Revista de Seguros - Especial 5ª Conseguro

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edição especial

REVISTA SEGUROS DE

órgão de divulgação do mercado segurador

ano 88 nº877 abril/ maio/ junho de 2011

O consumidor do futuro

As oportunidades e desafios que as mudanças no perfil da sociedade brasileira representam para o mercado segurador Revista de Seguros – Edição Especial – 5a Conseguro – 1


Revista de Seguros – Edição Especial – 5a Conseguro – 2


Sumário

5

Entrevista - “O desafio do seguro é qualificar a ascensão das classes sociais”

35

Solvência II - Europa consulta mercado sobre as regras de capital

8

Abertura - Meta é tornar o seguro parte da cultura nacional

36

Regulação, Concorrência e Consumidor - Modelo de

14

Transição Demográfica -

20

regulação penaliza empresas de pequeno porte

40

Vida e Previdência Privada - O Brasil ainda

Consumidor do Futuro -

48

Seguros de Saúde - O

26

Meio Ambiente -

52

Títulos de Capitalização -

30

Microsseguros e Seguros Populares - Popularização

54

Seguro Garantia -

Freakonomics - Grandes problemas têm soluções simples e objetivas

56

Encerramento - “Transição

34

Mudanças alteram o perfil demográfico

Sociedade deve adotar novos hábitos de consumo

Catástrofes atingem países em desenvolvimento

dos produtos depende da distribuição

PRESIDENTE Jorge Hilário Gouvêa Vieira 1º VICE-PRESIDENTE Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas VICE-PRESIDENTES NATOS Jayme Brasil Garfinkel, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antonio Rossi Paulo Rogerio Caffarelli VICE-PRESIDENTE Nilton Molina Wilson Toneto DIRETORES Alexandre Malucelli, Antonio Eduardo Marquez de Figueiredo Trindade, Luis Emilio Maurette, Mário José Gonzaga Petrelli, Paulo Miguel Marraccini, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcão e Pedro Pereira de Freitas CONVIDADOS Luiz Tavares Pereira Filho e Renato Campos Martins Filho

CONSELHO FISCAL Efetivos Haydewaldo Roberto Chamberlain da Costa Laênio Pereira dos Santos Lúcio Antonio Marques Suplentes José Maria Souza Teixeira Costa e Luiz Sadao Shibutani CONSELHO SUPERIOR PRESIDENTE Jorge Hilário Gouvêa Vieira CONSELHEIROS Acacio Rosa de Queiroz Filho, Carlos dos Santos, Federico Baroglio, Francisco Caiuby Vidigal, Jayme Brasil Garfinkel, Jorge Estácio da Silva, José Castro Araújo Rudge, José Roberto Marmo Loureiro, Luis Emilio Maurette, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antonio Rossi, Mário José Gonzaga Petrelli, Nilton Molina, Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas, Pedro Pereira de Freitas, Pedro Rogerio Caffarelli, Thierry Marc Claude Claudon e Wilson Toneto

CONSELHEIROS NOTÁVEIS Alberto Oswaldo Continentino de Araújo Eduardo Baptista Vianna, João Elisio Ferraz de Campos e José Américo Peón de Sá CONSELHEIROS – SINDICATOS João Gilberto Possiede e Júlio César Rosa REVISTA DE SEGUROS Órgão de divulgação do mercado segurador PUBLICAÇÃO INTEGRANTE DO CONVÊNIO DE IMPRENSADO MERCOSUL – COPREME. Em conjunto com SIDEMA (Serviço Informativo do Mercado Segurador da República Argentina), EL PRODUCTOR (Publicação da Associação de Agentes e Produtores de Seguro da República Oriental do Uruguai) e Jornal dos Seguros (Publicação do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização do Estado de São Paulo).

engatinha no seguro individual

conhecimento é essencial para a cura de doenças

Novas estratégias para atender o consumidor do futuro

Mercado tem como aportar os megaprojetos

demográfica é oportunidade de crescimento”

CONSELHO EDITORIAL Ângela Cunha, Luiz Peregrino Fernandes Vieira da Cunha, José Cechin, José Ismar Alves Tôrres, Neival Rodrigues Freitas, Solange Beatriz Palheiro Mendes Editora-chefe: Ângela Cunha (MTb/RJ12.555) Coordenação Editorial: VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO viatexto@viatexto.com.br 21 - 2262.5215 Jornalista Responsável: Vania Mezzonato – MTB 14.850 Assistente de produção: Fabíola França Colaboradores: Denise Bueno, Jorge Clapp, Karin Fuchs, Lenir Camimura, Marcia Alves, Vagner Ricardo e Vania Mezzonato Fotografia: Cláudia Mara, Júlio Fernandes/Ag. Full Time, Gabriel Heusi Projeto Gráfico: Maraca Design

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REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA: Gerência de Comunicação Social – CNseg Adriana Beltrão, Claudia Mara e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74/12º andar, Centro - Rio de Janeiro, RJ – CEP 20031-201 Telex: (021) 34505-DFNES Fax: (21) 2510.7839 Tel. (21) 2510.7777 www.viverseguro.org.br E-mail: cnseg@cnseg.org.br Escritório cnseg/Brasília – SCN/ Quadra1/Bloco C – Ed. Brasília – Trade Center – sala 1607 Gráfica: Walprint Distribuição: Serviços Gerais/CNseg Periodicidade: Trimestral Circulação: 7 mil exemplares As matérias e artigos assinados são de responsabilidade dos autores. As matérias publicadas nesta edição podem ser reproduzidas desde que identificada a fonte. Distribuição Gratuita


Editorial

Um estímulo à reflexão e à imaginação

V

islumbrar o consumidor do futuro, na tentativa de conhecer suas necessidades e desejos mais recônditos, para assim poder atender às demandas que possivelmente surgirão, é um desafio e tanto. Mas o cidadão de amanhã não terá avanços sociais e econômicos, não construirá uma escala de valores e nem conhecerá os meios que lhe darão acesso a bens de consumo e à garantia de suas conquistas, se quem se propuser a atendê-lo em forma de produtos e serviços não der os passos na direção certa. E como saber qual o melhor caminho? Este é, na verdade, o grande desafio do mercado segurador – desafio este que perdeu parte da sua dimensão quase abismal, nos dias 8 e 9 de junho, quando, reunidos em Brasília, lideranças do mercado e executivos de seguradoras, entre outros profissionais do setor, deram vida à quinta Conferência de Seguros, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização – Conseguro. Fizeram parte da programação do evento temas estratégicos e apresentações ágeis e dinâmicas. Os participantes saíram dali certamente com uma vontade ferrenha não só de encontrar respostas para todas as indagações que povoavam suas cabeças, mas com o entendimento de que desafios sempre haverá, mas podem ser mais facilmente superados, se enfrentados em conjunto – entre os pares do próprio mercado e estes com o governo. Cinco palavrinhas – ousadia, provocação, sinergia, otimismo e profissionalismo –, tendo como fio condutor o desafio, são capazes de definir a 5ª Conseguro. Logo se entende por quê. A começar pela ideia de levar a realização do evento para longe do eixo Rio-São Paulo, ancorando-a no centro das decisões políticas do País. Afinal, o diálogo com o governo é essencial. Depois, a escolha de questões instigantes, visando estimular a reflexão e a imaginação, e de palestrantes conceituados, que enriqueceram os debates dos 11 painéis e ampliaram os horizontes de quem mantinha o olhar atento, quase magnetizado, no desenrolar das apresentações. Sem falar no ‘Corredor do Futuro’, passagem obrigatória para os participantes, que se deparavam com paredes transformadas em telas gigantes, onde eram projetadas imagens e informações sobre o mercado, a economia e a sociedade brasileira. Matéria-prima para insights, que somente mais tarde será possível conferir. Os estandes das empresas/entidades patrocinadoras também contribuíram para o profissionalismo que marcou a organização do evento. Esta edição especial traz uma mostra dos dois dias de debates ocorridos na Capital da República. Boa leitura!

Informes adicionais e balanço do evento As discussões dos temas debatidos na 5ª Conseguro foram ampliadas com a opinião de especialistas que não participaram do evento, com o objetivo de levar informações ainda mais aprofundadas aos leitores desta edição especial. Estas reportagens estão identificadas como ‘Informe Adicional’. E, na entrevista desta edição, o coordenador da 5ª Conseguro, Pedro Bulcão, faz um balanço do evento.

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Entrevista Pedro Bulcão júlio fernandes/ ag. full time

Responsável pela organização e coordenação da quinta edição da Conseguro, Pedro Bulcão, presidente da Sinaf Seguros e membro do Conselho Diretor da CNseg, fala sobre as mudanças pelas quais o País passa e suas consequências para o mercado

“O desafio do seguro é qualificar a ascensão das classes sociais” Por VANIA MEZZONATO

A

s mudanças que vêm ocorrendo no perfil da sociedade brasileira têm provocado alterações também no ambiente de negócios do mercado de seguros. Um contingente maior de potenciais consumidores, o envelhecimento da população e as catástrofes naturais, cada vez mais frequentes, representam grandes oportunidades, mas também riscos enormes que precisam ser criteriosamente analisados. A avaliação é do coordenador da 5ª Conseguro, Pedro Bulcão, que chamou

atenção para o papel que o mercado deve desempenhar diante do fato de a ascensão de algumas classes sociais no Brasil estar muito centrada no consumo e em dívidas. “O desafio agora é qualificar essa ascensão. Precisamos criar condições para que estas famílias não retornem à pobreza no primeiro solavanco, para que possam planejar o futuro, ter certeza que seus filhos poderão estudar e fazer uma pós-graduação. E são tarefas do seguro assegurar estas conquistas e qualificar essa ascensão.

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Entrevista Revista de Seguros – Qual será, na sua avaliação, o perfil do consumidor do futuro e o que o diferencia do consumidor de hoje? Pedro Bulcão – Está havendo uma grande mudança no perfil da sociedade brasileira. Há alguns anos, o Brasil era um País de ricos e de pobres, e agora tem uma classe média forte e em ritmo de crescimento. A diferença hoje é que há um mercado de consumo não mais de uma minoria, mas de centena de milhões de pessoas. Antes, os negócios do seguro eram concentrados nas classes altas, porque as classes mais baixas não tinham capacidade de consumo. A mudança que está em curso é que o mercado de consumo hoje é de 150 milhões – e não mais de 30 milhões de pessoas.

população que demanda muito por serviços neste segmento? Não há problema sem solução – essa realidade nacional é muito mais uma oportunidade de negócio do que um problema de fato. Há de se criar condições para que a inovação possa acontecer. É preciso pensar num ambiente de regulação, por exemplo, que incentive a inovação e a entrada de novas empresas, porque novas ideias surgem com empresas entrantes. Não faz sentido pensar em concentração de mercado quando se precisa de dinâmica de novidades. Quando se tem poucos players consolidado não há incentivo econômico para inovar.

A construção é lenta, o quadro vai sendo montado aos poucos, mas o evento cumpriu seu papel de ser inspirador, visionário, provocador, para estimular o mercado a pensar diferente e melhorar seu ambiente de negócios

As palestras mostraram que houve mudanças na estrutura demográfica, social e econômica do País. Qual deverá ser o impacto dessas mudanças no ambiente de negócios do mercado? São mudanças de toda ordem – algumas muito positivas e outras que representam riscos enormes, como o seguro saúde para os idosos, em função do envelhecimento da população. Em 1990, a População Econômica Ativa (PEA) era de 58 milhões de pessoas e, em 2010, chegou a 100 milhões. Quase dobrou em 20 anos, um crescimento impressionante, que explica em grande parte a pujança que temos vivido, além da migração de novas classes para mercado de consumo. O impacto destas mudanças traz consequências positivas e negativas, mas são oportunidades de negócios e o mercado tem que aproveitar. O Brasil está se tornando um país de idosos. Como estruturar o seguro saúde para atender a esta

Como se deu a definição do tema desta edição da Conseguro. Houve outros que disputaram e ficaram de fora da pauta de discussões? O tema foi concebido pelo nosso presidente, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, e já recebi dele a missão de desenvolver o evento dentro deste tema, que eu considero absolutamente brilhante, no momento certo. Acho que surgiu naturalmente.

Quais foram os desafios e dificuldades na organização do evento? O mais difícil foi fazer caber em dois dias tantos temas interessantes e deixar de fora tantos outros que seriam também interessantes, mas infelizmente não conseguimos ampliar demais. Num momento de transformação como esse, que traz tantas oportunidades e desafios para o mercado, poderíamos continuar discutindo por mais três dias sem esgotar o assunto. A construção é lenta, o quadro vai sendo montado aos poucos, mas o evento cumpriu seu papel de ser inspirador, visionário, provocador, para

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estimular o mercado a pensar diferente e melhorar seu ambiente de negócios. Em apenas dois dias, com painéis de uma hora, não é possível fazer muito mais do que trazer para discussão alguns assuntos. Não se consegue aprofundar os temas. Mas a proposta é trazer, para a agenda de discussões, assuntos relevantes que possam ser aprofundados depois. Como o Brasil deve encarar a falta de cultura do consumo dos produtos de seguros? A solução deve ser pensada regionalmente? A solução está na dinâmica do mercado: mais empresas, mais ideias, mais projetos e mais negócios. É preciso fazer com que o seguro seja um bom negócio – assim vamos ter novos colegas seguradores com propostas inovadoras, eventualmente atuando em nichos ou regiões específicas. Dessa forma, o seguro será compreendido da melhor forma e fará parte do dia a dia das pessoas. A dinâmica do mercado é que fará isso acontecer.

tros nichos podem ser explorados pelo mercado? A questão do seguro garantia é a possibilidade de desempenhar um papel muito mais relevante na gestão dos investimentos públicos. E estou falando agora como cidadão, não como segurador. Eu quero sim a excelência na gestão destes recursos. Acho que o governo seria mais eficiente e faria uma gestão melhor se usasse de forma adequada o sistema do seguro garantia. Como o setor de seguros vai influenciar no futuro da sociedade brasileira? A ascensão de algumas classes sociais no Brasil está muito centrada no consumo e em dívidas. O desafio agora é qualificar esta ascensão e esse papel vai ser desempenhado em muito pelo mercado de seguros. Precisamos criar condições para que estas famílias não retornem à pobreza no primeiro solavanco (e solavancos acontecem), para que possam planejar o futuro, ter certeza que seus filhos poderão estudar, fazer uma pós-graduação. Essas tarefas são do seguro: assegurar estas conquistas e qualificar essa ascensão.

A tarefa do seguro não é pagar sinistro, mas simoferecer soluções de transferência de risco, num processo de mutualismo. O seguro contribui muito ao orientar empresas, governos e pessoas sobre como mitigar seus riscos

Os microsseguros podem ser um caminho para se chegar aos rincões mais distantes? No Brasil, em função de o país ser cada vez mais de classe média, não faz muito sentido achar que o microsseguro será a solução ideal para este mercado. É muito mais importante tornar o seguro cada vez mais popular, cumprindo um papel social na vida das pessoas. O microsseguro é importante, mas é uma discussão menor diante desta situação. O País passa por um momento econômico muito favorável, com grandes eventos no calendário dos próximos anos. Além do seguro garantia para as grandes obras de infraestrutura, quais ou-

Em sua palestra, o representante da Swiss Re, Rolf Steiner, informou que os governos do México e do Haiti contrataram seguros para cobrir eventos climáticos. Este modelo é apropriado ao Brasil? Seria melhor para todos nós que o governo brasileiro também contasse com esta proteção. A tarefa do seguro não é pagar sinistro, mas sim oferecer soluções de transferência de risco, num processo de mutualismo. O seguro contribui muito ao orientar empresas, governos e pessoas sobre como mitigar seus riscos. De um modo geral, iria ajudar muito se a ferramenta do seguro fosse mais utilizada para isto.

