ANOS 16 Nº 105
SEMESTRAL DEZEMBRO
3ª SÉRIE 2011
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Conselho de Administração Nomeação do novo Presidente COORDENAÇÃO Vítor Calçada REDAÇÃO Alfredo Silva Carlos Balio Fernando Silva Manuel Cadilha COLABORAÇÃO DESTE NÚMERO Alexandre Ribeiro Américo Marques Comissão de Trabalhadores Comissão Intersindical Gonçalo Fagundes Jorge Lima Manuel Pereira Manuel Ramos Paulo Lopes Rep. Trab. SHST Rui Alpuim
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Economia e Ciência “O mar é fixe, mas não é só peixe”
PROPRIEDADE Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos ENVC REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Estaleiros Navais de Viana do Castelo, S.A. Apartado 530 Av. Praia Norte Telef. 258 840 100 - 258 840 293 Fax. 258 840 385 4901-851 Viana do Castelo
Comissão de Trabalhadores
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Balanço de Mandato
Foto da capa Vitor Roriz
Editorial.............................................................03
Fotos dos conteúdos ENVC, GDCTENVC e Roda do Leme
Economia e Ciência ...........................................05
Novo Presidente do Conselho de Administração ...04
Entrevista: Comissão de Trabalhadores ....06 | 07 Execução gráfica TwoDesign - Soluções Gráficas
Atividade Formativa............................................08
Impressão e Acabamento OFILITO
Entrevista: Américo Marques .......................09 | 10
Tiragem 1000 exemplares
Humor ...............................................................15
Os textos desta revista foram escritos segundo o novo Acordo Ortográfico.
Artes e Letras ..................................................19
Cultura e desporto .........................................11 a 14
Social ..................................................................16 a 18
Decisões e Soluções Adiadas!
Desde o editorial da edição anterior da Roda do Leme, e dos principais problemas e preocupações então suscitadas, estamos a chegar ao final do ano de 2011, continuando a desconhecer qual a estratégia prevista e qual o plano de viabilização dos ENVC, e que permita prever um futuro sustentável. Ao nível da Administração da Empresa tivemos mudança de Presidente, da qual damos notícia nas páginas seguintes, com breve apresentação do novo Presidente, Eng.º Jorge Camões. Para além da questão central do plano de viabilização e reestruturação da Empresa para garantir o seu futuro, de um conjunto de problemas pendentes ao nível da estrutura organizativa, e das dificuldades financeiras que se têm vindo a agravar rapidamente, não se registou qualquer evolução visível e substancial nos últimos meses. • Para surpresa geral, no período de férias em agosto, o navio “Atlântida” foi levado para Lisboa, sem que se compreenda o propósito objetivo, vantagem nos gastos de manutenção, não tendo a Administração esclarecido as razões, continuando o navio sem comprador conhecido. • A construção n.º 259, um ferry que também seria para o armador açoriano Atlânticoline, a designarse “Anticiclone”, é navio já em blocos pré-fabricados para instalação, e com equipamentos armazenados, continua exposto ao tempo e consequente deterioração. Não são conhecidos contactos credíveis no sentido de tentar encontrar um cliente para o navio. • Quanto aos asfalteiros para a Venezuela, e após a demissão do técnico espanhol gestor do projeto, fica-se com a ideia de que a estratégia e planeamento dos navios parou ou anda como o “caracol”. • Sobre a construção, 239 NRP “Figueira da Foz”, não se vê uma inversão no ritmo de trabalho no sentido de concluir o navio, avançar para o treino da sua guarnição, mantendo-se diversos problemas por resolver.
• O titular do Serviço Comercial de Construções foi deslocado para Lisboa e aparentemente, repetimos, aparentemente, este Serviço não está a desenvolver a sua principal função, que é a busca de potenciais clientes e concretização de contratos. • Ao nível das reparações de navios, setor que vinha mantendo um volume razoável de negócio, no segundo semestre do ano decaiu até chegar ao nível zero, no momento em que escrevemos este editorial, facto que fez agravar as já precárias condições económico-financeiras da Empresa. Outras questões não resolvidas poderiam ser equacionadas, algumas até talvez mais graves que as acima indicadas, como ao nível financeiro, sendo algumas visíveis e outras com certeza do conhecimento de poucos. Instalou-se um certo espírito entre os trabalhadores, um sentimento de que a estrutura da Empresa se estará a desmoronar lentamente, havendo situações em que se desconhecem responsáveis e correspondentes responsabilidades em algumas áreas. Neste quadro preocupante, e ao mesmo tempo recheado de situações surrealistas, não podemos deixar de mencionar as responsabilidades políticas. Primeiramente do governo central, e do Ministério da Defesa em particular, mas também da Assembleia da República e dos deputados, nomeadamente daqueles partidos com deputados eleitos pelo distrito de Viana do Castelo, que estão longe de tomar a salvação dos ENVC como tarefa prioritária da sua ação política. Segundo o Presidente Eng.º Jorge Camões, espera em breve dar notícias a todos, aguardando apenas pelas decisões da tutela EMPORDEF e do Governo da República. Mais uma vez vamos depositar um voto de confiança nas promessas apresentadas, e alimentar a esperança de que o principal e maior estaleiro de construção naval português irá continuar a fazer história na economia regional e nacional, e a ser um empregador de referência e indispensável ao desenvolvimento socioeconómico de Viana do Castelo. A redação da Roda do Leme endereça a todos os trabalhadores e suas famílias votos de Festas Felizes, e um Ano Novo de sucessos pessoais e profissionais.
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Conselho de Administração recomposto!
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A apresentação pública, no passado dia 20 de junho, do Plano de Viabilização/Reestruturação dos ENVC, que previa a redução de 380 postos de trabalho, deu origem a uma ação de protesto, decidida numa reunião geral de trabalhadores a 22 do mesmo mês, que resultou na demissão do então Presidente do Conselho de Administração, Dr. Carlos Veiga Anjos. Esta demissão foi a última de uma série de demissões a que os trabalhadores assistiram nos últimos tempos, que infelizmente revelaram da estrutura acionista e do Estado uma postura pouco convincente, de quem diz que pretende definir uma estratégia de viabilização e recuperação da Empresa, permitindo a médio prazo a sua estabilidade económicofinanceira e competitividade no mercado. Para colmatar o vazio verificado, a EMPORDEF nomeou para o cargo um dos seus Administradores não Executivos, o Eng.º Jorge Joaquim C. Camões. O novo presidente dos ENVC nasceu em 1941, é Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico e possui pós-graduações em áreas tão diversas como: Gestão Empresarial, Gestão por Objetivos, Análise de Valor, Sistemas de Informação, Gestão de Investimentos, Organização do Trabalho, Logística e Gestão de Recursos Humanos. No âmbito da sua passagem por Moçambique, durante o serviço militar, integrou a Comissão Instaladora do Estabelecimento de Ensino Superior “Estudos Gerais de Lourenço Marques” (hoje Maputo), onde desenvolveu também a atividade docente universitária. Depois de alguns anos de atividade profissional na área da Engenharia Eletrotécnica na ITT/Standard, a sua carreira abriuse a outras áreas de intervenção industrial, inicialmente no Grupo CUF (1973), onde se dedicou à Organização e Gestão Industrial, tendo participado em múltiplos Projetos de Investimento Nacionais e Internacionais, de consultadoria e Gestão Empresarial. A sua já longa carreira profissional, no País e no Estrangeiro, tem sido abrangente a diferentes setores e diversificadas atividades, nomeadamente nas áreas de Investimento, Projeto de Internacionalização e de expansão da atividade e de negócio como são o caso: Estaleiros de Reparação e Construção Naval (LISNAVE, SETENAVE, ENVC, ASRY, DIANCA ASMAR, Arsenal
do Alfeite, Parry & Son, entre outras.), Pasta de Papel (PORTUCEL, SOPORCEL, SAPPI, CELBI, ALTRI, entre outras). Para além destas atividades, e/ou paralelamente, tem desenvolvido funções como gestor e consultor em diversos países (Espanha, Inglaterra, África do Sul, Venezuela, Irlanda, França, Alemanha, Angola, Bahrain, Arábia Saudita, Brasil, entre outros), tendo já participado em diversas ações de Transferência de Tecnologia e Formação Profissional entre instituições internacionais e empresas. Perante um percurso profissional tão longo e diversificado em áreas de intervenção, cremos estar perante um gestor e um técnico experiente. Aguardamos e desejamos que esteja à altura das dificuldades e do desafio que os ENVC têm de vencer! Com esse objetivo, o Eng.º Jorge Camões iniciou um estudo com vista à elaboração de um novo Plano de Viabilização/ Reestruturação para os ENVC, a apresentar à EMPORDEF, que conforme nos foi possível apurar foi já concluído e entregue, a fim de ser submetido à apreciação do Ministério da Defesa. O futuro da Empresa depende agora de uma decisão do Governo, que os trabalhadores aguardam com muita expectativa e preocupação. A redação da Roda do Leme, ciente deste estado de ânimo geral, solicitou ao Presidente do Conselho de Administração uma entrevista, à qual o mesmo mostrou muita recetividade e vontade de atender, mas disse-nos não ser este o momento adequado, comprometendo-se a fazê-lo no próximo ano. Finalmente o Presidente, conhecendo e compreendendo bem a inquietude que nesta quadra paira sobre a comunidade de trabalho dos ENVC, formula em seu nome e de toda a Administração votos de Festas Felizes para todos os trabalhadores e famílias, bem como um Ano Novo repleto de saúde e sucessos pessoais e profissionais.
