O folclore somos nĂłs Roberta IbaĂąez Paulo de Camargo
SESI-SP EDITORA Versão original - 2016 Conselho editorial Paulo Skaf (Presidente) Walter Vicioni Gonçalves Débora Cypriano Botelho Neusa Mariani Ilustrações: Orlando Pedroso
UNIVERSIDADE DO OESTE PAULISTA - UNOESTE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA DESIGN GRÁFICO - 2018 REDESIGN LIVRO “Arca da mata, O folclore somos nós!”
LORRAN CASSIANO DA SILVA SANTOS LUIZ FERNANDO ESTEVAM ROTTA Orientação: Profª FERNANDA SUTKUS DE OLIVEIRA MELLO Profª MARIANGELA BARBOSA FAZANO AMENDOLA
Este trabalho não possui fins lucrativos VENDA PROIBIDA
O folclore somos nós
Roberta Ibañez e Paulo de Camargo Ilustração: Luiz Fernando Estevam Rotta Diagramação: Lorran Cassiano da Silva Santos
ste é um livro sobre todos nós: somos lendas brasileiras, as narrativas de nossa gente. Cada um de nós tem um jeitinho especial, mas o mais engraçado é que só existimos porque as pessoas contam a nossa história há muitos anos. Nós representamos um pouco de tudo o que as pessoas sentem: amor, amizade, esperança, raiva, medo, alegria... Somos frutos de quem já viveu aqui e chegaremos ao futuro, quando for a vez de vocês também contaremos belas histórias brasileiras para seus próprios filhos. Em cada cantinho do mundo, quando alguém ouvir falar de um de nós, logo saberá: isso é coisa de brasileiro! Assim, mergulhem de cabeça, sem medo ou preconceito, e aproveitem!
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Eu sou o mais conhecido dos mitos brasileiros. Quem pensa em saci, pensa em travessura, irreverência, molecagem, bom humor.
Alguma coisa sobre mim todos sabem: que eu sou preto como a noite, uso uma carapuça vermelha belezura, tenho uma perna só (que vale por duas) e ando sempre com um cachimbo pendurado na boca. Mau hábito, eu sei, mas fazer o quê... Nasci torto. Vivo nos bambuzais, onde fico pitando, e solto assobios compridos e assustadores. As pessoas não me veem, pois passo invisível por elas. Só percebem os meus redemoinhos de vento, levantando a poeira do chão, que fica rodando, rodando, como se fosse mágica. Vocês já viram, tipo assim, um carrossel repentino de papéis e folhas? Mas, modéstia à parte, há muito mais a descobrir sobre nós, os sacis. Como surgimos? Isso será sempre um mistério. Parece que viemos pelos navios negreiros, aquelas terríveis embarcações que traziam escravos ao Brasil. Mas ninguém sabe ao certo. Vou falar só do que eu tenho certeza! Diferente de alguns amigos do folclore, como o Curupira, um “bicho do mato", gosto de viver perto das pessoas. Afinal, é assim que me divirto, nas noites do sertão.
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Atribuem ao saci todas as artes: dar nós em crinas de cavalos e fazê-los correr pelas noites de lua cheia até cansarem. Dizem que desapareço com objetos só pelo prazer de ver as pessoas procurarem. Inventam até que jogo tições de brasa nos dorminhocos. Falam, ainda, que eu assusto os viajantes solitários, espanto o gado, apago a luz dos lampiões, deixando todo mundo no escuro. E mais: azedo o leite, faço gorar os ovos, queimo a comida... Tudo para ficar dando gargalhadas. Bem, que é engraçado é, não dá pra negar. Vamos combinar: eu faço mesmo tudo o que dizem. Tem gente que até me espera, e se vê alguma lambança que eu faço, logo pergunta: que é que você quer, saci? Eu vivo no espírito do tempo, nas histórias que as pessoas contam umas para as outras, de tataravó para bisavô, de bisavô para avô, de avô para pai, de pai para filho, de filho para os filhos dos filhos, e dos fi... Tá, eu sei que vocês entenderam.
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Não tenho medo de nada. Quase nada. Só não atravesso a água de jeito nenhum. Sou aquele que ninguém controla. Claro, a não ser que me prendam no rodamoinho de vento, jogando em cima de mim uma peneira ou um terço (de rezar), e depois tomem meu capuz mágico (ops, falei demais!) Ai faço o que me pedirem para tê-lo de volta. Qualquer coisa, qualquer coisinha. Afinal, é o meu capuz que me faz ficar invisível e conversar com os seres da natureza. Mas não é fácil conseguir... Até porque não é simples me achar. Eu sou um típico duende brasileiro. É, duende, como os das histórias de fadas. Mas só que nessa história não tem príncipes e princesas... Pelo menos não como nas fábulas. Somos os reis da imaginação os personagens feitos de sonhos. Este é o nosso reinado: as coisas do Brasil. E vou apresentar alguns do meu time, a começar pelo querido curupira, que está fazendo tanta falta nos dias de hoje.