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Abertura

Meta é tornar o seguro parte da cultura nacional Mercado deve ampliar diálogo para falar diretamente com o público Por vania mezzonato

O

principal desafio que se impõe ao Brasil, neste cenário de mudanças e transformações no ambiente socioeconômico – em que as classes C e D despontam como novo público consumidor –, é o da mudança de comportamento para que a mitigação de riscos passe a fazer parte da cultura do brasileiro. E o mercado deve fazer seu dever de casa, mostrando a importância dos produtos do seguro para garantir a manutenção do patrimônio conquistado e a melhoria da qualidade de vidas das famílias. A avaliação foi feita pelo presidente da CNseg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, na solenidade de abertura da 5ª Conseguro, que aconteceu em Brasília, nos dias 08 e 09 de junho, reunindo mais de 500 participantes. Uma das grandes preocupações do mercado, na avaliação de Jorge Hilário, é ampliar o diálogo e falar diretamente com esse público, para informálo cada vez mais sobre os produtos do seguro. Para ele, além de desafios, o novo momento traz

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fotos júlio fernandes/ ag. full time

também oportunidades traduzidas no aperfeiçoamento da prestação de serviços e na criação de produtos específicos para os novos consumidores.

Política pública A estratégia para se atingir essa meta passa, segundo o presidente da CNseg, pela regulamentação do projeto de lei do Microsseguro, que tramita no Congresso Nacional e vai permitir o desenvolvimento desse tipo de seguro no País. “A regulamentação do microsseguro é uma questão de política

“As seguradoras

brasileiras precisam superar entraves regulatórios para ganhar competitividade no mercado mundial. Ainda podemos avançar na condição de pilar de sustentação do desenvolvimento

Jorge Hilário

“Esta é uma

oportunidade valiosa para aproximar as empresas da sociedade civil, fortalecer o diálogo e intensificar as práticas que tornam o setor estratégico para o desenvolvimento do Brasil

Senador Dornelles

Público e autoridades: mais de 500 pessoas participaram da abertura do evento, que contou com a presença de autoridades do governo, do parlamento e do mercado segurador

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Abertura pública, uma vez que pode ser um importante instrumento para garantir sustentabilidade às políticas sociais para a ascensão socioeconômica das camadas mais pobres da população”, afirmou. Ao citar alguns dos temas que estarão em discussão em Brasília, como as oportunidades que virão com os investimentos de grandes obras de infraestrutura, o papel da indústria de seguro diante dos impactos das catástrofes naturais, Jorge Hilário foi categórico: “As seguradoras brasileiras precisam superar entraves regulatórios para ganhar competitividade no mercado mundial. Hoje, somos o maior mercado da América Latina, mas podemos avançar ainda mais, especialmente na condição de pilar de sustentação do desenvolvimento do Brasil”. Na pauta do evento, uma variedade de assuntos para a reflexão coletiva, como as novas regras de solvência; microsseguros; seguros populares; acesso da nova classe média ao seguro; os impactos das mudanças do perfil demográfico da população brasileira; a correlação entre as obras de infraestrutura e o seguro garantia; o meio ambiente e o seguro de catástrofes; além das perspectivas para os seguros de saúde, vida e previdência.

“A vida produtiva

dos nossos netos será o dobro da dos nossos pais. O grande desafio será lidar com esse novo ser humano, que terá necessidades e desejos totalmente novos

Maurício Ceschin

Mais autoridades

Setor estratégico O senador Francisco Dornelles (PP/RJ), que participou da abertura do evento, representando o Senado Federal, elogiou a iniciativa da CNseg de promover um encontro que visa aprimorar o relacionamento das seguradoras com o consumidor brasileiro. “Esta é uma oportunidade valiosa para aproximar as empresas seguradoras da sociedade civil, fortalecer o diálogo e intensificar a troca de boas ideias e práticas que fazem do mercado segurador brasileiro um setor estratégico para o desenvolvimento do Brasil”, destacou. Representando o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, o secretário de Políticas de Previdência Complementar do Ministério, Jaime Mariz de Faria Junior, afirmou que, para sustentar o crescimento econômico do Brasil, é preciso aumentar a poupança interna, cuja formação é de responsabilidade do mercado de seguros. “Temos a necessidade de lastrear o

crescimento do País e o Ministério da Previdência Social trabalha para aprovar o projeto de lei 19.992/07, que institui a previdência complementar para o futuro servidor público”, informou. O presidente da ANS, Maurício Ceschin, que representou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a população acima de 60 anos já representa 10% dos 62 milhões de usuários de seguros e planos de saúde e 25% dos custos do segmento. “A vida produtiva dos nossos netos, que viverão 100 anos, será o dobro da dos nossos pais. O grande desafio será lidar com esse novo ser humano, que terá necessidades e desejos totalmente novos”. Ainda participaram da mesa de abertura o deputado Saraiva Felipe (PMDB/MG); o superintendente da Susep, Paulo dos Santos; os presidentes das quatro Federações, Jayme Brasil Garfinkel (FenSeg), Marco Antonio Rossi (FenaPrevi), Marcio Serôa de Araújo Coriolano (FenaSaúde) e Ricardo José da Costa Flores (FenaCap); o vice-presidente da Fenacor, Robert Bittar, representando o presidente Armando Vergílio dos Santos Junior; e o coordenador da 5ª Conseguro, Pedro Bulcão.

“Para sustentar

o crescimento econômico do Brasil, é preciso aumentar a poupança interna, cuja formação é de responsabilidade do mercado de seguros

Jaime Mariz

Estiveram também presentes à solenidade de abertura da quinta edição da Conferência Brasileira de Seguros Gerais, Previdência Privada, Saúde Suplementar e Capitalização, que aconteceu no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, os deputados federais Hugo Napoleão (DEM/PI), Osmar Serragllio (PMDB/PR), Eduardo Sciarra (DEM/PR), André Zacharow (PMDB/PR) e Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP); o embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima; o presidente do INSS, Mauro Luciano Raushild; a procuradora-chefe da Susep, Luciana Portal; e a secretária geral e executiva da ANS, Luciana Silveira. A 5ª Conseguro foi promovida pela CNseg, com o apoio das suas associados: FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) e FenaCap (Federação Nacional de Capitalização).

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Ao longo de dois dias inteiros, integraram a pauta de discussões da 5ª Conseguro 11 painéis de debates, que reuniram palestrantes e debatedores em torno de temas relevantes para o futuro do mercado segurador (veja a relação a seguir). As conclusões e propostas dos debates estão detalhadas ao longo desta edição especial da Revista de Seguros. fotos júlio fernandes/ ag. full time

Transição demográfica

“O perfil demográfico da futura sociedade brasileira” Palestrante: José Eustáquio Diniz Alves da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ENCE/IBGE) Coordenador: Paulo Marracini, presidente do Conselho de Administração da Allianz Seguros e diretor da CNseg Debatedor: Cássio Turra, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

José Eustáquio, Paulo Miguel Marracini e Cássio Turra

O Consumidor do Futuro

Eduardo Gianetti, Antonio Cássio dos Santos e Samuel Pessoa

“Desafios e oportunidades para a sociedade brasileira” Palestrante: Prof. Eduardo Giannetti da Fonseca Coordenador: Antonio Cássio dos Santos, CEO de Seguros Gerais para a América Latina do Grupo Zurich e vice-presidente da CNseg Debatedor: Samuel Pessoa, economista da Fundação Getúlio Vargas Meio Ambiente e Seguro Catástrofe

“ Uma visão geral sobre os acontecimentos catastróficos em 2010 no mundo e relação das experiências com os últimos anos” Palestrante: Rolf Steiner, vice-presidente sênior da Swiss Re Brasil Coordenador: Jayme Brasil Garfinkel, presidente da Porto Seguro e da FenSeg e vicepresidente da CNseg Debatedores: Washington Novaes, representante da Mapfre, e Bosco Francoy, presidente da Mapfre Re

Rolf Steiner, Jayme Garfinkel, Washington Novaes e Bosco Francoy

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Abertura Microsseguros e Seguros Populares

“Como ampliar as fronteiras da proteção securitária no Brasil”

Murilo Chaim, Marco Antonio Rossi, Hennie Bester e Pedro Bulcão

Palestrante: Hennie Bester, da Centre for Financial Regulation and Inclusion Coordenador: Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros e da FenaPrevi e vice-presidente da CNseg Debatedores: Murilo Chaim, coordenador geral de Seguros e Previdência Complementar (SPE, Ministério da Fazenda) e Pedro Bulcão, presidente da Sinaf Seguros e membro do Conselho Diretor da CNseg Freakonomics

Patrick Larragoiti e Steven Levitt

“O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta” Palestrante: Steven Levitt, coautor do livro Freakonomics Coordenador: Patrick Larragoiti, presidente do Conselho de Administração da Sul América e 1º vice-presidente da CNseg Solvência II

“Experiência e tendências na Europa”

Bruno Pereira, Renato Russo, Michaela Koller, Samuel Monteiro e Aloisio de Araújo

Palestrantes: Michaela Koller, diretora executiva do European Insurance and Reinsurance Federation – CEA Coordenador: Renato Russo, vice-presidente da SulAmérica e da FenaPrevi Debatedores: Prof. Aloisio Araújo (FGV e IMPA), Samuel Monteiro dos Santos Junior, vice-presidente do grupo Bradesco Seguros, e Bruno Pereira, da Leblon Euquities. Regulação, Concorrência e Consumidor

“A regulação pela perspectiva do consumidor” Palestrante: Daniel Goldberg, presidente do banco Morgan Stanley Brasil e ex-secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça Coordenador: Pedro Bulcão, presidente da Sinaf Seguros e membro do Conselho Diretor da CNseg Debatedores: João Gilberto Piquet Carneiro, da Veirano Advogados, e Lucia Helena Salgado, exIpea, autora do livro Marcos Regulatórios no Brasil: Judicialização e Independência. Lucia Helena, Daniel Goldberg, Piquet Carneiro e Pedro Bulcão

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Vida e Previdência Privada

Fabio Lins, Nilton Molina, Robert Kerzner e Eugênio Velasquez

“Seguros de vida individuais e previdência privada” Palestrante: Robert Kerzner, CEO e presidente da Limra, Loma e LL Global, Inc. Coordenador: Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração da Mongeral Aegon Seguros e Previdência e vice-presidente da CNseg Debatedores: Fábio Lins de Castro, presidente da Prudential do Brasil Seguros de Vida, e Eugenio Velasquez, diretor da Bradesco Vida e Previdência Títulos de Capitalização

“Sorteios e realizações: dos tempos dos mil réis à era digital” Palestrante: Prof. Roberto Macedo, economista, exsecretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e ex-coordenador das atividades do Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP Coordenador: Natanael A. de Castro, diretor comercial da BrasilCap Capitalização Debatedor: Carlos Infante de Castro, presidente da SulAmérica Capitalização

Carlos Infante, Natanael de Castro e Roberto Macedo

Seguros de Saúde para o Consumidor do Futuro

José Cechin, Dep. Darcisio Perondi, Patrick Kennedy e Marcio Coriolano

“O desafio do acesso à saúde” Palestrante: Patrick Kennedy, ex-deputado do Congresso dos EUA Coordenador: Marcio Coriolano, presidente da FenaSaúde Debatedores: Darcisio Perondi, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Saúde, e José Cechin, diretor da FenaSaúde Seguro garantia

“O sistema de garantias competitivas como processo de controle da eficácia econômica” Palestrante: Alexandre Malucelli, vice-presidente do Grupo J. Malucelli, membro do Conselho Diretor da CNseg e presidente da Panamerican Surety Association – PASA Coordenador: José Américo Peón de Sá, assessor de Desenvolvimento Relacional da CNseg Debatedor: Luis Claudio Barreto, vice-presidente Surety Bonds, Trade Credit e Risco Político da Odebrecht Administradora e Corretora de Seguros

Luis Claudio Barreto, José Américo Peón de Sá, Alexandre Malucelli e José Frias de Sousa

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Transição demográfica

Mudanças alteram o perfil demográfico O país que era eminentemente rural até a década de 1960 está cada vez mais urbano e essa tendência é irreversível Por VANIA MEZZONATO

O

Brasil vive o melhor momento demográfico de sua história – e a estrutura etária do País vai continuar favorável até 2025. A afirmação foi feita pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em sua palestra sobre “Transição demográfica – o perfil demográfico da futura sociedade brasileira”, no primeiro dia de debates da 5ª Conseguro. O debate foi mediado por Paulo Miguel Marracini, diretor da CNseg e presidente do Conselho de Administração da Allianz Seguros, e contou com a participação do demógrafo Cássio Turra, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As mudanças pelas quais o Brasil vem passando nas últimas décadas têm alterado substancialmente seu perfil demográfico. O País que era eminentemente rural até a década de 1960

está cada vez mais urbano e essa tendência é irreversível. Além disso, há cada vez mais mulheres que homens brasileiros, ao contrário do observado no mundo. As pessoas do sexo feminino vivem em média 7 anos mais no Brasil que as do sexo masculino.

População reduzida Outro dado relevante é a inversão da taxa de mortalidade e de natalidade, que levou à redução da população. A taxa de fecundidade que era de 6 filhos por mulher até a década de 60, hoje é de 2,1. E a longevidade da população está em ritmo avançado – em 2040, as pessoas com mais de 65 anos serão em número superior às de zero a 14 anos. “O auge será

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júlio fernandes/ ag. full time

em 2025. Então, o País tem uns 15 anos para aproveitar a chamada ‘janela de oportunidade’ e o bônus demográfico é enriquecer antes de ficar velho”, alertou. Um dos aspectos mais flagrantes de todas estas mudanças é a redução da pobreza, que alcançava cerca de 40% da população brasileira antes do Plano Real. Depois, caiu para 35% e nesta década alcançará os índices mais baixos da história. “A desigualdade continua alta, mas vem caindo de forma acentuada. Esta alteração é resultado do aumento de renda, que vem sendo constante desde o Plano Real”, disse o demógrafo. Em 2004, cerca de 50% da população brasileira eram da classe D e E. Em 2011, são 65% dos brasileiros compondo as classes A, AB e C e, em 2025, serão 90%. “O Brasil será predominantemente um País de classe média”, afirmou José Eustáquio.

Desempenho da economia

“A desigualdade continua alta, mas vem caindo de forma acentuada. Esta alteração é resultado do aumento de renda, que vem sendo constante desde o Plano Real

José Eustáquio

Para se ter uma ideia das mudanças que estão por vir, a economia dos Estados Unidos, que em 2009 era considerada a mais avançada do mundo, será ultrapassada pela da China, até 2050. O Brasil ocupará o quarto lugar no ranking mundial. O aspecto demográfico é fundamental neste processo, afirmou o representante do IBGE: as economias avançadas estão envelhecendo e a demografia impulsiona o crescimento das economias emergentes. “Os países emergentes são os que mais crescem e isso vai fazer com que o mundo fique menos desigual nas próximas décadas”. Os aparelhos celulares – equipamentos que sintetizam todas as revoluções industriais do século 20 – podem ser um bom exemplo a mudança econômica mundial em curso: em poucos anos, eles serão em número maior que a população. Esta realidade já é observada no Brasil, onde os telefones móveis somam 210 milhões de unidades, contra 190 milhões de pessoas.

Pegada

A segunda metade do século 20 foi o períoecológica do da história em que a economia, a população Mas nem tudo são flores para as economias e a renda mundial mais cresceram. De 2000 a emergentes. A pegada ecológica e o aqueci2050, o crescimento da economia e da renda mento global devem merecer atenção especial será superior ao da população – a renda deve dos governos nos próximos anos: a população mundial já consome mais do que dobrar em 25 anos. Esta é uma tendência nova, observada a partir No Brasil, a o planeta consegue repor e o audo século 21, a partir do desempetransferência mento do aquecimento cresce a um ritmo assustador. nho das economias emergentes. pública de recursos “Um estudo da ONU prevê Segundo José Eustáquio, até é a principal fonte que, se houver investimentos de então, as economias mais avançadas do mundo puxavam a ecode financiamento US$ 1,3 trilhão na economia verde mundial, será possível reduzir nomia mundial. O quadro mudou de consumo drasticamente a pegada ecológica quando as economias emergentes dos idosos e o aquecimento global”, afirmou dispararam – puxadas principalmente pela China e Índia. “Em – o que deixa o demógrafo, ressaltando que 2007, os países do G-7 representapouca margem as energias renováveis também são fundamentais para reduzir vam 50% da economia mundial. para o mercado a emissão de CO² na atmosfera. Em 2014, a economia do G-20 (que privado atender Neste aspecto, o Brasil pode tirar reúne 12 países emergentes) irá vantagens de sua natureza, abunultrapassar as mais avançadas e o aos mais velhos grupo vai indicar o próximo presidante em água, sol, vento, ondas e Cássio Turra dente do FMI. biomassa.