«O Mar é fixe mas não é só peixe». É o lema da 27ª exposição temporária da agência Ciência Viva, desde a sua abertura em 1999. Foi inaugurada em 24 de outubro passado, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e pode ser visitada até ao final de agosto de 2012. Formada por 30 experiências interativas, a nova exposição convida a uma viagem por embarcações e contentores, boias e faróis, empilhadoras e cabos, portos e marinheiros. Conta com um stand dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, que através de maquetas de navios e outros materiais dá uma ideia aos visitantes da capacidade técnica da Empresa. É uma exposição “indicada para toda a gente” da qual se pode esperar uma perspetiva do mar “menos biológica”, explica Bruno Araújo-Gomes, responsável pelo departamento expositivo do Pavilhão do Conhecimento, esperando contar com uma média de 850 visitas diárias.
Global Rio, navio tipo tanque químico. Construção n.º 123 entregue em novembro de 1985 a armador brasileiro.
A exposição é originária da Finlândia, do centro de ciência chamado Heureka. Apesar disso, “houve um grande trabalho de adaptação da exposição à realidade portuguesa também com a inclusão de alguns módulos novos”, afirma Rosália Vargas, diretora da agência Ciência Viva. Segundo esta responsável, “foram muitas as peripécias que rodearam a instalação” desta exposição, a começar pelo nome
da mesma. A sua versão original «Ships and Sea» foi objeto de “uma grande discussão”. Ficou então estabelecido o nome «O Mar é fixe mas não é só peixe» entre alguns dos “perdedores igualmente engraçados”, como é o caso de um que ficou “para consumo interno: o mar é fixolas mas não é só santolas”. Convidado para a inauguração da nova mostra, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, sublinhou que os divulgadores científicos “habituaram-se, ao longo dos anos, à ideia de que a ciência é uma coisa divertida para trazer ao público”. Segundo Nuno Crato, a ciência “é algo que se estuda nas escolas, que envolve investigadores e um trabalho muito paciente e persistente, mas também o prazer de descobrir coisas novas”. O rigor científico dos conteúdos de «O mar é fixe mas não é só peixe» foi garantido pela consultoria dos Portos de Lisboa e Sines, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Lisnave - Estaleiros Navais e Direção Geral de Faróis da Marinha Portuguesa. Associada à exposição decorrerão muitas atividades complementares como debates, palestras e visitas a navios onde o público ficará a saber a forma como, por exemplo, são tratados os resíduos a bordo, como é feita a reciclagem, como é feito o abastecimento de combustível, quais os desafios de navegação numa embarcação de grandes dimensões, como é produzida e distribuída a energia, qual o ciclo da água a bordo, como se controla as entradas e saídas dos produtos no navio.
Curiosidades Construção do Prelude FLNG A holandesa Shell revelou que está próxima a decisão final de investimento no seu projeto de LNG Prelude, na Austrália, desmentindo o adiamento da construção da que poderá vir a ser a primeira extratora e refinadora flutuante de GPL do mundo. O navio Prelude FLNG, projetado pela empresa petrolífera Shell, será o maior veículo já construído na história da humanidade. Mais que um navio, é uma refinaria móvel, pois extrai, processa e armazena gás natural. Pesa algo como 600 mil toneladas, o que ultrapassa em 100 mil toneladas o petroleiro Knock Nevis, que é hoje o maior navio do mundo. O Prelude tem uma tripulação de 400
pessoas, e o seu primeiro destino, em 2014, será a costa noroeste da Austrália, onde irá explorar os campos de gás natural Prelude e Concerto. A construção do navio iniciouse ainda este ano. O navio tem um comprimento de 480 metros (mais 135 metros que o Queen Mary 2), e uma largura de 75 metros (sensivelmente maior que a de um campo de futebol). Pesa 600 mil toneladas, o que é 1,2 vez mais que o peso do maior prédio do mundo (o Burj Dubai, que pesa cerca de 500 mil toneladas). Permitirá extrair 3,5 milhões de toneladas de gás por ano e está orçado entre 8 e 10 mil milhões de dólares (24 a 30 vezes mais caro que o maior avião do mundo, o Antonov A225).
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Comissão de Trabalhadores – Balanço de Mandato “Percebendo a necessidade de ajustamentos na estrutura organizacional, não aceitamos despedimentos. A reestruturação tem que se fazer com os Trabalhadores, e não como foi anunciado brutal e pomposamente no dia 20 de junho de 2011, pela Administração anterior, que é literalmente a mesma, com exclusão do Presidente. Também não vemos com bons olhos as parcerias versus privatizações, que destrua a soberania que o Estado Português detém sobre os ENVC.”
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No próximo ano a atual Comissão de Trabalhadores terminará o seu mandato, e tendo em conta a situação atual, terminará em condições particularmente difíceis, talvez as mais complicadas na história dos ENVC, em que se discute e questiona o futuro da Empresa. Esta edição da Roda do Leme é precisamente a última antes desse final de mandato da CT, daí considerarmos importante registar o balanço global que este órgão faz da sua atividade e da situação empresarial. Roda do Leme – Após a posse da CTRA em 2 de junho de 2010, o seu Coordenador afirmou que o objetivo global era “Estamos dispostos a tudo fazer, no sentido de contagiar a nossa comunidade laboral para, juntos, Mudar, Defender e Consolidar a Empresa.” Face às dificuldades que a Empresa enfrenta, que balanço faz em relação a este objetivo? Comissão de Trabalhadores – Antes de mais, queremos manifestar o nosso descontentamento pela forma como a nossa Revista Roda do Leme, tem passado ao lado da caminhada muito atribulada que, de há mais de um ano a esta parte, a nossa Empresa vem enfren-tando. A presente edição da nossa revista é a última antes do final do mandato da atual CTRA e, simultaneamente, a primeira, já que praticamente não houve até hoje, contrariamente ao habitual, um acompanhamento jornalístico à CTRA, como seria natural e esperado. Efetivamente, na intervenção que o coordenador fez na tomada de posse em 2 de junho de 2010, realmente afirmou: …todos somos necessários. Estamos no mesmo barco, queremos o mesmo rumo. Faremos tudo para contagiar e motivar a nossa comunidade laboral, para juntos “MUDAR, DEFENDER E CONSOLIDAR A EMPRESA”…; quem não partilha deste sentimento é livre de o fazer, mas ultrapassa francamente a nossa área de influência mobilizadora e compreensão. Ao longo destes 18 meses de mandato, foram notórias as expressões de motivação participativa dos trabalhadores, ilustradas na grande manifestação de 29 de junho de 2011, que juntou cerca de 3.000 Trabalhadores dos ENVC, familiares e Vianenses, na praça da República de Viana do Castelo, e na histórica manifestação com cerca de 500 trabalhadores em Lisboa, no dia 2 de setembro de 2011, para junto à Empordef, numa jornada de esclarecimento e mobilização, expressar a nossa enérgica posição sobre o processo de reestruturação dos ENVC, já depois do Ministro da Defesa Nacional adiar o agendamento da decisão definitiva sobre os ENVC. Expressivos e massivamente participados, têm sido também os Plenários Gerais de Trabalhadores (RGT), assim como foi a presença de mais de 250 Trabalhadores dos ENVC na reunião da Assembleia Municipal de Viana do Castelo, no dia 22 de junho de 2011, onde numa decisão sem paralelo foi votada por unanimidade por todos os partidos políticos representados nesta Assembleia a defesa da nossa Empresa. Tem havido também, desta forma, lugar para todos sem restrição. Podemos assim verificar que navegamos na rota certa, sempre com terra à vista, honrando os compromissos assumidos perante os trabalhadores.
RL – “É dever das entidades eleitas informar sempre com transparência e verdade sobre o trabalho que desenvolvem”, lia-se no Boletim Informativo N.º 1 que a CTRA publicou em julho de 2009, acrescentando ainda que, “Os eleitores devem exigir dos seus representantes a prestação de contas…”. Num período de diversas incertezas quanto ao presente e futuro da Empresa, sente a CTRA que tem conseguido cumprir com este seu dever de prestação de contas, com transparência e verdade? CTRA – Percebemos que a incerteza quanto ao futuro dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) debita uma ansiedade enorme nos Trabalhadores e familiares, provocando natural avidez por tudo quanto é informação que lhes transporte esperança sobre o futuro. Além da informação e esclarecimentos a todos os que individualmente nos procuram, sem exceção, privilegiamos, como é óbvio, a sua difusão coletiva sempre com transparência e verdade, dentro da discussão e envolvimento prévio dos Organismos Representativos do Trabalhadores (ORT), como ilustramos no quadro abaixo.