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Prazer, eu sou o Curupira, ou melhor, o caipora, corupira, currupira... Ah, são tantos os nomes que me deram ao longo do tempo... Use qual Ihe parecer melhor. O Saci se acha, mas a verdade é que nos interiores do Brasil eu assusto gente ruim há muito mais tempo. Logo no início do Brasil, ainda em 1560, o Padre José de Anchieta já falava de mim, na linguagem lá daquele tempo: "É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios a que os brasis chamam corupira e acometem os índios muitas vezes no mato..." Tudo bem que não precisavam me chamar de demônio... Mas vá lá, ele ainda não me conhecia, o bom Anchieta, e não sabia que eu já estava prevendo o que ia acontecer por aqui: uma destruição danada de nossas árvores e dos nossos bichos, que eu vivo para proteger.
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Mas, começando, vou me apresentar. Até porque, diferente do Saci, eu não sou mesmo um pop star. Dá para entender... Primeiro porque não gosto mesmo muito de gente. Segundo, sabem... Bom, tipo assim, sou baixinho-orelhudopeludo-tenho-os-pés-virados-para-trás-e-ando-montado-num-porcodo-mato. Pronto, falei. Não que eu me envergonhe de ser desse jeito. Tenho é muito orgulho, mas as pessoas ficam muito assustadas quando me aproximo e logo saem correndo. Apavoro mesmo! Moro no breu da mata. Daí vem meu nome: na língua tupi, cai é mata, e pora, habitante. Caipora. Isso aí, sou eu mesmo, muito prazer. Mas, esperem... Vocês sabem como é a mata fechada? É bem diferente do que as pessoas imaginam. O interior da mata é escuro como a noite. Os raios de sol não atravessam as copas das árvores imensas. Tudo é muito úmido, quente, o chão é coberto de folhas, raízes, galhos. Há muitos insetos e raramente se ouvem bichos e aves. A mata é viva, e é preciso fechar um pouquinho os olhos para perceber que é um universo onde todas as coisas se encontram e se equilibram em harmonia. Mas aí vem o homem... E com ele as serras estridentes, o estrondo das árvores morrendo, arrastadas por correntes puxadas pelos tratores. Com os homens chegam as armas, os tiros, as flechas, a morte. Eu fico doido! Eu existo para proteger a natureza, e quando essas coisas começam a acontecer, o bicho pega. Não vou dizer o que eu faço, pois nas lendas só tem valor aquilo que se ouve de mim e aquilo que será passado para os outros, de boca em boca.
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Sei o que falam: que eu desoriento os viajantes que passam pelas matas e faço que se percam, atraindo-os com gritos semelhantes aos dos humanos. Em alguns lugares, dizem que sou capaz até de aceitar presentes e fazer tratos com os caçadores mas me vingo duramente de quem não os cumpre. Dizem também que não gosto de alimentos que levem pimenta e alho, que sou louco por fumo e cachaça. Sei lá, é tanta coisa... Mas se dizem deve ser verdade. Eu sei que gosto da minha vida. Ando pela mata no meio de uma manada de porcos selvagens, bicho brasileiro que parece o javali, com presas assustadoras. Pelas noites, cavalgo velozmente pela floresta, levantando aquele emaranhado de folhas, galhos e cipós, liderando a manada. Faço minhas mágicas, sabia? Sou também um tipo de duende, como o saci. Mas meus poderes não servem para fazer gracinhas. Ninguém ri do curupira! Eu garanto. Quando faço feitiços, é para ressuscitar os bichos mortos sem a minha permissão. Aposto que vocês já estão tendo uma ideia melhor do que é um curupira, não é? Viram? Aparência não é tudo. Isso vale até mesmo para um personagem do folclore. Agora, quando o assunto é a imagem, nem sempre é possível dourar a realidade. Tem lenda que nasceu cuspindo fogo... Não acredita? Pergunte para o Boitatá.
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Sssssssssshhhhhh. Quem falou de mim? Sim, sou uma cobra, por que? Quer saber que língua eu falo? Ora, a língua das cobras. Tem ai algum ofidiglota, ou seja, alguém que fale "cobrês"? 0k., essa não é uma história do Harry Potter... tsc, tsc.