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Transição demográfica

ALGUMAS CONCLUSÕES ➜ Se o crescimento econômico do País se mantiver entre 4% e 5% ao ano, será possível manter o pleno emprego da população, reduzir a pobreza e avançar no crescimento da classe média. ➜ O aumento do bem-estar e do consumo e o novo lugar da mulher na sociedade vão abrir grandes oportunidades de negócios. ➜ O Brasil deve aproveitar os próximos 15 anos para enriquecer antes de começar a enfrentar o processo de envelhecimento e se preparar para os desafios que virão, de modo a se tornar um País mais justo, democrático e com mais inclusão social.

Impactos ainda são uma incógnita para o Brasil O ponto fundamental das mudanças que vêm ocorrendo no Brasil é a simultaneidade das transições – demográfica, epidemiológica (saúde), educação, mercado de trabalho e familiar – e como elas afetam a família, o mercado e o estado brasileiro. Segundo o debatedor Cássio Turra, demógrafo do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estas transições geram novas oportunidades para o mercado de seguros e dois tipos de mudança: de composição e de comportamento. Do ponto demográfico, se a natalidade cai, o envelhecimento sobe e há impacto na composição da população. “Os padrões que norteiam estas transições se repetem em

alguns países do mundo, mas as mudanças que provocam ainda são pouco conhecidas no Brasil, porque temos deficiência de dados e de medidores”, afirmou ele, sugerindo que o mercado de seguros ajude a compor estes dados através da análise de seus subgrupos. “O desconhecimento gera riscos novos”, acrescentou. As consequências do aumento da expectativa de vida – principalmente das mulheres, que é a maior desde 1840 e “ultrapassa todas as apostas” – ainda é uma incógnita no Brasil, apesar de pontuada pela linearidade: aumenta uma média de três meses a cada ano. “Sabe-se muito pouco sobre o comportamento da longevidade no País, que oscila de geração para geração. Quando se fumava muito se morria mais. A mortalidade por nível de escolariOs últimos e os próximos 40 anos dade, por exemplo, é Indicadores educação e trabalho 1970 2010 2050 desconhecida”, inforTaxa de alfabetização (%) 60,0 92,7 99 mou Cássio Turra. Anos médios de estudo ambos os sexos (anos) 2,4 7,5 13,0 Segundo ele, Anos médios de estudo mulheres (anos) 2,3 7,7 14,0 um desafio para o População em Idade Ativa (milhões) 52,0 131,0 140,0 mercado segurador População Economicamente Ativa (milhões) 29,6 100,4 114,0 é entender como as PEA masculina (milhões) 23,4 56,0 60,0 pessoas transferem PEA feminina (milhões) 6,2 44,4 54,0 recursos para manter Razão de dependência demográfica (%) 85 48 59 o nível de consumo Fonte: UN/ESA, IBGE, ENCE ao longo do ciclo de vida. “No Brasil, O crescimento da classe média no Brasil a transferência pú13 blica de recursos é 25 42 a principal fonte de financiamento de consumo dos idosos 47 – o que deixa pouca 43 margem para o mer21 cado privado atender 49 23 2003 2011 2025 aos mais velhos”.

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INFORME ADICIONAL

Longevidade coloca em risco a aposentadoria pública questões populacionais, o Brasil também terá pela frente o grande desafio de prover recursos para financiar o sistema de seguridade social, que hoje cobre 80% da população idosa. Entre os países da América Latina, o Brasil é o que oferece a maior cobertura previdenciária para a população com mais de 65 anos. Conforme dados do Ministério da Previdência Social, mensalmente são pagos 28 milhões de benefícios.

Por MÁRCIA ALVES

O

aumento da expectativa de vida dos brasileiros seria uma conquista social digna de comemoração não fosse o ritmo acelerado dessa mudança demográfica. Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa irá mais do que triplicar nas próximas quatro décadas: passará de menos de 20 milhões, em 2010, para 65 milhões, em 2050, passando a representar quase 50% dos habitantes. Em contrapartida, o ritmo da taxa de fecundidade está em desaceleração. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea ) revela que a população deverá decrescer depois de 2030. Até lá, a tendência é de redução do contingente de jovens menores de 20 anos e de aumento da população superenvelhecida, fenômeno semelhante ao que ocorre em países desenvolvidos. A pesquisadora do IPEA, Ana Amélia Camarano, uma autoridades no estudo de

Fabio Pozzebom / Ag. Br

O aumento da expectativa de vida pode comprometer a sustentação do sistema de seguridade social

Demanda por benefícios Para Ana Amélia, não se pode ignorar que a demanda por benefícios da seguridade social tende a crescer no médio prazo e, na ausência de mudanças, a acentuar o desequilíbrio financeiro da Previdência Social. Hoje, 6,45 indivíduos em atividade geram recursos para cada beneficiário, em 2050 essa proporção será de apenas 1,9. “O modelo tradicional de

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divulgação

“A aposentadoria

compulsória aos 70 anos é um absurdo que precisa ser revisto pela sociedade e pelos empregadores. Os idosos têm grande capacidade de envolvimento, grau de comprometimento e cumprimento de metas

Ana Amélia Camarano

concessão de aposentadoria não pode ser aplicado no futuro”, diz. O diretor da Nunes & Grossi, Keyton Pedreira, especialista em previdência, diz que a adoção do fator previdenciário, na década de 90, serviu para impedir a explosão das contas da Previdência. Hoje, porém, ele entende que novas mudanças são necessárias. “A questão é qual direção o governo seguirá: a de uma reforma válida para todos, aplicada de forma progressiva, ou se optará pela mudança somente para aqueles que ingressarem no mercado de trabalho depois”, questiona.

Idoso na ativa Mas a pesquisadora do IPEA adverte que as mudanças não podem ser bruscas, sob o risco de aumentar a taxa de pobreza entre os idosos. “O envelhecimento populacional é uma grande conquista e não deve trazer embutida a sua falência”, diz. Entre as alternativas para garantir a sustentação do sistema no futuro, ela aponta a adoção da idade mínima para a aposentadoria para aqueles que estão

entrando no mercado de trabalho. Na avaliação da pesquisadora, para amenizar o desequilíbrio no futuro é preciso incentivar a permanência na ativa, pelo maior tempo possível, em conjunto com medidas, como a adoção de políticas de saúde ocupacional para reduzir a aposentadoria por invalidez e a capacitação dos idosos, para inseri-los no contexto das mudanças tecnológicas – além de reduzir o preconceito contra o idoso. “A aposentadoria compulsória aos 70 anos é um absurdo que precisa ser revisto, pois esses têm grande capacidade de envolvimento, grau de comprometimento e cumprimento de metas”, diz. A mais recente edição do estudo “O Futuro da Aposentadoria”, realizado pelo HSBC em 17 países e divulgado no início de junho, revela que 50% dos brasileiros entrevistados não se sentem financeiramente preparados para a aposentadoria – 25% não sabem qual será sua fonte de renda no futuro e 10% esperam continuar trabalhando. Mas o estudo mostra que 51% têm o hábito de fazer planejamento financeiro, dado acima da média global (50%).

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Consumidor do Futuro

Sociedade deve adotar novos hábitos de consumo Para ajudar o Brasil a ser uma grande nação, o consumidor precisa mudar o hábito de desfrutar hoje sem pensar no amanhã Por DENISE BUENO

O

consumidor do futuro tem um enorme poder nas mãos: garantir que o Brasil seja uma grande nação. É ele quem determinará mudanças no pacto social com o governo e no comportamento das empresas com a sociedade. Para que ele exerça esse poder com sucesso, é preciso começar a mudar um hábito arraigado, e muito estimulado pelo período inflacionário, de desfrutar hoje sem pensar no amanhã. Estamos falando de um grupo de consumidores formado praticamente pelos mais de 190 milhões de habitantes do Brasil, dominado pelo sexo feminino: 97,3 milhões de mulheres e 93,9 milhões de homens. Mais de 80% vivem na área urbana, com forte tendência de consumo. Mais de 32 milhões de pessoas ingressaram na classe C na última década e outras 30 milhões deverão seguir o mesmo caminho nos próximos anos. Projetando dados do crescimento popula-

cional com base geográfica para os próximos 40 anos, estima-se que boa parte do contingente de consumidores será nordestino ou nortista, mulher e/ou negro. Os dados foram apresentados durante a palestra “O Consumidor do Futuro – desafios e oportunidades para a sociedade brasileira”, proferida pelo professor Eduardo Giannetti da Fonseca, sob a coordenação de Antonio Cássio dos Santos, CEO da Zurich para a América Latina e vicepresidente da CNseg.

Consumidor exigente Incluindo dados do avanço da tecnologia – o número de celulares já ultrapassa o da população –, os estudos remetem para um consumidor exigente, bem informado e que sabe o que quer. Ele compra menos por impulso e mais economia, para realizar desejos como a casa própria, lazer e educação. E vai pesquisar na internet antes de comprar. Se tiver dúvidas na escolha, vai priorizar as companhias que mais investem em responsabilidade social. Mas para chegar a esse consumidor, o Brasil tem que transformar desafios em oportunidades. “A grande pergunta que os brasileiros devem fazer é se desta vez será diferente”, sugeriu o professor Eduardo Giannetti da Fonseca. Afinal, o Brasil tem algumas premissas que ajudam no resultado macroeconômico de sucesso obtido nos últimos tempos. Uma delas é que o mundo está em crise, o preço

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júlio fernandes/ ag. full time

das commodities está em alta e a China, maior parceiro comercial do Brasil, cresce a um ritmo acelerado. Por outro lado, temos gargalos que podem comprometer o crescimento da última década, se não forem superados. “Não vemos a poupança interna aumentar, os investimentos em relação ao PIB ainda são muito inferiores aos de outros países, a carga tributária representa 35% de toda a produção e a taxa de juros é elevada para segurar o dólar no país”, citou Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que participou do debate. “O projeto de crescimento numa sociedade democrática é construído todo dia no Congresso Nacional e a nova classe emergente tem um grande poder nas mãos”, acrescentou.

“O Brasil tem

que se preparar para ser uma nação que irá transferir riqueza para as próximas gerações. Essa mudança vai garantir que o País seja uma grande nação

Tempo perdido Uma unanimidade é que se o Brasil quiser ser uma nação rica terá de recuperar o tempo perdido e investir em infraestrutura e em capital humano. Se não o fizer vai lamentar por não tirar proveito da grande oportunidade que se apresenta neste virtuoso ciclo econômico. “O Brasil tem que se preparar para ser uma nação que irá transferir riqueza para as próximas gerações. Essa mudança vai garantir que o país seja uma grande nação”, aposta Giannetti. Enquanto a China investe 40% do PIB, o Peru 27% e os EUA mais de 30%, o Brasil apresenta índice inferior a 20%. “Temos uma carga tributária de 35% e um déficit nominal de 2%, com uma capacidade de investimento irrisória. Isso terá de mudar para que possamos transferir riquezas do presente para o futuro”, afirmou ele, acrescentando que há também um déficit enorme de moradia e que mais de 40% da população brasileira ainda não dispõem de acesso à rede de esgoto. Giannetti citou, por exemplo, que o Brasil ficou em 54º lugar no ranking de 65 países do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), que testa os conhecimentos de

Eduardo Gianetti alunos de 15 anos. “O Estado gasta mais com o pagamento de 3 milhões de inativos e pensionistas dos estados e municípios do que investe em 37 milhões de crianças que frequentam o ensino público”, enfatizou. Pela ótica de Giannetti, há duas grandes tendências no futuro. A primeira é manter o crescimento de 4% a 4,5% ao ano e o controle da inflação, para não ser obrigado a apertar a política monetária, postergando o tão sonhado equilíbrio econômico e social. A segunda é a inclusão de uma enorme parcela da população no mercado de consumo. Há a combinação da nova classe média com o dividendo demográfico. E nos próximos 20 anos haverá uma proporção crescente de pessoas produtivas, que poderão se dividir entre consumidoras e poupadoras, uma vez que três quartos da renda são acumulados entre 30 e 50 anos.

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INFORME ADICIONAL

Mídias sociais democratizam a comunicação Os consumidores passam a ter voz e contribuem para o aprimoramento de produtos Por DENISE BUENO

Pesquisa global da Regus mostra que 52% das corporações no mundo e 68% no Brasil utilizam canais sociais, como o Twitter e Facebook, para se relacionar com o seu público alvo.

U

ma marca não “fala” mais sozinha. Se antes o domínio da informação significava ter poder, hoje compartilhá-la é que faz toda a diferença. Quanto mais pessoas e organizações dividem o conhecimento, mais interagem com o mundo e mais relevantes são as informações para a sociedade. Nasce a era da comunicação democrática, em que os consumidores passam a ter voz e contribuem para o aprimoramento de produtos, serviços e, principalmente, o atendimento das organizações. As pessoas passaram a dividir tudo o que julgam relevante em suas vidas. Escrevem sobre os lugares que gostam mais, quando são bem atendidas em um estabelecimento, indicam leituras e sites interessantes. Ao mesmo tempo em que compartilham com seus seguidores ou amigos quaisquer experiências do seu dia a dia, também reforçam deslizes de empresas. Quando não gostam de um determinado produto, alertam seus colegas do mundo online sobre o que julgam bom ou ruim. Essa democratização da comunicação

foi possível, em parte, graças às redes sociais. A cada dia cresce o número de empresas que usam o canal para conectar e interagir com os seus clientes. Pesquisa global da Regus (empresa líder mundial em soluções de trabalho flexível) mostra que 52% das corporações no mundo e 68% no Brasil utilizam canais sociais, como o Twitter e Facebook, para se relacionar com o seu públicoalvo. Em 2010, 49% das empresas brasileiras obtiveram bastante êxito por meio da sua atuação em redes sociais, um ano depois, este índice cresceu 10%, atingindo a marca de 59%.

Olhar diferente Apesar de especialistas defenderem que o meio não é apropriado para venda e publicidade, um bom conteúdo compartilhado pode fazer com que o consumidor tenha um olhar diferente sobre o produto. Boa parte das companhias entrevistadas na pesquisa da Regus, no Brasil (87%) e no mundo (74%), concorda que estratégias de marketing sem a inclusão das redes sociais têm muito menos chances de sucesso. Afinal, ouvir um consumidor é a melhor maneira de saber se um produto é bom. Esta foi uma estratégia adotada por Steve Jobs, que criou o Iphone exatamente como as pessoas pediram – o que tornou o smartphone um objeto de desejo do mundo pela facilidade de interação com o mundo. As redes sociais evoluíram tanto que deixaram de ser vistas como mais um recur-

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divulgação

so interessante para tornarem-se imprescindíveis. Não é para menos. O mundo “social” já conta com mais de 2 bilhões de pessoas – quase um em cada três habitantes do Planeta. O circuito tecnológico da informação atrai, a cada minuto, milhares de novas pessoas plugadas nas redes.

Mapeamento do Ipea No Brasil, já são cerca de 75 milhões de internautas – em 2009, segundo o Ipea, eram 63 milhões – e estima-se que um em cada cinco acesse o Twitter. Tanto que o País já ocupa o segundo lugar no ranking de usuários no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, que respondem por metade dos membros ativos do microblog. A adesão é tanta que o Twitter desenvolveu um site totalmente traduzido. Atualmente, a rede social mais usada no Brasil ainda é o Orkut, com mais de 32 milhões de usuários, mas sofre ameaça frequente do Facebook, que conta com mais de 680 milhões de usuários globais. Em maio de 2011, 19 milhões de brasileiros tinham perfis neste canal. Esses números não param de crescer.