Perante os números expostos, temos consciência de estar a cumprir com superioridade esta nossa promessa/obrigação, conscientes de que não podemos cair no ridículo de dizer: “A CTRA informa que não tem informações a dar”. RL – Na intervenção efetuada aquando do ato de posse, o Coordenador da CTRA, entre outras palavras disse que “O que nos une é, sem dúvida, mais forte do que aquilo que nos separa, ou seja, os ENVC. Trabalhemos em conjunto.” Entretanto, em 15 de fevereiro passado, os três membros eleitos pela lista A apresentaram a sua demissão da CTRA, alegando discordarem do seu funcionamento e orientação seguidos pela maioria do órgão. Não sendo uma situação comum, coloca-se naturalmente a interrogação: todos, e em particular a maioria dos eleitos fizeram o esforço necessário para evitar esta situação, colocando os interesses dos trabalhadores e da Empresa acima de questões menores e pessoais? CTRA – Esta é uma questão muito delicada, e naturalmente, não fugindo a ela, gostaríamos que não se especulasse mais ao redor do afastamento dos três eleitos da lista que perdeu as eleições, e também dos dois elementos suplentes dessa mesma lista, que se recusaram a substituir os demissionários. O que nos une é sem dúvida os ENVC. Foi por isso, que um punhado de trabalhadores se disponibilizou para se submeter a sufrágio no dia 14 de abril de 2010. Neste ano e meio de trabalho, pensamos ter contribuído decididamente para o prestígio do órgão CTRA, granjeado ao longo da sua existência, após o 25 de abril de 1974. Temos consciência de
ter contribuído decididamente, para o restabelecimento normal e saudável da relação de trabalho com os ORT, nomeadamente com os Sindicatos e União dos Sindicatos, que ultrapassa a simples relação institucional. De facto, existe cooperação, colaboração e coordenação de trabalho, em várias frentes de combate, com benefício direto para o coletivo de trabalhadores, preservando a diferença de cada ORT e mantendo a personalidade específica de cada Instituição, sem apetência de concorrência entre si, mas sim de complementaridade democrática. Estes tempos têm sido inéditos e muito difíceis. Nem todos estão dispostos, ou conseguem resistir à dimensão da pressão de toda a ordem a que temos estado submetidos. Todos somos seres humanos e temos as nossas fragilidades. Não há imprescindíveis. E só faz falta quem cá está. Não temos vocação para desertar, e por isso, vamos continuar no nosso posto a trabalhar pela viabilização da Empresa e pelos interesses dos trabalhadores dos ENVC, no seu coletivo, da melhor forma que soubermos e pudermos, com humildade para aprender o que não conhecemos, resistindo a lóbis, grupos de pressão ou de outros interesses que não sejam os dos Trabalhadores ou da Empresa. RL – Quanto à questão central e crucial que é a concretização de um Plano de Viabilização e Reestruturação dos ENVC, fomos assistindo a mudança de Governo e mudanças de administrações na EMPORDEF e na Empresa, mas em termos de Plano efetivo nada foi concretizado. Por outro lado, persistem problemas relacionados com o avanço das construções militares, o navio Atlântida está agora em Lisboa continuando sem comprador conhecido, e o navio Anticiclone está pré-fabricado a deteriorar-se e nem se fala nele! Que análise faz a CTRA destas questões, e como as tem clarificado junto da administração e tutela, já que as soluções são de emergência para o futuro dos trabalhadores e dos ENVC? CTRA – Nesta amálgama de questões colocadas, que efetivamente são a face transparente de sucessivas administrações e seus acólitos mais diretos, que não souberam estar à altura do cargo que os vários governos de há uns anos a esta parte lhe confiaram, e assim os casos que mencionam, Atlântida e Anticiclone, atraso das construções militares e agora os navios da Venezuela a acrescentar ao caso Lobo Marinho, não são mais do que o resultado de más gestões, algumas provavelmente a serem casos de polícia para as quais os Trabalhadores dos ENVC em nada contribuíram. Naturalmente temos denunciado estas situações, em várias frentes e não só junto da Administração e da Tutela, mas também junto dos partidos políticos e de todos os grupos parlamentares. Realmente aconteceram mudanças de Governo e de administrações, adiando mais uma vez decisões políticas importantes e ações de gestão difíceis mas fundamentais ao futuro dos ENVC. Os Estaleiros e os seus Trabalhadores resistem no seu posto de trabalho, com muita firmeza e determinação, disponíveis para ajudar a “CONSOLIDAR E DEFENDER A EMPRESA”. Assistimos, impotentes, à semelhança do que acontece por todo o país, à destruição e delapidação do nosso tecido produtivo, com incidência direta no custo da fatura que todos temos de pagar no futuro. É incompreensível que, tendo os ENVC contratos com a Marinha Portuguesa para construções militares, estas não avancem, impelindo desta forma à inércia laboral, latente na nossa capacidade produtiva. Os trabalhadores reclamam trabalho e o País tem de produzir. Vezes sem conta diversas figuras e entidades anunciaram a venda do Ferry Atlântida. Quando em 19 e 20 de julho último estivemos na Assembleia da República, ao abordar este tema com os diversos Grupos Parlamentares, os Deputados afirmaram que este assunto era um caso de polícia. A CTRA convidou os mesmos deputados a criarem condições para levar à cadeia os responsáveis por esta situação, que é uma vergonha nacional e quase destruiu os ENVC. Os valores do Atlântida e Anticiclone assim como a devolução à Atlânticoline de verbas consideráveis de dinheiro corresponde, na sua totalidade, a dezenas de milhões de euros, a que dificilmente qualquer empresa consegue resistir.
RL – Perante diversas declarações de responsáveis do Ministério da Defesa, estarão em estudo e eventual negociação diversas possibilidades de viabilização dos ENVC, envolvendo empresas estrangeiras. Parece ser de concluir, das várias declarações que vão sendo proferidas por esses responsáveis, que seja qual for o plano a seguir implicará a redução de postos de trabalho como algo inevitável! Numa perspetiva realista, como encara a CTRA esta possibilidade e como está preparada para um processo negocial se essa situação for incontornável? CTRA – Podemos com garantia falar do passado, do presente fazemo-lo com muitas cautelas e responsabilidades. Do futuro quem sabe? O que podemos garantir desde já aos trabalhadores é que nada será decidido com a nossa participação, nas suas costas. Dos diversos contactos que temos mantido, oficiosamente foi-nos dito que os ENVC são viáveis e foram considerados estratégicos como Indústria Naval Nacional. Foi reafirmado também que a decisão a tomar é política, vai ser anunciada ao mais alto nível do Governo, aponta a viabilização como empresa de Construção Naval, incluindo a viabilização Financeira. Pela voz do Eng.º Jorge Camões, foi dito que estão selecionados dois parceiros. Vão trazer know-how, dinheiro e encomendas. A partir de 2012, vamos ter muitos navios para construir, e o efetivo de recursos humanos vai ser insuficiente. Precisamos de mais docas, para fazer face ao volume de trabalho que teremos em carteira. A CTRA tem consciência que a nossa organização tem mais de vinte anos. É a mesma organização de quando éramos 1800/1500 Trabalhadores (hoje somos 673). As tecnologias evoluíram e o nível médio de escolaridade dos Trabalhadores também. A CTRA e os ORT ao longo de mais de duas décadas vêm alertando para a necessidade de reestruturação dos ENVC, e a necessidade de parcerias estratégicas que nos levem aos cinco continentes, pois não devemos estar sozinhos e isolados no universo internacional da construção e reparação naval. Percebendo a necessidade de ajustamentos na estrutura organizacional, não aceitamos despedimentos. A reestruturação tem que se fazer com os Trabalhadores, e não como foi anunciado brutal e pomposamente no dia 20 de junho de 2011, pela Administração anterior, que é literalmente a mesma, com exclusão do Presidente. Também não vemos com bons olhos as parcerias versus privatizações, que destrua a soberania que o Estado Português detém sobre os ENVC. Muito trabalho está por fazer, vamos criar condições para dar continuidade à execução das tarefas assumidas, porque: … como alguém dizia, basta saber a história à mistura com algo de geopolítica, geoestratégica, e sobretudo inteligência económica, - muita inteligência económica… A CTRA aproveita a oportunidade para endereçar a todos os trabalhadores e familiares votos de Boas Festas Natalícias. Nota da Redação da Revista Roda do Leme: Em relação a alguns comentários incluídos nas respostas da Comissão de Trabalhadores (CTRA), dirigidos à Redação da Roda do Leme, apresentamos as seguintes considerações: 1. Esta entrevista enquadra-se no que vem sendo habitual há anos, de entrevistar o coordenador da CTRA durante o mandato; 2. Quanto à publicação de informações, recorde-se que a Revista Roda do Leme apenas é editada duas vezes ao ano, podendo nalguns casos haver notícias que percam atualidade e impacto, ou não se relacionem diretamente com a atividade dos ORT na Empresa, e por conseguinte não se publicam de acordo com o Estatuto Editorial da R.L.; 3. À referência de que não terá havido “…um acompanhamento jornalístico à CTRA…”, interessa referir que na preparação das edições da Revista, a Redação enviava através de correio eletrónico solicitações de informação aos ORT, e normalmente a CTRA não respondia sequer à Redação; 4. Por outro lado, em matéria de canais de informação e comunicação, recordamos que desde o início do seu mandato a CTRA decidiu editar um Boletim Informativo mensal, e privilegiar a comunicação/informação através dos órgãos da comunicação social (imprensa, rádio e TV); 5. Como conclusão, a redação da Revista Roda do Leme refuta as críticas que lhe são feitas, por estar consciente de ter mantido um tratamento normal e cordial com a CTRA.