O assunto aqui é o folclore brasileiro, não é? Аеее, moleque. Então, vamos conversar em português. Adoro folclore. Tenho tantos manos por aí. Vamos falar sobre mim! A começar pelo nome. Não tem nada a ver com boi, tá? É tupi: boi é cobra e tatá é fogo. Uma cobra de fogo. Sou das mais assustadoras criaturas do folclore: ando pelas matas, pelos pântanos, pelo cerrado serpenteando meu corpo incandescente, feito de um azul flamejante. Uhuuuu! Queimo, torro, inflamo, incinero para valer, para não esquecerem tão cedo. Mas não precisam ficar com medo, crianças. Eu só acerto as contas com aqueles que atiçam fogo nos campos e nas matas. Mas por que? Ora, essa também é uma forma de proteger a natureza. Os incêndios criminosos são uma das formas encontradas pelos humanos para transformar florestas em pasto, acabando com toda a
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vida que há dentro delas: bichos, filhotes, aves, flores, plantas, insetos. Ai mexeram comigo. Eu viro o fogo contra o incendiário, sacumé? Sssssshhhhhhh. Fora isso, não tenho muito mais a dizer. Pouco se sabe sobre boitatás! Nunca ninguém teve coragem de me entrevistar, rá, rá. Pena, eu ia ser um entrevistado quente... E não tem microfone à prova de fogo, acho... Mas todos sabem, pelo menos, que pertenço às criaturas de fogo e que sou uma força incontrolável e avassaladora da natureza. Ah, foi também o Padre Anchieta que escreveu sobre boitatás pela primeira vez, viu Curupira-de-pé-virado-para-trás? Ele disse, falando de um tataravô meu, querido Foguete: "Não se vé outra cousa senão um facho de fogo
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que se desprende dos pântanos e dos cemitérios queima sozinho. É tudo explicado pelas leis da Física, dizem... Pode acreditar nisso, se quiser. Eu estou em outra. Acenda um fósforo na mata e vai ver seu traseiro assar. Fui antipático? Sou um pouquinho mesmo, não nasci para humorista. Sou desse jeito, meio, como direi, fogoso. Então, vamos mudar de assunto. Querem falar de amor? Então, conversem com a lara. Vamos passar do fogo para a água. Agora fui engraçadinho. Rá!
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Sim, água... olhe para mim, estou lá no fundo. Você pode ver meus cabelos, meu rosto, e pode sentir uma vontade irresistível de mergulhar atrás de meus encantos. E então, o que pode acontecer? A vida? 0u a morte? Você só saberá se vier atrás de mim. Muitos dizem que eu, lara, não deixo nenhum homem escapar, e mantenho-os todos comigo, presos ao fundo insondável dos rios. 0 que eu sou? Uma sereia... lara, a sereia dos rios brasileiros.
Não, ninguém vê, ninguém ouve lara impunemente, sem deixar afundar na água o seu coração. Índios, sertanejos, caboclos da floresta vêm a mim docemente atraídos, como beija-flores diante do botão das plantas do igarapé... Mas, então, a paixão se torna um mergulho, um mergulho sem volta. Desço com meus pretendentes ao fundo das águas, pois quero-os para mim, todos, só meus. É um amor sem limites... Tenho tantos maridos esperando por mim, lá no fundo do rio, amarradinhos. Por que?
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Não sei, é assim que as pessoas me inventaram, no infinito dos tempos quando tudo o que os seres humanos sabiam passava de boca em boca como fios da memória. As sereias - mundo a que pertenço - já atraiam marinheiros e viviam no mar, na Grécia Antiga. Era um povo inteligente, mas o que pode o sábio diante do amor? Sou lara, brasileira, cheia de histórias para contar para quem quiser ouvir. Faço parte de muitas lendas, pois nasci no seio das tribos da Amazônia. Era a melhor em todos os campos, guerreira e bela. Mas tanta virtude, muitas vezes, atrai inveja, e foi assim que meus irmãos, enciumados da atenção dada pelo pajé, meu pai, decidiram me matar.
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Mas esqueceram que eu não era apenas bonita, mas também atenta, esperta e forte. Antecipei sua chegada e os matei, nada mais tinha a fazer. Não poderia ficar em casa e fugi, com o coração pesado, pois amava meu pai, que acabou me encontrando e me atirando nas águas amazônicas. Seria uma história muito triste se os peixes não tivessem dó e impedissem que me afogasse, transformando-me em sereia. Quer escutar meu canto? Venha para a margem de uma lagoa na floresta, ao entardecer. Você nunca me esquecerá, nunca esquecerá... Pensará no amor, que toma múltiplas formas, que recompensa, mas que também produz histórias tristes, como a de uma amiga... Ai, esta perdeu a cabeça... Pobre Mula sem Cabeça.
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Eu, mula e sem cabeça? A história não é bem essa. Eu sou uma mulher, não sou uma mula (bem, só às vezes), e tenho cabeça, sempre. Nas noites de quinta para sexta-feira, principalmente quando a lua cheia abre um olho grande no céu, eu me transformo em uma mula e solto fogo pela boca e pelas ventas. As chamas são grandes, fortes, espessas, ofuscam a vista dos que me veem. Talvez venha daí a história de não ter cabeça. Mas falam tantas coisas, más e boas, horríveis e belas...
Eu, a Mula Sem Cabeça Assim como todos os seres do folclore, sou formada pela trama das histórias que contam sobre mim em todos os cantos do país. Aliás, de outros países, também. Chego a percorrer sete cidades por noite com minhas ferraduras de prata. Minha fama alcançou México e Argentina, entre outros lugares. Mas por que corro tanto? Por amor. Sim, o amor. Quem nunca per-deu ou perderá a cabeça por paixão?