Banda larga O número de acessos em banda larga no Brasil chegou a 42,1 milhões em maio deste ano, expansão de 53,5% em relação ao mesmo mês de 2010, segundo a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Os usuários do mundo digital são homens (22%), com ensino superior (41%), das classes A (59%) e B (33%), conforme mapeamento do Ipea. O crescimento das classes C e D tem sido importante, mas é preciso levar a internet até a casa das pessoas. Nos últimos 12 meses, 14,6 milhões de novos clientes passaram a ter acesso à internet rápida no Brasil – em média um novo cliente a cada dois

segundos. As redes de 3G estão instaladas em 1.523 municípios, que concentram 75,4% da população brasileira, com 143,7 milhões de habitantes. As redes sem fio (Wi-Fi) devem superar as cabeadas, em 2015, segundo estudo da Cisco (empresa que oferece soluções para redes e comunicações), quando os aparelhos utilizarão 37,2 exabytes de dados ao mês, contra 37 exabytes das conexões com fio. Atualmente, a rede Wi-Fi responde por 36% de todo o tráfego e, em 2015, deve chegar a 46,2%. Já as conexões cabeadas, que correspondem a 63% do total, recuarão para 46,1%, naquele ano.

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O Brasil já ocupa o segundo lugar no ranking de usuários do Twitter no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que respondem por metade dos membros ativos do microblog.


Palestra Fenacor

Em pauta, a autorregulação dos corretores Resolução do CNSP prevê que as entidades funcionem como órgão auxiliar da Susep

A

“A Susep não

tem condições estruturais para regular, fiscalizar e agir de maneira preventiva. E a falta de supervisão e de punição adequada afeta o mercado como um todo

Armando Vergílio

autorregulação trará para os corretores de seguros a oportunidade de ganhar em credibilidade, seriedade e confiança. A afirmação foi feita pelo presidente da Fenacor, Armando Vergílio dos Santos Junior, em discurso realizado na Conseguro. “Com as entidades autorreguladoras, haverá condições de punir e afastar aqueles profissionais cuja atuação deixa as pessoas sem proteção”, argumentou ele, que é deputado federal licenciado e secretário de Estado de Cidades em Goiás. júlio fernandes/ ag. full time

Por JORGE CLAPP

Armando afirmou que a categoria está entre aquelas com maior grau de capilaridade: são cerca de 70 mil corretores em todo o País, que respondem por 85% da receita de prêmios do mercado brasileiro. “A Susep não tem condições estruturais para regular, fiscalizar e agir de maneira preventiva. E a falta de supervisão e de punição adequada afeta o mercado como um todo”, alertou. A criação das entidades autorreguladoras foi aprovada na lei que regulamentou o fundo para riscos catastróficos do seguro rural, sancionada pelo ex-presidente Lula, no ano passado. Em abril deste ano, o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) aprovou a Resolução 233/11, que dispõe sobre a forma de constituição das entidades autorreguladoras. “Essa foi a maior conquista da categoria desde a aprovação da Lei 4.594, que regulamentou a profissão do corretor”, comparou. A resolução do CNSP prevê que as entidades funcionem como órgão auxiliar da Susep, com a incumbência de fiscalizar, processar, julgar e aplicar sanções por infrações a normas de conduta praticadas por intermediários dos contratos de seguro, resseguro, capitalização e previdência complementar aberta, com exceção do seguro especializado em saúde; e de todos os corretores, pessoas naturais e jurídicas, e seus prepostos. A Susep poderá anular as decisões proferidas na autorregulação se entender que houve violação de direitos.

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Corredor do Futuro

Um espaço para provocar a inspiração Um mosaico com informações e dados sobre o mercado instigava os participantes a refletir

“A

guerra de preços será uma característica desta década. Você está pronto?” Mesclando informações e frases provocativas, como esta, além de dados sobre o desempenho do mercado de seguros nos últimos anos, um espaço roubou a atenção dos participantes da quinta edição da Conseguro.

fotos júlio fernandes/ ag. full time

Por VANIA MEZZONATO

Para chegar à área dos estandes e ao plenário do evento, as pessoas passavam, obrigatoriamente, por um túnel completamente escuro, com paredes, teto e piso de plástico preto, decorado com espelhos e slides exibidos alternadamente, chamado pelos organizadores de “Espaço perspectiva do seguro”. O objetivo? “Provocar a inspiração”, responde o coordenador Pedro Bulcão, acrescentando que o “Corredor do Futuro”, como o espaço foi apelidado, contribuía para a proposta de tornar o evento um momento inovador, visionário e provocador da inspiração. O vídeo mostrava como deverá ser o consumidor do futuro e como o mercado segurador deve se estruturar para atendêlo. Um mosaico contendo informações e dados sobre os mais variados aspectos dessas duas vertentes instigava os participantes a refletir sobre seu papel de partícipe da construção do mercado de 2036. “Neste espaço disponibilizamos uma coletânea de dados sobre a evolução do mercado e de conceito de todos os setores – muitos desconhecidos até então – que pudessem cumprir esta tarefa de estimular o mercado a inovar e se inspirar para enfrentar os novos desafios. Foi uma forma de contribuir para a inspiração”, explicou. Além das informações, o espaço exibia também de modo alternado as logomarcas das quase cem empresas do mercado de seguros, que deve crescer 12% este ano, quando atingirá a cifra de R$ 201 bilhões em receita, segundo a CNseg, que prevê o aumento da expansão do acesso ao setor pelas classes C e D e aposta ainda, entre outros nichos, no bom desempenho do seguro garantia, com a realização das obras do PAC, da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

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Meio Ambiente

Catástrofes atingem países em desenvolvimento O ano de 2010 foi o terceiro maior em vítimas desde 1970, quando os estudos foram iniciados Por VANIA MEZZONATO

A

s dez piores catástrofes naturais registradas ao longo do ano passado ocorreram nos países em desenvolvimento. Haiti, Rússia, China, Paquistão, Chile, Indonésia, Peru, Argentina e Uganda lideraram o ranking das tragédias, que deixaram um rastro de quase 300 mil mortos ou desaparecidos. A conta foi feita pelo representante da Swiss Re Brasil, Rolf Steiner, autor da palestra “Meio Ambiente e Seguros de Catástrofes”. Segundo ele, o ano de 2010 foi o terceiro maior em termos de vítimas desde 1970, quando as consequências deste tipo de tragédia começaram a ser estudadas. Em 2009, foram menos de 15 mil vítimas. Apenas 2% das catástrofes contabilizadas no período ocorreram por conta das ações do homem – os 98% restantes foram motivadas pela natureza. “Quanto mais ocorrem sinistros provocados por catástrofes, mais altos ficam os valores segurados”, comparou. Segundo ele, os estudos não apontam aumento da probabilidade de terremotos futuros, mas preveem o aumento de eventos provocados por mudanças climáticas, enchentes, inundações etc..

“Faltam

sistemas e estatísticas do passado (no Brasil). Esta é uma grande falha e temos que nos unir para criar um modelo de cálculos destes novos riscos

Rolf Steiner

O ano mais O ano de 2010 também foi marcado como o mais quente da história. O motivo são as ações humanas e a emissão de gases de efeito estufa. Em todo o mundo, foram emitidas ao longo do ano passado 30,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Os dados foram apresentados pelo jornalista Washington Novaes, que participou do debate mediado pelo presidente da FenSeg e da Porto Seguro, Jayme Brasil Garfinkel.

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Economias industrializadas

júlio fernandes/ ag. full time

As maiores perdas seguradas concentraramse nas economias industrializadas e responderam por mais de US$ 25 bilhões. Em todo o mundo, as perdas seguradas atingiram a cifra de 43 bilhões. “E não aconteceram os esperados furacões na área do Caribe, o que deixou o resultado abaixo das expectativas. Mas as perspectivas para 2011 não são tão animadoras”, adiantou. De todos os sinistros provocados pela natureza no mundo, em 2011, apenas 20% estavam segurados, representando os US$ 43 bilhões

pagos pelas seguradoras e resseguradoras. A maior parte (80%) foi absorvida por indivíduos, corporações e governos – pois não contavam com a proteção do seguro – e custou US$ 175 milhões. No total, as perdas econômicas somaram US$ 218 bilhões. “Este é um forte indicativo de que temos que nos esforçar para atingir mais pessoas, principalmente da classe C, e aumentar a penetração do seguro, além de desenvolver soluções para os governos”, sugeriu. Rolf Steiner exemplificou com o caso do México, que tem um contrato firmado com a Swiss Re para cobertura de 5 anos contra alguns eventos climáticos previamente estipulados. O valor também é pré-definido e depositado para garantir a liberação imediata em caso de sinistro. “O dinheiro é imediatamente liberado e o governo pode começar o trabalho de reconstrução”. O governo do Haiti, depois do terremoto que devastou o país em janeiro de 2010, também contratou cobertura especial para estas ocorrências e para os fenômenos meteorológicos. No Brasil, onde não há incidência de terremotos e furacões, os riscos se concentram apenas nas inundações e geram um feito positivo, segundo Steiner, que são os preços atrativos. Mas como não há cultura de gerenciamento de riscos no País, os parâmetros são desconhecidos. Estima-se que 10% da população brasileira (cerca de 19 milhões de pessoas) estejam expostos a riscos de inundações no País.

quente da história Segundo o jornalista, este volume de emissão de poluentes está próximo do limite tolerado pelo planeta e, se for ultrapassado, pode tornar irreversível o aumento da temperatura, provocando derretimento de geleiras e chuvas torrenciais. A ONU já alertou também sobre o processo de desertificação do planeta, que atinge 2 hectares por minuto e representa ameaças à produção de alimentos, além de riscos de doenças.

Na opinião do debatedor Bosco Francoy, presidente da Mapfre Re, as seguradoras não estarão preparadas para enfrentar os riscos provocados pelas catástrofes naturais se não colocar o assunto na sua pauta de prioridades. “A mudanças climáticas estão na 20ª posição no ranking de preocupações das seguradoras”, informou. Segundo ele, os riscos catastróficos só serão mitigados quando a cobertura do seguro for compartilhada por governos e iniciativa privada.

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“As mudanças

climáticas estão na 20ª posição no ranking de preocupação das seguradoras. É preciso o momento socioeconômico brasileiro para criar a cultura do seguro no consumidor

Bosco Francoy


INFORME ADICIONAL

Planeta não sobreviverá ao consumo desenfreado Especialista em meio ambiente relaciona mudanças climáticas ao consumismo e defende novos hábitos para salvar o planeta Por MÁRCIA ALVES

N

ão é preciso retroceder muito no tempo para constatar que as catástrofes naturais estão aumentando. Os terríveis terremotos que assolaram o Haiti e, em seguida, o Chile foram superados pelo terremoto seguido de tsunami que devastou parte do Japão neste ano. É fato que os desastres naturais estão aumentando, mas a percepção das pessoas sobre a frequência e intensidade é influenciada pela mídia, que também está mais ágil em registrar e transmitir esses eventos. A avaliação é do jornalista especializado em meio ambiente, André Trigueiro, defensor ferrenho da preservação da natureza e autor de livros sobre meio ambiente, que faz questão de separar o joio do trigo em relação à ação humana na ocorrência de algumas catástrofes naturais. “A Terra tem 4,5 bilhões de anos e não estamos aqui há tanto tempo. Por isso, não acredito que esses fenômenos

estariam ocorrendo de forma consistentemente fora da série histórica”, analisa. Por outro lado, ele concorda com a corrente majoritária dos cientistas que atribui à humanidade parte da culpa pelos desastres naturais associados à mudança do clima. As chuvas intensas que provocam enchentes e deslizamentos de terra em vários pontos do País teriam relação com a queima progressiva de petróleo, carvão e gás, a destruição das florestas, a quantidade de lixo – especialmente de matéria orgânica que se decompõe ao ar livre e gera o gás estufa – e também com a ineficiência de alguns setores da indústria, que demandam muita energia. “Tudo isso está dentro de um pacote civilizatório. Fazemos parte do problema e agora precisamos fazer parte da solução”, diz.

Praga de gafanhotos A solução é frear o consumo, cujo efeito para o planeta é comparável ao da praga de gafanhotos. “Em bom português: não dá para todo cidadão ter um automóvel, comer carne duas vezes ao dia, consumir um celular a cada seis meses, um iPad a cada oito meses e ter um closet abarrotado de roupa. Estamos falando de um estilo de vida que, para não representar risco à nossa existência, determina novos hábitos de consumo”, opina Trigueiro. Considerando que o planeta é um só e que os recursos são finitos, o jornalista diz que o primeiro alvo dessa mudança de

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divulgação

hábito devem ser as elites, que representam 20% da população mundial. “Temos de desarmar as elites, fazendo com que se sintam constrangidas em consumir”, sugere Trigueiro, destacando que o consumo consciente depende da evolução da sociedade, que tem dado exemplos com a substituição das sacolas plásticas, uma iniciativa que vem gerando debates e campanhas pela eliminação deste tipo de embalagem. “Há dez anos consumíamos como se não houvesse amanhã. Hoje, temos mais consciência de que não se consome impunemente”.

Bens de consumo O jornalista também chama a atenção para os hábitos de consumo da grande parcela da população que ascendeu socialmente. “Todos têm o direito

de viver com dignidade e de consumir o que bem entender. Mas não podemos negar que isso representa um aumento brutal na demanda por roupa, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e outros bens de consumo”, diz. Para evitar que esta tendência se acentue, ele destaca a necessidade de uma mudança cultural e sugere que as classes emergentes também sejam educadas para o consumo, acrescenta o jornalista. “Se as classes C, D e E ascendem socialmente com o mesmo software que rege o apetite insaciável de consumo daqueles 20% que estão no topo, então esquece civilização e sustentabilidade, porque não haverá solução”, diz. Para Trigueiro, o custo dessa mudança é menor do que o custo da inércia. “Não podemos perder essa janela de oportunidade. A semente está lançada”, conclui. •

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“Se as classes C,

D e E ascendem socialmente com o mesmo apetite insaciável de consumo dos 20% que estão no topo, então esquece civilização e sustentabilidade, porque não haverá solução

André Trigueiro


Microsseguros e Seguros Populares

Popularização dos produtos depende da distribuição Especialista também defende a criação de produtos com coberturas atrativas que atendam a população de baixa renda

Por KARIN FUCHS

O

Brasil caminha para a regulação do microsseguro, mas alguns desafios ainda são entraves à sua popularização. O primeiro deles é a inclusão social sustentável. “O Brasil tem programas que são modelos para o mundo, como o ‘Bolsa Família’ e o ‘Brasil Sem Miséria’. Porém, pela baixa capacidade de poupança da população de menor renda, esses programas correm o risco de gerar dependência”, alertou Hennie Bester, do Centro de Regulação Financeira e Inclusão (Cenfri), uma instituição sulafricana que colabora para a formulação de modelos de regulação financeira para a inclusão social, em sua palestra “Microsseguros e Seguros Populares”. Além da poupança, são primordiais a educação e a disseminação do seguro para garantir a inclusão sustentável. “Na China, por exemplo, um projeto-piloto de microsseguros abrangeu 120 milhões de pessoas. A visão do governo

chinês é a de que o seguro faça o máximo possível pela população, para que o governo faça o mínimo possível”, comentou Bester. Para que os microsseguros e os seguros populares de fato atinjam a população de baixa renda, o primeiro passo é a distribuição e o baixo custo. “Entre as alternativas, uma possibilidade é o canal bancário, cuja comercialização pode ser regulamentada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep)”, disse Bester, sugerindo também a venda em funerárias. Em comentário à exposição de Bester, Murilo Chaim, coordenador-geral de Seguros e Previdência Complementar da Secretaria de Política e Econômica do Ministério da Fazenda – que participou do debate ao lado de Pedro Bulcão, presidente da Sinaf Seguros, membro do Conselho Diretor da CNseg e coordenador da 5ª Conseguro –, afirmou que os altos custos de distribuição limitam o alcance dos produtos e o seu valor para os clientes. “A sinistralidade é reduzida, o que é um excelente indicador para a solvência, mas mostra que os valores pagos aos segurados são baixos e que a maior parte está sendo consumida pela distribuição”, afirmou.