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Soluções Sim, Problemas Não… O compromisso num contexto de mudança organizacional! Qualquer mudança num contexto de trabalho em organizações onde não existe uma cultura competitiva e onde atividades diárias se assemelham a tarefas penosas e rotineiras, exige um grande esforço e determinação de quem detém o poder de gerir e decidir. A competitividade das Empresas numa economia e mercado globais, é o fator chave para a sua sobrevivência, por isso, ou identificam os problemas, os resolvem e mudam, ou simplesmente acabam por ser “engolidas” pelos mercados. Como se faz a mudança? É óbvio, com as pessoas. Apostar nelas e reforçar as suas competências para serem elas a chave da mudança organizacional. Este tem sido o principal móbil
das várias ações que foram realizadas pela Empresa em espaço Outdoor, designadas “Metodologias para a Resolução de Problemas”, dirigidas a pessoas que pelo cargo, posição ou estatuto, podem contagiar o ambiente interno e contribuir para a mudança. Na verdade o que se deseja é que cada um, seja o protagonista da mudança, capaz de diagnosticar e identificar os problemas/ oportunidades, hierarquizá-los (construir Árvore de Problemas) e resolvê-los, implementando melhorias nas suas atividades, produzir resultados alinhados com os objetivos, planear e conduzir reuniões eficazes com a sua equipa. Uma equipa envolvida e participante apresenta soluções, NO PROBLEMS!
COM EXPRESSÕES DESTAS….
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NO PROBLEMS
Mais três dezenas de colaboradores dos ENVC viram validadas e certificadas as suas competências neste mês de dezembro. A qualificação e a valorização dos Recursos Humanos são as variáveis determinantes para garantir a competitividade e o sucesso das empresas, mas também o reforço da confiança, da autoestima e da motivação dos seus colaboradores. Somos tentados muitas vezes a fazer juízos do programa “Novas Oportunidades”. Temos aparentemente razões para o fazermos! – Mas quase sempre esquecemos a sua génese, o mesmo que dizer, os seus fundamentos, a sua razão de existir, e não avaliamos apenas eventuais erros da sua aplicação. Os ENVC têm sido ao longo de 67 anos não só uma entidade empregadora, mas também uma autêntica escola para a vida dos homens e mulheres que nela trabalham e trabalharam. Ajudaram a construir navios, e construíram eles próprios a sua carreira profissional, um padrão de comportamento coletivo, promotor e estimulador do espírito criativo e crítico, que aguçou princípios e valores universais, como a ética, a moral, a cidadania e a solidariedade. Criaram e dinamizaram redes sociais, fortaleceram assim, o espírito associativo, fomentaram a cultura, o desporto e a política, através de uma cidadania
ativa, na representação da comunidade, nas associações, movimentos sindicais e nos órgãos autárquicos. Por isso, estamos certos que validar e certificar as competências de portugueses como estes é reconhecer socialmente projetos de vida muito nobres e ricos, sem desvalorizar, naturalmente, os outros reconhecidos através da trajetória normal dos ciclos escolares. Com esse objetivo, a medida tem sido aplicada na comunidade de trabalho dos ENVC com algum sucesso e, no corrente mês, depois de um percurso formativo de cerca de seis meses, mais três dezenas de trabalhadores, depois de elaborarem as suas monografias, foram sujeitos a Júri nos passados dias 14 e 15 de dezembro e viram certificadas as suas competências ao nível do 9.º e 12.º ano de escolaridade. Parabéns a todos eles! Reconhecemos a sua dedicação, esforço e sacrifícios para esse projeto, e que o seu exemplo sirva de estímulo a outros colegas que podem ainda aderir ao programa e aumentar também as suas competências e obter uma melhor qualificação.
Américo Faria Marques 45 Anos ao Serviço da Empresa “Não semeei inimizades. Por conseguinte quando terminar, será um partir sereno que me fará olhar bem para trás, para sossegar uma nostalgia que já me habita. E nunca, com uma ânsia de me afastar rapidamente de algo e de todos, como se estivesse a sair de onde nunca tenha entrado!” Todos os trabalhadores que passaram pelos ENVC nas várias profissões e diversos níveis da organização, deixaram, mais ou menos, a sua marca no desenvolvimento da própria Empresa. Alguns, deixam marca mais distinta por determinadas características pessoais e profissionais, e por funções executadas, que pela forma pedagógica de agir e interagir podem transformar-se numa referência para os demais. Porque se enquadra nesse perfil, entendemos registar de forma global o percurso de Américo Faria Marques, com 60 anos a completar neste mês de dezembro, atual Técnico de Prevenção e Segurança, que na qualidade de formador nesta área ministrou importantes conhecimentos a centenas de trabalhadores durante anos, sendo relevantes para a proteção da integridade física e saúde dos mesmos. Estamos a falar do mais antigo empregado da empresa neste momento, que completou 45 anos ao serviço da mesma num percurso interessante. Foi admitido em 24 de outubro de 1966 para a Soldadura Elétrica, onde recebeu a sua formação específica, que foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos com diversos cursos e ações de formação, acompanhando a evolução técnica da atividade. Fez um interregno entre 1972/1974 para cumprir o serviço militar obrigatório, que o haveria de levar à Guiné-Bissau, de onde regressou “carregado” de recordações e histórias que o acompanham até aos dias de hoje. No regresso à Empresa, continuou com a sua profissão de soldador, e a partir de 1 de julho de 1978 exerceria essa atividade na Oficina de Encanamentos, de onde transitaria em 1 de abril de 1984 para o Gabinete Técnico de Soldadura, e em dezembro do mesmo ano passou a Técnico de Controlo de Qualidade integrando a equipa do respetivo gabinete. Posteriormente, numa altura em que a empresa entendeu valorizar a área da Segurança e Saúde no Trabalho, e em março de 1994 o Américo Marques passaria para o Serviço de Segurança recebendo a formação adequada às novas funções que iria desempenhar. De entre os vários cursos e ações de formação específicas que foi recebendo, inclui a de formador, tornando-se o principal Formador da Empresa nesta área da SHST. Durante este longo percurso deu também o seu contributo às organizações representativas dos trabalhadores, sendo em momentos distintos membro da Direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Viana do Castelo e membro da Comissão de Trabalhadores da Empresa. Sendo um homem perseverante e com gosto pelo conhecimento diversificado, acabaria por desenvolver também a vontade pela escrita, e ao longo dos últimos anos com regularidade colaborou com esta Revista, sobre temas da sua área de atividade profissional e outros de índole cultural, como é o caso dos Roteiros de Viagem no Alto Minho, um dos quais publicado mais adiante nesta edição. Um ser humano com as características do Américo Marques, os seus interesses e gostos particulares, o seu perfil profissional e experiências vividas, são suficientes para que registemos as suas opiniões e sentimentos sobre esse percurso profissional e pessoal. Roda do Leme – Considerando a tua data de aniversário, verificamos que a tua admissão na Empresa foi antes de completares os 15 anos, e a primeira atividade foi na soldadura elétrica. Tão jovem ainda eras, como recordas essa tua integração no mundo do trabalho, e nos ENVC em particular?
Américo Marques – Esse longínquo dia foi vivido sob uma expectativa que só eu consigo dimensionar, devido à grande ansiedade que dominava a minha razão bastante juvenil. E, quando às 8 horas do dia 24 de outubro de 1966 entrei na Oficina chamada “Coreia” existente na época e ligada à Caldeiraria Pesada atual – fiquei a tremer de medo, perante o ”inferno pictórico” dos trabalhos a fogo para cortar e soldar as chapas – e também devido ao barulho que mordia, da maquinaria e do intenso martelar de marretas, para sujeitar o teimoso aço. RL – Até 1984 a tua atividade foi sempre ligada à soldadura, incluindo uma passagem pelo gabinete técnico dessa área. A evolução tecnológica da soldadura foi algo que te motivou, pela forma como abordas o assunto quando é conversado. De forma sumária, diz-nos que evolução se verificou nessa atividade, que para a acompanhar terás recebido diversa formação? AM – A soldadura foi uma profissão que me obrigou a elevada concentração na execução de uma tarefa, assim como a ter que estar em boa forma física. Estas duas condições tinham que ser devidamente consideradas devido à importância de na época o aspeto visual de qualquer soldadura ser um dos requisitos de mais-valia para a obra acabada. Quando fosse sujeita à inspeção visual, pelos fiscais da construção. Sobre a passagem pelo Gabinete de Soldadura, tenho a dizer que me proporcionou muito conhecimento, no que concerne como ligar com qualidade os principais metais ou diversas ligas. Que exigem diferentes consumíveis e métodos operativos apenas parecidos. O maior benefício para o meu desempenho e em especial para a Empresa proveio do facto de poder conhecer (executando) outros processos de soldadura, em aplicação nos estaleiros da Setenave e no homónimo Galego de Astano. E ainda, por ter frequentado diversas ações demonstrativas, promovidas por empresas internacionais, com o objetivo de apresentar o que de mais moderno existia, em prol da união complexa dos metais através de um arco elétrico, visível ou não. Deve ser dito, para que a nossa empresa tivesse a oportunidade nesta área e não só, de ter conhecimento das inovações e aplicações tecnológicas, muito contribuiu o Eng. Fontinha. Pois era um entusiasta insatisfeito e com muito saber – sobre os avanços da soldadura e técnicas afins ao serviço da construção naval. Se mais não fez, é porque não havia vontade para investir e também devido a um certo conservadorismo (profissional) existente, que atrapalhava a irreversível mudança. Que, mais tarde, se veio a impor com reais benefícios, para executantes e para o produto final, como é o caso, da aplicação do cobre junta de cerâmica, que resulta na chamada soldadura de uma só cara.