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Normalmente, eu sou muito tranquila, até bondosa, mas quando estou transformada... Saiam de perto, escondam as unhas e os dentes, pois é assim que sinto a presença humana. Alguns dizem que chupo os olhos, as unhas e os dedos das pessoas. Não digo que sim, nem que não... Como eu saberia, se não sou eu que conto as histórias sobre mim? Além do mais, não poderia lembrar de nada. Corro tão loucamente que não guardo detalhes. Fico fora do controle. Dizem que quando relincho o barulho é tão forte que pode ser ouvido por toda a redondeza. É mais uma prova de que cabeça eu tenho. Só que, talvez, não tenha dado ouvidos ao que ela me dizia... Você sempre faz o que pensa? Acho que não, ninguém é assim. Nem eu. Quando era uma mulher (fui uma bela mulher, sabiam?) sempre dei mais atenção ao coração do que à razão. Certa vez, conheci uma pessoa especial e me apaixonei perdidamente. Só que essa pessoa era o padre da paróquia perto de casa! Todo mundo sabe que padre não pode casar, não é?
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Eu admirava de longe aquele homem. la à missa, participava das quermesses e assim fomos nos aproximando, nos conhecendo... E, bem, ele também se apaixonou. Chegou até a deixar a igreja para ficarmos juntos, mas de nada adiantou. Dizem que essa foi a causa do mal que sofro até hoje. Desde então, não faço outra coisa a não ser cavalgar, cavalgar, cavalgar. Se alguém disser que a mula sem cabeça chora feito gente... É a mais pura verdade. Nessas horas eu choro muito de tristeza, e a tristeza se transforma em raiva por não poder mudar o que está feito. É tanta fúria que, às vezes, penso que tudo o que dizem por ai sobre mim acontece mesmo. Depois que a loucura passa e o dia amanhece, acordo só, nua, perdida, tentando recomeçar mais uma semana. Sei que existe uma solução para o meu problema, só não encontro quem tenha coragem para me ajudar. Quem arrancar o freio de ferro de minha boca enquanto estou transformada, quebrará a maldição - eu serei apenas uma mulher eternamente grata a quem me ajudou. Quer tentar? Tomara que sim. Mas todo cuidado é pouco, pois sou uma mula muito forte e não deixarei ninguém se aproximar. Nessas horas sou má, mas quase tão má quanto a cuca, aquela bruxa que vem pegar.
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Nana, neném, que a cuca vem pegar.. Ah, não existe nada melhor do que este verso para descrever quem sou. Quando escuto, tenho até vontade de dançar, dançar, dançar. Ri, ri, ri. Pouco se sabe sobre a família das cucas, mas essa cantiga de ninar diz tudo. Muitas canções antigas tentam ensinar as crianças a não desobedecerem a seus pais e ficarem livres dos perigos. Por isso, há muitos séculos, mamães e amas de leite cantam para as crianças essa doce melodia, que fala de quem, de quem? De mim! A Cuca.
Fiquei (ainda mais) famosa pelas mãos de um escritor danado de entendido em folclore, um certo Monteiro Lobato. Vocês conhecem, não é? Se encontrarem, me avisem, pois tenho umas contas para acertar com esse cara. Por que? Ora, por causa do livro dele passei o maior ridículo em um programa de televisão. Fui chamada para fazer... tipo assim, uma novela, cheia de gente bonita, povo que vejo por aqui todo dia - o saci, o lobisomem, a mula sem cabeça. Achei que ia abafar, pensei que seria a atriz principal. Mas esse meio artístico é pura ilusão.
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Uma boneca de pano foi a estrela do show e eu acabei fazendo papel de boba. Ah, mas o que ninguém sabe é que joguei um feitiço nas televisões, que foram emagrecendo, emagrecendo, até ficarem bem fininhas, parecendo folha de papel. Você já viu isso, também? Tecnologia nada! Bruxaria da boa! Fiz isso para pararem de falar que sou feia. Ah, façam-me o favor! Sou lindíssima, meus cabelos são longos e loiros, estão um pouco ressecados e sem brilho, desgrenhados, é verdade, mas, enfim... Meu rosto ainda preserva a beleza de minha juventude, meus dentes estão afiados, a boca, protuberante, as rugas trazem marcas de tudo o que já fiz. Minha pele é tão forte e dura que nada pode me machucar! Hum, talvez venha daí a história de eu parecer com um jacaré.
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Minha fama é tamanha que atravessa os continentes. Sou conhecida na África, Europa, América do Sul. Bicho-papão, Coco, Coca... Sou eu mesma. Todos esses nomes falam de mim. Até os índios na mata profunda temem meus poderes. Por isso, não pensem que me enganam! Na vida real, as crianças não me tungam. Esquecer? Não vão jamais! Por muito tempo, todos vão continuar sabendo quem sou ouvindo desde o berço meu hino nacional: “nana, nenê, que a cuca vem pegar...” Ri, ri, ri, ri... Portanto, crianças, façam pirraça, desobedeçam e me aguardem. Eu carrego um saco bem grande, e quando menos esperarem, Zás... A cuca já pegou. Não adianta chorar, pedir, procurar... Ninguém vai encontrar vocês, nem o Negrinho do Pastoreio.