Produto atrativo Segundo Bester, para chegar a este público, o produto deve ser genérico, como as coberturas de seguro desemprego, despesas funerárias, entre outras. “A minha sugestão é escolher duas coberturas e ressaltá-las quan-

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júlio fernandes/ ag. full time

do forem feitas campanhas de conscientização a esse público sobre a importância em ter uma proteção.” Simplificar as transações também é necessário, em função do alto custo do papel. Entre as propostas estão a documentação digital e a venda de seguros pelo celular, a maneira mais barata de se trabalhar os seguros populares, que ainda levará um tempo para se tornar habitual no Brasil. “O governo brasileiro não gosta muito de abrir concessões, mas a redução de impostos é uma maneira de todos saírem ganhando”, expôs Bester.

Rede varejista Apesar do bem-sucedido modelo de distribuição por meio das redes varejistas, Chaim alertou que nem sempre os seguros vendidos por estes canais condizem com as necessidades dos consumidores. “Muitas dessas vendas não são tão importantes para o segurado, mas acabam tendo grande valor para os distribuidores, pois mitiga os riscos que eles mesmos têm.” Por fim, ressaltou que é preciso buscar canais alternativos de distribuição e atingir a população que não tem conta em banco. Sobre a questão tributária, ele entende que a melhor forma é a subvenção ao prêmio, como

projeto-piloto abrangeu 120 milhões de pessoas. A visão do governo é a de que o seguro faça o máximo possível pela população, para que ele faça o mínimo possível

Hennie Bester

ocorre com o seguro rural, mas em relação à exigência de solvência das seguradoras, ele acha que não deve ser alterada. “O que está sendo vendido nestes casos é uma promessa e as empresas precisam ser sólidas e ter regras de solvência bem seguras”, concluiu.

DPVAT: um modelo de sucesso O diretor-presidente da Bradesco Seguros e Previdência e também presidente da FenaPrevi, Marco Antonio Rossi, mediador do debate, destacou o DPVAT como um modelo de sucesso de seguro popular, pouco lembrado no Brasil. “Todos os anos, o DPVAT paga cerca de R$ 2,6 bilhões em indenizações. Para muitos, o valor pode ser considerado baixo. Porém, para as pessoas que recebem R$ 13.500 de indenização podem significar uma

“ Na China, um

sobrevida e uma tranquilidade em termos de estabilidade familiar por algum tempo”. Rossi lembrou que a Seguradora Líder, administradora do DPVAT, foi criada com a união de 70 seguradoras do mercado para melhorar as condições de atendimento nessa área. “Sem dúvida, é um case muito positivo que muitas vezes não tem o devido valor quanto se observa o mercado de seguros como um todo”, finalizou.

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INFORME ADICIONAL

Nova classe média: maior símbolo é a carteira de trabalho Entre 2003 e 2011, 39,6 milhões de brasileiros entraram na classe C e 9,2 milhões, na A e B Por VANIA MEZZONATO

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nova classe média brasileira não só veio para ficar como já é a dominante do ponto de vista econômico. Um estudo feito pelo economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, intitulado “A Nova Classe Média Veio para Ficar?”, a classe emergente, batizada de classe C, concentrou 46,24% do poder de compra dos brasileiros, em 2009, superando as classes A e B, que responderam por 44,12% no mesmo período. Baseado em dados das economias brasileira e internacional, nos resultados de pesquisas domiciliares e de estudos específicos sobre a situação do brasileiro ao longo das últimas décadas, o economista da FGV disse que, entre 2001 e 2009, a taxa de crescimento dos mais pobres no Brasil foi muito maior do que a dos mais ricos, o que aumentou o padrão de vida de mais da metade da população.

Padrão atípico “A renda dos pobres cresceu 540% a mais do que a dos ricos. O crescimento

brasileiro tem sido inclusivo, o que é preponderante para a nova classe média. A taxa de crescimento na Região Nordeste, por exemplo, está muito maior do que no restante do país, inclusive em São Paulo, o estado mais rico”, comparou Neri. O economista chamou a atenção para o que considera um ‘padrão atípico’ no desempenho socioeconômico do Brasil nos últimos anos. “Os grupos que mais cresceram são os tradicionalmente excluídos, é um ponto fora da curva nos padrões de desenvolvimento dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China)”, afirmou. No período entre 2003 e 2011, de acordo com a pesquisa da FGV divulgado no final de junho, 39,6 milhões de brasileiros entraram na classe C, enquanto 9,2 milhões ingressaram nas classes A e B. Já a classe D perdeu 7,9 milhões de pessoas (redução de 24,03%) e a classe E perdeu 24,6 milhões (menos 54,18%). Com isso, segundo o estudo, a “nova classe média” brasileira passou, nos últimos dois anos, de 50,45% da população para 55,05%, contabilizando mais de 100 milhões de integrantes.

Emprego formal Na avaliação de Marcelo Neri, o crescimento robusto do emprego formal, duplicado desde 2004, caracteriza a ascensão desta nova classe média, cujo principal símbolo é a carteira de trabalho. Em 2010 foram gerados 2.136.947 novos empregos formais,

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divulgação

“ Os grupos que

mais cresceram no Brasil são os tradicionalmente excluídos, é um ponto fora da curva nos padrões de desenvolvimento dos países do BRIC

Marcelo Neri

contra 657.596 em 2000. “E isso foi feito sem reforma trabalhista, o que é surpreendente”. Desde o final da recessão de 2003 que o Brasil cresce de forma praticamente contínua. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu 6,5%. Na média, no período entre 2003 e 2009, a taxa de crescimento do PIB per capita foi de 2,88%. Mas a renda PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE) superou esse desempenho e alcançou, no mesmo intervalo de tempo, 4,71% ao ano. Ultrapassou o PIB em 1,83 pontos percentuais. “O crescimento brasileiro tem sido altamente inclusivo, o que é fator preponderante para o surgimento de uma nova classe média. É diferente do que ocorre na Ásia”, explicou o economista Marcelo Neri. De 2001 a 2009, segundo dados apresentados por ele, a renda dos brasileiros mais pobres cresceu a uma taxa de 6,79%. No período, a renda per capita dos mais ricos aumentou 1,52% ao ano. Um dos principais reflexos desse quadro é a tendência decrescente da pobreza nacional aferida a partir de 2003. Naquele ano, estudo da FGV apontou a existência de 49 milhões de pessoas vinculadas à classe E, a mais baixa do estrato social brasileiro.

Hierarquia social De 2003 a 2008, 19,5 milhões de brasileiros conseguiram sair da pobreza. Com mais 1 milhão registrados em 2009, são mais de 20 milhões de pessoas que, nos últimos sete anos, ascenderam na hierarquia social do Brasil. Entre 2008 e 2009, em pleno ano de crise, a taxa de pobreza caiu de 16,02% para 15,32% – uma queda de 4,32%. “O Brasil está crescendo, as pessoas estão sendo empurradas para cima”, avaliou. Apesar de as taxas de crescimento do Brasil ainda permanecerem em níveis inferiores aos dos outros BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – como a China, em particular – a qualidade do crescimento brasileiro é indiscutivelmente melhor do que a do país asiático em vários aspectos, segundo Marcelo Neri. “O Brasil é uma democracia, mas ainda enfrenta muitos obstáculos, incluindo um sistema de ensino fraco, baixas taxas de poupança e um emaranhado de obstáculos regulatórios. Mas, para as perspectivas de crescimento futuro, o que importa não é o nível absoluto desses fatores, mas como eles evoluem no tempo”, concluiu.

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Freakonomics

Grandes problemas têm soluções simples e objetivas Os incentivos são fundamentais para criar um ambiente propício às ideias promissoras

Steven Levitt

Uma das conclusões mais provocantes do economista e escritor foi relacionar o aborto à queda da criminalidade nos Estados Unidos nos anos 90

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ense em uma ideia mirabolante capaz de mudar o mundo. Em seguida, reflita sobre outra mais básica. Se precisar escolher em qual investir, aposte as fichas naquela ideia mais linear. “A solução para todos os nossos grandes problemas tem uma resposta simples e objetiva”, assegurou o economista Steven Levitt, autor da palestra “Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta”. Segundo o expositor, no mundo corporativo é preciso desrespeitar as regras para promover mudanças e conclamou todos os participantes a pensar em um ou duas boas ideias júlio fernandes/ ag. full time

Por VAGNER RICARDO

por ano, dedicando-se a sua execução. Como exemplo, ele citou uma experiência própria: durante 10 anos concentrou-se em uma ou duas boas ideias, que resultaram na criação de seus best-sellers ‘Freakonomics’ e ‘SuperFreakonomics’. Para ele, os incentivos são fundamentais para se criar um ambiente propício às ideias promissoras no plano econômico. Steven Levitt, que se notabilizou por desafiar a “sabedoria convencional”, conquistou a medalha Clark, prêmio dado a contribuições econômicas relevantes a economistas americanos com menos de 40 anos. Uma de suas conclusões mais provocantes foi relacionar o aborto à queda da criminalidade nos Estados Unidos nos anos 90. Na quinta edição da Conseguro ele voltou ao tema. “Crianças indesejadas têm mais propensão a virar criminosos quando adultos”, disse ele, cuja tese causou comoção nos EUA, já que os cerca um milhão e meio de abortos feitos nos Estados Unidos são praticados por mulheres pobres, adolescentes e solteiras. Coordenador da palestra, o 1º vice-presidente da CNseg Patrick Larragoiti (também presidente do Conselho de Administração da SulAmérica), lembrou que tanto os indicadores de fecundidade no Brasil e o número de mortes em confrontos, no caso do Rio, estão em declínio graças às ações combinadas dos governos federal, estadual e a prefeitura. Ao mesmo tempo, o crescimento do consumo pela classe D é outro motivo de alento para todas as atividades econômicas, inclusive o seguro.

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Solvência II

júlio fernandes/ ag. full time

Europa consulta mercado sobre as regras de capital O grande desafio é ter um modelo ajustado para evitar excessos na exigência de capital

Por JORGE CLAPP

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a Europa, a implementação da “Solvência II” (regras de capital baseado em risco para as seguradoras) está sendo feita com base em ampla consulta ao mercado e a partir de troca de informações entre órgãos reguladores e supervisores. A informação foi dada pela diretora geral do Comitê Europeu de Seguros (CEA), Michaela Koller, na palestra “Experiência e Tendências na Europa”. “Há consultas formais e informais, um diálogo intenso e estudos de impactos, custos e benefícios”, disse ela, que também é executiva da Federação Europeia de Seguros e Resseguros. Para Michaela, o grande desafio é ter calibragem adequada e um modelo mais ajustado para evitar excessos na exigência de capital. “Se não acertamos a mão, corremos o risco de ver o capital migrar para os regimes menos exigentes”, afirmou, acrescentando que houve experiências negativas de regulação do capital, no passado, implementadas sem consultas e troca de informações. O resultado final foi o aumento dos preços pagos pelos consumidores. Para o vice-presidente do grupo Bradesco

Seguros, Samuel Monteiro dos Santos Junior, que participou do debate, há muitas diferenças entre o modelo brasileiro e aqueles aplicados na Europa e nos EUA. “Somente aqui há o vínculo das reservas técnicas. E é bom lembrar que, em 25 anos, apenas cinco seguradoras brasileiras quebraram – e, na maioria dos casos, por causa dos donos das companhias”. Samuel Monteiro afirmou ainda que o mercado brasileiro não é contra as regras da Solvência II, mas quer discutir o assunto com as autoridades. “Cada país tem suas características e precisamos discutir as regras entre nós”, destacou. Outro debatedor, o professor Aloisio de Araújo, da Fundação Getúlio Vargas, alertou que é preciso não agir com “mão pesada”. “O mais adequado é ter uma dosagem correta, até porque uma fragilidade residual sempre vai existir”. No mesmo painel, Bruno Pereira, da Leblon Equities, disse que é preciso buscar novas fontes de capital e garantir retorno para os investimentos feitos.

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Regulação, Concorrência e Consumidor

Modelo de regulação penaliza empresas de pequeno porte Companhias de grande porte tendem a ser menos prejudicadas pelo modelo vigente Por JORGE CLAPP

“Diz um antigo

ditado: o que engorda o boi é o olho do dono. Contudo, no caso do mercado de seguros, os donos não estão presentes para verem o boi engordar

Lucia Helena Salgado

O

regulador não pode obrigar todo mundo a usar um casaco GG. O alerta foi feito pelo presidente do Banco Morgan Stanley Brasil, Daniel Goldberg, ao apresentar a palestra “A Regulação pela Perspectiva do Consumidor”. No caso específico do mercado de seguros, esse casaco ficou grande demais e desconfortável para as pequenas seguradoras, que estão retendo até 50% a mais de capital, em média. Segundo Goldberg, diante desse cenário, é possível até que haja uma progressiva migração de fatias do mercado dessas pequenas companhias para as seguradoras maiores, que costumam trabalhar com os chamados multiprodutos e são menos penalizadas pelo modelo vigente no País. “Exigir demais não é regular bem, pois pode provocar a anomalia da concentração de negócios, o que levaria à falta de concorrência”, acrescentou o palestrante, que foi secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça.

Fazendo uma analogia com as corridas de Fórmula-1, Daniel Goldberg disse que uma equipe não pode ser punida pelos fiscais da prova por trocar os pneus dos seus carros mais rapidamente que os demais competidores. “No caso do seguro, o mais importante é precificar os riscos corretamente”, observou, acrescentando que uma postura equivocada pode até mesmo induzir o mercado à ineficiência, prejudicando os consumidores finais de produtos de seguros. O presidente do Banco Morgan Stanley entende que a avaliação regulatória do mercado deveria ser feita não com base no acompanhamento anual, mas embasada em “séries de tempos” e salientou também que um “bom remédio” é a regulação prudencial, pois, no seguro, o custo do fracasso pode ser desproporcionalmente grande em comparação a outras atividades. “É preciso haver uma margem de segurança regulatória para proteger os consumidores dessas possíveis consequên­cias desproporcionais”, assegurou.

Provisão de informações No mesmo painel, a coordenadora de Estudos de Mercado de Regulação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Lucia Helena Salgado, afirmou que há um novo espaço para a regulação no mercado brasileiro. “Os órgãos reguladores devem ajudar o indivíduo a tomar as suas decisões”, argumentou.

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júlio fernandes/ ag. full time

“Exigir demais

não é regular bem, pois pode provocar a anomalia da concentração de negócios, o que levaria à falta de concorrência

Daniel Goldberg

“Por vezes, é

prudente mexer no sistema de regulação, pois há espaço para aperfeiçoamentos a partir da interação entre órgãos reguladores e agentes do mercado

Piquet Carneiro

A debatedora citou o caso do mercado de seguros em que, muitas vezes, uma pessoa tem o poder de tomar, sozinha, as decisões que dizem respeito aos interesses de várias outras, como os investimentos em fundos. “Diz um antigo ditado: o que engorda o boi é o olho do dono. No caso do mercado de seguros, os donos não estão presentes para verem o boi engordar”, comparou, justificando sua defesa pela presença de um agente externo. E acrescentou: “A informação é, de fato, um bem público, mas o custo é muito elevado”.

Agências reguladoras O outro debatedor do painel, o coordenador Regional de Antitruste do escritório Veirano Advogados, João Geraldo Piquet Carneiro, observou que o setor de seguros é o mais antigo mercado regulado por mecanismos estatais. E lembrou que prevalece no Brasil uma tendência de se adotar novas formas de regulação, consequência do “encantamento” com as agências reguladoras,

surgido nos anos 1990. “Atualmente, vários setores querem ter agências reguladoras próprias”, acrescentou. Para Carneiro, há momentos apropriados para se fazer reformas e consolidar as normas e outras em que não é preciso fazer nada. Ele citou o exemplo do Poder Judiciário, que experimentou uma fase muito bemsucedida com a implantação dos juizados de pequenas causas. “Por vezes, é prudente tentar mexer no sistema de regulação, pois há espaço para aperfeiçoamentos a partir da interação entre órgãos reguladores e agentes do mercado”. Nesse sentido, o especialista entende que é possível ter alguns representantes do mercado no Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), ainda que não tenham direito a voto, para que possam ter oportunidade de conhecer a realidade como expectadores. Para ele, não haveria problema se também os consumidores fossem representados no Conselho. “Isso, sem dúvida alguma, traria alguns benefícios importantes”, assinalou.