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RL – A tua experiência e conhecimentos levaram a que durante cerca de 10 anos integrasses o Gabinete de Controlo de Qualidade. Foi com certeza, uma progressão na tua carreira profissional. Sentiste que haveria um grau maior de exigência e conhecimentos como técnico desse gabinete? AM – Trabalhar nesta área da Qualidade de um modo profissional sustentado exigia, à partida, conhecimentos profissionais adquiridos no terreno. Posteriormente, havia que completar as competências com formação, relacionada com Ensaios não Destrutivos, tais como: Radiologia; Ultrassons; Magno fluxo; Líquidos Penetrantes (dye check), Dimensional. E ainda, sempre que possível, proceder ao tratamento informático de dados, inerentes aos relatórios das inspeções e respetivos protocolos. Tarefa bem difícil para todos, devido ao fraco domínio do “teclado” do computador. Porém, a função do Técnico de Controlo de Qualidade tinha e tem com alguma frequência dificuldade para fazer cumprir os padrões da qualidade – devido ao facto de trabalho apressado e perfeição se completarem muito dificilmente. Assim como as condicionantes do construtor e as pretensões do cliente. Ou seja, apenas se aceita determinada percentagem de defeito no produto, porque Qualidade não se baseia nunca no improviso. Sobre este propósito, alguém da nossa Empresa há muitos anos disse um dia; “fazemos bem o que não devemos fazer e fazemos mal o que deveríamos fazer bem” creio que esta opinião mereceu e ainda merecerá não ser ignorada. RL – Em 1994 virias a exercer funções de Técnico de Prevenção e Segurança integrando o Gabinete de Segurança, até aos dias de hoje. De entre a diversa atividade desenvolvida neste setor, durante anos tens sido o principal formador em matéria de prevenção e segurança no trabalho, tendo ministrado formação a centenas de trabalhadores. Parece-nos que gostas particularmente desta atividade pedagógica. Fala-nos um pouco desta experiência. AM – Quanto à questão sobre a atividade de Formador, eu repito o que já afirmei em tempos à Roda do Leme; é um trabalho que fiz, faço e farei com espírito de missão aqui e em qualquer lugar. Mas não me considero nem mais nem menos pedagogo ou especialmente dotado! Apenas sou um formador que desempenha com grande prazer, só isso. Entendo que este meu sentir ou modo de estar, no que diz respeito à função de transmitir conhecimento, tem na sua essência o fenómeno do relacionamento humano. Porque eu defendo que é no envolvimento do Ensinar – Aprender que acontecem passos decisivos e importantes, para aproximar os indivíduos – e em comunhão coexistirem com as suas emoções básicas. Condição esta que considero nuclear, para estimular a sociabilidade de um grupo, quiçá de um coletivo de trabalhadores. Em resumo, o que quero dizer é que um trabalhador quando formando proporciona valioso subsídio para haver boas e promissoras relações humanas. Parâmetros categóricos em qualquer atividade ou dinâmica da sociedade. RL – O teu percurso nos ENVC só seria interrompido para servir o Exército na Guerra Colonial, o que te levou até à Guiné-Bissau. Das memórias desse período, gostarias de recordar algo em particular? AM – É verdade, servi o Exército de Portugal, e como outros tantos milhares lá fui até aquela Terra vermelha que deixei molhada com muitíssimo suor, porque o clima era desgraçadamente muito húmido e quente. Embora creia que a melhor maneira de não lembrar o diabo é falar dele abertamente, para o banalizar… acho que apenas devo recordar factos, que há muito tempo estão debaixo da alma – se interessam ao leitor. Que é o caso; e reporta-se aquele acontecimento que eu nomeio de dia da Restauração da Dignidade. Foi o 25 de abril! Vivi-o/ouvi-o no emissor militar, em plena selva Africana. Com muito grande perplexidade, é certo, devido à minha ignorância. RL – Foste dirigente sindical e também membro da Comissão de Trabalhadores, em determinada época. Como analisas essa tua experiência e este tipo de participação, e compara com a realidade atual. AM – Considero que foi uma experiência de pouco encanto, devido a situações melindrosas que na época aconteceram em diversas empresas do concelho e que tiveram desfecho bastante violento para
muitos trabalhadores. Recordo a então Empresa de Pesca, cujos navios foram naufragando. Levando para o fundo muitas famílias e a economia Vianense. Que me parece nos tempos que correm continua sem bom porto à vista. Como tal, continua com condição de encalhar. No tempo presente, as leis são diferentes, os procedimentos dos parceiros também. Devido a uma nova ordem (EU) estabelecida e ainda, tendo em consideração o facto de haver cada vez mais desemprego, haverá aritmeticamente cada vez mais pessoas com menos incentivo ou desmobilizadas, para dar corpo às nossas ações de rua, nas diversas localidades do país. E eu creio que quando protestamos, o número de participantes é referência bastante importante. Não sendo necessário lembrar que é no mundo do trabalho em que a democracia é bem menos democrática. No que diz respeito à nossa atitude perante as lutas que temos sido obrigados a travar na nossa Empresa afirmo que é muito gratificante pertencer a esta Gente, que não é inferior a muitos.
“…é no envolvimento do Ensinar – Aprender, que acontecem passos decisivos e importantes, para aproximar os indivíduos – e em comunhão coexistirem com as suas emoções básicas. Condição esta que considero nuclear, para estimular a sociabilidade de um grupo, quiçá de um coletivo de trabalhadores.” RL – Em termos pessoais tens diversos interesses lúdicos, sendo um deles a escrita, e agradecemos a tua colaboração na Revista sempre que solicitado. Gostas de escrever prosa sobre as tradições e património regionais, sobre diversos temas de atualidade, e gostas de escrever poesia mais do estilo quadra ou soneto. Qual destes estilos mais te agrada escrever? E como descobriste este gosto pela escrita? AM – Em prosa, porque provém da razão e é esta que faz a ponte entre a sensibilidade estética do leitor e o seu próprio retrato existencial. Quanto à poesia, resulta de um estado emocional. Ora superficial, ora profundo e valha-nos Deus…a muitos nada dirá a quadra ou soneto. Apenas poderá dar-se o caso de o leitor descortinar um conforto para o seu estado de alma momentâneo. Gostar de escrever tem origem no fundo do tempo da minha existência. E a resposta a quando, como e porquê é bem simples. Quando na idade de rapaz e já dominando a escrita – tinha o encargo de escrever para os meus Manos, que à vez cumpriam o serviço militar em diversos quartéis do país e nas colónias. Mais tarde, como foram trabalhar para França, lá continuei o escrivão da família. Ora, a minha Mãe dizia para eu lhes escrever – sem ditar a redação…então aí, eu tinha que inventar as notícias. Criando deste modo uma terapia para me entreter e dialogar comigo. Em parte, idêntica ao jogo das cartas, do SuDoku, ou com a Playstation. RL – Sabemos, é uma questão de tempo e irás terminar a tua carreira passando à condição de reformado. Seria interessante sabermos o que irás guardar de essencial desta Empresa, ao nível humano e de eventuais amizades. Por outro lado, que planos tens para este novo ciclo de vida como cidadão então reformado? AM – Irei guardar tudo, pois sou uma pessoa que vive por inteiro. Não posso fazer “delete” ou renegar o que possa ter sido desconfortável e que está na minha mente durante todos estes anos. Se o fizesse estava a matar parte de mim. E corria o risco de pensar que me portei sempre na linha. Não semeei inimizades. Por conseguinte, quando terminar, será um partir sereno que me fará olhar bem para trás, para sossegar uma nostalgia que já me habita. E nunca, com uma ânsia de me afastar rapidamente de algo e de todos, como se estivesse a sair de onde nunca tenha entrado! Quando terminar o meu vínculo do trabalho, o que farei na roda, roda do dia a dia, será muito simples, preguiçar até cansar! Depois fazer a sesta, até o sol nascer. De manhã após levantar, fazer bem a cama. Da parte da tarde, treinar a mente para o dia seguinte. Feliz Natal 2011!
Da Guitarra Portuguesa ao Fado Hoje Património Imaterial da Humanidade! A programação cultural do Grupo Desportivo continua a manter a sua orientação de abertura e atração ao público da cidade de Viana do Castelo, e que se confirmou nas noites dos dias 15 e 16 de agosto de 2011, com a iniciativa designada “Noites da Guitarra Portuguesa” visando promover este instrumento e o Fado. Realizado no Largo da Capela das Almas, cenário muito adequado para este tipo de evento, manteve-se a tradição de cultivar o gosto pelo Fado e de associar a iniciativa às Festas da Cidade. Registou-se a presença de diversas personalidades locais, entre as quais o Sr. Presidente da Câmara Municipal da cidade e a sua Vereadora da Cultura. É relevante mencionar que o interesse e adesão do público a estes espetáculos tem vindo a aumentar gradualmente, como se constatou neste ano, o que confirma a justeza da coletividade em continuar com a sua realização. E agora, tem uma razão acrescida, já que o Fado foi declarado pela UNESCO Património Imaterial da Humanidade no passado dia 4 de dezembro. A noite de 15 de agosto abriu com “Guitarradas” interpretado pelo Grupo Cordanza, composto por dois músicos portugueses e dois holandeses. Recorrendo aos instrumentos acústicos, misturavam sons numa espécie de dança das cordas, sendo esta a sua primeira atuação oficial. Na segunda parte da noite, atuou um grupo vianense já conhecido ”Viana Canta Coimbra”, interpretando canções de Coimbra tendo como objetivo principal trazer até nós o Fado de Coimbra, revivendo deste modo as tradições académicas. Na segunda noite de 16 de agosto teve lugar a “Grande Noite de Fado”. Interpretaram os Fadistas Rui Cunha, Maria José, Elsa Gomes, António Terra e ainda Fernanda Moreira. Foram acompanhados na Guitarra Portuguesa por Francisco Vieira, na Viola Dedilhada pelo Costa Pereira e o Henrique
11 Rabaçal no Baixo Acústico. Foram sem dúvida duas grandes noites de Fado, excelentemente interpretado por ótimos fadistas e brilhantes músicos. O GDCTENVC agradece a todas as entidades que apoiaram este acontecimento e que tornaram possível a realização do mesmo: ENVC, MONTACO, SIGMA, HEMPEL, IDEAIS SEGUROS, O2 TRATAMENTO E LIMPEZAS AMBIENTAIS, CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO e TWO DESIGN.