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Bom, vou contar direito essa história. Só que antes tenho um pedido: não tenham pena demais, não se entristeçam muito com minha história, pois ela acaba bem. É verdade! Eu passei maus bocados, mas sempre tive proteção de uma madrinha muito especial, que me acalantava e confortava todos os dias e noites de minha vida. Eu sou órfão. Não tive pai, mãe, ninguém. Por isso, não me deram nome e chamaram-me apenas de Negrinho, em um tempo em que esse nome não representava nada de bom. Mas eu fazia parte de uma família especial: minha madrinha foi, desde que nasci, Nossa Senhora, a Virgem, madrinha de todos os que não tem ninguém.
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Meu antigo dono era uma pessoa sem coração rancorosa, que se divertia com o sofrimento alheio, e ensinou isso também ao seu próprio filho. Eu trabalhava muito para não desagradá-lo. Passava o dia pastoreando os cavalos, minha tropilha, cuidando de todos os animais com carinho e dedicação. Só que nada contentava aquele fazendeiro, que sempre achava motivos para me castigar. Certo dia, tivemos uma aposta na cidade... Ah, esperem! Esqueci de contar: eu sou do Rio Grande do Sul, tchêl Lá é tradição disputar quem tem o melhor animal e, infelizmente, o baio de meu dono, que eu estava montando, perdeu a corrida. Ele ficou tão nervoso que me obrigou a pastorear a tropilha por trinta dias sem voltar para casa. Após algum tempo de sol, chuva, vento, peguei no sono e perdi todos os cavalos. Quando ele descobriu, além do castigo obrigou-me a procurar os animais. Eu não poderia voltar sem que os encontrasse. Ah, não tive dúvidas. Acendi uma vela para minha madrinha, pedi sua ajuda e sai pelos campos. Cada gota de cera que caía acendia um pequeno ponto de luz... Foi lindo. Os campos dourados dos pampas ficaram iluminados como uma árvore de Natal. Dizem que os pontos de luz podiam ser vistos por muitos quilômetros, iluminando a pradaria e me ajudando a encontrar os cavalos. Que alegria! Estavam todos vivos e bem!
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Mas eu não contava com a maldade do filho de meu senhor. Assim que me distraí, ele soltou novamente os animais. Desta vez, o castigo foi tão severo e injusto que minha madrinha resolveu tirar-me dali e levar-me com ela. Meu dono, achando-me morto, deixou meu corpo em um formigueiro. Foi à toa, pois eu já estava são e salvo com minha madrinha; nenhuma formiga tocou em mim, a não ser para me consolar. Quem sofreu foi ele, ao ver que eu estava feliz e em excelente companhia. Eu sei que parece muita maldade, mas no final só serviu para que eu fizesse mais amigos além dos cavalos. Agora, três dias por ano, visito minhas formigas e tenho um lugarzinho para descansar das minhas eternas procuras. Sim, eternas procuras, pois todos os que acreditam em mim acendem uma vela e lá vou eu de novo! Não faço diferença de sexo, idade, raça. Todos somos iguais. Nossas diferenças nos tornam semelhantes. Viu? Como eu disse no início, não tenha pena de mim. Eu sou muito feliz! Nessas andanças fiz tantos amigos que sou, pelo menos acho, um dos mais queridos pelo povo. Na região Sul do Brasil, meu nome é conhecido em cada cantinho dos pampas. Opa, mais uma vela acesa, preciso ir correndo ver o que é... Ei, espera aí, parece o João de Barro me chamando de novo. Será que ele não acha a porta da sua casa? Ai, esse João... Por isso que ele tem essa fama de... Ah deixa que ele mesmo conta.
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Sei que você deve estar se perguntando: ué, pode um passarinho ser uma lenda? Claro que pode! No folclore há muitas histórias sobre aves, plantas e animais que são seres humanos transformados pelos deuses. O uirapuru passarinho que canta tão bonito que os outros bichos param para ouvir, a vitória-régia e a mandioca são alguns exemplos. Já foram pessoas, guerreiros, mulheres apaixonadas e agora.
Pois eu também já fui gente, mas hoje todos me conhecem, na cidade e no campo, como uma ave irrequieta, trabalhadora... Sou da cor da terra, ando pelo chão com passos apressadinhos e sempre que estou com minha parceira faço um grande barulho de alegria na porta de nossa casinha de barro. Sou um pássaro obreiro, caprichoso e muito feliz com minha família, apesar do que dizem - que prendo minha esposa em um quarto e fecho com uma parede de barro. Nada disso. Vou contar a história do começo. É tão linda que passou a fazer parte do folclore.