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INFORME ADICIONAL

Seguradoras não podem pagar por erros de bancos As perdas financeiras geradas pelas crises mundiais foram concentradas nos bancos Por DENISE BUENO

“Estamos

alertando os reguladores sobre os distintos papéis que seguradoras e bancos desempenham na economia, para preservar os interesses sociais que elas garantem

Patrick Liedtke

S

eguro é seguro e seguradora não é banco – e ponto! Esse é o mantra dos principais executivos da indústria de seguros do mundo que se reúnem, por meio da Geneva Association, com os órgãos reguladores internacionais. A missão da entidade, que reúne mais de 80 CEOs do mundo, é informar que as seguradoras não podem ser penalizadas com uma regulamentação mais rígida, pois as perdas financeiras geradas pelas crises mundiais foram concentradas nos bancos. O esforço neste ano está mais intenso porque há projetos para todos os lados. Há os regionais (Solvência II, na Europa), os globais (International Financial Reporting Standards – IFRS) e uma infinidade de reformas da Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS). Segundo Nikolaus von Bomhard, presidente do Conselho da Geneva Association e da Munich Re, maior resseguradora do mundo, a maior discussão é se as seguradoras e resseguradoras poderão represen-

tar um risco sistêmico – que são abordados nesta discussão de uma forma que nem sempre reflete as diferenças específicas dos modelos de negócios de seguro e outros prestadores de serviços financeiros, como os bancos.

Perdas pontuais Estudo da Geneva afirma que as perdas atreladas ao mercado de seguros foram pontuais em companhias que atuavam

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divulgação

com seguros financeiros ligados às garantias de hipotecas de alto risco, conhecidos como subprime. E o socorro dos governos aos bancos, entre setembro de 2008 e fevereiro de 2010, totalizou US$ 1,5 trilhão. Mas também houve casos de seguradoras cujo volume quase chegou a US$ 200 bilhões, praticamente para a AIG. A resposta dada pelos executivos é de que o problema da AIG, que até setembro de 2008 era considerada a maior do mundo, foi gerado por uma divisão pequena do grupo, que faturava apenas US$ 2 bilhões por ano, diante dos mais de US$ 100 bilhões de todo o conglomerado. A experiência acendeu o farol amarelo dos governos, que correram para criar regras com a esperança de evitar que uma instituição gigantesca seja um risco sistêmico para a economia mundial. Desde então, os órgãos reguladores têm sinalizado uma forte tendência de adotar normas únicas para o sistema financeiro, englobando todas as operações do conglomerado internacional.

Fluxo de caixa

Fachada da AIG: governo americano socorreu financeiramente a seguradora na crise mundial deflagrada em setembro de 2008

Bomhard explicou que o modelo de negócios securitários apresenta detalhes específicos que diferem significativamente dos bancos. O seguro, disse, é financiado por prêmios iniciais, propiciando às seguradoras um ótimo fluxo de caixa operacional, sem exigir financiamento no atacado. “As apólices de seguro geralmente são de longo prazo, com saídas de fluxos controlados. Portanto, as seguradoras mantêm investimentos de longo prazo e não representam um risco sistêmico”, defende o presidente da Geneva. A regulamentação poderá gerar um engessamento do setor e aumento dos custos para os segurados. Já os indicadores macroeconômicos voláteis inibem os investimentos e retardam o crescimento do

setor, afirmam os executivos que participaram da pesquisa que irá balizar os estudos da associação para os próximos anos. Um forte argumento da indústria de seguros é que o setor tem regras rígidas, que serão ainda mais severas com a implementação das normas de Solvência II previstas para 2012. Outra defesa é de que o mercado funciona como um amortecedor para crises ao gerenciar riscos e pagar indenizações.

Riscos sistêmicos Para Patrick Liedtke, secretário-geral da Geneva Association, entidade que representa praticamente 80% do PIB mundial de seguros, uma das formas de ajudar a ter uma regulamentação adequada é fornecer aos reguladores informações sobre o funcionamento do setor, de forma a deixar claro como opera e quais são os riscos sistêmicos da indústria de seguros. A Geneva Association tem buscado esclarecer aos reguladores o quanto os riscos sistêmicos de seguradoras diferem dos riscos dos bancos. ”Estamos alertando os reguladores sobre os distintos papéis que seguradoras e bancos desempenham na economia. A chave é assegurar o bom funcionamento da indústria e preservar os interesses sociais que ela garante”, diz. Patrick Larragoiti, presidente do Conselho da SulAmérica e único brasileiro a fazer parte do conselho da Geneva Association, explica que uma das lutas da associação é mostrar aos órgãos reguladores que manter a atividade de seguro regulada por um órgão especializado traz mais segurança ao sistema do que ter a indústria controlada por uma autoridade monetária preocupada com bancos, fundos e mercado acionário. “No Brasil temos a Susep com grande influência do Banco Central. E não sofremos qualquer perda com a crise. Pelo contrário. Continuamos nosso ritmo de crescimento”.

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Seguros de Vida e Previdência Privada

O Brasil ainda engatinha no seguro individual A indústria de seguros terá de se reinventar com novos produtos e alternativas de distribuição Por KARIN FUCHS

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rodutos, preços, coberturas, distribuição e impostos são alguns dos empecilhos para que o mercado de seguros de vida individuais cresça no País. De acordo com Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração da Mongeral Aegon Seguros e Previdência e vice-presidente da CNseg, o resultado é uma baixa penetração do produto. “A participação dos seguros de vida individuais na Argentina é de 8,6% do mercado; no Chile, é de 20,5%; e, no Brasil, de apenas 1,9%. Na comparação, mais significativo ainda é o número de prêmios em relação ao PIB: 0,05% na Argentina e de 0,03% no Brasil”. Esses números demonstram uma enorme oportunidade para o mercado brasileiro, segundo Nilton Molina, que coordenou a palestra “Seguros de Vida Individuais e Previdência Privada” – ao lado dos debatedores Fábio Lins de Castro, presidente executivo da Prudential do Brasil Seguros de Vida, e Eugenio Velasquez, diretor da Bradesco Vida e Previdência – proferida por Robert Kerzner, CEO e presidente da Limra, Loma e LL Global, Inc.

Robert Kerzner abriu o painel destacando que o Brasil é uma das economias que mais crescem no mundo e surpreende pela ascensão de classes sociais e o número de pessoas que saíram da linha de pobreza. “São 128 milhões de pessoas nas classes C e D. No entanto, apenas 30 milhões têm algum seguro de vida. No mundo, muitas seguradoras estão utilizando alternativas inovadoras para acessar o público popular”, afirmou.

Autônomos associados Kerzner comentou que no Japão as pessoas compram seguros pelo celular e que nos EUA aumentou consideravelmente a participação de autônomos associados às seguradoras na comercialização de seguros de vida. “No Brasil, 75% da distribuição são pelo canal bancário, enquanto nos Estados Unidos são 38%. À medida que um país amadurece, é preciso mudar os produtos e a distribuição. O mercado brasileiro deveria ser mais agressivo ou buscar alternativas”, sugeriu. Segundo ele, a indústria de seguros precisa rapidamente desenvolver alternativas de distribuição, como, por exemplo, o telemarketing ou canais virtuais. “No Brasil, o número de linhas celulares em operação ultrapassou a população – em abril, totalizavam 212,6 milhões de linhas – e as gerações X e Y compram produtos pela internet. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 2006, 38% da população utilizavam a internet para obter informações sobre seguros. Percentual que cresceu para 52%, em 2009”.

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Poupança sistemática No ano de 2030, pela primeira vez no Brasil, o número de adultos dependentes da Previdência será superior ao de crianças Isso significa que o governo e as empresas terão que pensar em como esse grupo irá poupar de forma sistemática. “Talvez seja necessário oferecer diferentes produtos para atingir esse público. Cada vez mais, seguros de vida terão uma participação importante para o acúmulo de capital”, expôs Kerzner. Considerando que até a metade deste século 40% da população mundial terão 50 anos ou mais e uma expectativa de vida de 77,5 anos, o problema tende a se agravar. “As pessoas não estão se planejando para tanta longevidade. A expectativa de vida nos últimos 50 anos aumentou mais do que em 5 mil anos”, comparou. O desafio, concluiu Kerzner, é exatamente a inclusão de novos consumidores no seguro de vida, com produtos amplos, que ofereçam mais benefícios, sejam mais elaborados e que despertem nas pessoas a importância de se pensar em suas aposentadorias. “É preciso incentivar a população a poupar.”

Da inclusão financeira à proteção Para Fábio Lins de Castro, executivo da Prudencial, o mercado precisa avaliar se os produtos vendidos estão adequados, se eles protegem 100% dos segurados e se os corretores estão preparados para fazer esta análise – pois o papel deles não é apenas o de

analisar o risco, mas também acompanhar o cliente, em todos os ciclos, para que o seguro de vida possa sempre corresponder às suas necessidades. “Nós podemos trabalhar com precificações diferenciadas para diferentes riscos”, validou. Eugênio Velasques, da Bradesco Vida e Previdência, afirmou que é preciso educar o consumidor e conscientizá-lo sobre a importância da proteção. “A educação passou a fazer parte do nosso planejamento estratégico. Os ciclos de inclusão no Brasil são o social, o de moradia, o financeiro e o da proteção através do seguro”, ressaltou.

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“À medida

que um país amadurece, é preciso mudar os produtos e a distribuição. O mercado brasileiro deveria ser mais agressivo ou buscar alternativas

Robert Kerzner


INFORME ADICIONAL

Como tornar o futuro economicamente mais saudável O acesso ao financiamento facilita a realização de sonhos, mas estimula o consumismo Por DENISE BUENO

Santa Marta:

O projeto ‘Estou Seguro’ mostrou como algumas comunidades do Rio de Janeiro lidam com situações inesperadas que, em sua maioria, trazem prejuízos financeiros

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esquisas realizadas em vários países da América Latina dão conta de que boa parte da população tem pouca habilidade para tomar decisões relacionadas ao seu dinheiro. Há muitas pessoas saindo da pobreza e procurando oportunidades. São milhões de indivíduos que ascenderam na classe social e estão ávidas por consumir produtos e serviços que até então não tinham acesso. Todos querem o consumo imediato, sem pensar muito no futuro – e com a melhor distribuição de renda, os desejos podem ser conquistados com uma linha de crédito, paga em muitas parcelas e sem entrada. O avanço do crédito deve alcançar 41% do Produto Interno Bruto (PIB) na América Latina, em 2015, conforme expectativas do Santander. No Brasil, o crédito representou 46% do PIB no ano passado.

ceiras. Por isso, a saída é ensinar o be-a-bá da economia para que a população possa tomar decisões melhores. A educação financeira é a solução para possibilitar um futuro economicamente mais saudável para todos. O tema, que já era discutido no mundo inteiro antes da crise financeira global de 2008, ganha força na medida em que governos têm perdas significativas e famílias entram para o ciclo de endividamento. Trata-se de um esforço conjunto que envolve governo, escolas, famílias, empresas e instituições financeiras. As parcerias públicoprivadas são consideradas essenciais para que este objetivo seja conquistado. Embora seja visto com um investimento caro, o retorno é imensurável no longo prazo.

Ascensão social “O Brasil está mudando rapidamente e a ascensão social é uma fantástica prova

Be-a-bá da economia O fácil acesso ao financiamento facilita a realização de sonhos, mas estimula o forte consumo embalado pelo marketing publicitário. E o crescente endividamento da população acende uma luz amarela nas instituições finan-

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Programa ensina a lidar com dinheiro Outra iniciativa inovadora do mercado é a criação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), um programa que visa incluir temas relacionados à economia no cotidiano e na formação dos brasileiros. A ENEF também servirá como um termômetro com ações estratégicas para medir o nível de conhecimento da população brasileira quando o assunto é finanças pessoais e investimentos. O trabalho é executado por um grupo especializado do Coremec (Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros e de Previdência e Capitalização), coordenado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e composto por representantes do Banco Central, da Susep (Su-

perintendência de Seguros Privados) e da SPC (Secretaria de Previdência Complementar). De acordo com a autarquia, todos são beneficiados com a implantação da educação financeira no País. As empresas ligadas aos setores econômicos ganham na facilidade de se comunicar com os clientes que, por sua vez, passam a entender melhor do assunto, trazendo dinamismo para as relações financeiras. Os trabalhos desenvolvidos em meio à ENEF são divulgados num portal criado exclusivamente para a iniciativa (www.vidaedinheiro.gov.br). O site funciona como um inventário dessas ações, reunindo as experiências de educação financeira existentes no Brasil.

CLAUDIA MARA

disso. Mas será preciso qualificar essa ascensão, gerando poupança, segurança, saúde e bem-estar para essas famílias. Esse papel é da indústria de seguros”, analisou Pedro Bulcão, membro do Conselho Diretor da CNseg e presidente da Sinaf seguros. A mulher, que geralmente cuida do controle dos gastos, monitorando os filhos e o marido, e as redes sociais são vistas como

grandes aliadas na disseminação da educação financeira. Afinal, compartilhar experiências otimizam tempo e recursos. No Brasil, é ainda mais difícil quebrar as barreiras: além do analfabetismo financeiro, há o elevado custo do acesso à internet. No mercado de seguros, a preocupação quanto à educação financeira dos consumidores cresce. Em uma iniciativa pioneira, a CNseg e o IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) desenvolveram, a partir de um convite da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o projeto Estou Seguro. A ação mostrou como as comunidades Santa Marta, Chapéu Mangueira e Babilônia, no Rio de Janeiro, lidam com situações inesperadas. O projeto contou com o apoio da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) e da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor). Participaram da iniciativa 17 seguradoras.

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“ O Brasil

está mudando rapidamente e a ascensão social, vivida por milhões de brasileiros, é uma fantástica prova disso. Mas será preciso qualificar essa ascensão e esse papel é da indústria de seguros

Pedro Bulcão


Nova marca, Prêmio, Informe e Balanço Social

Nova marca comemora os 60 anos da CNseg O Prêmio Inovação, o Informe Anual e o Balanço Social de 2010 também foram lançados no evento Por VANIA MEZZONATO

trico e estável que dá estrutura ao símbolo. As cores foram mantidas, com alteração apenas nas tonalidades para facilitar a sua reprodução em processos gráficos”, afirmou Solange Beatriz. A separação dos caracteres CN do ‘seg’ no logotipo, explicou a diretora, teve o objetivo de proporcionar mais ritmo à leitura, que ficava quebrada com o agrupa-

O

palco das discussões da 5ª Conseguro, em Brasília, foi também cenário para o lançamento da nova identidade visual da CNseg, apresentada ao mercado pela diretora executiva da Confederação, Solange Beatriz Palheiro Mendes. A nova marca pontua a comemoração dos 60 anos da CNseg – sucessora da Fenaseg – e visa transmitir os conceitos de integração, dinamismo e evolução do mercado. “A forma básica dos símbolos das quatro Federações que compõem a CNseg foi desenvolvida a partir de um diagrama geomé-

Balanço Social: prestando A edição unificada 2010 do Informe Anual e do Balanço Social do Mercado Segurador está disponível para o mercado desde junho. O Informe Anual apresenta os principais dados econômicos do mercado segurador, que teve receita de R$ 183,89 bilhões em 2010, 14,24% a mais que o totalizado em 2009. No ano passa-

do, havia 1.785 empresas em atuação no mercado. O Balanço Social, que compreende os segmentos de Seguros, Previdência Complementar Aberta e de Capitalização, é uma ampla prestação de contas à sociedade sobre os recursos administrados pelas instituições que operam

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Prêmio Mercado, Logomarca e Balanço Social

Prêmio vai reconhecer ideias inovadoras

júlio fernandes/ ag. full time

Lançado pelo presidente da CNseg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, durante a plenária de encerramento da 5ª Conseguro, o Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga “Inovação em Seguros” vai reconhecer as melhores e mais inovadoras ideias desenvolvidas pelo mercado brasileiro no relacionamento com o consumidor. O prêmio é dirigido aos colaboradores de seguradoras e de corretoras de seguros, além de alunos da graduação da Funenseg.