Da Serra d’Arga ao Monte de Santo Antão Procurando manter uma certa regularidade nas caminhadas de forma a transformar-se numa rotina saudável entre os associados, a coletividade realizou mais três marchas, conseguindo fixar um grupo de corajosos caminheiros e ir atraindo outros que engrossam a coluna.
Marcha na Serra d’Arga Desde S. Lourenço da Montaria até à Arga de Baixo foi o percurso do dia 13 de agosto de 2011, que proporcionou na
que eram previsíveis desde o início do dia. Quanto à Capela, refira-se que foi construída nos primeiros anos do século XVIII, e entre outros aspetos da sua estrutura, possui uma característica impar na região que é a abertura de vãos encimados por cruzes na parede posterior da capelamor, e nos quais os romeiros introduzem a cabeça para cumprimento das suas promessas cumprindo assim essa tradição.
Marcha no Monte de Santo Antão Finalmente a 20 de novembro último teve lugar a última marcha, iniciando-se a jornada no centro de Caminha. Os caminheiros introduziram-se na Mata do Camarido seguindo o caminho poente até à praia de Moledo, e nesta localidade atravessaram a estrada nacional 13 para em seguida subirem ao Monte do Castro, assim chamado devido à suposta existência de um Castro nunca encontrado. Aqui chegados, utilizando o cruzeiro existente como miradouro, possibilitou ao grupo apreciar a bela panorâmica da costa atlântica de Caminha, o frondoso Pinhal do Camarido (mandado plantar por D. Dinis no início do século XIV), a Ilha onde se situa o Forte da Ínsua, e toda a extensão do estuário do Rio Minho, e ainda o famoso Monte de Santa Tecla já em território da Galiza. Depois de saciados e retemperados por esta beleza envolvente, os caminheiros prosseguiram até ao ponto mais
12 subida visionar a bela paisagem ao longo do Rio Minho, a Vila de Caminha e algumas povoações, quer portuguesas, quer da vizinha Galiza, conduzindo ao Alto do Espigueiro a 825 metros de altitude. Por entre o imenso granito que caracteriza a região, já na descida da Serra foi possível visitarem o Mosteiro de S. João Batista, mais conhecido por Capela de S. João d’Arga.
Marcha à Senhora da Cabeça No dia 13 de outubro passado, partindo da Abelheira a caminhada teria como destino a Sra. da Cabeça, em Freixieiro de Soutelo. De destacar neste percurso a passagem pelo abandonado Convento de S. Francisco do Monte, que foi um dos três primeiros conventos da Ordem Franciscana a ser construído em Portugal, nos finais do século XIV. Prosseguindo por caminhos da Areosa, Carreço e Afife, local onde são bem visíveis na paisagem vestígios do incêndio ocorrido no último verão. Como que a contrastar com esta última imagem algo desoladora, os caminheiros puderam apreciar os célebres garranos de Outeiro. E acabariam por chegar à Capela da Sra. da Cabeça já acompanhados pela chuva e algum vento, condições
alto do Monte de Santo Antão, onde se situa a Capela com o mesmo nome. Aí, de outro miradouro puderam reapreciar a beleza envolvente e interior da Vila de Caminha, onde regressariam pela freguesia de Vilarelho entrando pela “Porta de Caminha” nas antigas muralhas da Vila.
12º Concurso de Pesca Desportiva de Mar do GDCTENVC No passado dia 24 de julho realizou-se o 12º Concurso de Pesca Desportiva de Mar organizado pela secção de pesca do Grupo Desportivo. Nesta iniciativa estiveram presentes cerca de 80 pescadores representando diversos clubes da zona norte e também da Galiza. Para além da competição em si, a prova decorreu em ambiente animado. Após o final do Concurso, a iniciativa terminou com a entrega de prémios aos participantes que mais se destacaram na competição, que decorreu na sede Social, com a presença de todos os participantes e representantes dos clubes, e naturalmente parte da direção da coletividade. Foi mais uma iniciativa da secção de pesca do GDCTENVC, que como habitualmente atraiu considerável número de equipas e participantes.
Festa de Natal 2011 Ao longo de mais de seis décadas, o Natal adquiriu especial significado para os filhos dos trabalhadores dos ENVC. Sem dúvida que a sua simbologia fica mais expressa no espírito das crianças, que todos os anos aguardam ansiosamente a sua Festa de Natal, onde lhes são distribuídos os presentes que irão tornar reais algumas das suas fantasias. Este ano realizou-se na tarde do dia 18 de Dezembro e contou com a presença de numerosas crianças, que junto com os seus pais aguardavam expectantes a chegada do Pai Natal. Este é para os mais jovens um momento alto do programa, pois ficam curiosos em conhecer o seu meio de transporte, que vai variando ano após ano. Apesar do contexto de dificuldades que o País, as Empresas e os Portugueses atravessam, as crianças merecem viver esta quadra com alegria. É possível dar-lhes muito, com pouco. Mesmo com a contenção que os tempos exigem, não faltaram os chocolates, os rebuçados e os Palhaços para animarem a festa, que foram entusiasticamente aplaudidos pelas crianças e adultos presentes. No final realizou-se a distribuição dos brinquedos, terminando a festa com um lanche e o convívio entre todos os presentes.
Homenagem Aproxima-se o término do mandato da Direção do Grupo Desportivo e Cultural dos ENVC, que em termos formais ocorrerá em março de 2012. Não poderíamos deixar de homenagear neste Natal um associado, que depois de algumas décadas dedicadas à causa associativa como membro de sucessivas direções, sempre com funções de Diretor da Sede Social do GDCTENVC, entendeu ser o momento adequado para descansar e dedicar mais tempo à família. Estamos obviamente a falar do Sr. Carlos Xavier, o “nosso” Xavier! – Um homem leal, dedicado, extremamente voluntarioso, que muito contribuiu, com o seu trabalho, para as magníficas condições que hoje todos podemos desfrutar na sede. A direção considerou esta a data oportuna para manifestar a gratidão pelo seu empenhamento e trabalho em prol do associativismo e da comunidade de trabalho dos ENVC, numa simples, mas distinta homenagem.
Noite de S. Martinho À semelhança dos anos anteriores, realizou-se no dia 11 de novembro, na sede Social do Grupo Desportivo e Cultural dos ENVC, a tradicional Noite de S. Martinho. Os associados e amigos do GDCT compareceram em grande número para celebrar um ritual antigo e relacionado com o fim das colheitas. As castanhas e o vinho são os protagonistas à mesa, mas o camarão, hoje em dia, também aparece como aperitivo. A tradição não dispensa o ritmo da música popular, que esteve presente nos sons das concertinas dos “Amigos do Grupo”, que proporcionaram aos convivas uma noite de muita alegria e boa disposição.
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Meia Maratona de Ovar A 5 de outubro de 2011 realizou-se a 23ª edição da Meia Maratona de Ovar. Esteve uma manhã que parecia de primavera, as ruas cheias de atletas com um colorido em movimento digno de uma prova internacional. Decorreu num percurso plano, com paisagens bonitas e com muito público a aplaudir e bandas de música em todo o trajeto. Foi uma prova rápida, pois o vencedor Sérgio Silva, campeão mundial de duatlo, que se estreou pelo Maratona Clube de Portugal, ganhou com 1:05:14. No setor feminino foi vencedora a campeã europeia de corta-mato de 2010 Jessica Augusto, correndo como individual, com o tempo de 1:09:13. batendo o recorde da prova que pertencia a Fernanda Ribeiro, com mais seis segundos, desde 1998. O GDCTENVC esteve presente nesta prova com 4 atletas, num total de 4.000 participantes de todo o país e estrangeiro, em representação de 120 equipas. Os atletas do Grupo Desportivo obtiveram uma boa classificação, considerando que são do escalão de veteranos, ocupando as seguintes posições: - Samuel Gomes em 929.º lugar - Manuel Pereira em 1305.º - Cândido Pita em 1306.º - Lauro Martins em 1461.º. 14
Classificações dos três primeiros lugares foram: Masculinos 1.º Sérgio Silva – Maratona Clube de Portugal, com o tempo de 1:05:13 2.º Bruno Jesus – Clube de Atletismo da Maia, com 1:05:21 3.º Leonel Fernandes – Clube de Campismo S.J., com 1:06:16 Femininos 1.ª Jessica Augusto – Nike, com tempo de 1:09:13 2.ª Maria Barros – S. L. Benfica, com 1:12:05 3.ª Amália Rosa – Maratona Clube de Portugal, com 1:14:51
54.ª Volta a Paranhos Mais recentemente, no dia 8 de dezembro, realizou-se a 54ª Volta a Paranhos, contando com a participação de 1615 atletas, incluindo alguns estrangeiros, que percorreram uma distância de 10 Kms, com partida e chegada ao antigo Estádio Vidal Pinheiro, em Paranhos, e teve como vencedores no setor masculino os seguintes atletas: - 1º Evans Kipelagat (Kénia) 00:29:23 - 2º Rui Pedro Silva (Portugal) 00:29:31 - 3º Nikolay Chavkin (Rússia) 00:29:52 No setor feminino, as três primeiras classificadas foram: - 1ª Marisa Barros (Sport Lisboa e Benfica) 00:32:48 - 2ª Mónica Simões (Maratona CP) 00:34:02 - 3ª Andreia Santos (JOMA) 00:34:39 Esta prova foi um dos pontos altos das comemorações do centenário do Sport Comércio e Salgueiros. "Senti-me sempre muito bem, mas acho que exagerei na parte inicial", afirmou Marisa Barros.