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Eu não era ave, era homem. Desde o início, eu lutei muito pela mulher que amo. Éramos de uma tribo indígena do Sul do país. Ela era a índia mais linda de que já se teve notícia. Quando a vi pela primeira vez, meu coração quase parou de bater. Eu havia de conquistar o coração daquela moça, que tantos pretendentes tinha. E para minha surpresa, não é que fui eu o escolhido? Que felicidade! Só que minha alegria durou pouco, pois eu precisava convencer o pai da moça, homem severo, a me dar a mão de sua filha em casamento. Talvez por medo ou por inexperiência, demonstrei arrogância no pedido e prometi passar nove dias sem água nem comida para merecer sua mão. Fui embrulhado, literalmente, em pele de animais e passei a ser vigiado para que ninguém me alimentasse. Claro que isso não ia dar certo.., Lá pelo quinto dia, percebi que o negócio ia ficar feio. Para surpresa de todos (e minha também), quando o nono dia chegou, vieram me desembrulhar e eu estava lá, vivinho da silva. Quer dizer, achei que estava. Tentei falar e da minha boca só saiu um trinado de ave, alegre e forte. Quanto mais eu tentava, mais alta ficava a cantoria e meu corpo começou a mudar: apareceram penas no lugar da pele, asas no lugar dos braços, bico no lugar da boca. Quando dei por mim, estava me transformando em um pássaro. Foi desesperador! Para minha surpresa, a donzela que eu tanto amava, não sei se de amor, ou apenas por piedade divina, também se transformou em um pássaro! Minha linda fêmea!
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E esta é nossa história. Aqui estamos nós, unidos e felizes, mas tendo de lidar com maledicências de pessoas invejosas. Ah, isso me tira do sério. Eu passo os dias carregando barro pra cima e pra baixo, fazendo o mais belo ninho jamais visto, e tem gente dizendo que, além de ser traído por minha esposa, tenho sangue-frio de prendê-la em casa para sempre. Mas o que é isso, gente? Bem, mas histórias são histórias, cada um tem a sua versão. A minha é esta: estamos bem e felizes, obrigado. Talvez os hábitos do João de Barro confundam um pouco as pessoas. Somos de natureza trabalhadora e perfeccionista. Cada vez que um ninho fica pronto, eu quero fazer outro melhor. Assim, abandonamos o antigo. Nas matas, nossas casas vazias são aproveitadas por abelhas, que fazem sua colmeia lá dentro e lacram a entrada com cera, pois precisam de uma abertura bem menor para entrar e sair. Ah, mais uma coisa: em vez de prestarem atenção na vida alheia, acho bom que reparem no que está acontecendo em nossa volta com a natureza. E rápido, pois daqui a pouco ninguém dará jeito nisso, nem que todas as mais belas donzelas se transformem em pássaros, árvores flores, como aconteceu com minha amada ou com a indiazinha Naia... não é, Naiá?
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Comigo não foi diferente. Sou guerreira, alguns dizem que fui uma princesa, filha do cacique; outros dizem que fui a mais bela donzela já nascida na tribo, mas sempre lutadora e obstinada! Conta uma lenda, mais antiga do que tudo de que se tem notícia que a lua (Jaci, na minha língua) escolhia as mais belas e corajosas donzelas para levar para trás das montanhas quando se escondia, transformando cada uma delas em uma estrela linda e brilhante. Bom, eu era linda, corajosa e donzela, claro que seria a próxima escolhida! Esperava a chegada da lua cheia com muita ansiedade. Cada vez que Jaci brilhava no céu escuro, eu corria para a montanha mais alta e esperava, esperava... Mas, para minha decepcão, nunca fui levada. Meu pai, os pajés, os guerreiros, todos de minha tribo tentaram me convencer do contrário - tentaram mostrar que não seria nada bom ser um ponto de luz em vez de ser mulher, mãe, esposa do mais forte guerreiro da aldeia. Só que tentar trazer um pouco de juízo para quem
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tem um coração tão apaixonado de nada adianta. Lembro-me de passar dias sem comer, sem dormir, só esperando, sonhando, planejando minha vida como um belo ponto de luz. Neste ponto da história, as coisas ficam um pouco confusas para mim. Então, vou contar o que ouvi dizer por aí, pois minha história é tão linda e, segundo dizem, tão comovente, que muitos conhecem, contame recontam a todos os que querem ouvir. Um dia, cansada de tanto esperar, desci a montanha correndo e chorando. Eu já estava fraca, sem me alimentar direito, sem cuidar de minha saúde e, talvez por isso (ou porque era meu destino mesmo), imaginei o que não exista. Ao chegar à beira do rio, encontrei meu grande amor! Lá estava a lua me esperando, linda, brilhante, tão perto de mim. Eu devia ser mesmo muito especial para que ela se aproximasse tanto! Fiquei cega, fiquei louca de alegria. Corri, corri, corri, mas quando vi que estava enganada era tarde. Era apenas o reflexo na superficie de um lago profundo
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Eu me afoguei. Vendo tudo, como sempre, a lua, com pena de meu sofrimento e para recompensar tamanho sacrifício, me transformou em um lindo ponto branco -mas não um ponto de luz, como eu esperava. Fui transformada em uma encantadora flor, que durante o dia é rosada e, à noite, sob a luz do luar, fica branca e perfumada. Um ponto brilhante no lago escuro! E como todos os seres mágicos, filhos da natureza e da imaginação, sou muito especial, muito doce, amada e querida. Mas não pensem que tudo o que é branco é assim, tão poético. Dizem que existe uma moça de branco tão assustadora... Proteja-me, Jaci
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É meia-noite e faz silêncio. A lua brilha azul no . céu. Um cachorro late e logo foge ganindo. . O ar fica estranho, como se de repente ficasse .sólido, na escuridão da noite. Meu corpo brilha, branco, como meu vestido, como meu rosto. Sou eu, sou eu. Mostro meu rosto, e todos ficam pálidos de pavor.