A iniciativa da CNseg é também uma homenagem ao empresário Antonio Carlos de Almeida Braga, um incentivador do desenvolvimento do mercado segurador brasileiro que, na segunda metade do século 20, impulsionou o setor ao mostrar que a inovação e o desenvolvimento econômico estão lado a lado. “Braga representa a combinação de trabalho bem feito com qualidade de vida. Ele é um exemplo de empresário, visionário e amigo”, disse Jorge Hilário, ao lançar a premiação.

mento das três consoantes iniciais. Pautada em sua missão de reunir as lideranças, coordenar ações institucionais e políticas, elaborar e executar o planejamento estratégico do setor, além de representá-lo perante as autoridades setoriais e governamentais, a Confederação se reinventa e busca a modernização em todos os sentidos. “A nova identidade visual integra um processo de mudança para todos nós. É um novo tempo para o mercado de seguros brasileiro e é fundamental que esta união permeie cada vez mais as nossas ações”.

contas à sociedade no setor. A intenção deste documento é demonstrar a importância do seguro para a sociedade e a economia do Brasil. A publicação lista os programas sociais apoiados pelo setor, como atendimento a crianças carentes, capacitação de menores e ações de defesa do meio ambiente, entre outros. Além das

iniciativas sustentadas por 80 empresas do mercado, vale lembrar que as seguradoras devolveram à sociedade 66,54% do total de R$ 134,16 bilhões arrecadados em prêmios em 2020 – 7,33% a mais que no ano anterior – na forma de indenizações, pagamento de benefícios, resgates e sorteios.

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“ A nova

identidade visual integra um processo de mudança para todos nós. É um novo tempo para o mercado de seguros brasileiro e é fundamental que esta união permeie cada vez mais as nossas ações

Solange Beatriz


Palestra Judiciário

Regras mais claras minimizam ações na justiça tem ação na justiça. Muito em breve será um em cada três, já que renda e escolaridade refletem diretamente no número de ações na justiça”, previu Falcão. Segundo ele, um dos fatores que mostra a expansão do Judiciário é o crescimento da regulação de todas as atividades – e quem mais contribui para isso são as agências reguladoras. Como crescer com esta tendência de regulação?”, questionou, provocando uma reflexão.

Consumidor mais consciente torna-se mais exigente com seus fornecedores

O

“ Hoje, um em

cada quatro brasileiros tem ação na justiça. Muito em breve será um em cada três, já que renda e escolaridade refletem diretamente no número de ações na justiça

Joaquim Falcão

mundo mudou e cada vez mais vivenciando a era do consumidor. Prova disso foi a edição do Código de Defesa do Consumidor, em 1990, e, cinco anos depois, a criação do Juizado Especial Cível, um recurso que tem levado o cidadão a reivindicar seus direitos. “O Juizado Especial Cível é o único integrante do Judiciário em que cresce o número de novos processos. Estamos vivendo a justiça do consumidor”. A afirmação é do professor de Direito e ex-membro da Corregedoria Nacional de Justiça Joaquim Falcão, em palestra na 5º Conseguro. Esse novo perfil do consumidor, mais exigente e mais atento aos seus direitos, muda também a estrutura de poder do século 21, cujo principal poder será do Judiciário. “Hoje, um em cada quatro brasileiros

Ônus da prova

gabriel heusi

Por KARIN FUCHS

O Código de Defesa do Consumidor, diferentemente do passado, inverteu o ônus da prova, que hoje é do fornecedor. Por precaução e respeito ao consumidor, afirmou Falcão, cabe aos fornecedores serem cada vez mais claros com seus clientes. “Muitas reclamações que chegam aos Procons poderiam ser evitadas, se as empresas prestassem mais informações aos seus consumidores. Consumidor que compra de forma mais consciente cumpre o seu papel”, conclui. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), para cada 1 ano a mais na escolaridade média da população de um estado, aumenta a demanda por serviços judiciários em 1.182 casos novos/100 mil habitantes/ano. Já uma redução de 1 ponto no percentual de pobres na população de um estado, aumenta a demanda por serviços judiciários em 115 casos novos/100 mil habitantes/ano. •

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Estandes

A

Funenseg: a Escola Nacional de Seguros teve dois estandes no evento. O primeiro espaço informava sobre cursos e publicações da instituição, e o outro permitia aos congressistas navegar pelo portal “Tudo Sobre Seguros”.

Seguradora Líder DPVAT: lançou a 1ª edição dos boletins estatísticos trimestrais com informações sobre indenizações pagas e perfil das vítimas de acidente de trânsito. A iniciativa visa contribuir para estudos de prevenção de acidentes e de educação no trânsito.

realização da Conseguro, evento bienal organizado pela CNseg, tem o objetivo de discutir temas estratégicos para a expansão do mercado segurador e do País. Nesta quinta edição, a conferência contou com patrocínio de entidades de peso do setor – sem o qual todos os esforços dos organizadores não alcançariam o almejado êxito –, que montaram estandes na área de circulação do evento, divulgando informações para o público e exibindo vídeos institucionais.

IRB Brasil-Re: a pausa para o cafezinho foi a aposta do estande. Os diferentes tipos de café oferecidos renderam ao IRB novos contatos para futuros negócios. Quem visitava o espaço também podia deixar depoimentos e impressões sobre o IRB e a Conseguro.

Fenacor: apresentou vídeo institucional com detalhes da organização do XVII Congresso Brasileiro dos Corretores de Seguros, que acontece em novembro, além de distribuir pendrive e folder com informações sobre o Código de Ética.

CNseg: disponibilizou a edição 2010 do Informe Anual e do Balanço Social e exemplares do livro “Santa Marta, o morro e sua gente”. Também distribuiu folder e exibiu um vídeo institucional sobre a Central de Serviços e Proteção ao Seguro.

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fotos júlio fernandes/ ag. full time

Espaços exibiram vídeos e divulgaram informações do setor


Seguros de Saúde

O conhecimento é essencial para a cura de doenças Ex-deputado americano defende a necessidade de se fomentar a pesquisa sobre doenças mentais, incluindo Alzheimer, autismo e câncer Por LENIR CAMIMURA

E

mpenhar esforços, tecnologia, recursos e conhecimento em prol do desenvolvimento e acesso à saúde são premissas para atingir os desejos do consumidor do futuro. Com este raciocínio, o palestrante do painel “Seguros de Saúde para o Consumidor do Futuro – O desafio do acesso à saúde”, o exdeputado americano Patrick Kennedy, descreveu a necessidade de se fomentar a pesquisa sobre doenças mentais, incluindo Alzheimer, autismo e câncer, entre outras. Filho do ex-senador Ted Kennedy e sobrinho do ex-presidente americano, John Kennedy, Patrick cresceu sob os holofotes da política e da vida pública, o que o levou a se tornar um dos parlamentares mais jovens dos Estados Unidos, há 21 anos. No entanto, contou que enfrentou problemas sérios com o alcoolismo, depressão e com um quadro de bipolaridade – e afirmou que os problemas mentais fazem parte de sua genética. O pai dele, por exemplo, morreu por

causa de um câncer no cérebro, e outros parentes desenvolveram doenças como Alzheimer, demência e síndrome de Down. Patrick Kennedy também acredita que os vícios são resultados de um problema cerebral, mas que podem ter cura. Enquanto estava no Congresso americano, Kennedy defendeu a Saúde como um direito civil. Agora, depois de 21 anos de carreira política, ele não concorreu à eleição, alegando que sua prioridade é se tratar e buscar recursos para investir em pesquisas sobre o funcionamento do cérebro. “O ideal é que a tecnologia e a informática sejam utilizadas como recursos para encontrar a cura para as doenças mentais”, disse.

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júlio fernandes/ ag. full time

Como combinar vontades infinitas e recursos finitos

“O ideal é que

a tecnologia e a informática sejam utilizadas como recursos para encontrar a cura para as doenças mentais

Patrick Kennedy

O presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano - que coordenou o painel que contou com a participação do deputado federal Darcisio Perondi, presidente da Frente Parlamentar da Saúde; e do diretor da FenaSaúde, José Cechin – ressaltou que algumas transições sociais têm ocorrido nos últimos anos, como reflexo do avanço tecnológico, que tem levado à longevidade da população. Estas transformações culminam na mudança da relação entre médico e paciente, não apenas pelo acesso, mas também pela consciência do consumidor sobre sua própria saúde e o poder de escolha do melhor tratamento. Neste sentido, descobrir qual o desejo do consumidor do futuro e combinar as vontades infinitas aos recursos finitos se torna o maior desafio para o setor.

Valor emocional Segundo ele, com a transição epidemiológica – diminuição nos casos de doenças infectocontagiosas, em contrapartida ao aumento nas doenças crônicas – é possível recorrer a um tratamento com uso de baixa tecnologia e custo. Para isso, Kennedy defendeu o uso de um tratamento domiciliar, por exemplo, que agrega valor emocional e ainda reduz os custos. Nos EUA, menos de 20% da população recebem esta atenção no final da vida. “É um insulto que uma doença faça alguém se preocupar em criar os filhos e em não falir

O deputado Perondi apresentou dados do Sistema Único de Saúde (SUS), e defendeu o fortalecimento do sistema de Saúde com a parceria entre os braços público e privado. Ele ressaltou que existe uma ‘crise real’ na saúde que deve se acentuar, uma vez que não há recursos suficientes para manter a atenção básica. José Cechin lembrou que a mudança demográfica precisa de soluções para serem aplicadas antes dos próximos 20 anos, quando o envelhecimento da população deve chegar a níveis ainda maiores. Para isso, é preciso reduzir a dissonância entre o perfil de renda e custo, uma vez que a solidariedade entre as gerações está ameaçada. Para garantir o acesso à saúde, no futuro, uma das propostas é ser previdente.

porque precisa pagar um tratamento de saúde. O que se precisa é de um bom diagnóstico para evitar gastos com problemas que as pessoas não têm”, afirmou. Segundo ele, é preciso dar segurança às pessoas de que o melhor tratamento está no hospital local. Desta forma, cria-se um sistema melhor e evita que as pessoas se afundem em dívidas para se tratar. “Para se investir em uma economia, é preciso se sentir seguro; e isto só acontecerá na saúde, quando houver uma base de dados que consiga antecipar uma epidemia ou melhorar a assistência à população”, concluiu. •

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INFORME ADICIONAL

Envelhecimento causa aumento de doenças crônicas A cada dia, descobertas científicas criam vacinas e formas de controlar doenças, antes consideradas letais

U

Por LENIR CAMIMURA

“ O sistema

privado, não é não pode ser considerado como concorrente do SUS. (...) não há uma divisão de trabalho. Há, ao contrário, uma necessária convergência

Marcio Coriolano

m dos resultados do aumento da longevidade da população brasileira é a mudança no perfil epidemiológico. O avanço tecnológico, que fez com que as pessoas vivessem por mais tempo, também trouxe a solução para muitas doenças infecto-contagiosas, reduzindo sua aparição. Em contrapartida, porém, houve um aumento das doenças crônicas, que estão diretamente relacionadas ao envelhecimento da população. Segundo dados do Ministério da Saúde, doenças como isquemia do coração, cerebrovasculares, neoplasias (câncer), doenças do aparelho respiratório e diabetes figuram entre as dez primeiras causas de mortes no Brasil. O último levantamento produzido pelo Ministério, para o estudo ‘Saúde Brasil 2009’, com dados de 2008, inclui ainda a violência – tanto no trânsito como as agressões físicas – entre as “doenças” que mais causam óbitos. A cada dia, novas descobertas científicas desenvolvem vacinas e descobrem maneiras de controlar doenças, antes consideradas

letais, como a Aids. Segundo o presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Márcio Coriolano, a Aids hoje é uma doença absolutamente controlada e, de letal, tornou-se uma doença crônica. “A transição epidemiológica realmente é algo impressionante. Antes muitas doenças eram absolutamente letais, mas hoje as pessoas podem se tratar e controlar seus riscos”. Para ele, estas medidas fazem parte do desenvolvimento da sociedade, que busca melhores condições de existência. “Podemos imaginar que, daqui para frente, outras tantas doenças que hoje são letais podem deixar de matar. É possível que se descubra a cura do câncer, mas já existem tratamentos que trazem de volta à vida mesmo as pes-

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soas em situação limite, ainda que por um tempo restrito. Quem sabe daqui a algum tempo não estaremos tratando e considerando o câncer como doença crônica?”. Márcio Coriolano lembrou, no entanto, que estes avanços resultam em um custo que pode se tornar impagável, caso não haja a definição de um limite de inovação tecnológica. “Esta não é uma discussão simples, mas também não é insolúvel”.

Prática da prevenção

“ É preciso

conscientizar as pessoas sobre a importância de se envolver em programas preventivos, quer seja ele uma mudança de hábito, quer seja uma campanha de vacinação

divulgação

Martha Oliveira

Aliadas ao desenvolvimento tecnológico estão as medidas preventivas. A simples mudança de hábito das pessoas, adotando medidas saudáveis como boa alimentação, prática de exercícios e redução do consumo de álcool e tabaco têm contribuído para controlar e evitar o agravamento de doenças crônicas. Campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde e pelo Setor de Saúde Suplementar incentivaram a promoção da saúde e a prevenção de doenças. A visita periódica ao médico e o monitoramento dos doentes crônicos foram estimulados tanto para as operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço de saúde quanto o próprio usuário. De acordo com a gerente geral de regulação assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Martha Oliveira, tudo que é prevenível tem incentivo. “A saúde passou de um estado epidemiológico para outro e é necessário trabalhar em conjunto para combater e controlar não apenas o diagnóstico da doença, mas também o estigma que o paciente passa a sofrer. Por isso, é preciso conscientizar as pessoas sobre a importância de se envolver em programas preventivos, quer seja ele uma mudança de hábito, quer seja uma campanha de vacinação”.

IOC/Fiocruz A prevenção por meio da educação da população é citada em documento

do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) como ferramenta primordial para controle das chamadas “doenças negligenciadas”, ou “doenças da pobreza”. A nota técnica do IOC/Fiocruz, enviada ao Ministério do Desenvolvimento Social para compor o programa Brasil sem Miséria, do Governo Federal, inclui uma série de doenças diagnosticadas entre pessoas de baixa renda, como tuberculose, sífilis, dengue, doença de chagas e vários tipos de verminoses. Segundo o Instituto, apesar de o quadro geral da saúde da população brasileira ter evoluído das doenças transmissíveis para as doenças crônicas, para algumas parcelas da população, as doenças da pobreza ainda têm relevância e somam-se às doenças crônicas. Segundo a avaliação do Instituto, para combater a miséria no País é preciso desenvolver uma política competente e eficaz de saúde. Para tanto, apenas as medidas de prevenção não serão suficientes: é necessário que haja uma ação multisetorial de enfrentamento global da pobreza e, consequentemente, das enfermidades que a assolam. No sistema de saúde, já há um esforço conjunto do setor público e privado para conscientizar a população a participar de campanhas públicas, como a vacinação, o combate a dengue e as mudanças de hábito, por exemplo. De acordo com a gerente da ANS, Martha Oliveira, “é preciso caminhar juntos”. Neste sentido, o Ministério da Saúde e a Agência têm desenvolvido campanhas em parceria, como o treinamento de médicos sobre como lidar com a dengue, além do incentivo ao parto normal. “O sistema privado, não é não pode ser considerado como concorrente do SUS. Aliás, a Constituição Federal estabelece que ele é suplementar, mas isso não implica dizer que há divisão de trabalho entre o SUS e o sistema privado, ou pelo menos não deve existir. Há, ao contrário, uma necessária convergência”, afirmou o presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano.