Por seu lado, Rui Pedro Silva regressou à competição após quase dois meses de uma suspensão imposta pela Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), devido ao facto de se ter inscrito por dois clubes. Rui Pedro Silva foi segundo classificado, ficando a oito segundos do vencedor, o queniano Evans Kipelagat. "Aos oito quilómetros, o queniano fugiu-me. Nos últimos 500 metros ainda encurtei espaço, mas já não fui a tempo", explicou o atleta português. Quanto à equipa de veteranos do GDCTENVC, participou com três atletas obtendo as seguintes classificações: - 592º Samuel Gomes – 00:45:25 - 860º Manuel Pereira – 00:48:34 - 1293º Fernando Pereira – 00:55:30
Futebol de 7 – 1º Lugar em Vila Franca Nos meses de julho e agosto o GDCTENVC participou em mais duas competições de futebol de 7. Uma organizada pela Associação Desportiva de Barroselas, em que a nossa equipa representou condignamente a coletividade demonstrando empenho e dedicação. Por outro lado, no 3.º Encontro de Coletividades organizado pela Associação Cultural e Recreativa de Vila Franca, a equipa do GDCTENVC foi a primeira classificada. Dignificando o nome da coletividade, recebendo naturalmente os agradecimentos da Direção.
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Ação Sindical nos ENVC Publicamos em seguida notícias recebidas da estrutura sindical da Empresa, que diretamente são do interesse dos trabalhadores dos ENVC. Eleições no Sindicato dos Metalúrgicos
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Realizaram-se, nos passados dias 14 e 15 de outubro, eleições no STIMMDVC, para o quadriénio 2011 – 2015, cujo Programa de Ação apresentado aos trabalhadores se propõe “Defender os postos de trabalho” – “Defender a contratação” – “Valorizar os salários”. O ato eleitoral para qualquer Sindicato é sempre um momento alto na vida dessa associação, mas é ainda mais e duma forma especial nos tempos que vivemos, onde a insegurança no emprego, a retirada de direitos, a diminuição dos salários e o ataque à contratação entre outros, são objetivos declarados do neo-liberalismo reinante e do capital sem rosto que, no nosso país em particular, se prepara para empobrecer abruptamente a classe média, os trabalhadores e o povo em geral. O STIMMDVC esteve e estará sempre na linha da frente da luta dos trabalhadores, na defesa dos seus postos de trabalho. Hoje como ontem, procuraremos manter o prestígio e o respeito que ao longo dos anos granjeámos perante os trabalhadores. A presente Direção reforçou-se com a entrada de quatro novos dirigentes dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, três deles pela primeira vez. Assim, vai continuar esta grande empresa como mola impulsionadora do Movimento Sindical do Distrito de Viana do Castelo.
O Sindicato e os Órgãos Representativos dos Trabalhadores dos ENVC Numa estreita ligação com os Órgãos Representativos dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Distrito de Viana do Castelo, tem desde a primeira hora acompanhado a luta dos trabalhadores dos ENVC, contra o despedimento de 380 dos seus trabalhadores. Numa atitude sem precedentes e ausente de todos os princípios de ética e do bom relacionamento laboral a Administração da Empresa, no dia 20 de junho passado, anunciou com pompa e circunstancia num luxuoso hotel de Viana do Castelo, o despedimento de mais de metade dos trabalhadores dos ENVC. ……. INQUALIFICÁVEL. Desde então e até hoje, muito já se caminhou e, a esperança numa solução definitiva e duradoira para os ENVC, os seus trabalhadores, a cidade e a indústria naval em Portugal, reforçouse, estamos certos de que os ENVC vão continuar a construir navios, por muitos e longos anos, através das gerações.
Segurança, higiene e saúde no trabalho A redação da Revista solicita aos organismos representativos dos trabalhadores informações sobre atividades que tenham desenvolvido direcionadas para os trabalhadores. No caso dos RTSHST enviaramnos a informação legislativa que a seguir se publica. O órgão representativo dos trabalhadores para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho entende oportuno divulgar nesta Roda do Leme a seguinte informação enquadrada na legislação: Segurança, higiene e saúde no trabalho Artigo 272.º Princípios gerais 1 - O trabalhador tem direito à prestação de trabalho em condições de segurança, higiene e saúde asseguradas pelo empregador. 2 - O empregador é obrigado a organizar as atividades de segurança, higiene e saúde no trabalho que visem a prevenção de riscos profissionais e a promoção da saúde do trabalhador.
3 - A execução de medidas em todas as fases da atividade da empresa, destinadas a assegurar a segurança e saúde no trabalho, assenta nos seguintes princípios de prevenção: a) Planificação e organização da prevenção de riscos profissionais; b) Eliminação dos fatores de risco e de acidente; Tenha sempre presente: Trabalhador seguro e saudável produz mais e melhor. Este órgão representativo dos trabalhadores deseja a todos os seus colaboradores e família votos de Boas Festas e um Feliz Ano Novo.
Viagens de Culto (Roteiro IV) Américo Marques
“Oh abismo da lonjura / Reflexos de pedraria! / Porque parti à procura daquilo que não havia? / Era aqui, aqui somente que devia ter ficado / Afife de toda a gente / Que baila e canta a meu lado!” Ao começar este texto de modo poético, descortina-se o Roteiro seguinte – através destas rimas generosas e simples, da inspiração de Pedro Homem de Melo, que sem ter nascido nesta freguesia a amava e cantava em todo espaço e a todo o tempo. Como não há bela sem senão, o viajante tem que ter em consideração que ao visitar Afife estará sujeito a um sobe e desce constante. O que o obriga a ter as dobradiças ósseas em bom estado, para evitar entorses arreliadoras – já que músculos sem treino apenas condicionam no momento em que cansam. E o recurso a um veículo de quatro rodas não se aconselha, devido ao perfil estreito de alguns arruamentos que no passado não distante, eram simples caminhos. Para já e agora, o viajante aguarda saber a origem do nome Afife. Assim se chama (de acordo com uma das lendas) devido ao vocábulo latino Aff-hifas para nomear “sopa de cabelos” que mercenários romanos visionaram, nas águas do rio no momento de matar a sede. Agora esteja atento viajante, a este rio (mas por outro motivo) bem vivo e serpenteante, que enleia e incentiva para uma corrida até ao mar. Recebendo o vencedor como prémio, carícias da areia macia e limpa, e a companhia de dunas aconchegantes – filhas de praias tão fascinantes que até têm um Forte a fazer-lhes guarda. Só que o viajante não poderá fazer corridinha, com a corrente até à foz porque o seu leito passa entre terras de fruta e grão – grão que ajuda a moer com o ímpeto da sua pressa, ao movimentar diversos moinhos. Diga-se entretanto, que esta Terra não cheira a sopas ou caldo de pelos ou cabelos! Antes tem cheiros de pinhas misturados com vapores frescos de maresia rica em iodo. Por conseguinte, depois destas palavras de “empurrão” o viajante seguirá de sul para norte; dando a sequência direcional do Roteiro III, que terminou na praia de Carrêço. Então, tendo em consideração que o viajante tem o hábito arrojado de ver o nascer do dia, aconselha-se como ação primeira, ir para perto das terras de Âncora, para observar retalhos bem capazes de pertencerem ao anteontem deste Povo – neste caso, o sítio fica na zona em que a estrada faz curva e do lado esquerdo. Aí encontra-se a Mamoa da Eireira, que sendo do tipo dólmen, tem num dos esteios uma gravura rupestre, que se assemelha a uma forma esquelética, se parecendo bastante com um lagarto, com tamanho avantajado. No retorno via nascente, vá indo e achando edificações castrejas de diferente geometria e com áreas poupadinhas. Ah, antes de se pôr a andar, deve o viajante ter um vasilhame para se ir abastecendo de água (muito digestiva) nas muitas fontes que se encontram na cercania dos caminhos – onde acontecia a passagem de animais e pessoas. Sendo a fonte do Pinxo a mais solicitada e existe no lugar da Bandeira, juntinho da capela de nome Senhora do Alívio.
