiçoaram suas habilidades em uma conjuntura econômica não convencional, de exceção, com taxas de juros negativas e flexibilização quantitativa (QE). O foco da modelagem da inflação nesses países tem sido os preços excluindo alimentos e energia, removendo os elementos voláteis da economia. Isso é precisamente o oposto do que observamos agora, com a inflação dos preços de commodities se disseminando para outros preços nas economias. No Brasil, a Selic já subiu de uma mínima histórica de 2% para 10,75% e, segundo a mediana do boletim Focus mais recente, deve continuar a subir até 12,25% ao longo de 2022. A desinflação poderá ser ajudada por alguns choques positivos nos preços, como a retirada das bandeiras tarifárias de energia elétrica, conse-
CONJUNTURA CNseg | ANO 5 | NO 65 | FEVEREIRO/2022