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Títulos de Capitalização

Novas estratégias para atender o consumidor do futuro Mercado deverá experimentar uma mudança na faixa etária de seu público, com maior presença de idosos e de mulheres Por VAGNER RICARDO

O

mercado de capitalização deve continuar ganhando musculatura nos próximos anos, mas precisa definir estratégias para atender ao consumidor do futuro e, em consequência, manter o tônus muscular. A mensagem é do economista Roberto Macedo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, ao apresentar palestra “Títulos de capitalização – sorteio e realizações dos tempos dos mil réis à era digital”. Ele destacou que o futuro da capitalização deve considerar a alteração no perfil do público, avanços tecnológicos e mudanças no comportamento de compra. No caso do consumidor, disse ele, o mercado deverá experimentar uma mudança na faixa etária de seu público, com maior presença de idosos e de mulheres. O público deverá ter maior escolaridade, tendo em vista a perspectiva de mais anos de estudo e, naturalmente, melhor qualificação. Nos próximos anos, as empresas de ca-

pitalização também devem se preparar para uma demanda mais acelerada proveniente do Norte e do Centro-Oeste do País, tendo em vista a contínua melhoria dos indicadores econômicos e sociais dessas duas regiões. “As novas estratégias comerciais precisam estar em linha com os avanços tecnológicos, o que significa estabelecer estratégias específicas para internet, usuários de i-pod, i-pad, por exemplo, incluindo-se aí as redes sociais e suas influências na decisão de compra”, explica Macedo.

Consumir e poupar De qualquer forma, pensando no consumidor do futuro, os estrategistas das empresas de capitalização terão de enfrentar o recorrente conflito entre consumir e poupar, oferecendo aos clientes produtos inovadores, novos canais de distribuição e um exército de agentes mais bem qualificado. Nessa altura, ele espera que o mercado tenha solucionado alguns problemas de comunicação com os consumidores – e destacou que dois pontos carecem de maior transparência. Um é a questão do valor nominal integral ou não resgatado. O outro se refere à probabilidade de premiação, que precisa ser mais bem explicada por meio de exemplos. Por fim, ele assinalou a importância de a informação ser simplificada, tendo em vista que hoje há prospecto de títulos com até 12 páginas de texto. O mercado de capitalização apresentou crescimento anual na casa de dois dígitos nos

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júlio fernandes/ ag. full time

últimos três anos, aproveitando-se da segmentação de títulos em quatro modalidades e da conjuntura econômica favorável. Roberto Macedo explicou que o mercado de capitalização apropria-se de dois públicos distintos. Um é formado pelo mercado que já existia antes de 2004, quando ocorreu um crescimento mais acentuado da economia, tornando esse público maior e mais fiel. O segundo grupo surge nos anos seguintes aos da estabilidade e tem relação direta com o aumento dos empregos formais, pois, indiretamente, o mercado de capitalização apropria-se da entrada de novos consumidores.

Carro-chefe Com bases em dados da FenaCap, Roberto Macedo afirmou que o carro-chefe das vendas ainda é o produto Tradicional, aquele que restitui o valor total dos pagamentos efetuados no fim da vigência do contrato. Atende ao público das classes B, C e D, tendo em vista os tíquetes cobrados para os mais variados bolsos, e responde por 80% do mercado. Já o Popular, que permite a participação do consumidor em sorteios, sem que haja devolução integral dos valores pagos no fim do contrato, está mais concentrado entre os clientes das classes C e D e detém um market share de 6%.

“As novas

estratégias comerciais precisam estar em linha com os avanços tecnológicos (...), por exemplo, incluindo-se aí as redes sociais e suas influências na decisão de compra

Roberto Macedo

Ainda há o Compra Programada, que atende a clientes das classes B e C, com dificuldades de obtenção de crédito ou de comprovação de renda. Este nicho busca possibilitar a aquisição de bens ou serviços ou o resgate do valor pago, com participação de 1% nas vendas. Por fim, o título de Incentivo, que é a nova vedete do mercado. Este produto é contratado por empresas e está vinculado a um evento promocional de incentivo ou de premiação, não havendo devolução integral do valor pago. Depois de responder por um faturamento de 7% e 9%, em 2008 e 2009, respectivamente, sua participação desses títulos deu forte salto no ano passado, pulando para 13% e a perspectiva é de que se consolide na faixa de dois dígitos também neste exercício. O debatedor Carlos Infante de Castro, da Sul América Capitalização, acredita que o Garantia de Aluguel, novo produto do mercado de capitalização, deverá ser a quinta modalidade regulamentada pela Susep mais à frente, dada sua forte demanda.

Propensão ao risco Para o economista, além da segmentação por produtos, o sorteio é um dos principais atrativos da capitalização. O especialista lembra que, na capitalização, as chances são infinitamente maiores que outras modalidades de jogos. De quebra, a capitalização atende à propensão ao risco, que é típica da natureza humana. Para ele, os planos que incluem sorteios atendem a duas características imutáveis das pessoas: o interesse pelo jogo ou sorteio e alguma disciplina para poupar. Neste ano, as vendas prosseguem elevadas. De janeiro a abril, a receita total alcançou R$ 4,16 bilhões, aumento de 14,8% sobre o mesmo período no ano passado. Já as provisões técnicas cresceram 14,5%, passando de R$ 15,64 bilhões para os atuais R$ 17,91 bilhões, segundo a FenaCap. A estimativa da federação é que o mercado feche este ano com um faturamento 15% maior do que o exercício anterior. •

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Seguro Garantia

Mercado tem como aportar os megaprojetos O setor de seguro garantia do Brasil teve a maior expansão nos últimos anos na AL Por VAGNER RICARDO

A

mais importante pergunta envolvendo o seguro garantia – e motivo de rusgas entre governo e mercado – acabou sendo respondida durante a 5ª Conseguro. Afinal, as seguradoras têm ou não capacidade para assumir os riscos dos megaprojetos de infraestrutura para as obras para a Copa do Mundo, Olimpíadas, Pré-sal e PAC? A notícia é tranquilizadora: as seguradoras estão sim capitalizadas e só utilizaram um

terço de seus limites até o momento. Em números, significa que há R$ 30 bilhões comprometidos de um total de R$ 90 bilhões de seguradoras e resseguradoras. “O mercado tem capacidade para aportar a grande maioria dos megaprojetos em estudo no País”, afirmou o presidente da JMalucelli Re, Alexandre Malucelli, autor da palestra “O sistema de garantias competitivas como processo de controle da eficácia econômica”, coordenada por José Américo Peón de Sá, assessor da Presidência da CNseg, com a participação de Luis Claudio Barreto, da Odebrecht Administradora e Corretora de Seguros.

Modalidades O dinamismo do mercado é evidente, tomando como base os números apresentados por Alexandre Malucelli para comprovar que o ramo vem ganhando corpo rapidamente

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Novas formas de contragarantias Na política de subscrição, alguns grupos criaram empresas de gerenciamento de risco, para acompanhar todas as etapas dos projetos, mesmo após a emissão das apólices

“O mercado de

seguro garantia brasileiro foi o que teve a maior expansão nos últimos cinco anos na América Latina, onde a taxa média de crescimento foi de 17% – no Brasil alcançou 44%

Alexandre Malucelli

Por ora, seis medidas são destacadas por Alexandre Malucelli, para atender à demanda crescente que se avizinha. Uma é o estabelecimento de contratos individuais de resseguros, para ampliar a capacidade das seguradoras e o escopo das coberturas. Na política de subscrição, destaca-se a iniciativa de alguns grupos criarem empresas de gerenciamento de risco, para acompanhar todas as etapas dos projetos, mesmo após a emissão das apólices. O aperfeiçoamento das chamadas colaterais é outra iniciativa destacada, que consiste na oferta de novas formas de contragarantias pelos empreendedores (usufruto, alienação, pledge) para que o

mercado possa apoiar mais fortemente seus projetos. A análise tipo stand alone é outra medida relevante, que foca toda a subscrição nos mitigadores e na blindagem do projeto, deixando ‘limites de operações’ dos patrocinadores dos projetos num segundo plano, que amplia a capacidade das seguradoras. Por fim, o cosseguro – agora uma alternativa muito usada pelas seguradoras para ampliar a capacidade e garantir os projetos – e o estudo da PML (Perda Máxima Provável), uma ferramenta para mensurar a real exposição de garantias de um projeto, cobrando preço sob medida para a necessidades.

nos últimos anos. Hoje, há cinco modalidades de garantias: financeiras, obrigações privados, obrigações públicas, concessões e judiciais à disposição dos clientes. ”O mercado de seguro garantia brasileiro foi o que teve a maior expansão nos últimos cinco anos na América Latina, onde a taxa média de crescimento foi de 17% – no Brasil alcançou 44%”. A relação entre sinistralidade e prêmio ganho também está entre as melhores da região. A taxa brasileira foi de 15% no ano passado, contra a média de 22%. Na República Dominicana, por exemplo, esse percentual alcançou 60%, o que, para Malucelli, deixa claro que a carteira exige qualificação dos operadores. Ele lembrou que também o Brasil experimentou uma severidade da sinistralidade em 1997 (85%), 1999 (107%) e 2005 (46%). De lá para cá, oscila entre o piso de 5% (2007) e o teto de 16% (2006). No ano passado, fechou em 11%.

Coberturas estratégicas Apesar do ritmo forte de crescimento, a arrecadação totalizou somente US$ 1,7 bilhão no ano passado, ainda que este ramo ofereça coberturas estratégicas para grandes obras, projetos e investimentos. É sinal também de que o melhor em termos de arrecadação estar por vir. Afinal, lembrou Alexandre Malucelli, o Brasil deverá aplicar US$ 1,2 trilhão em investimentos até 2022, incluindo aí o trem-bala (US$ 120 bilhões), ferrovias (US$ 78 bi), óleo e gás (US$573 bi), geração de energia (US$ 231 bi), portos (US$ 36 bi), aeroportos (US$ 12 bi), telecomunicações (US$ 60 bi), saneamento básico (US$124 bi), infraestrutura para a Copa de 2014 (US$ 17,7 bi) e obras para as Olimpíadas de 2016 (US$ 8 bi). •

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Encerramento

“Transição demográfica é oportunidade de crescimento” A quinta edição do Conseguro terminou em tom de otimismo e ânimo, trazidos por números apresentados por Eike Batista Por Lenir Camimura

O

empresário, que começou a vida vendendo seguros, ocupa hoje a 8ª posição no ranking dos homens mais ricos do Planeta, segundo a revista Forbes, e preside o Grupo EBX, que desenvolve e administra negócios nos setores de mineração, energia, logística, petróleo e gás e indústria offshore. Em sua palestra, ele apontou o bom momento econômico vivido pelo Brasil e seu potencial de exportação, tornando-o um local seguro de investimentos. Como estímulo ao empreendedorismo, Eike Batista apresentou suas empresas, sua forma de atuação, os investimentos e o retorno alcançado. Com uma vasta experiência no exterior, o empresário ressaltou a capacidade peculiar e espetacular do Brasil no cenário de infraestrutura e de recursos naturais. “Dos anos de 1980 a 2000, ninguém sabia se o Brasil ia dar certo ou não. Acho que mesmo depois

que o presidente Lula venceu as eleições, nós ainda tivemos mais uma crise, com o câmbio a R$ 4,00. Mas depois do primeiro mandato do presidente Lula, nós – eu, pelo menos –, tivemos certeza absoluta de que não tem melhor país no mundo para se investir, para alcançar o crescimento que vislumbramos no futuro, do que o Brasil”.

Cenário positivo O empresário ressaltou ainda o cenário positivo de empregos e um índice de exportação de 11% do PIB e disse que, além da estabilidade econômica, o País também está vivendo o auge de sua formação social que, com grande parte da população em idade ativa, registra um alto potencial de desenvolvimento. Segundo Eike Batista, há uma oportunidade de crescimento no País, que combina o bom momento econômico – um quadro bem diferente do observado há duas décadas. “É preciso aprender a pensar holisticamente, em 360º, para ver onde estão as necessidades e superá-las. E o momento que estamos vivendo não poderia ser mais propício. É hora de buscar excelência, tecnologia, superação e iniciativas que vão além das tendências. O brasileiro não tem cultura do risco ou das ações em longo prazo, mas é preciso investir no futuro, buscando sempre o melhor dos resultados”, concluiu.

Revista de Seguros – Edição Especial – 5a Conseguro – 56


“Ás vezes o resultado

dos debates não é o que o mercado gostaria, mas temos procurado ouvir, compreender e responder a todas as demandas

beneficiário para que possamos ser cada vez menos necessários como agência reguladora; a agência não pode ser autocentrada

Paulo dos Santos

Bruno Sobral

fotos júlio fernandes/ ag. full time

O painel de encerramento dos debates contou com a coordenação do jornalista George Vidor

“É preciso aprender a pensar holisticamente, em 360º, para ver onde estão as necessidades e superá-las. E o momento que estamos vivendo não poderia ser mais propício

Eike Batista

“Damos poder ao

Susep e ANS avaliam o evento Depois de dois dias de intensos de debate, os presidentes das Federações que compõem a CNseg fizeram suas observações finais, destacando a qualidade do evento, a importante sinergia dos setores que formam o mercado segurador, além de ressaltarem o cenário específico de cada segmento. Eles também afirmaram a importância da participação de parlamentares e das agências reguladoras nas discussões realizadas durante o encontro. O então superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Paulo dos Santos, afirmou que a Susep acredita muito no diálogo, inclusive com outros órgãos públicos e que, com o mercado, este relacionamento se dá com a formulação da regulamentação, seja através das Câmaras Técnicas ou do processo de audiência pública. “Ás vezes o resultado dos debates não é o que o mercado gostaria, mas temos procurado ouvir, compreender e responder a todas as demandas que surgem”. Já o diretor de Desenvolvimento Setorial da ANS, Bruno Sobral, disse que é preciso aplicar os conceitos de empreendedorismo também na carreira pública, de forma a agregar valor ao País. Para ele, a ANS tem feito um trabalho muito importante, regulando o lado da oferta e disciplinando o mercado de planos e seguros de saúde. Depois dos primeiros dez anos desde a criação da Agência, o órgão entra em uma segunda fase, na qual se prestigia o consumidor. “Damos poder ao beneficiário para que possamos ser cada vez menos necessários como agência reguladora”.

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Encerramento

A avaliação dos presidentes das Federações “Faço coro com os

demais: este evento superou todas as expectativas, em termos de excelência, temas e palestrantes. Houve uma inovação, mostrou este setor em perspectiva: não apenas as realizações ou posicionamento que ele tem, mas também os desafios que vêm pela frente. Como bons seguradores que somos, nada melhor que antecipar o futuro, para que possamos equacionar as questões adequadamente

Marcio Coriolano (FenaSaúde)

O aumento da longevidade, destaque no evento, foi abordado por um prisma empresarial positivo, com ênfase nos benefícios trazidos por uma maior parcela da população em idade ativa. Esta posição foi comentada por todos os presidentes das Federações que compõem a CNseg. Para eles, compartilhar as preocupações e vislumbrar soluções voltadas para a sinergia entre os setores, garantiu o sucesso do encontro.

“Foi uma injeção de ânimo e

entusiasmo, desde a apresentação do perfil demográfico e as oportunidades que nossa geração tem, nesse momento, para desenvolver o Brasil. O painel que eu coordenei, foi mais sombrio, falando dos riscos catastróficos, mas acho que é importante para nós, seguradoras, ter conhecido esta realidade. A densidade e a qualidade do evento nos levaram ao sucesso

Jayme Brasil Garfinkel (FenSeg)

“Sugiro que na próxima Conseguro

possamos fazer um balanço do quanto se conseguiu caminhar em direção ao que foi posto aqui. Além disso, faço uma reflexão em relação à logística: poderíamos agregar e capturar mais valor se houvesse uma busca de sinergia entre as empresas, em projetos comuns. Isto seria relevante, uma vez que construiríamos mais valor nos investimentos no Brasil Ricardo José da Costa Flores (FenaCap)

Revista de Seguros – Edição Especial – 5a Conseguro – 58

“Estamos

atingindo o nível da indústria, da mudança de patamar de crescimento do País. Observei também um debate intenso com os órgãos reguladores, que também estiveram presentes nos debates e isso é muito produtivo. Só poderemos crescer se fizermos este trabalho em conjunto com o governo. Canal, distribuição, regulação e as seguradoras – e isto foi conseguido aqui, com muito sucesso nestes dois dias

Marco Antonio Rossi (FenaPrevi)


Revista de Seguros – Edição Especial – 5a Conseguro – 59



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