Se o viajante optar inicialmente por recolher estímulos mais humanos e naturais, recomenda-se que se ponha a jeito para gozar uma noite social e cultural no Casino Afifense, e na manhã seguinte ir desfrutar dos murmúrios da floresta – que poderão ser da folhagem ondulante, ou então cantares melodiosos entrecortados, provenientes das gargantas de passaritos que desafiam as cigarras a trabalhar, pois cantar também é laborar! E, poderá ainda escutar, quiçá com menos encanto, os sons graves de pegas, corvos e gaios – que por serem muito atrevidos no rapinanço, obriga-os a voar em constante vai e vem a rondar quintais à espera da melhor oportunidade. Deste modo, estes passarões poderão dar pistas ao viajante, no caso de ter necessidade de se situar no terreno. Enquanto vai ouvindo e andando – o viajante deve descobrir para conforto do olhar e registo fotográfico, um ponto de águas fugitivas – que de tão apressadinhas se oxigenam tanto, que ficam da cor do céu, e cansadas se acalmam. Criando deste modo a condição apelativa para um mergulho no Poço Azul – que se localiza nas cercanias do Convento de S. João de Cabanas. Pertenceu este mosteiro à ordem Beneditina. O estilo da construção é maneirista e desde a sua fundação no século XIII, sofreu alterações nas centúrias de XIV e XVII. No entanto, o viajante apenas pode observar o seu aspeto exterior, já quanto ao resto, a imaginação terá que o desenhar. Porém, o momento religioso será mais envolvente se decidir subir ao Monte de Santo António. Após gozar a paisagem pintada pela cor verde citrino dos campos e o tom azul do mar, bordado com a espuma branca das ondas – que tenha o viajante a motivação para entrar na Capela com o mesmo nome. Para aí conversando em silêncio com o Santo residente, receber graças e ter boa sorte na caminhada da vida. Cuja rota não cabe aqui. O importante, será o viajante ultrapassar-se, em benefício duma vivência onde a aventura seja muito mais sobrante que a vida. Basta em parte, que procure desfrutar das singularidades artificiais e naturais, referidas e por referir, existentes em povoados e comunidades como esta – que são poetizadas, têm conventos e santidades para todas as devoções. Como também têm praias lentas e mornas, e ainda lendas e mitos que preenchem de modo lúdico a descrição sobre factos e acontecimentos – perdidos na morosidade do tempo. Tempo que os Afifenses ocupam bem! Porque são briosos! Provamno, não permitindo que outros lhes cantem melhor as “ Rosinhas” e dancem com mais vigor e harmonia o Vira Minhoto. É este entusiasmo e condizente alegria, o alimento que lhes sustenta o modo e caracteriza a alma, que partilham com o viajante risos e sorrisos – que lhe servirá de alavanca, para seguir roteiros não apenas de agrado fácil, mas também que desafie e desencadeie novas emoções e confronte opções estéticas, que por vezes distam um abraço, de quem gosta de se encontrar. Pois quem se encontra, vive! Mesmo que o destino imediato do viajante tenha a dimensão de uma centelha.
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Homenagem Dr. Luís Lacerda deixou-nos há 25 Anos!
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No passado dia 13 de dezembro, ocorreu o 25.º aniversário da morte do Dr. Luís Martins Lacerda. Começam a ser poucos os que ainda o recordam e que, por esta ou aquela razão, com ele privaram. Porém, queremos relembrar hoje aquele que foi dos grandes Gestores dos ENVC. E, sobretudo, a pessoa que detinha um forte sentido humanista e que, nos bons e maus momentos, soube dialogar com os seus trabalhadores. Primeiro como Gerente, mais tarde como Administrador Delegado, depois como acionista e, por fim, como Presidente do Conselho de Administração, após a nacionalização da Empresa em 1/09/1976. Registe-se a forma digna como aceitou o processo de nacionalização e se adaptou à transição, num contexto político difícil, naquela época, atitude própria de um Homem Bom. É assim que o queremos lembrar nesta data: como um Homem Bom. Um Gestor que sabendo colocar em primeiro lugar os superiores interesses da organização, respeitou, de forma exemplar, os direitos de todos. Salientamos, entre muitos, dois aspetos aos quais dava extrema atenção: a segurança e a saúde dos trabalhadores! Foi a pensar neles, numa época de alguma prosperidade, que instituiu diversas regalias sociais, algumas das quais ainda perduram, como, por exemplo, o Fundo de Pensões, o complemento das pensões de reforma, já que, segundo sua opinião, os valores da Segurança Social eram, na época, muito baixas e não garantiam um de fim de vida com dignidade às pessoas. Sobre o Homem e o Gestor muito já foi dito noutras ocasiões. Por agora, queremos apenas recordá-lo e prestar-lhe singela, mas sentida homenagem. Até sempre, Dr. Luís Lacerda!
Reformaram-se
Manuel Augusto Costa Pereira 54 Anos – Técnico Fabril, 35 Anos de Empresa. Reformado em julho de 2011
Greminio António Oliveira Castro 59 Anos – Condutor de Maquinas de Elevação e Transporte, 34 Anos de Empresa. Reformado em julho de 2011
Nuno Manuel Soares Ribeiro 55 Anos – Verificador de Produtos Adquiridos, 39 Anos de Empresa. Reformado em agosto de 2011
António Amorim Oliveira 65 Anos – Montador de Const. Metálicas Pesadas, 31 Anos de Empresa. Reformado em agosto de 2011
José Faria Loureiro 53 Anos – Serralheiro de Tubos, 35 Anos de Empresa. Reformado em setembro de 2011
João Manuel C. Correia Viana 55 Anos – Montador Construções Metálicas Pesadas, 37 Anos de Empresa. Reformado em setembro de 2011
João Luís Soares Martins 61 Anos – Arquivista Técnico, 37 Anos de Empresa. Reformado setembro de 2011
Manuel Araújo Parente 57 Anos – Serralheiro Civil, 40 Anos de Empresa. Reformado em outubro de 2011
Carlos Manuel Sousa Martins Glória 58 Anos – Bombeiro Naval, 31 Anos de Empresa Reformado em outubro de 2011
António Oliveira Gomes 56 Anos – Serralheiro de Ferramentas, 35 Anos de Empresa. Reformado em outubro de 2011
Eugénio Soares Coelho Parente 57 Anos – Montador Construções Metálicas Pesadas, 34 Anos de Empresa. Reformado em agosto de 2011
Carlos Alberto Gonçalves Borlido 59 Anos – Raspador – Picador, 34 Anos de Empresa. Reformado em setembro de 2011
José Evaristo Borlido Guimarães 57 Anos – Técnico Fabril, 40 Anos de Empresa. Reformado em novembro de 2011
Silvestre Gonçalves Pires 57 Anos – Serralheiro de Tubos, 34 Anos de Empresa. Reformado em agosto de 2011
António Martins Fernandes Iglesias 62 Anos – Prof. Engenharia, 22 Anos de Empresa. Reformado em setembro de 2011
Américo Faria Marques 60 Anos – Técnico de Prevenção, 45 Anos de Empresa. Reformado em dezembro de 2011
António Carvalhosa Pereira 58 Anos – Serralheiro Mecânico, 30 Anos de Empresa. Reformado em setembro de 2011
Fernando Lima Pinto 60 Anos – Motorista de Pesados, 34 Anos de Empresa. Reformado em outubro de 2011
Angelino Soares Fernandes Castro 55 Anos – Serralheiro de Tubos, 38 Anos de Empresa. Reformado em dezembro de 2011
Faleceu Paulo Vieira da Silva, de 56 anos de idade, Operário de Limpezas Industriais, com 38 anos de Empresa, faleceu no dia 22 de outubro de 2011, data em que se encontrava com baixa médica por doença que o levou a internamento hospitalar no início daquele mês. À família enlutada, a redação do Roda do Leme endereça as mais sentidas condolências.
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Trabalhadores dos ENVC abandonam a Empresa depois de uma jornada de trabalho. Quadro de Salvador Vieira, inserido na obra “Salvador Vieira: traços do homem e do artista”, edição da ALERT Life Sciences Computing, 2011
os portos só serão tocados no futuro. Importa, hoje - com minúcia, mas também com o necessário fulgor tornar patentes os porões e as gáveas, as vigias e as escotilhas (sem esquecer, claro está, essa parte incisiva que é o leme).
Tal vulto desperta, mas também estremece só de imaginar os frémitos (as surpresas) do seu destino: o de visionar, em milhas e milhas não de acaso, ilhas e costas e faróis; o de sacudir-se com os encontrões do mar; e o de tremer quando as hélices quebram ou quando o nevoeiro se excede na sua turvação.
Já se desenham a ponte de comando e o convés. Já se descortinam os beliches e os portalós. Ou seja, esse ser vai estuando e vai tomando forma, esse ser respira e já por ele circula um sangue quente.
Em tarefa de nervos e rigor, em milagre de esforço e precisão, eis que (da popa à proa, do cinzento dos cascos à nitidez do fio das amuradas) algo está pronto e seguirá em frente – na vastidão das brisas e das águas. João Rui de Sousa
Poema dedicado aos ENVC, da autoria de João Rui de Sousa. Foi publicado na obra “VIANA a várias vozes”, coordenação do Centro Cultural do Alto Minho, edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2009.