Eu, a moça de branco. Um nome tão simples, que esconde um destino terrível. Sou um espírito que vaga à meia-noite pela beira das estradas. Uuuuuu! Peço companhia, peço carona, peço a alma de homens solitários que encontro pelo caminho. Dizem: quem conta um conto aumenta um ponto. É a mais pura verdade, ainda mais em se tratando de contos de terror. Eu até assustei você um pouquinho, né? Calma, .também não é para isso tudo... Em todos os lugares escutamos que alguém me viu ou ..ouviu, ou pelo menos conhece alguém que jura que me viu ..ou ouviu.. São tantas histórias e tantas versões diferentes!
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No México sou conhecida como La Llorona; nos Estados Unidos, sou Bloody Mary; mesmo aqui no Brasil tenho vários nomes: mulher da meia noite, dama de branco, moça de branco. Sou conhecida até na Europa. Muitas versões da minha história corre os quatro cantos do mundo. Na verdade, eu sou o que querem que eu seja. Como as pessoas gostam de história de terror, pronto, sou um prato cheio. Chega de divagações, vamos ao que interessa! O mais provável é que, se você estiver viajando em uma estrada escura e deserta, a meia-noite, eu apareça e peça carona. Muito cuidado, não se deixe enganar. Pareço bela e inofensiva, mas meus beijos e abraços são de matar! Quando chegarmos ao meu destino, fique de olho, geralmente paramos no cemitério mais próximo. Neste momento, torça para que eu apenas suma, desapareça… Em hipótese alguma entre comigo… Não me responsabilizo pelo que possa acontecer. Depois de conseguir carregá-lo para dentro, ninguém poderá salvar você!
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De onde vim? Da mente dos seres humanos, que estão sempre cheias de histórias. Uns dizem que morri em um acidente de caminhão; outros, que perdi a vida depois de ser deixada no altar por meu noivo. Há quem jure que assassinei meu marido, meus filhos. Outros falam que me matei. São sempre histórias de gelar o sangue, mas... Sei lá, também não levem tudo muito a sério, não. Se quiserem falar de mim. prefiro que continuem me chamando de uma boa história de folclore. No fundo, somos todos feitos de lembranças, de sonhos, de imaginação. Por isso, viajamos pela vida das pessoas, de fogueira em fogueira, de história em história. É um universo fantástico, de uma riqueza inimaginável. E me lembra muito uma história que ouvi, de um deus chamado Macunaíma, vocês o conhecem?
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Eu? Quem sou eu? Difícil dizer. Os índios macuxis e outros, que ficam em Roraima, no Norte do Brasil, me conhecem bem... Na verdade, outras tribos indígenas contam minha história, não só no Brasil, mas em muitos lugares do mundo. Para eles, sou como um deus, que criou primeiro os bichos depois o homem, a mulher, e por fim mandou um dilúvio sobre todas as coisas.
Sou capaz de fazer mágicas, maldades, travessuras; morro, renasço, sumo, apareço, crio, destruo, transformo inimigos em pedra, em cera, em barro. Sou bom e malvado, namorador, preguiçoso (ai, que preguiça!), astuto e traiçoeiro, feliz! Foi ouvindo minha história que um grande escritor brasileiro, chamado Mário de Andrade, encontrou inspiração para escrever um livro de que todo aluno ainda vai ouvir falar. Leva meu nome: Macunaima. Que livro legal! Mário - chamo assim porque já somos íntimos - usou a minha lenda para fazer uma viagem pela cultura de um Brasil que ainda se inventava. Você sabe, não é, que a história do Brasil é contada como se os portugueses tivessem “descoberto” o Brasil? Mas como alguém descobre algo que já existia?
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Pois meu Mário - está bem, nosso Mário conta a história a partir do ponto de vista dos povos que já viviam aqui. Nas minhas viagens, em busca do amuleto muiraquitã, que ganhei de minha amada, muitas coisas acontecem. É uma história sobre o maravilhoso, e por isso não há fronteiras de tempo ou espaço. Viajo em um passo por todos os cantos, pelos rios, pelas histórias, falo de todos os pratos, das cantigas, das parlendas, tudo misturado como é a cultura. Sim, Mário sempre foi um homem muito culto, mas defensor da sabedoria do povo. Foi dos primeiros a estudar profundamente o folclore, pesquisou músicas, histórias, criou revistas e reuniu pessoas que estudavam nossa cultura, pois naquele tempo muitos se perguntavam: afinal, qual é a cara do Brasil? Quem é o brasileiro? Um cara incrível, o Mário: músico, poeta, escritor, ensaísta, funcionário público cheio de ideias, crítico de arte, um dos inventores da Semana de Arte Moderna, que mudou a cultura brasileira há quase 100 anos.
