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Quem são as empresas de internet no Brasil
O crescimento dos acessos à internet no Brasil é puxado pelo que se convencionou chamar de ‘pequenas prestadoras’. No linguajar da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), isso significou até agora aquelas empresas com menos de 50 mil clientes. Esse conceito, no entanto, está mudando para considerar ‘pequenas’ todas as que detenham menos de 5% do mercado, o que em números atuais implica 1,5 milhão de acessos. Mas qualquer que seja o conceito adotado, uma realidade se impõe: trata-se de um universo com diferenças grandes demais para ser abarcado por um único critério.
O alarme foi soado pela Abranet, que, convidada pela Anatel para discutir esse segmento específico, apresentou um retrato detalhado. Ao destrinchar o mercado, a Abranet mostrou que dos 6.043 prestadores de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) com registro na Anatel, 1.369 não têm qualquer acesso, 1.132 somam no máximo 100 clientes, enquanto outros1.622 somam de 100 a 500 conexões. Ou seja, no mundo dos pequenos provedores, 68% atendem no máximo 500 clientes. Outros 29%, ou 1.747 deles, contam até 5 mil acessos. Vale dizer que 97% dos pequenos estão aí, com no máximo 5 mil clientes.
“Vemos empresas que trabalham com micromercados, microrregiões. Quando falamos de uma empresa que tem 50 acessos, é alguém que está num pedaço de bairro, pode ser até em um único prédio. São tipicamente operações de nicho totalmente dependentes dos grandes fornecedores. Dificilmente serão elas que vão construir backhaul ou redes de fibra óptica”, adverte o consultor da Abranet Edmundo Matarazzo,responsável pelo perfil do setor apresentado à Anatel.
São negócios de oportunidade. “O que leva esses empreendedores a atuarem com telecomunicações é a identificação de nichos. Na maioria são empresas de TI ou internet, que por alguma razão resolvem colocar também infraestrutura de telecomunicações, estimuladas por enxergarem nichos onde o suporte à venda de banda larga não existe. É muito comum regiões dentro de uma cidade em que o serviço tem velocidades muito baixas, 1 Mbps, 2 Mbps. E isso acaba gerando essa oportunidade de oferta de serviço de melhor qualidade.”
Vistos no conjunto, parecem ser os empreendedores que carregam o mercado de provimento de conexões à internet no Brasil. Mas o retrato detalhado revela que a maioria deles são prestadores de telecomunicações na última milha, revendedores de serviços de outras poucas empresas. Algo que ajuda a entender porque a interligação de sistemas autônomos, essênciada própria internet, permanece centralizada nos grandes centros e no Sudeste brasileiro. E porque o custo de conectar clientes a pontos de troca de tráfego é tema tão caro ao segmento.
Isso dá nova luz ao que é tratado monoliticamente pela agência. As nuances acabam disfarçadas pelas imprecisões das bases oficiais. A começar na constatação de que das mais de 6 mil empresas de SCM do País apenas umas 4 mil efetivamente alimentam o SICI, ou Sistema de Coleta de Informações, da Anatel. E é a partir daí que a agência indica que, das 30,5 milhões de conexões fixas à internet no País, 5,6 milhões estão com prestadores com menos de 50 mil clientes. Portanto, aquela conclusão de que os pequenos prestadores detêm 18,4% do total.
Bem acima dos números oficiais
Mas como discutido durante o seminário Conecta Brasil, promovido pela agência, o cruzamento desses dados com outros levantamentos, especialmente do Comitê Gestor da Internet, além de projeções de provedores de conteúdo como Google ou Netflix, sugerem que a presença dos pequenos provedores de conexão é maior do que a indicada pelos números oficiais. A barreira dos 50 mil clientes, a partir da qual são disparadas exigências regulatórias, e um razoável nível de amadorismo na gestão seriam causa para substancial subnotificação dos números.
Pesquisas do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) como TIC Domicílios, TIC Empresas e TIC Governo sugerem que 61% dos domicílios brasileiros têm internet fixa, e não 44% como calcula a Anatel. Isso indica que as conexões fixas do País estariam mais próximas de 42 milhões do que daqueles 30,5 milhões registrados pela agência reguladora. Ou seja, cerca de 11 milhões de acessos não estariam contabilizados. Com eles, os ‘pequenos’ reuniriam cerca de 17,5 milhões de clientes – ou 41% do mercado total do Serviço de Comunicação Multimídia.
O que os dados da Anatel revelam com segurança é que os pequenos puxam o mercado de provimento internet no País. Ao longo de 2017, eles foram responsáveis por dois terços dos novos acessos. Em 2018, o ritmo ficou ainda maior, com mais de sete de cada 10 novos clientes associados ao segmento. Mas o que a Abranet consegue demonstrar é que essa dinâmica está concentrada na fatia dos pequenos que conseguiu superar as dificuldades iniciais e alcançar uma escala razoavelmente confortável para a expansão.
“Esse é um segmento que evolui com dificuldade. Quanto mais aproxima dos 5 mil, fica mais difícil. São operadoras que tendem a tentar sobreviver no mercado, mas não têm porte ou recursos para se manter em uma operação muito sofisticada. O que podemos chamar de casos de sucesso são aquelas que têm entre 5 mil e 50 mil acessos. Mas elas representam apenas 158 empresas. É, no entanto, o grupo que a Anatel tem que tomar cuidado de não atingir muito fortemente com a regulação”, destaca o consultor Edmundo Matarazzo.
Ou seja, esse é o estrato que cresce mais vigorosamente dentro do variado universo dos celebrados pequenos. O alerta é para que a agência perceba que dentro do caldeirão do ‘prestador de pequeno porte’, como é a nova nomenclatura regulatória, há um universo de disparidades. “O primeiro desafio é entender do que estamos falando quando se trata das prestadoras de pequeno porte. Não tem como classificar todas da mesma maneira”, diz Matarazzo.
Do universo dos provedores de SCM, a conta é que apenas 15 empresas têm mais de 50 mil acessos (0,25% do total) e apenas 4 somam mais de 1 milhão – e aqui já entram as grandes do mercado, como Net, Telefônica ou Oi. Parte do alerta diz respeito àquele cuidado que a Abranet entende necessário com o grupo que hoje reúne não mais de 158 provedores. “O mercado começa a falar de consolidações, de se apropriar dos benefícios daqueles que já desbravaram pedaços que não estavam desbravados. Então, o que pode acontecer é consolidar e esse número de 158 ficar ainda menor nessa fatia de mercado”, destaca o consultor da Abranet.