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Ah, uma coisa importante: muita gente diz que Macunaíma é o herói sem caráter, e fala isso com a boca cheia, no mau sentido, de quem não presta, é trapaceiro e vagabundo.... Olha, não é bem assim, viu? O que Mário apresenta é um herói contraditório, símbolo de um povo que ainda estava à procura de sua identidade e precisava resgatar toda a sabedoria que já nos pertencia. Aliás, folclore tem tudo a ver com identidade, sabiam? São as histórias, tradições, músicas, comidas, hábitos, rezas, danças, modos de falar, enfim, é a cultura espontânea que passa de geração em geração que tece o fio infinito que liga um povo, uma nação. Aqui nós conhecemos a história de alguns personagens famosos, mas o folclore é muito, é muito mais. O folclore, meus amigos, somos todos nós!!!
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Eu sou a Roberta, mas pode me chamar de Rô. Se você é criança, já somos grandes amigos. E, se leu as histórias deste livro, agora me conhece também. Um pouco de mim vai em cada uma. Arteira, como o saci; defensora radical do ambiente, como o curupira; perfeccionista, como o João de Barro; romântica (ai, romântica...).como a Naiá. E tenho meus instantes de boitatá. Quem não tem? As lendas possuem este dom: falam um pouquinho de nós e nos colocam em contato com a natureza de todas as coisas. E natureza é mesmo comigo! Moro ao lado da maior reserva natural de São Paulo, a Serra da Cantareira. Quando não estou lá, vocês podem me encontrar nas trilhas e nas praias de llhabela - eu, meu amigo Sol, minha amiga Lua (e minhas duas estrelas inseparáveis, Juliana e Mariana). Só quem fica em silêncio total, pisando na terra, olhando para o céu profundo, ouvindo os sons inexplicáveis da mata e o murmúrio da água, sondando a alma das flores, consegue perceber como é misteriosa e bela a vida. A natureza que mais me apaixona, entretanto, é a humana... Quando pequena adorava ouvir histórias: de meus avós, de meus pais, de qualquer um que queria contar. Estava sempre acompanhada de um livro. Meu pai, mais do que ninguém, incentivava este prazer comprando, emprestando, deixando uma boa leitura ao meu alcance. Assim trilhei o caminho das Letras e da Literatura. Fui professora de Português, coordenadora e hoje sou diretora de uma escola de São Paulo (ah, escrevo livros didáticos de Inglês também). Respiro crianças e adolescentes todos os dias. É essa energia da escola, do pátio, da vida de vocês que me move e me faz querer fazer coisas cada vez mais legais, como este livro. Boa leitura, galerinha!
Se eu fosse um personagem do folclore brasileiro, seria o saci. Brincalhão, cheio de manhas, do tipo bicho besta que apronta só pra ficar rindo sozinho. Quando criança, andava pelos campos do interior de São Paulo fazendo tudo o que um saci faria. Marmanjo, ainda faço minhas reinações. Ainda outro dia, escondi uma aranha de plástico no computador da Paula, minha filha, só para ouvir o berro... Já Mathias, o mais novo, sofre quando resolvo escovar o seu nariz e as bochechas com pasta de dente. Adoro folclore desde que descobri todos os livros de Monteiro Lobato, na biblioteca do Circulo do Livro, em Sorocaba. A partir daí, foi um passo para a mitologia e para as lendas contadas por todos os povos. Gosto muito de contar histórias, e mais ainda de ler e de ouvi-las. Acho que é tudo verdade. É só questão de contar direito. Por isso, depois que cresci (cresci?), virei um contador de histórias reais. Tornei-me jornalista E como jornalista descobri que não há nada mais fantástico do que a vida das pessoas. Agora, como escritor, penso nas pessoas e naquilo que as move, no que acreditam e naquilo que nos torna o que somos: gente. E, no caso deste livro, gente do Brasil. Pronto, estou apresentado. Ainda vamos aprontar muito juntos Quando quiserem aprender uns truques da hora, é só me escrever.
Se este trabalho tiver ocorrido tudo bem, então agora podemos dizer que somos designers.
Cada um de nós carrega na lembrança costumes e tradições de seu povo, que podem ser contos, lendas, canções, danças, artesanato e brincadeiras de criança. Esse conhecimento faz parte da identidade, do “jeito de ser”de um povo e também da identidade de cada um. Este livro apresenta ao leitor alguns personagens do folclore brasileiro. Quem conduz a narrativa é o mais conhecido deles: O saci! A arca da mata - O folclore somos nós contém as lendas do Curupira, do Boitatá, da Iara, da Mula sem cabeça, da Cuca, do negrinho do pastoreio, do joão-de-barro, da Naiá, da Moça de Branco e de Macunaíma.
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